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O Bosque

Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

Assista Agora

Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

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O Caso Asunta

É impossível não pensar nessa minissérie com aquele "selo HBO". Não que a produção da Netflix seja ruim, mas definitivamente não está na mesma prateleira. Dito isso, e alinhada as expectativas, posso adiantar que "O Caso Asunta" vai te surpreendente mais pela história real bizarra do que por qualquer outra coisa. "El Caso Asunta" (no original), criada por Ramón Campos e Gema R. Neira (do ótimo "Fariña") ao lado de e David Orea e Jon de la Cuesta, é um mergulho nos detalhes mais sórdidos de um crime real que chocou a Espanha em 2013. A minissérie retrata o caso da jovem Asunta Basterra Porto, uma menina de 12 anos encontrada morta em circunstâncias misteriosas, e o subsequente julgamento de seus pais adotivos, Rosario Porto e Alfonso Basterra, acusados de seu assassinato. Com uma narrativa intensa, sempre pontuada por uma abordagem quase documental, "O Caso Asunta" oferece uma visão interessante, minuciosa e inquietante de um dos casos mais perturbadores dos últimos tempos na Europa.

O casal Rosario (Candela Peña) e Alfonso Basterra (Tristán Ulloa) denuncia o desaparecimento de sua filha adotiva, Asunta, em uma delegacia de Santiago, na Espanha. No entanto, uma série de contradições, rapidamente, fazem com que as investigações apontem que os próprios pais sejam indiciados pelo crime. Como é possível imaginar, essa linha de investigação liderada pelo egocêntrico Juez Malvar (Javier Gutiérrez) transforma o caso em uma jornada de grande repercussão na mídia espanhola em 2013, e que acaba deixando muitas marcas. Confira o trailer (em espanhol):

Se você for um grande apreciador do gênero, facilmente você perceberá como a minissérie é estruturada para nos remeter ao estilo "true crime" de conduzir uma narrativa. Combinando imagens reais do caso com reconstituições dramatizadas dos bastidores da investigação, focando especialmente nos acusados, "O Caso Asunta" constrói um retrato abrangente dos eventos que levaram à morte de Asunta. A produção se esforça para ser fiel aos fatos conhecidos do caso, ao mesmo tempo em que explora as complexidades emocionais e psicológicas dos envolvidos, com um conceito visual que, de fato, cria uma experiência imersiva que nos prende e nos faz questionar as motivações e o comportamento dos personagens centrais a todo momento.

Carlos Sedes e Jacobo Martínez (ambos de "Fariña") fazem um bom trabalho na direção ao equilibrar a narrativa mais factual com o drama humano. Mesmo com um orçamento limitado, é perceptível ao longo dos episódios, que os diretores se esforçam para entregar um ritmo meticuloso, guiando a audiência pelos eventos que precederam e seguiram a tragédia. O uso de cortes reais e uma câmera "mais nervosa" confere certa autenticidade à narrativa, certamente potencializa a gravidade do caso e o impacto que teve na sociedade espanhola. Reparem como os tons frios e a iluminação das cenas sublinham a atmosfera inquietante da história de forma a maximizar o impacto emocional, com planos mais fechados que refletem a angústia e a confusão em torno da investigação e do julgamento pela perspectiva de quem mais sofreu com tudo isso.

Ao evitar um enfoque unilateral, "O Caso Asunta" permite que audiência considere múltiplas teorias e interpretações, mostrando a complexidade da investigação e toda incerteza que muitas vezes acompanham casos de grande notoriedade pública. Essa proposta aumenta o lado entretenimento da história e acaba cobrando um pouco mais do seu elenco. Tanto Peña quanto Ulloa trazem uma intensidade e ambiguidade que justificam a perplexidade do público e da mídia em relação à sua culpabilidade ou inocência dos pais de Asunta, mas olha, é na figura de Juez Malvar do premiado Javier Gutiérrez que a minissérie mexe mesmo com nossas sensações mais particulares - especialmente quando percebemos que o crime funciona muito mais como um fenômeno cultural e um reflexo das ansiedades sociais contemporâneas, do que como uma missão pela justiça e pelo respeito à vitima.

"O Caso Asunta" vale o seu play!

