É preciso olhar para o sucesso e entender como algumas referências, de fato inspiradoras, podem nos mover para frente. "Como Ser Warren Buffett" nem de longe será o melhor documentário biográfico que você vai assistir, muito menos menos será o mais dinâmico ou inovador, mas nem por isso ele deixa de ser imperdível. Dirigido pelo Peter W. Kunhardt (de "Living with Lincoln", também da HBO), aqui temos um recorte biográfico mais tradicional, pelo olhar do próprio protagonista, o que naturalmente acaba nos oferecendo uma análise profunda, mais pessoal e íntima, sobre o "Oráculo de Omaha" - como ficou conhecido um dos homens mais ricos e influentes do mundo. Saiba que esse documentário, no mínimo, te fará repensar sobre seus conceitos de sucesso e pode ter certeza que, de alguma forma, te motivará a perseguir seus sonhos sob uma nova perspectiva.
Becoming Warren Buffett" (no original) nos leva a uma jornada pela vida de Warren Buffett, desde sua infância em Nebraska até o topo do mundo dos investimentos. Através de entrevistas exclusivas com o próprio Buffett, alguns familiares, amigos e colegas de trabalho, o filme procura analisar os métodos do investidor, desvendar os segredos do seu sucesso profissional e ainda entender como sua paixão por números, a disciplina inabalável e o foco permanente, transformaram sua vida ao longo dos anos. Confira o trailer (em inglês):
Com uma narrativa mais clássica, basicamente focada nos depoimentos cativantes de Buffett e de pessoas muito próximas a ele, eu diria que a experiência de assistir "Como Ser Warren Buffett" é algo mais educacional, inspiracional. A direção de Kunhardt é precisa e elegante ao dar esse tom ao documentário, utilizando recursos como imagens de arquivo, animações e gráficos para ilustrar os conceitos complexos do protagonista de uma forma clara e acessível para todos. Veja, o filme não é um manual definitivo de como ficar rico, muito pelo contrário, o objetivo aqui é desmistificar Buffett sem precisar apelar para aquele sensacionalismo barato de outros tempos - embora a passagem que conta sobre a doença de sua ex-mulher soe mais como gatilho para as decisões que ele veio a tomar em seguida, do que propriamente como um evento transformador de sua vida.
Sem dúvida que um dos pontos fortes do documentário é a forma como o roteiro desmistifica o mundo dos investimentos, tornando-o palpável para o público em geral. Através da história de Buffett, aprendemos sobre os princípios básicos de sua filosofia de investimento, a importância da pesquisa e da análise de dados e, claro, o valor da paciência e da disciplina em todo esse processo - Buffet chega brincar que os livros que ele leu estão disponíveis para todos, ou seja, não se trata apenas de adquirir conhecimento, é preciso colocar em prática. Mesmo com uma certa atmosfera "chapa branca" demais, o filme também nos convida a refletir sobre valores importantes para Buffet como ética, filantropia e uma busca frequente por uma vida significativa, especialmente próxima a quem amamos - essa abordagem se dá muito mais por uma provocação para se encontrar um equilíbrio, do que propriamente para revelar a fórmula mágica que ele seguiu e funcionou, afinal até Buffet tem seus fantasmas.
"Como Ser Warren Buffett" é uma história sobre a paixão, a perseverança e uma crença inabalável nos próprios sonhos. É um filme que nos inspira a buscar o sucesso em nossos próprios termos, mas pelo exemplo (vivo). Seja no universo do investimento ou do empreendedorismo, eu afirmo que assistir 90 minutos de Warren Buffett é um privilégio e um incentivo para todos aqueles que desejam aprender com um dos maiores gênios da nossa época.
Vale seu play!
É preciso olhar para o sucesso e entender como algumas referências, de fato inspiradoras, podem nos mover para frente. "Como Ser Warren Buffett" nem de longe será o melhor documentário biográfico que você vai assistir, muito menos menos será o mais dinâmico ou inovador, mas nem por isso ele deixa de ser imperdível. Dirigido pelo Peter W. Kunhardt (de "Living with Lincoln", também da HBO), aqui temos um recorte biográfico mais tradicional, pelo olhar do próprio protagonista, o que naturalmente acaba nos oferecendo uma análise profunda, mais pessoal e íntima, sobre o "Oráculo de Omaha" - como ficou conhecido um dos homens mais ricos e influentes do mundo. Saiba que esse documentário, no mínimo, te fará repensar sobre seus conceitos de sucesso e pode ter certeza que, de alguma forma, te motivará a perseguir seus sonhos sob uma nova perspectiva.
Becoming Warren Buffett" (no original) nos leva a uma jornada pela vida de Warren Buffett, desde sua infância em Nebraska até o topo do mundo dos investimentos. Através de entrevistas exclusivas com o próprio Buffett, alguns familiares, amigos e colegas de trabalho, o filme procura analisar os métodos do investidor, desvendar os segredos do seu sucesso profissional e ainda entender como sua paixão por números, a disciplina inabalável e o foco permanente, transformaram sua vida ao longo dos anos. Confira o trailer (em inglês):
Com uma narrativa mais clássica, basicamente focada nos depoimentos cativantes de Buffett e de pessoas muito próximas a ele, eu diria que a experiência de assistir "Como Ser Warren Buffett" é algo mais educacional, inspiracional. A direção de Kunhardt é precisa e elegante ao dar esse tom ao documentário, utilizando recursos como imagens de arquivo, animações e gráficos para ilustrar os conceitos complexos do protagonista de uma forma clara e acessível para todos. Veja, o filme não é um manual definitivo de como ficar rico, muito pelo contrário, o objetivo aqui é desmistificar Buffett sem precisar apelar para aquele sensacionalismo barato de outros tempos - embora a passagem que conta sobre a doença de sua ex-mulher soe mais como gatilho para as decisões que ele veio a tomar em seguida, do que propriamente como um evento transformador de sua vida.
