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Maligno

Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

Assista Agora

Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

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Manhunt: Unabomber

"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:

De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!

Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade,  tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!

Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!

Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!

Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!

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"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:

De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!

Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade,  tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!

Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!

Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!

Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!

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Marcella

Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

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Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

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Mare of Easttown

Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!

Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:

O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.

Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!

"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!

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Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!

Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:

O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.

Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!

"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!

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Mayor of Kingstown

Mayor of Kingstown

"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!

A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:

Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.

A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.

"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série! 

Vale muito o seu play!

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"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!

A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:

Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.

A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.

"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série! 

Vale muito o seu play!

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Mentira Incondicional

Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga! 

Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!

Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível! 

"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!

"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!

Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.

A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!

Assista Agora

Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga! 

Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!

Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível! 

"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!

"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!

Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.

A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!

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Mergulho

Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.

Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):

"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras. 

O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.

Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.

Vale muito o seu play!

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Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.

Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):

"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras. 

O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.

Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.

Vale muito o seu play!

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Messiah

Desde o lançamento do trailer, "Messiah" chamou atenção em dois aspectos: trazia uma discussão extremamente criativa (e se o Messias retornasse nos dias de hoje com toda essa tecnologia de disseminação de informação - inclusive as "fake news"?) e pelo nível de produção que colocou o projeto como o primeiro grande lançamento da Netflix para ano de 2020. 

A série conta a história de um homem (Mehdi Dehbi) que surge em meio a um conflito no Oriente Médio e chama a atenção do mundo pelos seus supostos milagres e sua mensagem de paz. Com um número de seguidores cada vez maior, todos os seus passos se tornam um evento e um perigo iminente - afinal não se sabe a verdadeira origem desse (falso?) profeta e o que ele será capaz de fazer com a multidão que o acompanha! Uma agente da CIA (Michelle Monaghan) começa uma investigação e com a "ajuda" do FBI acaba se infiltrando em uma enorme rede de conspiração politica, religiosa e ideológica com o único objetivo de desmascarar Al-Massih. A série tem elementos muito parecidos com "Homeland", então se você acompanhou a história de Brody e Carrie é bem provável que você não vá conseguir parar de assistir "Messiah".

Talvez o ponto alto de "Messiah" seja o seu roteiro. Em muitos momentos a idéia inicial parece que não vai se sustentar ou que alguns personagens surgem e não dão o fôlego que a trama precisa - olha, é um grande engano. Tudo vai se encaixando e movendo a história para frente com muita inteligência. É claro que é o tipo da série que exige uma certa suspensão da realidade, mas a jornada do tal Al-Massih é tão bem desenhada que fica impossível cravar se o personagem é ou não um vilão - e foi aí que me veio a primeira lembrança de "Homeland": com o retorno de Brody e todo mistério sobre seu personagem, o roteiro nos levava de um lado ao outro a cada episódio: essa dúvida constante nos prendia e nos obrigava a assistir ao próximo episódio - "Messiah" faz exatamente a mesma coisa! Quando vamos perdendo o interesse ou algo vai ficando claro demais, surge uma cena cena-chave ou uma nova informação que nos faz repensar a história! Talvez a personagem Eva (a agente da CIA que investiga o caso) não seja tão complexa quanto a Carrie, da excelente Claire Danes, mas mesmo assim é perceptível o conflito interno entre trabalho e vida pessoal da mesma forma, sem falar nos fantasmas do passado - um ponto muito interessante das duas personagens e que, ao fragiliza-las, reforça um drama paralelo, humanizando suas posturas e que sempre rendem ótimas cenas.

A dinâmica da história, mostrando dois núcleos: um no Oriente Médio e outro nos EUA, também trazem aquele tom de suspense e drama de "Homeland" - inclusive com os flashbacks bem pontuais que ajudam a contar um ou outro lado da história ou de um personagem e que compõem muito bem esse enorme quebra-cabeça. Reparem como nunca um episódio começa exatamente onde o anterior terminou. Sempre é dada mais uma informação no prólogo que, inclusive, parece completamente desconexa da história, mas que no final justifica uma ação ou decisão de algum personagem e capaz de modificar o rumo da história - essa técnica é um ótimo exemplo de roteiro bem planejado! Se atentem ao exame de tumor no inicio da temporada!

A produção da série é enorme, além de réplicas perfeitas de determinadas locações, a equipe filmou em Israel, na Palestina e na Jordânia (além dos EUA, claro) - isso só valida que"Messiah" não chegou para ser mais uma série de catálogo (só não entendo porque o marketing não foi mais agressivo, mas ok)! Os efeitos especiais não são perfeitos, mas estão longe de serem mal executados - a cena do Tornado é um ótimo exemplo de um bom resultado. A tempestade de areia também não foi tão ruim nos planos fechados, mas no aberto ficou um pouco estranho. As explosões funcionam bem e não devem incomodar. A direção em si é excelente - James McTeigue (Sense8) e Kate Woods (Castle) entregam ação, drama, suspense com planos muito bem elaborados e de extremo bom gosto. Até as sequências mais complicadas são muito bem realizadas - reparem na cena da Mesquita do episódio 9, vejam como ela cria uma certa tensão e como seu resultado final é avassalador e quebra uma expectativa que nos faz querer assistir o próximo imediatamente! Mais uma vez, se você assistiu "Homeland" as referências são claras e diretas - impossível não lembrar do final da primeira temporada!

