Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.
“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento de Kim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.
Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.
Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!
Vale seu play!
Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.
“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento de Kim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.
Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.
Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!
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