"La Casa de Papel" é uma série espanhola criada por Álex Pina que se tornou um fenômeno global meio que por acaso, conquistando milhões de fãs em todo o mundo e fazendo com que a plataforma que só tinha o direito de distribuição da primeira temporada investisse em mais alguns anos - que cá entre nós, se mostrou uma das decisões mais acertadas de empresa em muitos anos. A produção, que estreou na Netflix em 2017, tem todos os elementos que nos conquista, mas a relação da audiência com seus personagens, de fato, coloca o título em um outro patamar - os personagens são carismáticos e bem desenvolvidos, desde seu líder brilhante, mas também complexo e cheio de segredos, como todos os outros assaltantes também são interessantes, com suas próprias histórias e motivações.
Para quem não sabe, a série acompanha a história de um grupo de assaltantes liderados por um misterioso homem conhecido como "O Professor" (Álvaro Morte), cujo objetivo é realizar o maior assalto da história, roubando 2,4 bilhões de euros da Casa da Moeda Real da Espanha. Veja, embora não seja uma grande novidade (com cenas que já vimos em outros filmes), a forma como a trama é narrada é muito interessante, eu diria que é daquelas séries que surpreendem já no primeiro episódio e nos prendem até o final - e realmente temos um final. Confira o trailer:
"La Casa de Papel" segue uma linha narrativa bem parecida com alguns filmes da Espanha que fizeram muito sucesso na temporada 2017 - um drama (quase non-sense de absurdo) cheio de alívios cômicos inteligentes, muito contraste visual, extremamente bem produzido, com bons atores (atenção para o Pedro Alonso que interpreta o "Berlin") e um roteiro realmente bem construído - mesmo que exija certa suspensão da realidade para embarcar nas soluções "malucas" do Professor!
Um dos elementos que mais chamam a atenção em "La Casa de Papel" é a sua estética. A série é filmada com uma paleta de cores fortes e vibrantes, que criam uma atmosfera envolvente e cheia de energia. A direção também é muito dinâmica, com cenas de ação que são filmadas de forma primorosa - empolgante na sua essência. Outro ponto forte, e que alinha todos eles elementos visuais e narrativos, é sua trilha sonora. A música é usada de forma inteligente para potencializar a atmosfera certa em cada momento - as músicas clássicas, como "Bella Ciao", são criam um senso de nostalgia e emoção, enquanto as músicas eletrônicas são usadas para pontuar a tensão e o suspense.
O que dizer de Úrsula Corberó (Tóquio), Jaime Lorente (Denver), Miguel Herrán (Rio) e Esther Acebo (Estocolmo)? Como pontuei na introdução: a cereja do bolo de uma uma série imperdível que conquista o público de todas as idades com a alma - mesmo que fantasiada por uma dinâmica eletrizante, uma produção impecável e uma estética vibrante de cair o queixo. Se as últimas temporadas perdem o elemento "novidade", saiba que até lá já estamos apaixonados ao ponto de nem ligar para caminho que a trama seguiu, só queremos que aquela aventura nunca acabe mesmo!
Vale muito a pena!
"La Casa de Papel" é uma série espanhola criada por Álex Pina que se tornou um fenômeno global meio que por acaso, conquistando milhões de fãs em todo o mundo e fazendo com que a plataforma que só tinha o direito de distribuição da primeira temporada investisse em mais alguns anos - que cá entre nós, se mostrou uma das decisões mais acertadas de empresa em muitos anos. A produção, que estreou na Netflix em 2017, tem todos os elementos que nos conquista, mas a relação da audiência com seus personagens, de fato, coloca o título em um outro patamar - os personagens são carismáticos e bem desenvolvidos, desde seu líder brilhante, mas também complexo e cheio de segredos, como todos os outros assaltantes também são interessantes, com suas próprias histórias e motivações.
Para quem não sabe, a série acompanha a história de um grupo de assaltantes liderados por um misterioso homem conhecido como "O Professor" (Álvaro Morte), cujo objetivo é realizar o maior assalto da história, roubando 2,4 bilhões de euros da Casa da Moeda Real da Espanha. Veja, embora não seja uma grande novidade (com cenas que já vimos em outros filmes), a forma como a trama é narrada é muito interessante, eu diria que é daquelas séries que surpreendem já no primeiro episódio e nos prendem até o final - e realmente temos um final. Confira o trailer:
"La Casa de Papel" segue uma linha narrativa bem parecida com alguns filmes da Espanha que fizeram muito sucesso na temporada 2017 - um drama (quase non-sense de absurdo) cheio de alívios cômicos inteligentes, muito contraste visual, extremamente bem produzido, com bons atores (atenção para o Pedro Alonso que interpreta o "Berlin") e um roteiro realmente bem construído - mesmo que exija certa suspensão da realidade para embarcar nas soluções "malucas" do Professor!
Um dos elementos que mais chamam a atenção em "La Casa de Papel" é a sua estética. A série é filmada com uma paleta de cores fortes e vibrantes, que criam uma atmosfera envolvente e cheia de energia. A direção também é muito dinâmica, com cenas de ação que são filmadas de forma primorosa - empolgante na sua essência. Outro ponto forte, e que alinha todos eles elementos visuais e narrativos, é sua trilha sonora. A música é usada de forma inteligente para potencializar a atmosfera certa em cada momento - as músicas clássicas, como "Bella Ciao", são criam um senso de nostalgia e emoção, enquanto as músicas eletrônicas são usadas para pontuar a tensão e o suspense.
