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Buscando...

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

Assista Agora

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

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Califado

Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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Calls

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

Assista Agora

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

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Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

Assista Agora

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Capote

Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Cenas de um Homicídio

"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)! 

O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:

Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha! 

Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!

A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada). 

Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!

Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!

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"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)! 

O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:

Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha! 

Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!

A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada). 

Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!

Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!

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Challenger - Voo Final

Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.

Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:

A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!

No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.

Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em  "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.

Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles! 

"Challenger - Voo Final" é imperdível!

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Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.

Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:

A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!

No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.

Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em  "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.

Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles! 

"Challenger - Voo Final" é imperdível!

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Chernobyl

Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Chloe

Essa minissérie co-produzida pela Amazon com a BBC dividiu opinões - a nossa, no entanto, é que vale muito a pena; eu diria até que é aquele tipo de entretenimento despretensioso que realmente vale a maratona em um final de semana chuvoso sem sair debaixo do cobertor! "Chloe" é uma criação de Alice Seabright (a mente criativa por trás de "Sex Education") que traz para a tela uma espécie de suspense psicológico que sabe explorar com muita sensibilidade temas como identidade e obsessão, sempre pautada pela percepção construída nas redes sociais. A trama é centrada na vida de Becky Green (Erin Doherty), uma jovem introspectiva e solitária que passa seus dias comparando sua própria vida com as imagens cuidadosamente montadas que vê nas redes sociais, especialmente no perfil de Chloe (Poppy Gilbert), uma influenciadora aparentemente perfeita. O interessante dessa premissa é como ela se aprofunda nas consequências emocionais de uma obsessão digital, e como essa dependência pode fazer alguém se perder na busca por uma vida perfeita que sabemos, nem existe!

A narrativa começa quando Becky descobre que Chloe morreu sob circunstâncias misteriosas. Dominada pela curiosidade e pela obsessão que já nutria pela vida glamorosa da influenciadora, Becky adota uma nova identidade para se infiltrar no círculo social de Chloe e assim tentar desvendar os segredos por trás de sua morte. À medida que ela se aproxima de pessoas próximas a Chloe, Becky começa a viver uma vida dupla, mergulhando cada vez mais fundo em uma teia de mentiras que além de insustentável, é muito perigosa. Confira o trailer:

O interessante de "Chloe", sem dúvida, é a forma como seu roteiro nos transporta, com uma certa familiaridade, para uma jornada envolvente e empolgante - é uma experiência que mistura o melhor de "Inventando Anna" com o mistério de "Garota Exemplar". A história criada por Seabright é inteligente e cheia de camadas, revelando de uma maneira não linear uma trama que deixa muito espaço para um tipo de ambiguidade que nos provoca a cada episódio - Becky, por exemplo, é uma personagem difícil de cravar de imediato se é do bem ou do mal (a relação com sua mãe diz muito sobre isso). O mistério em torno da morte de Chloe é outro fator que equilibra a narrativa - ele se desenvolve gradualmente, mantendo a audiência engajada e questionando constantemente a confiabilidade de Becky como narradora. A minissérie, é preciso que se diga, se destaca por evitar explicações fáceis ou pela escolha de caminhos convencionais, optando por uma abordagem que valoriza a complexidade emocional e psicológica dos personagens.

Seabright e Amanda Boyle (de "Skins") sabem como construir uma atmosfera de tensão ao mesmo tempo que manipulam habilmente as nossas percepções sobre Becky e sobre as reais motivações sobre sua busca pela verdade. A direção inova ao usar como pano de fundo o mistério para aí sim explorar os perigos da auto-promoção digital - repare como é palpável a forma como roteiro retrata as redes sociais e como elas podem intensificar os sentimentos de inadequação e inveja. "Chloe" é um ótimo exemplo de como as redes se tornam um terreno fértil para a idealização e a alienação, ao mesmo tempo em que questiona a capacidade de realmente conhecer alguém pela vida que projeta online. Becky, nesse sentido, é uma personagem multifacetada, complexa e, muitas vezes, desconfortável por suas inseguranças, o que torna essa jornada psicológica tão fascinante quanto inquietante. Erin Doherty oferece uma performance memorável - ela captura a solidão de sua personagem, alternando uma certa vulnerabilidade com uma frieza quase psicopata.