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É impossível não pensar nessa minissérie com aquele "selo HBO". Não que a produção da Netflix seja ruim, mas definitivamente não está na mesma prateleira. Dito isso, e alinhada as expectativas, posso adiantar que "O Caso Asunta" vai te surpreendente mais pela história real bizarra do que por qualquer outra coisa. "El Caso Asunta" (no original), criada por Ramón Campos e Gema R. Neira (do ótimo "Fariña") ao lado de e David Orea e Jon de la Cuesta, é um mergulho nos detalhes mais sórdidos de um crime real que chocou a Espanha em 2013. A minissérie retrata o caso da jovem Asunta Basterra Porto, uma menina de 12 anos encontrada morta em circunstâncias misteriosas, e o subsequente julgamento de seus pais adotivos, Rosario Porto e Alfonso Basterra, acusados de seu assassinato. Com uma narrativa intensa, sempre pontuada por uma abordagem quase documental, "O Caso Asunta" oferece uma visão interessante, minuciosa e inquietante de um dos casos mais perturbadores dos últimos tempos na Europa.

O casal Rosario (Candela Peña) e Alfonso Basterra (Tristán Ulloa) denuncia o desaparecimento de sua filha adotiva, Asunta, em uma delegacia de Santiago, na Espanha. No entanto, uma série de contradições, rapidamente, fazem com que as investigações apontem que os próprios pais sejam indiciados pelo crime. Como é possível imaginar, essa linha de investigação liderada pelo egocêntrico Juez Malvar (Javier Gutiérrez) transforma o caso em uma jornada de grande repercussão na mídia espanhola em 2013, e que acaba deixando muitas marcas. Confira o trailer (em espanhol):

Se você for um grande apreciador do gênero, facilmente você perceberá como a minissérie é estruturada para nos remeter ao estilo "true crime" de conduzir uma narrativa. Combinando imagens reais do caso com reconstituições dramatizadas dos bastidores da investigação, focando especialmente nos acusados, "O Caso Asunta" constrói um retrato abrangente dos eventos que levaram à morte de Asunta. A produção se esforça para ser fiel aos fatos conhecidos do caso, ao mesmo tempo em que explora as complexidades emocionais e psicológicas dos envolvidos, com um conceito visual que, de fato, cria uma experiência imersiva que nos prende e nos faz questionar as motivações e o comportamento dos personagens centrais a todo momento.

Carlos Sedes e Jacobo Martínez (ambos de "Fariña") fazem um bom trabalho na direção ao equilibrar a narrativa mais factual com o drama humano. Mesmo com um orçamento limitado, é perceptível ao longo dos episódios, que os diretores se esforçam para entregar um ritmo meticuloso, guiando a audiência pelos eventos que precederam e seguiram a tragédia. O uso de cortes reais e uma câmera "mais nervosa" confere certa autenticidade à narrativa, certamente potencializa a gravidade do caso e o impacto que teve na sociedade espanhola. Reparem como os tons frios e a iluminação das cenas sublinham a atmosfera inquietante da história de forma a maximizar o impacto emocional, com planos mais fechados que refletem a angústia e a confusão em torno da investigação e do julgamento pela perspectiva de quem mais sofreu com tudo isso.

Ao evitar um enfoque unilateral, "O Caso Asunta" permite que audiência considere múltiplas teorias e interpretações, mostrando a complexidade da investigação e toda incerteza que muitas vezes acompanham casos de grande notoriedade pública. Essa proposta aumenta o lado entretenimento da história e acaba cobrando um pouco mais do seu elenco. Tanto Peña quanto Ulloa trazem uma intensidade e ambiguidade que justificam a perplexidade do público e da mídia em relação à sua culpabilidade ou inocência dos pais de Asunta, mas olha, é na figura de Juez Malvar do premiado Javier Gutiérrez que a minissérie mexe mesmo com nossas sensações mais particulares - especialmente quando percebemos que o crime funciona muito mais como um fenômeno cultural e um reflexo das ansiedades sociais contemporâneas, do que como uma missão pela justiça e pelo respeito à vitima.

"O Caso Asunta" vale o seu play!

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O Caso Celso Daniel

Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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O Caso Collini

"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

Vale a pena! 

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"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

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O Caso Evandro

O Caso Evandro

"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

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"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

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O Caso Richard Jewell

"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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O Caso Robinho

Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.

