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Não Fale o Mal

Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.

A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:

Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.

A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).

Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes".  É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!

Vale demais o seu play!

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Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.

A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:

Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.

A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).

Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes".  É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!

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Não Me Abandone Jamais

"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

Vale muito o seu play!

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"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

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Não me diga adeus

Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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Não se preocupe, querida

"Não se preocupe, querida" vai dividir opniões, pois não se trata de um filme de "jornada" e sim de "respostas". Para você que gosta de séries como "Ruptura" ou "Black Mirror", certamente sua conexão será imediata; e talvez se buscarmos referências de narrativas pautadas na semiótica - até mesmo "WandaVision" poderá te ajudar a entender como o roteiro tenta construir inúmeras camadas de interpretação, em vez de se apoiar em um caminho mais fácil e assim ser considerado só um filme de gênero.

Em meio a década de 1950, Alice (Florence Pugh) é uma jovem dona de casa que, aparentemente, tem uma vida perfeita. Ela e o marido, Jack (Harry Styles), moram em uma comunidade em algum lugar do deserto da Califórnia. No entanto, com o passar do tempo, ela começa a desconfiar de toda aquela realidade. A partir de alguns estranhos eventos, Alice vai atrás de respostas até ter certeza que a empresa que seu marido trabalha, esconde, de fato, segredos perturbadores. Confira o trailer:

É inegável que por ser um filme de 120 minutos, "Não se preocupe, querida" não tem o tempo para trabalhar as nuances do mistério que pautam sua narrativa como as séries citadas acima. Comparar, em termos de detalhes e complexidade, "Ruptura" com o filme de Olivia Wilde é até injusto, mas natural. Veja, como na série da Apple, desde o primeiro minuto sabemos que algo está errado - que aquela atmosfera de perfeição quase utópica parece ter sido construída, justamente, para nos provocar desconfiança. Não acho que nem seja esse o problema do roteiro de Katie Silberman (de "Fora de Série"), e de Carey e Shane Van Dyke (de "O Silêncio") - na verdade a grande questão que pode ser levantada é que mesmo com o esforço da narrativa para entregar "pistas" pouco a pouco, no final o que vemos são resoluções atropeladas e pouco desenvolvidas (embora boas, diga-se de passagem).

Por outro lado, o que faz de "Não se preocupe, querida" um bom entretenimento, é que toda história criada dentro daquele contexto surreal bem apresentado no primeiro ato, tem uma resolução de mistério que faz total sentido no terceiro - o que dói um pouco é ter em mente que essa "jornada" (do segundo ato) tinha potencial para ser melhor explorada. Em uma era "pós-Lost", se apropriar de uma narrativa cercada de mistérios onde o impacto do plot twist se torna o diferencial da experiência, em um longa-metragem é quase um suicídio. Simplesmente não dá tempo! É até um pecado atribuir ao formato uma responsabilidade tão grande, até porquê o que assistimos aqui é uma produção extremamente cuidadosa e bem realizada - o desenho de produção, figurino, fotografia e trilha sonora estão muito bem alinhados com a proposta de Wilde (uma mistura de Ari Aster com Jordan Peele).

Sem dúvida que o grande mérito do filme vem da performance de Florence Pugh - é possível sentir na pele seu desespero e ansiedade para entender o que, de fato, está acontecendo ali. Por isso um detalhe importante precisa ser citado: Olivia Wilde é uma jovem diretora, mas já muito competente ao equilibrar o requinte de sua visão estética com sua inerente capacidade de dirigir atores - reparem nas cenas onde Alice parece surtar e como as inserções de imagens (e de som) mais abstratas ajudam a criar uma forte sensação de vazio e caos interno.

Pois bem, por tudo isso, "Não se preocupe, querida" vale como entretenimento desde que todas as expectativas estejam alinhadas. Cobrar da história mais do que o tempo lhe permitiria contar, não vai mudar sua percepção sobre o filme - as repostas que você normalmente buscaria em um filme de mistério e as reflexões sobre alguns assuntos delicados, como machismo, relacionamentos tóxicos, ganância e submissão, também vão estar lá, então "não se preocupe" e divirta-se!

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"Não se preocupe, querida" vai dividir opniões, pois não se trata de um filme de "jornada" e sim de "respostas". Para você que gosta de séries como "Ruptura" ou "Black Mirror", certamente sua conexão será imediata; e talvez se buscarmos referências de narrativas pautadas na semiótica - até mesmo "WandaVision" poderá te ajudar a entender como o roteiro tenta construir inúmeras camadas de interpretação, em vez de se apoiar em um caminho mais fácil e assim ser considerado só um filme de gênero.

Em meio a década de 1950, Alice (Florence Pugh) é uma jovem dona de casa que, aparentemente, tem uma vida perfeita. Ela e o marido, Jack (Harry Styles), moram em uma comunidade em algum lugar do deserto da Califórnia. No entanto, com o passar do tempo, ela começa a desconfiar de toda aquela realidade. A partir de alguns estranhos eventos, Alice vai atrás de respostas até ter certeza que a empresa que seu marido trabalha, esconde, de fato, segredos perturbadores. Confira o trailer:

É inegável que por ser um filme de 120 minutos, "Não se preocupe, querida" não tem o tempo para trabalhar as nuances do mistério que pautam sua narrativa como as séries citadas acima. Comparar, em termos de detalhes e complexidade, "Ruptura" com o filme de Olivia Wilde é até injusto, mas natural. Veja, como na série da Apple, desde o primeiro minuto sabemos que algo está errado - que aquela atmosfera de perfeição quase utópica parece ter sido construída, justamente, para nos provocar desconfiança. Não acho que nem seja esse o problema do roteiro de Katie Silberman (de "Fora de Série"), e de Carey e Shane Van Dyke (de "O Silêncio") - na verdade a grande questão que pode ser levantada é que mesmo com o esforço da narrativa para entregar "pistas" pouco a pouco, no final o que vemos são resoluções atropeladas e pouco desenvolvidas (embora boas, diga-se de passagem).

Por outro lado, o que faz de "Não se preocupe, querida" um bom entretenimento, é que toda história criada dentro daquele contexto surreal bem apresentado no primeiro ato, tem uma resolução de mistério que faz total sentido no terceiro - o que dói um pouco é ter em mente que essa "jornada" (do segundo ato) tinha potencial para ser melhor explorada. Em uma era "pós-Lost", se apropriar de uma narrativa cercada de mistérios onde o impacto do plot twist se torna o diferencial da experiência, em um longa-metragem é quase um suicídio. Simplesmente não dá tempo! É até um pecado atribuir ao formato uma responsabilidade tão grande, até porquê o que assistimos aqui é uma produção extremamente cuidadosa e bem realizada - o desenho de produção, figurino, fotografia e trilha sonora estão muito bem alinhados com a proposta de Wilde (uma mistura de Ari Aster com Jordan Peele).

Sem dúvida que o grande mérito do filme vem da performance de Florence Pugh - é possível sentir na pele seu desespero e ansiedade para entender o que, de fato, está acontecendo ali. Por isso um detalhe importante precisa ser citado: Olivia Wilde é uma jovem diretora, mas já muito competente ao equilibrar o requinte de sua visão estética com sua inerente capacidade de dirigir atores - reparem nas cenas onde Alice parece surtar e como as inserções de imagens (e de som) mais abstratas ajudam a criar uma forte sensação de vazio e caos interno.

