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Night Stalker

"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.

Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):

Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.

Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!

Assista Agora

"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.

Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):

Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.

Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!

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Ninguém Vai te Salvar

"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros" é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!

"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:

Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan. 

Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!

Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!

Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta! 

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"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros" é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!

"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:

Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan. 

Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!

Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!

Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta! 

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Noite Passada em Soho

"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

Vale a pena! 

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"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

Vale a pena! 

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Nove Desconhecidos

"Nove Desconhecidos" chegou com status de "minissérie premium da HBO" na Prime Vídeo, principalmente por todos os nomes envolvidos, como o showrunner David E. Kelley de “The Undoing” e a autora australiana Liane Moriarty de “Big Little Lies”, sem falar, obviamente, de Nicole Kidman como protagonista, apoiada em um elenco com Melissa McCarthy, Regina Hall, Luke Evans, Michael Shannon e Bobby Cannavale. Como comentamos no Blog da Viu Review"Nove Desconhecidos" foi cercada de muita expectativa e após a exibição de 3 episódios muitas incertezas começaram aparecer (e com razão), mas só no final do episódio 8 que foi possível cravar que a minissérie estava longe de ser um decepção como muitos previam - muito pelo contrário, eu diria que vale muito a pena, desde que você embarque no conceito narrativo, digamos, psicodélico!

Frustrados com suas vidas, nove estranhos embarcam em um programa de relaxamento e espiritualidade criado por um SPA de luxo liderado por Marsha (Nicole Kidman), mas ao longo dos dias eles percebem que a experiência pode acabar colocando suas vidas e sanidade em perigo, confira o trailer:

Talvez a o grande problema de "Nove Desconhecidos" seja a falta de identidade - mas não pela história não se posicionar perante um gênero especifico ou um conceito narrativo e estético inovador, e sim pela própria expectativa que nós mesmos criamos. É claro que o roteiro colabora para essa sensação de que algo extraordinário está prestes a acontecer a todo momento e que a trama vem repleta de reviravoltas surpreendentes, mas a fato é que isso tem mais a ver com quem assiste do que com a minissérie em si. Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade e mesmo sabendo que muitos personagens são completamente estereotipados, em nenhum momento o roteiro rouba no jogo - ele só demora para mostrar as peças certas que, juntas, entregam um final bem satisfatório.

No fundo, "Nove Desconhecidos" é um recorte de uma era onde os programas de auto-conhecimento e os coachings de terapias holísticas se tornaram sinônimos de superficialidade e oportunismo - por isso sempre esperamos o pior da protagonista, afinal acreditamos nesse estereótipo, mesmo que inconscientemente. Veja, enquanto a narrativa demonstra elementos que facilmente nos remetem as conexões com a espiritualidade, temos a impressão de que se trata de uma história cheia de mistérios, mas quando os psicotrópicos vão ganhando força de uma maneira muito natural dentro da trama, somos transportados para situações mais palpáveis e é quando começamos a reconhecer o valor da história - e isso não quer dizer que o mistério desaparece, ele só se transforma. Diferente do livro, não se tem tempo suficiente para desenvolver cada um dos personagens com deveria e é por isso que alguns se sobressaem: a história da família Marconi formada por Napoleon (Michael Shannon), Heather (Asher Keddie) e Zoe (Grace Van Patten) é um caso e a forte relação entre Frances (Melissa McCarthy) e Tony (Bobby Cannavale), é outro destaque - se a série chamasse "Cinco Desconhecidos" teríamos o mesmo resultado, acreditem!

A atmosfera poética criada ao redor de Masha, criadora da Tranquillum House, vai se dissipar com o passar dos episódios e sua motivação se tornará cada vez mais clara. A questão dos métodos ou da ilegalidade de suas ações também geram boas discussões. Com isso temos bons conflitos e outros nem tanto, mas quando nos apegarmos na real proposta de "Nove Desconhecidos", passamos a entender que o processo de "perdão" e a "cura emocional" de cada um dos personagens guiam uma crítica velada sobre a ética, a legalidade e o real benefício de alguns, digamos, treinamentos de reprogramação.

Vale o play!

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"Nove Desconhecidos" chegou com status de "minissérie premium da HBO" na Prime Vídeo, principalmente por todos os nomes envolvidos, como o showrunner David E. Kelley de “The Undoing” e a autora australiana Liane Moriarty de “Big Little Lies”, sem falar, obviamente, de Nicole Kidman como protagonista, apoiada em um elenco com Melissa McCarthy, Regina Hall, Luke Evans, Michael Shannon e Bobby Cannavale. Como comentamos no Blog da Viu Review"Nove Desconhecidos" foi cercada de muita expectativa e após a exibição de 3 episódios muitas incertezas começaram aparecer (e com razão), mas só no final do episódio 8 que foi possível cravar que a minissérie estava longe de ser um decepção como muitos previam - muito pelo contrário, eu diria que vale muito a pena, desde que você embarque no conceito narrativo, digamos, psicodélico!