Sem dúvida que um dos pontos fortes do documentário é a forma como o roteiro desmistifica o mundo dos investimentos, tornando-o palpável para o público em geral. Através da história de Buffett, aprendemos sobre os princípios básicos de sua filosofia de investimento, a importância da pesquisa e da análise de dados e, claro, o valor da paciência e da disciplina em todo esse processo - Buffet chega brincar que os livros que ele leu estão disponíveis para todos, ou seja, não se trata apenas de adquirir conhecimento, é preciso colocar em prática. Mesmo com uma certa atmosfera "chapa branca" demais, o filme também nos convida a refletir sobre valores importantes para Buffet como ética, filantropia e uma busca frequente por uma vida significativa, especialmente próxima a quem amamos - essa abordagem se dá muito mais por uma provocação para se encontrar um equilíbrio, do que propriamente para revelar a fórmula mágica que ele seguiu e funcionou, afinal até Buffet tem seus fantasmas.
"Como Ser Warren Buffett" é uma história sobre a paixão, a perseverança e uma crença inabalável nos próprios sonhos. É um filme que nos inspira a buscar o sucesso em nossos próprios termos, mas pelo exemplo (vivo). Seja no universo do investimento ou do empreendedorismo, eu afirmo que assistir 90 minutos de Warren Buffett é um privilégio e um incentivo para todos aqueles que desejam aprender com um dos maiores gênios da nossa época.
Vale seu play!
Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida.
O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:
Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.
O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).
"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!
Vale muito a pena!
Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida.
O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:
Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.
O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).
"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!
Vale muito a pena!
Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?
Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!
Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido! O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...
É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!
A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80...
Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?
Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!
Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido! O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...
É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!
A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80...
"Creed 3" é essencialmente um filme de boxe, com as forças e as franquezas que o fã desse subgênero de ação já está acostumado. No entanto, especificamente nesse capitulo da franquia, o filme sofre com a imaturidade de Michael B. Jordan na direção e com o roteiro pouco inspirado (e certamente o menos consistente) do Ryan Coogler, que, inclusive, escreveu os anteriores e me parece que aqui apenas supervisionou o trabalho de Keenan Coogler (de "Space Jam 2") e de Zach Baylin (de "King Richard"). Ok, mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas é preciso dizer que ao dar o play, você vai encontrar "mais do mesmo"!
Depois de dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar até que um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian (Jonathan Majors), ressurge após ficar 18 anos na prisão. Ansioso para provar que merece sua chance no ringue, Damian pede a ajuda de Creed. Apesar de apoio do amigo, Damian parece não estar nada satisfeito com a ideia de que Creed tenha "tomado seu lugar" e é aí que os dois velhos amigos resolvem lutar para enfrentar os fantasmas do passado e assim encontrar um futuro mais digno para ambos. Confira o trailer:
Como já era de se esperar, as sequências de luta são o ponto alto de "Creed 3" - coreografadas com maestria e filmadas de forma bastante imersiva pelo diretor de fotografia Kramer Morgenthau. Cada soco, cada movimento é capturado de uma maneira visceral, fazendo com que a audiência, de fato, se sinta parte do ringue. A energia e a intensidade dessas cenas são impressionantes e é o que mantém nossa adrenalina em alta ao longo da trama, no entanto essas cenas são pontuais e o drama dos personagens em si, parece não ter a mesma "alma" dos outros dois filmes (especialmente o primeiro pelo tom mais independente da direção do próprio Coogler ou até do segundo graças ao conceito mais nostálgico da narrativa).
É inegável que o roteiro até se esforça para explorar questões sociais relevantes, ao abordar assuntos como o impacto da fama e do sucesso, a importância de encontrar sua própria voz e até a luta para superar o passado em pró do futuro - eu diria até que esses elementos adicionam certa profundidade à história, mas falta desenvolvimento. A relação do próprio Adonis com Damian, o impacto desse convívio com o que ambos se tornaram e as conexões entre a juventude pobre com as questões raciais e de preconceito, parecem pouco exploradas e deixam uma certa sensação de frustração quando chegamos no terceiro ato.
A trilha sonora produzida pelo selo Dreamville com músicas do rapper J. Cole é um espetáculo à parte - a cada filme, uma identidade, um verdadeiro show. Repare como as canções se encaixam quando combinadas com os temas de perseverança e dedicação que são exploradas pelo roteiro. Esse impacto emocional continua sendo um trunfo da franquia e faz com que “Creed 3” se mantenha interessante, divertido e até alinhado com a essência de "Rocky", mas como amante de filmes de boxe, eu abriria os olhos para não cometer as mesmas falhas que o grande Stallone cometeu por não aceitar que existe uma hora de finalizar um ciclo - imagino que o de "Creed" está chegando.
Para você, fã, vale o play!
"Creed 3" é essencialmente um filme de boxe, com as forças e as franquezas que o fã desse subgênero de ação já está acostumado. No entanto, especificamente nesse capitulo da franquia, o filme sofre com a imaturidade de Michael B. Jordan na direção e com o roteiro pouco inspirado (e certamente o menos consistente) do Ryan Coogler, que, inclusive, escreveu os anteriores e me parece que aqui apenas supervisionou o trabalho de Keenan Coogler (de "Space Jam 2") e de Zach Baylin (de "King Richard"). Ok, mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas é preciso dizer que ao dar o play, você vai encontrar "mais do mesmo"!
Depois de dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar até que um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian (Jonathan Majors), ressurge após ficar 18 anos na prisão. Ansioso para provar que merece sua chance no ringue, Damian pede a ajuda de Creed. Apesar de apoio do amigo, Damian parece não estar nada satisfeito com a ideia de que Creed tenha "tomado seu lugar" e é aí que os dois velhos amigos resolvem lutar para enfrentar os fantasmas do passado e assim encontrar um futuro mais digno para ambos. Confira o trailer:
Como já era de se esperar, as sequências de luta são o ponto alto de "Creed 3" - coreografadas com maestria e filmadas de forma bastante imersiva pelo diretor de fotografia Kramer Morgenthau. Cada soco, cada movimento é capturado de uma maneira visceral, fazendo com que a audiência, de fato, se sinta parte do ringue. A energia e a intensidade dessas cenas são impressionantes e é o que mantém nossa adrenalina em alta ao longo da trama, no entanto essas cenas são pontuais e o drama dos personagens em si, parece não ter a mesma "alma" dos outros dois filmes (especialmente o primeiro pelo tom mais independente da direção do próprio Coogler ou até do segundo graças ao conceito mais nostálgico da narrativa).