O que dizer de Úrsula Corberó (Tóquio), Jaime Lorente (Denver), Miguel Herrán (Rio) e Esther Acebo (Estocolmo)? Como pontuei na introdução: a cereja do bolo de uma uma série imperdível que conquista o público de todas as idades com a alma - mesmo que fantasiada por uma dinâmica eletrizante, uma produção impecável e uma estética vibrante de cair o queixo. Se as últimas temporadas perdem o elemento "novidade", saiba que até lá já estamos apaixonados ao ponto de nem ligar para caminho que a trama seguiu, só queremos que aquela aventura nunca acabe mesmo!
Vale muito a pena!
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Divertido como um "filme de assalto" deve ser - mas, sim, será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na proposta narrativa do diretor F. Gary Gray (de "Código de Conduta") e do roteirista Daniel Kunka (de "12 rounds"). "Lift: Roubo nas Alturas" é entretenimento puro, uma mistura de ação com ótimos toques de comédia que realmente prende a atenção da audiência do início ao fim pela forma despretensiosa com que conduz sua narrativa. Essa produção original da Netflixsegue a fórmula mirabolante do roubo improvável com uma equipe de ladrões, com diferentes habilidades, que se reune para realizar o maior golpe de suas vidas. Inovador? Longe disso, aliás é cheio de clichês, o que é ótimo para o gênero, no entanto aqui temos um ponto que triunfa, mesmo tendo essa premissa, digamos, batida: seu elenco, e a interação entre todos os atores, é excelente!
A trama segue um grupo de criminosos internacionais liderado por Cyrus (Kevin Hart) que acabam de ser contratados por Abby (Gugu Mbatha-Raw), uma agente federal, para que cumpram uma missão ambiciosa: roubar meio bilhão de dólares em barras de ouro que estão sendo transportadas para uma célula terrorista. Para deixar tudo ainda mais insano, a carga está sendo transportada em um Boeing 777 que parte de Londres rumo a Zurique, e eles devem roubá-la em pleno vôo. Confira o trailer:
"Lift: Roubo nas Alturas" é "cinema pipoca", um prato cheio para quem gosta de filmes de ação e não quer pensar muito. Como obra ele até repete aquela atmosfera "La Casa de Papel" com um dinamismo que a própria série teve dificuldade de emplacar em sua primeira temporada. Se você reparar bem, aqui no filme, a sequência que mostra toda a preparação do golpe é menor, claro, mas tão divertida quanto da série espanhola. Enquanto o texto brinca com as diferentes possibilidades e soluções para que tudo dê certo na hora do roubo (e nunca dá), também temos a oportunidade de ver o elenco de apoio ter seu momento - talvez sem o mesmo charme, mas igualmente simpáticos, eu diria. Olhando já pelo lado da ação, as sequências de perseguição são, de fato, bem realizadas - a do plot inicial, que acompanha o roubo no leilão, achei até melhor que a do plot principal (especialmente porque exige menos das composições em CGI - e algumas não estão 100% no filme).
Olhando pela perspectiva do roteiro, é até fácil dizer que o filme não decepciona, que tem um bom senso de humor, com piadas que funcionam na maioria das vezes, de forma equilibrada e sem forçar muito a barra. O que pega, é a falta de originalidade ou até de coragem para propor algo menos previsível - é aqui que a química de todo o elenco segura o rojão. Kevin Hart está engraçado, irônico - parece que está se divertindo em cena (o que mostra sua capacidade como um comediante que amadurece como ator). Hart tem ótimas sacadas com Gugu Mbatha-Raw - que chega até aqui depois de uma ótima jornada em "The Morning Show". Tenho certeza que ainda vamos ver ótimos e mais profundos trabalhos desses dois atores.
A direção de F. Gary Gray é segura e competente - ele sabe como criar cenas de ação e como equilibrar drama e humor. Ele brinca com a câmera, é coerente na forma como conta a história, mas acho que seu principal valor está em saber os limites da produção, do roteiro e do orçamento. Dentro dos limites, tudo é bacana! Sabe aquele filme que a gente reservava na quinta-feira para alugar no fim de semana, e quando devolvíamos na segunda achando divertido, até dávamos boas recomendações, só que nunca mais pensávamos nele? Pois é, "Lift: Roubo nas Alturas" é isso: uma ótima opção para quem está procurando um filme de ação mais descartável, no bom sentido, mais ou menos como foi aquele "O Fugitivo" de 1993.
Divertido como um "filme de assalto" deve ser - mas, sim, será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na proposta narrativa do diretor F. Gary Gray (de "Código de Conduta") e do roteirista Daniel Kunka (de "12 rounds"). "Lift: Roubo nas Alturas" é entretenimento puro, uma mistura de ação com ótimos toques de comédia que realmente prende a atenção da audiência do início ao fim pela forma despretensiosa com que conduz sua narrativa. Essa produção original da Netflixsegue a fórmula mirabolante do roubo improvável com uma equipe de ladrões, com diferentes habilidades, que se reune para realizar o maior golpe de suas vidas. Inovador? Longe disso, aliás é cheio de clichês, o que é ótimo para o gênero, no entanto aqui temos um ponto que triunfa, mesmo tendo essa premissa, digamos, batida: seu elenco, e a interação entre todos os atores, é excelente!