Frustrados com suas vidas, nove estranhos embarcam em um programa de relaxamento e espiritualidade criado por um SPA de luxo liderado por Marsha (Nicole Kidman), mas ao longo dos dias eles percebem que a experiência pode acabar colocando suas vidas e sanidade em perigo, confira o trailer:

Talvez a o grande problema de "Nove Desconhecidos" seja a falta de identidade - mas não pela história não se posicionar perante um gênero especifico ou um conceito narrativo e estético inovador, e sim pela própria expectativa que nós mesmos criamos. É claro que o roteiro colabora para essa sensação de que algo extraordinário está prestes a acontecer a todo momento e que a trama vem repleta de reviravoltas surpreendentes, mas a fato é que isso tem mais a ver com quem assiste do que com a minissérie em si. Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade e mesmo sabendo que muitos personagens são completamente estereotipados, em nenhum momento o roteiro rouba no jogo - ele só demora para mostrar as peças certas que, juntas, entregam um final bem satisfatório.

No fundo, "Nove Desconhecidos" é um recorte de uma era onde os programas de auto-conhecimento e os coachings de terapias holísticas se tornaram sinônimos de superficialidade e oportunismo - por isso sempre esperamos o pior da protagonista, afinal acreditamos nesse estereótipo, mesmo que inconscientemente. Veja, enquanto a narrativa demonstra elementos que facilmente nos remetem as conexões com a espiritualidade, temos a impressão de que se trata de uma história cheia de mistérios, mas quando os psicotrópicos vão ganhando força de uma maneira muito natural dentro da trama, somos transportados para situações mais palpáveis e é quando começamos a reconhecer o valor da história - e isso não quer dizer que o mistério desaparece, ele só se transforma. Diferente do livro, não se tem tempo suficiente para desenvolver cada um dos personagens com deveria e é por isso que alguns se sobressaem: a história da família Marconi formada por Napoleon (Michael Shannon), Heather (Asher Keddie) e Zoe (Grace Van Patten) é um caso e a forte relação entre Frances (Melissa McCarthy) e Tony (Bobby Cannavale), é outro destaque - se a série chamasse "Cinco Desconhecidos" teríamos o mesmo resultado, acreditem!

A atmosfera poética criada ao redor de Masha, criadora da Tranquillum House, vai se dissipar com o passar dos episódios e sua motivação se tornará cada vez mais clara. A questão dos métodos ou da ilegalidade de suas ações também geram boas discussões. Com isso temos bons conflitos e outros nem tanto, mas quando nos apegarmos na real proposta de "Nove Desconhecidos", passamos a entender que o processo de "perdão" e a "cura emocional" de cada um dos personagens guiam uma crítica velada sobre a ética, a legalidade e o real benefício de alguns, digamos, treinamentos de reprogramação.

Vale o play!

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O Abutre

O Abutre

Impossível começar esse review sem dizer que, em “O Abutre”, Jake Gyllenhaal tem o melhor desempenho de toda sua carreira e é impressionante, impressionante não, melhor: é injusto que ele não tenha sido indicado ao Oscar de 2015 por esse papel. Alias, "Nightcrawler" (no original) só foi indicado em uma categoria: Melhor Roteiro Original.

Na trama, o jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) enfrenta dificuldades para conseguir um emprego formal. Depois de testemunhar um trágico acidente, ele decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é simples: correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos sensacionalistas que se interessarem. Confira o trailer:

A mudança de Jake Gyllenhaal é nítida, ele perdeu 14 quilos para dar vida ao obscuro e misterioso Louis Bloom. Mas não se trata de uma mudança corporal apenas, seus olhos mudaram, sua feição é outra, e em muitos momentos chega ser assustador o que ele conseguiu fazer com o seu personagem. Se você gostou da atuação de Joaquin Phoenix em “Coringa”, certamente vai apreciar esse trabalho de Gyllenhaal.

Mas “O Abutre” não se trata apenas de Jake Gyllenhaal, embora se destaque mais que outros acertos do filme, o elenco ainda conta com Rene Russo e Riz Ahmed que também estão ótimos em seus papéis. O diretor de fotografia Robert Elswit é o mesmo de “Sangue Negro” (outro filme espetacular), cria aquela atmosfera caótica de uma noite urbana com primor, fazendo referências visuais através do uso cores que nos remetem aos clássicos como “Taxi Driver”, por exemplo. A trilha sonora é do James Newton Howard, e ajuda na composição de toda a estranheza necessária para o desenrolar dessa trama envolvente - inclusive, esse é um thriller que vai causar incômodo propositalmente.