É inegável que o roteiro até se esforça para explorar questões sociais relevantes, ao abordar assuntos como o impacto da fama e do sucesso, a importância de encontrar sua própria voz e até a luta para superar o passado em pró do futuro - eu diria até que esses elementos adicionam certa profundidade à história, mas falta desenvolvimento. A relação do próprio Adonis com Damian, o impacto desse convívio com o que ambos se tornaram e as conexões entre a juventude pobre com as questões raciais e de preconceito, parecem pouco exploradas e deixam uma certa sensação de frustração quando chegamos no terceiro ato.
A trilha sonora produzida pelo selo Dreamville com músicas do rapper J. Cole é um espetáculo à parte - a cada filme, uma identidade, um verdadeiro show. Repare como as canções se encaixam quando combinadas com os temas de perseverança e dedicação que são exploradas pelo roteiro. Esse impacto emocional continua sendo um trunfo da franquia e faz com que “Creed 3” se mantenha interessante, divertido e até alinhado com a essência de "Rocky", mas como amante de filmes de boxe, eu abriria os olhos para não cometer as mesmas falhas que o grande Stallone cometeu por não aceitar que existe uma hora de finalizar um ciclo - imagino que o de "Creed" está chegando.
Para você, fã, vale o play!
Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!
Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:
Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais do mesmo"!
Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!
Logo no inicio, mesmo nos causando uma certa estranheza, já percebemos que a quebra da linearidade da narrativa, vai nos criar aquela sensação incômoda do "o que aconteceu?" e esse mérito precisa ser valorizado. A questão é que o roteiro tem elementos mais críticos e que não precisava dessa dinâmica - o que eu quero dizer é que o drama existencial da mãe, Alícia, poderia ser um caminho muito mais eficiente do que o mistério investigativo escolhido. Repare: são dois crimes, um envolvendo o filho adulto, mimado e problemático do casal rico e o outro, uma empregada doméstica semi-analfabeta, pobre e introspectiva - a questão chave da trama é que a resposta da família à cada um dos "criminosos" é completamente diferente e tendenciosa! Ao discutir assuntos como: aborto, abuso sexual, drogas, alcoolismo, abandono, violência contra a mulher, racismo, preconceito, "Crimes de Família" cutuca feridas profundas da sociedade moderna, mas acaba transitando na superficialidade de cada tema por se preocupar muito mais com os crimes em si do que com os motivos e reflexos deles.
Cecília Roth poderia ser uma espécie de Isabelle Huppert de "Elle", não pela similaridade das personagens, mas pela profundidade das discussões e das decisões que ambas precisam tomar perante sua história, mas, mais uma vez, transita na inconstância da escolha do gênero. Quando provocada a mergulhar nas dores mais intimas, Roth dá um show: quando conversa com o marido sobre ajudar mais uma vez o filho problemático ou quando precisa tomar uma decisão que vai completamente contra o que acreditava ser o melhor para sua família, são dois ótimos exemplos. Outro destaque do elenco é a empregada Gladys, interpretada pela atriz Yanina Ávila - essa sim me impressionou durante os quase 100 minutos de filme. Benjamín Amadeo, o filho Daniel, é pouco aproveitado, mas o depoimento que faz no seu julgamento também merece reconhecimento!
Outro fator que o roteiro apresenta, mas que é pouco desenvolvido, diz respeito as várias formas de lidar com maternidade: se com Alícia vemos a incondicionalidade ou um predatório amor de mãe, até irracional, com Gladys temos um lado mais sombrio, marcado pelo passado e completamente inseguro, despreparado. Já a ex-esposa de Daniel, Marcela (Sofía Gala), encontramos a mulher em transformação, que encontra força para lutar e buscar uma vida melhor - tudo isso com o reflexo da convivência social entre filhos, parceiros e pais. Mais uma vez, quando Sebastián Schindel foca na ação e não na discussão entre essas diferenças, perdemos uma ótima oportunidade de ir um pouco além! Uma pena!
Fiz questão de exaltar tantos pontos positivos até para justificar o inicio dessa análise: "Crimes de Família" tem uma excelente história nas mãos e que vai tocar na alma feminina de uma forma mais cruel, mesmo com todas essas escolhas narrativas menos sensíveis. Poderia ser, de fato, um grande filme, mas acabou se tornando um bom entretenimento, com algum mistério, nada de suspense (como foi vendido pela Netflix) e com um drama mais forte do que será percebido!
Vale o play, mas não será uma unanimidade!
Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!
Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:
Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais do mesmo"!
Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!
Logo no inicio, mesmo nos causando uma certa estranheza, já percebemos que a quebra da linearidade da narrativa, vai nos criar aquela sensação incômoda do "o que aconteceu?" e esse mérito precisa ser valorizado. A questão é que o roteiro tem elementos mais críticos e que não precisava dessa dinâmica - o que eu quero dizer é que o drama existencial da mãe, Alícia, poderia ser um caminho muito mais eficiente do que o mistério investigativo escolhido. Repare: são dois crimes, um envolvendo o filho adulto, mimado e problemático do casal rico e o outro, uma empregada doméstica semi-analfabeta, pobre e introspectiva - a questão chave da trama é que a resposta da família à cada um dos "criminosos" é completamente diferente e tendenciosa! Ao discutir assuntos como: aborto, abuso sexual, drogas, alcoolismo, abandono, violência contra a mulher, racismo, preconceito, "Crimes de Família" cutuca feridas profundas da sociedade moderna, mas acaba transitando na superficialidade de cada tema por se preocupar muito mais com os crimes em si do que com os motivos e reflexos deles.
Cecília Roth poderia ser uma espécie de Isabelle Huppert de "Elle", não pela similaridade das personagens, mas pela profundidade das discussões e das decisões que ambas precisam tomar perante sua história, mas, mais uma vez, transita na inconstância da escolha do gênero. Quando provocada a mergulhar nas dores mais intimas, Roth dá um show: quando conversa com o marido sobre ajudar mais uma vez o filho problemático ou quando precisa tomar uma decisão que vai completamente contra o que acreditava ser o melhor para sua família, são dois ótimos exemplos. Outro destaque do elenco é a empregada Gladys, interpretada pela atriz Yanina Ávila - essa sim me impressionou durante os quase 100 minutos de filme. Benjamín Amadeo, o filho Daniel, é pouco aproveitado, mas o depoimento que faz no seu julgamento também merece reconhecimento!
