indika.tv - ml-investigação

Culpa

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Dahmer: Um Canibal Americano

Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.

Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:

Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.

Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.

Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.

"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.

Vale seu play!

Assista Agora

Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.

Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:

Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.

Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.

Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.

"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.

Vale seu play!

Assista Agora

Dark

"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.

Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:

Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.

Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.

No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.

PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!

Assista Agora

"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.

Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:

Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.

Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.

No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.

PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!

Assista Agora

De Rainha do Veganismo a Foragida

"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...

Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):

Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.

Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.

"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!

Assista Agora

"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...

Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):

Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.

Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.

"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!

Assista Agora

Departure

Departure

Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Na primeira temporada, após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

Assista Agora

Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Na primeira temporada, após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

Assista Agora

Depois da Festa

"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Desaparecida

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Despertar Mortal

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

Assista Agora

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

Assista Agora

Detetive Alex Cross

A nova produção da Prime Vídeo, "Detetive Alex Cross", traz a receita que deu mais do que certo em outras produções de seu catálogo de originais como "Jack Ryan" e "Reacher" - o protagonista herói quase sem "super-poderes", mas que resolve tudo com o que têm deles! É isso, "Cross" (no original), criada por Ben Watkins (de "Burn Notice") e baseada nos livros do renomado autor James Patterson, traz para o streaming um dos personagens mais icônicos da literatura policial contemporânea. Conhecido por sua sagacidade, inteligência emocional e dedicação implacável à justiça, Alex Cross finalmente ganha uma adaptação que explora suas habilidades como investigador e psicólogo forense, ao mesmo tempo em que mergulha em suas lutas pessoais mais íntimas. A série entrega uma narrativa tensa e emocional, seguindo a tradição de produções mais clássicas como "CSI" ou "Criminal Minds", mas com um toque de modernidade, abandonando o estilo procedural, para embarcar em uma jornada melhor desenvolvida onde o protagonista e as suas relações interpessoais também ganham os holofotes.

Na trama, Alex Cross (Aldis Hodge) é um detetive brilhante e comprometido que tenta de todas as formas equilibrar sua vida como pai viúvo com o peso de ser um especialista em casos de homicídios brutais em Washington, DC. A série começa com Cross investigando uma série de crimes que o levam a enfrentar alguns dos assassinos mais perigosos e perturbadores de sua carreira, enquanto lida com a dor de nunca ter conseguido encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Conforme os episódios avançam, a história revela o impacto que esses casos têm na psique de Cross e em seus laços familiares, destacando o preço emocional de sua vocação, especialmente quando alguns fantasmas do passado voltam para assombra-lo. Confira o trailer:

Essa adaptação de Ben Watkins é entretenimento puro. Mesmo que o texto equilibre com perfeição o drama psicológico com boas sequências de tensão e mistério, é de se notar que a proposta aqui não é entregar uma experiência visualmente marcante ou uma trama complexa ao ponto de nos deixar fora da zona de conforto, mas sim nos colocar próximo ao protagonista para que possamos nos divertir com a jornada em si. A narrativa se desenrola em um ritmo envolvente, alternando momentos de mais introspecção com cenas de ação e investigação bem construídas. A escolha de explorar a personalidade multifacetada de Alex Cross em vez de focar exclusivamente nos casos é um elemento que merece ser destacado, pois adiciona profundidade emocional e humaniza o personagem sem que pese demais no ritmo. Nesse sentido, Watkins faz bom uso dos elementos clássicos da obra de Patterson, como os enigmas psicológicos e os antagonistas meticulosos, mas adapta com inteligência para um formato que realmente envolve quem assiste.

A performance de Aldis Hodge é excepcional. Ele entrega uma interpretação que captura tanto a força e a inteligência do personagem quanto suas fragilidades para alguns assuntos - um exemplo disso é a combinação entre a cena onde ele está jantando na casa da namorada com o prólogo onde ele confronta um criminoso em um interrogatório, ambos no primeiro episódioHodge se aproveita de um roteiro eficaz em manter a tensão e o mistério, mas que também reserva espaço para explorar temas como trauma, luto e a resiliência diante da adversidade, para brilhar - ele, de fato, é muito carismático. Os diálogos realmente são bem escritos, muitas vezes carregados de subtexto, e as reviravoltas são bem planejadas, nos moldes mais tradicionais, eu diria. Com isso "Detetive Alex Cross" não foge de temas difíceis, com cenas de violência onde a complexidade do comportamento humano é colocada à prova, mas, por outro lado, também evita cair em um sensacionalismo barato, abordando tais assuntos com mais respeito do que com enrolação.

Agora é preciso alinhar as expectativas. Para se divertir com a série é necessário entender que algumas subtramas podem parecer um pouco forçadas ou até apressadas. Que certos episódios se apoiam em convenções do gênero que podem ser mais previsíveis para aqueles que gostam de thrillers policiais, No entanto, essas questões não devem comprometer a experiência em si, ou seja, não espere uma jornada complexa demais, aqui em "Detetive Alex Cross" o que vale mesmo é o entretenimento despretensioso!

Pode dar o play sem medo e divirta-se!

Assista Agora

A nova produção da Prime Vídeo, "Detetive Alex Cross", traz a receita que deu mais do que certo em outras produções de seu catálogo de originais como "Jack Ryan" e "Reacher" - o protagonista herói quase sem "super-poderes", mas que resolve tudo com o que têm deles! É isso, "Cross" (no original), criada por Ben Watkins (de "Burn Notice") e baseada nos livros do renomado autor James Patterson, traz para o streaming um dos personagens mais icônicos da literatura policial contemporânea. Conhecido por sua sagacidade, inteligência emocional e dedicação implacável à justiça, Alex Cross finalmente ganha uma adaptação que explora suas habilidades como investigador e psicólogo forense, ao mesmo tempo em que mergulha em suas lutas pessoais mais íntimas. A série entrega uma narrativa tensa e emocional, seguindo a tradição de produções mais clássicas como "CSI" ou "Criminal Minds", mas com um toque de modernidade, abandonando o estilo procedural, para embarcar em uma jornada melhor desenvolvida onde o protagonista e as suas relações interpessoais também ganham os holofotes.