O filme de Dan Gilroy, estreante como diretor, mergulha fundo na crítica sobre o que a mídia vende e o que as pessoas consomem, além de retratar assuntos delicados como ética moral e social, com isso, “O Abutre” também expõe o pior lado do ser humano e o que algumas pessoas são capazes de fazer para obter êxito profissional - mesmo que isso custe a vida de outras pessoas.

Vale muito a pena, mas não será uma jornada tranquila!

Apenas para chancelar a recomendação, “O Abutre”  foi o grande vencedor do "Film Independent Spirit Awards" de 2015 em duas categorias: "Melhor Filme de um Diretor Estreante" e "Melhor Diretor".

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Impossível começar esse review sem dizer que, em “O Abutre”, Jake Gyllenhaal tem o melhor desempenho de toda sua carreira e é impressionante, impressionante não, melhor: é injusto que ele não tenha sido indicado ao Oscar de 2015 por esse papel. Alias, "Nightcrawler" (no original) só foi indicado em uma categoria: Melhor Roteiro Original.

Na trama, o jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) enfrenta dificuldades para conseguir um emprego formal. Depois de testemunhar um trágico acidente, ele decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é simples: correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos sensacionalistas que se interessarem. Confira o trailer:

A mudança de Jake Gyllenhaal é nítida, ele perdeu 14 quilos para dar vida ao obscuro e misterioso Louis Bloom. Mas não se trata de uma mudança corporal apenas, seus olhos mudaram, sua feição é outra, e em muitos momentos chega ser assustador o que ele conseguiu fazer com o seu personagem. Se você gostou da atuação de Joaquin Phoenix em “Coringa”, certamente vai apreciar esse trabalho de Gyllenhaal.

Mas “O Abutre” não se trata apenas de Jake Gyllenhaal, embora se destaque mais que outros acertos do filme, o elenco ainda conta com Rene Russo e Riz Ahmed que também estão ótimos em seus papéis. O diretor de fotografia Robert Elswit é o mesmo de “Sangue Negro” (outro filme espetacular), cria aquela atmosfera caótica de uma noite urbana com primor, fazendo referências visuais através do uso cores que nos remetem aos clássicos como “Taxi Driver”, por exemplo. A trilha sonora é do James Newton Howard, e ajuda na composição de toda a estranheza necessária para o desenrolar dessa trama envolvente - inclusive, esse é um thriller que vai causar incômodo propositalmente.

O filme de Dan Gilroy, estreante como diretor, mergulha fundo na crítica sobre o que a mídia vende e o que as pessoas consomem, além de retratar assuntos delicados como ética moral e social, com isso, “O Abutre” também expõe o pior lado do ser humano e o que algumas pessoas são capazes de fazer para obter êxito profissional - mesmo que isso custe a vida de outras pessoas.

Vale muito a pena, mas não será uma jornada tranquila!

Apenas para chancelar a recomendação, “O Abutre”  foi o grande vencedor do "Film Independent Spirit Awards" de 2015 em duas categorias: "Melhor Filme de um Diretor Estreante" e "Melhor Diretor".

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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O Agente Noturno

"O Agente Noturno" poderia tranquilamente ser uma segunda temporada de "Segurança em Jogo" - e se você sabe do que eu estou falando, também sabe o que te espera! Lançada em 2023 pela Netflix, essa série tem uma mistura de elementos de suspense e de ação das mais envolventes, que simplesmente nos mergulha em um mundo complexo de conspirações governamentais, espionagem e traições. Baseada no livro homônimo de Matthew Quirk, "O Agente Noturno" oferece uma narrativa cheia de tensão, seguindo a trajetória de um agente de baixo escalão que se vê no centro de uma trama maior do que ele poderia imaginar. Para os fãs das saudosas "24 Horas" e "Homeland", aqui temos uma experiência igualmente eletrizante e cheia de surpresas!