Pois bem, por tudo isso, "Não se preocupe, querida" vale como entretenimento desde que todas as expectativas estejam alinhadas. Cobrar da história mais do que o tempo lhe permitiria contar, não vai mudar sua percepção sobre o filme - as repostas que você normalmente buscaria em um filme de mistério e as reflexões sobre alguns assuntos delicados, como machismo, relacionamentos tóxicos, ganância e submissão, também vão estar lá, então "não se preocupe" e divirta-se!

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Nasce uma Estrela

Nasce uma Estrela

"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!

"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!

O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas  também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.

"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!

Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.

Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!

Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!

Assista Agora

"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!

"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!

O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas  também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.

"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!

Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.

Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!

Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!

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Ninguém Quer

Uma série divertida, inteligente, gostosa de assistir! "Ninguém Quer" poderia facilmente cair nos clichês clássicos da comédia romântica moderna, mas evita atalhos ao construir uma jornada deliciosa onde dois protagonistas, com visões de mundo radicalmente diferentes, fazem o básico para que qualquer relação dê certo: conversam sobre seus sentimentos sem medo de expor suas inseguranças, e conforme vão se conhecendo, vão se apaixonando ainda mais - consequentemente, a audiência também! "Nobody Wants This" (no original), criada por Erin Foster para a Netflix, é sim uma comédia romântica, mas que sabe fazer do drama um gatilho para suas intervenções mais sarcásticas e com isso navegar pelas complexidades dos relacionamentos com uma abordagem mais espirituosa e provocadora, sem nunca pesar na mão.

A trama segue o encontro inesperado entre Noah Roklov (Adam Brody) e Joanne (Kristen Bell), que rapidamente se transforma em um relacionamento tão cheio de desafios quanto de descobertas. Noah é um rabino progressista que tenta conciliar sua vida espiritual com as demandas da comunidade que lidera, enquanto Joanne é uma personalidade extravagante cuja visão cínica sobre o amor e a religião colide constantemente com as crenças de Noah. A dinâmica entre eles, embora improvável, gera momentos cômicos de um lado e profundamente tocantes do outro, e a medida que ambos enfrentam seus próprios preconceitos e fantasmas do passado, tudo ganha ainda mais graça. Confira o trailer:

Ao apresentar uma inusitada conexão entre um rabino, líder espiritual introspectivo e idealista, e uma mulher irreverente, barulhenta e agnóstica, conhecida por um podcast de sucesso que fala abertamente sobre sexo e relacionamentos, a série nem precisa se esforçar para se beneficiar de uma combinação certeira de humor ácido, diálogos afiados e reflexões sobre fé, amor e identidade. Erin Foster, de fato, cria um roteiro que equilibra habilmente esse tipo de humor com uma certa reflexão sem ser maçante. Os diálogos são rápidos e repletos de sarcasmo, mas também há espaço para momentos mais suaves com um toque emocional que nos atingem sem dó - repare como os personagens analisam suas escolhas e questionam o que realmente desejam na vida, da mesma forma como em algum momento já fizemos algo parecido. 

Kristen Bell brilha como Joanne, trazendo uma energia vibrante e caótica que contrasta perfeitamente com o personagem meticuloso e ponderado de Adam Brody. Bell entrega uma performance que mistura irreverência com uma vulnerabilidade surpreendente, revelando as camadas emocionais por trás de uma fachada auto-suficiente. Brody, por sua vez, captura a complexidade de Noah, equilibrando seu idealismo e respeito pelas tradições familiares com dúvidas e inseguranças que tornam o personagem profundamente humano. E a química entre os dois, olha, é surpreendente - essa relação cheia de atrito e humor é o coração pulsante da série. Ah, Justine Lupe, a Morgan, irmã de Joanne, também brilha - ela é um ótimo contraponto para as dúvidas e surtos da irmã, eu diria até que ela é aquele tipo de conselheira que fala as verdades necessárias mesmo quando a gente não quer ouvir. Sabe?

"Ninguém Quer" enfatiza a intimidade e as nuances de um relacionamento que reflete mundos opostos de forma leve. Obviamente que aquele retrato é muito mais idealizado do que a vida como ela é, no entanto esse tom talvez seja a razão que vai fazer com que aqueles fãs de um bom romance não desgrudem da tela ou percam aquele sorrisinho no rosto. Importante, com o fim da primeira temporada daria pra encerrar a história e todo mundo ficaria feliz, mas, considerando o seu sucesso em poucos dias após a estreia, a Netflix já encomendou mais histórias de Joanne e Noah, só espero que a qualidade não diminua!

Vale muito o seu play!

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Uma série divertida, inteligente, gostosa de assistir! "Ninguém Quer" poderia facilmente cair nos clichês clássicos da comédia romântica moderna, mas evita atalhos ao construir uma jornada deliciosa onde dois protagonistas, com visões de mundo radicalmente diferentes, fazem o básico para que qualquer relação dê certo: conversam sobre seus sentimentos sem medo de expor suas inseguranças, e conforme vão se conhecendo, vão se apaixonando ainda mais - consequentemente, a audiência também! "Nobody Wants This" (no original), criada por Erin Foster para a Netflix, é sim uma comédia romântica, mas que sabe fazer do drama um gatilho para suas intervenções mais sarcásticas e com isso navegar pelas complexidades dos relacionamentos com uma abordagem mais espirituosa e provocadora, sem nunca pesar na mão.

A trama segue o encontro inesperado entre Noah Roklov (Adam Brody) e Joanne (Kristen Bell), que rapidamente se transforma em um relacionamento tão cheio de desafios quanto de descobertas. Noah é um rabino progressista que tenta conciliar sua vida espiritual com as demandas da comunidade que lidera, enquanto Joanne é uma personalidade extravagante cuja visão cínica sobre o amor e a religião colide constantemente com as crenças de Noah. A dinâmica entre eles, embora improvável, gera momentos cômicos de um lado e profundamente tocantes do outro, e a medida que ambos enfrentam seus próprios preconceitos e fantasmas do passado, tudo ganha ainda mais graça. Confira o trailer:

Ao apresentar uma inusitada conexão entre um rabino, líder espiritual introspectivo e idealista, e uma mulher irreverente, barulhenta e agnóstica, conhecida por um podcast de sucesso que fala abertamente sobre sexo e relacionamentos, a série nem precisa se esforçar para se beneficiar de uma combinação certeira de humor ácido, diálogos afiados e reflexões sobre fé, amor e identidade. Erin Foster, de fato, cria um roteiro que equilibra habilmente esse tipo de humor com uma certa reflexão sem ser maçante. Os diálogos são rápidos e repletos de sarcasmo, mas também há espaço para momentos mais suaves com um toque emocional que nos atingem sem dó - repare como os personagens analisam suas escolhas e questionam o que realmente desejam na vida, da mesma forma como em algum momento já fizemos algo parecido. 

Kristen Bell brilha como Joanne, trazendo uma energia vibrante e caótica que contrasta perfeitamente com o personagem meticuloso e ponderado de Adam Brody. Bell entrega uma performance que mistura irreverência com uma vulnerabilidade surpreendente, revelando as camadas emocionais por trás de uma fachada auto-suficiente. Brody, por sua vez, captura a complexidade de Noah, equilibrando seu idealismo e respeito pelas tradições familiares com dúvidas e inseguranças que tornam o personagem profundamente humano. E a química entre os dois, olha, é surpreendente - essa relação cheia de atrito e humor é o coração pulsante da série. Ah, Justine Lupe, a Morgan, irmã de Joanne, também brilha - ela é um ótimo contraponto para as dúvidas e surtos da irmã, eu diria até que ela é aquele tipo de conselheira que fala as verdades necessárias mesmo quando a gente não quer ouvir. Sabe?

