Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill".
"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:
Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".
Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.
Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!
Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!
Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill".
"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:
Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".
Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.
Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!
Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!
"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.
A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:
Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.
O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.
"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.
Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.
"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.
A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:
Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.
O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.
"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.
Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.
"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:
A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.
Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".
Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!
Vale muito o seu play!
"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.
"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:
A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.
Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".
Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!
Vale muito o seu play!
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa!
O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:
Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!
Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").
Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.
Vale muito o seu play!
Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!
A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa!
O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:
Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!
Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").
Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.
Vale muito o seu play!
Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
Um pouquinho de "Succession", um pouquinho de "Yellowstone" - é assim que você vai olhar para "Landman" e colocá-la naquela prateleira que só as "muito boas" têm a honra de estar! Taylor Sheridan, mais uma vez, reafirma sua posição como um dos grandes mestres da TV contemporânea com a sua mais nova produção para o Paramount+. Co-criada com Christian Wallace e baseada no podcast "Boomtown", a série segue a fórmula que consagrou Sheridan, misturando dramas familiares, tensões sociais e intrigas corporativas - agora ambientada no universo das petroleiras americanas. Após o sucesso estrondoso de "Yellowstone" e seus spin-offs, Sheridan expande seu alcance ao focar em um protagonista muito bem desenvolvido, cheio de camadas, que se encontra no centro da exploração econômica e ambiental do Texas, entregando uma narrativa que, mesmo soando familiar, encontra várias formas de cativar a audiência como raramente vemos.
A série segue Tommy Norris (Billy Bob Thornton), um gerente de campo implacável de uma poderosa petroleira. Enquanto "Yellowstone" apresentava a luta da família Dutton para proteger seu rancho de grandes corporações, "Landman" inverte a perspectiva, colocando Tommy como o representante das forças que transformam o mundo em nome do progresso. Tommy é um personagem complexo, moldado por ambição, ironia e uma certa dose de pragmatismo moral, que faz de tudo para atingir seus objetivos, seja enfrentando traficantes que contestam os terrenos arrendados, seja lidando com crises internas, como os acidentes catastróficos nas operações da empresa. Confira o trailer (dublado):
Você não vai precisar mais do que 5 minutos para entender o que "Landman" representa como força narrativa - é impressionante como a série apresenta, em tão pouco tempo, o universo tenso e dinâmico que vamos encontrar em todos os episódios dessa primeira temporada. Veja, Tommy não apenas enfrenta ameaças inerentes ao seu cargo, como também carrega o peso de manter a coesão de sua família disfuncional. Seus filhos, Ainsley (Michelle Randolph), uma jovem prestes a ingressar na faculdade, e Cooper (Jacob Lofland), enviado pelo pai para trabalhar na extração de petróleo, têm suas próprias trajetórias que ecoam o mesmo estilo de drama familiar explorado em "Succession" e em "Yellowstone". Repare como funciona a relação entre Tommy e seus filhos, oferecendo momentos de certa vulnerabilidade que contrastam com o ritmo intenso das operações corporativas e com os desafios impostos pelo terreno hostil do Texas.
O roteiro de "Landman", aliás, mantém o tom característico das produções de seu criador com diálogos afiados, um ritmo frenético e uma constante exploração de temas morais e éticos humanizados por seus personagens - aqui nada é tão simples quanto parece e essa sensação de urgência e insegurança constante, soa genial durante a narrativa. Se a trama aborda questões contemporâneas, como a exploração de recursos naturais e seus impactos sociais e ambientais, é no drama familiar que nos conectamos com os personagens e aí a direção de Stephen Kay (de "Friday Night Lights") ganha destaque. Assim como nas obras anteriores de Sheridan, as paisagens desempenham um papel fundamental na narrativa, mas é a relação dos protagonistas com esse universo tão particular que nos impacta como audiência. O Texas é capturado com planos exuberantes, seus terrenos acidentados, iluminados pelo nascer e pelo pôr do sol, sempre acompanhados por uma trilha sonora country que reforça o senso de identidade regional da série. Essa atenção aos detalhes visuais mais uma vez demonstra a habilidade de Sheridan em transformar o cenário em um personagem tão ativo na trama quanto seus protagonistas.