Na trama, Alex Cross (Aldis Hodge) é um detetive brilhante e comprometido que tenta de todas as formas equilibrar sua vida como pai viúvo com o peso de ser um especialista em casos de homicídios brutais em Washington, DC. A série começa com Cross investigando uma série de crimes que o levam a enfrentar alguns dos assassinos mais perigosos e perturbadores de sua carreira, enquanto lida com a dor de nunca ter conseguido encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Conforme os episódios avançam, a história revela o impacto que esses casos têm na psique de Cross e em seus laços familiares, destacando o preço emocional de sua vocação, especialmente quando alguns fantasmas do passado voltam para assombra-lo. Confira o trailer:

Essa adaptação de Ben Watkins é entretenimento puro. Mesmo que o texto equilibre com perfeição o drama psicológico com boas sequências de tensão e mistério, é de se notar que a proposta aqui não é entregar uma experiência visualmente marcante ou uma trama complexa ao ponto de nos deixar fora da zona de conforto, mas sim nos colocar próximo ao protagonista para que possamos nos divertir com a jornada em si. A narrativa se desenrola em um ritmo envolvente, alternando momentos de mais introspecção com cenas de ação e investigação bem construídas. A escolha de explorar a personalidade multifacetada de Alex Cross em vez de focar exclusivamente nos casos é um elemento que merece ser destacado, pois adiciona profundidade emocional e humaniza o personagem sem que pese demais no ritmo. Nesse sentido, Watkins faz bom uso dos elementos clássicos da obra de Patterson, como os enigmas psicológicos e os antagonistas meticulosos, mas adapta com inteligência para um formato que realmente envolve quem assiste.

A performance de Aldis Hodge é excepcional. Ele entrega uma interpretação que captura tanto a força e a inteligência do personagem quanto suas fragilidades para alguns assuntos - um exemplo disso é a combinação entre a cena onde ele está jantando na casa da namorada com o prólogo onde ele confronta um criminoso em um interrogatório, ambos no primeiro episódioHodge se aproveita de um roteiro eficaz em manter a tensão e o mistério, mas que também reserva espaço para explorar temas como trauma, luto e a resiliência diante da adversidade, para brilhar - ele, de fato, é muito carismático. Os diálogos realmente são bem escritos, muitas vezes carregados de subtexto, e as reviravoltas são bem planejadas, nos moldes mais tradicionais, eu diria. Com isso "Detetive Alex Cross" não foge de temas difíceis, com cenas de violência onde a complexidade do comportamento humano é colocada à prova, mas, por outro lado, também evita cair em um sensacionalismo barato, abordando tais assuntos com mais respeito do que com enrolação.

Agora é preciso alinhar as expectativas. Para se divertir com a série é necessário entender que algumas subtramas podem parecer um pouco forçadas ou até apressadas. Que certos episódios se apoiam em convenções do gênero que podem ser mais previsíveis para aqueles que gostam de thrillers policiais, No entanto, essas questões não devem comprometer a experiência em si, ou seja, não espere uma jornada complexa demais, aqui em "Detetive Alex Cross" o que vale mesmo é o entretenimento despretensioso!

Pode dar o play sem medo e divirta-se!

Assista Agora

Devs

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

Assista Agora

Disclaimer

Simplesmente imperdível - pela trama e pelo selo do multi-premiado Alfonso Cuarón (vencedor de 4 Oscars com "Roma" e "Gravidade"). Certamente, "Disclaimer" já surge como forte candidata para "Melhor Minissérie de 2024" - e não é nenhum exagero. Essa minissérie da AppleTV+, criada e dirigida por Cuarón, adapta o thriller psicológico homônimo de Renée Knight, com muita competência. Ao explorar as consequências dos segredos e traumas enterrados no passado, o diretor mexicano traz o esmero de sua visão cinematográfica para criar uma narrativa impactante e cheia de tensão. Assim como em obras como "O Segredo dos Seus Olhos" e "Big Little Lies", "Disclaimer" vai revelando camadas de uma história complexa, que envolve a audiência desde os primeiros minutos em uma trama carregada de mistérios, de memórias reprimidas e de conflitos íntimos e pessoais que ameaçam não só desestabilizar a vida dos protagonistas como também transformar seu futuro.

A trama, basicamente, segue Catherine Ravenscroft (Cate Blanchett), uma jornalista investigativa renomada, cuja vida aparentemente estável começa a desmoronar quando ela recebe um livro misterioso que parece revelar segredos obscuros do seu passado. O livro expõe detalhes de um evento traumático e de uma relação extra-conjugal que ela acreditava estar enterrada há 20 anos, obrigando-a a confrontar memórias dolorosas e a lidar com ameaças à sua vida pessoal e profissional. Paralelamente, o autor do livro, Stephen Brigstocke (Kevin Kline), uma figura enigmática e perturbadora, parece ter um interesse mais do que pessoal em Catherine e em sua história, o que gera uma crescente tensão entre os dois, impactando diretamente no casamento e na relação da jornalista com seu filho. Confira o trailer:

Alfonso Cuarón, em sua estreia dirigindo uma minissérie, traz para o streaming sua assinatura visual incontestável - com planos longos, lindos enquadramentos, movimentos de câmera fluidos e um trabalho focado no elenco, pontuando a introspecção como ninguém, Cuarón constrói um drama profundo que se desenrola lentamente, permitindo que o mistério e as nuances dos personagens se revelem de forma gradual. Seu trabalho minucioso cria uma atmosfera de paranoia constante, onde a linha entre verdade e ilusão é frequentemente questionada pela audiência, refletindo como a fragilidade da memória e os efeitos devastadores do trauma podem ser devastadores mesmo tantos anos depois. O roteiro, também de Cuarón, adapta a obra de Knight com muita fidelidade, mas não deixa de incorporar elementos visuais e simbólicos que adicionam camadas muito interessantes para a narrativa. Veja, "Disclaimer" não se limita a ser um thriller psicológico com forte apelo sexual ao melhor estilo "Instinto Selvagem", ela também discute temas mais dramáticos como o peso da culpa ou a busca por perdão, sempre explorando o verdadeiro impacto das escolhas do passado.

Com um roteiro que utiliza a dualidade de uma obra literária como um símbolo de confronto interno, onde Catherine precisa lidar com suas memórias mais sombrias, e a relação com o autor como um reflexo de tensão entre o desejo de esconder algo e a necessidade de enfrentá-lo, Cate Blanchett surge com uma atuação poderosa, transmitindo a complexidade de uma mulher que, ao mesmo tempo que tenta se proteger, precisa enfrentar algumas verdades que ameaçam destruir tudo o que ela construiu. Blanchett domina a cena com um misto de intensidade e vulnerabilidade, mostrando o desgaste emocional da personagem enquanto lida com a pressão do arrependimento (ou da falta dele). Kevin Kline, por outro lado, também entrega uma performance inquietante, nesse caso oscilando entre a fragilidade e a ameaça, criando uma dinâmica intrigante e perigosa com a protagonista que vale o aplauso.

"Disclaimer" é mais um acerto da AppleTV+ e mesmo que alguns possam considerar lenta demais, te garanto: vale muito pela forma como Cuarón brinca com nossa percepção de "certo e errado" em uma narrativa que se concentra mais no desenvolvimento psicológico dos personagens do que em reviravoltas que tendem a surpreender a audiência. Essa escolha é tão intencional quanto acertada, afinal é ela que reforça o tom introspectivo da história e que potencializa as ambiguidades de uma conclusão que deixa espaço para múltiplas interpretações, ou seja, não espere respostas fáceis e sim uma jornada empolgante que vai te tirar da zona de conforto e te provocar muitas discussões (e teorias)!

Vale demais o seu play!

Assista Agora

Simplesmente imperdível - pela trama e pelo selo do multi-premiado Alfonso Cuarón (vencedor de 4 Oscars com "Roma" e "Gravidade"). Certamente, "Disclaimer" já surge como forte candidata para "Melhor Minissérie de 2024" - e não é nenhum exagero. Essa minissérie da AppleTV+, criada e dirigida por Cuarón, adapta o thriller psicológico homônimo de Renée Knight, com muita competência. Ao explorar as consequências dos segredos e traumas enterrados no passado, o diretor mexicano traz o esmero de sua visão cinematográfica para criar uma narrativa impactante e cheia de tensão. Assim como em obras como "O Segredo dos Seus Olhos" e "Big Little Lies", "Disclaimer" vai revelando camadas de uma história complexa, que envolve a audiência desde os primeiros minutos em uma trama carregada de mistérios, de memórias reprimidas e de conflitos íntimos e pessoais que ameaçam não só desestabilizar a vida dos protagonistas como também transformar seu futuro.

A trama, basicamente, segue Catherine Ravenscroft (Cate Blanchett), uma jornalista investigativa renomada, cuja vida aparentemente estável começa a desmoronar quando ela recebe um livro misterioso que parece revelar segredos obscuros do seu passado. O livro expõe detalhes de um evento traumático e de uma relação extra-conjugal que ela acreditava estar enterrada há 20 anos, obrigando-a a confrontar memórias dolorosas e a lidar com ameaças à sua vida pessoal e profissional. Paralelamente, o autor do livro, Stephen Brigstocke (Kevin Kline), uma figura enigmática e perturbadora, parece ter um interesse mais do que pessoal em Catherine e em sua história, o que gera uma crescente tensão entre os dois, impactando diretamente no casamento e na relação da jornalista com seu filho. Confira o trailer:

Alfonso Cuarón, em sua estreia dirigindo uma minissérie, traz para o streaming sua assinatura visual incontestável - com planos longos, lindos enquadramentos, movimentos de câmera fluidos e um trabalho focado no elenco, pontuando a introspecção como ninguém, Cuarón constrói um drama profundo que se desenrola lentamente, permitindo que o mistério e as nuances dos personagens se revelem de forma gradual. Seu trabalho minucioso cria uma atmosfera de paranoia constante, onde a linha entre verdade e ilusão é frequentemente questionada pela audiência, refletindo como a fragilidade da memória e os efeitos devastadores do trauma podem ser devastadores mesmo tantos anos depois. O roteiro, também de Cuarón, adapta a obra de Knight com muita fidelidade, mas não deixa de incorporar elementos visuais e simbólicos que adicionam camadas muito interessantes para a narrativa. Veja, "Disclaimer" não se limita a ser um thriller psicológico com forte apelo sexual ao melhor estilo "Instinto Selvagem", ela também discute temas mais dramáticos como o peso da culpa ou a busca por perdão, sempre explorando o verdadeiro impacto das escolhas do passado.