Outro fator que o roteiro apresenta, mas que é pouco desenvolvido, diz respeito as várias formas de lidar com maternidade: se com Alícia vemos a incondicionalidade ou um predatório amor de mãe, até irracional, com Gladys temos um lado mais sombrio, marcado pelo passado e completamente inseguro, despreparado. Já a ex-esposa de Daniel, Marcela (Sofía Gala), encontramos a mulher em transformação, que encontra força para lutar e buscar uma vida melhor - tudo isso com o reflexo da convivência social entre filhos, parceiros e pais. Mais uma vez, quando Sebastián Schindel foca na ação e não na discussão entre essas diferenças, perdemos uma ótima oportunidade de ir um pouco além! Uma pena!
Fiz questão de exaltar tantos pontos positivos até para justificar o inicio dessa análise: "Crimes de Família" tem uma excelente história nas mãos e que vai tocar na alma feminina de uma forma mais cruel, mesmo com todas essas escolhas narrativas menos sensíveis. Poderia ser, de fato, um grande filme, mas acabou se tornando um bom entretenimento, com algum mistério, nada de suspense (como foi vendido pela Netflix) e com um drama mais forte do que será percebido!
Vale o play, mas não será uma unanimidade!
Você não vai precisar mais do que alguns minutos para sentir seu estômago revirar com as histórias desse imperdível documentário da Netflix, "Criptofraude" - eu diria, uma mistura de "Shiny Flakes" com "O Escândalo da Wirecard" e, claro, com aquele toque Billy McFarland de "Fyre Festival". Com um roteiro impecável e uma narrativa envolvente, o filme dirigido pelo excelente Bryan Storkel (de um dos episódios de "Untold") não só joga luz sobre as falcatruas do infame Ray Trapani e de seus sócios na Centra Tech, como também oferece uma análise profunda de uma geração que acredita poder ganhar muito dinheiro, sem muito esforço - nesse caso a partir das entranhas mais obscuras do mundo das criptomoedas. Storkel, sem dúvidas, entrega uma obra que não apenas informa, mas também prende a audiência com uma história real absurda de um pseudo-empreendedorismo pautado na ganância, na irresponsabilidade, na mentira e na ironia de acreditar que sim, o crime compensa (até nos EUA)!
"Criptofraude" basicamente desvenda os bastidores da Centra Tech, uma startup que prometia revolucionar o mercado de criptomoedas transformando dinheiro digital em moeda física para se usar onde bem entender, na hora que o usuário quisesse. O que à primeira vista parecia uma promissora ideia, na verdade era a forma como Ray Trapani e Sam 'Sorbee' Sharma arquitetavam uma fraude que abalou o mundo financeiro e fez muita gente perder muito dinheiro. O documentário expõe não só as artimanhas de Trapani como faz um recorte profundo da sua personalidade e da maneira como ele enxerga a vida, revelando não só sua rede de cúmplices, mas também sua incrível façanha de iludir investidores, celebridades e clientes do mundo inteiro. Confira o trailer (em inglês):
"Criptofraude" se destaca não apenas pelo seu tema intrigante, atual, mas também por uma execução técnica e artística primorosa - tudo no documentário funciona tão harmoniosamente, dos irritantes depoimentos do próprio Trapani até as reconstituições (sempre desfocadas) que nos dão a exata noção do que foi a Centra Tech e de como toda aquela fraude foi pensada por seus fundadores. O roteiro do Jonathan Ignatius Green mergulha nas sombras do mundo digital, criando uma atmosfera que reflete a complexidade moral da história, essencialmente personificando aquele mindset de que a vida é uma eterna festa.
A direção de Storkel sabe navegar entre a gramática documental e da ficção - isso mantém o ritmo e o interesse em alta. Sua proposta visual é agradável, como se ler uma revista cheia de cores marcantes fosse mais prazeiroso que ler um melancólico jornal preto e branco e é nesse sentido que destaco a montagem precisa de Weston Currie: envolvente, divertida e de muito bom gosto. Veja, todos esses elementos juntos só potencializam a capacidade do documentário de desvendar a mente realmente criminosa de um jovem Trapani, oferecendo uma análise psicológica das mais interessantes, e da forma como ele enxergava oportunidades e transformava em negócios. Acho até que o filme não apenas acusa ele, mas também explora suas motivações e as nuances éticas por trás das suas ações sempre com um olhar perspicaz e muitas vezes provocador, mesmo soando inocente em várias passagens.
O fato é que "Criptofraude" adiciona camadas de profundidade emocionais à trama, tornando-a mais do que uma simples exposição de fraudes para se tornar um objeto de reflexão sobre essa era das redes sociais e da busca pela vida perfeita sem esforço. Saíba que você será envolvido em uma experiência única que combina uma narrativa fascinante com personagens odiáveis. Então se você procura uma história, ou melhor, uma jornada intrigante sobre os bastidores do empreendedorismo mentiroso em um universo digital que representa 78% de fraudes, "Criptofraude" é a escolha certa. Pode ir para o play!
Você não vai precisar mais do que alguns minutos para sentir seu estômago revirar com as histórias desse imperdível documentário da Netflix, "Criptofraude" - eu diria, uma mistura de "Shiny Flakes" com "O Escândalo da Wirecard" e, claro, com aquele toque Billy McFarland de "Fyre Festival". Com um roteiro impecável e uma narrativa envolvente, o filme dirigido pelo excelente Bryan Storkel (de um dos episódios de "Untold") não só joga luz sobre as falcatruas do infame Ray Trapani e de seus sócios na Centra Tech, como também oferece uma análise profunda de uma geração que acredita poder ganhar muito dinheiro, sem muito esforço - nesse caso a partir das entranhas mais obscuras do mundo das criptomoedas. Storkel, sem dúvidas, entrega uma obra que não apenas informa, mas também prende a audiência com uma história real absurda de um pseudo-empreendedorismo pautado na ganância, na irresponsabilidade, na mentira e na ironia de acreditar que sim, o crime compensa (até nos EUA)!