Alinhada ao conceito misterioso da história, a minissérie abusa de sua paleta de cores frias e dos cenários cuidadosamente enquadrados para intensificar o sentimento de isolamento e de observação de Beck - essa proposta torna a nossa experiência visualmente bem imersiva, mas nos tira da zona de conforto a todo momento. Se com muita criatividade, as cenas que se alternam entre o mundo real e o digital são montadas de maneira fluida, criando uma narrativa que reflete o impacto psicológico das redes sociais sobre a protagonista, permitindo um mergulho profundo no seu psicológico; o fator investigativo pode parecer mais arrastado que o normal - dito isso, tenha alguma paciência e não espere um final emblemático. Saiba que em "Chloe" o caminho é até mais interessante que seu destino e é isso que vai te divertir durante os seis episódios!

Vale seu play!

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Essa minissérie co-produzida pela Amazon com a BBC dividiu opinões - a nossa, no entanto, é que vale muito a pena; eu diria até que é aquele tipo de entretenimento despretensioso que realmente vale a maratona em um final de semana chuvoso sem sair debaixo do cobertor! "Chloe" é uma criação de Alice Seabright (a mente criativa por trás de "Sex Education") que traz para a tela uma espécie de suspense psicológico que sabe explorar com muita sensibilidade temas como identidade e obsessão, sempre pautada pela percepção construída nas redes sociais. A trama é centrada na vida de Becky Green (Erin Doherty), uma jovem introspectiva e solitária que passa seus dias comparando sua própria vida com as imagens cuidadosamente montadas que vê nas redes sociais, especialmente no perfil de Chloe (Poppy Gilbert), uma influenciadora aparentemente perfeita. O interessante dessa premissa é como ela se aprofunda nas consequências emocionais de uma obsessão digital, e como essa dependência pode fazer alguém se perder na busca por uma vida perfeita que sabemos, nem existe!

A narrativa começa quando Becky descobre que Chloe morreu sob circunstâncias misteriosas. Dominada pela curiosidade e pela obsessão que já nutria pela vida glamorosa da influenciadora, Becky adota uma nova identidade para se infiltrar no círculo social de Chloe e assim tentar desvendar os segredos por trás de sua morte. À medida que ela se aproxima de pessoas próximas a Chloe, Becky começa a viver uma vida dupla, mergulhando cada vez mais fundo em uma teia de mentiras que além de insustentável, é muito perigosa. Confira o trailer:

O interessante de "Chloe", sem dúvida, é a forma como seu roteiro nos transporta, com uma certa familiaridade, para uma jornada envolvente e empolgante - é uma experiência que mistura o melhor de "Inventando Anna" com o mistério de "Garota Exemplar". A história criada por Seabright é inteligente e cheia de camadas, revelando de uma maneira não linear uma trama que deixa muito espaço para um tipo de ambiguidade que nos provoca a cada episódio - Becky, por exemplo, é uma personagem difícil de cravar de imediato se é do bem ou do mal (a relação com sua mãe diz muito sobre isso). O mistério em torno da morte de Chloe é outro fator que equilibra a narrativa - ele se desenvolve gradualmente, mantendo a audiência engajada e questionando constantemente a confiabilidade de Becky como narradora. A minissérie, é preciso que se diga, se destaca por evitar explicações fáceis ou pela escolha de caminhos convencionais, optando por uma abordagem que valoriza a complexidade emocional e psicológica dos personagens.

