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A Teacher

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

Assista Agora

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

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A última coisa que ele queria

"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!

Confira o trailer:

Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!

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"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!

Confira o trailer:

Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!

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A Última Loja de Consertos

"A Última Loja de Consertos" chega chancelada pelo Oscar de "Melhor Curta de Documentário" de 2024, trazendo com ele uma sinfonia emocionante de esperança e memória que merece ser apreciado em pouco menos de 40 minutos de história. Em meio a uma era descartável, esse sensível documentário dirigido pelo Kris Bowers (responsável por composições de filmes de peso como "Green Book" e "A Cor Púrpura") e pelo Ben Proudfoot (vencedor do Oscar na mesma categoria em 2022 com "The Queen of Basketball" e indicado em 2021 com "A Concerto Is a Conversation") nos transporta para o coração de Los Angeles, onde um oásis de restauração musical desafia a tirania da obsolescência. Mais do que um simples conserto de instrumentos, o filme celebra a paixão, a comunidade e a preservação daquilo que nos conecta ao passado e nutre o futuro através de quatro emocionantes depoimentos. Sim, o filme é sobre pessoas e isso é belíssimo!

Em linhas gerais, "The Last Repair Shop" (no original) narra a história real de um dos últimos ateliês de reparos de instrumentos musicais nos Estados Unidos. Localizado em Los Angeles, o local oferece consertos gratuitos para alunos de escolas públicas desde 1959. O filme acompanha a rotina dedicada dos profissionais que trabalham ali, revelando o impacto transformador que a arte teve em suas vidas e na vida de milhares de jovens e adultos americanos. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso enxergar "A Última Loja de Consertos" como um curta-metragem basicamente realizado para entrar em festivais ao redor do planeta - nesse formato, não existe o menor interesse comercial como obra. Essa característica permite ao seu realizador extrapolar o seu propósito critico, artístico e técnico com muito mais liberdade, ou seja, é perceptível a "alma" em uma história sobre um ateliê e seus funcionários, que nos leva a questionar a cultura descartável, claro, mas que ao mesmo tempo nos convida para celebrar a beleza da tradição e da busca pela perfeição em pró de algo maior.

Os depoimentos dos profissionais e dos jovens músicos que de alguma forma foram impactados pela "Última Loja de Consertos" são, de fato, inspiradores e nos fazem acreditar na força transformadora da música e da arte, pela perspectiva do ser humano. Mais do que um mero registro histórico, o filme é um hino à preservação da memória e da cultura que nos faz repensar nossa relação com os objetos (que por alguma razão descartamos) e a valorizar o trabalho artesanal, que transcende a mera funcionalidade e se torna uma expressão de amor e dedicação, capaz de mudar a vida de alguém.

A fotografia impecável do jovem David Feeney-Mosier (guardem esse nome) captura a beleza singular dos instrumentos e o cuidado meticuloso dos profissionais. Já a trilha sonora, composta pelo próprio co-diretor, Kris Bowers, é uma sinfonia emocionante que acompanha a narrativa com sensibilidade e força. Já a direção de Proudfoot é precisa e envolvente, tecendo uma história rica em emoções e reflexões. Tecnicamente invejável, "A Última Loja de Consertos" é um documentário imperdível para todos que apreciam histórias inspiradoras, música de qualidade e reflexões sobre o sentido da vida. Um filme que nos toca profundamente e nos deixa com a esperança de que a paixão, o amor pela comunidade e a preservação da tradição ainda são valores importantes em nosso mundo. 

Vale muito o seu play!

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"A Última Loja de Consertos" chega chancelada pelo Oscar de "Melhor Curta de Documentário" de 2024, trazendo com ele uma sinfonia emocionante de esperança e memória que merece ser apreciado em pouco menos de 40 minutos de história. Em meio a uma era descartável, esse sensível documentário dirigido pelo Kris Bowers (responsável por composições de filmes de peso como "Green Book" e "A Cor Púrpura") e pelo Ben Proudfoot (vencedor do Oscar na mesma categoria em 2022 com "The Queen of Basketball" e indicado em 2021 com "A Concerto Is a Conversation") nos transporta para o coração de Los Angeles, onde um oásis de restauração musical desafia a tirania da obsolescência. Mais do que um simples conserto de instrumentos, o filme celebra a paixão, a comunidade e a preservação daquilo que nos conecta ao passado e nutre o futuro através de quatro emocionantes depoimentos. Sim, o filme é sobre pessoas e isso é belíssimo!

Em linhas gerais, "The Last Repair Shop" (no original) narra a história real de um dos últimos ateliês de reparos de instrumentos musicais nos Estados Unidos. Localizado em Los Angeles, o local oferece consertos gratuitos para alunos de escolas públicas desde 1959. O filme acompanha a rotina dedicada dos profissionais que trabalham ali, revelando o impacto transformador que a arte teve em suas vidas e na vida de milhares de jovens e adultos americanos. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso enxergar "A Última Loja de Consertos" como um curta-metragem basicamente realizado para entrar em festivais ao redor do planeta - nesse formato, não existe o menor interesse comercial como obra. Essa característica permite ao seu realizador extrapolar o seu propósito critico, artístico e técnico com muito mais liberdade, ou seja, é perceptível a "alma" em uma história sobre um ateliê e seus funcionários, que nos leva a questionar a cultura descartável, claro, mas que ao mesmo tempo nos convida para celebrar a beleza da tradição e da busca pela perfeição em pró de algo maior.

Os depoimentos dos profissionais e dos jovens músicos que de alguma forma foram impactados pela "Última Loja de Consertos" são, de fato, inspiradores e nos fazem acreditar na força transformadora da música e da arte, pela perspectiva do ser humano. Mais do que um mero registro histórico, o filme é um hino à preservação da memória e da cultura que nos faz repensar nossa relação com os objetos (que por alguma razão descartamos) e a valorizar o trabalho artesanal, que transcende a mera funcionalidade e se torna uma expressão de amor e dedicação, capaz de mudar a vida de alguém.

A fotografia impecável do jovem David Feeney-Mosier (guardem esse nome) captura a beleza singular dos instrumentos e o cuidado meticuloso dos profissionais. Já a trilha sonora, composta pelo próprio co-diretor, Kris Bowers, é uma sinfonia emocionante que acompanha a narrativa com sensibilidade e força. Já a direção de Proudfoot é precisa e envolvente, tecendo uma história rica em emoções e reflexões. Tecnicamente invejável, "A Última Loja de Consertos" é um documentário imperdível para todos que apreciam histórias inspiradoras, música de qualidade e reflexões sobre o sentido da vida. Um filme que nos toca profundamente e nos deixa com a esperança de que a paixão, o amor pela comunidade e a preservação da tradição ainda são valores importantes em nosso mundo. 

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A Verdadeira História do Roubo do Século

Parece ficção, mas é real -  e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!

Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):

O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.

Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.

Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.

Vale muito o seu play!

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Parece ficção, mas é real -  e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!

Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):

O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.

Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.

Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.

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A Vida Depois

A Vida Depois

"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

Vale muito seu play!

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"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda

Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo. 

"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):

Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!

Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como  Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.

Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).  

Vale muito o seu play!

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Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo. 

"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):

Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!

Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como  Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.

Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).  

