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Bar Doce Lar

"Bar Doce Lar" (ou de "The Tender Bar" no original) é o belíssimo novo filme dirigido por George Clooney que trata, com muita sensibilidade, as marcas que a ausência de um pai pode deixar no seu filho - mesmo que esse espaço seja preenchido com muito amor, atenção e dedicação pela mãe e por outra referência masculina. Para quem gosta de filmes sobre relações familiares, reflexivos e nada superficiais, "Bar Doce Lar" é um convite para quase 120 minutos de uma história interessante, cheia de camadas, mas principalmente, contada com honestidade e sem romantismo.

Baseado no livro de memórias de sucesso deJ. R. Moehringer, "Bar Doce Lar" segue um aspirante a escritor (Tye Sheridan) na busca pelos seus sonhos profissionais enquanto precisa lidar com sua insegurança perante uma vida que insiste em dificultar as coisas para ele. A partir de uma relação carinhosa (e de muito significado) com seu tio Charlie (Ben Affleck), J.R. se conecta com um mundo novo, cheio de possibilidades, de personagens e de histórias, onde ele aprende o real significado do amadurecimento e entende que para crescer será preciso enfrentar as angustias e as decepções sob uma outra perspectiva. Confira o trailer em inglês:

Talvez "Bar Doce Lar" não seja tão impactante quanto "Era uma vez um sonho" ou "O Castelo de Vidro", mas os elementos narrativos que guiam esses dois outros filmes imperdíveis, são basicamente os mesmos aqui. Isso traz uma certa sensação de falta de originalidade, mas ao mesmo tempo nos coloca diante de outra história que tende a nos provocar um olhar para dentro e discutir um assunto tão sensível como as dores que a ausência pode nos causar.

Clooney, em seu oitavo trabalho na direção, foi muito feliz em trabalhar as dualidades da história de uma forma quase imperceptível, mas completamente analítica do ponto de vista psicológico do protagonista. Vamos citar alguns signos para que você se atente e reflita durante o filme: quando criança J.R. se relaciona com o pai ausente apenas pelo rádio, chegando a nomina-lo como "A Voz", ao mesmo tempo, ele tem enorme dificuldade de se expressar pela fala, se apoiando na escrita para construir sua relação com o mundo. Sua mãe (Lily Rabe) sofre por ter que voltar a viver com os pais, mas J.R. não vê a menor dificuldade em chamar aquele ambiente caótico (pelo número de pessoas que moram ali) de lar. A história discute a ausência, enquanto J.R. insiste em dizer que gosta de estar com pessoas. Enquanto estuda em YALE onde adquire conhecimento acadêmico, o protagonista percebe que é no Bar do Tio, o "The Dickens", que ele realmente aprende a enfrentar as dificuldades da vida, e por aí vai...

O roteiro de William Monahan (vencedor do Oscar em 2006 com "Os Infiltrados") teve a difícil tarefa de adaptar uma longa biografia, mas foi cirúrgico em focar no processo de reencontro do protagonista com sua história de vida, mesmo que para isso tivesse que enfrentar seu maior fantasma: a já citada "ausência". Essa escolha conceitual, de fato, deixa o filme lento, bastante cadenciado, pontuando algumas passagens de forma até superficial para priorizar como isso refletiu no desafio interno de J. R. Moehringer e assim entender como essas situações serviram de combustível para ele encontrar seu caminho.

Veja, "Bar Doce Lar" não é um entretenimento usual, mas também não é um filme difícil ou denso demais como o assunto parece sugerir. Existe um tom de leveza, até por uma identificação imediata com o protagonista, nos dois períodos de sua vida (interpretados por Daniel Ranieri e depois por Tye Sheridan), e sua simpática relação com o tio Charlie de Affleck - mostrando mais uma vez que quando está com vontade, ele realmente é um ótimo ator (e que pode surpreender com uma indicação ao Oscar). Essas performances trazem para história uma certa atmosfera de nostalgia e isso nos ajuda a embarcar nas descobertas de J.R., transformando uma história de vida como muitas que conhecemos em uma jornada sensível, emocionante e muito honesta.

Vale seu play!

Assista Agora

"Bar Doce Lar" (ou de "The Tender Bar" no original) é o belíssimo novo filme dirigido por George Clooney que trata, com muita sensibilidade, as marcas que a ausência de um pai pode deixar no seu filho - mesmo que esse espaço seja preenchido com muito amor, atenção e dedicação pela mãe e por outra referência masculina. Para quem gosta de filmes sobre relações familiares, reflexivos e nada superficiais, "Bar Doce Lar" é um convite para quase 120 minutos de uma história interessante, cheia de camadas, mas principalmente, contada com honestidade e sem romantismo.

Baseado no livro de memórias de sucesso deJ. R. Moehringer, "Bar Doce Lar" segue um aspirante a escritor (Tye Sheridan) na busca pelos seus sonhos profissionais enquanto precisa lidar com sua insegurança perante uma vida que insiste em dificultar as coisas para ele. A partir de uma relação carinhosa (e de muito significado) com seu tio Charlie (Ben Affleck), J.R. se conecta com um mundo novo, cheio de possibilidades, de personagens e de histórias, onde ele aprende o real significado do amadurecimento e entende que para crescer será preciso enfrentar as angustias e as decepções sob uma outra perspectiva. Confira o trailer em inglês:

Talvez "Bar Doce Lar" não seja tão impactante quanto "Era uma vez um sonho" ou "O Castelo de Vidro", mas os elementos narrativos que guiam esses dois outros filmes imperdíveis, são basicamente os mesmos aqui. Isso traz uma certa sensação de falta de originalidade, mas ao mesmo tempo nos coloca diante de outra história que tende a nos provocar um olhar para dentro e discutir um assunto tão sensível como as dores que a ausência pode nos causar.

Clooney, em seu oitavo trabalho na direção, foi muito feliz em trabalhar as dualidades da história de uma forma quase imperceptível, mas completamente analítica do ponto de vista psicológico do protagonista. Vamos citar alguns signos para que você se atente e reflita durante o filme: quando criança J.R. se relaciona com o pai ausente apenas pelo rádio, chegando a nomina-lo como "A Voz", ao mesmo tempo, ele tem enorme dificuldade de se expressar pela fala, se apoiando na escrita para construir sua relação com o mundo. Sua mãe (Lily Rabe) sofre por ter que voltar a viver com os pais, mas J.R. não vê a menor dificuldade em chamar aquele ambiente caótico (pelo número de pessoas que moram ali) de lar. A história discute a ausência, enquanto J.R. insiste em dizer que gosta de estar com pessoas. Enquanto estuda em YALE onde adquire conhecimento acadêmico, o protagonista percebe que é no Bar do Tio, o "The Dickens", que ele realmente aprende a enfrentar as dificuldades da vida, e por aí vai...

O roteiro de William Monahan (vencedor do Oscar em 2006 com "Os Infiltrados") teve a difícil tarefa de adaptar uma longa biografia, mas foi cirúrgico em focar no processo de reencontro do protagonista com sua história de vida, mesmo que para isso tivesse que enfrentar seu maior fantasma: a já citada "ausência". Essa escolha conceitual, de fato, deixa o filme lento, bastante cadenciado, pontuando algumas passagens de forma até superficial para priorizar como isso refletiu no desafio interno de J. R. Moehringer e assim entender como essas situações serviram de combustível para ele encontrar seu caminho.