O elenco, liderado por Billy Bob Thornton, é um dos grandes trunfos da série - e pode anotar aí que vai ganhar muitos prêmios daqui para frente. Thornton traz carisma e certa intensidade para Tommy, ajustando uma postura muitas vezes fria de um empresário com as nuances de um pai que tenta preservar sua família em meio ao caos que é viver em Odessa, Texas. Michelle Randolph e Jacob Lofland trazem o frescor e a humanidade que comentei acima, enquanto Jon Hamm e Demi Moore trazem um sopro de tensão e intriga à narrativa. O fato é que "Landman" tem tudo que precisa para se estabelecer como uma obra única, cheia de identidade, mesmo referenciada por outros sucessos, criando um universo distinto e dando um foco mais incisivo para as consequências corporativas da exploração petrolífera. Espere um ritmo intenso e conflitos bem estruturados e não se irrite se, mais uma vez, você se vir mergulhado nas intrigas de uma boa história de família.
Vale muito o seu play! Realmente imperdível!
Um pouquinho de "Succession", um pouquinho de "Yellowstone" - é assim que você vai olhar para "Landman" e colocá-la naquela prateleira que só as "muito boas" têm a honra de estar! Taylor Sheridan, mais uma vez, reafirma sua posição como um dos grandes mestres da TV contemporânea com a sua mais nova produção para o Paramount+. Co-criada com Christian Wallace e baseada no podcast "Boomtown", a série segue a fórmula que consagrou Sheridan, misturando dramas familiares, tensões sociais e intrigas corporativas - agora ambientada no universo das petroleiras americanas. Após o sucesso estrondoso de "Yellowstone" e seus spin-offs, Sheridan expande seu alcance ao focar em um protagonista muito bem desenvolvido, cheio de camadas, que se encontra no centro da exploração econômica e ambiental do Texas, entregando uma narrativa que, mesmo soando familiar, encontra várias formas de cativar a audiência como raramente vemos.
A série segue Tommy Norris (Billy Bob Thornton), um gerente de campo implacável de uma poderosa petroleira. Enquanto "Yellowstone" apresentava a luta da família Dutton para proteger seu rancho de grandes corporações, "Landman" inverte a perspectiva, colocando Tommy como o representante das forças que transformam o mundo em nome do progresso. Tommy é um personagem complexo, moldado por ambição, ironia e uma certa dose de pragmatismo moral, que faz de tudo para atingir seus objetivos, seja enfrentando traficantes que contestam os terrenos arrendados, seja lidando com crises internas, como os acidentes catastróficos nas operações da empresa. Confira o trailer (dublado):
Você não vai precisar mais do que 5 minutos para entender o que "Landman" representa como força narrativa - é impressionante como a série apresenta, em tão pouco tempo, o universo tenso e dinâmico que vamos encontrar em todos os episódios dessa primeira temporada. Veja, Tommy não apenas enfrenta ameaças inerentes ao seu cargo, como também carrega o peso de manter a coesão de sua família disfuncional. Seus filhos, Ainsley (Michelle Randolph), uma jovem prestes a ingressar na faculdade, e Cooper (Jacob Lofland), enviado pelo pai para trabalhar na extração de petróleo, têm suas próprias trajetórias que ecoam o mesmo estilo de drama familiar explorado em "Succession" e em "Yellowstone". Repare como funciona a relação entre Tommy e seus filhos, oferecendo momentos de certa vulnerabilidade que contrastam com o ritmo intenso das operações corporativas e com os desafios impostos pelo terreno hostil do Texas.
O roteiro de "Landman", aliás, mantém o tom característico das produções de seu criador com diálogos afiados, um ritmo frenético e uma constante exploração de temas morais e éticos humanizados por seus personagens - aqui nada é tão simples quanto parece e essa sensação de urgência e insegurança constante, soa genial durante a narrativa. Se a trama aborda questões contemporâneas, como a exploração de recursos naturais e seus impactos sociais e ambientais, é no drama familiar que nos conectamos com os personagens e aí a direção de Stephen Kay (de "Friday Night Lights") ganha destaque. Assim como nas obras anteriores de Sheridan, as paisagens desempenham um papel fundamental na narrativa, mas é a relação dos protagonistas com esse universo tão particular que nos impacta como audiência. O Texas é capturado com planos exuberantes, seus terrenos acidentados, iluminados pelo nascer e pelo pôr do sol, sempre acompanhados por uma trilha sonora country que reforça o senso de identidade regional da série. Essa atenção aos detalhes visuais mais uma vez demonstra a habilidade de Sheridan em transformar o cenário em um personagem tão ativo na trama quanto seus protagonistas.