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Acima de Qualquer Suspeita

Ao melhor estilo "quem matou?", esteja preparado para um entretenimento da melhor qualidade - talvez um dos mais elogiados de 2024. "Acima de Qualquer Suspeita", minissérie criada por David E. Kelley e lançada pela AppleTV+, é um suspense jurídico raiz, daqueles tensos, cheios de reviravoltas e com um final surpreendente. "Presumed Innocent" (no original) se baseia no aclamado romance homônimo de Scott Turow e se destaca pela exploração profunda e envolvente "das verdades e mentiras" a partir da perspectiva de uma acusação de assassinato. Veja, para os fãs de dramas como "Big Little Lies" ou "A Escada" (não por acaso ambos da HBO) "Acima de Qualquer Suspeita" oferece uma mistura semelhante de apreensão, intriga e drama emocional que vai te tirar da zona de conforto!

A trama gira em torno de Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal), um promotor público que se vê no centro de uma investigação de assassinato quando sua colega Carolyn Polhemus (Renate Reinsve) é encontrada morta. À medida que as evidências começam a apontar para Rusty como o principal suspeito, ele passa lutar para provar sua inocência enquanto confronta segredos e traições que ameaçam destruir sua carreira e vida pessoal. Confira o trailer:

David E. Kelley, conhecido por seu trabalho em projetos de sucesso como "Big Little Lies" e "The Undoing", traz para Apple aquele "selo HBO" que tanto nos apaixonamos. A partir de sua marca registrada, com diálogos inteligentes e personagens bem desenvolvidos, "Acima de Qualquer Suspeita" surpreende pela qualidade narrativa e visual, entregando um resultado ainda melhor que o filme de 1990 com Harrison Ford,Brian Dennehy e Raúl Julia. Seguindo a premissa da obra literária, essa adaptação explora com muita competência as ramificações de um crime brutal e a busca pela verdade, nos provocando a questionar a confiabilidade da justiça e a natureza da culpa e da inocência.

O roteiro de Kelley é meticulosamente bem estruturado, com reviravoltas bem pontuadas e um ritmo que nos mantém engajados do inicio ao fim - "Acima de Qualquer Suspeita" realmente sabe sustentar seu mistério sem roubar no jogo. Ao se apoiar em temas como a corrupção no sistema judicial, a ambiguidade moral e os limites da lealdade, a minissérie não decepciona - especialmente pelos diálogos afiados e carregados de subtexto, refletindo a complexidade das relações entre os personagens e as tensões subjacentes à investigação. Com uma direção precisa, utilizando a cinematografia de uma Chicago sombria/chuvosa (quase tirada de um filme do Batman) e que captura a tensão e a incerteza do caso, Greg Yaitanes e Anne Sewitsky equilibram habilmente o suspense de um thriller jurídico com os aspectos emocionais e pessoais de um drama de relações, criando uma jornada cativante e profundamente humana. Aliás, reparem na trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans (ambos de "Tulsa King" e de "O Homem Duplicado") - é impressionante como ela complementa a atmosfera de angústia daquele cenário com composições que variam entre a tensão e o melancólico, intensificando o mistério e a carga emocional dos personagens.

Jake Gyllenhaal entrega uma performance poderosa - um misto de vulnerabilidade e de determinação que só um homem que se vê envolto em um pesadelo jurídico é capaz de sentir. Nesse sentido, é impossível não citar o ótimo Peter Sarsgaard como o "intragável" Tommy Molto e o sempre competente Bill Camp como o "carismático" Raymond Horgan. Os três colocam "Acima de Qualquer Suspeita" em uma prateleira que potencializa a exploração corajosa e intelectualmente estimulante dos dilemas morais e éticos dentro do sistema de justiça americano. Mais uma vez David E. Kelley oferece uma visão incisiva e emocionalmente ressonante da busca pela verdade em um mundo repleto de ambiguidades e incertezas. Um golaço da AppleTV+!

Vale muito o seu play!

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Ao melhor estilo "quem matou?", esteja preparado para um entretenimento da melhor qualidade - talvez um dos mais elogiados de 2024. "Acima de Qualquer Suspeita", minissérie criada por David E. Kelley e lançada pela AppleTV+, é um suspense jurídico raiz, daqueles tensos, cheios de reviravoltas e com um final surpreendente. "Presumed Innocent" (no original) se baseia no aclamado romance homônimo de Scott Turow e se destaca pela exploração profunda e envolvente "das verdades e mentiras" a partir da perspectiva de uma acusação de assassinato. Veja, para os fãs de dramas como "Big Little Lies" ou "A Escada" (não por acaso ambos da HBO) "Acima de Qualquer Suspeita" oferece uma mistura semelhante de apreensão, intriga e drama emocional que vai te tirar da zona de conforto!

A trama gira em torno de Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal), um promotor público que se vê no centro de uma investigação de assassinato quando sua colega Carolyn Polhemus (Renate Reinsve) é encontrada morta. À medida que as evidências começam a apontar para Rusty como o principal suspeito, ele passa lutar para provar sua inocência enquanto confronta segredos e traições que ameaçam destruir sua carreira e vida pessoal. Confira o trailer:

David E. Kelley, conhecido por seu trabalho em projetos de sucesso como "Big Little Lies" e "The Undoing", traz para Apple aquele "selo HBO" que tanto nos apaixonamos. A partir de sua marca registrada, com diálogos inteligentes e personagens bem desenvolvidos, "Acima de Qualquer Suspeita" surpreende pela qualidade narrativa e visual, entregando um resultado ainda melhor que o filme de 1990 com Harrison Ford,Brian Dennehy e Raúl Julia. Seguindo a premissa da obra literária, essa adaptação explora com muita competência as ramificações de um crime brutal e a busca pela verdade, nos provocando a questionar a confiabilidade da justiça e a natureza da culpa e da inocência.

O roteiro de Kelley é meticulosamente bem estruturado, com reviravoltas bem pontuadas e um ritmo que nos mantém engajados do inicio ao fim - "Acima de Qualquer Suspeita" realmente sabe sustentar seu mistério sem roubar no jogo. Ao se apoiar em temas como a corrupção no sistema judicial, a ambiguidade moral e os limites da lealdade, a minissérie não decepciona - especialmente pelos diálogos afiados e carregados de subtexto, refletindo a complexidade das relações entre os personagens e as tensões subjacentes à investigação. Com uma direção precisa, utilizando a cinematografia de uma Chicago sombria/chuvosa (quase tirada de um filme do Batman) e que captura a tensão e a incerteza do caso, Greg Yaitanes e Anne Sewitsky equilibram habilmente o suspense de um thriller jurídico com os aspectos emocionais e pessoais de um drama de relações, criando uma jornada cativante e profundamente humana. Aliás, reparem na trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans (ambos de "Tulsa King" e de "O Homem Duplicado") - é impressionante como ela complementa a atmosfera de angústia daquele cenário com composições que variam entre a tensão e o melancólico, intensificando o mistério e a carga emocional dos personagens.

Jake Gyllenhaal entrega uma performance poderosa - um misto de vulnerabilidade e de determinação que só um homem que se vê envolto em um pesadelo jurídico é capaz de sentir. Nesse sentido, é impossível não citar o ótimo Peter Sarsgaard como o "intragável" Tommy Molto e o sempre competente Bill Camp como o "carismático" Raymond Horgan. Os três colocam "Acima de Qualquer Suspeita" em uma prateleira que potencializa a exploração corajosa e intelectualmente estimulante dos dilemas morais e éticos dentro do sistema de justiça americano. Mais uma vez David E. Kelley oferece uma visão incisiva e emocionalmente ressonante da busca pela verdade em um mundo repleto de ambiguidades e incertezas. Um golaço da AppleTV+!

