Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula. O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:
O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!
É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!
Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito!
Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula. O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:
O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!
É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!
Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito!
Após ler a sinopse de "Birds of Paradise", provavelmente três perguntas virão a sua cabeça, então vou me antecipar para alinharmos as expectativas. "Birds of Paradise" pode ser comparado ao "Cisne Negro" como obra cinematográfica? Não. Mas a temática é parecida certo? Sim. Então se eu gostei de "Cisne Negro", vou gostar de "Birds of Paradise"? Provavelmente sim!
A história acompanha a jornada de duas garotas que se tornam melhores amigas em uma companhia de dança e observam, impotentes, que os laços que criaram não são tão fortes para impedir seus instintos mais vaidosos e egoístas na busca por um único objetivo - vencer uma disputa individual que daria direito a um sólido contrato com a Ópera Nacional de Paris. Marine Elise Durand (Kristine Froseth) é conhecida por seu talento como bailarina, mas ainda carrega no corpo e na alma, o trauma pelo suicídio do irmão gêmeo e a pressão imposta pelo relacionamento tóxico com seus pais; já Kate Sanders (Diana Silvers) é uma jovem americana que ganhou uma bolsa para estudar ballet na França, mas que enfrenta um enorme preconceito justamente por não ser francesa - ela é chamada pejorativamente de Virginiapela austera Madame Brunelleschi (Jacqueline Bisset), dona da escola e responsável por escolher a grande vencedora. Confira o trailer:
"Birds of Paradise" é baseado no romance "Bright Burning Stars", de A.K. Small, e é uma adaptação da diretora e roteirista Sarah Adina Smith - profissional que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries para o streaming (e isso fica muito claro no filme). Embora anos luz do Aronofsky (diretor de "Cisne Negro"), Smith é muito competente tecnicamente e sua parceria com o diretor de fotografia Shaheen Seth rendem boas (e plásticas) cenas, mostrando que o calcanhar de Aquíles do filme é mesmo o roteiro. Todos nós já sabemos que adaptar um livro para as telas não é uma tarefa das mais fáceis e aqui a necessidade de cobrir tantos eventos que ajudaram a construir as camadas mais profundas dos personagens no livro, acabam atrapalhando o que realmente importa - a relação conflituosa entre Kate e Marine. Não que isso atrapalhe o entretenimento, mas sem dúvida é um fator essencial que afasta qualquer tipo de comparação com "Cisne Negro", por exemplo.
O fato é que "Birds of Paradise" deve agradar mais o jovem adulto - até por uma certa identificação com as personagens e a forma como seus dramas pessoais são retratados. Aliás, é de se elogiar o trabalho do elenco, mesmo assumindo que todos estão um tom acima em suas performances. Por outro lado, a dinâmica que Smith impõe nas cenas, principalmente quando as bailarinas estão em ação, acaba trazendo um certo frescor independente para o filme, permitindo que a experiência flua e que a sensação, ao final de pouco mais que 90 minutos, seja agradável.
No final das contas, "Birds of Paradise" vale como um ótimo e despretensioso entretenimento, principalmente para quem tem alguma relação afetiva com as artes e a dança.
Após ler a sinopse de "Birds of Paradise", provavelmente três perguntas virão a sua cabeça, então vou me antecipar para alinharmos as expectativas. "Birds of Paradise" pode ser comparado ao "Cisne Negro" como obra cinematográfica? Não. Mas a temática é parecida certo? Sim. Então se eu gostei de "Cisne Negro", vou gostar de "Birds of Paradise"? Provavelmente sim!
A história acompanha a jornada de duas garotas que se tornam melhores amigas em uma companhia de dança e observam, impotentes, que os laços que criaram não são tão fortes para impedir seus instintos mais vaidosos e egoístas na busca por um único objetivo - vencer uma disputa individual que daria direito a um sólido contrato com a Ópera Nacional de Paris. Marine Elise Durand (Kristine Froseth) é conhecida por seu talento como bailarina, mas ainda carrega no corpo e na alma, o trauma pelo suicídio do irmão gêmeo e a pressão imposta pelo relacionamento tóxico com seus pais; já Kate Sanders (Diana Silvers) é uma jovem americana que ganhou uma bolsa para estudar ballet na França, mas que enfrenta um enorme preconceito justamente por não ser francesa - ela é chamada pejorativamente de Virginiapela austera Madame Brunelleschi (Jacqueline Bisset), dona da escola e responsável por escolher a grande vencedora. Confira o trailer:
"Birds of Paradise" é baseado no romance "Bright Burning Stars", de A.K. Small, e é uma adaptação da diretora e roteirista Sarah Adina Smith - profissional que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries para o streaming (e isso fica muito claro no filme). Embora anos luz do Aronofsky (diretor de "Cisne Negro"), Smith é muito competente tecnicamente e sua parceria com o diretor de fotografia Shaheen Seth rendem boas (e plásticas) cenas, mostrando que o calcanhar de Aquíles do filme é mesmo o roteiro. Todos nós já sabemos que adaptar um livro para as telas não é uma tarefa das mais fáceis e aqui a necessidade de cobrir tantos eventos que ajudaram a construir as camadas mais profundas dos personagens no livro, acabam atrapalhando o que realmente importa - a relação conflituosa entre Kate e Marine. Não que isso atrapalhe o entretenimento, mas sem dúvida é um fator essencial que afasta qualquer tipo de comparação com "Cisne Negro", por exemplo.