O elenco, liderado por Billy Bob Thornton, é um dos grandes trunfos da série - e pode anotar aí que vai ganhar muitos prêmios daqui para frente. Thornton traz carisma e certa intensidade para Tommy, ajustando uma postura muitas vezes fria de um empresário com as nuances de um pai que tenta preservar sua família em meio ao caos que é viver em Odessa, Texas. Michelle Randolph e Jacob Lofland trazem o frescor e a humanidade que comentei acima, enquanto Jon Hamm e Demi Moore trazem um sopro de tensão e intriga à narrativa. O fato é que "Landman" tem tudo que precisa para se estabelecer como uma obra única, cheia de identidade, mesmo referenciada por outros sucessos, criando um universo distinto e dando um foco mais incisivo para as consequências corporativas da exploração petrolífera. Espere um ritmo intenso e conflitos bem estruturados e não se irrite se, mais uma vez, você se vir mergulhado nas intrigas de uma boa história de família.
Vale muito o seu play! Realmente imperdível!
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Lazzaro Felice" é um filme bastante peculiar, principalmente se você embarcar nessa jornada sem a menor expectativa do que vai encontrar. Pode parecer contraditório ler um review sobre o filme ao mesmo tempo que sugiro não se aprofundar na história para escolher o título, mas é isso mesmo que eu proponho nesse texto. Saiba que esse filme italiano de 2018 venceu na categoria "Melhor Roteiro" no Festival de Cannes, "Melhor Filme" no Festival de Chicago e em Rotterdam - onde recebeu a seguinte resenha: "Acreditamos que o "Lazzaro" inspirará um futuro público a ser mais humano e refletir sobre suas experiências e interações diárias".
Pelo trailer já dá para se ter uma ideia de que "Lazzaro Felice" trás um conceito narrativo muito baseado na poesia, na alegoria, o que, certamente, agradará mais o público sensível e disposto a reinterpretar aquilo que assiste na tela, porém é preciso que se diga que o filme da (excelente) diretora italiana Alice Rohrwacher trabalha tão bem as sensações que chega a ser impressionante. "Lazzaro Felice" conta a história de um jovem camponês chamado Lazzaro (Adriano Tardiolo), que por ser tão inocente (e bondoso) acaba sendo explorado por todos da comunidade onde vive, no interior da Itália. Pouco mais de 50 pessoas, entre idosos, crianças e adultos, exercem alguma função para manter o local vivo, embora em condições precárias, essas pessoas sobrevivem como escravos sob as ordens da marquesa Alfonsina De Luna (Nicoletta Braschi) - que acredita que todo e qualquer ser humano deve explorar e ser explorado por alguém, em uma pirâmide social abusiva, hierárquica e viciada em padrões estabelecidos pelo conhecimento e a cultura. Acontece que essa dinâmica acaba sendo desfeita quando a polícia chega na comunidade para investigar o falso sequestro do filho da marquesa e é aí que a história se transforma completamente, transitando entre a fantasia e a realidade de uma forma muito sensível e profunda. Confira o trailer:
"Lazzaro Felice" não vai agradar a todos, isso é um fato, mas se você gostou de "Atlantique" (também na Netflix) é bem provável que se identifique com esse belíssimo filme, pois ele mistura com a mesma eficiência, o drama e o sobrenatural graças a um roteiro muito bem escrito, uma direção extremamente competente e uma fotográfica digna de muitos prêmios! Vale muito a pena - filme independente com carreira consistente em festivais!
Embora o conceito de exploração do mais fraco (defendido pela marquesa) seja o fio condutor de "Lazzaro Felice", é muito curioso a forma como a Rohrwacher usa a figura do protagonista para representar um limite que precisa ser respeitado e que vai nos provocar a reflexão. Estar na base da pirâmide não nos deixa saída, afinal não há em quem se apoiar (ou explorar), porém essa realidade não influencia ou define o caráter de uma pessoa - e o filme usa de vários exemplos, muitos deles apenas em diálogos pontuais ou em ações que parecem despretensiosas, para justificar essa tese. Se uma personagem pode enganar uma pessoa que acabou de ajuda-la só para faturar 30 euros, isso não exime da mesma personagem a escolha de abrir mão de algo quando alguém pede sua ajuda - mesmo que esse "alguém" já tenha mal tratado ela no passado! Essa dualidade do roteiro é explorada a todo momento e ganha ainda mais força quando entendemos a alegoria bíblica que a história se propõe a discutir - existe um Lázaro descrito na Bíblia e como o personagem do filme, ele é alguém que foi ressuscitado por Jesus e que destoa da fragilidade moral do mundo em que vive. Reparem na cena da igreja e vejam como a diretora, em nenhum momento levanta uma bandeira, seja ela politica ou religiosa, sem mostrar o outro lado ou criticar a distorção pela qual o ser humano se apoia!