Vale muito o seu play!

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Acredite em Mim: A História de Lisa McVey

Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Aftersun

Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

Dói, mas vale seu play!

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Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

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AIR: A história por trás do logo

Se você gosta de uma história bem construída que além de curiosa, é muito divertida, você vai adorar "AIR: A história por trás do logo"! Se você é empreendedor e adora estudos de caso, você também vai amar esse filme e, muito provavelmente, não vai assistir apenas uma vez! Agora, se você precisa vender uma ideia, então eu sugiro que você estude (e muito) o roteiro desse filme, afinal o diretor Ben Affleck, em sua quinta empreitada na função, contextualiza tão bem a jornada de convencimento pela qual o executivo de marketing Sonny Vaccaro (que cuidava da divisão de basquete da Nike) passou, que não vou me surpreender se começar a ver cenas do filme em inúmeras palestras sobre o tema daqui para frente (contém ironia). É sério: Vaccaro (Matt Damon), além inovar em sua proposta, ainda foi capaz de convencer o "todo poderoso" Phil Knight (Ben Affleck) de que era possível investir em apenas um jogador (e não em três como de costume), ter muito lucro e ainda transformar o mercado de calçados esportivos mesmo sendo, na época, a terceira empresa em market share nos EUA - bem longe da primeira que, inclusive, foi adquirida pela Nike anos mais tarde.

O filme tem uma premissa das mais simples, mas nem por isso menos empolgante: revelar a inacreditável história sobre uma parceria improvável (que se tornou revolucionária) entre o então desconhecido Michael Jordan e a incipiente divisão de basquete da Nike, que revolucionou o mundo dos esportes e da cultura contemporânea com a marca "Air Jordan". Confira o trailer:

Como "A Rede Social" foi capaz de nos surpreender em 2010 ao contar a história de criação do Facebook, tenho a impressão que  "AIR" (que definitivamente não precisava desse subtítulo) vai pelo mesmo caminho. De fato a história nem é tão desconhecida assim, mas o interessante do roteiro escrito pelo estreante Alex Convery, está justamente na forma como o recorte histórico é retratado, alternando curiosidades dos bastidores com a dinâmica corporativa (e de inovação) do inicio dos anos 80, e sempre criando paralelos com elementos que fazem parte da cultura da Nike até hoje - como nas várias vezes em que os valores da empresa são citados para justificar uma ação (ou postura) de Vaccaro durante sua cruzada de convencimento. Esse conceito narrativo funciona muito bem, afinal, como sabemos onde essa história vai dar, algumas passagens soam, de fato, muito engraçadas ao analisarmos os fatos em retrospectiva.

Embora a edição do craque William Goldenberg (vencedor do Oscar por "Argo", também de Affleck) pontue muito bem os cirúrgicos enquadramentos de outro craque, o diretor de fotografia Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars e indicados para outros 7), criando uma atmosfera quase mística sobre acreditar em uma ideia e ir até as últimas consequências para provar que ela vai realmente funcionar, é muito provável que nada disso funcionasse não fosse o trabalho impecável do elenco: de Matt Damon ao Jason Bateman (como o diretor de marketing da Nike, Rob Strasser); passando pelos impagáveis Chris Tucker (como Howard White - hoje VP da Marca "Air Jordan") e Matthew Maher (como Peter Moore, designer icônico do "Air Jordan 1"); sem falar nas performances de Chris Messina, que interpreta o agente de MJ que trava duelos hilários com Vaccaro; e a sempre competente Viola Davis como a mãe de Jordan.

"AIR: A história por trás do logo" é o tipo do filme que tem cheiro de Oscar - pelo seu equilíbrio perfeito entre o contexto histórico dos mais relevantes e sua narrativa heróica tipicamente americana (no bom sentido), cheia de alívios cômicos inteligentes e lições empreendedoras pertinentes, envolvidas, claro, ao som de uma trilha sonora nostálgica que dá o exato tom de leveza que Affleck impõe à trama. Olha, é incrível como o filme está redondinho e como funciona bem como entretenimento - eu diria que segue a linha de "Lakers: Hora de Vencer" da HBO, mas sem a necessidade de ter que mostrar uma única cena em quadra!

Imperdível!

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Se você gosta de uma história bem construída que além de curiosa, é muito divertida, você vai adorar "AIR: A história por trás do logo"! Se você é empreendedor e adora estudos de caso, você também vai amar esse filme e, muito provavelmente, não vai assistir apenas uma vez! Agora, se você precisa vender uma ideia, então eu sugiro que você estude (e muito) o roteiro desse filme, afinal o diretor Ben Affleck, em sua quinta empreitada na função, contextualiza tão bem a jornada de convencimento pela qual o executivo de marketing Sonny Vaccaro (que cuidava da divisão de basquete da Nike) passou, que não vou me surpreender se começar a ver cenas do filme em inúmeras palestras sobre o tema daqui para frente (contém ironia). É sério: Vaccaro (Matt Damon), além inovar em sua proposta, ainda foi capaz de convencer o "todo poderoso" Phil Knight (Ben Affleck) de que era possível investir em apenas um jogador (e não em três como de costume), ter muito lucro e ainda transformar o mercado de calçados esportivos mesmo sendo, na época, a terceira empresa em market share nos EUA - bem longe da primeira que, inclusive, foi adquirida pela Nike anos mais tarde.

O filme tem uma premissa das mais simples, mas nem por isso menos empolgante: revelar a inacreditável história sobre uma parceria improvável (que se tornou revolucionária) entre o então desconhecido Michael Jordan e a incipiente divisão de basquete da Nike, que revolucionou o mundo dos esportes e da cultura contemporânea com a marca "Air Jordan". Confira o trailer:

Como "A Rede Social" foi capaz de nos surpreender em 2010 ao contar a história de criação do Facebook, tenho a impressão que  "AIR" (que definitivamente não precisava desse subtítulo) vai pelo mesmo caminho. De fato a história nem é tão desconhecida assim, mas o interessante do roteiro escrito pelo estreante Alex Convery, está justamente na forma como o recorte histórico é retratado, alternando curiosidades dos bastidores com a dinâmica corporativa (e de inovação) do inicio dos anos 80, e sempre criando paralelos com elementos que fazem parte da cultura da Nike até hoje - como nas várias vezes em que os valores da empresa são citados para justificar uma ação (ou postura) de Vaccaro durante sua cruzada de convencimento. Esse conceito narrativo funciona muito bem, afinal, como sabemos onde essa história vai dar, algumas passagens soam, de fato, muito engraçadas ao analisarmos os fatos em retrospectiva.

Embora a edição do craque William Goldenberg (vencedor do Oscar por "Argo", também de Affleck) pontue muito bem os cirúrgicos enquadramentos de outro craque, o diretor de fotografia Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars e indicados para outros 7), criando uma atmosfera quase mística sobre acreditar em uma ideia e ir até as últimas consequências para provar que ela vai realmente funcionar, é muito provável que nada disso funcionasse não fosse o trabalho impecável do elenco: de Matt Damon ao Jason Bateman (como o diretor de marketing da Nike, Rob Strasser); passando pelos impagáveis Chris Tucker (como Howard White - hoje VP da Marca "Air Jordan") e Matthew Maher (como Peter Moore, designer icônico do "Air Jordan 1"); sem falar nas performances de Chris Messina, que interpreta o agente de MJ que trava duelos hilários com Vaccaro; e a sempre competente Viola Davis como a mãe de Jordan.