"Ninguém Quer" enfatiza a intimidade e as nuances de um relacionamento que reflete mundos opostos de forma leve. Obviamente que aquele retrato é muito mais idealizado do que a vida como ela é, no entanto esse tom talvez seja a razão que vai fazer com que aqueles fãs de um bom romance não desgrudem da tela ou percam aquele sorrisinho no rosto. Importante, com o fim da primeira temporada daria pra encerrar a história e todo mundo ficaria feliz, mas, considerando o seu sucesso em poucos dias após a estreia, a Netflix já encomendou mais histórias de Joanne e Noah, só espero que a qualidade não diminua!

Vale muito o seu play!

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No Matarás

“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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No Ritmo do Coração

"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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Nocaute

"Nocaute" é um excelente exemplo daquele tipo de filme que bastam algumas cenas para você já saber exatamente tudo que vai acontecer durante os 120 minutos de jornada do protagonista! Mas isso faz do filme uma experiência ruim? Não vejo dessa forma, até porquê estamos falando de um estilo de filme bem específico, mas é inegável que a enorme quantidade de clichês narrativos nos dá a sensação de que já assistimos aquela história, com aqueles tipos de personagens e ainda assim nos divertimos com tudo isso. O que eu quero dizer é que a história é do lutador Billy Hope, mas poderia ser de Adonis "Creed" Johnson ou até de Rocky Balboa. Pegou?

Billy "The Great" Hope (Jake Gyllenhaal), é um fenômeno do boxe. Um lutador com 43 vitórias e nenhuma derrota que trilhou o seu caminho rumo ao título de campeão mundial enquanto enfrentava diversas tragédias em sua vida pessoal. Após um evento traumático, Hope perde tudo, inclusive o respeito como atleta; é quando ele é forçado a voltar a lutar para tentar reconquistar a guarda e o amor de sua filha, em uma verdadeira cruzada na busca pela redenção. Confira o trailer:

Dirigido pelo inconstante Antoine Fuqua (de "Dia da Treinamento"), "Southpaw" (no original) é um verdadeiro "filme de ator" - e nesse ponto é visível o esforço de Gyllenhaal para transformar um roteiro mediano (por tudo que comentei acima) em um projeto 100% pessoal. Fico imaginando Gyllenhaal lendo o roteiro e pensando: esse é o meu "Touro Indomável", basta eu me transformar fisicamente como Robert De Niro, trabalhar minha enorme capacidade de atuação, equilibrando momentos de introspecção com algumas explosões emocionais (e físicas), para não exagerar no overacting,que meu Oscar está garantido! Acontece que mesmo com o bom trabalho do ator e com Fuqua impondo um bom ritmo narrativo e lutando (sem trocadilho) para encontrar uma identidade cinematográfica mais requintada, trazendo o "charme" daquela atmosfera novaiorquina do submundo do boxe; a história não se sustenta - ou melhor, não inova e não surpreende.

Essa desconexão entre a qualidade técnica dos realizadores e falta de originalidade da trama que foi desenvolvida pelo Kurt Sutter (de "Sons of Anarchy") certamente distanciou Gyllenhaal do seu objetivo maior, mas pode se dizer que não diminuiu o propósito do filme - o de entreter um público médio. A montagem mais frenética do competente John Refoua (indicado ao Oscar por "Avatar"), a trilha sonora empolgante do saudoso James Horner, repleta de hip-hop e notas de tensão (aquelas que descaradamente pontuam as emoções dos personagens), e a câmera mais nervosa do diretor de fotografia Mauro Fiore (esse sim vencedor do Oscar por "Avatar"), compõem esse cenário envolvente, em muitos momentos, vibrante, e em alguns poucos, emocionante (aliás, para quem é pai de menina, isso fará ainda mais sentido).

“Nocaute” segue a cartilha dos filmes de superação com louvor - quem gosta, gosta muito, e provavelmente vai gostar desse também! Embora não encontre forças suficientes para ser reconhecido como um filme inesquecível, algo como "Creed" (para citar o primo mais novo), podemos dizer que ele cumpre muito bem o seu papel. 

Assista Agora

"Nocaute" é um excelente exemplo daquele tipo de filme que bastam algumas cenas para você já saber exatamente tudo que vai acontecer durante os 120 minutos de jornada do protagonista! Mas isso faz do filme uma experiência ruim? Não vejo dessa forma, até porquê estamos falando de um estilo de filme bem específico, mas é inegável que a enorme quantidade de clichês narrativos nos dá a sensação de que já assistimos aquela história, com aqueles tipos de personagens e ainda assim nos divertimos com tudo isso. O que eu quero dizer é que a história é do lutador Billy Hope, mas poderia ser de Adonis "Creed" Johnson ou até de Rocky Balboa. Pegou?

Billy "The Great" Hope (Jake Gyllenhaal), é um fenômeno do boxe. Um lutador com 43 vitórias e nenhuma derrota que trilhou o seu caminho rumo ao título de campeão mundial enquanto enfrentava diversas tragédias em sua vida pessoal. Após um evento traumático, Hope perde tudo, inclusive o respeito como atleta; é quando ele é forçado a voltar a lutar para tentar reconquistar a guarda e o amor de sua filha, em uma verdadeira cruzada na busca pela redenção. Confira o trailer:

Dirigido pelo inconstante Antoine Fuqua (de "Dia da Treinamento"), "Southpaw" (no original) é um verdadeiro "filme de ator" - e nesse ponto é visível o esforço de Gyllenhaal para transformar um roteiro mediano (por tudo que comentei acima) em um projeto 100% pessoal. Fico imaginando Gyllenhaal lendo o roteiro e pensando: esse é o meu "Touro Indomável", basta eu me transformar fisicamente como Robert De Niro, trabalhar minha enorme capacidade de atuação, equilibrando momentos de introspecção com algumas explosões emocionais (e físicas), para não exagerar no overacting,que meu Oscar está garantido! Acontece que mesmo com o bom trabalho do ator e com Fuqua impondo um bom ritmo narrativo e lutando (sem trocadilho) para encontrar uma identidade cinematográfica mais requintada, trazendo o "charme" daquela atmosfera novaiorquina do submundo do boxe; a história não se sustenta - ou melhor, não inova e não surpreende.

Essa desconexão entre a qualidade técnica dos realizadores e falta de originalidade da trama que foi desenvolvida pelo Kurt Sutter (de "Sons of Anarchy") certamente distanciou Gyllenhaal do seu objetivo maior, mas pode se dizer que não diminuiu o propósito do filme - o de entreter um público médio. A montagem mais frenética do competente John Refoua (indicado ao Oscar por "Avatar"), a trilha sonora empolgante do saudoso James Horner, repleta de hip-hop e notas de tensão (aquelas que descaradamente pontuam as emoções dos personagens), e a câmera mais nervosa do diretor de fotografia Mauro Fiore (esse sim vencedor do Oscar por "Avatar"), compõem esse cenário envolvente, em muitos momentos, vibrante, e em alguns poucos, emocionante (aliás, para quem é pai de menina, isso fará ainda mais sentido).

“Nocaute” segue a cartilha dos filmes de superação com louvor - quem gosta, gosta muito, e provavelmente vai gostar desse também! Embora não encontre forças suficientes para ser reconhecido como um filme inesquecível, algo como "Creed" (para citar o primo mais novo), podemos dizer que ele cumpre muito bem o seu papel. 

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Nomadland

"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

Assista Agora

"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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Normandia Nua

"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

Vale a pena!