Com um roteiro que utiliza a dualidade de uma obra literária como um símbolo de confronto interno, onde Catherine precisa lidar com suas memórias mais sombrias, e a relação com o autor como um reflexo de tensão entre o desejo de esconder algo e a necessidade de enfrentá-lo, Cate Blanchett surge com uma atuação poderosa, transmitindo a complexidade de uma mulher que, ao mesmo tempo que tenta se proteger, precisa enfrentar algumas verdades que ameaçam destruir tudo o que ela construiu. Blanchett domina a cena com um misto de intensidade e vulnerabilidade, mostrando o desgaste emocional da personagem enquanto lida com a pressão do arrependimento (ou da falta dele). Kevin Kline, por outro lado, também entrega uma performance inquietante, nesse caso oscilando entre a fragilidade e a ameaça, criando uma dinâmica intrigante e perigosa com a protagonista que vale o aplauso.

"Disclaimer" é mais um acerto da AppleTV+ e mesmo que alguns possam considerar lenta demais, te garanto: vale muito pela forma como Cuarón brinca com nossa percepção de "certo e errado" em uma narrativa que se concentra mais no desenvolvimento psicológico dos personagens do que em reviravoltas que tendem a surpreender a audiência. Essa escolha é tão intencional quanto acertada, afinal é ela que reforça o tom introspectivo da história e que potencializa as ambiguidades de uma conclusão que deixa espaço para múltiplas interpretações, ou seja, não espere respostas fáceis e sim uma jornada empolgante que vai te tirar da zona de conforto e te provocar muitas discussões (e teorias)!

Vale demais o seu play!

Assista Agora

Dopesick

Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Dossiê Chapecó

Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Doutor Castor

Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

Assista Agora

Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

Assista Agora

Doze Jurados

Você vai se surpreender com a qualidade narrativa e visual de "Doze Jurados"! Se em um primeiro momento a série da Één, emissora pública belga (mas que ganhou notoriedade ao ser distribuída mundialmente pela Netflix), soa como mais um drama jurídico, em poucos episódios você vai entender que além de uma crítica contundente sobre o sistema judicial da Bélgica, a história ainda expõe um elemento crucial que vai te provocar muitas reflexões: a parcialidade de um ser humano despreparado para uma determinada função. "De Twaalf" (no original) se diferencia pela forma como apresenta um estudo profundo do impacto emocional e psicológico de um julgamento de grande repercussão, tanto sobre os envolvidos diretamente no caso quanto (e especialmente) sobre os jurados. Criada por Sanne Nuyens, Bert Van Dael e Roel Mondelaers, a série traz uma abordagem até certo ponto inovadora, deixando os aspectos legais do julgamento apenas como complemento da narrativa para priorizar a vida pessoal dos jurados, cujas histórias individuais acabam influenciando suas percepções e decisões. "Doze Jurados" é uma trama complexa que vai além dos estereótipos das séries jurídicas tradicionais, oferecendo uma experiência realmente densa e emocionalmente impactante.

A premissa gira em torno de um julgamento que atrai grande atenção da mídia na Bélgica: Frie Palmers (Maaike Cafmeyer) é uma mulher divorciada acusada de dois assassinatos - da filha pequena e de sua melhor amiga. A série acompanha o desenrolar do processo do ponto de vista dos doze jurados que precisam decidir o destino de Frie. No entanto, enquanto o caso é exposto no tribunal, cada jurado traz para a corte suas próprias bagagens emocionais e questões pessoais, que acabam moldando a forma como cada um interpreta as evidências e os depoimentos das testemunhas, criando assim uma dinâmica capaz de destruir o que mais deveria importar: a busca pela verdade! Confira o trailer (com legendas em inglês):

Produzido pelaEyeworks Film, "Doze Jurados" brilha ao construir uma narrativa realmente envolvente que dá voz aos jurados, provocando um desconforto de fato angustiante ao expor que um julgamento não é apenas sobre a culpa ou a inocência, mas também sobre como a vida de cada um é afetada ao longo do processo. A série destaca o impacto que é ter que decidir o futuro de outra pessoa, mostrando como a vida dos jurados começam a se entrelaçar com o julgamento, trazendo para os holofotes dilemas pessoais, traumas e segredos que, intercaladas com o drama jurídico em si, cria uma jornada verdadeiramente rica em nuances como dificilmente encontramos no gênero. Veja, a roteiro mistura com sabedoria a tensão das cenas de tribunal com o desenvolvimento profundo dos personagens - especialmente nos flashbacks dos personagens. Essa proposta conceitual é eficaz em manter o ritmo da narrativa e entregar um certo tom de mistério em torno de todos os envolvidos no caso.

A direção de Wouter Bouvijn (de "1985") é precisa, com uma estética fria e claustrofóbica ao ponto de refletir o peso do julgamento com a mesma força que as tensões internas dos personagens - a câmera de Bouvijn tem um movimento quase documental, um identidade do cinema independente europeu e um timinig perfeito na construção do drama. Repare também como a fotografia utiliza bem o contraste entre os ambientes do tribunal, austeros e impessoais, com os momentos de intimidade dos jurados fora da corte, onde suas emoções ganham destaque quase sempre com uma lente fechada e um desfoque belíssimo do segundo plano. Essa proposta em criar o contrate visual entre o ambiente controlado do tribunal e a turbulência emocional do cotidiano ajuda demais a potencializar a atmosfera de crescente tensão - é impressionante como sentimos esse mood! As performances do elenco também merecem destaque, especialmente de Maaike Cafmeyer - ela traz uma intensidade contida que alimenta a ambiguidade da narrativa. Frie é retratada como uma mulher que oscila entre a dor e a frieza, o que nos mantém em dúvida sobre sua culpa ou inocência até o fim da temporada. Cafmeyer consegue transmitir essa ambiguidade com uma atuação sutil, sem exageros, o que torna seu personagem ainda mais intrigante. Outro nome que merece destaque é o de Maaike Neuville, a Delphine Spijkers - belíssimo trabalho.