"AIR: A história por trás do logo" é o tipo do filme que tem cheiro de Oscar - pelo seu equilíbrio perfeito entre o contexto histórico dos mais relevantes e sua narrativa heróica tipicamente americana (no bom sentido), cheia de alívios cômicos inteligentes e lições empreendedoras pertinentes, envolvidas, claro, ao som de uma trilha sonora nostálgica que dá o exato tom de leveza que Affleck impõe à trama. Olha, é incrível como o filme está redondinho e como funciona bem como entretenimento - eu diria que segue a linha de "Lakers: Hora de Vencer" da HBO, mas sem a necessidade de ter que mostrar uma única cena em quadra!

Imperdível!

Assista Agora

Al Davis vs. The NFL

Esse não é um documentário sobre o "esporte", esse é um documentário  sobre os bastidores do "esporte", sobre o negócio, sobre o futuro, sobre duas formas distintas de escrever a história, só que pelo olhar de figuras marcantes do futebol americano que nunca estiveram em "campo":  o ex-proprietário dos Raiders, Al Davis, e o ex-comissário da NFL, Pete Rozelle.

"Al Davis vs. The NFL" mostra os reflexos de uma relação conflituosa entre duas ligas profissionais de futebol americano, a AFL e a NFL, soberanas na década de 1960, que resultou em uma enorme animosidade quando Al Davis quis sair de Oakland e levar o seu Raders para Los Angeles e que acabou gerando um desgastante processo antitruste que Davis moveu contra a NFL em 1980, justamente por Rozelle acreditar que essa decisão não cabia apenas a uma pessoa e sim aos 28 sócios de uma única liga que havia sido criada para evitar conflitos de interesses e preservar a vontade do todo. Confira o trailer:

Mais uma incrível produção do selo "30 for 30" da ESPN Films, "Al Davis vs. The NFL" é um recorte histórico que discute a visão empreendedora tendo como pano de fundo o esporte. Se de um lado entendemos o conceito liberal de Al Davis, do outro somos impactados sobre a visão controladora de Rozelle - e o interessante do documentário dirigido por Ken Rodgers (de "The Four Falls of Buffalo") é que em nenhum momento ele defende um dos lados, deixando para a audiência a posição de júri e, admito, dentro de um determinado contexto, ambas as visões faziam sentido para o negócio.

Veja, já nos começo dos anos 80, Davis queria um estádio maior, de última geração, onde pudesse arrecadar mais receita com venda de ingressos e de camarotes luxuosos, além de poder negociar maiores verbas com os contratos de transmissão que a NFL liderava. Já Rozelle queria que o todo decidisse o destino da liga, não queria que o proprietário de um time tivesse a liberdade de decidir sozinho qual o melhor local para levar sua franquia e assim abrisse um precedente que certamente impactaria na identidade da liga e na tradição dos seus times - é como se ele quisesse impedir que, da noite para o dia, o Flamengo, sozinho, resolvesse mudar para São Paulo, deixando seus torcedores de décadas à 450 km de distância.

O fato é que nenhuma competição, dentro ou fora do campo, ajudou a moldar a NFL moderna tanto quanto esses embates de décadas entre Al Davis e Pete Rozelle e o documentário foi muito feliz em pontuar todos os detalhes e implicações dessa disputa profissional. Um detalhe interessante: a história é contada em primeira pessoa, e o diretor apostou em um conceito narrativo (e visual) que preservou os espíritos de Pete e Davis como protagonistas - como ambos já faleceram, foi usada a técnica de “deepfake” para coloca-los lado a lado mais uma vez. Embora a reinvenção possa não parecer real (e claramente essa não era a intenção), a montagem do próprio Rogers foi muito sensível e inteligente para equilibrar inúmeras imagens de arquivo com a naturalidade de um contador de histórias que olha para o passado e avalia sua importância no presente.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Esse não é um documentário sobre o "esporte", esse é um documentário  sobre os bastidores do "esporte", sobre o negócio, sobre o futuro, sobre duas formas distintas de escrever a história, só que pelo olhar de figuras marcantes do futebol americano que nunca estiveram em "campo":  o ex-proprietário dos Raiders, Al Davis, e o ex-comissário da NFL, Pete Rozelle.

"Al Davis vs. The NFL" mostra os reflexos de uma relação conflituosa entre duas ligas profissionais de futebol americano, a AFL e a NFL, soberanas na década de 1960, que resultou em uma enorme animosidade quando Al Davis quis sair de Oakland e levar o seu Raders para Los Angeles e que acabou gerando um desgastante processo antitruste que Davis moveu contra a NFL em 1980, justamente por Rozelle acreditar que essa decisão não cabia apenas a uma pessoa e sim aos 28 sócios de uma única liga que havia sido criada para evitar conflitos de interesses e preservar a vontade do todo. Confira o trailer:

Mais uma incrível produção do selo "30 for 30" da ESPN Films, "Al Davis vs. The NFL" é um recorte histórico que discute a visão empreendedora tendo como pano de fundo o esporte. Se de um lado entendemos o conceito liberal de Al Davis, do outro somos impactados sobre a visão controladora de Rozelle - e o interessante do documentário dirigido por Ken Rodgers (de "The Four Falls of Buffalo") é que em nenhum momento ele defende um dos lados, deixando para a audiência a posição de júri e, admito, dentro de um determinado contexto, ambas as visões faziam sentido para o negócio.

Veja, já nos começo dos anos 80, Davis queria um estádio maior, de última geração, onde pudesse arrecadar mais receita com venda de ingressos e de camarotes luxuosos, além de poder negociar maiores verbas com os contratos de transmissão que a NFL liderava. Já Rozelle queria que o todo decidisse o destino da liga, não queria que o proprietário de um time tivesse a liberdade de decidir sozinho qual o melhor local para levar sua franquia e assim abrisse um precedente que certamente impactaria na identidade da liga e na tradição dos seus times - é como se ele quisesse impedir que, da noite para o dia, o Flamengo, sozinho, resolvesse mudar para São Paulo, deixando seus torcedores de décadas à 450 km de distância.

O fato é que nenhuma competição, dentro ou fora do campo, ajudou a moldar a NFL moderna tanto quanto esses embates de décadas entre Al Davis e Pete Rozelle e o documentário foi muito feliz em pontuar todos os detalhes e implicações dessa disputa profissional. Um detalhe interessante: a história é contada em primeira pessoa, e o diretor apostou em um conceito narrativo (e visual) que preservou os espíritos de Pete e Davis como protagonistas - como ambos já faleceram, foi usada a técnica de “deepfake” para coloca-los lado a lado mais uma vez. Embora a reinvenção possa não parecer real (e claramente essa não era a intenção), a montagem do próprio Rogers foi muito sensível e inteligente para equilibrar inúmeras imagens de arquivo com a naturalidade de um contador de histórias que olha para o passado e avalia sua importância no presente.

Vale muito a pena!

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Além da Vida

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

Assista Agora

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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Alias Grace

"Alias Grace" é uma minissérie do Netflix que conta a história de uma empregada doméstica (Sarah Gadon), imigrante da Irland, ,que foi condenada à prisão perpétua após ser acusada de ter planejado a morte de seu patrão Thomas Kinnear (Paul Gross) e de sua superior na casa em que trabalhava. Grace afirma não ter lembrança do assassinato, mas os fatos são irrefutáveis. Uma década depois, o Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft) tenta ajudar Grace a recordar seu passado e finalmente esclarecer o crime. O bacana (e surpreendente) é que a história foi inspirada em um caso real que aconteceu no século XIX. Confira o trailer:

Tecnicamente a série é impecável. A direção de Arte é muito detalhista e junto com uma Fotografia precisa (principalmente nos movimentos de câmera em primeira pessoa) dita um tom muito interessante para série e sem ser piegas.