Bom, dito tudo isso, eu posso garantir que "Messiah" vale a maratona e que o entretenimento está garantido! São dez episódios de 45 minutos em média, com "viradas surpreendentes" que nos mantém ligados em cada detalhe - é ótimo assistir uma série onde nada é jogado fora, mesmo que seja "apenas" para construir um sentimento em quem assiste e que pode até não interferir tanto no arco maior (o caso da menina com câncer é um bom exemplo)!

Boa diversão!

Up-date: Infelizmente no dia 17/04/2020 a Netflix informou o cancelamento da série com apenas uma temporada!

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Desde o lançamento do trailer, "Messiah" chamou atenção em dois aspectos: trazia uma discussão extremamente criativa (e se o Messias retornasse nos dias de hoje com toda essa tecnologia de disseminação de informação - inclusive as "fake news"?) e pelo nível de produção que colocou o projeto como o primeiro grande lançamento da Netflix para ano de 2020. 

A série conta a história de um homem (Mehdi Dehbi) que surge em meio a um conflito no Oriente Médio e chama a atenção do mundo pelos seus supostos milagres e sua mensagem de paz. Com um número de seguidores cada vez maior, todos os seus passos se tornam um evento e um perigo iminente - afinal não se sabe a verdadeira origem desse (falso?) profeta e o que ele será capaz de fazer com a multidão que o acompanha! Uma agente da CIA (Michelle Monaghan) começa uma investigação e com a "ajuda" do FBI acaba se infiltrando em uma enorme rede de conspiração politica, religiosa e ideológica com o único objetivo de desmascarar Al-Massih. A série tem elementos muito parecidos com "Homeland", então se você acompanhou a história de Brody e Carrie é bem provável que você não vá conseguir parar de assistir "Messiah".

Talvez o ponto alto de "Messiah" seja o seu roteiro. Em muitos momentos a idéia inicial parece que não vai se sustentar ou que alguns personagens surgem e não dão o fôlego que a trama precisa - olha, é um grande engano. Tudo vai se encaixando e movendo a história para frente com muita inteligência. É claro que é o tipo da série que exige uma certa suspensão da realidade, mas a jornada do tal Al-Massih é tão bem desenhada que fica impossível cravar se o personagem é ou não um vilão - e foi aí que me veio a primeira lembrança de "Homeland": com o retorno de Brody e todo mistério sobre seu personagem, o roteiro nos levava de um lado ao outro a cada episódio: essa dúvida constante nos prendia e nos obrigava a assistir ao próximo episódio - "Messiah" faz exatamente a mesma coisa! Quando vamos perdendo o interesse ou algo vai ficando claro demais, surge uma cena cena-chave ou uma nova informação que nos faz repensar a história! Talvez a personagem Eva (a agente da CIA que investiga o caso) não seja tão complexa quanto a Carrie, da excelente Claire Danes, mas mesmo assim é perceptível o conflito interno entre trabalho e vida pessoal da mesma forma, sem falar nos fantasmas do passado - um ponto muito interessante das duas personagens e que, ao fragiliza-las, reforça um drama paralelo, humanizando suas posturas e que sempre rendem ótimas cenas.

A dinâmica da história, mostrando dois núcleos: um no Oriente Médio e outro nos EUA, também trazem aquele tom de suspense e drama de "Homeland" - inclusive com os flashbacks bem pontuais que ajudam a contar um ou outro lado da história ou de um personagem e que compõem muito bem esse enorme quebra-cabeça. Reparem como nunca um episódio começa exatamente onde o anterior terminou. Sempre é dada mais uma informação no prólogo que, inclusive, parece completamente desconexa da história, mas que no final justifica uma ação ou decisão de algum personagem e capaz de modificar o rumo da história - essa técnica é um ótimo exemplo de roteiro bem planejado! Se atentem ao exame de tumor no inicio da temporada!

A produção da série é enorme, além de réplicas perfeitas de determinadas locações, a equipe filmou em Israel, na Palestina e na Jordânia (além dos EUA, claro) - isso só valida que"Messiah" não chegou para ser mais uma série de catálogo (só não entendo porque o marketing não foi mais agressivo, mas ok)! Os efeitos especiais não são perfeitos, mas estão longe de serem mal executados - a cena do Tornado é um ótimo exemplo de um bom resultado. A tempestade de areia também não foi tão ruim nos planos fechados, mas no aberto ficou um pouco estranho. As explosões funcionam bem e não devem incomodar. A direção em si é excelente - James McTeigue (Sense8) e Kate Woods (Castle) entregam ação, drama, suspense com planos muito bem elaborados e de extremo bom gosto. Até as sequências mais complicadas são muito bem realizadas - reparem na cena da Mesquita do episódio 9, vejam como ela cria uma certa tensão e como seu resultado final é avassalador e quebra uma expectativa que nos faz querer assistir o próximo imediatamente! Mais uma vez, se você assistiu "Homeland" as referências são claras e diretas - impossível não lembrar do final da primeira temporada!