A trama segue Peter Sutherland (Gabriel Basso), um jovem agente do FBI que trabalha em um turno noturno aparentemente monótono, respondendo chamadas de emergência em uma linha direta destinada a casos de extrema confidencialidade. Sua rotina muda drasticamente quando ele recebe uma ligação de Rose Larkin (Luciane Buchanan), uma mulher em pânico que se encontra em perigo após um ataque contra sua tia e tio, ambos envolvidos em atividades, no mínimo, suspeitas. À medida que Peter e Rose vão se comprometendo com o caso, eles descobrem uma conspiração que vai até as mais altas posições do governo, colocando suas vidas em risco. Confira o trailer:

Criada e adaptada por Shawn Ryan (de "The Shield"), a trama da série é habilmente construída para manter a audiência engajada do inicio ao fim. Sério, é preciso ter o autocontrole de um monge budista para deixar de assistir o próximo episódio - os "ganchos" são tão bem construídos que chega a irritar! Com reviravoltas inesperadas e uma rede de intrigas que se desenrola gradualmente, a narrativa equilibra habilmente a tensão daqueles momentos de mais ação com um desenvolvimento de personagens bastante cuidadoso, explorando assim, temas como lealdade, corrupção e luta pelo poder. Veja, embora a série siga muitas das convenções do gênero de espionagem, ela consegue se destacar ao introduzir uma camada mais humana aos personagens que ganham cada vez mais força com diálogos, de fato, bastante afiados.

"O Agente Noturno" é comandada por Seth Gordon e uma equipe talentosa de diretores que mantém um ritmo acelerado e constante durante todos os episódios - eu diria até que essa dinâmica é essencial para manter a tensão e o suspense de maneira a nos tirar o fôlego em muitos momentos. A fotografia desenhada pelo Michael Wale (o mesmo de "A Origem") é estilosa - um conceito visual que caminha tranquilamente entre um "House of Cards" e um "Homeland". Wale utiliza muito o jogo de sombras, priorizando uma iluminação mais densa para refletir o tom mais conspiratório de Washington, D.C. Agora vale um comentário: repare como as cenas de ação são bem coreografadas, como as perseguições, as lutas e os tiroteios são bem construídos - é emocionante e plausível dentro do contexto da história. Ah, e sim, será preciso uma certa abstração da realidade para embarcar na jornada do protagonista, mas te garanto que isso não atrapalha em nada na experiência de assistir qualquer que seja a sequência da série. Aliás, Gabriel Basso oferece uma performance sólida, retratando um agente determinado e competente, mas também alguém que luta com questões de confiança e insegurança. Basso consegue nivelar a intensidade exigida pelas cenas de ação com momentos de vulnerabilidade emocional, tornando seu Peter um protagonista fácil de se conectar. Luciane Buchanan, como Rose, também entrega uma atuação convincente, mostrando uma evolução de personagem das mais interessantes: de uma vítima em fuga à uma aliada corajosa.

Como cada personagem traz suas próprias motivações e conflitos, criando uma rede complexa de alianças e traições que nos mantém em dúvida sobre quem realmente está do lado certo, é fácil afirmar que "O Agente Noturno" é muito eficaz ao que se propõe, mesmo que seguindo uma fórmula já familiar do gênero de espionagem, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade em certos momentos, mas quem se importa? Com uma narrativa bem estruturada, performances das mais competentes e uma atmosfera tensa em todos os episódios, a série cumpre o que promete: entreter com a qualidade de quem sabe o que está fazendo e onde quer chegar!

Diversão garantida!

Assista Agora

"O Agente Noturno" poderia tranquilamente ser uma segunda temporada de "Segurança em Jogo" - e se você sabe do que eu estou falando, também sabe o que te espera! Lançada em 2023 pela Netflix, essa série tem uma mistura de elementos de suspense e de ação das mais envolventes, que simplesmente nos mergulha em um mundo complexo de conspirações governamentais, espionagem e traições. Baseada no livro homônimo de Matthew Quirk, "O Agente Noturno" oferece uma narrativa cheia de tensão, seguindo a trajetória de um agente de baixo escalão que se vê no centro de uma trama maior do que ele poderia imaginar. Para os fãs das saudosas "24 Horas" e "Homeland", aqui temos uma experiência igualmente eletrizante e cheia de surpresas!

A trama segue Peter Sutherland (Gabriel Basso), um jovem agente do FBI que trabalha em um turno noturno aparentemente monótono, respondendo chamadas de emergência em uma linha direta destinada a casos de extrema confidencialidade. Sua rotina muda drasticamente quando ele recebe uma ligação de Rose Larkin (Luciane Buchanan), uma mulher em pânico que se encontra em perigo após um ataque contra sua tia e tio, ambos envolvidos em atividades, no mínimo, suspeitas. À medida que Peter e Rose vão se comprometendo com o caso, eles descobrem uma conspiração que vai até as mais altas posições do governo, colocando suas vidas em risco. Confira o trailer:

Criada e adaptada por Shawn Ryan (de "The Shield"), a trama da série é habilmente construída para manter a audiência engajada do inicio ao fim. Sério, é preciso ter o autocontrole de um monge budista para deixar de assistir o próximo episódio - os "ganchos" são tão bem construídos que chega a irritar! Com reviravoltas inesperadas e uma rede de intrigas que se desenrola gradualmente, a narrativa equilibra habilmente a tensão daqueles momentos de mais ação com um desenvolvimento de personagens bastante cuidadoso, explorando assim, temas como lealdade, corrupção e luta pelo poder. Veja, embora a série siga muitas das convenções do gênero de espionagem, ela consegue se destacar ao introduzir uma camada mais humana aos personagens que ganham cada vez mais força com diálogos, de fato, bastante afiados.