Já aviso: não é uma série fácil. Ela parece lenta, um pouco arrastada com tantas narrações em Off, mas o roteiro é cheio de detalhes e muito (mas muito) bem construído. São seis episódios de uma história sem muitas reviravoltas, mas que surpreende pela coerência dos fatos sem a pretenção de esconder seu arco principal - que instiga pelas inúmeras possibilidades (ou razões) conforme vai se aproximando do final. Vale muito a pena pela produção, pela atuação da Sarah Gadon (olho nela) e pelo roteiro excelente!!!

Vale muito a pena!

PS: A história é baseada no romance da Margaret Atwood, a mesma da premiada "The Handmaid’s Tale

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"Alias Grace" é uma minissérie do Netflix que conta a história de uma empregada doméstica (Sarah Gadon), imigrante da Irland, ,que foi condenada à prisão perpétua após ser acusada de ter planejado a morte de seu patrão Thomas Kinnear (Paul Gross) e de sua superior na casa em que trabalhava. Grace afirma não ter lembrança do assassinato, mas os fatos são irrefutáveis. Uma década depois, o Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft) tenta ajudar Grace a recordar seu passado e finalmente esclarecer o crime. O bacana (e surpreendente) é que a história foi inspirada em um caso real que aconteceu no século XIX. Confira o trailer:

Tecnicamente a série é impecável. A direção de Arte é muito detalhista e junto com uma Fotografia precisa (principalmente nos movimentos de câmera em primeira pessoa) dita um tom muito interessante para série e sem ser piegas.

Já aviso: não é uma série fácil. Ela parece lenta, um pouco arrastada com tantas narrações em Off, mas o roteiro é cheio de detalhes e muito (mas muito) bem construído. São seis episódios de uma história sem muitas reviravoltas, mas que surpreende pela coerência dos fatos sem a pretenção de esconder seu arco principal - que instiga pelas inúmeras possibilidades (ou razões) conforme vai se aproximando do final. Vale muito a pena pela produção, pela atuação da Sarah Gadon (olho nela) e pelo roteiro excelente!!!

Vale muito a pena!

PS: A história é baseada no romance da Margaret Atwood, a mesma da premiada "The Handmaid’s Tale

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Allen contra Farrow

"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.

A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:

Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.

O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.

Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!

Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!

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"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.

A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:

Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.

O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.

Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!

Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!

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Alpha Dog

Por que "raios" eu não assisti esse filme antes? Provavelmente você vai se fazer a mesma pergunta assim que os créditos de "Alpha Dog" subirem - pode acreditar! Dirigido pelo experiente Nick Cassavetes (de "Um Ato de Coragem"), esse filme de 2006 é uma montanha-russa emocional que nos leva para uma jornada pelo submundo juvenil do final dos anos 90 na Califórnia para discutir como algumas decisões erradas resultam em consequências irreversíveis. Aqui temos uma narrativa tão intensa quanto algumas referências mais contemporâneas como "Breaking Bad", por exemplo, no entanto a habilidade de Cassavetes em capturar a complexidade das relações entre os personagens já naquela época, é de se aplaudir de pé. Embora não tenha recebido o reconhecimento que merecia, "Alpha Dog" é uma obra que hoje, em época de um true crime atrás do outro, certamente vai ressoar com muito mais propriedade para aqueles que buscam um drama real extremamente visceral. Se você gostou de filmes como "Kids" ou "Ken Park", você encontrará em "Alpha Dog" uma história poderosa e inquietante com o mesmo vigor!

Johnny Truelove (Emile Hirsch) e seus amigos sequestram o irmão de 15 anos de Jake Mazursky (Ben Foster), Zach (Anton Yelchin), como estratégia para fazer com que ele pague uma dívida de drogas. No entanto, ao designar Frankie (Justin Timberlake) para ser o guardião do garoto, as relações acabam se transformando e eles desenvolvem uma amizade quase fraternal, o que coloca todo plano de Truelove em cheque. Porém o crime de sequestro já está configurado, a policia está envolvida, então agora é preciso achar uma forma de sair dessa confusão sem ir direto para cadeia. Assista o trailer (em inglês):

Esse é o tipo do filme que o fato dele ser inspirado em eventos reais, sem dúvida, o coloca em outro patamar - pensar que tudo aquilo foi acontecendo daquela maneira, chega a ser angustiante. Reparem como o roteiro do próprio Cassavetes brinca com o desequilíbrio emocional dos jovens personagens nos convidando para um mergulho nas motivações e dilemas morais de cada um deles como se estivéssemos ao lado de amigos fazendo besteira - lembrando que o filme se passa em 1999, ou seja, quem nunca? A escolha de não retratar os eventos de maneira linear, mas sim através de diferentes perspectivas, acrescenta camadas à narrativa nos desafiando a questionar nossa própria compreensão sobre aqueles acontecimentos. Veja, não será uma ou duas vezes que você vai pensar como tudo aquilo poderia ser resolvido tão facilmente, e vai se irritar por atestar que ninguém é capaz de enxergar isso!

A força de "Alpha Dog" reside não apenas em sua narrativa intrigante, envolvente, provocadora; mas também na maestria técnica e artística com que Cassavetes constrói sua obra. A fotografia de Robert Fraisse (indicado ao Oscar por "O Amante") destaca-se por capturar a atmosfera crua e frenética da vida daqueles jovens que cresceram juntos, cheios de possibilidades, ricos (eu diria), mas que resolveram se envolver com o crime por achar cool. A trilha sonora é um elemento importante para essa geração MTV - no filme ela é repleta de músicas contemporâneas, o que amplifica a energia de um elenco impressionante que vai de Timberlake, passando pelas promissoras Olivia Wilde e Amanda Seyfried até chegar em uma Sharon Stone na melhor forma - o seu monólogo no terceiro ato, transformada pelos quilos a mais de maquiagem, é impressionante de bom!

"Alpha Dog" não é um filme fácil de ser digerido, mas sua intensidade e complexidade o tornam uma experiência das mais interessantes - essa proposta de transitar pelos meandros do crime e pela amizade entre os jovens que parecem boas pessoas, apenas ingênuos, chega a ser cruel. O roteiro sabe disso e de fato desafia nossos limites emocionais - existe um sentimento de "vai dar ruim" constante que mexe com a gente, por outro lado, ao apresentar uma visão brutal daquela juventude, fica impossível não refletir sobre o quanto as relações familiares impactam na vida dos filhos.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Por que "raios" eu não assisti esse filme antes? Provavelmente você vai se fazer a mesma pergunta assim que os créditos de "Alpha Dog" subirem - pode acreditar! Dirigido pelo experiente Nick Cassavetes (de "Um Ato de Coragem"), esse filme de 2006 é uma montanha-russa emocional que nos leva para uma jornada pelo submundo juvenil do final dos anos 90 na Califórnia para discutir como algumas decisões erradas resultam em consequências irreversíveis. Aqui temos uma narrativa tão intensa quanto algumas referências mais contemporâneas como "Breaking Bad", por exemplo, no entanto a habilidade de Cassavetes em capturar a complexidade das relações entre os personagens já naquela época, é de se aplaudir de pé. Embora não tenha recebido o reconhecimento que merecia, "Alpha Dog" é uma obra que hoje, em época de um true crime atrás do outro, certamente vai ressoar com muito mais propriedade para aqueles que buscam um drama real extremamente visceral. Se você gostou de filmes como "Kids" ou "Ken Park", você encontrará em "Alpha Dog" uma história poderosa e inquietante com o mesmo vigor!