A trama segue um grupo de criminosos internacionais liderado por Cyrus (Kevin Hart) que acabam de ser contratados por Abby (Gugu Mbatha-Raw), uma agente federal, para que cumpram uma missão ambiciosa: roubar meio bilhão de dólares em barras de ouro que estão sendo transportadas para uma célula terrorista. Para deixar tudo ainda mais insano, a carga está sendo transportada em um Boeing 777 que parte de Londres rumo a Zurique, e eles devem roubá-la em pleno vôo. Confira o trailer:
"Lift: Roubo nas Alturas" é "cinema pipoca", um prato cheio para quem gosta de filmes de ação e não quer pensar muito. Como obra ele até repete aquela atmosfera "La Casa de Papel" com um dinamismo que a própria série teve dificuldade de emplacar em sua primeira temporada. Se você reparar bem, aqui no filme, a sequência que mostra toda a preparação do golpe é menor, claro, mas tão divertida quanto da série espanhola. Enquanto o texto brinca com as diferentes possibilidades e soluções para que tudo dê certo na hora do roubo (e nunca dá), também temos a oportunidade de ver o elenco de apoio ter seu momento - talvez sem o mesmo charme, mas igualmente simpáticos, eu diria. Olhando já pelo lado da ação, as sequências de perseguição são, de fato, bem realizadas - a do plot inicial, que acompanha o roubo no leilão, achei até melhor que a do plot principal (especialmente porque exige menos das composições em CGI - e algumas não estão 100% no filme).
Olhando pela perspectiva do roteiro, é até fácil dizer que o filme não decepciona, que tem um bom senso de humor, com piadas que funcionam na maioria das vezes, de forma equilibrada e sem forçar muito a barra. O que pega, é a falta de originalidade ou até de coragem para propor algo menos previsível - é aqui que a química de todo o elenco segura o rojão. Kevin Hart está engraçado, irônico - parece que está se divertindo em cena (o que mostra sua capacidade como um comediante que amadurece como ator). Hart tem ótimas sacadas com Gugu Mbatha-Raw - que chega até aqui depois de uma ótima jornada em "The Morning Show". Tenho certeza que ainda vamos ver ótimos e mais profundos trabalhos desses dois atores.
A direção de F. Gary Gray é segura e competente - ele sabe como criar cenas de ação e como equilibrar drama e humor. Ele brinca com a câmera, é coerente na forma como conta a história, mas acho que seu principal valor está em saber os limites da produção, do roteiro e do orçamento. Dentro dos limites, tudo é bacana! Sabe aquele filme que a gente reservava na quinta-feira para alugar no fim de semana, e quando devolvíamos na segunda achando divertido, até dávamos boas recomendações, só que nunca mais pensávamos nele? Pois é, "Lift: Roubo nas Alturas" é isso: uma ótima opção para quem está procurando um filme de ação mais descartável, no bom sentido, mais ou menos como foi aquele "O Fugitivo" de 1993.
Não tem como não gostar de "Line of Duty", especialmente se você (como eu) foi um grande fã de "24 Horas"! Mas calma, nada é por acaso - para minha surpresa, eu já tinha comentado sobre as referências do criador dessa série em uma análise de outra de suas produções, a minissérie sensação de 2018, "Segurança em Jogo"da Netflix! É isso, criada por Jed Mercurio, "Line of Duty" é daquelas séries que prendem a atenção da audiência pela dinâmica narrativa, pela inteligência de suas reviravoltas, pela tensão constante de suas sequências de ação e pela habilidade de se reinventar a cada temporada, mantendo um altíssimo nível do início ao fim. Olha, se prepare para não sair do sofá, pois são seis temporadas (com uma média de seis episódios cada) de muito (mas, muito) entretenimento de qualidade!
"Line of Duty" é um premiadíssimo drama britânico que, basicamente, mergulha no universo da corrupção policial. Após uma delicada incursão contraterrorista dar muito errado, o Sargento Steve Arnott (Martin Compston) se recusa a encobertar os erros de sua equipe. Ao ser hostilizado pelos seus superiores, Arnott então se transfere para uma unidade anti-corrupção da policia local comandada pelo peculiar superintendente Ted Hastings (Adrian Dunbar). Lançada em 2012 pela BBC, a série rapidamente se consolidou como uma das melhores obras policiais das últimas décadas, graças à sua capacidade excepcional de equilibrar mistério, ação e uma reflexão crítica sobre poder, ética e integridade institucional. Confira o trailer (em inglês):
Mercurio já é conhecido por uma escrita, ao mesmo tempo, sofisticada e criativa. Dessa vez ele entrega uma jornada ainda mais empolgante que "Segurança em Jogo" e sem perder sua marca registrada: oferecer um olhar minucioso sobre os meandros da corrupção policial e sobre as complexidades morais enfrentadas por aqueles que tentam combatê-la. A cada temporada, a série apresenta um caso diferente, com personagens centrais que trazem consigo uma narrativa própria, mergulhando profundamente em dilemas éticos, pontuando as relações de poder e escolhas difíceis que cada um precisa tomar ao longo da jornada. Porém, o núcleo permanente formado pelo trio de investigadores Steve Arnott, Kate Fleming (Vicky McClure) e Ted Hastings (Adrian Dunbar) funciona como a espinha dorsal de "Line of Duty", trazendo muito do conceito de antologia procedural, bem anos 2000, para a produção.