"Doze Jurados" é um retrato realista do sistema de justiça e um recorte dos mais inteligente sobre a falibilidade humana. A série não oferece respostas fáceis; ao contrário, ela nos desafia a confrontar a complexidade de um julgamento pelos olhos da imperfeição humana, mostrando como nossas decisões são moldadas por nossas experiências pessoais e emoções. O roteiro, premiado no Cannes International Series Festival (ou para os mais íntimos, CannesSeries) sabe equilibrar diferentes narrativas de seus personagens, sem perder o foco no julgamento em si. eu diria que o golaço da série está na sua capacidade de escancarar a fragilidade e a subjetividade ao humanizar quem julga sem a propriedade de julgar!

Vale muito o seu play! 

Assista Agora

Você vai se surpreender com a qualidade narrativa e visual de "Doze Jurados"! Se em um primeiro momento a série da Één, emissora pública belga (mas que ganhou notoriedade ao ser distribuída mundialmente pela Netflix), soa como mais um drama jurídico, em poucos episódios você vai entender que além de uma crítica contundente sobre o sistema judicial da Bélgica, a história ainda expõe um elemento crucial que vai te provocar muitas reflexões: a parcialidade de um ser humano despreparado para uma determinada função. "De Twaalf" (no original) se diferencia pela forma como apresenta um estudo profundo do impacto emocional e psicológico de um julgamento de grande repercussão, tanto sobre os envolvidos diretamente no caso quanto (e especialmente) sobre os jurados. Criada por Sanne Nuyens, Bert Van Dael e Roel Mondelaers, a série traz uma abordagem até certo ponto inovadora, deixando os aspectos legais do julgamento apenas como complemento da narrativa para priorizar a vida pessoal dos jurados, cujas histórias individuais acabam influenciando suas percepções e decisões. "Doze Jurados" é uma trama complexa que vai além dos estereótipos das séries jurídicas tradicionais, oferecendo uma experiência realmente densa e emocionalmente impactante.

A premissa gira em torno de um julgamento que atrai grande atenção da mídia na Bélgica: Frie Palmers (Maaike Cafmeyer) é uma mulher divorciada acusada de dois assassinatos - da filha pequena e de sua melhor amiga. A série acompanha o desenrolar do processo do ponto de vista dos doze jurados que precisam decidir o destino de Frie. No entanto, enquanto o caso é exposto no tribunal, cada jurado traz para a corte suas próprias bagagens emocionais e questões pessoais, que acabam moldando a forma como cada um interpreta as evidências e os depoimentos das testemunhas, criando assim uma dinâmica capaz de destruir o que mais deveria importar: a busca pela verdade! Confira o trailer (com legendas em inglês):

Produzido pelaEyeworks Film, "Doze Jurados" brilha ao construir uma narrativa realmente envolvente que dá voz aos jurados, provocando um desconforto de fato angustiante ao expor que um julgamento não é apenas sobre a culpa ou a inocência, mas também sobre como a vida de cada um é afetada ao longo do processo. A série destaca o impacto que é ter que decidir o futuro de outra pessoa, mostrando como a vida dos jurados começam a se entrelaçar com o julgamento, trazendo para os holofotes dilemas pessoais, traumas e segredos que, intercaladas com o drama jurídico em si, cria uma jornada verdadeiramente rica em nuances como dificilmente encontramos no gênero. Veja, a roteiro mistura com sabedoria a tensão das cenas de tribunal com o desenvolvimento profundo dos personagens - especialmente nos flashbacks dos personagens. Essa proposta conceitual é eficaz em manter o ritmo da narrativa e entregar um certo tom de mistério em torno de todos os envolvidos no caso.

A direção de Wouter Bouvijn (de "1985") é precisa, com uma estética fria e claustrofóbica ao ponto de refletir o peso do julgamento com a mesma força que as tensões internas dos personagens - a câmera de Bouvijn tem um movimento quase documental, um identidade do cinema independente europeu e um timinig perfeito na construção do drama. Repare também como a fotografia utiliza bem o contraste entre os ambientes do tribunal, austeros e impessoais, com os momentos de intimidade dos jurados fora da corte, onde suas emoções ganham destaque quase sempre com uma lente fechada e um desfoque belíssimo do segundo plano. Essa proposta em criar o contrate visual entre o ambiente controlado do tribunal e a turbulência emocional do cotidiano ajuda demais a potencializar a atmosfera de crescente tensão - é impressionante como sentimos esse mood! As performances do elenco também merecem destaque, especialmente de Maaike Cafmeyer - ela traz uma intensidade contida que alimenta a ambiguidade da narrativa. Frie é retratada como uma mulher que oscila entre a dor e a frieza, o que nos mantém em dúvida sobre sua culpa ou inocência até o fim da temporada. Cafmeyer consegue transmitir essa ambiguidade com uma atuação sutil, sem exageros, o que torna seu personagem ainda mais intrigante. Outro nome que merece destaque é o de Maaike Neuville, a Delphine Spijkers - belíssimo trabalho.

"Doze Jurados" é um retrato realista do sistema de justiça e um recorte dos mais inteligente sobre a falibilidade humana. A série não oferece respostas fáceis; ao contrário, ela nos desafia a confrontar a complexidade de um julgamento pelos olhos da imperfeição humana, mostrando como nossas decisões são moldadas por nossas experiências pessoais e emoções. O roteiro, premiado no Cannes International Series Festival (ou para os mais íntimos, CannesSeries) sabe equilibrar diferentes narrativas de seus personagens, sem perder o foco no julgamento em si. eu diria que o golaço da série está na sua capacidade de escancarar a fragilidade e a subjetividade ao humanizar quem julga sem a propriedade de julgar!

