Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!
Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.
Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.
O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!
Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety", "No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.
Vale muito o seu play!
Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!
Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.
Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.
O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!
Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety", "No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.
Vale muito o seu play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.
Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York City) de Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!
O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade.
Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).
"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!
"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.
Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York City) de Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!
O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade.
Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).
"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!
Lindo e sensível - talvez não tenha melhor forma de definir o francês, "Amour". Lançado em 2012 e dirigido por Michael Haneke (de "Happy End"), posso dizer que esse é um drama austero e profundamente comovente que explora as complexidades do amor pela perspectiva da velhice e da realidade que vai se tornando o fim da vida. O filme, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, é um retrato intimista, e de certa forma brutal, da devoção entre um casal idoso que enfrenta os desafios de uma doença e da inevitável perda. Com performances impecáveis e uma direção bastante minimalista, "Amour" oferece uma reflexão implacável sobre o amor e a dignidade no final da vida. Para aqueles que gostaram de "Meu Pai", "Amour" é uma experiência parecida e, justamente por isso, imperdível.
A trama segue Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de aposentados que vive uma vida tranquila e culta em Paris. Ambos são ex-professores de música e compartilham uma vida de amor e companheirismo. No entanto, sua rotina é abalada quando Anne sofre um derrame que paralisa um lado de seu corpo. À medida que sua condição se deteriora, Georges assume o papel de cuidador, enfrentando a dor emocional e física de ver sua amada esposa perder gradualmente sua independência e dignidade. Confira o trailer:
Michael Haneke é conhecido por sua abordagem fria e meticulosa diante de uma narrativa cinematográfica que muitas vezes se comunica pelo subtexto. Certamente ele aplica seu estilo em "Amour" de uma maneira que intensifica o impacto emocional da história. Haneke evita qualquer sentimentalismo ou melodrama, optando por uma direção precisa e uma câmera fixa que conta a história por si só - é lindo e angustiante. Repare como essa abordagem permite que a audiência experimente a crueza e a realidade da situação, oferecendo uma visão não filtrada da fragilidade humana e da natureza implacável de uma doença - como se estivéssemos observando os fatos, ali, no silêncio. A direção de fotografia de Darius Khondji (indicado ao Oscar por "Bardo" e "Evita") é igualmente discreta, utilizando luz natural e uma paleta de cores suaves para criar uma sensação de intimidade e desolação. No entanto, como o apartamento do casal serve como o único cenário do filme, Khondji brinca com as limitações, criando uma extensão da experiência dos personagens, se apropriando dos espaços cada vez mais confinados para refletir o mundo em declínio de Anne e Georges. Aliás, as escolhas visuais de Haneke e Khondji enfatizam demais essa claustrofobia e esse isolamento, aumentando a sensação de impotência e desespero que permeia toda a narrativa.
Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva entregam performances extraordinárias como Georges e Anne. Trintignant, com uma contenção emocional notável, retrata Georges como um homem dedicado, cuja paciência e compaixão são testadas ao limite enquanto ele cuida de sua esposa. Sua atuação é uma masterclass de sutileza, capturando a força silenciosa e a vulnerabilidade de um homem confrontado com a perda iminente. Riva, em uma performance profundamente corajosa, retrata Anne com uma dignidade e graça comoventes, mesmo quando sua personagem está sendo consumida pela doença. A deterioração de Anne é retratada com uma autenticidade dolorosa, e Riva lida com os desafios físicos do papel de maneira que é ao mesmo tempo devastadora e inspiradora. O filme também conta com uma breve, mas impactante, participação de Isabelle Huppert como Eva, a filha do casal, cuja incapacidade de compreender plenamente o que seus pais estão enfrentando adiciona outra camada de complexidade emocional à narrativa. Huppert representa o ponto de vista externo, mostrando o conflito entre as obrigações familiares e as realidades da vida cotidiana. Uma pancada!
"Amour" não é um filme fácil de assistir, é preciso que se diga - sua narrativa lenta e implacável, combinada com a recusa de Haneke em fornecer qualquer forma de alívio emocional ou resolução simples. No entanto, é justamente essa honestidade brutal em não suavizar a experiência do envelhecimento e da morte que tornam "Amour" tão poderoso - você vai se sentir forçado a confrontar a realidade da mortalidade de uma maneira que é desconfortável, mas necessária; e isso é lindo! Um filme que não se esquiva das verdades difíceis da vida, um retrato corajoso e honesto do amor e da dor - em sua ambiguidade e incômodo! Filmaço!
Vale muito o seu play!
Lindo e sensível - talvez não tenha melhor forma de definir o francês, "Amour". Lançado em 2012 e dirigido por Michael Haneke (de "Happy End"), posso dizer que esse é um drama austero e profundamente comovente que explora as complexidades do amor pela perspectiva da velhice e da realidade que vai se tornando o fim da vida. O filme, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, é um retrato intimista, e de certa forma brutal, da devoção entre um casal idoso que enfrenta os desafios de uma doença e da inevitável perda. Com performances impecáveis e uma direção bastante minimalista, "Amour" oferece uma reflexão implacável sobre o amor e a dignidade no final da vida. Para aqueles que gostaram de "Meu Pai", "Amour" é uma experiência parecida e, justamente por isso, imperdível.
A trama segue Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de aposentados que vive uma vida tranquila e culta em Paris. Ambos são ex-professores de música e compartilham uma vida de amor e companheirismo. No entanto, sua rotina é abalada quando Anne sofre um derrame que paralisa um lado de seu corpo. À medida que sua condição se deteriora, Georges assume o papel de cuidador, enfrentando a dor emocional e física de ver sua amada esposa perder gradualmente sua independência e dignidade. Confira o trailer:
Michael Haneke é conhecido por sua abordagem fria e meticulosa diante de uma narrativa cinematográfica que muitas vezes se comunica pelo subtexto. Certamente ele aplica seu estilo em "Amour" de uma maneira que intensifica o impacto emocional da história. Haneke evita qualquer sentimentalismo ou melodrama, optando por uma direção precisa e uma câmera fixa que conta a história por si só - é lindo e angustiante. Repare como essa abordagem permite que a audiência experimente a crueza e a realidade da situação, oferecendo uma visão não filtrada da fragilidade humana e da natureza implacável de uma doença - como se estivéssemos observando os fatos, ali, no silêncio. A direção de fotografia de Darius Khondji (indicado ao Oscar por "Bardo" e "Evita") é igualmente discreta, utilizando luz natural e uma paleta de cores suaves para criar uma sensação de intimidade e desolação. No entanto, como o apartamento do casal serve como o único cenário do filme, Khondji brinca com as limitações, criando uma extensão da experiência dos personagens, se apropriando dos espaços cada vez mais confinados para refletir o mundo em declínio de Anne e Georges. Aliás, as escolhas visuais de Haneke e Khondji enfatizam demais essa claustrofobia e esse isolamento, aumentando a sensação de impotência e desespero que permeia toda a narrativa.
Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva entregam performances extraordinárias como Georges e Anne. Trintignant, com uma contenção emocional notável, retrata Georges como um homem dedicado, cuja paciência e compaixão são testadas ao limite enquanto ele cuida de sua esposa. Sua atuação é uma masterclass de sutileza, capturando a força silenciosa e a vulnerabilidade de um homem confrontado com a perda iminente. Riva, em uma performance profundamente corajosa, retrata Anne com uma dignidade e graça comoventes, mesmo quando sua personagem está sendo consumida pela doença. A deterioração de Anne é retratada com uma autenticidade dolorosa, e Riva lida com os desafios físicos do papel de maneira que é ao mesmo tempo devastadora e inspiradora. O filme também conta com uma breve, mas impactante, participação de Isabelle Huppert como Eva, a filha do casal, cuja incapacidade de compreender plenamente o que seus pais estão enfrentando adiciona outra camada de complexidade emocional à narrativa. Huppert representa o ponto de vista externo, mostrando o conflito entre as obrigações familiares e as realidades da vida cotidiana. Uma pancada!