"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta. 

Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.

Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.

Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que  sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!

Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!

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Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.

"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta. 

Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.

Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.

Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que  sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!

Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!

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O Cerco de Waco

Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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O Crime do Século

"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

Vale muito o seu play!

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"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

Vale muito o seu play!

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O Degelo

Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..

A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):

É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.

Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja. 

Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!

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Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..

A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):

É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.

Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja. 

Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!

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O Desconhecido

Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.

Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):

Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!

O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante. 

No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano. 

Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!

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Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.

Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):

Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!

O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante. 

No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano. 

Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!

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O Dia do Atentado

Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

Vale muito seu play!

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Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

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O Diabo no Tribunal

Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

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Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

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O Eleito

"O Eleito" pode te surpreender, mas será preciso embarcar na proposta de seu criador Mark Millar e ter alguma paciência já que a série de 6 episódios da Netflix começa a engrenar mesmo, lá pelo terceiro episódio. Muito bem dirigida pelo Everardo Gout (de "Caleidoscópio"), essa produção americana falada em espanhol, se aproveita da premissa do ótimo (e até hoje lembrado pelo seu cancelamento prematuro) "Messiah", para discutir o comportamento humano a partir de dogmas religiosos, nos dias de hoje, pela perspectiva de 5 jovens que moram em uma cidadezinha no México em 1999. Além da dinâmica "Stranger Things"da narrativa, é muito importante ressaltar a profundidade que a história vai ganhando ao discutir temas como a idolatria e a megalomania do "todo" perante a jornada mais íntima e, claro, repleta de imperfeições do "indivíduo".

Na trama acompanhamos a história de Jodie (Bobby Luhnow), um jovem de 12 anos que passa a suspeitar ser a reencarnação de Jesus Cristo. Capaz de fazer uma pessoa voltar a andar, transformar água em vinho e até mesmo ressuscitar os mortos, ele precisa aprender a lidar com seu destino durante a fase das maiores descobertas da vida, a adolescência.. Entre a ideia de ser alguém especial ou um garoto que quer apenas se divertir com os amigos, cabe a Jodie decidir se vai ou não atender esse "chamado divino". Confira o trailer:

De fato, a série derrapa um pouco na sua contextualização. Os primeiros episódios soam infantis e desconexos - como se o roteiro tivesse necessidade de estabelecer o conflito logo de cara para rapidamente começar a explorar como Jodie lida com seu destino divino, enfrentando seus desafios pessoais e as forças obscuras que o rodeiam, enquanto tenta compreender e aceitar sua missão. Eu diria, inclusive, que o conceito estético escolhido pelo diretor pouco ajuda nesse momento, já que a montagem é extremamente fragmentada, o aspecto de tela é um pouco desconfortável em seu "antigo" 4:3 e a imagem é bastante granulada. No entanto, ao entender que esse conceito está 100% alinhado com aquele universo onde a história acontece em seu tempo, espaço e assunto, tudo muda -  e aí passamos a achar tudo aquilo bem envolvente e imersivo.

A jornada pessoal de Jodie é o coração de "O Eleito" e quando entendemos que suas dúvidas, medos e anseios diante da revelação de sua identidade divina são muito mais profundos do que uma trama infanto-juvenil com toques de sobrenatural, nos conectamos com a série e passamos a nos surpreender com as soluções propostas pelo roteiro. Os relacionamentos complexos entre os personagens que inicialmente soavam superficiais, se transformam em reflexões relevantes: suas lutas internas (e cada um tem a sua) ao lado da necessidade constante dos discursos religiosos de definir o que é do bem e o que é do mal, evocam uma gama de emoções, que vão desde a empatia por alguns personagens até uma tensão improvável pelas ações de outros. Reparem como a  paleta de cores, o desenho de produção e arte, além da iluminação e da trilha sonora, são capazes de refletir os aspectos espirituais e terrenos da história com a mesma propriedade. 

"O Eleito" é muito feliz em trazer para tela temas universais como identidade, fé e destino - temas esses que naturalmente nos provocam algumas reflexões sobre nossas próprias crenças e escolhas. Agora, o ponto alto dessa premissa, sem dúvida, está em projetar o "e se" de fato algo parecido acontecesse na vida real? Ao explorar com muita habilidade "o sagrado" e "o profano" na jornada de um adolescente com um destino extraordinário, a série oferece uma experiência que desafia, inspira e nos mantém ansiosos por mais episódios - e que as próximas temporadas tragam ainda mais respostas, porque o gancho do final é simplesmente excelente!

