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A Cobra do Alabama

"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.

"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):

"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".

Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.

Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".

Vale seu play!

Assista Agora

"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.

"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):

"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".

Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.

Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".

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A Conspiração Consumista

Embora "A Conspiração Consumista" se aproprie de um tom meio "Cavaleiro do Apocalipse" e apresente uma "leve" inclinação ideológica, é inegável que esse documentário da Netflix nos faz refletir. Provocativo e impactante, "Buy Now! The Shopping Conspiracy" pontua com muito simbolismo (e carregado de críticas) as estratégias ocultas usadas por grandes marcas globais para perpetuar o ciclo de consumismo desenfreado. Sob a direção incisiva de Nic Stacey (de "O Mundo Segundo Jeff Goldblum"), o filme assume um tom carregado de deboche para expor como as empresas priorizam o lucro acima de tudo, muitas vezes às custas de impactos ambientais, éticos e psicológicos. O documentário segue a linha de produções como "Privacidade Hackeada" e até de "Minimalism: A Documentary About the Important Things", mas aqui com uma abordagem ainda mais direta e acusatória, apontando o dedo para o que considera o lado mais sombrio da indústria do consumo.

A narrativa central é construída em torno de uma série de entrevistas com especialistas em marketing, investigadores, economistas e ex-funcionários de grandes empresas que revelam táticas como da obsolescência programada ou da manipulação psicológica por meio de publicidade, para influenciar decisões de compra. Esses depoimentos são entrelaçados com dados alarmantes e imagens impactantes de práticas, no mínimo, controversas, criando uma visão abrangente do desenvolvimento tecnológico e de processos internos de um sistema tão bem estabelecido culturalmente que parece impossível de escapar. Confira o trailer (em inglês):

Com o intuito de facilitar o entendimento sem tornar a narrativa maçante, Nic Stacey adota uma abordagem visual bastante dinâmica, combinando gráficos informativos com cenas de consumo excessivo e impactos ambientais - como aterros e praias repletos de resíduos eletrônicos. A direção utiliza uma montagem rápida, eficaz e impactante para manter o ritmo e prender a atenção da audiência, enquanto o tom de "A Conspiração Consumista"oscila entre o informativo e o alarmante - eu diria até mais alarmante do que informativo. Stacey não apenas apresenta os fatos, mas os contextualiza, mostrando como o consumismo moderno está enraizado em práticas corporativas cuidadosamente orquestradas que remontam ao século XX.

O roteiro escrito por Stacey vai além de simplesmente criticar o consumismo; ele explora as implicações mais profundas de um sistema que alimenta inseguranças e cria necessidades artificiais muito baseado no que encontramos nas redes sociais. Entrevistados explicam como as marcas exploram nossas emoções e vulnerabilidades, desde a promessa de felicidade até o medo constante de ficarmos para trás. Altos executivos (de marketing) e ex-funcionários (de empresas como Amazon e Apple) traçam as conexões entre o consumismo e os impactos econômicos globais, enquanto ambientalistas destacam os custos devastadores que essas práticas têm para o planeta. Veja, a busca pelo equilíbrio entre dados concretos e histórias mais humanas faz com que o documentário ressoe tanto em um nível intelectual quanto emocional, mas repare como sempre um certo tom de hipocrisia pontua a narrativa.

Com os efeitos visuais e uma trilha sonora colocados de forma estratégica para elevar as mensagens que variam de urgentes à melancólicas, refletindo a gravidade das revelações, "A Conspiração Consumista" é uma verdadeira imersão pelas camadas mais angustiantes do consumo urbano criando uma sensação de inquietação que persiste ao longo do filme - a capacidade de Stacey em conectar os pontos entre as práticas corporativas e o comportamento do consumidor, chega a ser impressionante. No entanto nos pareceu tendencioso já que sua narrativa prioriza culpar as empresas e, se não isentar, diminuir a responsabilidade dos indivíduos. 