"Criptofraude" basicamente desvenda os bastidores da Centra Tech, uma startup que prometia revolucionar o mercado de criptomoedas transformando dinheiro digital em moeda física para se usar onde bem entender, na hora que o usuário quisesse. O que à primeira vista parecia uma promissora ideia, na verdade era a forma como Ray Trapani e Sam 'Sorbee' Sharma arquitetavam uma fraude que abalou o mundo financeiro e fez muita gente perder muito dinheiro. O documentário expõe não só as artimanhas de Trapani como faz um recorte profundo da sua personalidade e da maneira como ele enxerga a vida, revelando não só sua rede de cúmplices, mas também sua incrível façanha de iludir investidores, celebridades e clientes do mundo inteiro. Confira o trailer (em inglês):
"Criptofraude" se destaca não apenas pelo seu tema intrigante, atual, mas também por uma execução técnica e artística primorosa - tudo no documentário funciona tão harmoniosamente, dos irritantes depoimentos do próprio Trapani até as reconstituições (sempre desfocadas) que nos dão a exata noção do que foi a Centra Tech e de como toda aquela fraude foi pensada por seus fundadores. O roteiro do Jonathan Ignatius Green mergulha nas sombras do mundo digital, criando uma atmosfera que reflete a complexidade moral da história, essencialmente personificando aquele mindset de que a vida é uma eterna festa.
A direção de Storkel sabe navegar entre a gramática documental e da ficção - isso mantém o ritmo e o interesse em alta. Sua proposta visual é agradável, como se ler uma revista cheia de cores marcantes fosse mais prazeiroso que ler um melancólico jornal preto e branco e é nesse sentido que destaco a montagem precisa de Weston Currie: envolvente, divertida e de muito bom gosto. Veja, todos esses elementos juntos só potencializam a capacidade do documentário de desvendar a mente realmente criminosa de um jovem Trapani, oferecendo uma análise psicológica das mais interessantes, e da forma como ele enxergava oportunidades e transformava em negócios. Acho até que o filme não apenas acusa ele, mas também explora suas motivações e as nuances éticas por trás das suas ações sempre com um olhar perspicaz e muitas vezes provocador, mesmo soando inocente em várias passagens.
O fato é que "Criptofraude" adiciona camadas de profundidade emocionais à trama, tornando-a mais do que uma simples exposição de fraudes para se tornar um objeto de reflexão sobre essa era das redes sociais e da busca pela vida perfeita sem esforço. Saíba que você será envolvido em uma experiência única que combina uma narrativa fascinante com personagens odiáveis. Então se você procura uma história, ou melhor, uma jornada intrigante sobre os bastidores do empreendedorismo mentiroso em um universo digital que representa 78% de fraudes, "Criptofraude" é a escolha certa. Pode ir para o play!
Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.
Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):
Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!
Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.
Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.
"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).
Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights" vale muito o seu play!
Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.
Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):
Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!
Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.
Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.
"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).
Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights" vale muito o seu play!
Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios", "O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar.
Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):
Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter. O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.
A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.
É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito.
Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios", "O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar.
Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):
Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter. O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.
A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.
É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito.
Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.
Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:
Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.
Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.
Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.
"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.
Vale seu play!
Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.
Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:
Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.
Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.
Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.
"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.
Vale seu play!
Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!
O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:
Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos.
Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!
O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada.
Vale muito o seu play!
Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!
O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:
Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos.
Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!
O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada.
Vale muito o seu play!
"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.
Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:
Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").
O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.
Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.
Vale muito seu play!
"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.
Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:
Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").
O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.
Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.
Vale muito seu play!
"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...
Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):
Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.
Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.
"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!
"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...
Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):
Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.
Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.
"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
Poucos filmes me incomodaram tanto pela realidade brutal quanto "Depois de Lucia". Essa produção mexicana que recebeu o prêmio “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes de 2012, discute o bullying de uma forma tão visceral que é quase insuportável assistir as quase duas horas de filme - ele é tão provocador e profundo na sua proposta que gostaríamos que a história durasse pelo menos mais trinta minutos para que todos os "pontos nos is" fossem colocados. De fato a sensação não é agradável, ou seja, não estamos falando de entretenimento, por outro lado, a mensagem que mais vinha na minha cabeça de pai (de menina) era: precisamos olhar pelos nossos filhos, sempre!
Quando a esposa de Roberto (Gonzalo Vega Jr.) morre em um acidente de carro, a relação dele com sua filha Alejandra (Tessa Ia), de 15 anos, fica abalada. Para escapar da tristeza que toma conta da rotina dos dois, pai e filha deixam a cidade de Vallarda e rumam para a Cidade do México em busca de uma nova vida. Alejandra ingressa em um novo colégio, e passa a sentir toda a dificuldade de começar de novo quando, gratuitamente, começa sofrer abusos físicos e emocionais dos colegas. Envergonhada, a menina não conta nada para o pai, e à medida que a violência toma conta da vida dos dois, eles vão se afastando cada vez mais. Confira o trailer:
Se é preciso falar sobre bullying, assistir "Depois de Lucia" é um bom começo - embora a jornada seja das mais penosas e não porquê o filme seja ruim, muito pelo contrário, mas porquê ele é muito bom! As sensações que o diretor Michel Franco consegue nos provocar são doloridas, reflexivas, revoltantes até. Aqui, é impossível não se conectar com Ale e, claro, entender as dores de Roberto - e o filme não se apropria de diálogos expositivos ou de qualquer tipo de verborragia, são as ações, muitas vezes em silêncio, que nos tocam a alma.
Se em "13 Reasons Why" o conceito narrativo se apropriou de uma linguagem mais jovem para equilibrar a seriedade do assunto com uma certa leveza visual para expor a influência dos personagens (e do meio) no destino da protagonista, em "Depois de Lucia" o tom é praticamente o inverso - o drama é pesado e o terror psicológico é quase o ponto de partida do segundo ato. Veja, Franco não economiza nos planos mais longos, cirurgicamente ensaiados e extremamente bem dirigidos em um mise-en-scène tão bem executado que chega a soar que os diálogos são improvisados dado o poder da naturalidade dos jovens atores - de todos. A câmera está sempre no lugar certo para contar a história, muitas vezes estática e abdicando da gramática usual do "plano e contra-plano", tudo isso para nos colocar na raiz do problema, no olho do furacão, com a terrível função de apenas observar, tornando o filme (e a experiência) bastante desconfortável.