Veja, "Bar Doce Lar" não é um entretenimento usual, mas também não é um filme difícil ou denso demais como o assunto parece sugerir. Existe um tom de leveza, até por uma identificação imediata com o protagonista, nos dois períodos de sua vida (interpretados por Daniel Ranieri e depois por Tye Sheridan), e sua simpática relação com o tio Charlie de Affleck - mostrando mais uma vez que quando está com vontade, ele realmente é um ótimo ator (e que pode surpreender com uma indicação ao Oscar). Essas performances trazem para história uma certa atmosfera de nostalgia e isso nos ajuda a embarcar nas descobertas de J.R., transformando uma história de vida como muitas que conhecemos em uma jornada sensível, emocionante e muito honesta.

Vale seu play!

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Barry

"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

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"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

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Bastardos Inglórios

"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Bastidores do Pop

"Bastidores do Pop" é um mistura de "Fyre Festival", "Menudo: Sempre Jovens" e "Bernie Madoff"! É sério, essa minissérie documental da Netflix oferece uma visão reveladora e chocante sobre a ascensão e queda de Lou Pearlman, o magnata da música responsável por criar algumas das maiores boy-bands dos anos 90, incluindo Backstreet Boys, *NSYNC e O-Town. Em apenas três episódios somos convidados a mergulhar fundo nos bastidores da indústria musical, expondo os esquemas e as fraudes que Pearlman arquitetou, ao mesmo tempo em que explora o impacto devastador de suas ações sobre os artistas e milhares de pessoas que caíram em seus golpes.

"Dirty Pop: The Boy Band Scam" (no original) é estruturada de maneira cronológica, apresentando Lou Pearlman como empresário da aviação, depois mostrando sua entrada na indústria musical através de sua habilidade inegável para descobrir e promover jovens talentos, até a descoberta de um dos maiores esquemas Ponzi da história dos EUA. Pearlman, em entrevistas e imagens de arquivo, é apresentado como um empresário carismático e visionário, mas também como um manipulador astuto e sem escrúpulos. A minissérie documenta a formação e o sucesso meteórico das boy-bands sob sua tutela, ao mesmo tempo em que revela os contratos draconianos e os golpes financeiros que acabaram por destruir sua carreira e a confiança de seus jovens artistas. Confira o trailer (em inglês):

Como não poderia deixar de ser, são os depoimentos dos membros das boy-bands que Pearlman empresariou que, de fato, causam impacto. Artistas como Lance Bass (*NSYNC) e AJ McLean (Backstreet Boys) compartilham suas experiências pessoais, desde o entusiasmo inicial de serem descobertos até a amarga desilusão ao perceberem a extensão da exploração que sofriam - esses relatos adicionam uma camada de profundidade emocional à narrativa impressionante. Nesse sentido o roteiro de "Bastidores do Pop" é cuidadosamente escrito para capturar tanto a grandiosidade de se criar fenômenos da música jovem quanto uma certa sordidez da trajetória de Pearlman. O documentário equilibra habilmente o glamour e o brilho da indústria musical, com a realidade sombria dos esquemas e manipulações financeiras que o empresário conduzia debaixo dos panos.

David Terry Fine (do excelente "Untold - a namorada que não existiu") dirige a minissérie com uma abordagem honesta e direta, combinando entrevistas com os membros das bandas, executivos da indústria musical, jornalistas especializados e outras pessoas próximas ao escândalo - alguns amigos e parceiros de Pearlman, inclusive, não economizam em suas duras opiniões. As entrevistas são realmente sinceras por um lado e emocionantes por outro, oferecendo um recorte bem provocador sobre os efeitos de todas as ações do empresário em diversos níveis de relacionamentos - do profissional ao pessoal. Nesse sentido a direção de Fine é sensível e meticulosa, capaz de entregar uma narrativa tão coesa e envolvente como todas as referências que citei acima, mas sem impor qualquer tipo de julgamento prévio.

"Bastidores do Pop" também aborda temas como a exploração, a ganância e a busca pelo sucesso a qualquer custo, pautado em uma crítica incisiva da indústria musical e dos mecanismos que permitiram que Pearlman operasse impunemente por tanto tempo. Ao som de músicas icônicas das boy-bands dos anos 90, a minissérie brinca com nossa percepção de "certo e errado" ao trazer uma sensação de nostalgia e contraste sobre os eventos sombrios da história, intensificando esse impacto emocional e nos envolvendo por toda jornada.

Antes de finalizar, um registro importante: uma decisão conceitual do diretor pode incomodar alguns já que ele usa inteligência artificial para criar um “Pearlman digital” narrando trechos de seu livro - embora os produtores sejam transparentes sobre o uso da tecnologia, essa escolha me pareceu duvidosa, mas fique tranquilo, não ao ponto de impactar nossa experiência como audiência.

Vale seu play!

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"Bastidores do Pop" é um mistura de "Fyre Festival", "Menudo: Sempre Jovens" e "Bernie Madoff"! É sério, essa minissérie documental da Netflix oferece uma visão reveladora e chocante sobre a ascensão e queda de Lou Pearlman, o magnata da música responsável por criar algumas das maiores boy-bands dos anos 90, incluindo Backstreet Boys, *NSYNC e O-Town. Em apenas três episódios somos convidados a mergulhar fundo nos bastidores da indústria musical, expondo os esquemas e as fraudes que Pearlman arquitetou, ao mesmo tempo em que explora o impacto devastador de suas ações sobre os artistas e milhares de pessoas que caíram em seus golpes.

"Dirty Pop: The Boy Band Scam" (no original) é estruturada de maneira cronológica, apresentando Lou Pearlman como empresário da aviação, depois mostrando sua entrada na indústria musical através de sua habilidade inegável para descobrir e promover jovens talentos, até a descoberta de um dos maiores esquemas Ponzi da história dos EUA. Pearlman, em entrevistas e imagens de arquivo, é apresentado como um empresário carismático e visionário, mas também como um manipulador astuto e sem escrúpulos. A minissérie documenta a formação e o sucesso meteórico das boy-bands sob sua tutela, ao mesmo tempo em que revela os contratos draconianos e os golpes financeiros que acabaram por destruir sua carreira e a confiança de seus jovens artistas. Confira o trailer (em inglês):

Como não poderia deixar de ser, são os depoimentos dos membros das boy-bands que Pearlman empresariou que, de fato, causam impacto. Artistas como Lance Bass (*NSYNC) e AJ McLean (Backstreet Boys) compartilham suas experiências pessoais, desde o entusiasmo inicial de serem descobertos até a amarga desilusão ao perceberem a extensão da exploração que sofriam - esses relatos adicionam uma camada de profundidade emocional à narrativa impressionante. Nesse sentido o roteiro de "Bastidores do Pop" é cuidadosamente escrito para capturar tanto a grandiosidade de se criar fenômenos da música jovem quanto uma certa sordidez da trajetória de Pearlman. O documentário equilibra habilmente o glamour e o brilho da indústria musical, com a realidade sombria dos esquemas e manipulações financeiras que o empresário conduzia debaixo dos panos.