Assista Agora

"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

Vale a pena!

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Nós

Antes mesmo de "Parasita", "Nós" já tinha instalado um triplex na cabeça de muita gente e te garanto: o impacto (e a crítica) é bem semelhante - especialmente pelo "toque Jordan Peele" que o filme traz em seu DNA. O fato é que "Us", no original, é um daqueles filmes que transcendem o gênero do horror clássico para se tornar uma inquietante e poderosa reflexão sobre desigualdade social e sobre a dualidade da natureza humana. Seguindo a fórmula que o diretor apresentou em seu aclamado “Corra!” (ou "Get Out"), o filme entrega uma trama assustadora na sua essência, repleta de simbolismos e com um humor ácido que amplifica o desconforto sem nunca abandonar o valor do entretenimento. Eu diria, inclusive, que "Nós" é uma daquelas experiências fascinantes tanto para os amantes do suspense psicológico quanto para quem busca uma obra com camadas mais profundas de discussão - que normalmente divide opiniões, é verdade, mas que também coloca a obra em outra prateleira!

A história acompanha Adelaide Wilson (Lupita Nyong'o), que retorna com seu marido Gabe (Winston Duke) e seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) para uma casa de veraneio onde cresceu, perto de Santa Cruz, na Califórnia. Após um traumático evento de sua infância na praia local, Adelaide vive com a constante sensação de que algo sinistro a persegue. A paranoia se concretiza quando a família é subitamente atacada por estranhas figuras que, aterrorizantemente, revelam-se como seus próprios doppelgängers, ou seja, versões sombrias de si mesmos, iniciando uma luta por sobrevivência e respostas diante do inimaginável. Confira o trailer:

Jordan Peele, mais uma vez, confirma sua genialidade ao brincar com o suspense e a tensão de forma magistral. Como de costume, sua direção é precisa e cheia de identidade, alternando habilmente momentos de alta tensão com ótimas sequências de ação e uma violência realmente visceral. Peele trabalha cuidadosamente a atmosfera que ele cria com muita competência, explorando cenários claustrofóbicos, silêncios perturbadores e o uso marcante das cores para criar um sentimento constante de insegurança e apreensão. A fotografia de Mike Gioulakis (não por acaso também fotógrafo de "Tempo" do Shyamalan) contribui diretamente para essa ambientação, usando contrastes fortes entre luz e sombra, especialmente no jogo quase mítico entre o mundo "real" e o "subterrâneo". O roteiro, nesse sentido, usa e abusa dessa riqueza de simbolismos - a metáfora central, com os doppelgängers como versões reprimidas e esquecidas da sociedade, serve como uma poderosa crítica às disparidades sociais e ao lado obscuro do sonho americano. Essa provocante dualidade presente no filme é explorada de forma genial, mostrando não apenas o confronto externo, mas também um conflito interno, existencial, sobre o quanto estamos dispostos a reconhecer nossas próprias "sombras". Reparem como Peele brinca com referências cinematográficas, desde clássicos como “O Iluminado” até “Os Pássaros” de Hitchcock, fortalecendo ainda mais essa narrativa que dialoga com ícones do gênero como poucos.

Outro ponto a se observar é como a performance de Lupita Nyong'o rouba completamente a cena. Sua atuação como Adelaide e sua perturbadora versão "Red" é simplesmente impressionante. A atriz entrega duas personalidades distintas, cada uma cheia de detalhes próprios - enquanto uma é protetora, vulnerável e assustada, a outra é uma presença ameaçadora, com movimentos rígidos e aterrorizante. Seu trabalho demonstra uma versatilidade extraordinária, em uma das melhores interpretações dos últimos anos dentro do gênero. Winston Duke oferece o contraponto perfeito, com um humor pontual, quase constrangedor, que alivia brevemente a tensão sem prejudicar o mood do filme. Outro grande destaque de "Nós" é a sua trilha sonora - Michael Abels (parceiro fundamental de Peele ao longo dos anos) utiliza desde temas clássicos até versões mais perturbadoras de músicas populares, como "I Got 5 On It" - música que se torna praticamente um personagem no filme. Enquanto Abels cria uma atmosfera sonora inesquecível, é a montagem de Nicholas Monsour (de "O Reformatório Nickel") que mantém o ritmo tão acelerado, principalmente nos momentos de revelação, onde cortes rápidos e sincronizados amplificam o impacto das imagens.

Veja, “Nós”, em certos momentos, escolhe abrir mão do mistério para oferecer explicações literais sobre a origem dos doppelgängers. Isso pode diminuir a força simbólica da história para alguns mais exigentes, porém, a habilidade narrativa de Peele e sua preocupação com as questões sociais garantem que o filme permaneça envolvente e impactante até o fim, se tornando uma prova definitiva do seu talento, colocando ele como um dos cineastas mais importantes e criativos de sua geração!

Vale muito o seu play (e se prepare para alguns sustos)!

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Antes mesmo de "Parasita", "Nós" já tinha instalado um triplex na cabeça de muita gente e te garanto: o impacto (e a crítica) é bem semelhante - especialmente pelo "toque Jordan Peele" que o filme traz em seu DNA. O fato é que "Us", no original, é um daqueles filmes que transcendem o gênero do horror clássico para se tornar uma inquietante e poderosa reflexão sobre desigualdade social e sobre a dualidade da natureza humana. Seguindo a fórmula que o diretor apresentou em seu aclamado “Corra!” (ou "Get Out"), o filme entrega uma trama assustadora na sua essência, repleta de simbolismos e com um humor ácido que amplifica o desconforto sem nunca abandonar o valor do entretenimento. Eu diria, inclusive, que "Nós" é uma daquelas experiências fascinantes tanto para os amantes do suspense psicológico quanto para quem busca uma obra com camadas mais profundas de discussão - que normalmente divide opiniões, é verdade, mas que também coloca a obra em outra prateleira!

A história acompanha Adelaide Wilson (Lupita Nyong'o), que retorna com seu marido Gabe (Winston Duke) e seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) para uma casa de veraneio onde cresceu, perto de Santa Cruz, na Califórnia. Após um traumático evento de sua infância na praia local, Adelaide vive com a constante sensação de que algo sinistro a persegue. A paranoia se concretiza quando a família é subitamente atacada por estranhas figuras que, aterrorizantemente, revelam-se como seus próprios doppelgängers, ou seja, versões sombrias de si mesmos, iniciando uma luta por sobrevivência e respostas diante do inimaginável. Confira o trailer:

Jordan Peele, mais uma vez, confirma sua genialidade ao brincar com o suspense e a tensão de forma magistral. Como de costume, sua direção é precisa e cheia de identidade, alternando habilmente momentos de alta tensão com ótimas sequências de ação e uma violência realmente visceral. Peele trabalha cuidadosamente a atmosfera que ele cria com muita competência, explorando cenários claustrofóbicos, silêncios perturbadores e o uso marcante das cores para criar um sentimento constante de insegurança e apreensão. A fotografia de Mike Gioulakis (não por acaso também fotógrafo de "Tempo" do Shyamalan) contribui diretamente para essa ambientação, usando contrastes fortes entre luz e sombra, especialmente no jogo quase mítico entre o mundo "real" e o "subterrâneo". O roteiro, nesse sentido, usa e abusa dessa riqueza de simbolismos - a metáfora central, com os doppelgängers como versões reprimidas e esquecidas da sociedade, serve como uma poderosa crítica às disparidades sociais e ao lado obscuro do sonho americano. Essa provocante dualidade presente no filme é explorada de forma genial, mostrando não apenas o confronto externo, mas também um conflito interno, existencial, sobre o quanto estamos dispostos a reconhecer nossas próprias "sombras". Reparem como Peele brinca com referências cinematográficas, desde clássicos como “O Iluminado” até “Os Pássaros” de Hitchcock, fortalecendo ainda mais essa narrativa que dialoga com ícones do gênero como poucos.