Filmado 100% em 16 mm, o que dá um aspecto granulado a imagem e sugere uma certa abstração da realidade, e finalizado com uma margem irregular como se estivéssemos assistindo um filme projetado em um pergaminho, "Lazzaro Felice" é um excelente exemplo de como uma identidade narrativa baseada em um conceito fortemente estabelecido com propósito, funciona a favor da história. Nada que acontece na tela é por acaso - da maneira como o protagonista se movimenta, se comunica ou simplesmente observa uma ação, até os planos abertos enquadrando uma geografia rural que vai se desfazer em um cenário urbano caótico e opressor, um pouco mais a frente. É um grande trabalho da fotógrafa Hélène Louvart (de "A vida invisível" do brasileiro Karim Aïnouz). O elenco também está irretocável: Adriano Tardiolo dá uma aula de neutralidade na interpretação, daquelas que o ator fala com os olhos, com a alma, com o sentimento! Tommaso Ragno como o Tancredi adulto também dá um show, mas quem rouba a cena mesmo é a ótima Alba Rohrwacher como Antonia - que trabalho maravilhoso!
"Lazzaro Felice" é um filme autoral de quem conhece a gramática cinematográfica e sabe exatamente onde quer chegar com aquela história. Um show de roteiro que usa da alegoria para tocar em temas delicados e atuais como as consequências do êxodo rural e do desemprego, a violência contra a mulher, a desigualdade social, o capitalismo predatório, etc. Saiba que não será um jornada fácil, a diretora acerta em não nos entregar as informações de mão beijada, nos sugerindo muito mais do que impondo (com excessão da cena posterior a da igreja, onde a música segue os personagens, que destoa das escolhas acertadas até ali). "Lazzaro Felice" pode causar um certo estranhamento inicial, mas que aos poucos vai se encontrando e, claro, nos deixando com mais dúvidas do que certezas e nos tirando de uma zona de conforto como poucas vezes sentimos - a lembrança que me vem a cabeça, respeitando suas peculiaridades de gênero, é a sensação de assistir "Abre los Ojos" do Alejandro Amenábar pela primeira vez!
Não vacile, dê o play!
"Lazzaro Felice" é um filme bastante peculiar, principalmente se você embarcar nessa jornada sem a menor expectativa do que vai encontrar. Pode parecer contraditório ler um review sobre o filme ao mesmo tempo que sugiro não se aprofundar na história para escolher o título, mas é isso mesmo que eu proponho nesse texto. Saiba que esse filme italiano de 2018 venceu na categoria "Melhor Roteiro" no Festival de Cannes, "Melhor Filme" no Festival de Chicago e em Rotterdam - onde recebeu a seguinte resenha: "Acreditamos que o "Lazzaro" inspirará um futuro público a ser mais humano e refletir sobre suas experiências e interações diárias".
Pelo trailer já dá para se ter uma ideia de que "Lazzaro Felice" trás um conceito narrativo muito baseado na poesia, na alegoria, o que, certamente, agradará mais o público sensível e disposto a reinterpretar aquilo que assiste na tela, porém é preciso que se diga que o filme da (excelente) diretora italiana Alice Rohrwacher trabalha tão bem as sensações que chega a ser impressionante. "Lazzaro Felice" conta a história de um jovem camponês chamado Lazzaro (Adriano Tardiolo), que por ser tão inocente (e bondoso) acaba sendo explorado por todos da comunidade onde vive, no interior da Itália. Pouco mais de 50 pessoas, entre idosos, crianças e adultos, exercem alguma função para manter o local vivo, embora em condições precárias, essas pessoas sobrevivem como escravos sob as ordens da marquesa Alfonsina De Luna (Nicoletta Braschi) - que acredita que todo e qualquer ser humano deve explorar e ser explorado por alguém, em uma pirâmide social abusiva, hierárquica e viciada em padrões estabelecidos pelo conhecimento e a cultura. Acontece que essa dinâmica acaba sendo desfeita quando a polícia chega na comunidade para investigar o falso sequestro do filho da marquesa e é aí que a história se transforma completamente, transitando entre a fantasia e a realidade de uma forma muito sensível e profunda. Confira o trailer:
"Lazzaro Felice" não vai agradar a todos, isso é um fato, mas se você gostou de "Atlantique" (também na Netflix) é bem provável que se identifique com esse belíssimo filme, pois ele mistura com a mesma eficiência, o drama e o sobrenatural graças a um roteiro muito bem escrito, uma direção extremamente competente e uma fotográfica digna de muitos prêmios! Vale muito a pena - filme independente com carreira consistente em festivais!