A série, impossível negar, se destaca especialmente pelo seu roteiro inteligente e elaborado, que raramente oferece respostas fáceis - mesmo exigindo uma certa suspensão da realidade graças a alguns atalhos dramáticos que Mercurio insiste em pegar. Repare como cada episódio é construído com muita precisão, repleto de diálogos rápidos e referências técnicas de investigação bastante detalhadas que criam um ritmo intenso, potencializado por reviravoltas, de fato, inesperadas. As entrevistas conduzidas pela equipe da AC-12, aliás, são particularmente memoráveis - filmadas em espaços claustrofóbicos e com enquadramentos fechados, elas aumentam a tensão e frequentemente geram momentos de grande impacto emocional e narrativo. Outro elemento marcante em "Line of Duty" é a excelência do elenco convidado a cada temporada: atores e atrizes consagrados como Keeley Hawes, Lennie James, Thandiwe Newton, Kelly Macdonald e até Stephen Graham tiveram interpretações brilhantes, trazendo complexidade aos seus personagens e deixando um forte legado para a história da série.
A direção ao longo das temporadas, mesmo com vários profissionais no comando, também mantém uma solidez e um refinamento elogiável. Os episódios contam com um trabalho excepcional de câmera, especialmente na construção das cenas de ação e das perseguições, que nunca se limitam ao mero espetáculo. Ao contrário, elas sempre servem à narrativa, reforçando a sensação de urgência e de perigo iminente enfrentado pelos personagens. Além de ser um mestre em narrativas como essa, Mercurio é também um observador sagaz dos conflitos internos de seus personagens, ou seja, os protagonistas carregam suas próprias sombras e lutas pessoais, sendo colocados à prova constantemente - é essa dinâmica que funciona como um elo praticamente inquebrável de uma temporada até a outra. Embora mantenha um ritmo empolgante e um tom bastante investigativo, a obra nunca deixa de apresentar reflexões críticas sobre temas contemporâneos, o que coloca "Line of Duty" em um patamar tão elevado entre as produções policiais que, para mim, entra no hall das melhores do gênero já produzidas! Sem exageros!
Com sua mistura impecável de suspense, drama e crítica, "Line of Duty" é mais um exemplo primoroso do que a televisão britânica é capaz de produzir de melhor!
Não tem como não gostar de "Line of Duty", especialmente se você (como eu) foi um grande fã de "24 Horas"! Mas calma, nada é por acaso - para minha surpresa, eu já tinha comentado sobre as referências do criador dessa série em uma análise de outra de suas produções, a minissérie sensação de 2018, "Segurança em Jogo"da Netflix! É isso, criada por Jed Mercurio, "Line of Duty" é daquelas séries que prendem a atenção da audiência pela dinâmica narrativa, pela inteligência de suas reviravoltas, pela tensão constante de suas sequências de ação e pela habilidade de se reinventar a cada temporada, mantendo um altíssimo nível do início ao fim. Olha, se prepare para não sair do sofá, pois são seis temporadas (com uma média de seis episódios cada) de muito (mas, muito) entretenimento de qualidade!
"Line of Duty" é um premiadíssimo drama britânico que, basicamente, mergulha no universo da corrupção policial. Após uma delicada incursão contraterrorista dar muito errado, o Sargento Steve Arnott (Martin Compston) se recusa a encobertar os erros de sua equipe. Ao ser hostilizado pelos seus superiores, Arnott então se transfere para uma unidade anti-corrupção da policia local comandada pelo peculiar superintendente Ted Hastings (Adrian Dunbar). Lançada em 2012 pela BBC, a série rapidamente se consolidou como uma das melhores obras policiais das últimas décadas, graças à sua capacidade excepcional de equilibrar mistério, ação e uma reflexão crítica sobre poder, ética e integridade institucional. Confira o trailer (em inglês):
Mercurio já é conhecido por uma escrita, ao mesmo tempo, sofisticada e criativa. Dessa vez ele entrega uma jornada ainda mais empolgante que "Segurança em Jogo" e sem perder sua marca registrada: oferecer um olhar minucioso sobre os meandros da corrupção policial e sobre as complexidades morais enfrentadas por aqueles que tentam combatê-la. A cada temporada, a série apresenta um caso diferente, com personagens centrais que trazem consigo uma narrativa própria, mergulhando profundamente em dilemas éticos, pontuando as relações de poder e escolhas difíceis que cada um precisa tomar ao longo da jornada. Porém, o núcleo permanente formado pelo trio de investigadores Steve Arnott, Kate Fleming (Vicky McClure) e Ted Hastings (Adrian Dunbar) funciona como a espinha dorsal de "Line of Duty", trazendo muito do conceito de antologia procedural, bem anos 2000, para a produção.