Vale seu play!

Assista Agora

"O Eleito" pode te surpreender, mas será preciso embarcar na proposta de seu criador Mark Millar e ter alguma paciência já que a série de 6 episódios da Netflix começa a engrenar mesmo, lá pelo terceiro episódio. Muito bem dirigida pelo Everardo Gout (de "Caleidoscópio"), essa produção americana falada em espanhol, se aproveita da premissa do ótimo (e até hoje lembrado pelo seu cancelamento prematuro) "Messiah", para discutir o comportamento humano a partir de dogmas religiosos, nos dias de hoje, pela perspectiva de 5 jovens que moram em uma cidadezinha no México em 1999. Além da dinâmica "Stranger Things"da narrativa, é muito importante ressaltar a profundidade que a história vai ganhando ao discutir temas como a idolatria e a megalomania do "todo" perante a jornada mais íntima e, claro, repleta de imperfeições do "indivíduo".

Na trama acompanhamos a história de Jodie (Bobby Luhnow), um jovem de 12 anos que passa a suspeitar ser a reencarnação de Jesus Cristo. Capaz de fazer uma pessoa voltar a andar, transformar água em vinho e até mesmo ressuscitar os mortos, ele precisa aprender a lidar com seu destino durante a fase das maiores descobertas da vida, a adolescência.. Entre a ideia de ser alguém especial ou um garoto que quer apenas se divertir com os amigos, cabe a Jodie decidir se vai ou não atender esse "chamado divino". Confira o trailer:

De fato, a série derrapa um pouco na sua contextualização. Os primeiros episódios soam infantis e desconexos - como se o roteiro tivesse necessidade de estabelecer o conflito logo de cara para rapidamente começar a explorar como Jodie lida com seu destino divino, enfrentando seus desafios pessoais e as forças obscuras que o rodeiam, enquanto tenta compreender e aceitar sua missão. Eu diria, inclusive, que o conceito estético escolhido pelo diretor pouco ajuda nesse momento, já que a montagem é extremamente fragmentada, o aspecto de tela é um pouco desconfortável em seu "antigo" 4:3 e a imagem é bastante granulada. No entanto, ao entender que esse conceito está 100% alinhado com aquele universo onde a história acontece em seu tempo, espaço e assunto, tudo muda -  e aí passamos a achar tudo aquilo bem envolvente e imersivo.

A jornada pessoal de Jodie é o coração de "O Eleito" e quando entendemos que suas dúvidas, medos e anseios diante da revelação de sua identidade divina são muito mais profundos do que uma trama infanto-juvenil com toques de sobrenatural, nos conectamos com a série e passamos a nos surpreender com as soluções propostas pelo roteiro. Os relacionamentos complexos entre os personagens que inicialmente soavam superficiais, se transformam em reflexões relevantes: suas lutas internas (e cada um tem a sua) ao lado da necessidade constante dos discursos religiosos de definir o que é do bem e o que é do mal, evocam uma gama de emoções, que vão desde a empatia por alguns personagens até uma tensão improvável pelas ações de outros. Reparem como a  paleta de cores, o desenho de produção e arte, além da iluminação e da trilha sonora, são capazes de refletir os aspectos espirituais e terrenos da história com a mesma propriedade. 

"O Eleito" é muito feliz em trazer para tela temas universais como identidade, fé e destino - temas esses que naturalmente nos provocam algumas reflexões sobre nossas próprias crenças e escolhas. Agora, o ponto alto dessa premissa, sem dúvida, está em projetar o "e se" de fato algo parecido acontecesse na vida real? Ao explorar com muita habilidade "o sagrado" e "o profano" na jornada de um adolescente com um destino extraordinário, a série oferece uma experiência que desafia, inspira e nos mantém ansiosos por mais episódios - e que as próximas temporadas tragam ainda mais respostas, porque o gancho do final é simplesmente excelente!

Vale seu play!

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O Enfermeiro da Noite

"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!

A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:

Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.

Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.

 "O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!

A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:

Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.

Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.

 "O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.

Vale muito o seu play!

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O Espião Inglês

Você pode ter deixado passar esse filme - o que é um grande pecado, principalmente se você gostar de um drama profundo sobre espionagem, mas sem aquele elemento de ação tão presente com cenas de perseguições hollywoodianas e tal. Em "O Espião Inglês", a narrativa se apoia na força de personagens reais como aqueles raros indivíduos dispostos a, de alguma forma, salvar o mundo; mesmo que para isso seja necessário arriscar sua própria vida - e acreditem: isso trás uma camada visceral de angústia e tensão absurda.

Durante a Guerra Fria, diversos civis atuaram como espiões para impedir o avanço soviético no mundo. Greville Wynne (Benedict Cumberbatch), um engenheiro elétrico e empresário, foi um desses homens recrutados pelo Serviço de Inteligência Militar Britânico, o MI5. Através de informações cruciais obtidas por uma de suas fontes, o russo Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), Wynne arrisca sua própria vida para colaborar na luta pelo fim da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Confira o trailer:

É inegável que o filme do diretor Dominic Cooke (de "Na Praia de Chesil") tenta trazer para a realidade uma história que por muito tempo fez parte do inconsciente coletivo inglês como uma das passagens mais curiosas das relações diplomáticas do país. De uma nação onde uma figura imbatível como o "007" é considerado praticamente um super-herói, foi um homem comum, pai de família e empresário singelo que, na mais tenra inocência, se tornou peça-chave entre a CIA e a União Soviética, em um relato que soa impossível ter sido contado em primeira pessoa.

Dito isso, fica fácil definir o caminho que Cooke escolheu para seu "O Espião Inglês": um filme denso que se apoia no talento de dois atores para tentar (e quase sempre conseguir) mostrar a importância das relações humanas mesmo quando o perigo vai muito além do aceitável. Tanto Cumberbatch quanto Ninidze, conseguem alcançar um nível de performance tão palpável que nos faz ter a exata impressão de estarmos assistindo um documentário sobre seus personagens - existe uma troca tão intensa entre os dois, cheio de nuances, receios, (des)confiança e cumplicidade, que fica impossível não sentir a tensão de estar vivendo em uma linha tão tênue entre a glória e a morte. 

Embora o filme pareça ser divido em apenas dois atos (e não em três como de costume), "The Courier" (no original) é eficiente em construir uma linha do tempo coerente e fácil de entender, ao mesmo tempo em que nos provoca uma empatia imediata com os protagonistas - muito mérito disso se deve ao Tom O`Connor (de "Dupla Explosiva") que usou como base para o seu roteiro, os livros do próprio Wynne : “The Man From Moscow” (1967) e “The Man From Odessa” (1981), que validaram o filme como um drama histórico dos mais fiéis aos fatos e com uma riqueza de detalhes absurda.

Por tudo isso, eu te asseguro: "O Espião Inglês" vale muito a pena!

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Você pode ter deixado passar esse filme - o que é um grande pecado, principalmente se você gostar de um drama profundo sobre espionagem, mas sem aquele elemento de ação tão presente com cenas de perseguições hollywoodianas e tal. Em "O Espião Inglês", a narrativa se apoia na força de personagens reais como aqueles raros indivíduos dispostos a, de alguma forma, salvar o mundo; mesmo que para isso seja necessário arriscar sua própria vida - e acreditem: isso trás uma camada visceral de angústia e tensão absurda.

Durante a Guerra Fria, diversos civis atuaram como espiões para impedir o avanço soviético no mundo. Greville Wynne (Benedict Cumberbatch), um engenheiro elétrico e empresário, foi um desses homens recrutados pelo Serviço de Inteligência Militar Britânico, o MI5. Através de informações cruciais obtidas por uma de suas fontes, o russo Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), Wynne arrisca sua própria vida para colaborar na luta pelo fim da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Confira o trailer:

É inegável que o filme do diretor Dominic Cooke (de "Na Praia de Chesil") tenta trazer para a realidade uma história que por muito tempo fez parte do inconsciente coletivo inglês como uma das passagens mais curiosas das relações diplomáticas do país. De uma nação onde uma figura imbatível como o "007" é considerado praticamente um super-herói, foi um homem comum, pai de família e empresário singelo que, na mais tenra inocência, se tornou peça-chave entre a CIA e a União Soviética, em um relato que soa impossível ter sido contado em primeira pessoa.