Bom, dito tudo isso, eu posso garantir que "Messiah" vale a maratona e que o entretenimento está garantido! São dez episódios de 45 minutos em média, com "viradas surpreendentes" que nos mantém ligados em cada detalhe - é ótimo assistir uma série onde nada é jogado fora, mesmo que seja "apenas" para construir um sentimento em quem assiste e que pode até não interferir tanto no arco maior (o caso da menina com câncer é um bom exemplo)!

Boa diversão!

Up-date: Infelizmente no dia 17/04/2020 a Netflix informou o cancelamento da série com apenas uma temporada!

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Midsommar

"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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Mil Vezes Boa Noite

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

Assista Agora

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

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Milagre do Rio Hudson

Em 2014, dois anos antes de estrear "Sully: O Herói do Rio Hudson", a National Geographic apresentou um excelente docudrama sobre os minutos de terror que os passageiros do US Airways 1549 viveram entre a decolagem do aeroporto de LaGuardia em NY e o pouso forçado no Rio Hudson em Manhattan. Olha, embora o filme de Clint Eastwood tenha um outro enfoque e, obviamente, um nível superior de produção, te garanto: o que você vai assistir em o "Milagre do Rio Hudson", disponível do Disney+, vai te impressionar!

Em 15 de janeiro de 2009, enquanto ainda ganhava altitude, o Airbus A320 da US Airways atingiu um grupo de gansos, que resultou numa imediata perda de potência de ambos os motores. Quando a tripulação definiu que a aeronave não poderia alcançar nenhum campo de pouso ou aeroporto próximo de onde estava, o então comandante Chesley "Sully" Sullenberger decidiu guiar a aeronave para o sul de Manhattan e estabeleceu que pousar no rio Hudson seria a única alternativa para evitar uma catástrofe maior - que seria fatal para os 155 passageiros a bordo.

O documentário do diretor e roteirista Simon George foi muito feliz em focar no drama dos passageiros e não no ato de heroismo de Sully ou em algum tipo de investigação jornalística - em pouco mais de 45 minutos o que vemos na tela são depoimentos chocantes (extremamente humanos e emotivos) de alguns passageiros e tripulantes que, de fato, estiveram no voo 1549. Paralelamente aos depoimentos, George criou ótimas sequências de reconstituição, com um trabalho de pós-produção bastante competente (e melhor que muitos filmes catástrofes que vemos por aí). Obviamente que o objetivo do diretor nunca foi entregar uma história cheia de conflitos que pudessem explicar tecnicamente o que aconteceu ou o que poderia ter sido feito de diferente na situação. O objetivo de "Milagre do Rio Hudson" é justamente criar uma experiência bastante imersiva sobre os 6 intermináveis minutos entre a decolagem e a queda, pelo ponto de vista de quem queria entender o que estava acontecendo após um inesperado impacto e um silêncio sepulcral depois que os motores simplesmente pararam de funcionar.

É preciso que se diga que "Milagre do Rio Hudson" não se trata de um episódio especial de "Mayday, desastres aéreos" da National Geographic e sim de um documentário feito para TV com uma qualidade técnica e artística acima da média e que foi capaz de reconstruir uma das histórias mais incríveis de aviação moderna com uma dinâmica narrativa atual e um conceito visual dos mais interessantes. Para que gostou de ver Tom Hanks como o comandante Sully, pode dar o play tranquilamente que o lado apresentado no documentário é praticamente um complemento realista ao que assistimos no filme de 2016. 

Vale muito a pena!

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Em 2014, dois anos antes de estrear "Sully: O Herói do Rio Hudson", a National Geographic apresentou um excelente docudrama sobre os minutos de terror que os passageiros do US Airways 1549 viveram entre a decolagem do aeroporto de LaGuardia em NY e o pouso forçado no Rio Hudson em Manhattan. Olha, embora o filme de Clint Eastwood tenha um outro enfoque e, obviamente, um nível superior de produção, te garanto: o que você vai assistir em o "Milagre do Rio Hudson", disponível do Disney+, vai te impressionar!