A série, impossível negar, se destaca especialmente pelo seu roteiro inteligente e elaborado, que raramente oferece respostas fáceis - mesmo exigindo uma certa suspensão da realidade graças a alguns atalhos dramáticos que Mercurio insiste em pegar. Repare como cada episódio é construído com muita precisão, repleto de diálogos rápidos e referências técnicas de investigação bastante detalhadas que criam um ritmo intenso, potencializado por reviravoltas, de fato, inesperadas. As entrevistas conduzidas pela equipe da AC-12, aliás, são particularmente memoráveis - filmadas em espaços claustrofóbicos e com enquadramentos fechados, elas aumentam a tensão e frequentemente geram momentos de grande impacto emocional e narrativo. Outro elemento marcante em "Line of Duty" é a excelência do elenco convidado a cada temporada: atores e atrizes consagrados como Keeley Hawes, Lennie James, Thandiwe Newton, Kelly Macdonald e até Stephen Graham tiveram interpretações brilhantes, trazendo complexidade aos seus personagens e deixando um forte legado para a história da série.
A direção ao longo das temporadas, mesmo com vários profissionais no comando, também mantém uma solidez e um refinamento elogiável. Os episódios contam com um trabalho excepcional de câmera, especialmente na construção das cenas de ação e das perseguições, que nunca se limitam ao mero espetáculo. Ao contrário, elas sempre servem à narrativa, reforçando a sensação de urgência e de perigo iminente enfrentado pelos personagens. Além de ser um mestre em narrativas como essa, Mercurio é também um observador sagaz dos conflitos internos de seus personagens, ou seja, os protagonistas carregam suas próprias sombras e lutas pessoais, sendo colocados à prova constantemente - é essa dinâmica que funciona como um elo praticamente inquebrável de uma temporada até a outra. Embora mantenha um ritmo empolgante e um tom bastante investigativo, a obra nunca deixa de apresentar reflexões críticas sobre temas contemporâneos, o que coloca "Line of Duty" em um patamar tão elevado entre as produções policiais que, para mim, entra no hall das melhores do gênero já produzidas! Sem exageros!
Com sua mistura impecável de suspense, drama e crítica, "Line of Duty" é mais um exemplo primoroso do que a televisão britânica é capaz de produzir de melhor!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Se você gosta daquele estilo de filme onde um único personagem comanda a narrativa normalmente contracenando com um telefone ou uma tela de computador como "A Hora do Desespero", de "Culpa" e até de "Buscando...", "Locke" é para você! O filme dirigido pelo Steven Knight (de "Calmaria"), funciona basicamente como um thriller psicológico dos mais inteligentes, levando a audiência em uma viagem angustiante, emocionalmente densa e profundamente cativante - eu diria que é um olhar profundo sobre temas como responsabilidade, ética e consequências, uma verdadeira reflexão sobre as escolhas que fazemos e como elas moldam nossas vidas.
A trama se desenrola em tempo real, enquanto acompanhamos Ivan Locke (Tom Hardy), um dedicado e respeitado engenheiro durante uma viagem de carro para Londres, um dia antes de encarar o maior desafio de sua carreira, pela qual lutou arduamente. Quando Locke recebe um telefonema ameaçando a segurança de sua família, ele tem 90 minutos e um "viva-voz" para enfrentar vários desafios pessoais e profissionais que colocam, inclusive, sua vida em xeque. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro escrito pelo próprio Knight é a prova de que uma boa história não exige grandes investimentos. O texto é afiado e inteligente, capaz de explorar as camadas emocionais do protagonista de uma forma sutil e eficaz. Através das conversas telefônicas de Locke com sua esposa, filhos, colegas de trabalho, somos expostos a diferentes facetas de sua vida e da sua personalidade. A estrutura narrativa que usa das vozes dos outros personagens sem mostrá-los fisicamente contribui para a sensação de isolamento e intensifica a atmosfera de tensão pela qual o personagem está passando.
Inclusive, Tom Hardy entrega uma performance emocionalmente poderosa como Locke. Sua habilidade de transmitir as complexidades do personagem, mesmo sem a presença física de outros atores, é notável. Através de sua voz e das suas expressões faciais, Hardy transmite um range considerável de emoções - reparem como a confiança e determinação inicial se transforma em uma crescente ansiedade e vulnerabilidade à medida que os desafios se intensificam. Não foi por acaso que "Locke" ganhou o prêmio de melhor roteiro no British Independent Film Awards em 2013.
A direção de Steven Knight também é muito competente ao criar uma verdadeira experiência imersiva, mesmo com recursos limitados. A escolha de manter a ação dentro do carro e usar a iluminação noturna das estradas para criar uma atmosfera claustrofóbica é muito eficaz. A trilha sonora e o desenho de som também contribuem para a construção desse clima tenso, no entanto, para alguns, essa abordagem altamente conceitual pode parecer maçante. A falta de ação física e a ênfase quase exclusiva nas conversas por telefone podem desapontar aqueles que buscam um ritmo mais acelerado.
"Locke" é um filme com uma pegada independente, autoral e bastante criativo (valores que a A24 carrega em sua produções, diga-se de passagem) - só por isso já mereceria o seu play, mas além de tudo sua história é concisa, e mesmo sem se preocupar em entregar todas as respostas, nos proporciona uma ótima jornada de entretenimento.