"Amour" não é um filme fácil de assistir, é preciso que se diga - sua narrativa lenta e implacável, combinada com a recusa de Haneke em fornecer qualquer forma de alívio emocional ou resolução simples. No entanto, é justamente essa honestidade brutal em não suavizar a experiência do envelhecimento e da morte que tornam "Amour" tão poderoso - você vai se sentir forçado a confrontar a realidade da mortalidade de uma maneira que é desconfortável, mas necessária; e isso é lindo! Um filme que não se esquiva das verdades difíceis da vida, um retrato corajoso e honesto do amor e da dor - em sua ambiguidade e incômodo! Filmaço!
Vale muito o seu play!
Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!
O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:
É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".
A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!
O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!
Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!
O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:
É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".
A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!
O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!
Se você gosta de um bom filme que discute "relações", algo como "Closer" ou "Cenas de um Casamento", pode ter certeza: esse filme é para você. "Apenas Uma Noite"é um filme franco-americano dirigido por uma estreante, a iraniana Massy Tadjedin. Essa condição faz com que Tadjedin não arrisque conceitualmente, perdendo ótimas oportunidades de criar camadas que colocariam o filme em outro patamar. Por outro lado ela compensa com um ótimo roteiro (escrito por ela) e pela maneira sensível como conduz os fatos - ela sabe muito bem como manipular nossas emoções e a pergunta "e se fosse comigo?" nos acompanha durante toda a jornada.
Joanna (Keira Knightley) e Michael Reed (Sam Worthington) estão casados há três anos. Certa noite, essa união feliz e bem-sucedida é colocada à prova, quando Michael viaja à trabalho com uma bela colega (Eva Mendes) e Joanna aceita o convite de um antigo namorado (Guillaume Canet) para tomar alguns drinques. Confira o trailer e se apaixone pela trama:
É inegável que, embora simples, a trama é extremamente bem construída e de fácil identificação - ela é capaz de mexer com nossos fantasmas da mesma forma como brinca com nossos desejos mais íntimos. Essa dualidade é proposital e muito interessante, o que transforma a narrativa em algo envolvente, provocador e até sensual, dando aos personagens uma complexidade que vai além dos diálogos, digamos, superficiais.
Chama atenção a performance do elenco - ela é excelente dentro da proposta mais intimista de Tadjedin. Knightley e Worthington apresentam uma química tão realista quanto emocionante e ao serem envolvidos por uma cinematografia impressionante de Peter Deming (de "O Menu"), que é capaz transformar a "ocasião em ladrão" com cenas noturnas evocativas e paisagens urbanas deslumbrantes, se estabelece uma atmosfera sensorial como poucas vezes encontramos em filmes desse tamanho..
"Apenas Uma Noite" aborda temas importantes como a fidelidade, o compromisso real e a tentação despretensiosa, explorando a dramaticidade das relações humanas e os desafios que os casais enfrentam nos momentos de fraqueza e insegurança. A história realmente nos mantém envolvidos e interessados da mesmo forma que nos provoca inúmeras reflexões sobre a importância do amor verdadeiro perante o desejo. No geral, "Last Night" (no original) é um filme intenso, que certamente irá cativar aqueles que buscam uma jornada que transita entre o drama e o romance com a mesma competência!
Definitivamente vale muito a pena o seu play!
Se você gosta de um bom filme que discute "relações", algo como "Closer" ou "Cenas de um Casamento", pode ter certeza: esse filme é para você. "Apenas Uma Noite"é um filme franco-americano dirigido por uma estreante, a iraniana Massy Tadjedin. Essa condição faz com que Tadjedin não arrisque conceitualmente, perdendo ótimas oportunidades de criar camadas que colocariam o filme em outro patamar. Por outro lado ela compensa com um ótimo roteiro (escrito por ela) e pela maneira sensível como conduz os fatos - ela sabe muito bem como manipular nossas emoções e a pergunta "e se fosse comigo?" nos acompanha durante toda a jornada.
Joanna (Keira Knightley) e Michael Reed (Sam Worthington) estão casados há três anos. Certa noite, essa união feliz e bem-sucedida é colocada à prova, quando Michael viaja à trabalho com uma bela colega (Eva Mendes) e Joanna aceita o convite de um antigo namorado (Guillaume Canet) para tomar alguns drinques. Confira o trailer e se apaixone pela trama:
É inegável que, embora simples, a trama é extremamente bem construída e de fácil identificação - ela é capaz de mexer com nossos fantasmas da mesma forma como brinca com nossos desejos mais íntimos. Essa dualidade é proposital e muito interessante, o que transforma a narrativa em algo envolvente, provocador e até sensual, dando aos personagens uma complexidade que vai além dos diálogos, digamos, superficiais.
Chama atenção a performance do elenco - ela é excelente dentro da proposta mais intimista de Tadjedin. Knightley e Worthington apresentam uma química tão realista quanto emocionante e ao serem envolvidos por uma cinematografia impressionante de Peter Deming (de "O Menu"), que é capaz transformar a "ocasião em ladrão" com cenas noturnas evocativas e paisagens urbanas deslumbrantes, se estabelece uma atmosfera sensorial como poucas vezes encontramos em filmes desse tamanho..
"Apenas Uma Noite" aborda temas importantes como a fidelidade, o compromisso real e a tentação despretensiosa, explorando a dramaticidade das relações humanas e os desafios que os casais enfrentam nos momentos de fraqueza e insegurança. A história realmente nos mantém envolvidos e interessados da mesmo forma que nos provoca inúmeras reflexões sobre a importância do amor verdadeiro perante o desejo. No geral, "Last Night" (no original) é um filme intenso, que certamente irá cativar aqueles que buscam uma jornada que transita entre o drama e o romance com a mesma competência!
Definitivamente vale muito a pena o seu play!
"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!
A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):
Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.
O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.
"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.
Vale muito o seu play!
"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!
A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):
Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.
O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.
"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.
Vale muito o seu play!
A parceira Adam Sandler e Netflix quase colocou o ator, com toda justiça, na disputa do Oscar com "Jóias Brutas". Em "Arremessando Alto", tenho a impressão, que a performance não esteja no mesmo nível do filme anterior, porém é inegável a capacidade que Sandler tem de se reinventar e aqui, mais uma vez, ele entrega um personagem cheio de camadas, com uma profundidade emocional bastante interessante e, principalmente, com o um range de interpretação que coloca seu Stanley Sugerman como um dos seus melhores trabalhos.
Sugerman é um olheiro que trabalha para uma das franquias mais famosas do basquete americano, o 76ers da Filadélfia. Com a proposta de se tornar assistente técnico do lendário coach Doc Rivers, Sugerman precisa encontrar um jogador com potencial de sucesso para mudar os rumos do time na próxima temporada, porém seu superior não acredita que isso seja possível, é quando o olheiro e seu pupilo, o espanhol Bo Cruz (Juancho Hernangomez), passam a se esforçar ao máximo para provar que ambos merecem uma chance real na NBA. Confira o trailer:
Todo review que faço, onde o esporte é o pano de fundo, eu procuro pontuar o quanto conhecer sobre determinada modalidade vai impactar na experiência de quem assiste o filme. Alguns filmes usam do basquete, do futebol americano e até do futebol para contar uma história de superação, seja social ou até mesmo esportiva, traduzindo a premissa em uma jornada muito mais universal do que de nicho. Em "Arremessando Alto" a questão é um pouco diferente, pois mesmo trazendo elementos mais dramáticos para a narrativa, é o basquete que pauta 90% do roteiro escrito pelo Will Fetters (de "Nasce Uma Estrela ") e pelo Taylor Materne (responsável pelo projeto, olha que curioso, de um dos jogos mais incríveis de basquete da atualidade e que cobre, justamente, a jornada de descoberta e ascensão de um atleta, o NBA 2K20).
Mesmo com um roteiro cheio de clichês, "Arremessando Alto" entrega uma narrativa coerente com a proposta e, eu diria, despreocupada com a história - se na série "Swagger" da AppleTV+ encontramos uma discussão de ideais de superação, autoestima e resiliência, até temas mais delicados como o abandono parental e tensão racial impregnada na sociedade americana, aqui o que vemos é muito mais simples e direto: um ex-jogador que virou olheiro tentando provar o seu valor através do talento acima da média de um atleta europeu que, não fosse ele, não teria chance alguma de chegar no topo da NBA. Dito isso, se você está familiarizado com os astros da Liga, você vai se divertir ainda mais, pois são tantas participações especiais (e muitas delas bem relevantes para a história) que até perdi a conta.