"O Agente Noturno" é comandada por Seth Gordon e uma equipe talentosa de diretores que mantém um ritmo acelerado e constante durante todos os episódios - eu diria até que essa dinâmica é essencial para manter a tensão e o suspense de maneira a nos tirar o fôlego em muitos momentos. A fotografia desenhada pelo Michael Wale (o mesmo de "A Origem") é estilosa - um conceito visual que caminha tranquilamente entre um "House of Cards" e um "Homeland". Wale utiliza muito o jogo de sombras, priorizando uma iluminação mais densa para refletir o tom mais conspiratório de Washington, D.C. Agora vale um comentário: repare como as cenas de ação são bem coreografadas, como as perseguições, as lutas e os tiroteios são bem construídos - é emocionante e plausível dentro do contexto da história. Ah, e sim, será preciso uma certa abstração da realidade para embarcar na jornada do protagonista, mas te garanto que isso não atrapalha em nada na experiência de assistir qualquer que seja a sequência da série. Aliás, Gabriel Basso oferece uma performance sólida, retratando um agente determinado e competente, mas também alguém que luta com questões de confiança e insegurança. Basso consegue nivelar a intensidade exigida pelas cenas de ação com momentos de vulnerabilidade emocional, tornando seu Peter um protagonista fácil de se conectar. Luciane Buchanan, como Rose, também entrega uma atuação convincente, mostrando uma evolução de personagem das mais interessantes: de uma vítima em fuga à uma aliada corajosa.

Como cada personagem traz suas próprias motivações e conflitos, criando uma rede complexa de alianças e traições que nos mantém em dúvida sobre quem realmente está do lado certo, é fácil afirmar que "O Agente Noturno" é muito eficaz ao que se propõe, mesmo que seguindo uma fórmula já familiar do gênero de espionagem, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade em certos momentos, mas quem se importa? Com uma narrativa bem estruturada, performances das mais competentes e uma atmosfera tensa em todos os episódios, a série cumpre o que promete: entreter com a qualidade de quem sabe o que está fazendo e onde quer chegar!

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O Amante Duplo

Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.

Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:

O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.

É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.

Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que  "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!

Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!

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Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.

Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:

O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.

É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.

Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que  "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!

Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!

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O Apartamento

Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!

"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:

A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.

Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!

Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.

Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!

Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!

Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!

"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:

A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.

Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!

Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.

Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!

Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!

O Aviso

"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

Assista Agora

"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

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O Beco do Pesadelo

"O Beco do Pesadelo" tem a identidade de peso do seu diretor, Guillermo del Toro ("A Forma da Água" e "O Labirinto do Fauno") - visualmente impecável, com um história envolvente e que te prende do começo ao fim (sempre com uma lição escondida). Talvez um pouco menos "poético" que seus dois filmes que citamos, "O Beco do Pesadelo" usa a exploração da miséria humana (e aqui a "miséria" não tem necessariamente a ver com dinheiro) para discutir sobre a ambição descomedida que pode ser levada aos últimos níveis (e aqui sim estamos falando só de dinheiro)!

No filme conhecemos Stanton Carlisle (Bradley Cooper), um homem de passado nebuloso que encontra ocupação e companhia junto a outros marginalizados em uma espécie de circo itinerante repleto de espetáculos bizarros. Percebendo ótimas oportunidades de enganar as pessoas utilizando artimanhas bastante duvidosas, Stan se junta a Molly Cahill (Rooney Mara) em busca de melhores oportunidades até se tornar reconhecido como um mentalista famoso, ludibriando a elite rica da sociedade de Nova York dos anos 1940. Já é nesse contexto que ele conhece a psiquiatra Lilith Ritter (Cate Blanchett), iniciando uma parceria entre eles que transforma golpes até então inofensivos em um perigoso jogo de mentiras. Confira o trailer:

É impossível assistir "O Beco do Pesadelo" e não ficar deslumbrado com a qualidade visual do filme - do desenho de produção da premiada Tamara Deverell (Star Trek: Discovery) até a fotografia do sempre genial Dan Laustsen (A Forma da Água). Obviamente que todo departamento de arte segue esse mesmo cuidado estético, ajudando Del Toro a contar essa história com muito esmero visual - reparem como conseguimos perceber a presença de determinados personagens, mesmo antes deles serem totalmente enquadrados para que a cena de fato aconteça. 