Seabright e Amanda Boyle (de "Skins") sabem como construir uma atmosfera de tensão ao mesmo tempo que manipulam habilmente as nossas percepções sobre Becky e sobre as reais motivações sobre sua busca pela verdade. A direção inova ao usar como pano de fundo o mistério para aí sim explorar os perigos da auto-promoção digital - repare como é palpável a forma como roteiro retrata as redes sociais e como elas podem intensificar os sentimentos de inadequação e inveja. "Chloe" é um ótimo exemplo de como as redes se tornam um terreno fértil para a idealização e a alienação, ao mesmo tempo em que questiona a capacidade de realmente conhecer alguém pela vida que projeta online. Becky, nesse sentido, é uma personagem multifacetada, complexa e, muitas vezes, desconfortável por suas inseguranças, o que torna essa jornada psicológica tão fascinante quanto inquietante. Erin Doherty oferece uma performance memorável - ela captura a solidão de sua personagem, alternando uma certa vulnerabilidade com uma frieza quase psicopata.

Alinhada ao conceito misterioso da história, a minissérie abusa de sua paleta de cores frias e dos cenários cuidadosamente enquadrados para intensificar o sentimento de isolamento e de observação de Beck - essa proposta torna a nossa experiência visualmente bem imersiva, mas nos tira da zona de conforto a todo momento. Se com muita criatividade, as cenas que se alternam entre o mundo real e o digital são montadas de maneira fluida, criando uma narrativa que reflete o impacto psicológico das redes sociais sobre a protagonista, permitindo um mergulho profundo no seu psicológico; o fator investigativo pode parecer mais arrastado que o normal - dito isso, tenha alguma paciência e não espere um final emblemático. Saiba que em "Chloe" o caminho é até mais interessante que seu destino e é isso que vai te divertir durante os seis episódios!

Vale seu play!

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Cidade Proibida

"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:

Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).

Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!! 

Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!

PS: A abertura ficou excelente!

Assista Agora

"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:

Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).

Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!! 

Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!

PS: A abertura ficou excelente!

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Círculo Fechado

As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

Vale muito o seu play!

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As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

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Cirurgião do Mal

Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" -  e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.

Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.

Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:

Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.

A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.

"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!

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Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" -  e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.

Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.

Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:

Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.

A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.

"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!

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Cisne Negro

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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Clark

Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

Assista Agora

Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

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Clemência

"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.

Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):

Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.

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"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.

Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):

Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.

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Coerência

Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Conclave

"Conclave" é um verdadeiro "House of Cards" do Vaticano - e isso é um baita elogio! Dirigido pelo talentoso Edward Berger (de "Nada de Novo no Front") e roteirizado por Peter Straughan (indicado ao Oscar pelo "O Espião Que Sabia Demais"), o filme adapta o romance de Robert Harris para um verdadeiro thriller político e religioso que mergulha nos segredos e conspirações de um dos processos mais misteriosos e influentes do mundo: a escolha de um novo Papa. O filme combina elementos de suspense psicológico, com um drama verdadeiramente humano e questionamentos éticos e morais que nos tiram do sério. É impressionante como a narrativa é capaz de revelar o impacto do poder perante a fé em contextos de grande tensão, onde o ego parece guiar não só as ações como também as palavras - por mais absurdas que sejam. Assim como o inesquecível "O Nome da Rosa", "Conclave" sabe muito bem equilibrar uma dinâmica intensa com reflexões profundas, oferecendo um retrato fascinante de um sistema fechado e impregnado de tradições milenares.

A trama é centrada no Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), encarregado de supervisionar o conclave que será responsável por eleger o novo Papa após a morte súbita do pontífice. No entanto, à medida que os cardeais se reúnem na Capela Sistina, segredos pessoais, alianças políticas e revelações surpreendentes começam a emergir, colocando em risco não apenas a integridade do processo, mas também a estabilidade da Igreja Católica. Enquanto Lawrence tenta manter a ordem, ele é forçado a enfrentar suas próprias dúvidas de fé e moralidade, criando uma tensão permanente que se reflete em cada decisão do conclave. Confira o trailer:

Edward Berger, mais uma vez, imprime sua marca ao transformar o claustrofóbico ambiente do Vaticano em um palco de intrigas e reviravoltas. Sua direção é precisa ao utilizar planos muito bem pensados - dos abertos e com uma iluminação extremamente dramática para capturar a opulência e a austeridade daquele cenário, como dos fechados onde o silêncio ou os sussurros dos cardeais ao fundo criam uma atmosfera de constante atenção que contrasta com os momentos de introspecção e dúvida do protagonista em meio ao seu caos emocional. A abordagem de Berger, aliás, é cuidadosa nesse sentido, já que o diretor busca de todas as formas manter o equilíbrio entre o realismo e o simbolismo, sem nunca perder o foco nos personagens ou até de desrespeita-los. O roteiro de Peter Straughan adapta o romance de Robert Harris com precisão e inteligência, preservando a complexidade dos temas com diálogos incisivos e cheios de subtexto, refletindo as batalhas internas e externas dos cardeais enquanto navegam pela dicotomia do poder e da espiritualidade. A trama é hábil em revelar os segredos de cada um dos personagens gradualmente, mantendo o suspense enquanto aprofunda as questões delicadas que sustentam a história - porém, também é preciso que se diga, existe uma certa previsibilidade narrativa, mas que acaba quebrando nossa expectativa com outras revelações, de fato, surpreendentes. 

Ralph Fiennes entrega a complexidade de um homem dividido entre sua devoção à Igreja e as verdades desconfortáveis que emergem durante o conclave. Sua performance transmite uma mistura de autoridade, vulnerabilidade e inquietação, tornando seu Cardeal Lawrence um protagonista fascinante e nitidamente humano. O elenco de coadjuvantes é outro golaço do filme - composto por intérpretes talentosos como Stanley Tucci, John Lithgow e Sergio Castellitto, ele traz credibilidade e nuances para personagens tão particulares e influentes que não se surpreenda se você desejar que "Conclave" seja uma minissérie.

Tecnicamente, não posso deixar de citar, "Conclave" é impecável. A fotografia do Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") é luxuosa, aproveitando o excepcional trabalho de Desenho de Produção que reconstrói a arquitetura e a arte do Vaticano para criar um ambiente visualmente deslumbrante, mas também carregado de opressão e ostentação. O uso das sombras e de uma iluminação recortada reflete a dualidade entre a santidade e a corrupção que permeia a narrativa, enquanto a trilha sonora e o desenho de som, evocativa ao extremo, adiciona um peso emocional aos momentos de maior tensão e introspecção - dignos de Oscar.

"Conclave", na sua essência,  é um ótimo drama politico, mais elegante e introspectivo do que estamos acostumados, é verdade; que explora o poder, a fé e a moralidade em um dos contextos mais fascinantes da humanidade. Com uma direção refinada de Edward Berger, um roteiro inteligente de Peter Straughan e atuações marcantes lideradas por Ralph Fiennes, o filme é uma experiência cinematográfica rica, provocativa e marcante, que certamente vai dar muito o que falar no Oscar 2025!

Imperdível!

O filme entra em cartaz dia 23 de janeiro nos cinemas de todo Brasil.

"Conclave" é um verdadeiro "House of Cards" do Vaticano - e isso é um baita elogio! Dirigido pelo talentoso Edward Berger (de "Nada de Novo no Front") e roteirizado por Peter Straughan (indicado ao Oscar pelo "O Espião Que Sabia Demais"), o filme adapta o romance de Robert Harris para um verdadeiro thriller político e religioso que mergulha nos segredos e conspirações de um dos processos mais misteriosos e influentes do mundo: a escolha de um novo Papa. O filme combina elementos de suspense psicológico, com um drama verdadeiramente humano e questionamentos éticos e morais que nos tiram do sério. É impressionante como a narrativa é capaz de revelar o impacto do poder perante a fé em contextos de grande tensão, onde o ego parece guiar não só as ações como também as palavras - por mais absurdas que sejam. Assim como o inesquecível "O Nome da Rosa", "Conclave" sabe muito bem equilibrar uma dinâmica intensa com reflexões profundas, oferecendo um retrato fascinante de um sistema fechado e impregnado de tradições milenares.

