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Nuevo Orden

Diretor
Michel Franco
Elenco
Samantha Yazareth Anaya, Dario Yazbek Bernal, Diego Boneta
Ano
2020
País
México

Drama netflix ml-quentin-tarantino ml-dramedia ml-relacoes ml-violencia ml-politico ml-familia ml-mexico ml-lcp

Nuevo Orden

Se você gostou de "Parasita" e de "Expresso do Amanhã" você certamente vai gostar de "Nuevo Orden" - é possível dizer, inclusive, que se "Parasita" tivesse uma continuação, essa produção mexicana se encaixaria tranquilamente na temática e na forma como Bong Joon Ho trouxe para discussão a desigualdade social e os relacionamentos imersos nesse contexto, porém aqui com um certo toque distópico em uma atmosfera político-social como em "Expresso do Amanhã".

Na trama, a desigualdade econômica e social, a luta de classes e a corrupção no México detonam uma revolução caótica, amoral e sem ética. Por trás desta "Nova Ordem" implementada por políticos e militares, até as emoções que motivaram a rebelião serão completamente censuradas. Confira o trailer (em espanhol):

A filmografia do cineasta Michel Franco (do excelente "Depois de Lucia") nos remete ao provocativo explícito, porém com um toque de semiótica que só aprofunda sua interpretação da realidade. Em "Nuevo Orden", Franco pontua didaticamente diferenças de posição e tratamento conforme as etnias dos personagens - os ricos são brancos (resquício da dominação europeia configurada como uma das tragédias históricas da América Latina), enquanto os pobres apresentam os traços do povo local, daqueles que viviam no território mexicano antes que ele fosse dominado por seus invasores. Dentro da imponente propriedade, o casamento de Marianne (Naian González Norvind) e Alan (Dario Yazbek Bernal) retrata essa diferença, ele é repleto de pompa e circunstância, enquanto do lado de fora, uma convulsão social acontece - porém aquela fortaleza parece intransponível, a realidade ali é outra, os convidados são inatingíveis, mas até quando?

Após um passeio por imagens fortes (realmente impactantes plasticamente) e créditos de apresentação belíssimos em sua simbologia (interprete como quiser, vale o exercício), a presença de uma tinta verde escorrendo pelas torneiras daquela mansão sinaliza que algo muito errado está prestes a acontecer (e aqui o seu ponto de vista vai te guiar por toda a experiência do filme até, propositalmente, te dar uma rasteira ideológica). Michel Franco é fantástico ao criar essa atmosfera de tensão, fantasiada de ostentação em um ambiente onde a alegria é quase utópica e o carinho é conseguido através do tamanho de um cheque - reparem em como os convidados presenteiam os noivos e como a família lida com esse "presente". Existe uma inquietude na condução da câmera ao longo desse cenário, enquanto o ambiente dos empregados parece mais controlado, até que esse conceito narrativo se transforma no segundo ato quando a "Nova Ordem" se aproveita do caos para se posicionar perante uma nova visão de "igualdade" brutal e violenta - esse trabalho de subversão do diretor de fotografia belga Yves Cape (de "Era uma segunda vez") é magistral.

O interessante do filme, porém, é justamente o que fez alguns críticos torcerem o nariz para a obra. Franco, ao contar essa história, não tem como objetivo principal levantar bandeiras politicas polarizadas determinando quem é o mocinho e quem é o bandido. Sim, ele tem o prazer em criticar os lados, mas em momento algum se sente confortável em defender seus personagens pelo viés sócio-antropológico já que entende que o mundo de hoje teve suas regras estabelecidas pela própria sociedade e quando essas mesmas regras são quebradas (mesmo que para alguns com base em boas intenções), elas não se sustentam e quem vence no final é justamente quem esteve do outro lado sempre, mas que soube manipular uma situação a seu favor - sim, você já viu isso na ficção e no seu país!

Complicado? Na teoria sim, mas o roteiro do próprio Franco se incumbe de colocar as peças no tabuleiro e conforme vão sendo movimentadas, essa ideia vai se construindo e nossa posição vai sendo, no mínimo, questionada. "Nuevo Orden" soa entretenimento, mas tem muito mais camadas se você estiver disposto a explorá-las e discuti-las assim que os créditos (espelhados, ops) subirem!