O documentário levanta questões importantes, mas nem sempre oferece respostas claras, deixando a audiência com a sensação de que a solução é tão complexa quanto o problema, ou seja, esteja preparado para refletir, mas não se apegue ao sensacionalismo - não é isso que nos fará mudar! Vale muito o seu play! 

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Embora "A Conspiração Consumista" se aproprie de um tom meio "Cavaleiro do Apocalipse" e apresente uma "leve" inclinação ideológica, é inegável que esse documentário da Netflix nos faz refletir. Provocativo e impactante, "Buy Now! The Shopping Conspiracy" pontua com muito simbolismo (e carregado de críticas) as estratégias ocultas usadas por grandes marcas globais para perpetuar o ciclo de consumismo desenfreado. Sob a direção incisiva de Nic Stacey (de "O Mundo Segundo Jeff Goldblum"), o filme assume um tom carregado de deboche para expor como as empresas priorizam o lucro acima de tudo, muitas vezes às custas de impactos ambientais, éticos e psicológicos. O documentário segue a linha de produções como "Privacidade Hackeada" e até de "Minimalism: A Documentary About the Important Things", mas aqui com uma abordagem ainda mais direta e acusatória, apontando o dedo para o que considera o lado mais sombrio da indústria do consumo.

A narrativa central é construída em torno de uma série de entrevistas com especialistas em marketing, investigadores, economistas e ex-funcionários de grandes empresas que revelam táticas como da obsolescência programada ou da manipulação psicológica por meio de publicidade, para influenciar decisões de compra. Esses depoimentos são entrelaçados com dados alarmantes e imagens impactantes de práticas, no mínimo, controversas, criando uma visão abrangente do desenvolvimento tecnológico e de processos internos de um sistema tão bem estabelecido culturalmente que parece impossível de escapar. Confira o trailer (em inglês):

Com o intuito de facilitar o entendimento sem tornar a narrativa maçante, Nic Stacey adota uma abordagem visual bastante dinâmica, combinando gráficos informativos com cenas de consumo excessivo e impactos ambientais - como aterros e praias repletos de resíduos eletrônicos. A direção utiliza uma montagem rápida, eficaz e impactante para manter o ritmo e prender a atenção da audiência, enquanto o tom de "A Conspiração Consumista"oscila entre o informativo e o alarmante - eu diria até mais alarmante do que informativo. Stacey não apenas apresenta os fatos, mas os contextualiza, mostrando como o consumismo moderno está enraizado em práticas corporativas cuidadosamente orquestradas que remontam ao século XX.

O roteiro escrito por Stacey vai além de simplesmente criticar o consumismo; ele explora as implicações mais profundas de um sistema que alimenta inseguranças e cria necessidades artificiais muito baseado no que encontramos nas redes sociais. Entrevistados explicam como as marcas exploram nossas emoções e vulnerabilidades, desde a promessa de felicidade até o medo constante de ficarmos para trás. Altos executivos (de marketing) e ex-funcionários (de empresas como Amazon e Apple) traçam as conexões entre o consumismo e os impactos econômicos globais, enquanto ambientalistas destacam os custos devastadores que essas práticas têm para o planeta. Veja, a busca pelo equilíbrio entre dados concretos e histórias mais humanas faz com que o documentário ressoe tanto em um nível intelectual quanto emocional, mas repare como sempre um certo tom de hipocrisia pontua a narrativa.

Com os efeitos visuais e uma trilha sonora colocados de forma estratégica para elevar as mensagens que variam de urgentes à melancólicas, refletindo a gravidade das revelações, "A Conspiração Consumista" é uma verdadeira imersão pelas camadas mais angustiantes do consumo urbano criando uma sensação de inquietação que persiste ao longo do filme - a capacidade de Stacey em conectar os pontos entre as práticas corporativas e o comportamento do consumidor, chega a ser impressionante. No entanto nos pareceu tendencioso já que sua narrativa prioriza culpar as empresas e, se não isentar, diminuir a responsabilidade dos indivíduos. 