David Terry Fine (do excelente "Untold - a namorada que não existiu") dirige a minissérie com uma abordagem honesta e direta, combinando entrevistas com os membros das bandas, executivos da indústria musical, jornalistas especializados e outras pessoas próximas ao escândalo - alguns amigos e parceiros de Pearlman, inclusive, não economizam em suas duras opiniões. As entrevistas são realmente sinceras por um lado e emocionantes por outro, oferecendo um recorte bem provocador sobre os efeitos de todas as ações do empresário em diversos níveis de relacionamentos - do profissional ao pessoal. Nesse sentido a direção de Fine é sensível e meticulosa, capaz de entregar uma narrativa tão coesa e envolvente como todas as referências que citei acima, mas sem impor qualquer tipo de julgamento prévio.

"Bastidores do Pop" também aborda temas como a exploração, a ganância e a busca pelo sucesso a qualquer custo, pautado em uma crítica incisiva da indústria musical e dos mecanismos que permitiram que Pearlman operasse impunemente por tanto tempo. Ao som de músicas icônicas das boy-bands dos anos 90, a minissérie brinca com nossa percepção de "certo e errado" ao trazer uma sensação de nostalgia e contraste sobre os eventos sombrios da história, intensificando esse impacto emocional e nos envolvendo por toda jornada.

Antes de finalizar, um registro importante: uma decisão conceitual do diretor pode incomodar alguns já que ele usa inteligência artificial para criar um “Pearlman digital” narrando trechos de seu livro - embora os produtores sejam transparentes sobre o uso da tecnologia, essa escolha me pareceu duvidosa, mas fique tranquilo, não ao ponto de impactar nossa experiência como audiência.

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Batalha Bilionária

Batalha Bilionária

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.

Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há mais de 25 anos atrás. Confira o trailer:

Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss. 

Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.

As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!

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"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.

Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há mais de 25 anos atrás. Confira o trailer:

Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss. 

Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.

As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!

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Bebê Rena

Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

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Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

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Beckham

Nesse vasto universo do entretenimento, existem histórias que realmente transcendem o nicho ao qual pertencem e é aqui, mais uma vez, que a vida imita a arte! "Beckham", minissérie de 4 episódios sobre a vida e carreira do astro David Beckham, é uma dessas pérolas imperdíveis para quem gosta e para quem não gosta de futebol. Com o propósito de responder intermináveis questionamentos sobre sua capacidade como atleta ou seu valor como produto construído pela mídia para gerar mais dinheiro do que títulos nos clubes que jogou, essa produção dirigida pelo renomado Fisher Stevens (vencedor do Oscar por "A Enseada") é um verdadeiro estudo de caso sobre uma das maiores referências do esporte inglês de todos os tempos - e olha, ele pagou um preço bem caro para alcançar esse status.

A minissérie narra a jornada extraordinária de David Beckham, desde seu humilde começo com 12, 13 anos no Manchester United até se tornar um ícone global do esporte e do marketing. O roteiro apresenta um David Beckham autêntico e emocional, sem filtros, que explora não apenas os altos e baixos de sua carreira esportiva, mas também a influência de sua família, com destaque para sua esposa e ex-Spice Girls, Victoria Beckham. Confira o trailer:

Com uma abordagem extremamente íntima e cativante, "Beckham" é um mergulho na psique do atleta como poucas vezes vimos - até se compararmos com outros documentários do gênero, é de se elogiar a capacidade Stevens em alcançar tantas respostas sinceras de vários personagens que deram seu depoimento. Ao buscar uma certa originalidade conceitual para a narrativa, o diretor equilibra esses depoimentos com os fatos mais marcantes da história do atleta e um vasto material de arquivos da época para ilustrar tudo isso - muito em ordem cronológica, aliás. Dito isso, é impossível não destacar a presença de nomes como Alex Ferguson (seu treinador no Manchester United), Fabio Capello (seu treinador no Real Madrid), Ronaldo, Roberto Carlos, Roy Keane, Paul Scholes, Simeone, Landon Donovan, entre outros.

Essa combinação de elementos narrativos se encaixa perfeitamente em uma edição realmente primorosa que prioriza seu protagonista sem se esquecer do esmero visual como obra cinematográfica - isso torna a minissérie uma experiência única, muito agradável de acompanhar. Ao oferecer uma análise critica sobre os feitos esportivos de David Beckham, durante quase 5 horas de material, a produção não deixa de convidar o próprio atleta a fazer um olhar retrospectivo sobre os impasses que viveu com a imprensa, com a família (leia-se Victoria)  e com os colegas de equipe (principalmente com alguns de seus treinadores). O bacana disso tudo é que Beckham não se esquiva dessas polêmicas e mesmo soando "chapa branca", a minissérie se esforça para mostrar sempre os dois lados da história.

A grande verdade é que, ao lado de "Arremesso Final" e  "Man in the Arena", "Beckham" é um dos melhores documentários biográficos sobre um atleta produzidos até aqui! Bem dirigido por Stevens, eu diria que esse é daqueles projetos que transcendem nossas expectativas como audiência. Com uma narrativa envolvente e depoimentos incríveis, oferece uma visão profunda da vida de um verdadeiro ícone. Seja você um fã de esportes ou alguém que aprecia apenas uma boa história, esta minissérie encapsula a essência do sucesso, perseverança e autenticidade, fazendo jus à grandiosidade de David Beckham e de sua enorme influência global além dos gramados, até hoje.

Imperdível!

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Nesse vasto universo do entretenimento, existem histórias que realmente transcendem o nicho ao qual pertencem e é aqui, mais uma vez, que a vida imita a arte! "Beckham", minissérie de 4 episódios sobre a vida e carreira do astro David Beckham, é uma dessas pérolas imperdíveis para quem gosta e para quem não gosta de futebol. Com o propósito de responder intermináveis questionamentos sobre sua capacidade como atleta ou seu valor como produto construído pela mídia para gerar mais dinheiro do que títulos nos clubes que jogou, essa produção dirigida pelo renomado Fisher Stevens (vencedor do Oscar por "A Enseada") é um verdadeiro estudo de caso sobre uma das maiores referências do esporte inglês de todos os tempos - e olha, ele pagou um preço bem caro para alcançar esse status.

A minissérie narra a jornada extraordinária de David Beckham, desde seu humilde começo com 12, 13 anos no Manchester United até se tornar um ícone global do esporte e do marketing. O roteiro apresenta um David Beckham autêntico e emocional, sem filtros, que explora não apenas os altos e baixos de sua carreira esportiva, mas também a influência de sua família, com destaque para sua esposa e ex-Spice Girls, Victoria Beckham. Confira o trailer:

Com uma abordagem extremamente íntima e cativante, "Beckham" é um mergulho na psique do atleta como poucas vezes vimos - até se compararmos com outros documentários do gênero, é de se elogiar a capacidade Stevens em alcançar tantas respostas sinceras de vários personagens que deram seu depoimento. Ao buscar uma certa originalidade conceitual para a narrativa, o diretor equilibra esses depoimentos com os fatos mais marcantes da história do atleta e um vasto material de arquivos da época para ilustrar tudo isso - muito em ordem cronológica, aliás. Dito isso, é impossível não destacar a presença de nomes como Alex Ferguson (seu treinador no Manchester United), Fabio Capello (seu treinador no Real Madrid), Ronaldo, Roberto Carlos, Roy Keane, Paul Scholes, Simeone, Landon Donovan, entre outros.