Se você gosta daquele estilo de filme onde um único personagem comanda a narrativa normalmente contracenando com um telefone ou uma tela de computador como "A Hora do Desespero", de "Culpa" e até de "Buscando...", "Locke" é para você! O filme dirigido pelo Steven Knight (de "Calmaria"), funciona basicamente como um thriller psicológico dos mais inteligentes, levando a audiência em uma viagem angustiante, emocionalmente densa e profundamente cativante - eu diria que é um olhar profundo sobre temas como responsabilidade, ética e consequências, uma verdadeira reflexão sobre as escolhas que fazemos e como elas moldam nossas vidas.
A trama se desenrola em tempo real, enquanto acompanhamos Ivan Locke (Tom Hardy), um dedicado e respeitado engenheiro durante uma viagem de carro para Londres, um dia antes de encarar o maior desafio de sua carreira, pela qual lutou arduamente. Quando Locke recebe um telefonema ameaçando a segurança de sua família, ele tem 90 minutos e um "viva-voz" para enfrentar vários desafios pessoais e profissionais que colocam, inclusive, sua vida em xeque. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro escrito pelo próprio Knight é a prova de que uma boa história não exige grandes investimentos. O texto é afiado e inteligente, capaz de explorar as camadas emocionais do protagonista de uma forma sutil e eficaz. Através das conversas telefônicas de Locke com sua esposa, filhos, colegas de trabalho, somos expostos a diferentes facetas de sua vida e da sua personalidade. A estrutura narrativa que usa das vozes dos outros personagens sem mostrá-los fisicamente contribui para a sensação de isolamento e intensifica a atmosfera de tensão pela qual o personagem está passando.
Inclusive, Tom Hardy entrega uma performance emocionalmente poderosa como Locke. Sua habilidade de transmitir as complexidades do personagem, mesmo sem a presença física de outros atores, é notável. Através de sua voz e das suas expressões faciais, Hardy transmite um range considerável de emoções - reparem como a confiança e determinação inicial se transforma em uma crescente ansiedade e vulnerabilidade à medida que os desafios se intensificam. Não foi por acaso que "Locke" ganhou o prêmio de melhor roteiro no British Independent Film Awards em 2013.
A direção de Steven Knight também é muito competente ao criar uma verdadeira experiência imersiva, mesmo com recursos limitados. A escolha de manter a ação dentro do carro e usar a iluminação noturna das estradas para criar uma atmosfera claustrofóbica é muito eficaz. A trilha sonora e o desenho de som também contribuem para a construção desse clima tenso, no entanto, para alguns, essa abordagem altamente conceitual pode parecer maçante. A falta de ação física e a ênfase quase exclusiva nas conversas por telefone podem desapontar aqueles que buscam um ritmo mais acelerado.
"Locke" é um filme com uma pegada independente, autoral e bastante criativo (valores que a A24 carrega em sua produções, diga-se de passagem) - só por isso já mereceria o seu play, mas além de tudo sua história é concisa, e mesmo sem se preocupar em entregar todas as respostas, nos proporciona uma ótima jornada de entretenimento.
"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.
Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):
Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.
A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.
Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!
Vale muito o seu play!
"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.
Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):
Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.
A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.
Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!
Vale muito o seu play!
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
"Lupin" chega na Netflix para cobrir o gap deixado por "La Casa de Papel" e, de fato, deve conseguir. Essa série francesa é bem divertida e rápida - já que vem com apenas 5 episódios de 40 minutos, seguindo a mesma estratégia da sua antecessora espanhola, de dividir uma temporada em "partes". Só para contextualizar, é preciso pontuar a importância do famoso personagem literário, criado porMaurice Leblanc, Arsène Lupin - ele é uma espécie de Sherlock Holmes francês as avessas, um ladrão sofisticado e esperto, especialmente habilidoso na arte dos disfarces.
Pois bem, na série, acompanhamos Assane Diop (Omar Sy), um imigrante senegalês que, na adolescência, viu seu pai ser incriminado (injustamente) pelo roubo de um colar valioso pela poderosa família endinheirada e mesquinha de quem era motorista particular. Antes de ser mandado para a prisão, porém, Diop deixou um último presente para o filho: um romance de Arsène Lupin. Respeitando a obra como o último vínculo afetivo com seu pai, Assane transforma as histórias de Lupin em inspiração para elaborar sua vingança contra os responsáveis por sujar a honra de sua família. Confira o trailer:
Um elemento narrativo que me chamou a atenção e que tem que ser destacado é que "Lupin" não tem a menor preocupação em criar explicações "técnicas" para justificar as ações do protagonista como fazia, mesmo que fantasiosamente, o roteiro de "La Casa de Papel"; ou seja, não se preocupe com a veracidade, embarque na fantasia, porque a série propositalmente manipula o misticismo em torno do legado original de Lupin, transformando a história de Assane em uma homenagem ao clássico personagem.
Antes de finalizar vale o registro: Omar Sy esbanja carisma e acrescenta uma dose de malícia ao personagem que fica difícil não torcer para o sucesso dos seus crimes. Golaço na escolha do protagonista dessa produção de extrema qualidade visual, com uma fotografia que "abusa" de uma Paris cinematográfica e que tem um roteiro fácil e dinâmico! Vale muito a pena pelo entretenimento puro e pela diversão sem compromisso!