Outro ponto a se observar é como a performance de Lupita Nyong'o rouba completamente a cena. Sua atuação como Adelaide e sua perturbadora versão "Red" é simplesmente impressionante. A atriz entrega duas personalidades distintas, cada uma cheia de detalhes próprios - enquanto uma é protetora, vulnerável e assustada, a outra é uma presença ameaçadora, com movimentos rígidos e aterrorizante. Seu trabalho demonstra uma versatilidade extraordinária, em uma das melhores interpretações dos últimos anos dentro do gênero. Winston Duke oferece o contraponto perfeito, com um humor pontual, quase constrangedor, que alivia brevemente a tensão sem prejudicar o mood do filme. Outro grande destaque de "Nós" é a sua trilha sonora - Michael Abels (parceiro fundamental de Peele ao longo dos anos) utiliza desde temas clássicos até versões mais perturbadoras de músicas populares, como "I Got 5 On It" - música que se torna praticamente um personagem no filme. Enquanto Abels cria uma atmosfera sonora inesquecível, é a montagem de Nicholas Monsour (de "O Reformatório Nickel") que mantém o ritmo tão acelerado, principalmente nos momentos de revelação, onde cortes rápidos e sincronizados amplificam o impacto das imagens.

Veja, “Nós”, em certos momentos, escolhe abrir mão do mistério para oferecer explicações literais sobre a origem dos doppelgängers. Isso pode diminuir a força simbólica da história para alguns mais exigentes, porém, a habilidade narrativa de Peele e sua preocupação com as questões sociais garantem que o filme permaneça envolvente e impactante até o fim, se tornando uma prova definitiva do seu talento, colocando ele como um dos cineastas mais importantes e criativos de sua geração!

Vale muito o seu play (e se prepare para alguns sustos)!

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Notas de Rebeldia

A melhor forma de definir "Notas de Rebeldia" está justamente na relação do contraste cultural e na dualidade narrativa de outras duas séries que transitam pelo mesmo universo: "O Urso" e "Gotas Divinas". Se no primeiro existe um elemento mais underground do restaurante de bairro com uma forte conexão afetiva, aqui representada pelo brisket, pelas ribs e pelo pulled pork; o segundo naturalmente se apoia na tradição e na elegância do vinho, dos seus vinhedos e, pela perspectiva do desafio, da sua química - seja pelo aroma ou pelo sabor de um Chardonnay, de um Pinot Noir e até de um Merlot. Se você sabe exatamente do que eu estou falando, pode dar o play tranquilamente que sua diversão está garantida pelas próximas duas horas.

O filme do diretor Prentice Penny (indicado ao Emmy por "Insecure") acompanha a história de Elijah (Mamoudou Athie), um jovem afro-americano que vive entre o sonho de se tornar um grande sommelier e a obrigação de acompanhar o pai, Louis (Courtney B. Vance), na batalha diária que é manter uma churrascaria tradicional de Memphis e ainda se preparar para assumir o negócio da família quando chegar o momento. Confira o trailer:

O roteiro de "Uncorked" (no original), embora não seja um primor técnico, é muito inteligente e consistente ao abordar temas universais de aspirações pessoais, de tradições familiares e de autodescoberta, mas sem pender para nenhum dos lados da história afim de induzir a audiência. Naturalmente que a cisão cultural pela qual o protagonista precisa lidar não tem a profundidade e o número de camadas que encontramos em "O Urso", no entanto, o processo de transformação soa bastante honesto e nos cativa desde o primeiro ato. Os diálogos são bons, existem boas sacadas - o jogo de palavras que a família de Elijah faz quando ele diz que quer ser sommelier, é impagável. Minha única crítica, é que em certos momentos, o ritmo me parece diminuir demais e algumas subtramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas para adicionar um pouco mais de profundidade - mas ok, essa é a proposta e o resultado final é muito bom.

A direção de Penny, também é muito boa - ele tem uma enorme capacidade de trabalhar com atores (vimos isso em "Insecure") e aqui não é diferente. Existe uma certa sensibilidade para focar na jornada emocional do protagonista sem parecer força a barra. Penny consegue criar uma atmosfera íntima, permitindo que a audiência mergulhe na vida de Elijah e nas questões que ele enfrenta ao tentar equilibrar as expectativas do pai e seus próprios sonhos. Embora em alguns momentos a direção possa parecer um tanto convencional, e de fato é, a abordagem mais sensível contribui demais para a autenticidade do filme e para a performance de Mamoudou Athie (esse ator é muito carismático, olho nele).

Capturando tanto a vibração da cidade de Memphis quanto a atmosfera clássica de Paris e dos vinhedos franceses, eu diria que "Notas de Rebeldia" é um filme que oferece uma jornada saborosa pela cultura gastronômica pelo viés da enologia. Enquanto humaniza a jornada conflitante entre tradição e ambição, o roteiro habilmente mistura o drama com leves toques de humor,  proporcionando um ótimo e despretensioso entretenimento que certamente vai mexer com seu paladar.

Vale muito o play!

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A melhor forma de definir "Notas de Rebeldia" está justamente na relação do contraste cultural e na dualidade narrativa de outras duas séries que transitam pelo mesmo universo: "O Urso" e "Gotas Divinas". Se no primeiro existe um elemento mais underground do restaurante de bairro com uma forte conexão afetiva, aqui representada pelo brisket, pelas ribs e pelo pulled pork; o segundo naturalmente se apoia na tradição e na elegância do vinho, dos seus vinhedos e, pela perspectiva do desafio, da sua química - seja pelo aroma ou pelo sabor de um Chardonnay, de um Pinot Noir e até de um Merlot. Se você sabe exatamente do que eu estou falando, pode dar o play tranquilamente que sua diversão está garantida pelas próximas duas horas.

O filme do diretor Prentice Penny (indicado ao Emmy por "Insecure") acompanha a história de Elijah (Mamoudou Athie), um jovem afro-americano que vive entre o sonho de se tornar um grande sommelier e a obrigação de acompanhar o pai, Louis (Courtney B. Vance), na batalha diária que é manter uma churrascaria tradicional de Memphis e ainda se preparar para assumir o negócio da família quando chegar o momento. Confira o trailer:

O roteiro de "Uncorked" (no original), embora não seja um primor técnico, é muito inteligente e consistente ao abordar temas universais de aspirações pessoais, de tradições familiares e de autodescoberta, mas sem pender para nenhum dos lados da história afim de induzir a audiência. Naturalmente que a cisão cultural pela qual o protagonista precisa lidar não tem a profundidade e o número de camadas que encontramos em "O Urso", no entanto, o processo de transformação soa bastante honesto e nos cativa desde o primeiro ato. Os diálogos são bons, existem boas sacadas - o jogo de palavras que a família de Elijah faz quando ele diz que quer ser sommelier, é impagável. Minha única crítica, é que em certos momentos, o ritmo me parece diminuir demais e algumas subtramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas para adicionar um pouco mais de profundidade - mas ok, essa é a proposta e o resultado final é muito bom.