Essa combinação de elementos narrativos se encaixa perfeitamente em uma edição realmente primorosa que prioriza seu protagonista sem se esquecer do esmero visual como obra cinematográfica - isso torna a minissérie uma experiência única, muito agradável de acompanhar. Ao oferecer uma análise critica sobre os feitos esportivos de David Beckham, durante quase 5 horas de material, a produção não deixa de convidar o próprio atleta a fazer um olhar retrospectivo sobre os impasses que viveu com a imprensa, com a família (leia-se Victoria)  e com os colegas de equipe (principalmente com alguns de seus treinadores). O bacana disso tudo é que Beckham não se esquiva dessas polêmicas e mesmo soando "chapa branca", a minissérie se esforça para mostrar sempre os dois lados da história.

A grande verdade é que, ao lado de "Arremesso Final" e  "Man in the Arena", "Beckham" é um dos melhores documentários biográficos sobre um atleta produzidos até aqui! Bem dirigido por Stevens, eu diria que esse é daqueles projetos que transcendem nossas expectativas como audiência. Com uma narrativa envolvente e depoimentos incríveis, oferece uma visão profunda da vida de um verdadeiro ícone. Seja você um fã de esportes ou alguém que aprecia apenas uma boa história, esta minissérie encapsula a essência do sucesso, perseverança e autenticidade, fazendo jus à grandiosidade de David Beckham e de sua enorme influência global além dos gramados, até hoje.

Imperdível!

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Being the Ricardos

“Being the Ricardos” é muito bacana - e certamente vai se conectar melhor com aqueles, digamos, um pouco mais velhos e que se lembram (mesmo que vagamente) o que representou o show “I Love Lucy” na história da TV. Obviamente que o filme chega chancelado pelo selo de qualidade do diretor e roteirista Aaron Sorkin que, mesmo tendo como sua característica narrativa a verborragia desde os tempos onde a escrita era seu único expediente, entrega um pouco mais de duas horas de um ótimo entretenimento, equilibrando uma dinâmica visual simples com uma história que, aí sim, vai além das piadas que deram fama para a sua protagonista.

Lucille Ball (Nicole Kidman, mais uma vez brilhante) e Desi Arnaz (Javier Bardem) se casaram em 1940 e viram sua fama decolar após estrearem uma das mais memoráveis sitcoms americanas, “I Love Lucy”. Entretanto, quando tudo parecia estar indo bem, os dois se veem envolvidos em uma trama de acusações chocantes que ameaçam sua vida pessoal e profissional. Ao longo da semana mais tensa de gravações do show, o relacionamento complexo dos dois é posto à prova, enquanto algumas verdades vêm à tona. Confira o trailer:

Essa biografia produzida pela Amazon para o seu Prime Vídeo apresenta uma personagem que se encaixa perfeitamente na maior habilidade de Sorkin como roteirista: construir diálogos. Desde o primeiro momento, se estabelece um conceito narrativo documental onde a radiografia que vai sendo construída para Lucille Ball se apoia, justamente, em como ela se comunica - o que eu quero dizer é que os diálogos de “Being the Ricardos” são intensos, mas afiadíssimos. O problema é que a capacidade de Sorkin como diretor não é a mesma que escrevendo - não que seja ruim, até existe algum vislumbre criativo no filme (mas é pouco), principalmente quando Lucy visualiza as cenas que serão filmadas de acordo com sua imaginação e que nos remete ao material original do show (mesmo não sendo). O ponto fraco da sua direção está na forma como ele cuida do elenco coadjuvante, pois ele não respeita a individualidade dos personagens - reparem como todos se expressam com vocabulários, ritmos e tiques exatamente da mesma forma. É como se cada diálogo tivesse que ser carregado com um tom de ironia e uma pitada sarcasmo!

Esse ponto fraco não atrapalha nossa jornada como audiência porque Nicole Kidman está simplesmente fantástica no papel de protagonista. Quatro vezes indicadas ao Oscar e com uma vitória em "As Horas", Kidman está impecável nos gestos, na fala e no visual - me surpreendeu que “Being the Ricardos” não tenha sido nem pré-selecionado para concorrer na categoria "Cabelo e Maquiagem" do Oscar 2022. Javier Bardem, mesmo sendo espanhol, interpreta um cubano - sinceramente não acho isso um grande problema, embora o esteriótipo de Latin Loveresteja muito presente na sua performance. Quando Bardem tira essa máscara (que pediram para ele colocar), ele brilha - e não falo isso com demérito, já que seu personagem pede essa dualidade, mas é nítido como nas cenas mais profundas, ele vai muito além.

“Being the Ricardos” se baseia na genialidade de uma artista que fazia dos seus instintos sua diferença - e é na constatação dessa densidade como ser humano que o filme cresce. Saiba que Lucy, diferente de Judy (por exemplo), foi uma artista que precisou se provar de tantas formas ao longo de tantos anos que soa improvável que, a cada episódio, seu show alcançasse 60 milhões de americanos todas as segundas - hoje um show de muito sucesso talvez alcance 1/4 disso. O filme mostra algumas passagens onde discutiam sobre seu talento, sobre sua capacidade dramática, sobre sua aparência e até sobre sua relação com o comunismo; mas “Being the Ricardos” é bom mesmo quando mostra a força e a capacidade de uma mulher que, desacreditada, fez de tudo para vencer na vida!

Vale muito a pena! 

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“Being the Ricardos” é muito bacana - e certamente vai se conectar melhor com aqueles, digamos, um pouco mais velhos e que se lembram (mesmo que vagamente) o que representou o show “I Love Lucy” na história da TV. Obviamente que o filme chega chancelado pelo selo de qualidade do diretor e roteirista Aaron Sorkin que, mesmo tendo como sua característica narrativa a verborragia desde os tempos onde a escrita era seu único expediente, entrega um pouco mais de duas horas de um ótimo entretenimento, equilibrando uma dinâmica visual simples com uma história que, aí sim, vai além das piadas que deram fama para a sua protagonista.

Lucille Ball (Nicole Kidman, mais uma vez brilhante) e Desi Arnaz (Javier Bardem) se casaram em 1940 e viram sua fama decolar após estrearem uma das mais memoráveis sitcoms americanas, “I Love Lucy”. Entretanto, quando tudo parecia estar indo bem, os dois se veem envolvidos em uma trama de acusações chocantes que ameaçam sua vida pessoal e profissional. Ao longo da semana mais tensa de gravações do show, o relacionamento complexo dos dois é posto à prova, enquanto algumas verdades vêm à tona. Confira o trailer:

Essa biografia produzida pela Amazon para o seu Prime Vídeo apresenta uma personagem que se encaixa perfeitamente na maior habilidade de Sorkin como roteirista: construir diálogos. Desde o primeiro momento, se estabelece um conceito narrativo documental onde a radiografia que vai sendo construída para Lucille Ball se apoia, justamente, em como ela se comunica - o que eu quero dizer é que os diálogos de “Being the Ricardos” são intensos, mas afiadíssimos. O problema é que a capacidade de Sorkin como diretor não é a mesma que escrevendo - não que seja ruim, até existe algum vislumbre criativo no filme (mas é pouco), principalmente quando Lucy visualiza as cenas que serão filmadas de acordo com sua imaginação e que nos remete ao material original do show (mesmo não sendo). O ponto fraco da sua direção está na forma como ele cuida do elenco coadjuvante, pois ele não respeita a individualidade dos personagens - reparem como todos se expressam com vocabulários, ritmos e tiques exatamente da mesma forma. É como se cada diálogo tivesse que ser carregado com um tom de ironia e uma pitada sarcasmo!