Vale muito o seu play! 

Assista Agora

Drive

"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!

Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):

Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".

É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White.  A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.

A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero. 

"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!

Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):

Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".

É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White.  A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.

A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero. 

"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Durante a Tormenta

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

Assista Agora 

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

Assista Agora 

Educação Americana

"Educação Americana - Fraude e Privilégio" é um docudrama da Netflix do mesmo diretor dos excelentes "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e do "O Desaparecimento de Madeleine McCann". Para quem não sabe, docudrama é aquele tipo de documentário que usa de encenações com atores para construir uma narrativa visual que sente a falta de um bom material de arquivo para ilustrar o texto sobre uma determinada passagem da história.

O filme mostra os detalhes de uma investigação do FBI que desvendou um enorme esquema de suborno que simplesmente desqualificava todos os meios legais que um jovem tinha para ingressar em grandes universidades dos EUA. "Operation Varsity Blues: The College Admissions Scandal" (título original) coloca Rick Singer no centro de uma verdadeira conspiração mafiosa que usava da credibilidade de "Life Planner" do seu idealizador, para criar oportunidades para jovens de famílias muito ricas nos programas esportivos de instituições como Georgetown, Yale, Stanford, entre outras. A grande questão, no entanto, era que esses jovens nunca foram esportistas de verdade e muito menos tinham notas que justificassem uma admissão genuína. Confira o trailer:

O grande problema de "Educação Americana" é justamente o conceito narrativo escolhido para contar essa história impressionante - o docudrama, por si só, não possui o orçamento compatível com os recursos que uma obra dessa magnitude merece. O que eu quero dizer é que as encenações soam falsas, já que os atores são fracos, a produção das cenas são medianas e a direção está completamente fora de sua zona de conforto. Porém, quando o diretor Chris Smith consegue montar as cenas fictícias dentro de um contexto histórico real, usando o audio original das conversas telefônicas e depois mesclando com os depoimentos de personagens que, de alguma forma, participaram daquele universo, tudo funciona muito melhor e acaba ganhando um ritmo bem interessante.

O próprio Rick Singer é um personagem dos mais interessantes, já que consegue unir na mesma pessoa, uma capacidade de comunicação absurda, inteligência acima da média e excelente visão de negócios com um caráter dos mais desprezíveis - o cara além de ser um bandido, ainda é um grande traidor! Quanto ao roteiro, senti que ele talvez tenha derrapado um pouco, pois da forma como é contada a história, faltam algumas explicações de como os esquemas eram construídos em detalhes - só as conversas telefônicas criaram a linha narrativa, mas faltaram elementos que pudessem unir os casos particulares de cada uma das "vítimas" com o esquema como um todo. O próprio modus operandi vai se transformando durante a linha temporal e isso acaba sendo pouco explorado: reparem no personagem que fazia os testes para os alunos incapazes de conseguir a nota exigida pela Universidade - ele entra, sai da história e nem nos relacionamos com ele!

"Educação Americana - Fraude e Privilégio" serve muito como critica ao sistema educacional americano, a sociedade e a hipocrisia do ser humano, e nesse ponto alcançou seu objetivo. O documentário também funciona como um excelente entretenimento, cheio de informações pontuais e relevantes para quem quer ampliar sua visão de mundo.

Enfim, vale o play? Claro que sim!

Assista Agora

"Educação Americana - Fraude e Privilégio" é um docudrama da Netflix do mesmo diretor dos excelentes "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e do "O Desaparecimento de Madeleine McCann". Para quem não sabe, docudrama é aquele tipo de documentário que usa de encenações com atores para construir uma narrativa visual que sente a falta de um bom material de arquivo para ilustrar o texto sobre uma determinada passagem da história.

O filme mostra os detalhes de uma investigação do FBI que desvendou um enorme esquema de suborno que simplesmente desqualificava todos os meios legais que um jovem tinha para ingressar em grandes universidades dos EUA. "Operation Varsity Blues: The College Admissions Scandal" (título original) coloca Rick Singer no centro de uma verdadeira conspiração mafiosa que usava da credibilidade de "Life Planner" do seu idealizador, para criar oportunidades para jovens de famílias muito ricas nos programas esportivos de instituições como Georgetown, Yale, Stanford, entre outras. A grande questão, no entanto, era que esses jovens nunca foram esportistas de verdade e muito menos tinham notas que justificassem uma admissão genuína. Confira o trailer:

O grande problema de "Educação Americana" é justamente o conceito narrativo escolhido para contar essa história impressionante - o docudrama, por si só, não possui o orçamento compatível com os recursos que uma obra dessa magnitude merece. O que eu quero dizer é que as encenações soam falsas, já que os atores são fracos, a produção das cenas são medianas e a direção está completamente fora de sua zona de conforto. Porém, quando o diretor Chris Smith consegue montar as cenas fictícias dentro de um contexto histórico real, usando o audio original das conversas telefônicas e depois mesclando com os depoimentos de personagens que, de alguma forma, participaram daquele universo, tudo funciona muito melhor e acaba ganhando um ritmo bem interessante.