Dirigido pelo estreante Jeremiah Zagar, "Hustle" (no original) foi feito para o fã de basquete que talvez nem esteja preocupado em se aprofundar na história, mas sim em se divertir com ela. São muitas curiosidades de bastidores orquestradas para um ator que vem mostrando seu valor dramático e que com isso cria um certo layer especial para o filme - de fato Sandler brilha! A curiosidade fica pelos 86% de aprovação da crítica e pelos 94% do público no Rotten Tomatoes, o que prova que a produção da Netflix foi muito feliz em equilibrar o drama de personagem com o entretenimento despretensioso de um filme sobre... basquete!
Vale muito seu play!
A parceira Adam Sandler e Netflix quase colocou o ator, com toda justiça, na disputa do Oscar com "Jóias Brutas". Em "Arremessando Alto", tenho a impressão, que a performance não esteja no mesmo nível do filme anterior, porém é inegável a capacidade que Sandler tem de se reinventar e aqui, mais uma vez, ele entrega um personagem cheio de camadas, com uma profundidade emocional bastante interessante e, principalmente, com o um range de interpretação que coloca seu Stanley Sugerman como um dos seus melhores trabalhos.
Sugerman é um olheiro que trabalha para uma das franquias mais famosas do basquete americano, o 76ers da Filadélfia. Com a proposta de se tornar assistente técnico do lendário coach Doc Rivers, Sugerman precisa encontrar um jogador com potencial de sucesso para mudar os rumos do time na próxima temporada, porém seu superior não acredita que isso seja possível, é quando o olheiro e seu pupilo, o espanhol Bo Cruz (Juancho Hernangomez), passam a se esforçar ao máximo para provar que ambos merecem uma chance real na NBA. Confira o trailer:
Todo review que faço, onde o esporte é o pano de fundo, eu procuro pontuar o quanto conhecer sobre determinada modalidade vai impactar na experiência de quem assiste o filme. Alguns filmes usam do basquete, do futebol americano e até do futebol para contar uma história de superação, seja social ou até mesmo esportiva, traduzindo a premissa em uma jornada muito mais universal do que de nicho. Em "Arremessando Alto" a questão é um pouco diferente, pois mesmo trazendo elementos mais dramáticos para a narrativa, é o basquete que pauta 90% do roteiro escrito pelo Will Fetters (de "Nasce Uma Estrela ") e pelo Taylor Materne (responsável pelo projeto, olha que curioso, de um dos jogos mais incríveis de basquete da atualidade e que cobre, justamente, a jornada de descoberta e ascensão de um atleta, o NBA 2K20).
Mesmo com um roteiro cheio de clichês, "Arremessando Alto" entrega uma narrativa coerente com a proposta e, eu diria, despreocupada com a história - se na série "Swagger" da AppleTV+ encontramos uma discussão de ideais de superação, autoestima e resiliência, até temas mais delicados como o abandono parental e tensão racial impregnada na sociedade americana, aqui o que vemos é muito mais simples e direto: um ex-jogador que virou olheiro tentando provar o seu valor através do talento acima da média de um atleta europeu que, não fosse ele, não teria chance alguma de chegar no topo da NBA. Dito isso, se você está familiarizado com os astros da Liga, você vai se divertir ainda mais, pois são tantas participações especiais (e muitas delas bem relevantes para a história) que até perdi a conta.
Dirigido pelo estreante Jeremiah Zagar, "Hustle" (no original) foi feito para o fã de basquete que talvez nem esteja preocupado em se aprofundar na história, mas sim em se divertir com ela. São muitas curiosidades de bastidores orquestradas para um ator que vem mostrando seu valor dramático e que com isso cria um certo layer especial para o filme - de fato Sandler brilha! A curiosidade fica pelos 86% de aprovação da crítica e pelos 94% do público no Rotten Tomatoes, o que prova que a produção da Netflix foi muito feliz em equilibrar o drama de personagem com o entretenimento despretensioso de um filme sobre... basquete!
Vale muito seu play!
Tão sensacional quanto "Formula 1: Dirigir para Sobreviver", "Arremesso Final" tem dois diferenciais que precisam ser destacados, o primeiro é para o lado bom: dentro de uma história narrativamente muito bem construída temos um personagem que é simplesmente único e certamente está entre os três maiores gênios de todos os esportes em todos os tempos - Michael Jordan. Já o segundo não é tão bom assim: o projeto se trata de uma minissérie de apenas 10 episódios - é impossível não querer saber mais de todas aquelas histórias, seja você um amante de basquete ou só um curioso em conhecer os bastidores da criação de um mito! Confira o trailer:
"Last Dance", título original e infinitamente mais coerente que "Arremesso Final", é um registro imperdível de um dos períodos mais importantes da história do basquete americano e da NBA, onde o Chicago Bulls (saco de pancadas da Liga) vai se transformando em no time quase imbatível que alcançou a incrível marca de seis títulos em oito anos, depois da chegada de Jordan, um atleta que além de fenômeno no esporte, alcançou patamares inimagináveis até aquele momento no que diz respeito a influência cultural e poder de marketing! O mais sensacional disso tudo é que o diretor Jason Hehir conseguiu construir uma narrativa tão dinâmica e coerente para contar essa história que temos a sensação de estar revivendo aqueles momentos como se fosse hoje!
Embora seja impossível desassociar o sucesso dos Bulls com a ascensão esportiva de Michael Jordan, "Arremesso Final" vai muito além ao contar histórias bastante peculiares tanto dos bastidores do time (nas temporadas que ganharam e que perderam), quanto das pessoas que rodeavam o grande astro. Rodman, Kerr, Paxton, Pippen e até Phil Jackson foram de extrema importância em momentos-chaves de toda essa jornada que começou em 1985 com a terceira escolha no draft. O bacana é que são tantas curiosidades, muitas delas contadas pela primeira vez e pelos próprios personagens, que não conseguimos parar de assistir os episódios - mesmo sofrendo por saber que são apenas 10!
Esse projeto começou durante a temporada 1997/98 daNBA, quando uma equipe de filmagem ganhou total acesso aos bastidores do Chicago Bulls para registrar as coletivas de imprensa, as conversas de vestiários e todo o cotidiano de treinos e viagens do time. O material de mais de um ano de gravações ficou guardado por duas décadas, até que produtores da NBA em parceria com a ESPN entraram em contato com o próprio Jordan, dono dos direitos, e prometeram um verdadeiro tratado sobre sua carreira para que as novas gerações pudessem conhecer o seu legado no esporte e na cultura pop.
Um dos (vários) postos-altos da minissérie é a forma como Hehir equilibra a construção da jornada esportiva de MJ com a transformação cultural dos anos 90 - sempre pontuada por uma trilha sonora nostálgica! A edição tem um papel fundamental nesse trabalho - ela usa dos noticiários da época para ilustrar algumas passagens como o atentado terrorista que matou o pai de Steve Kerr ou os possíveis indícios da relação de Jordan com o vício em jogos de azar que poderiam, inclusive, ter sido a razão da sua primeira aposentadoria e, para quem gosta de teorias da conspiração, a causa da morte de seu pai. Já pelo lado esportivo, o diretor se baseia no sexto (e último) título dos Bulls para desconstruir todas as demais campanhas até ali, indo e voltando na linha do tempo, para justificar algumas dificuldades pontais, aumentar a força dramática e relacionar causas com efeitos para que a audiência entenda perfeitamente o valor de cada conquista.
"Arremesso Final" é uma daquelas relíquias que, graças a Deus, foram produzidas e democratizadas pelo streaming! Uma aula de história esportiva e um mergulho no dia a dia de um atleta que para muitos pertencia a um outro planeta, mas que na verdade foi uma pessoa como nós, com todas as imperfeições e angustias, mas que se dedicou e buscou seus objetivos com muita resiliência, treinamento e talento. Olha, a minissérie é, de fato, imperdível! Play now!!!!