Ao focar no visual temos a impressão que o roteiro perde força, não é o caso - aqui a adaptação da obra homônima de William Lindsay Gresham se ajusta perfeitamente com a proposta do diretor que mistura elementos fantásticos, com um bom drama de personagem, usando vários gatilhos de suspense (e até de terror, eu diria), em uma dinâmica narrativa muito interessante (mesmo que um pouco longa para o meu gosto). Se no primeiro ato Del Toro nos direciona para um estilo narrativo mais explicativo, a partir do segundo, ele simplesmente transforma a história em uma espécie de fábula que expõe as profundas consequências perante algumas atitudes duvidosas que são tomadas na busca de uma ascensão social frágil e nada honesta.

Se nas cenas iniciais vemos um homem que chegou ao fundo do poço sendo cruelmente explorado por mera diversão, logo nos deparamos com outro que deseja apenas recomeçar sua vida "custe o que custar". Sabiamente Del Toro fomenta essa dicotomia a todo momento, mostrando as fragilidades dos personagens e onde isso pode leva-los. Dito isso, "O Beco do Pesadelo" não deve ser encarado como um suspense noir como o recente "Noite Passada em Soho", muito pelo contrário, o filme é muito mais um drama de personagem na sua essência - que aliás é potencializado pelo irretocável trabalho do trio Bradley Cooper, Cate Blanchett e Rooney Mara, e com a participação luxuosa de Toni Collette e Willem Dafoe.

Vale muito a pena!

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"O Beco do Pesadelo" tem a identidade de peso do seu diretor, Guillermo del Toro ("A Forma da Água" e "O Labirinto do Fauno") - visualmente impecável, com um história envolvente e que te prende do começo ao fim (sempre com uma lição escondida). Talvez um pouco menos "poético" que seus dois filmes que citamos, "O Beco do Pesadelo" usa a exploração da miséria humana (e aqui a "miséria" não tem necessariamente a ver com dinheiro) para discutir sobre a ambição descomedida que pode ser levada aos últimos níveis (e aqui sim estamos falando só de dinheiro)!

No filme conhecemos Stanton Carlisle (Bradley Cooper), um homem de passado nebuloso que encontra ocupação e companhia junto a outros marginalizados em uma espécie de circo itinerante repleto de espetáculos bizarros. Percebendo ótimas oportunidades de enganar as pessoas utilizando artimanhas bastante duvidosas, Stan se junta a Molly Cahill (Rooney Mara) em busca de melhores oportunidades até se tornar reconhecido como um mentalista famoso, ludibriando a elite rica da sociedade de Nova York dos anos 1940. Já é nesse contexto que ele conhece a psiquiatra Lilith Ritter (Cate Blanchett), iniciando uma parceria entre eles que transforma golpes até então inofensivos em um perigoso jogo de mentiras. Confira o trailer:

É impossível assistir "O Beco do Pesadelo" e não ficar deslumbrado com a qualidade visual do filme - do desenho de produção da premiada Tamara Deverell (Star Trek: Discovery) até a fotografia do sempre genial Dan Laustsen (A Forma da Água). Obviamente que todo departamento de arte segue esse mesmo cuidado estético, ajudando Del Toro a contar essa história com muito esmero visual - reparem como conseguimos perceber a presença de determinados personagens, mesmo antes deles serem totalmente enquadrados para que a cena de fato aconteça. 

Ao focar no visual temos a impressão que o roteiro perde força, não é o caso - aqui a adaptação da obra homônima de William Lindsay Gresham se ajusta perfeitamente com a proposta do diretor que mistura elementos fantásticos, com um bom drama de personagem, usando vários gatilhos de suspense (e até de terror, eu diria), em uma dinâmica narrativa muito interessante (mesmo que um pouco longa para o meu gosto). Se no primeiro ato Del Toro nos direciona para um estilo narrativo mais explicativo, a partir do segundo, ele simplesmente transforma a história em uma espécie de fábula que expõe as profundas consequências perante algumas atitudes duvidosas que são tomadas na busca de uma ascensão social frágil e nada honesta.