Embora o conceito de exploração do mais fraco (defendido pela marquesa) seja o fio condutor de "Lazzaro Felice", é muito curioso a forma como a Rohrwacher usa a figura do protagonista para representar um limite que precisa ser respeitado e que vai nos provocar a reflexão. Estar na base da pirâmide não nos deixa saída, afinal não há em quem se apoiar (ou explorar), porém essa realidade não influencia ou define o caráter de uma pessoa - e o filme usa de vários exemplos, muitos deles apenas em diálogos pontuais ou em ações que parecem despretensiosas, para justificar essa tese. Se uma personagem pode enganar uma pessoa que acabou de ajuda-la só para faturar 30 euros, isso não exime da mesma personagem a escolha de abrir mão de algo quando alguém pede sua ajuda - mesmo que esse "alguém" já tenha mal tratado ela no passado! Essa dualidade do roteiro é explorada a todo momento e ganha ainda mais força quando entendemos a alegoria bíblica que a história se propõe a discutir - existe um Lázaro descrito na Bíblia e como o personagem do filme, ele é alguém que foi ressuscitado por Jesus e que destoa da fragilidade moral do mundo em que vive. Reparem na cena da igreja e vejam como a diretora, em nenhum momento levanta uma bandeira, seja ela politica ou religiosa, sem mostrar o outro lado ou criticar a distorção pela qual o ser humano se apoia!
Filmado 100% em 16 mm, o que dá um aspecto granulado a imagem e sugere uma certa abstração da realidade, e finalizado com uma margem irregular como se estivéssemos assistindo um filme projetado em um pergaminho, "Lazzaro Felice" é um excelente exemplo de como uma identidade narrativa baseada em um conceito fortemente estabelecido com propósito, funciona a favor da história. Nada que acontece na tela é por acaso - da maneira como o protagonista se movimenta, se comunica ou simplesmente observa uma ação, até os planos abertos enquadrando uma geografia rural que vai se desfazer em um cenário urbano caótico e opressor, um pouco mais a frente. É um grande trabalho da fotógrafa Hélène Louvart (de "A vida invisível" do brasileiro Karim Aïnouz). O elenco também está irretocável: Adriano Tardiolo dá uma aula de neutralidade na interpretação, daquelas que o ator fala com os olhos, com a alma, com o sentimento! Tommaso Ragno como o Tancredi adulto também dá um show, mas quem rouba a cena mesmo é a ótima Alba Rohrwacher como Antonia - que trabalho maravilhoso!
"Lazzaro Felice" é um filme autoral de quem conhece a gramática cinematográfica e sabe exatamente onde quer chegar com aquela história. Um show de roteiro que usa da alegoria para tocar em temas delicados e atuais como as consequências do êxodo rural e do desemprego, a violência contra a mulher, a desigualdade social, o capitalismo predatório, etc. Saiba que não será um jornada fácil, a diretora acerta em não nos entregar as informações de mão beijada, nos sugerindo muito mais do que impondo (com excessão da cena posterior a da igreja, onde a música segue os personagens, que destoa das escolhas acertadas até ali). "Lazzaro Felice" pode causar um certo estranhamento inicial, mas que aos poucos vai se encontrando e, claro, nos deixando com mais dúvidas do que certezas e nos tirando de uma zona de conforto como poucas vezes sentimos - a lembrança que me vem a cabeça, respeitando suas peculiaridades de gênero, é a sensação de assistir "Abre los Ojos" do Alejandro Amenábar pela primeira vez!
Não vacile, dê o play!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!