Tão sensacional quanto "Formula 1: Dirigir para Sobreviver", "Arremesso Final" tem dois diferenciais que precisam ser destacados, o primeiro é para o lado bom: dentro de uma história narrativamente muito bem construída temos um personagem que é simplesmente único e certamente está entre os três maiores gênios de todos os esportes em todos os tempos - Michael Jordan. Já o segundo não é tão bom assim: o projeto se trata de uma minissérie de apenas 10 episódios - é impossível não querer saber mais de todas aquelas histórias, seja você um amante de basquete ou só um curioso em conhecer os bastidores da criação de um mito! Confira o trailer:
"Last Dance", título original e infinitamente mais coerente que "Arremesso Final", é um registro imperdível de um dos períodos mais importantes da história do basquete americano e da NBA, onde o Chicago Bulls (saco de pancadas da Liga) vai se transformando em no time quase imbatível que alcançou a incrível marca de seis títulos em oito anos, depois da chegada de Jordan, um atleta que além de fenômeno no esporte, alcançou patamares inimagináveis até aquele momento no que diz respeito a influência cultural e poder de marketing! O mais sensacional disso tudo é que o diretor Jason Hehir conseguiu construir uma narrativa tão dinâmica e coerente para contar essa história que temos a sensação de estar revivendo aqueles momentos como se fosse hoje!
Embora seja impossível desassociar o sucesso dos Bulls com a ascensão esportiva de Michael Jordan, "Arremesso Final" vai muito além ao contar histórias bastante peculiares tanto dos bastidores do time (nas temporadas que ganharam e que perderam), quanto das pessoas que rodeavam o grande astro. Rodman, Kerr, Paxton, Pippen e até Phil Jackson foram de extrema importância em momentos-chaves de toda essa jornada que começou em 1985 com a terceira escolha no draft. O bacana é que são tantas curiosidades, muitas delas contadas pela primeira vez e pelos próprios personagens, que não conseguimos parar de assistir os episódios - mesmo sofrendo por saber que são apenas 10!
Esse projeto começou durante a temporada 1997/98 daNBA, quando uma equipe de filmagem ganhou total acesso aos bastidores do Chicago Bulls para registrar as coletivas de imprensa, as conversas de vestiários e todo o cotidiano de treinos e viagens do time. O material de mais de um ano de gravações ficou guardado por duas décadas, até que produtores da NBA em parceria com a ESPN entraram em contato com o próprio Jordan, dono dos direitos, e prometeram um verdadeiro tratado sobre sua carreira para que as novas gerações pudessem conhecer o seu legado no esporte e na cultura pop.
Um dos (vários) postos-altos da minissérie é a forma como Hehir equilibra a construção da jornada esportiva de MJ com a transformação cultural dos anos 90 - sempre pontuada por uma trilha sonora nostálgica! A edição tem um papel fundamental nesse trabalho - ela usa dos noticiários da época para ilustrar algumas passagens como o atentado terrorista que matou o pai de Steve Kerr ou os possíveis indícios da relação de Jordan com o vício em jogos de azar que poderiam, inclusive, ter sido a razão da sua primeira aposentadoria e, para quem gosta de teorias da conspiração, a causa da morte de seu pai. Já pelo lado esportivo, o diretor se baseia no sexto (e último) título dos Bulls para desconstruir todas as demais campanhas até ali, indo e voltando na linha do tempo, para justificar algumas dificuldades pontais, aumentar a força dramática e relacionar causas com efeitos para que a audiência entenda perfeitamente o valor de cada conquista.
"Arremesso Final" é uma daquelas relíquias que, graças a Deus, foram produzidas e democratizadas pelo streaming! Uma aula de história esportiva e um mergulho no dia a dia de um atleta que para muitos pertencia a um outro planeta, mas que na verdade foi uma pessoa como nós, com todas as imperfeições e angustias, mas que se dedicou e buscou seus objetivos com muita resiliência, treinamento e talento. Olha, a minissérie é, de fato, imperdível! Play now!!!!
"As Faces da Marca", ou no original "LuLaRich", mostra a jornada de ascensão e queda de um dos maiores fenômenos da moda feminina nos EUA nos últimos tempos: aquelas calças leggings chamativas, e de gosto bem duvidoso, da LuLaRoe. Na verdade, o interessante dessa minissérie em 4 episódios, Original Prime Vídeo, é justamente entender como algumas estratégias da empresa faziam muito sentido e outras foram completamente amadoras, para não dizer gananciosas, e que praticamente transformaram uma marca que era idolatrada por suas consumidoras (fiéis) em sinônimo de arrogância, mal cartismo e péssima qualidade produto.
A produção desvenda o segredo do sucesso LuLaRoe, mas da pior forma possível. Conhecida por suas leggings, a infame empresa de marketing multi-nível viralizou prometendo para jovens mães, uma salvação financeira, trabalhando de casa, em meio período, mas ganhando muito dinheiro. Os excêntricos fundadores da LuLaRoe, DeAnne Brady e Mark Stidham, recrutaram um exército de vendedoras independentes para vender suas roupas cada vez mais bizarras e defeituosas, até que tudo começou a dar errado. Confira o trailer (em inglês):
Os diretores Jenner Furst e Julia Willoughby Nason (do ótimo "Prescrição Fatal") constroem uma narrativa bastante tradicional para esse documentário, porém com uma dinâmica brilhantemente pontuada por uma trilha sonora que define exatamente o sentimento que temos ao assistir os depoimentos de DeAnne e Mark, de seus antigos funcionários e, especialmente, de suas vendedoras mais relevantes e que um dia foram embaixadoras da marca. Apoiada em imagens de arquivo, algumas extremamente constrangedoras, "LuLaRich" tem muito mais a nos ensinar do que podemos imaginar.
Para aqueles envolvidos com empreendedorismo eu destaco dois pontos: a importância de encontrar o público ideal que vai consumir seu produto (a famosa "persona") e a estratégia de comunicação para construção de uma comunidade fiel, defensora da marca e de todos seus produtos. Por outro lado, e aqui aprender com os erros dos outros deixa a experiência ainda mais completa, a forma como os fundadores da LuLaRoe constituíram suas lideranças dentro da empresa soa patético - que transformou uma cultura que parecia ser bastante saudável em uma postura tão tóxica, onde suas práticas lembravam (e muito) algumas seitas abusivas que já vimos em outros documentários como "The Vow", por exemplo.
Impressiona o fato de que DeAnne e Mark parecem não entender as consequências de suas péssimas atitudes como empresários - a não ser que eles sejam atores incríveis, parece que eles realmente acreditam que convidar as próprias clientes como vendedoras oficiais da marca, oferecendo comissões apenas quando outras mulheres são recrutadas por elas, para aí sim vender LuLaRoe, com custo fixo de aquisição de produto garantido; não seja uma pirâmide!
"As Faces da Marca" é muito feliz em discutir os limites éticos de um negócio de família que deu certo muito rápido. A linha tênue entre uma cultura corporativa marcada pela informalidade e um ambiente de trabalho abusivo pode ser até sutil, mas em escala acaba destruindo algo que tinha, de fato, muito potencial. O problema é que o preço foi caro, principalmente para aquele lado da corda mais fraco, que enxergavam na LuLaRoe uma oportunidade de mudar de vida, de ascensão social, mas que na verdade não passava de uma grande fantasia (para não dizer "furada").
Vale muito seu play!
"As Faces da Marca", ou no original "LuLaRich", mostra a jornada de ascensão e queda de um dos maiores fenômenos da moda feminina nos EUA nos últimos tempos: aquelas calças leggings chamativas, e de gosto bem duvidoso, da LuLaRoe. Na verdade, o interessante dessa minissérie em 4 episódios, Original Prime Vídeo, é justamente entender como algumas estratégias da empresa faziam muito sentido e outras foram completamente amadoras, para não dizer gananciosas, e que praticamente transformaram uma marca que era idolatrada por suas consumidoras (fiéis) em sinônimo de arrogância, mal cartismo e péssima qualidade produto.
A produção desvenda o segredo do sucesso LuLaRoe, mas da pior forma possível. Conhecida por suas leggings, a infame empresa de marketing multi-nível viralizou prometendo para jovens mães, uma salvação financeira, trabalhando de casa, em meio período, mas ganhando muito dinheiro. Os excêntricos fundadores da LuLaRoe, DeAnne Brady e Mark Stidham, recrutaram um exército de vendedoras independentes para vender suas roupas cada vez mais bizarras e defeituosas, até que tudo começou a dar errado. Confira o trailer (em inglês):
Os diretores Jenner Furst e Julia Willoughby Nason (do ótimo "Prescrição Fatal") constroem uma narrativa bastante tradicional para esse documentário, porém com uma dinâmica brilhantemente pontuada por uma trilha sonora que define exatamente o sentimento que temos ao assistir os depoimentos de DeAnne e Mark, de seus antigos funcionários e, especialmente, de suas vendedoras mais relevantes e que um dia foram embaixadoras da marca. Apoiada em imagens de arquivo, algumas extremamente constrangedoras, "LuLaRich" tem muito mais a nos ensinar do que podemos imaginar.
Para aqueles envolvidos com empreendedorismo eu destaco dois pontos: a importância de encontrar o público ideal que vai consumir seu produto (a famosa "persona") e a estratégia de comunicação para construção de uma comunidade fiel, defensora da marca e de todos seus produtos. Por outro lado, e aqui aprender com os erros dos outros deixa a experiência ainda mais completa, a forma como os fundadores da LuLaRoe constituíram suas lideranças dentro da empresa soa patético - que transformou uma cultura que parecia ser bastante saudável em uma postura tão tóxica, onde suas práticas lembravam (e muito) algumas seitas abusivas que já vimos em outros documentários como "The Vow", por exemplo.
Impressiona o fato de que DeAnne e Mark parecem não entender as consequências de suas péssimas atitudes como empresários - a não ser que eles sejam atores incríveis, parece que eles realmente acreditam que convidar as próprias clientes como vendedoras oficiais da marca, oferecendo comissões apenas quando outras mulheres são recrutadas por elas, para aí sim vender LuLaRoe, com custo fixo de aquisição de produto garantido; não seja uma pirâmide!
"As Faces da Marca" é muito feliz em discutir os limites éticos de um negócio de família que deu certo muito rápido. A linha tênue entre uma cultura corporativa marcada pela informalidade e um ambiente de trabalho abusivo pode ser até sutil, mas em escala acaba destruindo algo que tinha, de fato, muito potencial. O problema é que o preço foi caro, principalmente para aquele lado da corda mais fraco, que enxergavam na LuLaRoe uma oportunidade de mudar de vida, de ascensão social, mas que na verdade não passava de uma grande fantasia (para não dizer "furada").
Vale muito seu play!
Uma das maiores discussões assim que saíram os indicados para o Oscar de 2020 foi a ausência de Jennifer Lopez pelo seu trabalho em "As Golpistas"! Após assistir ao filme, fica claro que Lopez tinha total condição de estar entre as cinco, seu trabalho realmente merece elogios e ela carrega o filme nas costas, mas é um fato que ela deu um pouco de azar pelo alto nível da temporada - eu mesmo posso citar pelo menos mais uma ou duas atrizes que também mereciam estar entre as indicadas: caso da Awkwafina e da Lupita Nyong'o, por exemplo.
Pois bem, disse tudo isso para afirmar que "As Golpistas" se apoia muito na qualidade do seu elenco e como o próprio nome do filme sugere, as personagens tem importância vital perante a história, repare: são strippers que esquematizavam golpes sobre seus clientes cheios da grana, na maioria vindo de Wall Street, que se beneficiavam da situação de crise que assolava o país e, na visão delas, não sofreriam ao perder um pouco de dinheiro em uma noitada de "diversão". Confira o trailer:
Baseado no artigo da New York Magazine "The Hustlers at Scores", assinado pela jornalista Jessica Pressler, e fielmente adaptado pela roteirista Lorene Scafaria, "Hustlers" (título original) entrega quase duas horas de uma trama, se não original, muito bem construída. A apresentação dos fatos segue uma estrutura narrativa que quebra a linha do tempo, mas não confunde quem assiste graças a algumas inserções gráficas que indicam um período especifico da história. A partir dos relatos de Destiny (Constance Wu) para Elizabeth (Julia Stiles), vamos conhecendo cada uma das personagens e os motivos que as colocaram nos crimes.
Muito bem dirigido pela própria Lorene Scafaria, o filme nos transporta para o "submundo" de Wall Street pelos olhos femininos - e isso talvez seja o maior mérito da obra! Quando essa perspectiva ganha força, automaticamente criamos empatia com as personagens e, por incrível que pareça, não as julgamos. É preciso dizer, porém, que o filme oscila um pouco até o meio do segundo ato quando Ramona (Jennifer Lopez) assume a liderança do próprio negócio e cria uma equipe de garotas golpistas para drogar seus clientes e estourar os limites de seus cartões de crédito. O próprio ritmo da direção e da montagem ganha mais vida e parece que a história flui melhor a partir daí.
"As Golpistas" é um ótimo entretenimento, bem despretensioso e muito fácil de se divertir. Com uma trilha sonora sensacional, o empoderamento feminino ganha um ritmo de "vingança" que não agride quem assiste, mas nos enche de curiosidade para saber onde tudo aquilo vai dar - "A Grande Jogada", filme do Diretor e Roteirista Aaron Sorkin tem muito disso!
Vale seu play!
Uma das maiores discussões assim que saíram os indicados para o Oscar de 2020 foi a ausência de Jennifer Lopez pelo seu trabalho em "As Golpistas"! Após assistir ao filme, fica claro que Lopez tinha total condição de estar entre as cinco, seu trabalho realmente merece elogios e ela carrega o filme nas costas, mas é um fato que ela deu um pouco de azar pelo alto nível da temporada - eu mesmo posso citar pelo menos mais uma ou duas atrizes que também mereciam estar entre as indicadas: caso da Awkwafina e da Lupita Nyong'o, por exemplo.
Pois bem, disse tudo isso para afirmar que "As Golpistas" se apoia muito na qualidade do seu elenco e como o próprio nome do filme sugere, as personagens tem importância vital perante a história, repare: são strippers que esquematizavam golpes sobre seus clientes cheios da grana, na maioria vindo de Wall Street, que se beneficiavam da situação de crise que assolava o país e, na visão delas, não sofreriam ao perder um pouco de dinheiro em uma noitada de "diversão". Confira o trailer:
Baseado no artigo da New York Magazine "The Hustlers at Scores", assinado pela jornalista Jessica Pressler, e fielmente adaptado pela roteirista Lorene Scafaria, "Hustlers" (título original) entrega quase duas horas de uma trama, se não original, muito bem construída. A apresentação dos fatos segue uma estrutura narrativa que quebra a linha do tempo, mas não confunde quem assiste graças a algumas inserções gráficas que indicam um período especifico da história. A partir dos relatos de Destiny (Constance Wu) para Elizabeth (Julia Stiles), vamos conhecendo cada uma das personagens e os motivos que as colocaram nos crimes.
Muito bem dirigido pela própria Lorene Scafaria, o filme nos transporta para o "submundo" de Wall Street pelos olhos femininos - e isso talvez seja o maior mérito da obra! Quando essa perspectiva ganha força, automaticamente criamos empatia com as personagens e, por incrível que pareça, não as julgamos. É preciso dizer, porém, que o filme oscila um pouco até o meio do segundo ato quando Ramona (Jennifer Lopez) assume a liderança do próprio negócio e cria uma equipe de garotas golpistas para drogar seus clientes e estourar os limites de seus cartões de crédito. O próprio ritmo da direção e da montagem ganha mais vida e parece que a história flui melhor a partir daí.
"As Golpistas" é um ótimo entretenimento, bem despretensioso e muito fácil de se divertir. Com uma trilha sonora sensacional, o empoderamento feminino ganha um ritmo de "vingança" que não agride quem assiste, mas nos enche de curiosidade para saber onde tudo aquilo vai dar - "A Grande Jogada", filme do Diretor e Roteirista Aaron Sorkin tem muito disso!
Vale seu play!
Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.
“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento deKim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.
Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.
Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!
Vale seu play!
Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.
“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento deKim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.
Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.
Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!
Vale seu play!
Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa.
Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:
Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.
DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.
Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.
Obrigado Scorsese!
Vale muito o play. Vale muito a reflexão!
Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa.
Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:
Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.
DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.
Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.
Obrigado Scorsese!
Vale muito o play. Vale muito a reflexão!
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!
"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.
Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):
É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.
De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.
Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.
Vale seu play!
"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.
Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):
É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.
De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.
Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.
Vale seu play!
"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!
Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):
O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.
Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!
"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!
Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis!
"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!
Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):
O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.
Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!
"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!
Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis!
No esporte existe uma máxima que diz: "chegar ao topo pode até ser fácil, se manter lá que é o complicado" - e me parece que nos negócios não é muito diferente, pois interferências bastante particulares começam a fazer muita diferença. Se você gostou de "Mito e Magnata: John Delorean", não deixe de assistir "Bad Boys e Bilionários: Índia". Essa série de três episódios da Netflix mostra de uma forma brutal como o ser humano pautado pela ganância e pelo ego, é capaz de transformar oportunidades raras de sucesso nos negócios em cases de corrupção, estelionato, desvio de dinheiro e muitos outros crimes que eu nem tenho vocabulário para listar.
Em "A Bad Boy Billionaires"(no original) conhecemos a história de três magnatas indianos: Vijay Mallya, conhecido como “Rei da Farra”, Nirav Modi e Subrata Roy, que alcançaram sucesso absurdo em seus negócios antes de serem acusados de fraudes financeiras e corrupção que culminaram na queda de seus impérios. Confira os teasers originais de cada um deles, na ordem dos episódios da série:
Vijay Mallya (64), conhecido como o “Rei da Farra”, é o presidente do conselho de administração da United Beverages Group, um conglomerado com atuação nas áreas de bebidas alcoólicas, infraestrutura de aviação, imóveis e fertilizantes. Herdeiro do industrial Vittal Mallya, desde que assumiu a presidência viu o faturamento anual do grupo aumentar em 64%. A cerveja Kingfisher, por exemplo, tem uma participação de mercado superior a 50% na Índia - o que faz da Uniteda maior empresa de bebidas do mundo em volume. Ao assistir o episódio, os mais atentos podem reconhecer Mallya graças a sua equipe de Fórmula 1 - a Force India (patrocinada e depois adquirida pela Sahara de Subrata Roy - personagem do último episódio). Aparentemente um gênio dos negócios, Mallya começou a assistir sua queda ao tomar decisões erradas em sua gestão, principalmente no que diz respeito a Kingfisher Airlines - mas isso o episódio conta em detalhes, inclusive com a participação do filho de Mallya dando depoimentos que transitam entre a total falta de noção da realidade com a recorrente mania de perseguição de que não enxerga fora da bolha.
Já Nirav Deepak Modi (49) é um empresário indiano que está sendo investigado por um caso de fraude de mais de US$ 2 bilhões ao Punjab National Bank (PNB). Modi que já tinha um histórico familiar no mercado de pedras preciosas, surgiu de repente no universo da moda ao criar uma marca forte e respeitada graças a qualidade de seus diamantes e o design inovador de suas peças. Rapidamente ele abriu lojas nos destinos mais badalados do mundo e tinha planos audaciosos para sua empresa quando descobriram que a forma usada para financiar essa expansão não era legal (entre outras jogadas que ele fazia com empresas de fachada para desviar muito dinheiro para o próprio bolso).
E finalmente Subrata Roy (72), o fundador e presidente da Sahara India Pariwar, um conglomerado indiano com negócios diversificados e interesses de propriedade que incluem até o Plaza Hotel de Nova Iorque, talvez seja o mais mal caráter de todos - se assim pudermos listar com base em impacto na sociedade. A Sahara é um espécie de "pirâmide de investimentos" que prometeu para 30 milhões de indianos de baixa renda e quase nenhuma instrução, um resultado financeiro expressivo em pouco tempo, desde que o dinheiro fosse reinvestido e aportes mensais fosse realizados para manter a operação. Vale lembrar que em 2013, Roy figurou entre as 10 pessoas mais poderosas da Índia - um país com 1.3 bilhões de pessoas.
Embora embrulhe o estômago em muitos momentos, o documentário tem uma dinâmica bastante interessante como entretenimento - ele usa vários materiais de arquivo para ilustrar depoimentos de pessoas que, de alguma forma, estiveram muito próximas de cada um dos personagens. O diretor e roteirista Dylan Mohan Gray (do premiado "Fire in the Blood") foi de fato muito feliz em construir uma linha temporal simples de entender, que exalta as qualidades de cada um dos empreendedores para, na segunda metade, indicar onde e quando as coisas começaram a desandar - inclusive com depoimentos de especialistas em negócios e ex-executivos das empresas.
Olá, é um super estudo de caso! Vale muito a pena!
Antes de finalizar uma curiosidade: Assim que a Netflix lançou o trailer oficial da série, ela precisou remover um dos episódios do projeto - inicialmente seriam 4 e não 3 histórias; graças a uma ação judicial de B Ramalinga Raju, fundador da Satyam Computers. Reparem que no cartaz, é possível localizar esse personagem.
No esporte existe uma máxima que diz: "chegar ao topo pode até ser fácil, se manter lá que é o complicado" - e me parece que nos negócios não é muito diferente, pois interferências bastante particulares começam a fazer muita diferença. Se você gostou de "Mito e Magnata: John Delorean", não deixe de assistir "Bad Boys e Bilionários: Índia". Essa série de três episódios da Netflix mostra de uma forma brutal como o ser humano pautado pela ganância e pelo ego, é capaz de transformar oportunidades raras de sucesso nos negócios em cases de corrupção, estelionato, desvio de dinheiro e muitos outros crimes que eu nem tenho vocabulário para listar.
Em "A Bad Boy Billionaires"(no original) conhecemos a história de três magnatas indianos: Vijay Mallya, conhecido como “Rei da Farra”, Nirav Modi e Subrata Roy, que alcançaram sucesso absurdo em seus negócios antes de serem acusados de fraudes financeiras e corrupção que culminaram na queda de seus impérios. Confira os teasers originais de cada um deles, na ordem dos episódios da série:
Vijay Mallya (64), conhecido como o “Rei da Farra”, é o presidente do conselho de administração da United Beverages Group, um conglomerado com atuação nas áreas de bebidas alcoólicas, infraestrutura de aviação, imóveis e fertilizantes. Herdeiro do industrial Vittal Mallya, desde que assumiu a presidência viu o faturamento anual do grupo aumentar em 64%. A cerveja Kingfisher, por exemplo, tem uma participação de mercado superior a 50% na Índia - o que faz da Uniteda maior empresa de bebidas do mundo em volume. Ao assistir o episódio, os mais atentos podem reconhecer Mallya graças a sua equipe de Fórmula 1 - a Force India (patrocinada e depois adquirida pela Sahara de Subrata Roy - personagem do último episódio). Aparentemente um gênio dos negócios, Mallya começou a assistir sua queda ao tomar decisões erradas em sua gestão, principalmente no que diz respeito a Kingfisher Airlines - mas isso o episódio conta em detalhes, inclusive com a participação do filho de Mallya dando depoimentos que transitam entre a total falta de noção da realidade com a recorrente mania de perseguição de que não enxerga fora da bolha.
Já Nirav Deepak Modi (49) é um empresário indiano que está sendo investigado por um caso de fraude de mais de US$ 2 bilhões ao Punjab National Bank (PNB). Modi que já tinha um histórico familiar no mercado de pedras preciosas, surgiu de repente no universo da moda ao criar uma marca forte e respeitada graças a qualidade de seus diamantes e o design inovador de suas peças. Rapidamente ele abriu lojas nos destinos mais badalados do mundo e tinha planos audaciosos para sua empresa quando descobriram que a forma usada para financiar essa expansão não era legal (entre outras jogadas que ele fazia com empresas de fachada para desviar muito dinheiro para o próprio bolso).
E finalmente Subrata Roy (72), o fundador e presidente da Sahara India Pariwar, um conglomerado indiano com negócios diversificados e interesses de propriedade que incluem até o Plaza Hotel de Nova Iorque, talvez seja o mais mal caráter de todos - se assim pudermos listar com base em impacto na sociedade. A Sahara é um espécie de "pirâmide de investimentos" que prometeu para 30 milhões de indianos de baixa renda e quase nenhuma instrução, um resultado financeiro expressivo em pouco tempo, desde que o dinheiro fosse reinvestido e aportes mensais fosse realizados para manter a operação. Vale lembrar que em 2013, Roy figurou entre as 10 pessoas mais poderosas da Índia - um país com 1.3 bilhões de pessoas.
Embora embrulhe o estômago em muitos momentos, o documentário tem uma dinâmica bastante interessante como entretenimento - ele usa vários materiais de arquivo para ilustrar depoimentos de pessoas que, de alguma forma, estiveram muito próximas de cada um dos personagens. O diretor e roteirista Dylan Mohan Gray (do premiado "Fire in the Blood") foi de fato muito feliz em construir uma linha temporal simples de entender, que exalta as qualidades de cada um dos empreendedores para, na segunda metade, indicar onde e quando as coisas começaram a desandar - inclusive com depoimentos de especialistas em negócios e ex-executivos das empresas.
Olá, é um super estudo de caso! Vale muito a pena!
Antes de finalizar uma curiosidade: Assim que a Netflix lançou o trailer oficial da série, ela precisou remover um dos episódios do projeto - inicialmente seriam 4 e não 3 histórias; graças a uma ação judicial de B Ramalinga Raju, fundador da Satyam Computers. Reparem que no cartaz, é possível localizar esse personagem.
Em uma época pré-streaming, uma série como "Ballers" da HBO, é possível dizer, não recebeu os méritos que ela de fato merecia. Bem na linha do já clássico "Entourage" (o produtor executivo, Mark Wahlberg, também está envolvido nesse projeto), mas com uma levada mais adulta, "Ballers" consegue equilibrar perfeitamente o tom mais sério do drama com alívios cômicos que, mesmo recheados de clichês, divertem demais!
Na ensolarada e badalada cidade de Miami, muitos jogadores de futebol americano aproveitam a vida fora dos campos em meio à ostentação. Spencer Strassmore (Dwayne Johnson) também foi jogador, mas decidiu se aposentar para ser uma espécie de agente desses esportistas, um emprego para ainda tentar se manter no topo, mas quando se trata de ascensão social e oportunidades no esporte, nada fica muito fácil. Confira o trailer:
Não por acaso um dos diretores de "Ballers" é o talentoso Peter Berg, criador de "Friday Night Lights" - outro verdadeiro clássico para os amantes do futebol americano que passaram a acompanhar na ficção, os dramas (reais) dos bastidores do esporte no inicio dos anos 2000 (mais precisamente em 2006). Cito isso, pois essa série da HBO funciona como uma mistura perfeita da já citada "Entourage" com "Friday Night Lights", se apropriando do grande know-how de Berg em contar histórias sobre o esporte, mas também retratando com grande importância o glamour (e a efemeridade) dos bastidores que Wahlberg tanto domina.
Mesmo com cinco temporadas e um final planejado (e realizado), é preciso dizer que "Ballers" se constrói, na verdade, em cima de um grande e homeopático arco. Digo isso, pois em um primeiro olhar, o ritmo cadenciado dos episódios iniciais parece se sustentar apenas pela simpatia e química dos atores - em especial de Dwayne Johnson, mas sem esquecer das ótimas performances de John David Washington (como Ricky Jerret) e de Donovan W. Carter (como Vernon Littlefield). O que posso te garantir é que o roteiro vai muito além do trabalho do elenco e das, aparentemente, tramas superficiais que narrativamente são exemplificadas pelas loucuras e depravações dos personagens. O roteiro tem o mérito de mergulhar em interessantes camadas que exploram com muita inteligência (e alguma sensibilidade) o psicológico de tudo que envolve a jornada de crescimento e a carreira de um atleta de alto nível na NFL.
Para quem gosta e segue os noticiários dos esportes (americanos) e tem curiosidade de saber o que acontece antes da "bola subir", "Ballers" é um tiro certo! Notavelmente desenvolvida para o público masculino, a trama vai te trazer algumas memórias do "politicamente incorreto", mas com muita diversão - é como se "Californication" se passasse nos bastidores do Futebol Americano, com uma figura (também) muito carismática no comando e um texto extremamente afinado de Stephen Levinson (de "Padre Stu - Luta pela Fé").
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
Em uma época pré-streaming, uma série como "Ballers" da HBO, é possível dizer, não recebeu os méritos que ela de fato merecia. Bem na linha do já clássico "Entourage" (o produtor executivo, Mark Wahlberg, também está envolvido nesse projeto), mas com uma levada mais adulta, "Ballers" consegue equilibrar perfeitamente o tom mais sério do drama com alívios cômicos que, mesmo recheados de clichês, divertem demais!
Na ensolarada e badalada cidade de Miami, muitos jogadores de futebol americano aproveitam a vida fora dos campos em meio à ostentação. Spencer Strassmore (Dwayne Johnson) também foi jogador, mas decidiu se aposentar para ser uma espécie de agente desses esportistas, um emprego para ainda tentar se manter no topo, mas quando se trata de ascensão social e oportunidades no esporte, nada fica muito fácil. Confira o trailer:
Não por acaso um dos diretores de "Ballers" é o talentoso Peter Berg, criador de "Friday Night Lights" - outro verdadeiro clássico para os amantes do futebol americano que passaram a acompanhar na ficção, os dramas (reais) dos bastidores do esporte no inicio dos anos 2000 (mais precisamente em 2006). Cito isso, pois essa série da HBO funciona como uma mistura perfeita da já citada "Entourage" com "Friday Night Lights", se apropriando do grande know-how de Berg em contar histórias sobre o esporte, mas também retratando com grande importância o glamour (e a efemeridade) dos bastidores que Wahlberg tanto domina.
Mesmo com cinco temporadas e um final planejado (e realizado), é preciso dizer que "Ballers" se constrói, na verdade, em cima de um grande e homeopático arco. Digo isso, pois em um primeiro olhar, o ritmo cadenciado dos episódios iniciais parece se sustentar apenas pela simpatia e química dos atores - em especial de Dwayne Johnson, mas sem esquecer das ótimas performances de John David Washington (como Ricky Jerret) e de Donovan W. Carter (como Vernon Littlefield). O que posso te garantir é que o roteiro vai muito além do trabalho do elenco e das, aparentemente, tramas superficiais que narrativamente são exemplificadas pelas loucuras e depravações dos personagens. O roteiro tem o mérito de mergulhar em interessantes camadas que exploram com muita inteligência (e alguma sensibilidade) o psicológico de tudo que envolve a jornada de crescimento e a carreira de um atleta de alto nível na NFL.
Para quem gosta e segue os noticiários dos esportes (americanos) e tem curiosidade de saber o que acontece antes da "bola subir", "Ballers" é um tiro certo! Notavelmente desenvolvida para o público masculino, a trama vai te trazer algumas memórias do "politicamente incorreto", mas com muita diversão - é como se "Californication" se passasse nos bastidores do Futebol Americano, com uma figura (também) muito carismática no comando e um texto extremamente afinado de Stephen Levinson (de "Padre Stu - Luta pela Fé").
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
"Banco Central Sob Ataque" é muito interessante, mas é preciso alinhar as expectativas: não espere muita ação - aqui, é o drama (e um perturbador recorte histórico) que vai te mover durante a jornada. Lançada em 2024 pela Netflix, essa minissérie espanhola narra, com uma boa dose de tensão e algum dinamismo, um dos assaltos mais ousados e emblemáticos da história recente da Espanha. Escrita por Patxi Amezcua e dirigida por Daniel Calparsoro, ambos de "O Aviso", a produção foca no olhar crítico sobre as motivações e consequências de um crime que desafiou o sistema financeiro e a ordem social em um período marcado pelo golpe de Estado frustrado que ocorreu na Espanha em 23 de fevereiro de 1981. Assim como "La Casa de Papel", "Asalto al Banco Central" (no original) também explora o fascínio e o impacto dos grandes assaltos na mídia, mas com uma abordagem realista e ancorada em fatos históricos impressionantes - eu diria que por isso, tudo fica ainda mais envolvente.
Em cinco episódios, acompanhamos um grupo de criminosos altamente organizados que planeja e executa um roubo audacioso ao Banco Central da Espanha. À medida que o plano se desenrola, a audiência é levada a conhecer não apenas os detalhes históricos sobre o assalto, mas também os conflitos internos do grupo e os desafios enfrentados pelas autoridades para evitar um desastre midiático - já que cerca de 200 pessoas eram mantidas como reféns. A minissérie alterna entre a perspectiva dos assaltantes e dos investigadores ao mesmo tempo que conhecemos a história de Maider (María Pedraza), uma jornalista que desafia as autoridades para descobrir a verdadeira motivação do assalto, criando assim uma narrativa multifacetada que nos mantém envolvidos do início ao fim. Confira o trailer:
Patxi Amezcua entrega um roteiro que sabe misturar elementos documentais com um drama de diálogos ágeis e bastante incisivos na sua essência. Obviamente que para nós, brasileiros, a dinâmica politica da Espanha pós-ditadura não é um assunto dos mais dominantes, mas é preciso que se diga que a narrativa proposta por Amezcua é eficaz ao explorar a psicologia dos personagens, especialmente no que diz respeito às relações do grupo de assaltantes com suas ideologias e perante as tensões partidárias entre esquerda e extrema direita que ameaçavam a recente democracia do país. A minissérie também é inteligente em abordar os eventos históricos com elementos de ficção que estão 100% alinhados com a proposta de transformar em entretenimento um fato marcante para a sociedade da época. Temas como ganância, corrupção e os limites da moralidade, que questionam as linhas tênues entre certo e errado em um contexto onde todos os envolvidos parecem ter algo a esconder, são muito bem desenvolvidos tanto nos personagens principais quando nos coadjuvantes.
Nesse sentido a direção de Daniel Calparsoro é marcada não só por sua habilidade em criar cenas de alta tensão, mas também por nunca perder o foco na construção desses personagens. Calparsoro equilibra momentos de adrenalina com sequências mais introspectivas, permitindo que a audiência se conecte com as motivações e vulnerabilidades de ambos os lados da história, provocando julgamentos que, de fato, confundem nossa persepção ao ponto de não sabermos muito bem para quem devemos torcer. O diretor utiliza uma cinematografia sombria e dinâmica, com enquadramentos que intensificam o clima claustrofóbico e a sensação de urgência dentro do banco, enquanto nas cenas externas captura a pressão pública e midiática que se desenrola paralelamente ao assalto - inclusive estabelecendo sua condição histórica inserindo imagens reais de arquivos jornalísticos.
Mesmo contando com seu grande elenco como um dos trunfos da minissérie, eu destaco três nomes conhecidos do público da Netflix que merecem sua atenção: Miguel Herrán como o líder do grupo de assaltantes, José Juan Martínez Gómez, o "El Rubio" - ele entrega mais uma performance magnética e cheia de nuances, mostrando a dualidade de um homem que combina inteligência estratégica com uma fragilidade emocional oculta com muita precisão dramática. Ao lado dele, María Pedraza e Isak Férriz, o policial Paco López, contribuem demais para a autenticidade dos conflitos e das relações quase sempre dúbias entre uma jovem jornalista e o responsável pelas investigações - repare como o apelo moral daquela sociedade ainda machucada pela ditadura traz para esses personagens um contraponto sólido e humano.
"Banco Central Sob Ataque", embora tenha seus momentos previsíveis, é uma minissérie que compensa por ter uma narrativa envolvente e personagens que capturam a complexidade de um conflito real entre o anarquismo e a politica da época sem soar didática demais. Tanto para os fãs de dramas criminais históricos e intensos quanto para aqueles que buscam só o entretenimento, eu diria que esse é o tipo de obra que tende a agradar a todos!
Vale seu play!
"Banco Central Sob Ataque" é muito interessante, mas é preciso alinhar as expectativas: não espere muita ação - aqui, é o drama (e um perturbador recorte histórico) que vai te mover durante a jornada. Lançada em 2024 pela Netflix, essa minissérie espanhola narra, com uma boa dose de tensão e algum dinamismo, um dos assaltos mais ousados e emblemáticos da história recente da Espanha. Escrita por Patxi Amezcua e dirigida por Daniel Calparsoro, ambos de "O Aviso", a produção foca no olhar crítico sobre as motivações e consequências de um crime que desafiou o sistema financeiro e a ordem social em um período marcado pelo golpe de Estado frustrado que ocorreu na Espanha em 23 de fevereiro de 1981. Assim como "La Casa de Papel", "Asalto al Banco Central" (no original) também explora o fascínio e o impacto dos grandes assaltos na mídia, mas com uma abordagem realista e ancorada em fatos históricos impressionantes - eu diria que por isso, tudo fica ainda mais envolvente.
Em cinco episódios, acompanhamos um grupo de criminosos altamente organizados que planeja e executa um roubo audacioso ao Banco Central da Espanha. À medida que o plano se desenrola, a audiência é levada a conhecer não apenas os detalhes históricos sobre o assalto, mas também os conflitos internos do grupo e os desafios enfrentados pelas autoridades para evitar um desastre midiático - já que cerca de 200 pessoas eram mantidas como reféns. A minissérie alterna entre a perspectiva dos assaltantes e dos investigadores ao mesmo tempo que conhecemos a história de Maider (María Pedraza), uma jornalista que desafia as autoridades para descobrir a verdadeira motivação do assalto, criando assim uma narrativa multifacetada que nos mantém envolvidos do início ao fim. Confira o trailer:
Patxi Amezcua entrega um roteiro que sabe misturar elementos documentais com um drama de diálogos ágeis e bastante incisivos na sua essência. Obviamente que para nós, brasileiros, a dinâmica politica da Espanha pós-ditadura não é um assunto dos mais dominantes, mas é preciso que se diga que a narrativa proposta por Amezcua é eficaz ao explorar a psicologia dos personagens, especialmente no que diz respeito às relações do grupo de assaltantes com suas ideologias e perante as tensões partidárias entre esquerda e extrema direita que ameaçavam a recente democracia do país. A minissérie também é inteligente em abordar os eventos históricos com elementos de ficção que estão 100% alinhados com a proposta de transformar em entretenimento um fato marcante para a sociedade da época. Temas como ganância, corrupção e os limites da moralidade, que questionam as linhas tênues entre certo e errado em um contexto onde todos os envolvidos parecem ter algo a esconder, são muito bem desenvolvidos tanto nos personagens principais quando nos coadjuvantes.
Nesse sentido a direção de Daniel Calparsoro é marcada não só por sua habilidade em criar cenas de alta tensão, mas também por nunca perder o foco na construção desses personagens. Calparsoro equilibra momentos de adrenalina com sequências mais introspectivas, permitindo que a audiência se conecte com as motivações e vulnerabilidades de ambos os lados da história, provocando julgamentos que, de fato, confundem nossa persepção ao ponto de não sabermos muito bem para quem devemos torcer. O diretor utiliza uma cinematografia sombria e dinâmica, com enquadramentos que intensificam o clima claustrofóbico e a sensação de urgência dentro do banco, enquanto nas cenas externas captura a pressão pública e midiática que se desenrola paralelamente ao assalto - inclusive estabelecendo sua condição histórica inserindo imagens reais de arquivos jornalísticos.
Mesmo contando com seu grande elenco como um dos trunfos da minissérie, eu destaco três nomes conhecidos do público da Netflix que merecem sua atenção: Miguel Herrán como o líder do grupo de assaltantes, José Juan Martínez Gómez, o "El Rubio" - ele entrega mais uma performance magnética e cheia de nuances, mostrando a dualidade de um homem que combina inteligência estratégica com uma fragilidade emocional oculta com muita precisão dramática. Ao lado dele, María Pedraza e Isak Férriz, o policial Paco López, contribuem demais para a autenticidade dos conflitos e das relações quase sempre dúbias entre uma jovem jornalista e o responsável pelas investigações - repare como o apelo moral daquela sociedade ainda machucada pela ditadura traz para esses personagens um contraponto sólido e humano.
"Banco Central Sob Ataque", embora tenha seus momentos previsíveis, é uma minissérie que compensa por ter uma narrativa envolvente e personagens que capturam a complexidade de um conflito real entre o anarquismo e a politica da época sem soar didática demais. Tanto para os fãs de dramas criminais históricos e intensos quanto para aqueles que buscam só o entretenimento, eu diria que esse é o tipo de obra que tende a agradar a todos!
Vale seu play!