"Lupin" chega na Netflix para cobrir o gap deixado por "La Casa de Papel" e, de fato, deve conseguir. Essa série francesa é bem divertida e rápida - já que vem com apenas 5 episódios de 40 minutos, seguindo a mesma estratégia da sua antecessora espanhola, de dividir uma temporada em "partes". Só para contextualizar, é preciso pontuar a importância do famoso personagem literário, criado porMaurice Leblanc, Arsène Lupin - ele é uma espécie de Sherlock Holmes francês as avessas, um ladrão sofisticado e esperto, especialmente habilidoso na arte dos disfarces.
Pois bem, na série, acompanhamos Assane Diop (Omar Sy), um imigrante senegalês que, na adolescência, viu seu pai ser incriminado (injustamente) pelo roubo de um colar valioso pela poderosa família endinheirada e mesquinha de quem era motorista particular. Antes de ser mandado para a prisão, porém, Diop deixou um último presente para o filho: um romance de Arsène Lupin. Respeitando a obra como o último vínculo afetivo com seu pai, Assane transforma as histórias de Lupin em inspiração para elaborar sua vingança contra os responsáveis por sujar a honra de sua família. Confira o trailer:
Um elemento narrativo que me chamou a atenção e que tem que ser destacado é que "Lupin" não tem a menor preocupação em criar explicações "técnicas" para justificar as ações do protagonista como fazia, mesmo que fantasiosamente, o roteiro de "La Casa de Papel"; ou seja, não se preocupe com a veracidade, embarque na fantasia, porque a série propositalmente manipula o misticismo em torno do legado original de Lupin, transformando a história de Assane em uma homenagem ao clássico personagem.
Antes de finalizar vale o registro: Omar Sy esbanja carisma e acrescenta uma dose de malícia ao personagem que fica difícil não torcer para o sucesso dos seus crimes. Golaço na escolha do protagonista dessa produção de extrema qualidade visual, com uma fotografia que "abusa" de uma Paris cinematográfica e que tem um roteiro fácil e dinâmico! Vale muito a pena pelo entretenimento puro e pela diversão sem compromisso!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!
"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:
A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!
A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!
"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!
Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!
"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:
A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!
A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!
"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Simplesmente impressionante e surpreendente - eu diria que é uma mistura equilibrada e muito bem construída de "Devs"e "Ruptura" com um leve toque do saudoso "Fringe"! "Matéria Escura", criada por Blake Crouch para a Apple TV+, é uma adaptação de seu próprio romance de ficção científica lançado em 2016. A série mergulha profundamente em temas como identidade, livre-arbítrio e realidades alternativas, proporcionando uma narrativa de fato envolvente e cheia de mistério e suspense, com elementos de uma complexa cadeia de ficção e ciência. Com uma premissa que explora as infinitas possibilidades da física quântica e as escolhas espirituais que definem nossas vidas, "Matéria Escura" cumpre a promessa de não apenas entreter, mas também de desafiar a audiência a refletir sobre as questões filosóficas que a história levanta com muita sabedoria.
A trama em si gira em torno de Jason Dessen (Joel Edgerton), um professor de física quântica cuja vida aparentemente comum é subitamente virada de cabeça para baixo quando ele é sequestrado e transportado para uma realidade paralela. Nessa nova realidade, Jason não é o homem de família simples que conhecemos, mas sim um renomado cientista que fez uma descoberta revolucionária sobre viagem entre universos paralelos. A série parte da busca de Jason para voltar à sua realidade original e à sua família, especialmente para sua mulher Daniela Vargas Dessen (Jennifer Connelly), enquanto navega pelas consequências de suas escolhas em múltiplos universos onde enfrenta versões alternativas de si mesmo. Confira o trailer:
É inegável;avel que a premissa central da série é ao mesmo tempo fascinante e complexa. A ideia de universos paralelos e as infinitas ramificações de cada escolha feita na vida de uma pessoa são habilmente exploradas por Blake Crouch, tanto no romance quanto na série. A física quântica e a teoria dos muitos mundos servem de base para a narrativa, mas "Matéria Escura" não se limita a ser apenas uma história de ficção científica; é também um drama emocional poderoso sobre a natureza das nossas decisões e o desejo universal de encontrar o nosso propósito e felicidade em meio às incertezas inerentes da nossa jornada. O roteiro é tão bem estruturado, com diálogos que equilibram a exposição científica necessária com momentos emocionais mais profundos, que nos sentimos bem confortáveis qualquer que seja o assunto. As questões filosóficas que surgem ao longo da série, como "O que define quem somos?" ou "As nossas escolhas realmente importam?", são abordadas de maneira direta, sem se tornarem excessivamente complicadas ou abstratas - isso, ao meu olhar, é o golaço da série!
Visualmente impressionante, "Matéria Escura" tem uma fotografia muito interessante que reflete o caos e a estranheza dos universos paralelos que Jason atravessa - mérito de John Lindley (de Your Honor") e de Jeffrey Greeley (especialista em efeitos especiais de "Jurrassic Park"). Os enquadramentos entregam cenários que variam de um mundo para o outro, desde paisagens distópicas até versões ligeiramente diferentes da nossa realidade, sempre mantendo a audiência imersa nas possibilidades infinitas desse multiverso. A Apple TV+, aliás, investiu pesado em efeitos visuais de alta qualidade aqui, o que foi essencial para tornar realista as transições entre as várias realidades que encontramos durante a jornada. Reparem como essas mudanças visuais ajudam a criar uma atmosfera de constante desorientação, refletindo o estado psicológico de Jason conforme ele perde a noção do que é real.