Se nas cenas iniciais vemos um homem que chegou ao fundo do poço sendo cruelmente explorado por mera diversão, logo nos deparamos com outro que deseja apenas recomeçar sua vida "custe o que custar". Sabiamente Del Toro fomenta essa dicotomia a todo momento, mostrando as fragilidades dos personagens e onde isso pode leva-los. Dito isso, "O Beco do Pesadelo" não deve ser encarado como um suspense noir como o recente "Noite Passada em Soho", muito pelo contrário, o filme é muito mais um drama de personagem na sua essência - que aliás é potencializado pelo irretocável trabalho do trio Bradley Cooper, Cate Blanchett e Rooney Mara, e com a participação luxuosa de Toni Collette e Willem Dafoe.

Vale muito a pena!

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O Bosque

Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

Assista Agora

Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

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O Caso Asunta

É impossível não pensar nessa minissérie com aquele "selo HBO". Não que a produção da Netflix seja ruim, mas definitivamente não está na mesma prateleira. Dito isso, e alinhada as expectativas, posso adiantar que "O Caso Asunta" vai te surpreendente mais pela história real bizarra do que por qualquer outra coisa. "El Caso Asunta" (no original), criada por Ramón Campos e Gema R. Neira (do ótimo "Fariña") ao lado de e David Orea e Jon de la Cuesta, é um mergulho nos detalhes mais sórdidos de um crime real que chocou a Espanha em 2013. A minissérie retrata o caso da jovem Asunta Basterra Porto, uma menina de 12 anos encontrada morta em circunstâncias misteriosas, e o subsequente julgamento de seus pais adotivos, Rosario Porto e Alfonso Basterra, acusados de seu assassinato. Com uma narrativa intensa, sempre pontuada por uma abordagem quase documental, "O Caso Asunta" oferece uma visão interessante, minuciosa e inquietante de um dos casos mais perturbadores dos últimos tempos na Europa.

O casal Rosario (Candela Peña) e Alfonso Basterra (Tristán Ulloa) denuncia o desaparecimento de sua filha adotiva, Asunta, em uma delegacia de Santiago, na Espanha. No entanto, uma série de contradições, rapidamente, fazem com que as investigações apontem que os próprios pais sejam indiciados pelo crime. Como é possível imaginar, essa linha de investigação liderada pelo egocêntrico Juez Malvar (Javier Gutiérrez) transforma o caso em uma jornada de grande repercussão na mídia espanhola em 2013, e que acaba deixando muitas marcas. Confira o trailer (em espanhol):

Se você for um grande apreciador do gênero, facilmente você perceberá como a minissérie é estruturada para nos remeter ao estilo "true crime" de conduzir uma narrativa. Combinando imagens reais do caso com reconstituições dramatizadas dos bastidores da investigação, focando especialmente nos acusados, "O Caso Asunta" constrói um retrato abrangente dos eventos que levaram à morte de Asunta. A produção se esforça para ser fiel aos fatos conhecidos do caso, ao mesmo tempo em que explora as complexidades emocionais e psicológicas dos envolvidos, com um conceito visual que, de fato, cria uma experiência imersiva que nos prende e nos faz questionar as motivações e o comportamento dos personagens centrais a todo momento.

Carlos Sedes e Jacobo Martínez (ambos de "Fariña") fazem um bom trabalho na direção ao equilibrar a narrativa mais factual com o drama humano. Mesmo com um orçamento limitado, é perceptível ao longo dos episódios, que os diretores se esforçam para entregar um ritmo meticuloso, guiando a audiência pelos eventos que precederam e seguiram a tragédia. O uso de cortes reais e uma câmera "mais nervosa" confere certa autenticidade à narrativa, certamente potencializa a gravidade do caso e o impacto que teve na sociedade espanhola. Reparem como os tons frios e a iluminação das cenas sublinham a atmosfera inquietante da história de forma a maximizar o impacto emocional, com planos mais fechados que refletem a angústia e a confusão em torno da investigação e do julgamento pela perspectiva de quem mais sofreu com tudo isso.

Ao evitar um enfoque unilateral, "O Caso Asunta" permite que audiência considere múltiplas teorias e interpretações, mostrando a complexidade da investigação e toda incerteza que muitas vezes acompanham casos de grande notoriedade pública. Essa proposta aumenta o lado entretenimento da história e acaba cobrando um pouco mais do seu elenco. Tanto Peña quanto Ulloa trazem uma intensidade e ambiguidade que justificam a perplexidade do público e da mídia em relação à sua culpabilidade ou inocência dos pais de Asunta, mas olha, é na figura de Juez Malvar do premiado Javier Gutiérrez que a minissérie mexe mesmo com nossas sensações mais particulares - especialmente quando percebemos que o crime funciona muito mais como um fenômeno cultural e um reflexo das ansiedades sociais contemporâneas, do que como uma missão pela justiça e pelo respeito à vitima.

"O Caso Asunta" vale o seu play!