Esse ponto fraco não atrapalha nossa jornada como audiência porque Nicole Kidman está simplesmente fantástica no papel de protagonista. Quatro vezes indicadas ao Oscar e com uma vitória em "As Horas", Kidman está impecável nos gestos, na fala e no visual - me surpreendeu que “Being the Ricardos” não tenha sido nem pré-selecionado para concorrer na categoria "Cabelo e Maquiagem" do Oscar 2022. Javier Bardem, mesmo sendo espanhol, interpreta um cubano - sinceramente não acho isso um grande problema, embora o esteriótipo de Latin Loveresteja muito presente na sua performance. Quando Bardem tira essa máscara (que pediram para ele colocar), ele brilha - e não falo isso com demérito, já que seu personagem pede essa dualidade, mas é nítido como nas cenas mais profundas, ele vai muito além.

“Being the Ricardos” se baseia na genialidade de uma artista que fazia dos seus instintos sua diferença - e é na constatação dessa densidade como ser humano que o filme cresce. Saiba que Lucy, diferente de Judy (por exemplo), foi uma artista que precisou se provar de tantas formas ao longo de tantos anos que soa improvável que, a cada episódio, seu show alcançasse 60 milhões de americanos todas as segundas - hoje um show de muito sucesso talvez alcance 1/4 disso. O filme mostra algumas passagens onde discutiam sobre seu talento, sobre sua capacidade dramática, sobre sua aparência e até sobre sua relação com o comunismo; mas “Being the Ricardos” é bom mesmo quando mostra a força e a capacidade de uma mulher que, desacreditada, fez de tudo para vencer na vida!

Vale muito a pena! 

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Bela Vingança

Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Belfast

"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

Assista Agora

"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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Bem-Vindos ao Clube da Sedução

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.

Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:

Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada

Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo. 

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!

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"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.

Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:

Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada

Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo. 

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!

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Bernie Madoff

"Bernie Madoff" (que ganhou o subtítulo inspirado de "O golpista de Wall Street") talvez seja o maior e mais rentável "case" de marketing de percepção usado para o mal da história! E veja, a linha é muito tênue entre a fraude e a capacidade de criar uma atmosfera que vai além da realidade para atrair clientes e, nesse caso, Madoff desconstruiu as duas narrativas de uma forma tão alinhada que fez a Anna Sorokin, da série da Netflix "Inventando Anna", parecer uma personagem da Galinha Pintadinha!

Essa minissérie documental em 4 episódios mostra a ascensão e queda do mega-investidor Bernie Madoff, responsável por um dos maiores esquemas de pirâmide financeira na história de Wall Street. O cineasta Joe Berlinger, vencedor do Emmy por "Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills" e "Ten Days That Unexpectedly Changed America", traz todos os detalhes sobre os bastidores do golpe de US$ 64 bilhões que quebrou centenas de pessoas. Confira o trailer (em inglês):

É inegável a capacidade de Joe Berlinger para construir uma narrativa dinâmica e coerente com a história que está contando - independente de sua complexidade. Em "Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street", ele se distancia do conceito documental/jornalístico e se apropria de vários elementos da ficção que funcionam como pano de fundo para os inúmeros e surpreendentes depoimentos que o diretor foi capaz de copilar para contar as nuances de todo esquema fraudulento que Madoff conduziu durante décadas. Muito bem produzido, as entrevistas servem como condutor dos fatos, mas sem aquela densidade que o assunto certamente provocaria se a gramática cinematográfica fosse outra - aqui nos deparamos com inúmeras curiosidades contadas por pessoas que conviveram com Madoff em sua empresa (da secretária pessoal ao funcionário que não quis mostrar o rosto), que foram vítimas do golpe e que investigaram e/ou escreveram sobre o caso.

Até mesmo para quem conhece a história e seu personagem, algumas passagens são de fato bem interessantes: como a do analista financeiro Harry Markopolos que começou a desconfiar de Madoff e resolveu fazer um estudo detalhado do suposto fundo de cobertura que ele administrava, descobrindo assim o "Esquema Ponzi" do investidor. Outra passagem surpreendente diz respeito a maneira como a Comissão de Valores Imobiliários dos EUA tratou o caso mesmo depois de muitas denúncias e suspeitas de seus próprios agentes. Um detalhe que vale sua atenção, é a simplicidade como o roteiro vai nos apresentando as peças e como, pouco a pouco, ele vai encaixando organicamente, nos dando a exata impressão de que dominamos o assunto - olha, é de se aplaudir.

Diferente da excelente abordagem que (recomendo) assistimos em "O Mago das Mentiras", “Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street” é um retrato menos familiar, impessoal e, talvez por isso, menos glamouroso, comprovando que, ao contrário do que muitos acreditaram por muito tempo, a fraude que o protagonista cometeu não foi obra de um único "gênio do mal" e sim de um grupo de cúmplices e de instituições que escolheram fechar os olhos para o comportamento suspeito de Madoff e para os resultados absurdos que seu fundo rendia aos clientes até o dia que a "bolha" estourou!

Se você gosta do assunto, essa minissérie é realmente imperdível! Belíssimo trabalho investigativo!

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"Bernie Madoff" (que ganhou o subtítulo inspirado de "O golpista de Wall Street") talvez seja o maior e mais rentável "case" de marketing de percepção usado para o mal da história! E veja, a linha é muito tênue entre a fraude e a capacidade de criar uma atmosfera que vai além da realidade para atrair clientes e, nesse caso, Madoff desconstruiu as duas narrativas de uma forma tão alinhada que fez a Anna Sorokin, da série da Netflix "Inventando Anna", parecer uma personagem da Galinha Pintadinha!

Essa minissérie documental em 4 episódios mostra a ascensão e queda do mega-investidor Bernie Madoff, responsável por um dos maiores esquemas de pirâmide financeira na história de Wall Street. O cineasta Joe Berlinger, vencedor do Emmy por "Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills" e "Ten Days That Unexpectedly Changed America", traz todos os detalhes sobre os bastidores do golpe de US$ 64 bilhões que quebrou centenas de pessoas. Confira o trailer (em inglês):

É inegável a capacidade de Joe Berlinger para construir uma narrativa dinâmica e coerente com a história que está contando - independente de sua complexidade. Em "Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street", ele se distancia do conceito documental/jornalístico e se apropria de vários elementos da ficção que funcionam como pano de fundo para os inúmeros e surpreendentes depoimentos que o diretor foi capaz de copilar para contar as nuances de todo esquema fraudulento que Madoff conduziu durante décadas. Muito bem produzido, as entrevistas servem como condutor dos fatos, mas sem aquela densidade que o assunto certamente provocaria se a gramática cinematográfica fosse outra - aqui nos deparamos com inúmeras curiosidades contadas por pessoas que conviveram com Madoff em sua empresa (da secretária pessoal ao funcionário que não quis mostrar o rosto), que foram vítimas do golpe e que investigaram e/ou escreveram sobre o caso.