Em 15 de janeiro de 2009, enquanto ainda ganhava altitude, o Airbus A320 da US Airways atingiu um grupo de gansos, que resultou numa imediata perda de potência de ambos os motores. Quando a tripulação definiu que a aeronave não poderia alcançar nenhum campo de pouso ou aeroporto próximo de onde estava, o então comandante Chesley "Sully" Sullenberger decidiu guiar a aeronave para o sul de Manhattan e estabeleceu que pousar no rio Hudson seria a única alternativa para evitar uma catástrofe maior - que seria fatal para os 155 passageiros a bordo.

O documentário do diretor e roteirista Simon George foi muito feliz em focar no drama dos passageiros e não no ato de heroismo de Sully ou em algum tipo de investigação jornalística - em pouco mais de 45 minutos o que vemos na tela são depoimentos chocantes (extremamente humanos e emotivos) de alguns passageiros e tripulantes que, de fato, estiveram no voo 1549. Paralelamente aos depoimentos, George criou ótimas sequências de reconstituição, com um trabalho de pós-produção bastante competente (e melhor que muitos filmes catástrofes que vemos por aí). Obviamente que o objetivo do diretor nunca foi entregar uma história cheia de conflitos que pudessem explicar tecnicamente o que aconteceu ou o que poderia ter sido feito de diferente na situação. O objetivo de "Milagre do Rio Hudson" é justamente criar uma experiência bastante imersiva sobre os 6 intermináveis minutos entre a decolagem e a queda, pelo ponto de vista de quem queria entender o que estava acontecendo após um inesperado impacto e um silêncio sepulcral depois que os motores simplesmente pararam de funcionar.

É preciso que se diga que "Milagre do Rio Hudson" não se trata de um episódio especial de "Mayday, desastres aéreos" da National Geographic e sim de um documentário feito para TV com uma qualidade técnica e artística acima da média e que foi capaz de reconstruir uma das histórias mais incríveis de aviação moderna com uma dinâmica narrativa atual e um conceito visual dos mais interessantes. Para que gostou de ver Tom Hanks como o comandante Sully, pode dar o play tranquilamente que o lado apresentado no documentário é praticamente um complemento realista ao que assistimos no filme de 2016. 

Vale muito a pena!

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Minamata

"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

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"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

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Mistério e Morte no Hotel Cecil

"Mistério e Morte no Hotel Cecil" foi o nome dado para a primeira temporada de uma nova série que pretende desvendar todos os mistérios e ampliar as discussões sobre alguns crimes reais que, por alguma razão, ficaram marcados na memória de todos nós (ou pelo menos da sociedade americana). A temporada de estreia de "Cena do Crime" foi dirigida pelo indicado ao Oscar pela terceira parte da trilogia "Paradise Lost", Joe Berlinger - um diretor que usa e abusa das dramatizações para criar uma certa sensação de angustia e ansiedade, tornando seu conceito narrativo muito próximo da ficção, especialmente dos thrillers policiais.

Em "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" acompanhamos a desconstrução de toda uma mitologia e mistérios em torno de um dos locais mais infames de crimes contemporâneos: o Hotel Cecil. No centro de Los Angeles, o hotel é frequentemente associado a algumas das mais notórias atividades da cidade, entre suicídios, assassinatos e crimes sem explicações, até a presença de hóspedes "famosos" e serial killers que aterrorizaram a sociedade americana durante os anos. Em 2013, a universitária Elisa Lam estava hospedada no Cecil quando desapareceu, iniciando um frenesi na mídia e mobilizando uma comunidade global de detetives internéticos ansiosos para solucionar o caso. O desaparecimento de Lam, mais recente capítulo na complexa história do hotel, oferece uma visão arrepiante e cativante de um dos locais mais nefastos de LA. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" tem um história tão maluca que se encaixa muito bem no estilo que o diretor Joe Berlinger gosta de trabalhar e essa, digamos, espetacularização narrativa de um "drama real" pode incomodar algumas pessoas - veja, o caso de Elisa vai ser explorado de todas maneiras, da tese mais provável à teoria conspiratória mais absurda, e que nem por isso deixa de fazer algum sentido.

Não se trata de um relato documental tradicional, com uma linguagem mais jornalística e um tom mais sério do texto; muito pelo contrário, nos quatro episódios dessa primeira temporada o que mais vemos são tantas camadas sendo analisadas que até nos esquecemos de pontos realmente importantes da investigação. O que eu quero dizer com isso é que não se trata de uma série onde as pistas são entregues ao mesmo tempo que os investigadores tem acesso a elas para, juntos, encontrarmos a solução do mistério - tudo é entregue de acordo com as necessidades narrativas e não respeitando a linha do tempo! Com isso a série ganha em entretenimento, mas parece se distanciar da realidade - é um estilo!

Um ponto que vale a pena reparar é que todos os “personagens” do documentário foram cuidadosamente escolhidos para maximizar essa atmosfera surreal criada em torno da histeria que a morte de Elisa provocou na época e como isso impactou profundamente na vida de alguns deles. A relação dos investigadores de internet com o caso dava um spin-off tranquilamente. Enfim, "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" é dinâmico, te prende, é interessante, mas não toca a alma como "Making a Murderer" ou "The Staircase" - é entretenimento na forma de documentário com toques de ficção como o recente sucesso, também da Netflix, "Night Stalker" tão bem explorou!