Dito isso, fica fácil definir o caminho que Cooke escolheu para seu "O Espião Inglês": um filme denso que se apoia no talento de dois atores para tentar (e quase sempre conseguir) mostrar a importância das relações humanas mesmo quando o perigo vai muito além do aceitável. Tanto Cumberbatch quanto Ninidze, conseguem alcançar um nível de performance tão palpável que nos faz ter a exata impressão de estarmos assistindo um documentário sobre seus personagens - existe uma troca tão intensa entre os dois, cheio de nuances, receios, (des)confiança e cumplicidade, que fica impossível não sentir a tensão de estar vivendo em uma linha tão tênue entre a glória e a morte. 

Embora o filme pareça ser divido em apenas dois atos (e não em três como de costume), "The Courier" (no original) é eficiente em construir uma linha do tempo coerente e fácil de entender, ao mesmo tempo em que nos provoca uma empatia imediata com os protagonistas - muito mérito disso se deve ao Tom O`Connor (de "Dupla Explosiva") que usou como base para o seu roteiro, os livros do próprio Wynne : “The Man From Moscow” (1967) e “The Man From Odessa” (1981), que validaram o filme como um drama histórico dos mais fiéis aos fatos e com uma riqueza de detalhes absurda.

Por tudo isso, eu te asseguro: "O Espião Inglês" vale muito a pena!

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O Fotógrafo e o Carteiro

"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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O Golpista do Tinder

"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".

O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGole deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.

Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.

Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.

Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!

Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”! 

Sem comentários!

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"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".

O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGole deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.

Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.

Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.

Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!

Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”! 

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O Homem mais odiado da Internet

O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!

Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.

Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.

Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").

O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado. 

PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!

Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.

Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.

Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").

O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado. 

PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.

Vale muito o seu play!

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O Homem nas Trevas

Angustiante, claustrofóbico e um excelente entretenimento para quem gosta de sentir essas sensações ao assistir um filme! Talvez essa seja a melhor forma de definir "O Homem nas Trevas", um típico thriller com fortes elementos de suspense psicológico, absolutamente arrepiante, comandado pelo talentoso Fede Alvarez (de "Calls"), um diretor capaz de nos manter grudados na tela desde o primeiro plano - é impressionante como ele constrói essa atmosfera de tensão permanente e brinca com nossos receios antes mesmo de chegar ao clímax do filme. Com um roteiro engenhoso e algumas reviravoltas surpreendentes, eu diria esse filme entrega uma experiência das mais interessantes!

A história gira em torno de um grupo de jovens ladrões que decidem invadir a casa de um homem cego para roubar uma fortuna. No entanto, eles logo descobrem que ele é muito mais perigoso e implacável do que imaginavam. O que começa como um simples roubo se transforma em uma luta desesperada pela sobrevivência enquanto tentam escapar das garras desse homem misterioso com sede de vingança. Confira o trailer:

O roteiro escrito pelo próprio Alvarez, ao lado de seu parceiro Rodo Sayagues, tem o mérito de conseguir manter a tensão e o suspense ao longo de toda jornada, sem se preocupar em pegar atalhos para nos prender à trama - claro que existem alguns clichês tão particulares do gênero, mas a forma como eles são inseridos dentro do contexto deixa tudo tão fluido que não nos sentimos obrigados a embarcar na proposta do diretor e sim somos levados até ela sem nos darmos conta. As reviravoltas são tão bem executadas que temos a exata sensação que aquele caos pela qual os personagens estão passando soa interminável - essa gramática cinematográfica do gênero é tão bem aplicado no filme que merece elogios.

Os personagens são complexos, especialmente o homem cego de Stephen Lang - a forma como sua expressão corporal canaliza suas marcas mais íntimas, cria uma camada emocional realmente impressionante. O jovem Dylan Minnette, mais uma vez não decepciona - seu personagem Alex é muito bem desenvolvido (mesmo que soe o contrário), permitindo que o público se envolva e, principalmente, se conecte emocionalmente com suas lutas e desafios. Ao criar essa atmosfera sombria e claustrofóbica de um interminável embate dentro de uma única locação, Alvarez ao lado de seu conterrâneo, o fotógrafo uruguaio, Pedro Luque (de "Atividade paranormal"), utilizam magistralmente enquadramentos mais fechados com o foco nem sempre perfeito para aumentar a sensação de perigo iminente, de medo e de desconforto de uma forma quase insuportável - reparem como eles nos privam da visão dos personagens durante os conflitos.