O próprio Rick Singer é um personagem dos mais interessantes, já que consegue unir na mesma pessoa, uma capacidade de comunicação absurda, inteligência acima da média e excelente visão de negócios com um caráter dos mais desprezíveis - o cara além de ser um bandido, ainda é um grande traidor! Quanto ao roteiro, senti que ele talvez tenha derrapado um pouco, pois da forma como é contada a história, faltam algumas explicações de como os esquemas eram construídos em detalhes - só as conversas telefônicas criaram a linha narrativa, mas faltaram elementos que pudessem unir os casos particulares de cada uma das "vítimas" com o esquema como um todo. O próprio modus operandi vai se transformando durante a linha temporal e isso acaba sendo pouco explorado: reparem no personagem que fazia os testes para os alunos incapazes de conseguir a nota exigida pela Universidade - ele entra, sai da história e nem nos relacionamos com ele!

"Educação Americana - Fraude e Privilégio" serve muito como critica ao sistema educacional americano, a sociedade e a hipocrisia do ser humano, e nesse ponto alcançou seu objetivo. O documentário também funciona como um excelente entretenimento, cheio de informações pontuais e relevantes para quem quer ampliar sua visão de mundo.

Enfim, vale o play? Claro que sim!

Assista Agora

El Camino

"El Camino" não é um grande filme! Mas antes que as pessoas me destruam por aqui, deixe-me explicar: os 120 minutos de "El Camino" são, na verdade, um Epílogo de "Breaking Bad", um episódio de final de temporada, daqueles de 2 horas, que nos fazem torcer para que nunca acabe de tão contagiante que a história é! Se você não assistiu toda temporada de "Breaking Bad", a chance de você achar "El Camino" apenas "OK" é grande, mas nós que esperamos anos por um pouco mais do que consideramos uma das melhores séries de todos os tempos, aproveitamos cada frame dessa maravilhosa experiência que o Vince Gilligan nos entregou.

Como o Teaser e o Trailer já anunciavam, o filme gira em torno de um Jesse Pinkman (Aaron Paul) atordoado, logo após fugir do cativeiro (fato que acontece justamente no último episódio da série), tentando reencontrar um caminho para sua vida e deixar todo esse passado para trás! O que me surpreendeu é a jornada de transformação que, mais uma vez, Gilligan foi capaz de construir - mas para entender exatamente o que estou falando será preciso ler nossa análise completa. Para você, que precisa apenas da nossa sugestão temos duas opções: 1- Se assistiu a série inteira, assista o filme agora e agradeça a Netflix por ter nos proporcionado mais duas horas de êxtase. 2- Se não se interessou pela série, mas quer ver mesmo assim, se prepare para duas horas de diversão, mas não espere um filme transformador ou inesquecível!

Se arriscar na construção de um novo capítulo depois de alcançar o "Céu" com um final como o de Breaking Bad, 6 anos depois, é algo que poucos fariam! Vince Gilligan fez; e mesmo depois de 4 temporadas de "Better Call Saul", uma ponta parecia solta: o que teria acontecido com Jesse Pinkman? "El Camino" não só responde essa pergunta, como prova, mais uma vez, que além de louco, Gilligan tem total controle sobre suas idéias e sobre todo um universo que ele construiu! "El Camino" não pode ser visto como uma obra isolada, ele é parte de uma estrutura que nos transporta mais uma vez para o Novo Mexico, mas com uma Albuquerque diferente, menos contrastada, quente; agora ela é mais fria, melancólica, angustiante! Em um mês onde "Coringa" bagunçou a mente de quem assistiu, pela sua profundidade psicológica, Jessie Pinkman assume o mesmo papel em "El Camino" - e aqui vai mais um dica: assistam o resumo antes de começar o filme ou, melhor, assistam os 5 últimos episódios de "Breaking Bad" para ter uma imersão 100% segura!

A trama é simples ao mesmo tempo que complexa: Jesse está escapando em um carro El Camino (ah, Vince Gilligan por favor não pare por aqui!!!) após ter sido libertado por Walter White (Bryan Cranston) do cativeiro onde foi forçado a cozinhar metanfetamina por meses - esse momento é imediatamente depois de tudo que vimos em "Felina", episódio final de "Breaking Bad". Com a polícia atrás, já que ele foi reconhecido como cúmplice de Heisenberg encontrado morto no local da chacina, Pinkman é obrigado a procurar alguns personagens marcantes da série para conseguir algum dinheiro ou ter uma oportunidade de um recomeço - aqui é preciso dizer que alguns flashbacks funcionam melhores que outros, pois em alguns momentos Gilligan parece "roubar no jogo" para explicar uma ação do personagem, mas em outros momentos, mesmo ele "roubando no jogo", temos a impressão que tudo aquilo já tinha sido construído anteriormente de tão orgânico que ficou. Pois bem, toda essa jornada é pontuada com uma fotografia típica de Marshall Adams, parceiro conceitual de Gilligan. Grandes angulares, time-lapses, planos inventivos e inesperados, tudo está ali - como deveria ser!

O roteiro é enxuto, direto e cheio de detalhes como Breaking Bad adorava nos presentear. Agora, Aaron Paul, ou melhor, Jesse Pinkman, se transformando em tudo que ele mais odiava no Walter White e comprovando que o discurso transformador de Heisenberg era, no mínimo, coerente - meu Deus, isso foi genial! O ponto alto do filme! Outro detalhe bacana que merece ser observado é a importância que personagens satélites ganharam - pode até soar como Fan Service, mas não dá para negar que foi mais uma jogada inteligente de Gilligan: Old Joe, Skinny Pete (agora o Teaser faz ainda mais sentido), Badger, Neil e até o Ed - olha, que criatividade a favor da história como um todo! Muito legal!