PS: Aliás, um dica antes do play: se você não assistiu "Night Stalker", faça isso antes de "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", pois alguns personagens se repetem e a experiência fica ainda mais completa.   

Assista Agora

"Mistério e Morte no Hotel Cecil" foi o nome dado para a primeira temporada de uma nova série que pretende desvendar todos os mistérios e ampliar as discussões sobre alguns crimes reais que, por alguma razão, ficaram marcados na memória de todos nós (ou pelo menos da sociedade americana). A temporada de estreia de "Cena do Crime" foi dirigida pelo indicado ao Oscar pela terceira parte da trilogia "Paradise Lost", Joe Berlinger - um diretor que usa e abusa das dramatizações para criar uma certa sensação de angustia e ansiedade, tornando seu conceito narrativo muito próximo da ficção, especialmente dos thrillers policiais.

Em "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" acompanhamos a desconstrução de toda uma mitologia e mistérios em torno de um dos locais mais infames de crimes contemporâneos: o Hotel Cecil. No centro de Los Angeles, o hotel é frequentemente associado a algumas das mais notórias atividades da cidade, entre suicídios, assassinatos e crimes sem explicações, até a presença de hóspedes "famosos" e serial killers que aterrorizaram a sociedade americana durante os anos. Em 2013, a universitária Elisa Lam estava hospedada no Cecil quando desapareceu, iniciando um frenesi na mídia e mobilizando uma comunidade global de detetives internéticos ansiosos para solucionar o caso. O desaparecimento de Lam, mais recente capítulo na complexa história do hotel, oferece uma visão arrepiante e cativante de um dos locais mais nefastos de LA. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" tem um história tão maluca que se encaixa muito bem no estilo que o diretor Joe Berlinger gosta de trabalhar e essa, digamos, espetacularização narrativa de um "drama real" pode incomodar algumas pessoas - veja, o caso de Elisa vai ser explorado de todas maneiras, da tese mais provável à teoria conspiratória mais absurda, e que nem por isso deixa de fazer algum sentido.

Não se trata de um relato documental tradicional, com uma linguagem mais jornalística e um tom mais sério do texto; muito pelo contrário, nos quatro episódios dessa primeira temporada o que mais vemos são tantas camadas sendo analisadas que até nos esquecemos de pontos realmente importantes da investigação. O que eu quero dizer com isso é que não se trata de uma série onde as pistas são entregues ao mesmo tempo que os investigadores tem acesso a elas para, juntos, encontrarmos a solução do mistério - tudo é entregue de acordo com as necessidades narrativas e não respeitando a linha do tempo! Com isso a série ganha em entretenimento, mas parece se distanciar da realidade - é um estilo!

Um ponto que vale a pena reparar é que todos os “personagens” do documentário foram cuidadosamente escolhidos para maximizar essa atmosfera surreal criada em torno da histeria que a morte de Elisa provocou na época e como isso impactou profundamente na vida de alguns deles. A relação dos investigadores de internet com o caso dava um spin-off tranquilamente. Enfim, "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" é dinâmico, te prende, é interessante, mas não toca a alma como "Making a Murderer" ou "The Staircase" - é entretenimento na forma de documentário com toques de ficção como o recente sucesso, também da Netflix, "Night Stalker" tão bem explorou!

PS: Aliás, um dica antes do play: se você não assistiu "Night Stalker", faça isso antes de "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", pois alguns personagens se repetem e a experiência fica ainda mais completa.   

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Monstro

"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!

A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:

"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.

O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!

"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!

A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:

"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.

O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!

"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!

Vale muito a pena!

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Morte no Vale do Silício

Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

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Mosaic

"Mosaic" é muito mais que uma série policial, é uma tentativa de gameficar a experiência de acompanhar a investigação de um assassinato pelos olhos de vários personagens através de um aplicativo. Acontece que o brasileiro nunca teve a oportunidade de testar essa novidade, já que o app só funcionou nos EUA (ele era bloqueado por geolocalização) e como a HBO adquiriu os direitos de distribuição para sua plataforma, uma versão linear da trama foi montada como uma minissérie de 6 episódios - e é aí que a coisa complicou um pouquinho!