O fato é que "Birds of Paradise" deve agradar mais o jovem adulto - até por uma certa identificação com as personagens e a forma como seus dramas pessoais são retratados. Aliás, é de se elogiar o trabalho do elenco, mesmo assumindo que todos estão um tom acima em suas performances. Por outro lado, a dinâmica que Smith impõe nas cenas, principalmente quando as bailarinas estão em ação, acaba trazendo um certo frescor independente para o filme, permitindo que a experiência flua e que a sensação, ao final de pouco mais que 90 minutos, seja agradável.
No final das contas, "Birds of Paradise" vale como um ótimo e despretensioso entretenimento, principalmente para quem tem alguma relação afetiva com as artes e a dança.
"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.
O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:
A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.
O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.
A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.
Vale seu play!
"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.
O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:
A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.
O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.
A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.
Vale seu play!
"Black Doves" é entretenimento puro - especialmente se você gostou de séries como "Killing Eve" e "Sr. & Sra. Smith". Essa produção britânica da Sister and Noisy Bear para a Netflix é um thriller dos mais envolventes que mistura espionagem, crime e drama, com um toque de humor negro, em uma trama intricada e repleta de tensão. Com uma narrativa centrada em personagens complexos e motivações, digamos, ambíguas, a série se destaca por explorar as linhas tênues entre a lealdade, o amor e a traição, oferecendo ao público uma experiência cativante e cheia de reviravoltas inseridas em um contexto politico de escala global. A verdade é que "Black Doves" acerta ao combinar uma atmosfera sombria com um desenvolvimento psicológico profundo, elevando o tom da espionagem para um território mais íntimo e emocional que faz toda diferença na nossa jornada.
A trama gira em torno de Helen Webb (Keira Knightley) uma espiã profundamente infiltrada no governo britânico que, após um trágico evento pessoal, se vê envolvida em uma conspiração que ameaça não apenas sua segurança, mas também a estabilidade de um sistema político e social em crise. Enquanto lida com as consequências de seu recente passado e com relacionamentos que desafiam sua lealdade, Helen é forçada a navegar em um mundo de intrigas onde confiar em alguém pode significar sua própria destruição. Confira o trailer (dublado):
Joe Barton, conhecido por "Encounter", traz para "Black Doves" sua assinatura narrativa de equilibrar ação e tensão com uma escrita ágil e repleta de nuances. O roteiro é carregado de diálogos incisivos e momentos de introspecção que mergulham profundamente nas motivações de personagens muito bem desenvolvidos, ao mesmo tempo em que mantém o ritmo acelerado e a tensão constante - aliás, esse é um ótimo exemplo de como os britânicos sabem fazer temporadas curtas que entregam tudo o que precisam entregar, no tempo disponível e fazendo de cada minuto um gatilho para construir personagens complexos que são os destaques da obra (e aqui eu preciso incluir o Sam Young de Ben Whishaw), Veja, a direção de Alex Gabassi (de "The Crown") e de Lisa Gunning (de "The Power") brinca com a dinâmica entre ação e mistério a partir de situações que fortalecem esse ar de paranoia e urgência como em "Sr. & Sra. Smith", no entanto, a impressão que fica é que tudo parece menos expositivo.
Knightley equilibra a vulnerabilidade de sua versão "mulher do lar" com a força de uma espiã altamente letal - sua atuação transmite tanto o peso de suas decisões pessoais quanto a determinação na busca por vingança e proteção para aqueles que ama. Repare como os cenários são cuidadosamente escolhidos para refletir a dualidade de Helen, de um vida "pacata" aos momentos de ação visceral quando o bicho pega para o seu lado - o foco da criação de Barton repousa sobre Helen e Sam, sozinhos ou juntos, com os dois formando uma dupla bem improvável, mas que é ao mesmo tempo irresistível, ou seja, as bem coreografadas, violentas e sanguinolentas sequências de ação existem, mas não são prioridade. A gênese da espionagem na série é essencialmente clássica, onde é a infiltração sorrateira que faz a diferença para uma agente adormecida há muitos e muitos anos e que vive uma vida que não é a dela!
Algumas escolhas narrativas de "Black Doves"podem parecer previsíveis para aqueles mais familiarizados com o gênero, e certos arcos secundários até carecem de desenvolvimento mais profundo, ainda assim, essas limitações não comprometem em nada a nossa experiência que é sustentada por uma escrita dinâmica e por performances envolventes. Como eu pontuei no inicio da análise, "Black Doves" é entretenimento, com uma história bem arquitetada que combina espionagem de alto risco com um drama humano capaz de prender a audiência do início ao fim!
Vale o seu play. Diversão garantida e rápida, já que a primeira temporada só tem seis episódios!