Apesar de todas as qualidades que pontuamos, "O Homem nas Trevas" pode ser um pouco previsível em certos momentos - algumas situações podem ser antecipadas por uma audiência mais atenta e isso, de fato, pode diminuir um pouco o impacto emocional para algumas pessoas. No entanto, é admirável como o filme compensa esse pequeno deslize com uma narrativa eficaz, que cativa ao mesmo tempo que entretém e, mesmo sem essa pretensão, acaba marcando seu espaço como um dos melhores thrillers dessa nova geração de diretores.

Vale muito o seu play!

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Angustiante, claustrofóbico e um excelente entretenimento para quem gosta de sentir essas sensações ao assistir um filme! Talvez essa seja a melhor forma de definir "O Homem nas Trevas", um típico thriller com fortes elementos de suspense psicológico, absolutamente arrepiante, comandado pelo talentoso Fede Alvarez (de "Calls"), um diretor capaz de nos manter grudados na tela desde o primeiro plano - é impressionante como ele constrói essa atmosfera de tensão permanente e brinca com nossos receios antes mesmo de chegar ao clímax do filme. Com um roteiro engenhoso e algumas reviravoltas surpreendentes, eu diria esse filme entrega uma experiência das mais interessantes!

A história gira em torno de um grupo de jovens ladrões que decidem invadir a casa de um homem cego para roubar uma fortuna. No entanto, eles logo descobrem que ele é muito mais perigoso e implacável do que imaginavam. O que começa como um simples roubo se transforma em uma luta desesperada pela sobrevivência enquanto tentam escapar das garras desse homem misterioso com sede de vingança. Confira o trailer:

O roteiro escrito pelo próprio Alvarez, ao lado de seu parceiro Rodo Sayagues, tem o mérito de conseguir manter a tensão e o suspense ao longo de toda jornada, sem se preocupar em pegar atalhos para nos prender à trama - claro que existem alguns clichês tão particulares do gênero, mas a forma como eles são inseridos dentro do contexto deixa tudo tão fluido que não nos sentimos obrigados a embarcar na proposta do diretor e sim somos levados até ela sem nos darmos conta. As reviravoltas são tão bem executadas que temos a exata sensação que aquele caos pela qual os personagens estão passando soa interminável - essa gramática cinematográfica do gênero é tão bem aplicado no filme que merece elogios.

Os personagens são complexos, especialmente o homem cego de Stephen Lang - a forma como sua expressão corporal canaliza suas marcas mais íntimas, cria uma camada emocional realmente impressionante. O jovem Dylan Minnette, mais uma vez não decepciona - seu personagem Alex é muito bem desenvolvido (mesmo que soe o contrário), permitindo que o público se envolva e, principalmente, se conecte emocionalmente com suas lutas e desafios. Ao criar essa atmosfera sombria e claustrofóbica de um interminável embate dentro de uma única locação, Alvarez ao lado de seu conterrâneo, o fotógrafo uruguaio, Pedro Luque (de "Atividade paranormal"), utilizam magistralmente enquadramentos mais fechados com o foco nem sempre perfeito para aumentar a sensação de perigo iminente, de medo e de desconforto de uma forma quase insuportável - reparem como eles nos privam da visão dos personagens durante os conflitos.

Apesar de todas as qualidades que pontuamos, "O Homem nas Trevas" pode ser um pouco previsível em certos momentos - algumas situações podem ser antecipadas por uma audiência mais atenta e isso, de fato, pode diminuir um pouco o impacto emocional para algumas pessoas. No entanto, é admirável como o filme compensa esse pequeno deslize com uma narrativa eficaz, que cativa ao mesmo tempo que entretém e, mesmo sem essa pretensão, acaba marcando seu espaço como um dos melhores thrillers dessa nova geração de diretores.

Vale muito o seu play!

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