A história gira em torno de Olivia Lake (Sharon Stone), uma bem sucedida escritora de livros infantis que vive sendo assediada para vender sua propriedade para empresários locais responsáveis pela exploração de minérios. Com uma personalidade forte e uma dificuldade enorme de lidar com a idade, Olivia se encanta por um jovem artista chamado Joel Hurley (Garrett Hedlund), porém logo ela descobre que o rapaz é comprometido e, digamos, não fica tão feliz. É nesse clima de fragilidade que o vigarista profissional Eric Neill (Frederick Weller) entra na sua vida. Eric foi contratado para convencê-la a vender sua propriedade, mas acaba se envolvendo com Olivia. Pensando na relação, Eric conta a verdade para Olivia, os dois tem uma grave discussão e ela acaba desaparecendo sem deixar pistas. Como principal suspeito, Eric é preso após se declarar culpado em troca de um acordo que reduziria sua pena. Após quatro anos, sua irmã Petra (Jennifer Ferrin) inicia uma investigação, com a ajuda do xerife local: o inseguro Nate Henry (Devin Ratray). Ela acredita na inocência do irmão e tenta de todas as formas juntar as peças de um enorme quebra-cabeça que possa finalmente levar o verdadeiro assassino para prisão. 

"Mosaic" tem uma excelente trama, mas a edição, por ser uma adaptação, falha na apresentação de vários elementos que são essenciais em um bom roteiro policial: embora a história pareça confusa e em alguns momentos até desconexa, existe um fio condutor que é a investigação - até aí, tudo bem; mas o problema passa a ser a superficialidade de algumas motivações de personagens-chaves, além de uma falta de unidade narrativa que nos deixe confortáveis com tantas idas e vindas da história - talvez uma legenda já ajudasse! Resumindo,"Mosaic" é um bom entretenimento, com uma trama simples, mas envolvente, e que vai divertir quem gosta do gênero - mas o mais atento pode perceber que a diluição da força dramática depois de algumas ações dos personagens fazem a história perder um pouco de sentido!

“Mosaic” foi um projeto que demorou cerca de 5 anos de desenvolvimento. Comandado pelo premiado (e inovador) Steven Soderbergh ("High Flying Bird") ao lado de  Casey Silver, ex-chefe da Universal Pictures, a minissérie trás muito do conceito visual característico de Soderbergh com uma câmera mais solta, sem muito ensaio ou marcações com os atores e ainda abusando da iluminação natural nas cenas - o que trás muito do estilo documental para o projeto! O problema, como já comentamos é o roteiro. A versão original tinha cerca de 500 páginas e com vários finais diferentes, já que as escolhas do usuário impactavam na linha narrativa da história. Como na minissérie da HBO isso não seria possível, algumas escolhas na montagem deixaram a história um pouco solta, sem todas as informações - com um roteiro de mais ou menos 300 páginas. Alguns elementos e até personagens, aparecem e somem sem nenhuma explicação - o símbolo misterioso que Petra repara durante a investigação e a morte de Cliff Jones são ótimos exemplos (não se preocupem, isso não é spolier)

A minissérie é muito bem produzida, tem um visual marcante e os atores estão muito bem: embora seja apenas uma participação especial, Sharon Stone está incrível. Imagino que o fato do aplicativo dividir a narrativa em pedaços de cerca de 20 minutos e acompanhar o ponto de vista de um único personagem, sua participação tenha ainda mais força que na versão da minissérie. Infelizmente alguns detalhes do ótimo trabalho do departamento de arte também devem passar despercebidos no streaming já que, pelo app, pequenas janelas se abriam no meio da história dando oportunidade para o usuário explorar uma determinada cena e objetos - como as obras de Joel, por exemplo. 

O fato é que toda adaptação falha em algum ponto, no caso de "Mosaic" o problema está na forma como a história foi comprimida e estruturada (a resolução do mistério escancara isso). Algumas liberdades narrativas prejudicaram a minissérie e enfraqueceram a história. Uma pena, pois o potencial era enorme. Vale pelo bom entretenimento, pelo gênero e pelo estilo de cinematografia que o diretor Steven Soderbergh imprimiu!

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"Mosaic" é muito mais que uma série policial, é uma tentativa de gameficar a experiência de acompanhar a investigação de um assassinato pelos olhos de vários personagens através de um aplicativo. Acontece que o brasileiro nunca teve a oportunidade de testar essa novidade, já que o app só funcionou nos EUA (ele era bloqueado por geolocalização) e como a HBO adquiriu os direitos de distribuição para sua plataforma, uma versão linear da trama foi montada como uma minissérie de 6 episódios - e é aí que a coisa complicou um pouquinho!

A história gira em torno de Olivia Lake (Sharon Stone), uma bem sucedida escritora de livros infantis que vive sendo assediada para vender sua propriedade para empresários locais responsáveis pela exploração de minérios. Com uma personalidade forte e uma dificuldade enorme de lidar com a idade, Olivia se encanta por um jovem artista chamado Joel Hurley (Garrett Hedlund), porém logo ela descobre que o rapaz é comprometido e, digamos, não fica tão feliz. É nesse clima de fragilidade que o vigarista profissional Eric Neill (Frederick Weller) entra na sua vida. Eric foi contratado para convencê-la a vender sua propriedade, mas acaba se envolvendo com Olivia. Pensando na relação, Eric conta a verdade para Olivia, os dois tem uma grave discussão e ela acaba desaparecendo sem deixar pistas. Como principal suspeito, Eric é preso após se declarar culpado em troca de um acordo que reduziria sua pena. Após quatro anos, sua irmã Petra (Jennifer Ferrin) inicia uma investigação, com a ajuda do xerife local: o inseguro Nate Henry (Devin Ratray). Ela acredita na inocência do irmão e tenta de todas as formas juntar as peças de um enorme quebra-cabeça que possa finalmente levar o verdadeiro assassino para prisão. 