"Black Doves" é entretenimento puro - especialmente se você gostou de séries como "Killing Eve" e "Sr. & Sra. Smith". Essa produção britânica da Sister and Noisy Bear para a Netflix é um thriller dos mais envolventes que mistura espionagem, crime e drama, com um toque de humor negro, em uma trama intricada e repleta de tensão. Com uma narrativa centrada em personagens complexos e motivações, digamos, ambíguas, a série se destaca por explorar as linhas tênues entre a lealdade, o amor e a traição, oferecendo ao público uma experiência cativante e cheia de reviravoltas inseridas em um contexto politico de escala global. A verdade é que "Black Doves" acerta ao combinar uma atmosfera sombria com um desenvolvimento psicológico profundo, elevando o tom da espionagem para um território mais íntimo e emocional que faz toda diferença na nossa jornada.
A trama gira em torno de Helen Webb (Keira Knightley) uma espiã profundamente infiltrada no governo britânico que, após um trágico evento pessoal, se vê envolvida em uma conspiração que ameaça não apenas sua segurança, mas também a estabilidade de um sistema político e social em crise. Enquanto lida com as consequências de seu recente passado e com relacionamentos que desafiam sua lealdade, Helen é forçada a navegar em um mundo de intrigas onde confiar em alguém pode significar sua própria destruição. Confira o trailer (dublado):
Joe Barton, conhecido por "Encounter", traz para "Black Doves" sua assinatura narrativa de equilibrar ação e tensão com uma escrita ágil e repleta de nuances. O roteiro é carregado de diálogos incisivos e momentos de introspecção que mergulham profundamente nas motivações de personagens muito bem desenvolvidos, ao mesmo tempo em que mantém o ritmo acelerado e a tensão constante - aliás, esse é um ótimo exemplo de como os britânicos sabem fazer temporadas curtas que entregam tudo o que precisam entregar, no tempo disponível e fazendo de cada minuto um gatilho para construir personagens complexos que são os destaques da obra (e aqui eu preciso incluir o Sam Young de Ben Whishaw), Veja, a direção de Alex Gabassi (de "The Crown") e de Lisa Gunning (de "The Power") brinca com a dinâmica entre ação e mistério a partir de situações que fortalecem esse ar de paranoia e urgência como em "Sr. & Sra. Smith", no entanto, a impressão que fica é que tudo parece menos expositivo.
Knightley equilibra a vulnerabilidade de sua versão "mulher do lar" com a força de uma espiã altamente letal - sua atuação transmite tanto o peso de suas decisões pessoais quanto a determinação na busca por vingança e proteção para aqueles que ama. Repare como os cenários são cuidadosamente escolhidos para refletir a dualidade de Helen, de um vida "pacata" aos momentos de ação visceral quando o bicho pega para o seu lado - o foco da criação de Barton repousa sobre Helen e Sam, sozinhos ou juntos, com os dois formando uma dupla bem improvável, mas que é ao mesmo tempo irresistível, ou seja, as bem coreografadas, violentas e sanguinolentas sequências de ação existem, mas não são prioridade. A gênese da espionagem na série é essencialmente clássica, onde é a infiltração sorrateira que faz a diferença para uma agente adormecida há muitos e muitos anos e que vive uma vida que não é a dela!
Algumas escolhas narrativas de "Black Doves"podem parecer previsíveis para aqueles mais familiarizados com o gênero, e certos arcos secundários até carecem de desenvolvimento mais profundo, ainda assim, essas limitações não comprometem em nada a nossa experiência que é sustentada por uma escrita dinâmica e por performances envolventes. Como eu pontuei no inicio da análise, "Black Doves" é entretenimento, com uma história bem arquitetada que combina espionagem de alto risco com um drama humano capaz de prender a audiência do início ao fim!
Vale o seu play. Diversão garantida e rápida, já que a primeira temporada só tem seis episódios!
É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!
Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:
Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.
É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.
A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.
O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!
Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!
É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!
Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:
Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.
É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.
A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.
O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!
Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!
"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".
Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.
Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.
Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.
"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!
PS: A série terá três temporadas.
"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".
Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.
Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.
Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.
"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!
PS: A série terá três temporadas.
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".
O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:
Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).
Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.
Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".
Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.
"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.
Vale muito a pena!
Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.
"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".
O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:
Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).
Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.
Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".
Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.
"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.
Vale muito a pena!
Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.
"C.B. Strike" é entretenimento puro - especialmente se você gostou da famosa série antológica, também da BBC, "Sherlock". Por mais surpreendente que possa parecer, "C.B. Strike" é uma adaptação da série de livros escritos por J.K. Rowling (ela mesmo) sob o pseudônimo de Robert Galbraith, que traz para a televisão histórias do charmoso detetive Cormoran Strike, e de sua assistente Robin Ellacott, em casos extremamente envolventes que mesclam mistério, thriller psicológico e drama pessoal. Criada por Tom Edge (de "The Crown") e Ben Richards (de "The Tunnel") essa série, posso te garanatir, é uma das melhores adaptações contemporâneas do gênero policial noir - mas com um tom mais realista e menos estilizado.