Vale muito o seu play! 

Assista Agora

Se você gostou de "Parasita" e de "Expresso do Amanhã" você certamente vai gostar de "Nuevo Orden" - é possível dizer, inclusive, que se "Parasita" tivesse uma continuação, essa produção mexicana se encaixaria tranquilamente na temática e na forma como Bong Joon Ho trouxe para discussão a desigualdade social e os relacionamentos imersos nesse contexto, porém aqui com um certo toque distópico em uma atmosfera político-social como em "Expresso do Amanhã".

Na trama, a desigualdade econômica e social, a luta de classes e a corrupção no México detonam uma revolução caótica, amoral e sem ética. Por trás desta "Nova Ordem" implementada por políticos e militares, até as emoções que motivaram a rebelião serão completamente censuradas. Confira o trailer (em espanhol):

A filmografia do cineasta Michel Franco (do excelente "Depois de Lucia") nos remete ao provocativo explícito, porém com um toque de semiótica que só aprofunda sua interpretação da realidade. Em "Nuevo Orden", Franco pontua didaticamente diferenças de posição e tratamento conforme as etnias dos personagens - os ricos são brancos (resquício da dominação europeia configurada como uma das tragédias históricas da América Latina), enquanto os pobres apresentam os traços do povo local, daqueles que viviam no território mexicano antes que ele fosse dominado por seus invasores. Dentro da imponente propriedade, o casamento de Marianne (Naian González Norvind) e Alan (Dario Yazbek Bernal) retrata essa diferença, ele é repleto de pompa e circunstância, enquanto do lado de fora, uma convulsão social acontece - porém aquela fortaleza parece intransponível, a realidade ali é outra, os convidados são inatingíveis, mas até quando?

Após um passeio por imagens fortes (realmente impactantes plasticamente) e créditos de apresentação belíssimos em sua simbologia (interprete como quiser, vale o exercício), a presença de uma tinta verde escorrendo pelas torneiras daquela mansão sinaliza que algo muito errado está prestes a acontecer (e aqui o seu ponto de vista vai te guiar por toda a experiência do filme até, propositalmente, te dar uma rasteira ideológica). Michel Franco é fantástico ao criar essa atmosfera de tensão, fantasiada de ostentação em um ambiente onde a alegria é quase utópica e o carinho é conseguido através do tamanho de um cheque - reparem em como os convidados presenteiam os noivos e como a família lida com esse "presente". Existe uma inquietude na condução da câmera ao longo desse cenário, enquanto o ambiente dos empregados parece mais controlado, até que esse conceito narrativo se transforma no segundo ato quando a "Nova Ordem" se aproveita do caos para se posicionar perante uma nova visão de "igualdade" brutal e violenta - esse trabalho de subversão do diretor de fotografia belga Yves Cape (de "Era uma segunda vez") é magistral.

O interessante do filme, porém, é justamente o que fez alguns críticos torcerem o nariz para a obra. Franco, ao contar essa história, não tem como objetivo principal levantar bandeiras politicas polarizadas determinando quem é o mocinho e quem é o bandido. Sim, ele tem o prazer em criticar os lados, mas em momento algum se sente confortável em defender seus personagens pelo viés sócio-antropológico já que entende que o mundo de hoje teve suas regras estabelecidas pela própria sociedade e quando essas mesmas regras são quebradas (mesmo que para alguns com base em boas intenções), elas não se sustentam e quem vence no final é justamente quem esteve do outro lado sempre, mas que soube manipular uma situação a seu favor - sim, você já viu isso na ficção e no seu país!

Complicado? Na teoria sim, mas o roteiro do próprio Franco se incumbe de colocar as peças no tabuleiro e conforme vão sendo movimentadas, essa ideia vai se construindo e nossa posição vai sendo, no mínimo, questionada. "Nuevo Orden" soa entretenimento, mas tem muito mais camadas se você estiver disposto a explorá-las e discuti-las assim que os créditos (espelhados, ops) subirem!

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