Tecnicamente o bullying é um mecanismo grupal através de onde um bode expiatório, objeto de projeções maciças do grupo, é escolhido e sacrificado. É uma forma patológica de manejar as tensões do grupo, descarregando sobre um de seus membros, geralmente o mais frágil e indefeso, a agressividade de todos. Dito isso, não se pode fechar os olhos para o problema, já que muitas das atitudes do grupo se apoiam na desculpa da imaturidade para se safar das responsabilidades. O filme explora perfeitamente essa dinâmica e, mais uma vez, mesmo indigesto, consegue nos fazer refletir e, principalmente, abrir os olhos para um problema que só vem piorando, de geração para geração.
Se você já for pai, assista. Se ainda não for, esteja preparado.
Vale muito o seu play!
Poucos filmes me incomodaram tanto pela realidade brutal quanto "Depois de Lucia". Essa produção mexicana que recebeu o prêmio “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes de 2012, discute o bullying de uma forma tão visceral que é quase insuportável assistir as quase duas horas de filme - ele é tão provocador e profundo na sua proposta que gostaríamos que a história durasse pelo menos mais trinta minutos para que todos os "pontos nos is" fossem colocados. De fato a sensação não é agradável, ou seja, não estamos falando de entretenimento, por outro lado, a mensagem que mais vinha na minha cabeça de pai (de menina) era: precisamos olhar pelos nossos filhos, sempre!
Quando a esposa de Roberto (Gonzalo Vega Jr.) morre em um acidente de carro, a relação dele com sua filha Alejandra (Tessa Ia), de 15 anos, fica abalada. Para escapar da tristeza que toma conta da rotina dos dois, pai e filha deixam a cidade de Vallarda e rumam para a Cidade do México em busca de uma nova vida. Alejandra ingressa em um novo colégio, e passa a sentir toda a dificuldade de começar de novo quando, gratuitamente, começa sofrer abusos físicos e emocionais dos colegas. Envergonhada, a menina não conta nada para o pai, e à medida que a violência toma conta da vida dos dois, eles vão se afastando cada vez mais. Confira o trailer:
Se é preciso falar sobre bullying, assistir "Depois de Lucia" é um bom começo - embora a jornada seja das mais penosas e não porquê o filme seja ruim, muito pelo contrário, mas porquê ele é muito bom! As sensações que o diretor Michel Franco consegue nos provocar são doloridas, reflexivas, revoltantes até. Aqui, é impossível não se conectar com Ale e, claro, entender as dores de Roberto - e o filme não se apropria de diálogos expositivos ou de qualquer tipo de verborragia, são as ações, muitas vezes em silêncio, que nos tocam a alma.
Se em "13 Reasons Why" o conceito narrativo se apropriou de uma linguagem mais jovem para equilibrar a seriedade do assunto com uma certa leveza visual para expor a influência dos personagens (e do meio) no destino da protagonista, em "Depois de Lucia" o tom é praticamente o inverso - o drama é pesado e o terror psicológico é quase o ponto de partida do segundo ato. Veja, Franco não economiza nos planos mais longos, cirurgicamente ensaiados e extremamente bem dirigidos em um mise-en-scène tão bem executado que chega a soar que os diálogos são improvisados dado o poder da naturalidade dos jovens atores - de todos. A câmera está sempre no lugar certo para contar a história, muitas vezes estática e abdicando da gramática usual do "plano e contra-plano", tudo isso para nos colocar na raiz do problema, no olho do furacão, com a terrível função de apenas observar, tornando o filme (e a experiência) bastante desconfortável.
Tecnicamente o bullying é um mecanismo grupal através de onde um bode expiatório, objeto de projeções maciças do grupo, é escolhido e sacrificado. É uma forma patológica de manejar as tensões do grupo, descarregando sobre um de seus membros, geralmente o mais frágil e indefeso, a agressividade de todos. Dito isso, não se pode fechar os olhos para o problema, já que muitas das atitudes do grupo se apoiam na desculpa da imaturidade para se safar das responsabilidades. O filme explora perfeitamente essa dinâmica e, mais uma vez, mesmo indigesto, consegue nos fazer refletir e, principalmente, abrir os olhos para um problema que só vem piorando, de geração para geração.
Se você já for pai, assista. Se ainda não for, esteja preparado.
Vale muito o seu play!
Se você acha que o "Fyre Festival" foi um verdadeiro caos (e de fato foi), você precisa assistir essa minissérie documental em três episódios da Netflix (porque aqui meu amigo, a bagunça foi ainda pior)! "Desastre Total: Woodstock 99" é o reflexo da ganância de seus organizadores potencializada por um bando de idiotas, narcisistas e sem noção, que se colocam acima de tudo com a desculpa da liberdade e da diversão - pessoas que se acham no direito de fazer o que bem entendem sem pensar nas consequências de seus atos ou da sua influência (e aqui estou falando de quem esteve em cima do palco e no público)!
Quando se trata de Woodstock, é comum associarmos ao verão do amor americano da década de 60, mas não foi o que aconteceu em sua terceira edição organizada 30 anos depois do festival original. O Woodstock de 1999 é conhecido por ter sido um evento caótico, desorganizado, cheio de revoltas por parte do público e que, além de centenas de pessoas feridas, desidratadas, doentes e até estupradas; ainda deixou três mortos. Os episódios da série exploram o que aconteceu para que o festival fosse um desastre, tudo que deu errado no caminho e quem estava por trás da organização. Confira o trailer (em inglês):
A sensação de assistir "Desastre Total: Woodstock 99" não é nada agradável - a percepção de que algo daria errado é enorme, afinal um festival para 250 mil pessoas sem a menor estrutura para acontecer funcionou como um enorme barril de pólvora prestes a explodir... até que explodiu! A partir de inúmeras entrevistas com participantes, jornalistas e até com os organizadores, o diretor Jamie Crawford (de "À Procura de Ted Bundy") nos dá a exata noção do real significado da palavra "caos". As imagens de arquivo usadas para ilustrar os depoimentos de quem esteve envolvido com o festival são tão impressionantes que visto por outro prisma vai te parecer muito mais uma guerra do que um evento musical.