A narrativa, como já é possível imaginar, segue Cormoran Strike (Tom Burke), um ex-soldado que perdeu parte da perna em uma explosão no Afeganistão e que agora trabalha como detetive particular em Londres. Desorganizado, endividado e lidando com um trauma mal resolvido, ele sobrevive resolvendo casos passageiros até que um crime bastante complexo, o assassinato da modelo Lula Landry (Elarica Johnson), o coloca sob os holofotes. Nesse contexto que conhecemos Robin Ellacott (Holliday Grainger), uma assistente temporária que logo demonstra um talento nato para investigações, criando assim uma das melhores dinâmicas entre investigadores da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
"C.B. Strike", de fato, se destaca pela estrutura narrativa divertida e muito fiel aos livros. Aqui, cada temporada adapta um caso específico da obra original - desde "O Chamado do Cuco", que mergulha no suposto suicídio de uma supermodelo, até "Sangue Revolto", um caso sombrio que leva a dupla a investigar um culto realmente perigoso. Com roteiros bem construídos, a adaptação foi muito feliz ao manter a complexidade das investigações, com detalhes muito precisos dos romances, mas sem perder a fluidez necessários para uma jornada na tela - a série não é ágil, é verdade, mas ela está longe de ser lenta. O sucesso foi imediato, proporcionando, até agora, cinco temporadas com dois a quatro episódios cada, totalizando 19 - sendo 16 escritos por Tom Edge.
Já a equipe de direção, liderada por Susan Tully (de "Crossing Lines"), aposta em um realismo cru, utilizando Londres não apenas como pano de fundo, mas como um personagem vivo que amplifica a atmosfera mais crônica de tensão e mistério. Diferente de "Sherlock", que estiliza a cidade para criar um ambiente quase fantasioso, "C.B. Strike" mantém os pés no chão, apresentando uma capital britânica sombria, úmida e cheia de becos estreitos que reforçam a sensação de perigo. E aqui cabe um elogio: a fotografia estruturada por Hubert Taczanowski (não por acaso de "The Missing") reforça a estética mais noir da série, brincando com as sombras e os contrastes para enfatizar os momentos de maior mistério, enquanto a trilha sonora discreta, mas eficaz, contribui para o peso do tom, só que sem se sobrepor ao drama, permitindo que a tensão seja construída da forma mais natural possível.
Tom Burke e Holliday Grainger são o grande trunfo da série. Burke incorpora Strike com a dose certa de exaustão e inteligência, mas sem cair nos clichês do detetive cínico e autodestrutivo. Ele é falho, mas extremamente perspicaz, e a série explora bem suas fraquezas sem transformá-las em mero artifício dramático. Já Grainger traz força e sensibilidade para sua personagem, cuja evolução ao longo das cinco temporadas a torna tão essencial para as investigações quanto o próprio Strike. Veja "C.B. Strike" valoriza os diálogos, a construção do mistério e o desenvolvimento dos personagens, o que pode parecer mais cadenciada para quem espera uma abordagem eletrizante. No entanto, essa escolha conceitual permite um aprofundamento maior nos casos e nas relações interpessoais, sem pressa, tornando a série uma experiência mais interessante para os fãs do gênero, ou seja, para quem gosta de histórias de detetives e de investigações meticulosas, sem nunca fugir do propósito do divertimento, essa é série que você estava esperando!
Divirta-se!
"C.B. Strike" é entretenimento puro - especialmente se você gostou da famosa série antológica, também da BBC, "Sherlock". Por mais surpreendente que possa parecer, "C.B. Strike" é uma adaptação da série de livros escritos por J.K. Rowling (ela mesmo) sob o pseudônimo de Robert Galbraith, que traz para a televisão histórias do charmoso detetive Cormoran Strike, e de sua assistente Robin Ellacott, em casos extremamente envolventes que mesclam mistério, thriller psicológico e drama pessoal. Criada por Tom Edge (de "The Crown") e Ben Richards (de "The Tunnel") essa série, posso te garanatir, é uma das melhores adaptações contemporâneas do gênero policial noir - mas com um tom mais realista e menos estilizado.
A narrativa, como já é possível imaginar, segue Cormoran Strike (Tom Burke), um ex-soldado que perdeu parte da perna em uma explosão no Afeganistão e que agora trabalha como detetive particular em Londres. Desorganizado, endividado e lidando com um trauma mal resolvido, ele sobrevive resolvendo casos passageiros até que um crime bastante complexo, o assassinato da modelo Lula Landry (Elarica Johnson), o coloca sob os holofotes. Nesse contexto que conhecemos Robin Ellacott (Holliday Grainger), uma assistente temporária que logo demonstra um talento nato para investigações, criando assim uma das melhores dinâmicas entre investigadores da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
"C.B. Strike", de fato, se destaca pela estrutura narrativa divertida e muito fiel aos livros. Aqui, cada temporada adapta um caso específico da obra original - desde "O Chamado do Cuco", que mergulha no suposto suicídio de uma supermodelo, até "Sangue Revolto", um caso sombrio que leva a dupla a investigar um culto realmente perigoso. Com roteiros bem construídos, a adaptação foi muito feliz ao manter a complexidade das investigações, com detalhes muito precisos dos romances, mas sem perder a fluidez necessários para uma jornada na tela - a série não é ágil, é verdade, mas ela está longe de ser lenta. O sucesso foi imediato, proporcionando, até agora, cinco temporadas com dois a quatro episódios cada, totalizando 19 - sendo 16 escritos por Tom Edge.
Já a equipe de direção, liderada por Susan Tully (de "Crossing Lines"), aposta em um realismo cru, utilizando Londres não apenas como pano de fundo, mas como um personagem vivo que amplifica a atmosfera mais crônica de tensão e mistério. Diferente de "Sherlock", que estiliza a cidade para criar um ambiente quase fantasioso, "C.B. Strike" mantém os pés no chão, apresentando uma capital britânica sombria, úmida e cheia de becos estreitos que reforçam a sensação de perigo. E aqui cabe um elogio: a fotografia estruturada por Hubert Taczanowski (não por acaso de "The Missing") reforça a estética mais noir da série, brincando com as sombras e os contrastes para enfatizar os momentos de maior mistério, enquanto a trilha sonora discreta, mas eficaz, contribui para o peso do tom, só que sem se sobrepor ao drama, permitindo que a tensão seja construída da forma mais natural possível.
Tom Burke e Holliday Grainger são o grande trunfo da série. Burke incorpora Strike com a dose certa de exaustão e inteligência, mas sem cair nos clichês do detetive cínico e autodestrutivo. Ele é falho, mas extremamente perspicaz, e a série explora bem suas fraquezas sem transformá-las em mero artifício dramático. Já Grainger traz força e sensibilidade para sua personagem, cuja evolução ao longo das cinco temporadas a torna tão essencial para as investigações quanto o próprio Strike. Veja "C.B. Strike" valoriza os diálogos, a construção do mistério e o desenvolvimento dos personagens, o que pode parecer mais cadenciada para quem espera uma abordagem eletrizante. No entanto, essa escolha conceitual permite um aprofundamento maior nos casos e nas relações interpessoais, sem pressa, tornando a série uma experiência mais interessante para os fãs do gênero, ou seja, para quem gosta de histórias de detetives e de investigações meticulosas, sem nunca fugir do propósito do divertimento, essa é série que você estava esperando!
Divirta-se!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular.
Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:
Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.
Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson, Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!
Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!
Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!
"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular.
Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:
Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.
Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson, Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!
Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!
Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!
Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.
Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:
Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.
Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.
Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.
Vale muito a pena!
PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death" também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter.
Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.
Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:
Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.
Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.
Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.
Vale muito a pena!
PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death" também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter.
“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.
No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados, julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:
O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.
A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.
Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.
Vale muito a pena!
"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.
No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados, julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:
O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.
A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.
Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.
Vale muito a pena!
"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)!
O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:
Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha!
Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!
A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada).
Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!
Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!
"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)!
O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:
Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha!
Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!
A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada).
Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!
Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!
Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.
Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:
A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!
No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.
Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.
Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles!
"Challenger - Voo Final" é imperdível!
Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.
Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:
A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!
No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.
Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.
Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles!
"Challenger - Voo Final" é imperdível!
Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.
Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design.
Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!
O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones".
Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!
Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.
Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design.
Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!
O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones".
Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!
Essa minissérie co-produzida pela Amazon com a BBC dividiu opinões - a nossa, no entanto, é que vale muito a pena; eu diria até que é aquele tipo de entretenimento despretensioso que realmente vale a maratona em um final de semana chuvoso sem sair debaixo do cobertor! "Chloe" é uma criação de Alice Seabright (a mente criativa por trás de "Sex Education") que traz para a tela uma espécie de suspense psicológico que sabe explorar com muita sensibilidade temas como identidade e obsessão, sempre pautada pela percepção construída nas redes sociais. A trama é centrada na vida de Becky Green (Erin Doherty), uma jovem introspectiva e solitária que passa seus dias comparando sua própria vida com as imagens cuidadosamente montadas que vê nas redes sociais, especialmente no perfil de Chloe (Poppy Gilbert), uma influenciadora aparentemente perfeita. O interessante dessa premissa é como ela se aprofunda nas consequências emocionais de uma obsessão digital, e como essa dependência pode fazer alguém se perder na busca por uma vida perfeita que sabemos, nem existe!
A narrativa começa quando Becky descobre que Chloe morreu sob circunstâncias misteriosas. Dominada pela curiosidade e pela obsessão que já nutria pela vida glamorosa da influenciadora, Becky adota uma nova identidade para se infiltrar no círculo social de Chloe e assim tentar desvendar os segredos por trás de sua morte. À medida que ela se aproxima de pessoas próximas a Chloe, Becky começa a viver uma vida dupla, mergulhando cada vez mais fundo em uma teia de mentiras que além de insustentável, é muito perigosa. Confira o trailer:
O interessante de "Chloe", sem dúvida, é a forma como seu roteiro nos transporta, com uma certa familiaridade, para uma jornada envolvente e empolgante - é uma experiência que mistura o melhor de "Inventando Anna" com o mistério de "Garota Exemplar". A história criada por Seabright é inteligente e cheia de camadas, revelando de uma maneira não linear uma trama que deixa muito espaço para um tipo de ambiguidade que nos provoca a cada episódio - Becky, por exemplo, é uma personagem difícil de cravar de imediato se é do bem ou do mal (a relação com sua mãe diz muito sobre isso). O mistério em torno da morte de Chloe é outro fator que equilibra a narrativa - ele se desenvolve gradualmente, mantendo a audiência engajada e questionando constantemente a confiabilidade de Becky como narradora. A minissérie, é preciso que se diga, se destaca por evitar explicações fáceis ou pela escolha de caminhos convencionais, optando por uma abordagem que valoriza a complexidade emocional e psicológica dos personagens.
Seabright e Amanda Boyle (de "Skins") sabem como construir uma atmosfera de tensão ao mesmo tempo que manipulam habilmente as nossas percepções sobre Becky e sobre as reais motivações sobre sua busca pela verdade. A direção inova ao usar como pano de fundo o mistério para aí sim explorar os perigos da auto-promoção digital - repare como é palpável a forma como roteiro retrata as redes sociais e como elas podem intensificar os sentimentos de inadequação e inveja. "Chloe" é um ótimo exemplo de como as redes se tornam um terreno fértil para a idealização e a alienação, ao mesmo tempo em que questiona a capacidade de realmente conhecer alguém pela vida que projeta online. Becky, nesse sentido, é uma personagem multifacetada, complexa e, muitas vezes, desconfortável por suas inseguranças, o que torna essa jornada psicológica tão fascinante quanto inquietante. Erin Doherty oferece uma performance memorável - ela captura a solidão de sua personagem, alternando uma certa vulnerabilidade com uma frieza quase psicopata.
Alinhada ao conceito misterioso da história, a minissérie abusa de sua paleta de cores frias e dos cenários cuidadosamente enquadrados para intensificar o sentimento de isolamento e de observação de Beck - essa proposta torna a nossa experiência visualmente bem imersiva, mas nos tira da zona de conforto a todo momento. Se com muita criatividade, as cenas que se alternam entre o mundo real e o digital são montadas de maneira fluida, criando uma narrativa que reflete o impacto psicológico das redes sociais sobre a protagonista, permitindo um mergulho profundo no seu psicológico; o fator investigativo pode parecer mais arrastado que o normal - dito isso, tenha alguma paciência e não espere um final emblemático. Saiba que em "Chloe" o caminho é até mais interessante que seu destino e é isso que vai te divertir durante os seis episódios!
Vale seu play!
Essa minissérie co-produzida pela Amazon com a BBC dividiu opinões - a nossa, no entanto, é que vale muito a pena; eu diria até que é aquele tipo de entretenimento despretensioso que realmente vale a maratona em um final de semana chuvoso sem sair debaixo do cobertor! "Chloe" é uma criação de Alice Seabright (a mente criativa por trás de "Sex Education") que traz para a tela uma espécie de suspense psicológico que sabe explorar com muita sensibilidade temas como identidade e obsessão, sempre pautada pela percepção construída nas redes sociais. A trama é centrada na vida de Becky Green (Erin Doherty), uma jovem introspectiva e solitária que passa seus dias comparando sua própria vida com as imagens cuidadosamente montadas que vê nas redes sociais, especialmente no perfil de Chloe (Poppy Gilbert), uma influenciadora aparentemente perfeita. O interessante dessa premissa é como ela se aprofunda nas consequências emocionais de uma obsessão digital, e como essa dependência pode fazer alguém se perder na busca por uma vida perfeita que sabemos, nem existe!
A narrativa começa quando Becky descobre que Chloe morreu sob circunstâncias misteriosas. Dominada pela curiosidade e pela obsessão que já nutria pela vida glamorosa da influenciadora, Becky adota uma nova identidade para se infiltrar no círculo social de Chloe e assim tentar desvendar os segredos por trás de sua morte. À medida que ela se aproxima de pessoas próximas a Chloe, Becky começa a viver uma vida dupla, mergulhando cada vez mais fundo em uma teia de mentiras que além de insustentável, é muito perigosa. Confira o trailer:
O interessante de "Chloe", sem dúvida, é a forma como seu roteiro nos transporta, com uma certa familiaridade, para uma jornada envolvente e empolgante - é uma experiência que mistura o melhor de "Inventando Anna" com o mistério de "Garota Exemplar". A história criada por Seabright é inteligente e cheia de camadas, revelando de uma maneira não linear uma trama que deixa muito espaço para um tipo de ambiguidade que nos provoca a cada episódio - Becky, por exemplo, é uma personagem difícil de cravar de imediato se é do bem ou do mal (a relação com sua mãe diz muito sobre isso). O mistério em torno da morte de Chloe é outro fator que equilibra a narrativa - ele se desenvolve gradualmente, mantendo a audiência engajada e questionando constantemente a confiabilidade de Becky como narradora. A minissérie, é preciso que se diga, se destaca por evitar explicações fáceis ou pela escolha de caminhos convencionais, optando por uma abordagem que valoriza a complexidade emocional e psicológica dos personagens.
Seabright e Amanda Boyle (de "Skins") sabem como construir uma atmosfera de tensão ao mesmo tempo que manipulam habilmente as nossas percepções sobre Becky e sobre as reais motivações sobre sua busca pela verdade. A direção inova ao usar como pano de fundo o mistério para aí sim explorar os perigos da auto-promoção digital - repare como é palpável a forma como roteiro retrata as redes sociais e como elas podem intensificar os sentimentos de inadequação e inveja. "Chloe" é um ótimo exemplo de como as redes se tornam um terreno fértil para a idealização e a alienação, ao mesmo tempo em que questiona a capacidade de realmente conhecer alguém pela vida que projeta online. Becky, nesse sentido, é uma personagem multifacetada, complexa e, muitas vezes, desconfortável por suas inseguranças, o que torna essa jornada psicológica tão fascinante quanto inquietante. Erin Doherty oferece uma performance memorável - ela captura a solidão de sua personagem, alternando uma certa vulnerabilidade com uma frieza quase psicopata.
Alinhada ao conceito misterioso da história, a minissérie abusa de sua paleta de cores frias e dos cenários cuidadosamente enquadrados para intensificar o sentimento de isolamento e de observação de Beck - essa proposta torna a nossa experiência visualmente bem imersiva, mas nos tira da zona de conforto a todo momento. Se com muita criatividade, as cenas que se alternam entre o mundo real e o digital são montadas de maneira fluida, criando uma narrativa que reflete o impacto psicológico das redes sociais sobre a protagonista, permitindo um mergulho profundo no seu psicológico; o fator investigativo pode parecer mais arrastado que o normal - dito isso, tenha alguma paciência e não espere um final emblemático. Saiba que em "Chloe" o caminho é até mais interessante que seu destino e é isso que vai te divertir durante os seis episódios!
Vale seu play!
"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:
Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).
Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!!
Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!
PS: A abertura ficou excelente!
"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:
Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).
Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!!
Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!
PS: A abertura ficou excelente!
Essa é para você que está com saudade de uma minissérie HBO raiz - daquelas angustiantes, onde a complexidade não necessariamente está no conceito narrativo, mas sim na história que ela se propõe a contar. Estou falando da indicada ao Globo de Ouro e ao BAFTA de 2008, “Cinco Dias”. Essa minissérie em cinco partes criada por Gwyneth Hughes em parceria com a BBC inglesa, é um exemplo elegante e eficaz de como o suspense criminal pode ser explorado por vias mais psicológicas e menos convencionais. Lançada originalmente em 2007, a produção britânica é menos sobre a resolução de um crime e mais sobre o impacto que esse crime causa em cada esfera emocional, institucional e midiática. Com um estilo que remete a obras como "Garota Exemplar", “Cinco Dias” se ancora em um realismo mais contido, de ritmo deliberadamente lento, mas emocionalmente tenso - o que a diferenciou de thrillers mais acelerados da época e que certamente serve até hoje como referência para quem busca um desenvolvimento mais introspectivo e sociológico de uma trama investigativa.
Quando Leanne Wellings (Christine Tremarco) desaparece misteriosamente com seus dois filhos pequenos durante um passeio de rotina, a vida de todos ao seu redor entra em colapso. Com os dias passando, o caso se torna cada vez mais confuso, e a investigação policial se entrelaça com dramas familiares, pressões da imprensa e falhas do sistema. A minissérie acompanha os efeitos da busca por Leanne ao longo de cinco dias não consecutivos, cobrindo diferentes momentos cruciais dessa confusa investigação.
“Cinco Dias”, é preciso ressaltar, trouxe para TV um formato episódico interessante para época, dividindo sua narrativa por dias específicos - Dia 1, Dia 3, Dia 28, Dia 33 e Dia 79. A criadora Gwyneth Hughes (de "Vanity Fair") usa dessa estrutura para explorar com mais profundidade os ecos emocionais do desaparecimento de Leanne e seus desdobramentos com os diferentes personagens - sejam eles os familiares em profundo sofrimento, os policiais envolvidos na investigação ou os jornalistas que acompanham o caso e acabam sofrendo forte pressão da sociedade. Ao privilegiar esses saltos temporais, a minissérie evita o desgaste da repetição típica do gênero e acaba priorizando focar em momentos emocionais e de forte angustia, permitindo uma construção de tensão mais subjetiva, mas não menos relevante.
A direção de Otto Bathurst e Simon Curtis aposta numa estética fria, com uma fotografia pouco saturada e sempre com enquadramentos muito próximos dos rostos dos personagens - tudo isso para reforçar a atmosfera opressiva e misteriosa que se instala desde o primeiro episódio. Sim, essa é daquelas histórias onde criamos uma série de teorias e que sua resolução pode acabar por nos surpreender - existe uma sensação constante de vazio e de espera que, sinceramente, vai nos corroendo aos poucos. Christine Tremarco, em sua breve mas impactante participação, oferece um retrato sensível de uma personagem capaz de servir de base para um mistério bem construído. Já David Oyelowo e Hugh Bonneville apresentam atuações contidas, mas sempre impactantes - especialmente Oyelowo, eu diria . Além deles, há ainda excelentes desempenhos e aqui vale citar os veteranos Penelope Wilton e Edward Woodward, que representam as camadas familiares em suas diferentes formas de luto e, claro, de incredulidade.
Saiba que “Cinco Dias” não é sobre pistas, reviravoltas ou soluções mirabolantes. “Cinco Dias” é sobre o desgaste, sobre as fraturas emocionais e sociais que se instalam lentamente diante do desaparecimento de uma mulher e do vácuo que isso provoca em todas as direções. A minissérie se permite desacelerar para escutar o silêncio da ausência e o barulho que a sociedade faz diante da incerteza: de uma cobertura sensacionalista da mídia até a burocracia de uma investigação sem credibilidade, passando por uma opinião pública faminta por respostas. Nesse contexto, o roteiro é muito feliz ao ir revelando suas camadas morais com uma paciência que recompensa aquele disposto a mergulhar na trama. Para quem busca uma abordagem mais sutil e emocionalmente realista, com um mistério bem pontuado e suas consequências melhor ainda desenvolvidas, “Cinco Dias” é uma experiência comovente e, acima de tudo, profundamente humana.
Vale seu play!
PS: “Cinco Dias” acabou virando uma série antológica, mas sua segunda temporada (com uma nova história) nunca foi disponibilizada no Brasil.
Essa é para você que está com saudade de uma minissérie HBO raiz - daquelas angustiantes, onde a complexidade não necessariamente está no conceito narrativo, mas sim na história que ela se propõe a contar. Estou falando da indicada ao Globo de Ouro e ao BAFTA de 2008, “Cinco Dias”. Essa minissérie em cinco partes criada por Gwyneth Hughes em parceria com a BBC inglesa, é um exemplo elegante e eficaz de como o suspense criminal pode ser explorado por vias mais psicológicas e menos convencionais. Lançada originalmente em 2007, a produção britânica é menos sobre a resolução de um crime e mais sobre o impacto que esse crime causa em cada esfera emocional, institucional e midiática. Com um estilo que remete a obras como "Garota Exemplar", “Cinco Dias” se ancora em um realismo mais contido, de ritmo deliberadamente lento, mas emocionalmente tenso - o que a diferenciou de thrillers mais acelerados da época e que certamente serve até hoje como referência para quem busca um desenvolvimento mais introspectivo e sociológico de uma trama investigativa.
Quando Leanne Wellings (Christine Tremarco) desaparece misteriosamente com seus dois filhos pequenos durante um passeio de rotina, a vida de todos ao seu redor entra em colapso. Com os dias passando, o caso se torna cada vez mais confuso, e a investigação policial se entrelaça com dramas familiares, pressões da imprensa e falhas do sistema. A minissérie acompanha os efeitos da busca por Leanne ao longo de cinco dias não consecutivos, cobrindo diferentes momentos cruciais dessa confusa investigação.
“Cinco Dias”, é preciso ressaltar, trouxe para TV um formato episódico interessante para época, dividindo sua narrativa por dias específicos - Dia 1, Dia 3, Dia 28, Dia 33 e Dia 79. A criadora Gwyneth Hughes (de "Vanity Fair") usa dessa estrutura para explorar com mais profundidade os ecos emocionais do desaparecimento de Leanne e seus desdobramentos com os diferentes personagens - sejam eles os familiares em profundo sofrimento, os policiais envolvidos na investigação ou os jornalistas que acompanham o caso e acabam sofrendo forte pressão da sociedade. Ao privilegiar esses saltos temporais, a minissérie evita o desgaste da repetição típica do gênero e acaba priorizando focar em momentos emocionais e de forte angustia, permitindo uma construção de tensão mais subjetiva, mas não menos relevante.
A direção de Otto Bathurst e Simon Curtis aposta numa estética fria, com uma fotografia pouco saturada e sempre com enquadramentos muito próximos dos rostos dos personagens - tudo isso para reforçar a atmosfera opressiva e misteriosa que se instala desde o primeiro episódio. Sim, essa é daquelas histórias onde criamos uma série de teorias e que sua resolução pode acabar por nos surpreender - existe uma sensação constante de vazio e de espera que, sinceramente, vai nos corroendo aos poucos. Christine Tremarco, em sua breve mas impactante participação, oferece um retrato sensível de uma personagem capaz de servir de base para um mistério bem construído. Já David Oyelowo e Hugh Bonneville apresentam atuações contidas, mas sempre impactantes - especialmente Oyelowo, eu diria . Além deles, há ainda excelentes desempenhos e aqui vale citar os veteranos Penelope Wilton e Edward Woodward, que representam as camadas familiares em suas diferentes formas de luto e, claro, de incredulidade.
Saiba que “Cinco Dias” não é sobre pistas, reviravoltas ou soluções mirabolantes. “Cinco Dias” é sobre o desgaste, sobre as fraturas emocionais e sociais que se instalam lentamente diante do desaparecimento de uma mulher e do vácuo que isso provoca em todas as direções. A minissérie se permite desacelerar para escutar o silêncio da ausência e o barulho que a sociedade faz diante da incerteza: de uma cobertura sensacionalista da mídia até a burocracia de uma investigação sem credibilidade, passando por uma opinião pública faminta por respostas. Nesse contexto, o roteiro é muito feliz ao ir revelando suas camadas morais com uma paciência que recompensa aquele disposto a mergulhar na trama. Para quem busca uma abordagem mais sutil e emocionalmente realista, com um mistério bem pontuado e suas consequências melhor ainda desenvolvidas, “Cinco Dias” é uma experiência comovente e, acima de tudo, profundamente humana.
Vale seu play!
PS: “Cinco Dias” acabou virando uma série antológica, mas sua segunda temporada (com uma nova história) nunca foi disponibilizada no Brasil.