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Todo dia a mesma noite

Diretor
Julia Rezende
Elenco
Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Thelmo Fernandes
Ano
2023
País
Brasil

Drama netflix ml-real ml-investigação ml-catastrofe ml-brasil ml-kiss

Todo dia a mesma noite

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

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