Johnny Truelove (Emile Hirsch) e seus amigos sequestram o irmão de 15 anos de Jake Mazursky (Ben Foster), Zach (Anton Yelchin), como estratégia para fazer com que ele pague uma dívida de drogas. No entanto, ao designar Frankie (Justin Timberlake) para ser o guardião do garoto, as relações acabam se transformando e eles desenvolvem uma amizade quase fraternal, o que coloca todo plano de Truelove em cheque. Porém o crime de sequestro já está configurado, a policia está envolvida, então agora é preciso achar uma forma de sair dessa confusão sem ir direto para cadeia. Assista o trailer (em inglês):

Esse é o tipo do filme que o fato dele ser inspirado em eventos reais, sem dúvida, o coloca em outro patamar - pensar que tudo aquilo foi acontecendo daquela maneira, chega a ser angustiante. Reparem como o roteiro do próprio Cassavetes brinca com o desequilíbrio emocional dos jovens personagens nos convidando para um mergulho nas motivações e dilemas morais de cada um deles como se estivéssemos ao lado de amigos fazendo besteira - lembrando que o filme se passa em 1999, ou seja, quem nunca? A escolha de não retratar os eventos de maneira linear, mas sim através de diferentes perspectivas, acrescenta camadas à narrativa nos desafiando a questionar nossa própria compreensão sobre aqueles acontecimentos. Veja, não será uma ou duas vezes que você vai pensar como tudo aquilo poderia ser resolvido tão facilmente, e vai se irritar por atestar que ninguém é capaz de enxergar isso!

A força de "Alpha Dog" reside não apenas em sua narrativa intrigante, envolvente, provocadora; mas também na maestria técnica e artística com que Cassavetes constrói sua obra. A fotografia de Robert Fraisse (indicado ao Oscar por "O Amante") destaca-se por capturar a atmosfera crua e frenética da vida daqueles jovens que cresceram juntos, cheios de possibilidades, ricos (eu diria), mas que resolveram se envolver com o crime por achar cool. A trilha sonora é um elemento importante para essa geração MTV - no filme ela é repleta de músicas contemporâneas, o que amplifica a energia de um elenco impressionante que vai de Timberlake, passando pelas promissoras Olivia Wilde e Amanda Seyfried até chegar em uma Sharon Stone na melhor forma - o seu monólogo no terceiro ato, transformada pelos quilos a mais de maquiagem, é impressionante de bom!

"Alpha Dog" não é um filme fácil de ser digerido, mas sua intensidade e complexidade o tornam uma experiência das mais interessantes - essa proposta de transitar pelos meandros do crime e pela amizade entre os jovens que parecem boas pessoas, apenas ingênuos, chega a ser cruel. O roteiro sabe disso e de fato desafia nossos limites emocionais - existe um sentimento de "vai dar ruim" constante que mexe com a gente, por outro lado, ao apresentar uma visão brutal daquela juventude, fica impossível não refletir sobre o quanto as relações familiares impactam na vida dos filhos.

Vale muito o seu play!

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Altos Negócios

"Altos Negócios" é uma espécie de "Shiny Flakes" do golpe imobiliário e embora um seja ficção e o outro documentário, os elementos narrativos são praticamente idênticos e, por coincidência, ambas as produções são alemãs. Embora nenhum dos dois títulos sejam inesquecíveis, é impossível negar que além de curiosos, estamos falando de ótimos entretenimentos onde as discussões morais são completamente substituídas por sensações bastante peculiares - então não se assuste se, mais uma vez, você estiver torcendo para os "bandidos"!

"Altos Negócios" conta a história de Viktor Stein (David Kross), um garoto que deixa a casa de seu pai e parte para a cidade grande para se tornar um empresário de sucesso. Não demora muito para que o rapaz descubra que precisa quebrar algumas regras e assim se infiltrar em um ramo disputado como o imobiliário. Após uma parceria inesperada com o malandro Gerry Falkland (Frederick Lau) e a bancária Nicole Kleber (Janina Uhse), Stein entra em uma jornada repleta de dinheiro, glamour, álcool e drogas que não demora para fugir do seu controle. Confira o trailer (dublado):

Se em "Breaking Bad" aprendemos a olhar as motivações dos personagens por um outro ponto de vista e assim colocar em julgamento suas atitudes com a desculpa que o "fim" pode justificar os "meios", nessa produção alemã voltamos justamente para essa interpretação. O roteiro deCüneyt Kaya, que também assina a direção, parece ter uma certa dificuldade em assumir que Viktor pode ser corrompido, deixando sempre uma leve impressão de que o rapaz tem um bom coração, ou seja, mesmo sendo um mau-caráter, Viktor parece sofrer com certo arrependimento e que em algum momento isso poderá se tornar sua redenção. Dito isso, o filme me soou conformista demais, como se não tivesse coragem para expor o mal que um personagem como esse pode causar para a sociedade - e a mesma critica se extende para o próprio "Shiny Flakes".

Embora completamente linear e seguro dessa postura narrativa, é impossível não se envolver com as falcatruas do protagonista (e de seus parceiros) e assim desfrutar do sucesso e da vingança perante o "sistema" (em algum momento do filme você vai escutar exatamente isso). Será natural uma leve lembrança com o estilo e a ambientação de "O Lobo de Wall Street" - a edição ágil intercalada com a narrativa focada no ponto de vista do protagonista colabora com essa memória (quase) emotiva, mas as semelhanças tendem a parar por aí - no contexto e na qualidade como obra.

"Altos Negócios" perdeu a oportunidade de mergulhar na ganância e na maneira egocêntrica como esses tipos de personagens enxergam o mundo (como assistimos recentemente em "A Bad Boy Billionaires"), por outro lado entregou um filme dinâmico, sem muita enrolação, divertido e honesto. Muito bem produzido, dirigido e fotografado pelo Sebastian Bäumler, que construiu sua carreira nos documentários, "Betonrausch" (título original) é uma ótima recomendação para quem gosta de tramas realistas e subvertidas na linha de "Ozark" ou de "O Primeiro Milhão".

Vale o play!

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"Altos Negócios" é uma espécie de "Shiny Flakes" do golpe imobiliário e embora um seja ficção e o outro documentário, os elementos narrativos são praticamente idênticos e, por coincidência, ambas as produções são alemãs. Embora nenhum dos dois títulos sejam inesquecíveis, é impossível negar que além de curiosos, estamos falando de ótimos entretenimentos onde as discussões morais são completamente substituídas por sensações bastante peculiares - então não se assuste se, mais uma vez, você estiver torcendo para os "bandidos"!