A direção de Penny, também é muito boa - ele tem uma enorme capacidade de trabalhar com atores (vimos isso em "Insecure") e aqui não é diferente. Existe uma certa sensibilidade para focar na jornada emocional do protagonista sem parecer força a barra. Penny consegue criar uma atmosfera íntima, permitindo que a audiência mergulhe na vida de Elijah e nas questões que ele enfrenta ao tentar equilibrar as expectativas do pai e seus próprios sonhos. Embora em alguns momentos a direção possa parecer um tanto convencional, e de fato é, a abordagem mais sensível contribui demais para a autenticidade do filme e para a performance de Mamoudou Athie (esse ator é muito carismático, olho nele).

Capturando tanto a vibração da cidade de Memphis quanto a atmosfera clássica de Paris e dos vinhedos franceses, eu diria que "Notas de Rebeldia" é um filme que oferece uma jornada saborosa pela cultura gastronômica pelo viés da enologia. Enquanto humaniza a jornada conflitante entre tradição e ambição, o roteiro habilmente mistura o drama com leves toques de humor,  proporcionando um ótimo e despretensioso entretenimento que certamente vai mexer com seu paladar.

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Nove Dias

Em um primeiro olhar, "Nove Dias" até parece um episódio dos bons tempos de "Black Mirror" ou até com uma trama mais investigativa como "Devs"ou "Vórtex", mas a grande verdade é que, com o desenrolar da história, estamos diante de uma jornada filosófica muito mais próxima de "Fonte da Vida" do que qualquer outra coisa. Esse é o filme de estreia do diretor Edson Oda (amplamente premiado com seu curta-metragem "Malaria") e que não há como negar, se destaca pela originalidade e profundidade com que desenvolve uma abordagem criativa e única sobre a vida, sobre a existência e sobre as escolhas que moldam nosso destino. "Nine Days" (no original) recebeu, merecidamente, muitos elogios da crítica e abocanhou vários prêmios em festivais de cinema, incluindo o Sundance Film Festival; então se você é fã de obras mais autorais, que de fato desafiam e provocam reflexões profundas, você está no lugar certo - pode acreditar!

Na trama, conhecemos Will (Winston Duke) um homem solitário que vive em uma casa isolada no meio do deserto, onde ele conduz uma série de entrevistas e alguns testes curiosos com almas humanas em um período pré-nascimento - é isso mesmo, você não leu errado. Entre os candidatos estão Emma (Zazie Beetz), Kane (Bill Skarsgård) e alguns outros que disputam uma única vaga para a "vida". A escolha de quem terá o privilégio de nascer, obviamente, recai sobre Will, que passa a ser confrontado por dilemas morais profundos ao lidar com suas próprias experiências e de outros escolhidos por ele no passado. Confira o trailer:

Tá, eu sei que pode parecer uma "viagem" e talvez até seja mesmo, mas é impossível deixar de comentar como o roteiro de "Nove Dias" é criativo - muito mais do que apenas um filme, eu diria que essa é uma experiência filosófica que desafia as noções convencionais sobre a existência e o propósito da vida. Escrito pelo próprio Oda, o roteiro é inteligente ao explorar os dilemas de quem tem o poder das escolhas e como cada uma delas moldam o destino das pessoas. Ao desenvolver personagens tão únicos onde cada um representa uma perspectiva sobre a vida, Oda cria uma dinâmica que a todo momento nos leva questionar nossas crenças e valores. Mesmo empacotado com um ar "Black Mirror", o que vemos na tela é justamente o contrário: o que importa são conceitos mais espirituais do livre arbítrio, do destino e até do papel que cada um de nós desempenha no mundo ao ser "um escolhido"!

Na cadeira de direção, Edson Oda é tão competente quanto com "a caneta na mão".  Ele captura com muita competência toda a solidão e a introspecção de Will de uma forma envolvente e com uma certa atmosfera de mistério. A fotografia, assinada pelo Wyatt Garfield (de "The Kitchen") segue a mesma linha conceitual - tudo é meio nebuloso. Reparem como os cenários minimalistas em contraponto com os planos mais abertos, transmitem toda essa sensação de solidão e isolamento de Will. Outro ponto que merece destaque é a montagem - cuidadosa até encontrar o time certo para os diálogos perspicazes, é ela que ajuda revelar as camadas mais profundas de significado, nos dando tempo e incentivando a reflexão, mesmo após os créditos finais subirem.

"Nove Dias" tem um tom mais independente mesmo, que sabe exatamente como a mensagem sobre a importância da vida e das conexões humanas devem ressoar de maneira poderosa para deixar uma impressão indelével. São nas interações de Will com seu parceiro Kyo (Benedict Wong) e com as almas em potencial, que o filme explora as armadilhas da vida pela perspectiva do amor e da alegria ou da dor e do sofrimento. Nada é fácil e estamos cansados de saber disso, mas com muito simbolismo e sensibilidade, esse filme realmente nos convida para uma viagem emocionante e reflexiva que pode mudar nossa maneira de lidar com a vida e com nossas escolhas. 

Vale muito o seu play! Você vai se surpreender!

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Em um primeiro olhar, "Nove Dias" até parece um episódio dos bons tempos de "Black Mirror" ou até com uma trama mais investigativa como "Devs"ou "Vórtex", mas a grande verdade é que, com o desenrolar da história, estamos diante de uma jornada filosófica muito mais próxima de "Fonte da Vida" do que qualquer outra coisa. Esse é o filme de estreia do diretor Edson Oda (amplamente premiado com seu curta-metragem "Malaria") e que não há como negar, se destaca pela originalidade e profundidade com que desenvolve uma abordagem criativa e única sobre a vida, sobre a existência e sobre as escolhas que moldam nosso destino. "Nine Days" (no original) recebeu, merecidamente, muitos elogios da crítica e abocanhou vários prêmios em festivais de cinema, incluindo o Sundance Film Festival; então se você é fã de obras mais autorais, que de fato desafiam e provocam reflexões profundas, você está no lugar certo - pode acreditar!

Na trama, conhecemos Will (Winston Duke) um homem solitário que vive em uma casa isolada no meio do deserto, onde ele conduz uma série de entrevistas e alguns testes curiosos com almas humanas em um período pré-nascimento - é isso mesmo, você não leu errado. Entre os candidatos estão Emma (Zazie Beetz), Kane (Bill Skarsgård) e alguns outros que disputam uma única vaga para a "vida". A escolha de quem terá o privilégio de nascer, obviamente, recai sobre Will, que passa a ser confrontado por dilemas morais profundos ao lidar com suas próprias experiências e de outros escolhidos por ele no passado. Confira o trailer:

Tá, eu sei que pode parecer uma "viagem" e talvez até seja mesmo, mas é impossível deixar de comentar como o roteiro de "Nove Dias" é criativo - muito mais do que apenas um filme, eu diria que essa é uma experiência filosófica que desafia as noções convencionais sobre a existência e o propósito da vida. Escrito pelo próprio Oda, o roteiro é inteligente ao explorar os dilemas de quem tem o poder das escolhas e como cada uma delas moldam o destino das pessoas. Ao desenvolver personagens tão únicos onde cada um representa uma perspectiva sobre a vida, Oda cria uma dinâmica que a todo momento nos leva questionar nossas crenças e valores. Mesmo empacotado com um ar "Black Mirror", o que vemos na tela é justamente o contrário: o que importa são conceitos mais espirituais do livre arbítrio, do destino e até do papel que cada um de nós desempenha no mundo ao ser "um escolhido"!