"Mosaic" tem uma excelente trama, mas a edição, por ser uma adaptação, falha na apresentação de vários elementos que são essenciais em um bom roteiro policial: embora a história pareça confusa e em alguns momentos até desconexa, existe um fio condutor que é a investigação - até aí, tudo bem; mas o problema passa a ser a superficialidade de algumas motivações de personagens-chaves, além de uma falta de unidade narrativa que nos deixe confortáveis com tantas idas e vindas da história - talvez uma legenda já ajudasse! Resumindo,"Mosaic" é um bom entretenimento, com uma trama simples, mas envolvente, e que vai divertir quem gosta do gênero - mas o mais atento pode perceber que a diluição da força dramática depois de algumas ações dos personagens fazem a história perder um pouco de sentido!

“Mosaic” foi um projeto que demorou cerca de 5 anos de desenvolvimento. Comandado pelo premiado (e inovador) Steven Soderbergh ("High Flying Bird") ao lado de  Casey Silver, ex-chefe da Universal Pictures, a minissérie trás muito do conceito visual característico de Soderbergh com uma câmera mais solta, sem muito ensaio ou marcações com os atores e ainda abusando da iluminação natural nas cenas - o que trás muito do estilo documental para o projeto! O problema, como já comentamos é o roteiro. A versão original tinha cerca de 500 páginas e com vários finais diferentes, já que as escolhas do usuário impactavam na linha narrativa da história. Como na minissérie da HBO isso não seria possível, algumas escolhas na montagem deixaram a história um pouco solta, sem todas as informações - com um roteiro de mais ou menos 300 páginas. Alguns elementos e até personagens, aparecem e somem sem nenhuma explicação - o símbolo misterioso que Petra repara durante a investigação e a morte de Cliff Jones são ótimos exemplos (não se preocupem, isso não é spolier)

A minissérie é muito bem produzida, tem um visual marcante e os atores estão muito bem: embora seja apenas uma participação especial, Sharon Stone está incrível. Imagino que o fato do aplicativo dividir a narrativa em pedaços de cerca de 20 minutos e acompanhar o ponto de vista de um único personagem, sua participação tenha ainda mais força que na versão da minissérie. Infelizmente alguns detalhes do ótimo trabalho do departamento de arte também devem passar despercebidos no streaming já que, pelo app, pequenas janelas se abriam no meio da história dando oportunidade para o usuário explorar uma determinada cena e objetos - como as obras de Joel, por exemplo. 

O fato é que toda adaptação falha em algum ponto, no caso de "Mosaic" o problema está na forma como a história foi comprimida e estruturada (a resolução do mistério escancara isso). Algumas liberdades narrativas prejudicaram a minissérie e enfraqueceram a história. Uma pena, pois o potencial era enorme. Vale pelo bom entretenimento, pelo gênero e pelo estilo de cinematografia que o diretor Steven Soderbergh imprimiu!

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My Son

"My Son" é mais um caso de um filme bom que poderia ter sido uma minissérie espetacular - e talvez dizer isso sem contextualizar possa parecer até injusto porque esse drama policial é realmente envolvente, mas falta tempo de tela para desenvolver algumas subtramas que são apenas pinceladas no roteiro e que teriam um potencial enorme de enriquecer toda a jornada. O fato é que temos a impressão que o mistério é resolvido rápido demais, sem muitos obstáculos e isso, embora entretenha, soa um pouco frustrante.

Na história conhecemos Edmond Murray (James McAvoy), um pai que viaja muito a trabalho para fora do país, até que descobre que seu filho de sete anos, Ethan (Max Wilson) está desaparecido. Dominado pela culpa por ter negligenciado seus deveres como pai e pela pressão de sua ex-mulher Joan (Claire Foy), ele faz de tudo para encontrar o filho, descobrindo um lado seu que ele mesmo desconhecia. Confira o trailer:

Para os mais atentos, "My Son" vai parecer familiar, já que é a refilmagem feita pelo mesmo diretor, o francês Christian Carion, de seu grande sucesso "Mon Garçon", de apenas quatro anos atrás e estrelado por Melanie Laurent e Guillaume Canet. Isso é um problema? Não, desde que você não tenha assistido a versão original, pois os filmes são praticamente idênticos - na forma e no conteúdo.