"Altos Negócios" conta a história de Viktor Stein (David Kross), um garoto que deixa a casa de seu pai e parte para a cidade grande para se tornar um empresário de sucesso. Não demora muito para que o rapaz descubra que precisa quebrar algumas regras e assim se infiltrar em um ramo disputado como o imobiliário. Após uma parceria inesperada com o malandro Gerry Falkland (Frederick Lau) e a bancária Nicole Kleber (Janina Uhse), Stein entra em uma jornada repleta de dinheiro, glamour, álcool e drogas que não demora para fugir do seu controle. Confira o trailer (dublado):

Se em "Breaking Bad" aprendemos a olhar as motivações dos personagens por um outro ponto de vista e assim colocar em julgamento suas atitudes com a desculpa que o "fim" pode justificar os "meios", nessa produção alemã voltamos justamente para essa interpretação. O roteiro deCüneyt Kaya, que também assina a direção, parece ter uma certa dificuldade em assumir que Viktor pode ser corrompido, deixando sempre uma leve impressão de que o rapaz tem um bom coração, ou seja, mesmo sendo um mau-caráter, Viktor parece sofrer com certo arrependimento e que em algum momento isso poderá se tornar sua redenção. Dito isso, o filme me soou conformista demais, como se não tivesse coragem para expor o mal que um personagem como esse pode causar para a sociedade - e a mesma critica se extende para o próprio "Shiny Flakes".

Embora completamente linear e seguro dessa postura narrativa, é impossível não se envolver com as falcatruas do protagonista (e de seus parceiros) e assim desfrutar do sucesso e da vingança perante o "sistema" (em algum momento do filme você vai escutar exatamente isso). Será natural uma leve lembrança com o estilo e a ambientação de "O Lobo de Wall Street" - a edição ágil intercalada com a narrativa focada no ponto de vista do protagonista colabora com essa memória (quase) emotiva, mas as semelhanças tendem a parar por aí - no contexto e na qualidade como obra.

"Altos Negócios" perdeu a oportunidade de mergulhar na ganância e na maneira egocêntrica como esses tipos de personagens enxergam o mundo (como assistimos recentemente em "A Bad Boy Billionaires"), por outro lado entregou um filme dinâmico, sem muita enrolação, divertido e honesto. Muito bem produzido, dirigido e fotografado pelo Sebastian Bäumler, que construiu sua carreira nos documentários, "Betonrausch" (título original) é uma ótima recomendação para quem gosta de tramas realistas e subvertidas na linha de "Ozark" ou de "O Primeiro Milhão".

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Amanda Knox

O documentário "Amanda Knox" é aquele típico "True Crime" raiz que, fosse uma antologia, poderia tranquilamente ser a história de uma temporada de "Making a Murderer". Lançado em 2016, essa produção original da Netflix explora o infame caso envolvendo Amanda Knox, uma estudante americana acusada do assassinato de sua colega de quarto britânica, Meredith Kercher, na cidade italiana de Perugia, em 2007. O documentário, dirigido por Rod Blackhurst (de "Here Alone") e Brian McGinn (uma das mentes criativas por trás de "Chef's Table"), oferece uma visão abrangente do caso, apresentando diferentes perspectivas e evidências que cercaram o julgamento e a condenação inicial de Knox.

O filme utiliza uma abordagem bastante equilibrada para explorar os eventos em torno do crime e fornecer uma análise dos principais pontos de vista dos envolvidos. Ele apresenta entrevistas com a própria Amanda Knox, com seu ex-namorado, o italiano Raffaele Sollecito, jornalistas, advogados e familiares das vítimas. Essa variedade de perspectivas contribui para uma narrativa complexa e envolvente, porém dinâmica, permitindo que a audiência compreenda as várias camadas desse caso absurdo. Confira o trailer:

A estrutura narrativa de "Amanda Knox" é habilmente construída, alternando entre a cronologia dos eventos e as entrevistas atuais, proporcionando uma compreensão aprofundada dos personagens e das circunstâncias da época. As simulações dos acontecimentos são bem realizadas dentro desse contexto mais, digamos, "raiz" do projeto - o que funciona perfeitamente para transmitir a atmosfera tensa que cercou o caso em 2007.

É muito fácil perceber no entanto, que uma das principais forças do documentário é sua capacidade de questionar a investigação e o sistema judicial italiano. O roteiro foi muito feliz em levantar algumas dúvidas sobre a validade das evidências e a maneira como foram coletadas, destacando as falhas do processo legal que levaram à condenação inicial de Knox e Sollecito. Essa abordagem crítica provoca reflexões sobre a imparcialidade em casos de grande repercussão midiática - e aqui cabe um comentário: fosse eu professor de jornalismo, passaria esse documentário logo na primeira aula só para mostrar o que NÃO se deve fazer ao cobrir um evento como esse. Mais uma vez o jornalismo inglês virando case de imbecilidade!

Ao analisar o papel da mídia na construção da narrativa em torno do caso, o documentário destaca como a cobertura sensacionalista e as especulações da imprensa influenciaram a opinião pública e moldaram a percepção de Knox como uma figura polarizadora. Essa exploração da relação entre mídia e justiça fornece uma crítica importante ao sensacionalismo e à falta de objetividade na cobertura jornalística. O fato é que, independentemente das opiniões sobre a culpabilidade ou inocência de Amanda Knox, o filme proporciona uma experiência instigante para a audiência amante desse gênero, que na época de seu lançamento, apenas engatinhava.

Vale muito o play!

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O documentário "Amanda Knox" é aquele típico "True Crime" raiz que, fosse uma antologia, poderia tranquilamente ser a história de uma temporada de "Making a Murderer". Lançado em 2016, essa produção original da Netflix explora o infame caso envolvendo Amanda Knox, uma estudante americana acusada do assassinato de sua colega de quarto britânica, Meredith Kercher, na cidade italiana de Perugia, em 2007. O documentário, dirigido por Rod Blackhurst (de "Here Alone") e Brian McGinn (uma das mentes criativas por trás de "Chef's Table"), oferece uma visão abrangente do caso, apresentando diferentes perspectivas e evidências que cercaram o julgamento e a condenação inicial de Knox.

O filme utiliza uma abordagem bastante equilibrada para explorar os eventos em torno do crime e fornecer uma análise dos principais pontos de vista dos envolvidos. Ele apresenta entrevistas com a própria Amanda Knox, com seu ex-namorado, o italiano Raffaele Sollecito, jornalistas, advogados e familiares das vítimas. Essa variedade de perspectivas contribui para uma narrativa complexa e envolvente, porém dinâmica, permitindo que a audiência compreenda as várias camadas desse caso absurdo. Confira o trailer:

A estrutura narrativa de "Amanda Knox" é habilmente construída, alternando entre a cronologia dos eventos e as entrevistas atuais, proporcionando uma compreensão aprofundada dos personagens e das circunstâncias da época. As simulações dos acontecimentos são bem realizadas dentro desse contexto mais, digamos, "raiz" do projeto - o que funciona perfeitamente para transmitir a atmosfera tensa que cercou o caso em 2007.

É muito fácil perceber no entanto, que uma das principais forças do documentário é sua capacidade de questionar a investigação e o sistema judicial italiano. O roteiro foi muito feliz em levantar algumas dúvidas sobre a validade das evidências e a maneira como foram coletadas, destacando as falhas do processo legal que levaram à condenação inicial de Knox e Sollecito. Essa abordagem crítica provoca reflexões sobre a imparcialidade em casos de grande repercussão midiática - e aqui cabe um comentário: fosse eu professor de jornalismo, passaria esse documentário logo na primeira aula só para mostrar o que NÃO se deve fazer ao cobrir um evento como esse. Mais uma vez o jornalismo inglês virando case de imbecilidade!