"El Camino" não pode ser o ponto final. Muito do que você vai encontrar deve aparecer em algum  flashfoward de "Better Call Saul" ainda e, quem sabe, em algum outro "filme" ou "série", pois o material, ou melhor, as histórias paralelas parecem ter um força impensável - Pinkman é um exemplo, já que seu personagem não passaria da 1ª temporada de "Breaking Bad". Só torço para que essas surpresas em torno das idéias do Vince Gilligan nunca acabem!!!

Por favor, dê o play e divirta-se com aquela sensação deliciosa de nostalgia temperada com uma espécie de inspiração criativa do mais alto nível!

Assista Agora 

"El Camino" não é um grande filme! Mas antes que as pessoas me destruam por aqui, deixe-me explicar: os 120 minutos de "El Camino" são, na verdade, um Epílogo de "Breaking Bad", um episódio de final de temporada, daqueles de 2 horas, que nos fazem torcer para que nunca acabe de tão contagiante que a história é! Se você não assistiu toda temporada de "Breaking Bad", a chance de você achar "El Camino" apenas "OK" é grande, mas nós que esperamos anos por um pouco mais do que consideramos uma das melhores séries de todos os tempos, aproveitamos cada frame dessa maravilhosa experiência que o Vince Gilligan nos entregou.

Como o Teaser e o Trailer já anunciavam, o filme gira em torno de um Jesse Pinkman (Aaron Paul) atordoado, logo após fugir do cativeiro (fato que acontece justamente no último episódio da série), tentando reencontrar um caminho para sua vida e deixar todo esse passado para trás! O que me surpreendeu é a jornada de transformação que, mais uma vez, Gilligan foi capaz de construir - mas para entender exatamente o que estou falando será preciso ler nossa análise completa. Para você, que precisa apenas da nossa sugestão temos duas opções: 1- Se assistiu a série inteira, assista o filme agora e agradeça a Netflix por ter nos proporcionado mais duas horas de êxtase. 2- Se não se interessou pela série, mas quer ver mesmo assim, se prepare para duas horas de diversão, mas não espere um filme transformador ou inesquecível!

Se arriscar na construção de um novo capítulo depois de alcançar o "Céu" com um final como o de Breaking Bad, 6 anos depois, é algo que poucos fariam! Vince Gilligan fez; e mesmo depois de 4 temporadas de "Better Call Saul", uma ponta parecia solta: o que teria acontecido com Jesse Pinkman? "El Camino" não só responde essa pergunta, como prova, mais uma vez, que além de louco, Gilligan tem total controle sobre suas idéias e sobre todo um universo que ele construiu! "El Camino" não pode ser visto como uma obra isolada, ele é parte de uma estrutura que nos transporta mais uma vez para o Novo Mexico, mas com uma Albuquerque diferente, menos contrastada, quente; agora ela é mais fria, melancólica, angustiante! Em um mês onde "Coringa" bagunçou a mente de quem assistiu, pela sua profundidade psicológica, Jessie Pinkman assume o mesmo papel em "El Camino" - e aqui vai mais um dica: assistam o resumo antes de começar o filme ou, melhor, assistam os 5 últimos episódios de "Breaking Bad" para ter uma imersão 100% segura!

A trama é simples ao mesmo tempo que complexa: Jesse está escapando em um carro El Camino (ah, Vince Gilligan por favor não pare por aqui!!!) após ter sido libertado por Walter White (Bryan Cranston) do cativeiro onde foi forçado a cozinhar metanfetamina por meses - esse momento é imediatamente depois de tudo que vimos em "Felina", episódio final de "Breaking Bad". Com a polícia atrás, já que ele foi reconhecido como cúmplice de Heisenberg encontrado morto no local da chacina, Pinkman é obrigado a procurar alguns personagens marcantes da série para conseguir algum dinheiro ou ter uma oportunidade de um recomeço - aqui é preciso dizer que alguns flashbacks funcionam melhores que outros, pois em alguns momentos Gilligan parece "roubar no jogo" para explicar uma ação do personagem, mas em outros momentos, mesmo ele "roubando no jogo", temos a impressão que tudo aquilo já tinha sido construído anteriormente de tão orgânico que ficou. Pois bem, toda essa jornada é pontuada com uma fotografia típica de Marshall Adams, parceiro conceitual de Gilligan. Grandes angulares, time-lapses, planos inventivos e inesperados, tudo está ali - como deveria ser!

O roteiro é enxuto, direto e cheio de detalhes como Breaking Bad adorava nos presentear. Agora, Aaron Paul, ou melhor, Jesse Pinkman, se transformando em tudo que ele mais odiava no Walter White e comprovando que o discurso transformador de Heisenberg era, no mínimo, coerente - meu Deus, isso foi genial! O ponto alto do filme! Outro detalhe bacana que merece ser observado é a importância que personagens satélites ganharam - pode até soar como Fan Service, mas não dá para negar que foi mais uma jogada inteligente de Gilligan: Old Joe, Skinny Pete (agora o Teaser faz ainda mais sentido), Badger, Neil e até o Ed - olha, que criatividade a favor da história como um todo! Muito legal!

"El Camino" não pode ser o ponto final. Muito do que você vai encontrar deve aparecer em algum  flashfoward de "Better Call Saul" ainda e, quem sabe, em algum outro "filme" ou "série", pois o material, ou melhor, as histórias paralelas parecem ter um força impensável - Pinkman é um exemplo, já que seu personagem não passaria da 1ª temporada de "Breaking Bad". Só torço para que essas surpresas em torno das idéias do Vince Gilligan nunca acabem!!!

Por favor, dê o play e divirta-se com aquela sensação deliciosa de nostalgia temperada com uma espécie de inspiração criativa do mais alto nível!

Assista Agora 

Ela Disse

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora