"A História do Imagineering" é uma série documental de seis episódios de 60 minutos, em média, do Disney+, que mais parece um curso de MBA em empreendedorismo e inovação - e isso é incrível! Sem exageros, a forma como o documentário dirigido pela Leslie Iwerks, indicada ao Oscar de 2007 pelo curta documental "Recycled Life" e também responsável pelo excelente "A História da Pixar", é simplesmente sensacional - são tantos elementos inseridos organicamente no processo de construção de um império do entretenimento pelos olhos da força mais criativa da empresa, que fica até difícil citá-los sem correr o risco de esquecer algo importante!
Mesmo que você seja uma das milhões de pessoas que tiveram a oportunidade de visitar algum dos parques temáticos da Disney em todo o mundo, você pode não ter a noção e até não conhecer sobre um dos conceitos culturais mais importantes que a empresa até estabeleceu como profissão: a do Imagineer. A palavra foi criada para designar os criadores de tudo que está nos seus parques temáticos, da idealização à construção de várias das atrações. O documentário tem, entre outras coisas, o objetivo de mostrar um lado secreto que a Disney habitualmente não revelaria e a relação mágica entre a criação e o público que já começa com seu criador Walt, o primeiro dos Imagineers. Confira o trailer:
Da criação da Disneylândia original em Anaheim, na Califórnia, passando pela da Euro Disney em Paris, até chegar nos parques mais recentes, como o de Xangai, a série percorre os altos e baixos destas tarefas gigantescas e dá voz aos seus protagonistas em uma verdadeira radiografia que expõe os bastidores da empresa, tanto criativo como corporativo - e é aqui que o documentário ganha em conteúdo, pois Iwerks mostra um material riquíssimo de arquivo, com conversas de Walt e seu irmão Roy, depoimentos dos primeiros Imagineers, CEOs e executivos da empresa como Michael Eisner, Frank Wells e Bob Iger, além de figuras quase míticas como Steve Jobs, George Lucas e James Cameron.
"A História do Imagineering" é muito mais que uma série que fala sobre um legado, ela é a mais espetacular análise sobre o real significado de empreendedorismo na prática, uma aula de cultura, gestão, propósito, criatividade, inovação, growth, customer experience, internacionalização, propriedade intelectual, etc. Sério, é simplesmente imperdível e me desculpem a redundância, mas talvez seja o melhor conteúdo sobre o assunto disponível atualmente nos serviços de streaming.
Como de costume nesse tipo de review focado em empreendedorismo, seguem algumas indicações bibliográficas que vão te ajudar a se aprofundar no conteúdo que a série cobre. O primeiro chama "Se você pode sonhar, pode fazer"- esse é um livro de consulta, bem fácil, com vários conceitos dos Imagineers que ajudam a impulsionar a criatividade. A segunda indicação já é um pouco mais complexa, "Disney War" mostra os bastidores da Era Eisner na Disney e como ele foi capaz de recuperar uma empresa quase falida e transformar em uma potencia global do entretenimento. Existem mais dois livros que também podem interessar: "A Magia do Império Disney"de Ginha Nader é basicamente o conteúdo que você vai assistir no documentário e "Criando Magia" do Lee Cockerell que enumera dez estratégias de liderança disseminadas no Disney Institute.
Agora vamos ao que interessa! Só dar o play e ser feliz!
"A História do Imagineering" é uma série documental de seis episódios de 60 minutos, em média, do Disney+, que mais parece um curso de MBA em empreendedorismo e inovação - e isso é incrível! Sem exageros, a forma como o documentário dirigido pela Leslie Iwerks, indicada ao Oscar de 2007 pelo curta documental "Recycled Life" e também responsável pelo excelente "A História da Pixar", é simplesmente sensacional - são tantos elementos inseridos organicamente no processo de construção de um império do entretenimento pelos olhos da força mais criativa da empresa, que fica até difícil citá-los sem correr o risco de esquecer algo importante!
Mesmo que você seja uma das milhões de pessoas que tiveram a oportunidade de visitar algum dos parques temáticos da Disney em todo o mundo, você pode não ter a noção e até não conhecer sobre um dos conceitos culturais mais importantes que a empresa até estabeleceu como profissão: a do Imagineer. A palavra foi criada para designar os criadores de tudo que está nos seus parques temáticos, da idealização à construção de várias das atrações. O documentário tem, entre outras coisas, o objetivo de mostrar um lado secreto que a Disney habitualmente não revelaria e a relação mágica entre a criação e o público que já começa com seu criador Walt, o primeiro dos Imagineers. Confira o trailer:
Da criação da Disneylândia original em Anaheim, na Califórnia, passando pela da Euro Disney em Paris, até chegar nos parques mais recentes, como o de Xangai, a série percorre os altos e baixos destas tarefas gigantescas e dá voz aos seus protagonistas em uma verdadeira radiografia que expõe os bastidores da empresa, tanto criativo como corporativo - e é aqui que o documentário ganha em conteúdo, pois Iwerks mostra um material riquíssimo de arquivo, com conversas de Walt e seu irmão Roy, depoimentos dos primeiros Imagineers, CEOs e executivos da empresa como Michael Eisner, Frank Wells e Bob Iger, além de figuras quase míticas como Steve Jobs, George Lucas e James Cameron.
"A História do Imagineering" é muito mais que uma série que fala sobre um legado, ela é a mais espetacular análise sobre o real significado de empreendedorismo na prática, uma aula de cultura, gestão, propósito, criatividade, inovação, growth, customer experience, internacionalização, propriedade intelectual, etc. Sério, é simplesmente imperdível e me desculpem a redundância, mas talvez seja o melhor conteúdo sobre o assunto disponível atualmente nos serviços de streaming.
Como de costume nesse tipo de review focado em empreendedorismo, seguem algumas indicações bibliográficas que vão te ajudar a se aprofundar no conteúdo que a série cobre. O primeiro chama "Se você pode sonhar, pode fazer"- esse é um livro de consulta, bem fácil, com vários conceitos dos Imagineers que ajudam a impulsionar a criatividade. A segunda indicação já é um pouco mais complexa, "Disney War" mostra os bastidores da Era Eisner na Disney e como ele foi capaz de recuperar uma empresa quase falida e transformar em uma potencia global do entretenimento. Existem mais dois livros que também podem interessar: "A Magia do Império Disney"de Ginha Nader é basicamente o conteúdo que você vai assistir no documentário e "Criando Magia" do Lee Cockerell que enumera dez estratégias de liderança disseminadas no Disney Institute.
Agora vamos ao que interessa! Só dar o play e ser feliz!
Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.
Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:
Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.
Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe!
"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.
Vale seu play!
Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.
Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:
Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.
Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe!
"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.
Vale seu play!
"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".
Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:
É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.
Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.
Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.
Vale o play!
"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".
Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:
É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.
Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.
Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.
Vale o play!
Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?
Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!
Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!
O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos!
"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!
O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!
Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?
Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!
Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!
O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos!
"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!
O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.
Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):
Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.
A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.
É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!
Vale seu play!
Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.
Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):
Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.
A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.
É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!
Vale seu play!
"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:
"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do
melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - e trilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.
dicotomia sem cair noCom atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.
Vale seu play!
"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:
"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do
melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - e trilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.
dicotomia sem cair noCom atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.
Vale seu play!
"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!
A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:
O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer".
"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!
"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!
A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:
O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer".
"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!
Esse é mais um filme com uma história improvável, e por isso bastante inspiradora, que de fato merecia ser contada! Mas isso faz de "A Milhões de Quilômetros" inesquecível? Não, longe disso - no entanto, você pode ter a mais absoluta certeza que mesmo com um roteiro repleto de estereótipos, como entretenimento, ele é mais que ótimo! Veja, é como se misturássemos o ótimo e profundo drama francês "A Jornada" com o divertido e descomplicado "Flamin' Hot"! Baseado no livro "El Nino Que Alcanzo Las Estrellas", a diretora Alejandra Márquez Abella (do premiado "Os Céus do Norte sobre o Vazio") entrega uma biografia que derrapa pelo enorme recorte escolhido para contar uma história sobre a busca incansável pelo sonho americano, mas que por outro lado nos prende pela enorme conexão que desenvolvemos com o protagonista, o astronauta mexicano-americano, José Hernández.
Inspirado na história real de Hernández (Michael Peña), "A Million Miles Away" (no original) acompanha toda a jornada do jovem, e sua família, de uma vila rural em Michoacán, no México, para mais de 300 quilômetros acima da Terra na Estação Espacial Internacional. Com o apoio incondicional de sua esposa, muito foco e uma determinação fora do comum, o filme pontua passagens marcantes que levaram esse engenheiro brilhante ter a oportunidade de alcançar seu objetivo que, para muitos, parecia impossível. Confira o trailer:
Nascido em 13 de agosto de 1962, Hernández cresceu em uma família de trabalhadores rurais que se mudaram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor - o valor e a dificuldade que representam essa jornada rumo ao espaço é rapidamente contextualizada em uma ou duas cenas do prólogo, o suficiente para entendermos que estamos diante de uma receita que normalmente agrada a audiência: um protagonista humilde e perseverante que passa por todas as dificuldades e alcança o seu objetivo. A grande questão é que Abella escolhe um tom mais leve para contar uma história até certo ponto batida, só que em nenhum momento ela se apega ao drama profundo e introspectivo, nem quando a própria a situação pede, e isso é um golaço. Ela sabe que naturalmente o personagem vai nos conquistar e que em algum momento vamos passar a torcer por ele, sofrer com suas derrotas e nos emocionar com suas conquistas. De fato isso acontece - talvez tirando o sofrimento, esse nunca é tão impactante pela pressa de colocar tudo na tela em apenas 120 minutos. É como se faltasse profundidade, mas embarcando na proposta da diretora, isso não faz a menor falta.
O ponto alto do filme, sem dúvida, está na química entre Michael Peña e Rosa Salazar, que interpreta a esposa do astronauta, Adela. Eles se comunicam pelo olhar, mesmo sem a necessidade daqueles gatilhos emocionais que um filme desse gênero gosta de usar (e abusar) - não que não tenha, mas aqui a performance dos atores vai além, nos conquista sem muito esforço. É quase como e assistíssemos o filme com aquele leve sorriso querendo escapar. E por isso faço um elogio: Peña é absoluto, um ator que já demonstrou seu talento inúmeras vezes, capaz de usar de uma delicadeza e sensibilidade, sem falar no seu carisma que é mesmo impressionante. Apesar da estrutura narrativa atrapalhar essa construção de grandes emoções, Peña sabe por quais caminhos seguir sem soar piegas - o próprio Jesse Garcia fez muito bem isso em "Flamin' Hot".
Hernández enfrentou inúmeras dificuldades em sua juventude, incluindo barreiras linguísticas e financeiras. No entanto, sua paixão pela ciência e pela exploração espacial o impulsionou a superar esses obstáculos. Ele obteve um diploma em engenharia elétrica e posteriormente um mestrado em engenharia de computação, demonstrando seu compromisso com a educação e aprimoramento pessoal. Aprendeu a pilotar aviões, com mais de 800 horas de voo; mergulhar mesmo com certa fobia e até a falar russo para ser aprovado pela Nasa depois de 12 tentativas. Sim, José Hernández deve ser considerado um verdadeiro exemplo e sua história de sucesso, uma fonte de inspiração para todos - esse é o propósito de "A Milhões de Quilômetros" e ele cumpre muito bem esse papel.
Ficou curioso? Então pode dar o play que você não vai se arrepender, mas traz a pipoca, ok?
Esse é mais um filme com uma história improvável, e por isso bastante inspiradora, que de fato merecia ser contada! Mas isso faz de "A Milhões de Quilômetros" inesquecível? Não, longe disso - no entanto, você pode ter a mais absoluta certeza que mesmo com um roteiro repleto de estereótipos, como entretenimento, ele é mais que ótimo! Veja, é como se misturássemos o ótimo e profundo drama francês "A Jornada" com o divertido e descomplicado "Flamin' Hot"! Baseado no livro "El Nino Que Alcanzo Las Estrellas", a diretora Alejandra Márquez Abella (do premiado "Os Céus do Norte sobre o Vazio") entrega uma biografia que derrapa pelo enorme recorte escolhido para contar uma história sobre a busca incansável pelo sonho americano, mas que por outro lado nos prende pela enorme conexão que desenvolvemos com o protagonista, o astronauta mexicano-americano, José Hernández.
Inspirado na história real de Hernández (Michael Peña), "A Million Miles Away" (no original) acompanha toda a jornada do jovem, e sua família, de uma vila rural em Michoacán, no México, para mais de 300 quilômetros acima da Terra na Estação Espacial Internacional. Com o apoio incondicional de sua esposa, muito foco e uma determinação fora do comum, o filme pontua passagens marcantes que levaram esse engenheiro brilhante ter a oportunidade de alcançar seu objetivo que, para muitos, parecia impossível. Confira o trailer:
Nascido em 13 de agosto de 1962, Hernández cresceu em uma família de trabalhadores rurais que se mudaram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor - o valor e a dificuldade que representam essa jornada rumo ao espaço é rapidamente contextualizada em uma ou duas cenas do prólogo, o suficiente para entendermos que estamos diante de uma receita que normalmente agrada a audiência: um protagonista humilde e perseverante que passa por todas as dificuldades e alcança o seu objetivo. A grande questão é que Abella escolhe um tom mais leve para contar uma história até certo ponto batida, só que em nenhum momento ela se apega ao drama profundo e introspectivo, nem quando a própria a situação pede, e isso é um golaço. Ela sabe que naturalmente o personagem vai nos conquistar e que em algum momento vamos passar a torcer por ele, sofrer com suas derrotas e nos emocionar com suas conquistas. De fato isso acontece - talvez tirando o sofrimento, esse nunca é tão impactante pela pressa de colocar tudo na tela em apenas 120 minutos. É como se faltasse profundidade, mas embarcando na proposta da diretora, isso não faz a menor falta.
O ponto alto do filme, sem dúvida, está na química entre Michael Peña e Rosa Salazar, que interpreta a esposa do astronauta, Adela. Eles se comunicam pelo olhar, mesmo sem a necessidade daqueles gatilhos emocionais que um filme desse gênero gosta de usar (e abusar) - não que não tenha, mas aqui a performance dos atores vai além, nos conquista sem muito esforço. É quase como e assistíssemos o filme com aquele leve sorriso querendo escapar. E por isso faço um elogio: Peña é absoluto, um ator que já demonstrou seu talento inúmeras vezes, capaz de usar de uma delicadeza e sensibilidade, sem falar no seu carisma que é mesmo impressionante. Apesar da estrutura narrativa atrapalhar essa construção de grandes emoções, Peña sabe por quais caminhos seguir sem soar piegas - o próprio Jesse Garcia fez muito bem isso em "Flamin' Hot".
Hernández enfrentou inúmeras dificuldades em sua juventude, incluindo barreiras linguísticas e financeiras. No entanto, sua paixão pela ciência e pela exploração espacial o impulsionou a superar esses obstáculos. Ele obteve um diploma em engenharia elétrica e posteriormente um mestrado em engenharia de computação, demonstrando seu compromisso com a educação e aprimoramento pessoal. Aprendeu a pilotar aviões, com mais de 800 horas de voo; mergulhar mesmo com certa fobia e até a falar russo para ser aprovado pela Nasa depois de 12 tentativas. Sim, José Hernández deve ser considerado um verdadeiro exemplo e sua história de sucesso, uma fonte de inspiração para todos - esse é o propósito de "A Milhões de Quilômetros" e ele cumpre muito bem esse papel.
Ficou curioso? Então pode dar o play que você não vai se arrepender, mas traz a pipoca, ok?
Se você ama cinema de verdade, você não vai precisar de mais que cinco minutos para se arrepiar, se emocionar e ficar com aquele leve sorriso no rosto assistindo o incrível "A Música de John Williams". Eu diria que o documentário da Disney+ é uma verdadeira viagem no tempo ao som das trilhas sonoras mais icônicas do cinema mundial, sempre pautada na simpatia e no carisma do gênio que é John Williams, ou simplesmente Johnny para os mais íntimos (como Steven Spielberg, por exemplo). Dirigido por Laurent Bouzereau, já conhecido por suas obras sobre o cinema e grandes artistas, esse documentário é uma celebração pela carreira de um dos compositores mais influentes e premiados de todos os tempos - é um mergulho profundo na obra e no processo criativo de Williams, destacando a grandiosidade de suas composições e seu impacto na cultura pop ao longo das gerações. Sério: "A Música de John Williams" não é apenas uma homenagem superficial, mas também uma análise interessante sobre a importância da música no cinema e como a conexão emocional que ela cria com o público transforma nossa relação com a narrativa.
"A Música de John Williams" oferece uma visão abrangente da carreira de Williams, abordando seus trabalhos mais memoráveis em filmes inesquecíveis como "Star Wars", "Tubarão", "E.T.", "Indiana Jones" e "Harry Potter". Bouzereau utiliza uma combinação de entrevistas com o próprio compositor, imagens de arquivo, depoimentos de diversos cineastas e músicos, incluindo Steven Spielberg e George Lucas, para traçar a trajetória de Williams e mostrar como seu talento moldou o cinema contemporâneo. Ao longo do documentário, vemos como Williams utiliza a música para dar vida a cenas e personagens, criando temas inesquecíveis que transcendem gerações e mexem com nossas emoções. Confira o trailer:
É muito envolvente a maneira como Bouzereau conduz o documentário - com muita sensibilidade e respeito, o diretor permite que o próprio Williams compartilhe suas reflexões e experiências pessoais de uma maneira muito honesta. O compositor fala sobre sua metodologia de trabalho, suas inspirações e os desafios de cada projeto, oferecendo para audiência uma compreensão profunda sobre como a música é essencial para a narrativa cinematográfica. As entrevistas revelam um artista minucioso e apaixonado, que vê a música como uma extensão emocional do que se passa na tela, que, aliás, é imediatamente chancelada por intervenções pontuais de Steven Spielberg. Repare como a amizade entre os dois é carregada de carinho, respeito, admiração e empatia. Bouzereau aproveita dessa energia contagiante e é muito feliz ao dar espaço para que algumas reflexões fluam de forma orgânica, tornando o documentário uma experiência tanto educativa quanto inspiradora.
A direção de Bouzereau, de fato, é cuidadosa ao destacar não apenas o impacto dos temas compostos por Williams, mas também como a inovação e a versatilidade acompanharam o compositor ao longo de seus trabalhos. A montagem intercala cenas de filmes com momentos curiosos de composição e de gravação das trilhas sonoras, oferecendo uma visão completa do processo criativo de Williams e da complexidade que é o seu trabalho - muitas dessas imagens de arquivo, inclusive, fazem parte do acervo pessoal de Spielberg. Outro ponto de destaque é a forma como o documentário explora a colaboração entre Williams e cineastas como o próprio Spielberg, Lucas, Abrams, Howard, entre outros - essas parcerias são apresentadas como uma das forças motrizes por trás de algumas das trilhas sonoras mais memoráveis do cinema.
É inegável que a trilha sonora, obviamente composta pelos temas icônicos de Williams, cria uma experiência única para quem assiste, pontuando, mas principalmente, relembrando a grandiosidade de suas composições - não se surpreenda se suas memórias mais íntimas surgirem e com ela uma emoção quase incontrolável. Esse é o poder do cinema, esse é o poder de uma trilha sonora marcante. Mesmo que o documentário ofereça insights sobre como a música de cinema evoluiu ao longo dos anos e como Williams se adaptou a diferentes eras e estilos, sem perder a essência de sua assinatura musical, "Music by John Williams" (no original) ganha valor histórico por retratar seu cuidado ao usar orquestras completas em trilhas sonoras épicas até em seus projetos mais recentes. Nesse aspecto, o documentário é mais que uma aula sobre a evolução do cinema e a importância da música para o impacto emocional de uma narrativa visual, na minha opinião, é um recorte preciso de um legado único que não se apagará por muitas gerações!
E antes do play, um agradecimento: obrigado John Williams! Imperdível!
Se você ama cinema de verdade, você não vai precisar de mais que cinco minutos para se arrepiar, se emocionar e ficar com aquele leve sorriso no rosto assistindo o incrível "A Música de John Williams". Eu diria que o documentário da Disney+ é uma verdadeira viagem no tempo ao som das trilhas sonoras mais icônicas do cinema mundial, sempre pautada na simpatia e no carisma do gênio que é John Williams, ou simplesmente Johnny para os mais íntimos (como Steven Spielberg, por exemplo). Dirigido por Laurent Bouzereau, já conhecido por suas obras sobre o cinema e grandes artistas, esse documentário é uma celebração pela carreira de um dos compositores mais influentes e premiados de todos os tempos - é um mergulho profundo na obra e no processo criativo de Williams, destacando a grandiosidade de suas composições e seu impacto na cultura pop ao longo das gerações. Sério: "A Música de John Williams" não é apenas uma homenagem superficial, mas também uma análise interessante sobre a importância da música no cinema e como a conexão emocional que ela cria com o público transforma nossa relação com a narrativa.
"A Música de John Williams" oferece uma visão abrangente da carreira de Williams, abordando seus trabalhos mais memoráveis em filmes inesquecíveis como "Star Wars", "Tubarão", "E.T.", "Indiana Jones" e "Harry Potter". Bouzereau utiliza uma combinação de entrevistas com o próprio compositor, imagens de arquivo, depoimentos de diversos cineastas e músicos, incluindo Steven Spielberg e George Lucas, para traçar a trajetória de Williams e mostrar como seu talento moldou o cinema contemporâneo. Ao longo do documentário, vemos como Williams utiliza a música para dar vida a cenas e personagens, criando temas inesquecíveis que transcendem gerações e mexem com nossas emoções. Confira o trailer:
É muito envolvente a maneira como Bouzereau conduz o documentário - com muita sensibilidade e respeito, o diretor permite que o próprio Williams compartilhe suas reflexões e experiências pessoais de uma maneira muito honesta. O compositor fala sobre sua metodologia de trabalho, suas inspirações e os desafios de cada projeto, oferecendo para audiência uma compreensão profunda sobre como a música é essencial para a narrativa cinematográfica. As entrevistas revelam um artista minucioso e apaixonado, que vê a música como uma extensão emocional do que se passa na tela, que, aliás, é imediatamente chancelada por intervenções pontuais de Steven Spielberg. Repare como a amizade entre os dois é carregada de carinho, respeito, admiração e empatia. Bouzereau aproveita dessa energia contagiante e é muito feliz ao dar espaço para que algumas reflexões fluam de forma orgânica, tornando o documentário uma experiência tanto educativa quanto inspiradora.
A direção de Bouzereau, de fato, é cuidadosa ao destacar não apenas o impacto dos temas compostos por Williams, mas também como a inovação e a versatilidade acompanharam o compositor ao longo de seus trabalhos. A montagem intercala cenas de filmes com momentos curiosos de composição e de gravação das trilhas sonoras, oferecendo uma visão completa do processo criativo de Williams e da complexidade que é o seu trabalho - muitas dessas imagens de arquivo, inclusive, fazem parte do acervo pessoal de Spielberg. Outro ponto de destaque é a forma como o documentário explora a colaboração entre Williams e cineastas como o próprio Spielberg, Lucas, Abrams, Howard, entre outros - essas parcerias são apresentadas como uma das forças motrizes por trás de algumas das trilhas sonoras mais memoráveis do cinema.
É inegável que a trilha sonora, obviamente composta pelos temas icônicos de Williams, cria uma experiência única para quem assiste, pontuando, mas principalmente, relembrando a grandiosidade de suas composições - não se surpreenda se suas memórias mais íntimas surgirem e com ela uma emoção quase incontrolável. Esse é o poder do cinema, esse é o poder de uma trilha sonora marcante. Mesmo que o documentário ofereça insights sobre como a música de cinema evoluiu ao longo dos anos e como Williams se adaptou a diferentes eras e estilos, sem perder a essência de sua assinatura musical, "Music by John Williams" (no original) ganha valor histórico por retratar seu cuidado ao usar orquestras completas em trilhas sonoras épicas até em seus projetos mais recentes. Nesse aspecto, o documentário é mais que uma aula sobre a evolução do cinema e a importância da música para o impacto emocional de uma narrativa visual, na minha opinião, é um recorte preciso de um legado único que não se apagará por muitas gerações!
E antes do play, um agradecimento: obrigado John Williams! Imperdível!
Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").
Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):
Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!
Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.
"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!
Vale muito o seu play!
Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").
Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):
Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!
Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.
"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!
Vale muito o seu play!
"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!
Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:
Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.
Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).
Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.
Vale seu play!
"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!
Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:
Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.
Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).
Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.
Vale seu play!
"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.
O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).
O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!
É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!
"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.
O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).
O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!
É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!
Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.
Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:
Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.
"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church!
Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.
Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!
PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.
Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.
Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:
Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.
"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church!
Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.
Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!
PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.
Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").
A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:
Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.
Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!
"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!
Vale seu play!
Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").
A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:
Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.
Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!
"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!
Vale seu play!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário!
Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:
Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.
Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência.
"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!
Vale muito o seu play!
"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário!
Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:
Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.
Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência.
"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!
Vale muito o seu play!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
O documentário do Star+ foi até vendido com ares de drama e lavação de roupa suja, mas a grande verdade é que "A Super Fantástica História do Balão" é muito mais uma celebração, um recorte de uma época que praticamente marcou uma geração, e, principalmente, é uma análise sobre o sucesso pela perspectiva de cada um dos seus quatro integrantes. Se em "Sandy & Junior: A História" somos transportados para uma jornada de 30 anos de carreira da maior referência na música jovem que o Brasil já teve, aqui a minissérie de três episódios mergulha nos, inacreditáveis 3 anos de sucesso fenomenal do maior grupo infantil da nossa história. E já adianto, se você passou dos 40, você vai se emocionar!
Em "A Super Fantástica História do Balão", o quarteto Simony, Jairzinho, Tob e Mike se reunem pela primeira vez para dar suas versões sobre o começo, o auge e o fim do fenômeno infantil dos anos 80, o Balão Mágico. Ilustrados por depoimentos de pessoas que fizeram parte do projeto e por inéditas imagens de arquivo, os quatro relatam suas experiências pessoais e profissionais a partir do sucesso meteórico do grupo, ainda quando eram crianças. Confira o trailer:
Com direção de Tatiana Issa, que comandou o filme “Pacto Brutal: o assassinato de Daniela Perez” e roteiro de Fernando Ceylão (“Zorra Total”) e de Beatriz Monteiro (“Caso Evandro”), a minissérie sabe equilibrar perfeitamente dois cenários: um com os depoimentos dos quatro integrantes juntos, em uma espécie de reencontro emocional; e outro com uma versão tão honesta quanto, de entrevistas individuais com cada um deles. Obviamente que os assuntos mais espinhosos são discutidos individualmente e mesmo assim fica longe do que a plataforma insistiu em vender como polêmica desde o anúncio do projeto. Outro ponto a ser observado, diz respeito aos depoimentos dos artistas, familiares e executivos do entretenimento que participaram da construção do Balão Mágico - são eles que pontuam os dramas e os pontos mais sensíveis dos bastidores, mas já te adianto: nada que possa nos deixar de cabelo em pé ou nos provocar alguma emoção mais acalorada. O fato é que o tom da narrativa é leve, nostálgica, agradável e até emocionante; nunca tensa.
O grupo era claramente um produto da indústria fonográfica dos anos 80, mais precisamente da CBS (que depois veio ser vendida para a Som Livre). Tudo, absolutamente tudo, foi moldado para atender aos interesses comerciais de uma fatia do mercado de entretenimento praticamente inexistente na época. O grande ponto, e aí "A Super Fantástica História do Balão" talvez não tenha a força dramática que outros documentários como "Showbiz Kids" (por exemplo), é que, mesmo com esse impacto cultural pioneiro do grupo infantil, a vida dos integrantes pós-sucesso não é muito bem explorada - o plot até existe, claro, mas me pareceu que poderia ter sido melhor desenvolvido. Essa abordagem mais, digamos, controversa, talvez trouxesse um pouco mais de conflito ao roteiro, nos foi vendido isso, mas ela não está ali. No entanto existe uma honestidade tão marcante em cada um dos ex-integrantes que até esse vacilo narrativo, parece não fazer tanta falta. Aliás aqui é impossível não destacar a postura do Mike em expor toda sua história e sua relação com seu pai, o famoso assaltante Ronald Biggs (falecido há 10 anos) ou de Tob nos contando sobre seus medos gerados pela necessidade de acertar sempre.
"A Super Fantástica História do Balão" é daquelas para assistir em uma sentada - muito bem produzida e com uma dinâmica narrativa das mais competentes, a minissérie merece sua atenção., principalmente se você for dessa época! Se sim, é bem possível que você se divirta e se emocione com as histórias e as lembranças nostálgicas que inevitavelmente vão te transportar para a sua infância - nisso o documentário cumpre seu papel. Agora, para ganhar um 10, faltou cutucar algumas feridas com mais vontade - tanto nas questões de bastidores envolvendo a família da Simony quanto na relação da própria Simony com a Mara Maravilha, são exemplos de alguns espinhos que ainda não parecem prontos para serem eliminados. Uma pena!
Para você que também cantou "A Galinha Magricela" o play é quase uma obrigação!
O documentário do Star+ foi até vendido com ares de drama e lavação de roupa suja, mas a grande verdade é que "A Super Fantástica História do Balão" é muito mais uma celebração, um recorte de uma época que praticamente marcou uma geração, e, principalmente, é uma análise sobre o sucesso pela perspectiva de cada um dos seus quatro integrantes. Se em "Sandy & Junior: A História" somos transportados para uma jornada de 30 anos de carreira da maior referência na música jovem que o Brasil já teve, aqui a minissérie de três episódios mergulha nos, inacreditáveis 3 anos de sucesso fenomenal do maior grupo infantil da nossa história. E já adianto, se você passou dos 40, você vai se emocionar!
Em "A Super Fantástica História do Balão", o quarteto Simony, Jairzinho, Tob e Mike se reunem pela primeira vez para dar suas versões sobre o começo, o auge e o fim do fenômeno infantil dos anos 80, o Balão Mágico. Ilustrados por depoimentos de pessoas que fizeram parte do projeto e por inéditas imagens de arquivo, os quatro relatam suas experiências pessoais e profissionais a partir do sucesso meteórico do grupo, ainda quando eram crianças. Confira o trailer:
Com direção de Tatiana Issa, que comandou o filme “Pacto Brutal: o assassinato de Daniela Perez” e roteiro de Fernando Ceylão (“Zorra Total”) e de Beatriz Monteiro (“Caso Evandro”), a minissérie sabe equilibrar perfeitamente dois cenários: um com os depoimentos dos quatro integrantes juntos, em uma espécie de reencontro emocional; e outro com uma versão tão honesta quanto, de entrevistas individuais com cada um deles. Obviamente que os assuntos mais espinhosos são discutidos individualmente e mesmo assim fica longe do que a plataforma insistiu em vender como polêmica desde o anúncio do projeto. Outro ponto a ser observado, diz respeito aos depoimentos dos artistas, familiares e executivos do entretenimento que participaram da construção do Balão Mágico - são eles que pontuam os dramas e os pontos mais sensíveis dos bastidores, mas já te adianto: nada que possa nos deixar de cabelo em pé ou nos provocar alguma emoção mais acalorada. O fato é que o tom da narrativa é leve, nostálgica, agradável e até emocionante; nunca tensa.
O grupo era claramente um produto da indústria fonográfica dos anos 80, mais precisamente da CBS (que depois veio ser vendida para a Som Livre). Tudo, absolutamente tudo, foi moldado para atender aos interesses comerciais de uma fatia do mercado de entretenimento praticamente inexistente na época. O grande ponto, e aí "A Super Fantástica História do Balão" talvez não tenha a força dramática que outros documentários como "Showbiz Kids" (por exemplo), é que, mesmo com esse impacto cultural pioneiro do grupo infantil, a vida dos integrantes pós-sucesso não é muito bem explorada - o plot até existe, claro, mas me pareceu que poderia ter sido melhor desenvolvido. Essa abordagem mais, digamos, controversa, talvez trouxesse um pouco mais de conflito ao roteiro, nos foi vendido isso, mas ela não está ali. No entanto existe uma honestidade tão marcante em cada um dos ex-integrantes que até esse vacilo narrativo, parece não fazer tanta falta. Aliás aqui é impossível não destacar a postura do Mike em expor toda sua história e sua relação com seu pai, o famoso assaltante Ronald Biggs (falecido há 10 anos) ou de Tob nos contando sobre seus medos gerados pela necessidade de acertar sempre.
"A Super Fantástica História do Balão" é daquelas para assistir em uma sentada - muito bem produzida e com uma dinâmica narrativa das mais competentes, a minissérie merece sua atenção., principalmente se você for dessa época! Se sim, é bem possível que você se divirta e se emocione com as histórias e as lembranças nostálgicas que inevitavelmente vão te transportar para a sua infância - nisso o documentário cumpre seu papel. Agora, para ganhar um 10, faltou cutucar algumas feridas com mais vontade - tanto nas questões de bastidores envolvendo a família da Simony quanto na relação da própria Simony com a Mara Maravilha, são exemplos de alguns espinhos que ainda não parecem prontos para serem eliminados. Uma pena!
Para você que também cantou "A Galinha Magricela" o play é quase uma obrigação!