Na cadeira de direção, Edson Oda é tão competente quanto com "a caneta na mão".  Ele captura com muita competência toda a solidão e a introspecção de Will de uma forma envolvente e com uma certa atmosfera de mistério. A fotografia, assinada pelo Wyatt Garfield (de "The Kitchen") segue a mesma linha conceitual - tudo é meio nebuloso. Reparem como os cenários minimalistas em contraponto com os planos mais abertos, transmitem toda essa sensação de solidão e isolamento de Will. Outro ponto que merece destaque é a montagem - cuidadosa até encontrar o time certo para os diálogos perspicazes, é ela que ajuda revelar as camadas mais profundas de significado, nos dando tempo e incentivando a reflexão, mesmo após os créditos finais subirem.

"Nove Dias" tem um tom mais independente mesmo, que sabe exatamente como a mensagem sobre a importância da vida e das conexões humanas devem ressoar de maneira poderosa para deixar uma impressão indelével. São nas interações de Will com seu parceiro Kyo (Benedict Wong) e com as almas em potencial, que o filme explora as armadilhas da vida pela perspectiva do amor e da alegria ou da dor e do sofrimento. Nada é fácil e estamos cansados de saber disso, mas com muito simbolismo e sensibilidade, esse filme realmente nos convida para uma viagem emocionante e reflexiva que pode mudar nossa maneira de lidar com a vida e com nossas escolhas. 

Vale muito o seu play! Você vai se surpreender!

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Nudes

"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.

Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.

Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.

É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.

Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!

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"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.

Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.

Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.

É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.

Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!

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Nuevo Orden

Se você gostou de "Parasita" e de "Expresso do Amanhã" você certamente vai gostar de "Nuevo Orden" - é possível dizer, inclusive, que se "Parasita" tivesse uma continuação, essa produção mexicana se encaixaria tranquilamente na temática e na forma como Bong Joon Ho trouxe para discussão a desigualdade social e os relacionamentos imersos nesse contexto, porém aqui com um certo toque distópico em uma atmosfera político-social como em "Expresso do Amanhã".

Na trama, a desigualdade econômica e social, a luta de classes e a corrupção no México detonam uma revolução caótica, amoral e sem ética. Por trás desta "Nova Ordem" implementada por políticos e militares, até as emoções que motivaram a rebelião serão completamente censuradas. Confira o trailer (em espanhol):

A filmografia do cineasta Michel Franco (do excelente "Depois de Lucia") nos remete ao provocativo explícito, porém com um toque de semiótica que só aprofunda sua interpretação da realidade. Em "Nuevo Orden", Franco pontua didaticamente diferenças de posição e tratamento conforme as etnias dos personagens - os ricos são brancos (resquício da dominação europeia configurada como uma das tragédias históricas da América Latina), enquanto os pobres apresentam os traços do povo local, daqueles que viviam no território mexicano antes que ele fosse dominado por seus invasores. Dentro da imponente propriedade, o casamento de Marianne (Naian González Norvind) e Alan (Dario Yazbek Bernal) retrata essa diferença, ele é repleto de pompa e circunstância, enquanto do lado de fora, uma convulsão social acontece - porém aquela fortaleza parece intransponível, a realidade ali é outra, os convidados são inatingíveis, mas até quando?

Após um passeio por imagens fortes (realmente impactantes plasticamente) e créditos de apresentação belíssimos em sua simbologia (interprete como quiser, vale o exercício), a presença de uma tinta verde escorrendo pelas torneiras daquela mansão sinaliza que algo muito errado está prestes a acontecer (e aqui o seu ponto de vista vai te guiar por toda a experiência do filme até, propositalmente, te dar uma rasteira ideológica). Michel Franco é fantástico ao criar essa atmosfera de tensão, fantasiada de ostentação em um ambiente onde a alegria é quase utópica e o carinho é conseguido através do tamanho de um cheque - reparem em como os convidados presenteiam os noivos e como a família lida com esse "presente". Existe uma inquietude na condução da câmera ao longo desse cenário, enquanto o ambiente dos empregados parece mais controlado, até que esse conceito narrativo se transforma no segundo ato quando a "Nova Ordem" se aproveita do caos para se posicionar perante uma nova visão de "igualdade" brutal e violenta - esse trabalho de subversão do diretor de fotografia belga Yves Cape (de "Era uma segunda vez") é magistral.

O interessante do filme, porém, é justamente o que fez alguns críticos torcerem o nariz para a obra. Franco, ao contar essa história, não tem como objetivo principal levantar bandeiras politicas polarizadas determinando quem é o mocinho e quem é o bandido. Sim, ele tem o prazer em criticar os lados, mas em momento algum se sente confortável em defender seus personagens pelo viés sócio-antropológico já que entende que o mundo de hoje teve suas regras estabelecidas pela própria sociedade e quando essas mesmas regras são quebradas (mesmo que para alguns com base em boas intenções), elas não se sustentam e quem vence no final é justamente quem esteve do outro lado sempre, mas que soube manipular uma situação a seu favor - sim, você já viu isso na ficção e no seu país!

Complicado? Na teoria sim, mas o roteiro do próprio Franco se incumbe de colocar as peças no tabuleiro e conforme vão sendo movimentadas, essa ideia vai se construindo e nossa posição vai sendo, no mínimo, questionada. "Nuevo Orden" soa entretenimento, mas tem muito mais camadas se você estiver disposto a explorá-las e discuti-las assim que os créditos (espelhados, ops) subirem!

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Se você gostou de "Parasita" e de "Expresso do Amanhã" você certamente vai gostar de "Nuevo Orden" - é possível dizer, inclusive, que se "Parasita" tivesse uma continuação, essa produção mexicana se encaixaria tranquilamente na temática e na forma como Bong Joon Ho trouxe para discussão a desigualdade social e os relacionamentos imersos nesse contexto, porém aqui com um certo toque distópico em uma atmosfera político-social como em "Expresso do Amanhã".

Na trama, a desigualdade econômica e social, a luta de classes e a corrupção no México detonam uma revolução caótica, amoral e sem ética. Por trás desta "Nova Ordem" implementada por políticos e militares, até as emoções que motivaram a rebelião serão completamente censuradas. Confira o trailer (em espanhol):

A filmografia do cineasta Michel Franco (do excelente "Depois de Lucia") nos remete ao provocativo explícito, porém com um toque de semiótica que só aprofunda sua interpretação da realidade. Em "Nuevo Orden", Franco pontua didaticamente diferenças de posição e tratamento conforme as etnias dos personagens - os ricos são brancos (resquício da dominação europeia configurada como uma das tragédias históricas da América Latina), enquanto os pobres apresentam os traços do povo local, daqueles que viviam no território mexicano antes que ele fosse dominado por seus invasores. Dentro da imponente propriedade, o casamento de Marianne (Naian González Norvind) e Alan (Dario Yazbek Bernal) retrata essa diferença, ele é repleto de pompa e circunstância, enquanto do lado de fora, uma convulsão social acontece - porém aquela fortaleza parece intransponível, a realidade ali é outra, os convidados são inatingíveis, mas até quando?

Após um passeio por imagens fortes (realmente impactantes plasticamente) e créditos de apresentação belíssimos em sua simbologia (interprete como quiser, vale o exercício), a presença de uma tinta verde escorrendo pelas torneiras daquela mansão sinaliza que algo muito errado está prestes a acontecer (e aqui o seu ponto de vista vai te guiar por toda a experiência do filme até, propositalmente, te dar uma rasteira ideológica). Michel Franco é fantástico ao criar essa atmosfera de tensão, fantasiada de ostentação em um ambiente onde a alegria é quase utópica e o carinho é conseguido através do tamanho de um cheque - reparem em como os convidados presenteiam os noivos e como a família lida com esse "presente". Existe uma inquietude na condução da câmera ao longo desse cenário, enquanto o ambiente dos empregados parece mais controlado, até que esse conceito narrativo se transforma no segundo ato quando a "Nova Ordem" se aproveita do caos para se posicionar perante uma nova visão de "igualdade" brutal e violenta - esse trabalho de subversão do diretor de fotografia belga Yves Cape (de "Era uma segunda vez") é magistral.