Até mesmo para quem conhece a história e seu personagem, algumas passagens são de fato bem interessantes: como a do analista financeiro Harry Markopolos que começou a desconfiar de Madoff e resolveu fazer um estudo detalhado do suposto fundo de cobertura que ele administrava, descobrindo assim o "Esquema Ponzi" do investidor. Outra passagem surpreendente diz respeito a maneira como a Comissão de Valores Imobiliários dos EUA tratou o caso mesmo depois de muitas denúncias e suspeitas de seus próprios agentes. Um detalhe que vale sua atenção, é a simplicidade como o roteiro vai nos apresentando as peças e como, pouco a pouco, ele vai encaixando organicamente, nos dando a exata impressão de que dominamos o assunto - olha, é de se aplaudir.

Diferente da excelente abordagem que (recomendo) assistimos em "O Mago das Mentiras", “Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street” é um retrato menos familiar, impessoal e, talvez por isso, menos glamouroso, comprovando que, ao contrário do que muitos acreditaram por muito tempo, a fraude que o protagonista cometeu não foi obra de um único "gênio do mal" e sim de um grupo de cúmplices e de instituições que escolheram fechar os olhos para o comportamento suspeito de Madoff e para os resultados absurdos que seu fundo rendia aos clientes até o dia que a "bolha" estourou!

Se você gosta do assunto, essa minissérie é realmente imperdível! Belíssimo trabalho investigativo!

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Big Vape

Um verdadeiro estudo de caso! Na verdade eu iria até mais longe, "Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é de fato um playbook do que "se deve" e do que "não se deve" fazer no lançamento de um produto de tecnologia que tem no seu DNA um elemento muito sensível e que era sabido, geraria muita polêmica - o vício. Olha, dadas as devidas diferenças, é impossível não lembrar do caso da Theranos que conhecemos em "A Inventora"! Bom, para quem não conhece, o Juul é um cigarro eletrônico estiloso, parecido com um pen drive, que pode ser carregado em portas USB do computador. Ao conectar um pequeno cartucho, disponível em sabores como manga, menta e até crème brûlée, o device prometia as mesmas sensações de fumar um cigarro tradicional só que sem fazer o mal que a combustão do tabaco proporcionava para a saúde - leia-se câncer no pulmão, doença cardiovascular e enfisema pulmonar. Porém, o que parecia de fato revolucionário se mostrou um tanto perigoso quando adolescentes passaram a se viciar com a nicotina contida nos cartuchos, graças a uma campanha de marketing belíssima, mas completamente desastrosa na sua estratégia, que transformou o ato de "Juular" em um "estilo de vida instagramável" com sérias consequências morais.

Essa minissérie documental da Netflix oferece, em 4 episódios, uma análise profunda e bastante imparcial sobre essa história fascinante e controversa do Juul. Produzida pela Amblin de Steven Spielberg, ela traz uma visão multifacetada do que aconteceu nos bastidores da empresa que revolucionou o mercado de cigarros eletrônicos e que por um breve período preocupou a gigantesca e opressora indústria do tabaco, explorando não apenas o sucesso meteórico da startup, mas também os inúmeros desafios que a envolveram. Confira o trailer (em inglês):

A partir de uma narrativa extremamente fluida que mistura depoimento reveladores, animações muito bem produzidas e uma infinidade de imagens de arquivo, a minissérie dirigida pelo multi-premiado R.J. Cutler (de "Elton John Live: Farewell from Dodger Stadium") é muito inteligente ao analisar como James Monsees e Adam Bowen, dois ex-alunos da Universidade de Stanford, conseguiram criar um device de tabaco esteticamente atraente, bem no "estilo Apple" de design, que transformou uma startup duvidosa em uma empresa de mais de 40 bilhões do dólares e líder absoluta de mercado. A grande questão, no entanto, é que nem Monsees, nem Bowen, participam do documentário, deixando assim suas visões e ideias para quem, de alguma forma, via no Juul o real propósito de ser uma opção segura para quem queria parar de fumar cigarros tradicionais.

E é aí que talvez surja o ponto mais interessante de toda minissérie: como um propósito que conquistou inúmeros investidores no powerpoint se transformou em uma bomba relógio prestes a explodir ao se apoiar em uma estratégia de lançamento completamente desconectada de seu objetivo inicial. Veja, ao focar no jovem e não no fumante, o Juul conquistou rapidamente uma base de fãs absurda - seu design moderno, a variedade de sabores e uma fácil acessibilidade através de lojas de conveniência e vendas online atraiu uma nova geração de usuários de tabaco que a colocou como uma verdadeira sensação tecnológica e um ícone cultural, mas que também ligou um sinal de alerta nas autoridades - essa passagem é praticamente uma aula sobre branding e produto, mas ao mesmo tempo um convite para reflexões importantes sobre ICP (pu perfil de cliente ideal) e sobre o preço da pressa!

"Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é baseada no livro de Jamie Ducharme, um renomado correspondente de saúde e ciência da Time - o que chancela sua narrativa autêntica e confiável, enquanto temos acesso à entrevistas com diversas partes envolvidas na jornada da Juul Lab. Eu diria que essa minissérie é um "prato cheio" se você está interessado em conhecer os bastidores do empreendedorismo no Vale do Silício, o desenvolvimento de tecnologias e produtos disruptivos, de negócios de impacto, de discussões sobre a saúde pública ou até se você simplesmente gosta de um história tão envolvente quanto intrigante, com um leve toque de hipocrisia.

Vale muito o seu play!

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Um verdadeiro estudo de caso! Na verdade eu iria até mais longe, "Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é de fato um playbook do que "se deve" e do que "não se deve" fazer no lançamento de um produto de tecnologia que tem no seu DNA um elemento muito sensível e que era sabido, geraria muita polêmica - o vício. Olha, dadas as devidas diferenças, é impossível não lembrar do caso da Theranos que conhecemos em "A Inventora"! Bom, para quem não conhece, o Juul é um cigarro eletrônico estiloso, parecido com um pen drive, que pode ser carregado em portas USB do computador. Ao conectar um pequeno cartucho, disponível em sabores como manga, menta e até crème brûlée, o device prometia as mesmas sensações de fumar um cigarro tradicional só que sem fazer o mal que a combustão do tabaco proporcionava para a saúde - leia-se câncer no pulmão, doença cardiovascular e enfisema pulmonar. Porém, o que parecia de fato revolucionário se mostrou um tanto perigoso quando adolescentes passaram a se viciar com a nicotina contida nos cartuchos, graças a uma campanha de marketing belíssima, mas completamente desastrosa na sua estratégia, que transformou o ato de "Juular" em um "estilo de vida instagramável" com sérias consequências morais.