Assista Agora

É impossível não pensar nessa minissérie com aquele "selo HBO". Não que a produção da Netflix seja ruim, mas definitivamente não está na mesma prateleira. Dito isso, e alinhada as expectativas, posso adiantar que "O Caso Asunta" vai te surpreendente mais pela história real bizarra do que por qualquer outra coisa. "El Caso Asunta" (no original), criada por Ramón Campos e Gema R. Neira (do ótimo "Fariña") ao lado de e David Orea e Jon de la Cuesta, é um mergulho nos detalhes mais sórdidos de um crime real que chocou a Espanha em 2013. A minissérie retrata o caso da jovem Asunta Basterra Porto, uma menina de 12 anos encontrada morta em circunstâncias misteriosas, e o subsequente julgamento de seus pais adotivos, Rosario Porto e Alfonso Basterra, acusados de seu assassinato. Com uma narrativa intensa, sempre pontuada por uma abordagem quase documental, "O Caso Asunta" oferece uma visão interessante, minuciosa e inquietante de um dos casos mais perturbadores dos últimos tempos na Europa.

O casal Rosario (Candela Peña) e Alfonso Basterra (Tristán Ulloa) denuncia o desaparecimento de sua filha adotiva, Asunta, em uma delegacia de Santiago, na Espanha. No entanto, uma série de contradições, rapidamente, fazem com que as investigações apontem que os próprios pais sejam indiciados pelo crime. Como é possível imaginar, essa linha de investigação liderada pelo egocêntrico Juez Malvar (Javier Gutiérrez) transforma o caso em uma jornada de grande repercussão na mídia espanhola em 2013, e que acaba deixando muitas marcas. Confira o trailer (em espanhol):

Se você for um grande apreciador do gênero, facilmente você perceberá como a minissérie é estruturada para nos remeter ao estilo "true crime" de conduzir uma narrativa. Combinando imagens reais do caso com reconstituições dramatizadas dos bastidores da investigação, focando especialmente nos acusados, "O Caso Asunta" constrói um retrato abrangente dos eventos que levaram à morte de Asunta. A produção se esforça para ser fiel aos fatos conhecidos do caso, ao mesmo tempo em que explora as complexidades emocionais e psicológicas dos envolvidos, com um conceito visual que, de fato, cria uma experiência imersiva que nos prende e nos faz questionar as motivações e o comportamento dos personagens centrais a todo momento.

Carlos Sedes e Jacobo Martínez (ambos de "Fariña") fazem um bom trabalho na direção ao equilibrar a narrativa mais factual com o drama humano. Mesmo com um orçamento limitado, é perceptível ao longo dos episódios, que os diretores se esforçam para entregar um ritmo meticuloso, guiando a audiência pelos eventos que precederam e seguiram a tragédia. O uso de cortes reais e uma câmera "mais nervosa" confere certa autenticidade à narrativa, certamente potencializa a gravidade do caso e o impacto que teve na sociedade espanhola. Reparem como os tons frios e a iluminação das cenas sublinham a atmosfera inquietante da história de forma a maximizar o impacto emocional, com planos mais fechados que refletem a angústia e a confusão em torno da investigação e do julgamento pela perspectiva de quem mais sofreu com tudo isso.

Ao evitar um enfoque unilateral, "O Caso Asunta" permite que audiência considere múltiplas teorias e interpretações, mostrando a complexidade da investigação e toda incerteza que muitas vezes acompanham casos de grande notoriedade pública. Essa proposta aumenta o lado entretenimento da história e acaba cobrando um pouco mais do seu elenco. Tanto Peña quanto Ulloa trazem uma intensidade e ambiguidade que justificam a perplexidade do público e da mídia em relação à sua culpabilidade ou inocência dos pais de Asunta, mas olha, é na figura de Juez Malvar do premiado Javier Gutiérrez que a minissérie mexe mesmo com nossas sensações mais particulares - especialmente quando percebemos que o crime funciona muito mais como um fenômeno cultural e um reflexo das ansiedades sociais contemporâneas, do que como uma missão pela justiça e pelo respeito à vitima.

"O Caso Asunta" vale o seu play!

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O Caso Celso Daniel

Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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O Caso Collini

"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

Vale a pena! 

Assista Agora

"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

Vale a pena! 

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O Caso Evandro

"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

Assista Agora

"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

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O Caso Richard Jewell

"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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O Cerco de Waco

Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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O Crime do Século

"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

Vale muito o seu play!

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"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

Vale muito o seu play!

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O Desconhecido

Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.

Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):

Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!

O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante. 

No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano. 

Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!

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Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.

Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):

Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!

O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante. 

No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano. 

Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!

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O Dia do Atentado

Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

Vale muito seu play!

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Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

Vale muito seu play!

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