O interessante do filme, porém, é justamente o que fez alguns críticos torcerem o nariz para a obra. Franco, ao contar essa história, não tem como objetivo principal levantar bandeiras politicas polarizadas determinando quem é o mocinho e quem é o bandido. Sim, ele tem o prazer em criticar os lados, mas em momento algum se sente confortável em defender seus personagens pelo viés sócio-antropológico já que entende que o mundo de hoje teve suas regras estabelecidas pela própria sociedade e quando essas mesmas regras são quebradas (mesmo que para alguns com base em boas intenções), elas não se sustentam e quem vence no final é justamente quem esteve do outro lado sempre, mas que soube manipular uma situação a seu favor - sim, você já viu isso na ficção e no seu país!

Complicado? Na teoria sim, mas o roteiro do próprio Franco se incumbe de colocar as peças no tabuleiro e conforme vão sendo movimentadas, essa ideia vai se construindo e nossa posição vai sendo, no mínimo, questionada. "Nuevo Orden" soa entretenimento, mas tem muito mais camadas se você estiver disposto a explorá-las e discuti-las assim que os créditos (espelhados, ops) subirem!

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Nyad

Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!

"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):

Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.  

A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances  emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência. 

"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!

Vale seu play! 

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Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!

"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):

Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.  

A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances  emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência. 

"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!

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O Acontecimento

"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.

O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:

Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.

Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.

Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).

Vale muito o seu play!

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"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.

O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:

Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.

Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.

Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).

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O Acusado

Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

Assista Agora

Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

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O Amor de Sylvie

"O Amor de Sylvie" é basicamente uma linda homenagem aos romances clássicos do cinema dos anos 60 - em sua forma e em seu conteúdo! Um filme delicioso de assistir, leve e bem conduzido, mesmo quando se apoia em fórmulas e soluções completamente previsíveis. O fato é que o filme chega com a chancela de sua indicação ao Emmy 2021 como "Melhor Filme para TV".

Sylvie (Tessa Thompson) é uma moça comprometida e apaixonada por música que trabalha na loja de discos de seu pai, mas sonha em ser uma produtora de TV. Quando conhece Robert (Nnamdi Asomugha) vê que seu amor é personificado pelo talentoso músico em ascensão. A partir daí, Sylvie precisa lidar com suas escolhas antes de decidir entre ficar ao lado do grande amor da sua vida, buscar seus sonhos ou viver o futuro que sua mãe escolheu para ela. Confira o trailer (em inglês):

O filme tem uma ambientação criada em cima dos anos 60 de uma Nova Yorke movida pelo jazz - e é bastante competente nesse quesito. Desenho de Produção, Figurino e a Fotografia do Declan Quinn (o mesmo de "Hamilton" e "A Cabana") estão fielmente alinhadas com o conceito estético mais clássico que o Diretor Eugene Ashe (de "Homecoming") quis imprimir. As cores mais contrastadas são levemente esverdeados em alguns momentos e mais escuras ou amareladas em outros. Até a inserção de uma excelente trilha sonora e letterings de apresentação e encerramento se comunicam com o visual de "O Amor de Sylvie" organicamente - de fato é um excelente trabalho, coerente!

O roteiro em si é simples, mas potente. Os dois primeiros atos focam no romance como barreira social e o terceiro traz mais o lado pessoal para a narrativa. Elementos como racismo e igualdade de gêneros são delicadamente bem pontuados, passando a mensagem, mas sem levantar nenhum tipo de bandeira ou ser institucional demais - o que vale é o sentimento disso tudo, afinal, estamos falando de um romance clássico! Se Nnamdi Asomugha é uma ótima surpresa, é Tessa Thompson que conquista a nossa simpatia imediatamente - sua composição é suave, sem excessos, no tom exato para nos fazer sentir suas aflições ao mesmo tempo que é forte o suficiente para nos deixar claro suas intenções.

"O Amor de Sylvie" tem um gostinho de nostalgia, uma atmosfera encantadora, mas também, como comentei, é bastante previsível. O filme segue exatamente o arco do típico romance "Sessão da Tarde" - o que não significa que o resultado seja ruim, muito pelo contrário, ele é realmente bom. Pode dar o play sem medo, porque a história vai te deixar com o coração leve e com a alma preenchida!

E atenção: o filme não acaba com o "The End", atenção aos letterings finais.

Assista Agora

"O Amor de Sylvie" é basicamente uma linda homenagem aos romances clássicos do cinema dos anos 60 - em sua forma e em seu conteúdo! Um filme delicioso de assistir, leve e bem conduzido, mesmo quando se apoia em fórmulas e soluções completamente previsíveis. O fato é que o filme chega com a chancela de sua indicação ao Emmy 2021 como "Melhor Filme para TV".

Sylvie (Tessa Thompson) é uma moça comprometida e apaixonada por música que trabalha na loja de discos de seu pai, mas sonha em ser uma produtora de TV. Quando conhece Robert (Nnamdi Asomugha) vê que seu amor é personificado pelo talentoso músico em ascensão. A partir daí, Sylvie precisa lidar com suas escolhas antes de decidir entre ficar ao lado do grande amor da sua vida, buscar seus sonhos ou viver o futuro que sua mãe escolheu para ela. Confira o trailer (em inglês):

O filme tem uma ambientação criada em cima dos anos 60 de uma Nova Yorke movida pelo jazz - e é bastante competente nesse quesito. Desenho de Produção, Figurino e a Fotografia do Declan Quinn (o mesmo de "Hamilton" e "A Cabana") estão fielmente alinhadas com o conceito estético mais clássico que o Diretor Eugene Ashe (de "Homecoming") quis imprimir. As cores mais contrastadas são levemente esverdeados em alguns momentos e mais escuras ou amareladas em outros. Até a inserção de uma excelente trilha sonora e letterings de apresentação e encerramento se comunicam com o visual de "O Amor de Sylvie" organicamente - de fato é um excelente trabalho, coerente!

O roteiro em si é simples, mas potente. Os dois primeiros atos focam no romance como barreira social e o terceiro traz mais o lado pessoal para a narrativa. Elementos como racismo e igualdade de gêneros são delicadamente bem pontuados, passando a mensagem, mas sem levantar nenhum tipo de bandeira ou ser institucional demais - o que vale é o sentimento disso tudo, afinal, estamos falando de um romance clássico! Se Nnamdi Asomugha é uma ótima surpresa, é Tessa Thompson que conquista a nossa simpatia imediatamente - sua composição é suave, sem excessos, no tom exato para nos fazer sentir suas aflições ao mesmo tempo que é forte o suficiente para nos deixar claro suas intenções.

"O Amor de Sylvie" tem um gostinho de nostalgia, uma atmosfera encantadora, mas também, como comentei, é bastante previsível. O filme segue exatamente o arco do típico romance "Sessão da Tarde" - o que não significa que o resultado seja ruim, muito pelo contrário, ele é realmente bom. Pode dar o play sem medo, porque a história vai te deixar com o coração leve e com a alma preenchida!

E atenção: o filme não acaba com o "The End", atenção aos letterings finais.

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