A trama é centrada no Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), encarregado de supervisionar o conclave que será responsável por eleger o novo Papa após a morte súbita do pontífice. No entanto, à medida que os cardeais se reúnem na Capela Sistina, segredos pessoais, alianças políticas e revelações surpreendentes começam a emergir, colocando em risco não apenas a integridade do processo, mas também a estabilidade da Igreja Católica. Enquanto Lawrence tenta manter a ordem, ele é forçado a enfrentar suas próprias dúvidas de fé e moralidade, criando uma tensão permanente que se reflete em cada decisão do conclave. Confira o trailer:

Edward Berger, mais uma vez, imprime sua marca ao transformar o claustrofóbico ambiente do Vaticano em um palco de intrigas e reviravoltas. Sua direção é precisa ao utilizar planos muito bem pensados - dos abertos e com uma iluminação extremamente dramática para capturar a opulência e a austeridade daquele cenário, como dos fechados onde o silêncio ou os sussurros dos cardeais ao fundo criam uma atmosfera de constante atenção que contrasta com os momentos de introspecção e dúvida do protagonista em meio ao seu caos emocional. A abordagem de Berger, aliás, é cuidadosa nesse sentido, já que o diretor busca de todas as formas manter o equilíbrio entre o realismo e o simbolismo, sem nunca perder o foco nos personagens ou até de desrespeita-los. O roteiro de Peter Straughan adapta o romance de Robert Harris com precisão e inteligência, preservando a complexidade dos temas com diálogos incisivos e cheios de subtexto, refletindo as batalhas internas e externas dos cardeais enquanto navegam pela dicotomia do poder e da espiritualidade. A trama é hábil em revelar os segredos de cada um dos personagens gradualmente, mantendo o suspense enquanto aprofunda as questões delicadas que sustentam a história - porém, também é preciso que se diga, existe uma certa previsibilidade narrativa, mas que acaba quebrando nossa expectativa com outras revelações, de fato, surpreendentes. 

Ralph Fiennes entrega a complexidade de um homem dividido entre sua devoção à Igreja e as verdades desconfortáveis que emergem durante o conclave. Sua performance transmite uma mistura de autoridade, vulnerabilidade e inquietação, tornando seu Cardeal Lawrence um protagonista fascinante e nitidamente humano. O elenco de coadjuvantes é outro golaço do filme - composto por intérpretes talentosos como Stanley Tucci, John Lithgow e Sergio Castellitto, ele traz credibilidade e nuances para personagens tão particulares e influentes que não se surpreenda se você desejar que "Conclave" seja uma minissérie.

Tecnicamente, não posso deixar de citar, "Conclave" é impecável. A fotografia do Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") é luxuosa, aproveitando o excepcional trabalho de Desenho de Produção que reconstrói a arquitetura e a arte do Vaticano para criar um ambiente visualmente deslumbrante, mas também carregado de opressão e ostentação. O uso das sombras e de uma iluminação recortada reflete a dualidade entre a santidade e a corrupção que permeia a narrativa, enquanto a trilha sonora e o desenho de som, evocativa ao extremo, adiciona um peso emocional aos momentos de maior tensão e introspecção - dignos de Oscar.

"Conclave", na sua essência,  é um ótimo drama politico, mais elegante e introspectivo do que estamos acostumados, é verdade; que explora o poder, a fé e a moralidade em um dos contextos mais fascinantes da humanidade. Com uma direção refinada de Edward Berger, um roteiro inteligente de Peter Straughan e atuações marcantes lideradas por Ralph Fiennes, o filme é uma experiência cinematográfica rica, provocativa e marcante, que certamente vai dar muito o que falar no Oscar 2025!

Imperdível!

O filme entra em cartaz dia 23 de janeiro nos cinemas de todo Brasil.

Conexão Escobar

Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

Vale muito a pena!

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Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

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Crimes em Hollywood

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

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Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

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Crown Heights

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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