Ao analisar o papel da mídia na construção da narrativa em torno do caso, o documentário destaca como a cobertura sensacionalista e as especulações da imprensa influenciaram a opinião pública e moldaram a percepção de Knox como uma figura polarizadora. Essa exploração da relação entre mídia e justiça fornece uma crítica importante ao sensacionalismo e à falta de objetividade na cobertura jornalística. O fato é que, independentemente das opiniões sobre a culpabilidade ou inocência de Amanda Knox, o filme proporciona uma experiência instigante para a audiência amante desse gênero, que na época de seu lançamento, apenas engatinhava.

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Amante, Stalker e Mortal

Essa é um história impressionante, eu diria, inclusive, que beira o absurdo, mas que os apaixonados por true crime vão se deliciar. É Inegável que em plena era digital, as relações interpessoais foram completamente remodeladas, no entanto os perigos do mundo real não só persistem, como foram potencializadas - é o que revela esse instigante documentário da Netflix que vem chamando a atenção de muita gente desde seu lançamento. "Amante, Stalker e Mortal", dirigido pelo Sam Hobkinson (de "Os Cleptocratas"), não inova na narrativa e muito menos na sua proposta visual, no entanto usa e abusa de todas as ferramentas desse sub-gênero para explorar as relações humanas pela perspectiva da obsessão - aquela capaz de transformar uma relação casual em um longo pesadelo com consequências devastadoras.

Dave é um pai de família recém divorciado que buscava um relacionamento casual em apps para solteiros, até que ele se vê em uma espécie de triângulo amoroso com duas mulheres: Liz e Cari. O que parecia ser uma aventura passageira se transforma em um inferno quando uma delas, obcecada por Dave, se torna uma espécie stalker ao melhor estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Mulher Solteira Procura". "Amante, Stalker e Mortal" acompanha em retrospectiva, justamente, a trajetória de Dave, desde o início desses relacionamentos até seu final surpreendente para uma história real, revelando os mecanismos da obsessão e da fragilidade das relações modernas. Confira o trailer (em inglês):

Embora "Amante, Stalker e Mortal" soe como mais um daqueles podcasts de true crime que ganharam tanta relevância nos EUA nos últimos anos, é preciso dizer que Hobkinson é muito competente ao conduzir a narrativa dessa versão documental para TV com muita maestria, já que ele utiliza entrevistas atuais com os envolvidos, sempre ilustrando com imagens reais, ou com aquelas encenações que, é verdade, acabam construindo um retrato vívido, multifacetado e detalhado do caso.

Com a ajuda desses elementos narrativos que aproximam o documentário da ficção (e aqui a história por si só já se encaixa perfeitamente para o desenvolvimento desse conceito), "Amante, Stalker e Mortal" transcende os bastidores da investigação policial para lançar uma certa luz sobre os perigos do mundo virtual e as consequências de cruzar com uma pessoa obsessiva em seu mais alto grau de loucura - é quase impossível você não se colocar no lugar da vítima tamanha furada que o cara entrou. Sabendo dessa relação empática que a audiência vai estabelecendo com o protagonista, Hobkinson usa de todas os gatilhos emocionais para deixar sua narrativa ainda mais envolvente - a trilha sonora, por exemplo, intensifica a atmosfera de suspense, enquanto sua edição mais ágil acaba prendendo nossa atenção até quando a história parece ficar desinteressante.

Agora é preciso alinhar as expectativas, já que "Amante, Stalker e Mortal" não vai se tornar seu true crime preferido - lugar que "Making a Murderer"ou "The Jinx" já deveriam ocupar. No entanto, para quem gosta de documentários mais intrigantes e até perturbadores pela sua proximidade com as relações de hoje, eu atesto que essa é mesmo uma obra que nos faz pensar duas vezes antes de dar o próximo like, ou deslizar para direita. Veja, por trás da tela, existem pessoas reais com suas fragilidades e obsessões que desconhecemos e aqui temos a exata noção de como nossas percepções sobre as relações online podem ser completamente transformadas - é um alerta em forma de soco no estômago, que nos faz questionar a segurança de nossas interações e a dificuldade de conhecer a real identidade das pessoas com quem conversamos através de um app.

Vale seu play! 

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Essa é um história impressionante, eu diria, inclusive, que beira o absurdo, mas que os apaixonados por true crime vão se deliciar. É Inegável que em plena era digital, as relações interpessoais foram completamente remodeladas, no entanto os perigos do mundo real não só persistem, como foram potencializadas - é o que revela esse instigante documentário da Netflix que vem chamando a atenção de muita gente desde seu lançamento. "Amante, Stalker e Mortal", dirigido pelo Sam Hobkinson (de "Os Cleptocratas"), não inova na narrativa e muito menos na sua proposta visual, no entanto usa e abusa de todas as ferramentas desse sub-gênero para explorar as relações humanas pela perspectiva da obsessão - aquela capaz de transformar uma relação casual em um longo pesadelo com consequências devastadoras.

Dave é um pai de família recém divorciado que buscava um relacionamento casual em apps para solteiros, até que ele se vê em uma espécie de triângulo amoroso com duas mulheres: Liz e Cari. O que parecia ser uma aventura passageira se transforma em um inferno quando uma delas, obcecada por Dave, se torna uma espécie stalker ao melhor estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Mulher Solteira Procura". "Amante, Stalker e Mortal" acompanha em retrospectiva, justamente, a trajetória de Dave, desde o início desses relacionamentos até seu final surpreendente para uma história real, revelando os mecanismos da obsessão e da fragilidade das relações modernas. Confira o trailer (em inglês):

Embora "Amante, Stalker e Mortal" soe como mais um daqueles podcasts de true crime que ganharam tanta relevância nos EUA nos últimos anos, é preciso dizer que Hobkinson é muito competente ao conduzir a narrativa dessa versão documental para TV com muita maestria, já que ele utiliza entrevistas atuais com os envolvidos, sempre ilustrando com imagens reais, ou com aquelas encenações que, é verdade, acabam construindo um retrato vívido, multifacetado e detalhado do caso.

Com a ajuda desses elementos narrativos que aproximam o documentário da ficção (e aqui a história por si só já se encaixa perfeitamente para o desenvolvimento desse conceito), "Amante, Stalker e Mortal" transcende os bastidores da investigação policial para lançar uma certa luz sobre os perigos do mundo virtual e as consequências de cruzar com uma pessoa obsessiva em seu mais alto grau de loucura - é quase impossível você não se colocar no lugar da vítima tamanha furada que o cara entrou. Sabendo dessa relação empática que a audiência vai estabelecendo com o protagonista, Hobkinson usa de todas os gatilhos emocionais para deixar sua narrativa ainda mais envolvente - a trilha sonora, por exemplo, intensifica a atmosfera de suspense, enquanto sua edição mais ágil acaba prendendo nossa atenção até quando a história parece ficar desinteressante.

Agora é preciso alinhar as expectativas, já que "Amante, Stalker e Mortal" não vai se tornar seu true crime preferido - lugar que "Making a Murderer"ou "The Jinx" já deveriam ocupar. No entanto, para quem gosta de documentários mais intrigantes e até perturbadores pela sua proximidade com as relações de hoje, eu atesto que essa é mesmo uma obra que nos faz pensar duas vezes antes de dar o próximo like, ou deslizar para direita. Veja, por trás da tela, existem pessoas reais com suas fragilidades e obsessões que desconhecemos e aqui temos a exata noção de como nossas percepções sobre as relações online podem ser completamente transformadas - é um alerta em forma de soco no estômago, que nos faz questionar a segurança de nossas interações e a dificuldade de conhecer a real identidade das pessoas com quem conversamos através de um app.

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American Crime Story - 1ª Temporada

“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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