Veja, talvez essa versão mais gourmet seja realmente melhor produzida e o fato dos atores serem conhecidos nos dá a real sensação de conforto ao assistir o filme, mas o detalhe que salta aos olhos, sem dúvida, é a atmosfera gélida ao melhor estilo "The Killing" (o original). O diretor de fotografia Eric Dumont traz para seu quadro um visual quase nórdico, aprimorando o seu trabalho na versão original - o filme é muito lindo, alguns planos poderiam ser, tranquilamente, o plano de fundo da tela do seu computador. 

Outro detalhe que também foi amplamente divulgado durante a promoção de "My Son", diz repito a técnica que Carion escolheu para dirigir McAvoy - o ator não teve contato com o roteiro, improvisando em todas as suas cenas, tendo apenas a orientação do diretor. Não posso garantir que a dinâmica de filmagem tenha sido exatamente essa, pois não estava no set, porém é perceptível um certo desconforto em McAvoy que contribui muito para a construção do seu personagem. Seu Edmond Murray exige certa sensibilidade e muitas sutilezas, ao mesmo tempo em que precisa transparecer um senso de urgência e até mesmo alguma força física para alcançar o seu objetivo dramático - e funciona!

"My Son" não é uma obra-prima, mas não pode ser descartado por ser um filme e não uma minissérie. Sua narrativa é envolvente, os elementos de suspense e mistério se sustentam até o final e a direção é realmente impecável - se eu fosse a HBO, contrataria Carion e daria uma minissérie policial na mão dele tranquilamente (principalmente agora que, infelizmente, não temos mais o talento do inesquecível Jean-Marc Vallée).

Vale seu play!

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"My Son" é mais um caso de um filme bom que poderia ter sido uma minissérie espetacular - e talvez dizer isso sem contextualizar possa parecer até injusto porque esse drama policial é realmente envolvente, mas falta tempo de tela para desenvolver algumas subtramas que são apenas pinceladas no roteiro e que teriam um potencial enorme de enriquecer toda a jornada. O fato é que temos a impressão que o mistério é resolvido rápido demais, sem muitos obstáculos e isso, embora entretenha, soa um pouco frustrante.

Na história conhecemos Edmond Murray (James McAvoy), um pai que viaja muito a trabalho para fora do país, até que descobre que seu filho de sete anos, Ethan (Max Wilson) está desaparecido. Dominado pela culpa por ter negligenciado seus deveres como pai e pela pressão de sua ex-mulher Joan (Claire Foy), ele faz de tudo para encontrar o filho, descobrindo um lado seu que ele mesmo desconhecia. Confira o trailer:

Para os mais atentos, "My Son" vai parecer familiar, já que é a refilmagem feita pelo mesmo diretor, o francês Christian Carion, de seu grande sucesso "Mon Garçon", de apenas quatro anos atrás e estrelado por Melanie Laurent e Guillaume Canet. Isso é um problema? Não, desde que você não tenha assistido a versão original, pois os filmes são praticamente idênticos - na forma e no conteúdo.

Veja, talvez essa versão mais gourmet seja realmente melhor produzida e o fato dos atores serem conhecidos nos dá a real sensação de conforto ao assistir o filme, mas o detalhe que salta aos olhos, sem dúvida, é a atmosfera gélida ao melhor estilo "The Killing" (o original). O diretor de fotografia Eric Dumont traz para seu quadro um visual quase nórdico, aprimorando o seu trabalho na versão original - o filme é muito lindo, alguns planos poderiam ser, tranquilamente, o plano de fundo da tela do seu computador. 

Outro detalhe que também foi amplamente divulgado durante a promoção de "My Son", diz repito a técnica que Carion escolheu para dirigir McAvoy - o ator não teve contato com o roteiro, improvisando em todas as suas cenas, tendo apenas a orientação do diretor. Não posso garantir que a dinâmica de filmagem tenha sido exatamente essa, pois não estava no set, porém é perceptível um certo desconforto em McAvoy que contribui muito para a construção do seu personagem. Seu Edmond Murray exige certa sensibilidade e muitas sutilezas, ao mesmo tempo em que precisa transparecer um senso de urgência e até mesmo alguma força física para alcançar o seu objetivo dramático - e funciona!

"My Son" não é uma obra-prima, mas não pode ser descartado por ser um filme e não uma minissérie. Sua narrativa é envolvente, os elementos de suspense e mistério se sustentam até o final e a direção é realmente impecável - se eu fosse a HBO, contrataria Carion e daria uma minissérie policial na mão dele tranquilamente (principalmente agora que, infelizmente, não temos mais o talento do inesquecível Jean-Marc Vallée).

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Não Fale com Estranhos

"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

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"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

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Não! Não Olhe!

Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.

A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:

"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).

Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.

"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!

Vale seu play!

Assista Agora

Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.

A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:

"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).

Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.

"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!

Vale seu play!

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Navalny

Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia. 

Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):

"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.

E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.

Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!

Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!

Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!

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Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia. 

Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):

"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.

E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.

Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!

Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!

Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!

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