Essa minissérie documental da Netflix oferece, em 4 episódios, uma análise profunda e bastante imparcial sobre essa história fascinante e controversa do Juul. Produzida pela Amblin de Steven Spielberg, ela traz uma visão multifacetada do que aconteceu nos bastidores da empresa que revolucionou o mercado de cigarros eletrônicos e que por um breve período preocupou a gigantesca e opressora indústria do tabaco, explorando não apenas o sucesso meteórico da startup, mas também os inúmeros desafios que a envolveram. Confira o trailer (em inglês):

A partir de uma narrativa extremamente fluida que mistura depoimento reveladores, animações muito bem produzidas e uma infinidade de imagens de arquivo, a minissérie dirigida pelo multi-premiado R.J. Cutler (de "Elton John Live: Farewell from Dodger Stadium") é muito inteligente ao analisar como James Monsees e Adam Bowen, dois ex-alunos da Universidade de Stanford, conseguiram criar um device de tabaco esteticamente atraente, bem no "estilo Apple" de design, que transformou uma startup duvidosa em uma empresa de mais de 40 bilhões do dólares e líder absoluta de mercado. A grande questão, no entanto, é que nem Monsees, nem Bowen, participam do documentário, deixando assim suas visões e ideias para quem, de alguma forma, via no Juul o real propósito de ser uma opção segura para quem queria parar de fumar cigarros tradicionais.

E é aí que talvez surja o ponto mais interessante de toda minissérie: como um propósito que conquistou inúmeros investidores no powerpoint se transformou em uma bomba relógio prestes a explodir ao se apoiar em uma estratégia de lançamento completamente desconectada de seu objetivo inicial. Veja, ao focar no jovem e não no fumante, o Juul conquistou rapidamente uma base de fãs absurda - seu design moderno, a variedade de sabores e uma fácil acessibilidade através de lojas de conveniência e vendas online atraiu uma nova geração de usuários de tabaco que a colocou como uma verdadeira sensação tecnológica e um ícone cultural, mas que também ligou um sinal de alerta nas autoridades - essa passagem é praticamente uma aula sobre branding e produto, mas ao mesmo tempo um convite para reflexões importantes sobre ICP (pu perfil de cliente ideal) e sobre o preço da pressa!

"Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é baseada no livro de Jamie Ducharme, um renomado correspondente de saúde e ciência da Time - o que chancela sua narrativa autêntica e confiável, enquanto temos acesso à entrevistas com diversas partes envolvidas na jornada da Juul Lab. Eu diria que essa minissérie é um "prato cheio" se você está interessado em conhecer os bastidores do empreendedorismo no Vale do Silício, o desenvolvimento de tecnologias e produtos disruptivos, de negócios de impacto, de discussões sobre a saúde pública ou até se você simplesmente gosta de um história tão envolvente quanto intrigante, com um leve toque de hipocrisia.

Vale muito o seu play!

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Black Bird

"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

Vale seu play!

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"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

Vale seu play!

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BlackBerry

Não se engane pelo conceito narrativo mais satírico que "BlackBerry" passa em um primeiro olhar, pois, mesmo pontuado como uma comédia (até certo ponto escrachada que nos remete ao clássico "Silicon Valley"), sua jornada está mesmo mais para o drama do quepara qualquer outra coisa. Eu diria, inclusive, que o filme dirigido pelo ótimo Matt Johnson (de "Matt & Bird Break Loose") é uma verdadeira aula sobre o que se deve e, principalmente, o que não se deve fazer durante uma jornada empreendedora. E sim, se você gosta do tema, você será fisgado pela história real (e absurda) da RIM e da sua "galinha dos ovos de ouro", o "BlackBerry"- considerado por muitos o primeiro smartphone do mundo.

Em 1996, Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Douglas Fregin (Matt Johnson) estão prestes a criar o primeiro smartphone e revolucionar a forma como as pessoas trabalham e se comunicam via celular. Já em 2007, a Research In Motion (RIM), startup de Lazaridis e Fregin, domina o mercado, com 45% de market share, graças ao seu dispositivo inovador. Até que algumas decisões equivocadas, uma certa arrogância corporativa e a implacável ascensão do iPhone da Apple faz com que a RIM transforme uma ascensão meteórica em um desaparecimento catastrófico como poucas vezes se viu na história. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso dizer que "BlackBerry" é uma pancada, um turbilhão de adrenalina que nos leva do auge da inovação ao abismo da obsolescência da forma mais viceral e cruel que podemos testemunhar - o seu diferencial, no entanto, é a maneira como Johnson conduz sua narrativa. Com uma câmera mais solta e um misto de trocas de foco e de zoom manual (bem ao estilo "The Office"), ele se apropria de inúmeras pitadas de humor ácido e atuações impecáveis do seu elenco para estereotipar uma situação que, acreditem, é quase corriqueira dentro do universo da inovação. O filme tem uma dinâmica muito interessante, é eletrizante, seu discurso é ágil e com saltos temporais muito bem contextualizados dentro de um roteiro que conta a verdade, mas do seu jeito - roteiro, aliás, que foi baseado no livro "Losing the Signal" de Jacquie McNish e Sean Silcoff.

Tecnicamente o filme tem algumas particularidades que merecem ser comentadas. A fotografia do Jared Raab (de "VHS 94") é competente ao capturar a vibrante estética do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, em um período onde o universo NERD ganhava força e o mundo se transformava na surdina para ganhar os holofotes logo em seguida - essa concepção temporal do filme é quase um personagem dada sua importância histórica na trama. A trilha sonora também - ela se aproveita desse contexto nostálgico e pulsa com hits da época, enquanto o texto em si, brinca com as referências da cultura pop a todo momento. Outro ponto de destaque: a performance de Baruchel é sensacional - ele transmite a insegurança, o sonho, a ambição e finalmente a frustração de Lazaridis de uma maneira elogiável. Já Glenn Howerton que brilha como o arrogante e egocêntrico Balsillie, eu tenho a impressão, é o nome do filme - ele é a personificação do líder babaca, símbolo de status e poder que se confunde com o produto que vendia.

A real é que "BlackBerry" não se limita a ser um mero retrato biográfico ou um estudo de caso corporativo, ele é um filme que oferece uma reflexão profunda sobre os perigos da complacência, sobre a importância da adaptação às mudanças e sobre a relação da obsolescência programada no mundo da tecnologia. É um conto de advertência para qualquer empreendedor que se acomoda no sucesso, ignorando as tendências do mercado ou as necessidades de seus clientes. Claro que é um filme sobre tecnologia, mas também é uma história sobre cultura e ambição. É um retrato humano e complexo dos bastidores de uma empresa que revolucionou a comunicação, mas sucumbiu à falta de visão de seus líderes. 

Imperdível!

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Não se engane pelo conceito narrativo mais satírico que "BlackBerry" passa em um primeiro olhar, pois, mesmo pontuado como uma comédia (até certo ponto escrachada que nos remete ao clássico "Silicon Valley"), sua jornada está mesmo mais para o drama do quepara qualquer outra coisa. Eu diria, inclusive, que o filme dirigido pelo ótimo Matt Johnson (de "Matt & Bird Break Loose") é uma verdadeira aula sobre o que se deve e, principalmente, o que não se deve fazer durante uma jornada empreendedora. E sim, se você gosta do tema, você será fisgado pela história real (e absurda) da RIM e da sua "galinha dos ovos de ouro", o "BlackBerry"- considerado por muitos o primeiro smartphone do mundo.