Crawford cria uma dinâmica narrativa bastante eficiente ao pontuar a atmosfera de tensão conforme os dias do evento vão passando. O aumento da temperatura a partir das cenas de nudez explícita, de violência e do consumo absurdo de drogas e bebida alcoólicas são apenas gatilhos que a minissérie tenta explorar para justificar a atitude do parte do público em seu último episódio. Por outro lado, os depoimentos de profissionais que participaram da produção do evento justificam como os cortes de orçamento impactaram no resultado final. É um atestado de despreparo, claro, mas pior foi postura dos organizadores, alheios aos acontecimentos de uma forma cínica e pouco empática - chega a ser irritante ver dois deles (John Scher e Michael Lang) minimizarem os fatos, mesmo hoje em dia e olhando em retrospectiva.
"Em um bando, todos viram animais (até os que não são)" - esse comentário justifica muita coisa do que você verá na tela. A falta de noção e de bom senso de muitos artistas que se apresentaram naquele palco, também é revoltante - Red Hot e Limp Bizkit são bons exemplos desse descaso com o ser humano! "Desastre Total: Woodstock 99" ainda faz uma análise bastante inteligente sobre um determinado recorte daquela sociedade do final dos anos 90 nos EUA a partir de referências da política, do cinema, do entretenimento e da música, que trazem questões muito pertinentes sobre o machismo, a liberdade de expressão e o discurso questionador que influenciavam os jovens na época e que ajudou a distanciar essa edição do festival do seu propósito original.
Vale muito o seu play!
Se você acha que o "Fyre Festival" foi um verdadeiro caos (e de fato foi), você precisa assistir essa minissérie documental em três episódios da Netflix (porque aqui meu amigo, a bagunça foi ainda pior)! "Desastre Total: Woodstock 99" é o reflexo da ganância de seus organizadores potencializada por um bando de idiotas, narcisistas e sem noção, que se colocam acima de tudo com a desculpa da liberdade e da diversão - pessoas que se acham no direito de fazer o que bem entendem sem pensar nas consequências de seus atos ou da sua influência (e aqui estou falando de quem esteve em cima do palco e no público)!
Quando se trata de Woodstock, é comum associarmos ao verão do amor americano da década de 60, mas não foi o que aconteceu em sua terceira edição organizada 30 anos depois do festival original. O Woodstock de 1999 é conhecido por ter sido um evento caótico, desorganizado, cheio de revoltas por parte do público e que, além de centenas de pessoas feridas, desidratadas, doentes e até estupradas; ainda deixou três mortos. Os episódios da série exploram o que aconteceu para que o festival fosse um desastre, tudo que deu errado no caminho e quem estava por trás da organização. Confira o trailer (em inglês):
A sensação de assistir "Desastre Total: Woodstock 99" não é nada agradável - a percepção de que algo daria errado é enorme, afinal um festival para 250 mil pessoas sem a menor estrutura para acontecer funcionou como um enorme barril de pólvora prestes a explodir... até que explodiu! A partir de inúmeras entrevistas com participantes, jornalistas e até com os organizadores, o diretor Jamie Crawford (de "À Procura de Ted Bundy") nos dá a exata noção do real significado da palavra "caos". As imagens de arquivo usadas para ilustrar os depoimentos de quem esteve envolvido com o festival são tão impressionantes que visto por outro prisma vai te parecer muito mais uma guerra do que um evento musical.
Crawford cria uma dinâmica narrativa bastante eficiente ao pontuar a atmosfera de tensão conforme os dias do evento vão passando. O aumento da temperatura a partir das cenas de nudez explícita, de violência e do consumo absurdo de drogas e bebida alcoólicas são apenas gatilhos que a minissérie tenta explorar para justificar a atitude do parte do público em seu último episódio. Por outro lado, os depoimentos de profissionais que participaram da produção do evento justificam como os cortes de orçamento impactaram no resultado final. É um atestado de despreparo, claro, mas pior foi postura dos organizadores, alheios aos acontecimentos de uma forma cínica e pouco empática - chega a ser irritante ver dois deles (John Scher e Michael Lang) minimizarem os fatos, mesmo hoje em dia e olhando em retrospectiva.
"Em um bando, todos viram animais (até os que não são)" - esse comentário justifica muita coisa do que você verá na tela. A falta de noção e de bom senso de muitos artistas que se apresentaram naquele palco, também é revoltante - Red Hot e Limp Bizkit são bons exemplos desse descaso com o ser humano! "Desastre Total: Woodstock 99" ainda faz uma análise bastante inteligente sobre um determinado recorte daquela sociedade do final dos anos 90 nos EUA a partir de referências da política, do cinema, do entretenimento e da música, que trazem questões muito pertinentes sobre o machismo, a liberdade de expressão e o discurso questionador que influenciavam os jovens na época e que ajudou a distanciar essa edição do festival do seu propósito original.
Vale muito o seu play!
Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").
"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):
Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?
Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.
De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!
Vale seu play!
Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").
"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):
Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?
Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.
De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!
Vale seu play!
"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.
O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):
Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.
Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.
O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!
Dito isso, vale o play tranquilamente!
"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.
O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):
Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.
Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.
O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!
Dito isso, vale o play tranquilamente!
E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
Em um mundo onde as finanças parecem dominadas por grandes corporações e fundos de investimento, "Dinheiro Fácil" surge como um "tapa na cara" em quem se acha imbatível ao mostrar como um grupo de pequenos investidores conseguiu mudar o jogo de poder no caso da GameStop. Mas antes de analisar o filme eu sugiro dois documentários essenciais para elevar sua experiência como audiência, são eles: "GameStop contra Wall Street"da Netflix e "Gaming Wall Street", também da HBO. Dito isso, já posso afirmar que aqui temos uma trama imperdível para quem gosta do assunto e mesmo vendido como uma comédia, pode considerar que esse filme dirigido por Craig Gillespie está muito mais para um drama com fortes elementos de ironia - aliás, com um ótimo conceito narrativo bem parecido com um dos mais recentes projetos de Gillespie, "Pam & Tommy".
Basicamente, "Dinheiro Fácil" conta a história real de um grupo de investidores amadores do Reddit que causaram um grande caos em Wall Street após apostarem nas ações da GameStop, uma rede de eletrônicos americana que andava muito mal da pernas. O movimento que durou cerca de um ano e foi organizado no fórum "WallStreetBets" pelo influencer Keith Gill (Paul Dano), foi se viralizando com o tempo e com isso fez as ações da empresa, inesperadamente, dispararem - ou seja, todos os fundos que apostavam contra a GameStop perderam muito dinheiro, escancarando a fragilidade do sistema. Confira o trailer:
Na linha "Davi x Golias", "Dinheiro Fácil" vai muito além daquele tipo de filme onde os ricos se dão mal e os underdogs fazem fortuna. Não, aqui as roteiristas Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo (ambas de "Orange is the New Black") se preocupam muito mais em entreter do que em fazer uma completa dramatização do que realmente aconteceu em 2021 - na verdade o filme nem perde tempo com minúcias e explicações sobre o mercado de ações, por isso a importância de saber sobre "do que" se trata a história. Gillespie brilha por sua capacidade de contar uma história real, envolvente e incrivelmente relevante nos dias de hoje sem ser didático demais - ele sabe equilibrar os momentos de drama e tensão, com alívios de humor e humanidade que dão o tom de maneira muito fluída.
As performances dos atores seguram essa proposta do diretor com muita competência. Paul Dano captura perfeitamente a jornada de auto-descoberta e resiliência do seu personagem sem parecer aquele "herói dos fracos e oprimidos" que a mídia desenhou na época - aliás, as controversas sobre Keith Gill são até maiores do que as mostradas no filme. Seth Rogen como o executivo/investidor Gabe Plotkin também brilha - embora pareça uma versão engomadinha do seu Rand Gauthier de "Pam & Tommy". Outro ponto que vale sua observação diz respeito a fotografia do Nicolas Karakatsanis (de "Cruella") - com sua paleta vibrante e dinâmica, ela nos transporta para os bastidores do frenesi financeiro daquele ano de pandemia ao mesmo tempo que retrata a angustia e a ansiedade de quem apostava "a favor" e "contra" a GameStop - um belo trabalho.
Veja, "Dinheiro Fácil" é cirúrgica ao oferecer uma análise crítica sobre o sistema financeiro americano e o poder da comunidade online nos dias de hoje, mas sem esquecer do entretenimento. Se o filme questiona as noções tradicionais sobre investimentos, ele também sabe provocar uma reflexão sobre a natureza do capitalismo e a busca pelo custo de oportunidade fantasiado de "justiça" financeira. Baseado no livro The Antisocial Network (do jornalista Ben Mezrich) esse filme é um excelente exemplo de como transformar um tema complicado em uma envolvente fábula sobre como uma corda (nem) sempre estoura do lado mais fraco.
Vale muito o seu play!
Em um mundo onde as finanças parecem dominadas por grandes corporações e fundos de investimento, "Dinheiro Fácil" surge como um "tapa na cara" em quem se acha imbatível ao mostrar como um grupo de pequenos investidores conseguiu mudar o jogo de poder no caso da GameStop. Mas antes de analisar o filme eu sugiro dois documentários essenciais para elevar sua experiência como audiência, são eles: "GameStop contra Wall Street"da Netflix e "Gaming Wall Street", também da HBO. Dito isso, já posso afirmar que aqui temos uma trama imperdível para quem gosta do assunto e mesmo vendido como uma comédia, pode considerar que esse filme dirigido por Craig Gillespie está muito mais para um drama com fortes elementos de ironia - aliás, com um ótimo conceito narrativo bem parecido com um dos mais recentes projetos de Gillespie, "Pam & Tommy".
Basicamente, "Dinheiro Fácil" conta a história real de um grupo de investidores amadores do Reddit que causaram um grande caos em Wall Street após apostarem nas ações da GameStop, uma rede de eletrônicos americana que andava muito mal da pernas. O movimento que durou cerca de um ano e foi organizado no fórum "WallStreetBets" pelo influencer Keith Gill (Paul Dano), foi se viralizando com o tempo e com isso fez as ações da empresa, inesperadamente, dispararem - ou seja, todos os fundos que apostavam contra a GameStop perderam muito dinheiro, escancarando a fragilidade do sistema. Confira o trailer:
Na linha "Davi x Golias", "Dinheiro Fácil" vai muito além daquele tipo de filme onde os ricos se dão mal e os underdogs fazem fortuna. Não, aqui as roteiristas Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo (ambas de "Orange is the New Black") se preocupam muito mais em entreter do que em fazer uma completa dramatização do que realmente aconteceu em 2021 - na verdade o filme nem perde tempo com minúcias e explicações sobre o mercado de ações, por isso a importância de saber sobre "do que" se trata a história. Gillespie brilha por sua capacidade de contar uma história real, envolvente e incrivelmente relevante nos dias de hoje sem ser didático demais - ele sabe equilibrar os momentos de drama e tensão, com alívios de humor e humanidade que dão o tom de maneira muito fluída.
As performances dos atores seguram essa proposta do diretor com muita competência. Paul Dano captura perfeitamente a jornada de auto-descoberta e resiliência do seu personagem sem parecer aquele "herói dos fracos e oprimidos" que a mídia desenhou na época - aliás, as controversas sobre Keith Gill são até maiores do que as mostradas no filme. Seth Rogen como o executivo/investidor Gabe Plotkin também brilha - embora pareça uma versão engomadinha do seu Rand Gauthier de "Pam & Tommy". Outro ponto que vale sua observação diz respeito a fotografia do Nicolas Karakatsanis (de "Cruella") - com sua paleta vibrante e dinâmica, ela nos transporta para os bastidores do frenesi financeiro daquele ano de pandemia ao mesmo tempo que retrata a angustia e a ansiedade de quem apostava "a favor" e "contra" a GameStop - um belo trabalho.
Veja, "Dinheiro Fácil" é cirúrgica ao oferecer uma análise crítica sobre o sistema financeiro americano e o poder da comunidade online nos dias de hoje, mas sem esquecer do entretenimento. Se o filme questiona as noções tradicionais sobre investimentos, ele também sabe provocar uma reflexão sobre a natureza do capitalismo e a busca pelo custo de oportunidade fantasiado de "justiça" financeira. Baseado no livro The Antisocial Network (do jornalista Ben Mezrich) esse filme é um excelente exemplo de como transformar um tema complicado em uma envolvente fábula sobre como uma corda (nem) sempre estoura do lado mais fraco.
Vale muito o seu play!