Antes de finalizar, é preciso comentar que, embora a ciência seja parte integrante da história, pode ser difícil para os menos familiarizados com esse conceito de mundos paralelos acompanhar todos os detalhes técnicos sem se sentir perdido em algum momento. Mesmo com o ritmo narrativo variando entre episódios, o impacto emocional da trama está sempre apoiado nas teses mais divertidas da física quântica, ou seja, a proposta de Crouch é mesmo o de provocar (para não dizer fritar) nosso intelecto, mas sem ser bitolado demais. Olha, para os fãs de ficção científica que apreciam uma boa dose de filosofia e drama, essa série oferece uma experiência realmente imersiva que sabe misturar entretenimento com uma exploração menos superficial de questões universais sobre a vida como entendemos!
Intrigante e que vai fazer valer muito o seu play!
Simplesmente impressionante e surpreendente - eu diria que é uma mistura equilibrada e muito bem construída de "Devs"e "Ruptura" com um leve toque do saudoso "Fringe"! "Matéria Escura", criada por Blake Crouch para a Apple TV+, é uma adaptação de seu próprio romance de ficção científica lançado em 2016. A série mergulha profundamente em temas como identidade, livre-arbítrio e realidades alternativas, proporcionando uma narrativa de fato envolvente e cheia de mistério e suspense, com elementos de uma complexa cadeia de ficção e ciência. Com uma premissa que explora as infinitas possibilidades da física quântica e as escolhas espirituais que definem nossas vidas, "Matéria Escura" cumpre a promessa de não apenas entreter, mas também de desafiar a audiência a refletir sobre as questões filosóficas que a história levanta com muita sabedoria.
A trama em si gira em torno de Jason Dessen (Joel Edgerton), um professor de física quântica cuja vida aparentemente comum é subitamente virada de cabeça para baixo quando ele é sequestrado e transportado para uma realidade paralela. Nessa nova realidade, Jason não é o homem de família simples que conhecemos, mas sim um renomado cientista que fez uma descoberta revolucionária sobre viagem entre universos paralelos. A série parte da busca de Jason para voltar à sua realidade original e à sua família, especialmente para sua mulher Daniela Vargas Dessen (Jennifer Connelly), enquanto navega pelas consequências de suas escolhas em múltiplos universos onde enfrenta versões alternativas de si mesmo. Confira o trailer:
É inegável;avel que a premissa central da série é ao mesmo tempo fascinante e complexa. A ideia de universos paralelos e as infinitas ramificações de cada escolha feita na vida de uma pessoa são habilmente exploradas por Blake Crouch, tanto no romance quanto na série. A física quântica e a teoria dos muitos mundos servem de base para a narrativa, mas "Matéria Escura" não se limita a ser apenas uma história de ficção científica; é também um drama emocional poderoso sobre a natureza das nossas decisões e o desejo universal de encontrar o nosso propósito e felicidade em meio às incertezas inerentes da nossa jornada. O roteiro é tão bem estruturado, com diálogos que equilibram a exposição científica necessária com momentos emocionais mais profundos, que nos sentimos bem confortáveis qualquer que seja o assunto. As questões filosóficas que surgem ao longo da série, como "O que define quem somos?" ou "As nossas escolhas realmente importam?", são abordadas de maneira direta, sem se tornarem excessivamente complicadas ou abstratas - isso, ao meu olhar, é o golaço da série!
Visualmente impressionante, "Matéria Escura" tem uma fotografia muito interessante que reflete o caos e a estranheza dos universos paralelos que Jason atravessa - mérito de John Lindley (de Your Honor") e de Jeffrey Greeley (especialista em efeitos especiais de "Jurrassic Park"). Os enquadramentos entregam cenários que variam de um mundo para o outro, desde paisagens distópicas até versões ligeiramente diferentes da nossa realidade, sempre mantendo a audiência imersa nas possibilidades infinitas desse multiverso. A Apple TV+, aliás, investiu pesado em efeitos visuais de alta qualidade aqui, o que foi essencial para tornar realista as transições entre as várias realidades que encontramos durante a jornada. Reparem como essas mudanças visuais ajudam a criar uma atmosfera de constante desorientação, refletindo o estado psicológico de Jason conforme ele perde a noção do que é real.
Antes de finalizar, é preciso comentar que, embora a ciência seja parte integrante da história, pode ser difícil para os menos familiarizados com esse conceito de mundos paralelos acompanhar todos os detalhes técnicos sem se sentir perdido em algum momento. Mesmo com o ritmo narrativo variando entre episódios, o impacto emocional da trama está sempre apoiado nas teses mais divertidas da física quântica, ou seja, a proposta de Crouch é mesmo o de provocar (para não dizer fritar) nosso intelecto, mas sem ser bitolado demais. Olha, para os fãs de ficção científica que apreciam uma boa dose de filosofia e drama, essa série oferece uma experiência realmente imersiva que sabe misturar entretenimento com uma exploração menos superficial de questões universais sobre a vida como entendemos!
Intrigante e que vai fazer valer muito o seu play!
"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!
A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:
Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.
A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.
"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série!
Vale muito o seu play!
"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!
A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:
Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.
A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.
"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série!
Vale muito o seu play!