Em 1996, Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Douglas Fregin (Matt Johnson) estão prestes a criar o primeiro smartphone e revolucionar a forma como as pessoas trabalham e se comunicam via celular. Já em 2007, a Research In Motion (RIM), startup de Lazaridis e Fregin, domina o mercado, com 45% de market share, graças ao seu dispositivo inovador. Até que algumas decisões equivocadas, uma certa arrogância corporativa e a implacável ascensão do iPhone da Apple faz com que a RIM transforme uma ascensão meteórica em um desaparecimento catastrófico como poucas vezes se viu na história. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso dizer que "BlackBerry" é uma pancada, um turbilhão de adrenalina que nos leva do auge da inovação ao abismo da obsolescência da forma mais viceral e cruel que podemos testemunhar - o seu diferencial, no entanto, é a maneira como Johnson conduz sua narrativa. Com uma câmera mais solta e um misto de trocas de foco e de zoom manual (bem ao estilo "The Office"), ele se apropria de inúmeras pitadas de humor ácido e atuações impecáveis do seu elenco para estereotipar uma situação que, acreditem, é quase corriqueira dentro do universo da inovação. O filme tem uma dinâmica muito interessante, é eletrizante, seu discurso é ágil e com saltos temporais muito bem contextualizados dentro de um roteiro que conta a verdade, mas do seu jeito - roteiro, aliás, que foi baseado no livro "Losing the Signal" de Jacquie McNish e Sean Silcoff.

Tecnicamente o filme tem algumas particularidades que merecem ser comentadas. A fotografia do Jared Raab (de "VHS 94") é competente ao capturar a vibrante estética do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, em um período onde o universo NERD ganhava força e o mundo se transformava na surdina para ganhar os holofotes logo em seguida - essa concepção temporal do filme é quase um personagem dada sua importância histórica na trama. A trilha sonora também - ela se aproveita desse contexto nostálgico e pulsa com hits da época, enquanto o texto em si, brinca com as referências da cultura pop a todo momento. Outro ponto de destaque: a performance de Baruchel é sensacional - ele transmite a insegurança, o sonho, a ambição e finalmente a frustração de Lazaridis de uma maneira elogiável. Já Glenn Howerton que brilha como o arrogante e egocêntrico Balsillie, eu tenho a impressão, é o nome do filme - ele é a personificação do líder babaca, símbolo de status e poder que se confunde com o produto que vendia.

A real é que "BlackBerry" não se limita a ser um mero retrato biográfico ou um estudo de caso corporativo, ele é um filme que oferece uma reflexão profunda sobre os perigos da complacência, sobre a importância da adaptação às mudanças e sobre a relação da obsolescência programada no mundo da tecnologia. É um conto de advertência para qualquer empreendedor que se acomoda no sucesso, ignorando as tendências do mercado ou as necessidades de seus clientes. Claro que é um filme sobre tecnologia, mas também é uma história sobre cultura e ambição. É um retrato humano e complexo dos bastidores de uma empresa que revolucionou a comunicação, mas sucumbiu à falta de visão de seus líderes. 

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Boa Noite, Oppy

É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

Olha, vale muito o seu play!

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É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

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Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria

É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

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Bob Marley: One Love

Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley.  "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.

A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:

Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.

Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".

Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.

Vale muito o seu play!

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Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley.  "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.

A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:

Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.

Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".

Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.

Vale muito o seu play!

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Bohemian Rhapsody

É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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Boys State

Eu sou capaz de cravar que "Boys State" estará na disputa do próximo Oscar na categoria "Melhor Documentário"! Dito isso, é preciso ressaltar que o belíssimo trabalho do premiado diretor Jesse Moss e da sua parceira Amanda McBaine, traz um recorte bastante interessante do momento politico que vivemos no mundo, muitas vezes pautado no ataque em detrimento ao diálogo, com uma polarização que parece fazer mais sentido para muitos e onde os assuntos polêmicos, normalmente apoiados no extremismo, impactam fortemente nos resultados das urnas. Na verdade, "Boys State" trás para o debate a força da democracia como "fim", mas o que nos incomoda de verdade é o "meio" que as pessoas resolvem seguir - graças aos recentes péssimos exemplos que toda uma geração aprendeu a observar!

"Boys State" acompanha um programa de verão que funciona como uma espécie de preparação para uma nova geração de líderes políticos. Cada um desses eventos recebem centenas de alunos, todos indicados pelas suas escolas, e lá eles simulam todo o processo democrático americano, desde a formação de dois partidos até a eleição de um governador, seguindo exatamente as regras eleitorais do país. Confira o trailer:

Vencedor em festivais importantes como Sundance e South By Southwest em 2020, "Boys State" é, de fato, imperdível. Com uma dinâmica narrativa bastante interessante, fica impossível não se envolver com aquela disputa fictícia como se estivéssemos assistindo uma competição esportiva real - e como no esporte, a política envolve paixão e é incrível como "apenas" 1.200 jovens podem representar uma parcela bastante fiel da sociedade americana atual e isso é assustador! Olha, vale muito a pena, até para aquele que não faz tanta questão de refletir sobre o momento politico que muitos países estão vivendo!

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Eu sou capaz de cravar que "Boys State" estará na disputa do próximo Oscar na categoria "Melhor Documentário"! Dito isso, é preciso ressaltar que o belíssimo trabalho do premiado diretor Jesse Moss e da sua parceira Amanda McBaine, traz um recorte bastante interessante do momento politico que vivemos no mundo, muitas vezes pautado no ataque em detrimento ao diálogo, com uma polarização que parece fazer mais sentido para muitos e onde os assuntos polêmicos, normalmente apoiados no extremismo, impactam fortemente nos resultados das urnas. Na verdade, "Boys State" trás para o debate a força da democracia como "fim", mas o que nos incomoda de verdade é o "meio" que as pessoas resolvem seguir - graças aos recentes péssimos exemplos que toda uma geração aprendeu a observar!

"Boys State" acompanha um programa de verão que funciona como uma espécie de preparação para uma nova geração de líderes políticos. Cada um desses eventos recebem centenas de alunos, todos indicados pelas suas escolas, e lá eles simulam todo o processo democrático americano, desde a formação de dois partidos até a eleição de um governador, seguindo exatamente as regras eleitorais do país. Confira o trailer:

Vencedor em festivais importantes como Sundance e South By Southwest em 2020, "Boys State" é, de fato, imperdível. Com uma dinâmica narrativa bastante interessante, fica impossível não se envolver com aquela disputa fictícia como se estivéssemos assistindo uma competição esportiva real - e como no esporte, a política envolve paixão e é incrível como "apenas" 1.200 jovens podem representar uma parcela bastante fiel da sociedade americana atual e isso é assustador! Olha, vale muito a pena, até para aquele que não faz tanta questão de refletir sobre o momento politico que muitos países estão vivendo!

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