O documentário levanta questões importantes, mas nem sempre oferece respostas claras, deixando a audiência com a sensação de que a solução é tão complexa quanto o problema, ou seja, esteja preparado para refletir, mas não se apegue ao sensacionalismo - não é isso que nos fará mudar! Vale muito o seu play! 

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A Diplomata

É inegável que desde seu anúncio, expectativas foram criadas em cima de "A Diplomata" como uma substituta natural de "House of Cards" pela perspectiva politica que a série traria para sua trama. De fato, ter Debora Cahn como criadora, trazendo toda sua expertise de "West Wing", potencializou essa premissa, no entanto, e até para alinharmos nossa expectativa, essa produção da Netflix está mais próxima da dinâmica de "Homeland" (também de Cahn) ou de "Scandal" - na forma e no conteúdo. Isso ruim? Não, muito pelo contrário, mas também não pode ser considerada uma produção "prime" como acompanhamos nos primórdios da Netflix.

Em meio a uma crise política de grandes proporções, graças a um ataque terrorista contra um porta-aviões britânico, Kate (Keri Russell) é designada pelo presidente americano para ser a representante dos EUA em Londres e assim tentar colocar panos quentes na tensão mundial enquanto uma delicada investigação acontece. Porém, esse novo posto de Kate é considerado largamente cerimonial e ela se sente inadequada para cumprir tal função, além de saber que as diferenças entre essa missão e sua personalidade podem afetar o seu casamento e ainda impactar o resto do mundo. Confira o trailer:

Não será preciso mais que alguns minutos para entender que Kate Wyler está anos luz de Frank e Claire Underwood - embora bem construída por Russel, a personagem não tem as nuances da dupla de "House of Cards", a profundidade dramática e muito menos o charme com aquele toque de ironia, muitas vezes requintada, de se comunicar. Isso impacta diretamente na forma como a direção conduz a série, e mais uma vez falando de requinte, faz falta um David Fincher. Por outro lado, "A Diplomata" acerta ao simplificar aquele universo complexo dos bastidores políticos, muitas vezes se apoiando em alívios cômicos bem inseridos, o que suaviza a narrativa e nos aproxima dos personagens sem a necessidade de julga-los a todo momento. Veja, nomes de cargos e suas dinâmicas de poder são condensados de uma forma que até os jargões políticos soam naturais, e toda aquela dinâmica de informações entre várias esferas de governo que nos deixavam de cabelo em pé em "House of Cards", na verdade, faz pouca ou nenhuma diferença no conflito central aqui - o que eu quero dizer, é que o entretenimento despretensioso impera, deixando as teorias de conspiração apenas como um bom e equilibrado recheio.

Outro ponto que merece ser observado está na maneira pela qual a série constrói um cenário plenamente reconhecível, porém sem se deixar datar por ele. Mais uma vez na linha de "Homeland" a história pega emprestado o contexto, se localiza, para só depois valorizar os pilares dramáticos de um mundo em crise onde a confiança na democracia está sempre colocada a prova. Os protagonistas, Kate e Hal (Rufus Sewell), funcionam como o elo de ligação entre a veracidade e o fantasioso - e até quando a tensão ganha força, o texto logo se apropria de um tom mais satírico para valorizar sua identidade. Imagine, isso só aconteceria em "House of Cards" se a Shonda Rhimes fosse sua criadora.

"A Diplomata" tem mesmo um ritmo frenético, com episódios dinâmicos e bem estruturados que nos permite diversão sem sofrimento. O roteiro sabe dosar a acidez de seus diálogos, com uma trama política envolvente e protagonistas divertidos - um verdadeiro mix de gêneros e estilos que vai se conectar com um público muito maior do que aqueles fãs de thrillers políticos mais sérios e densos. Com uma produção que merece elogios, belas locações e um requintado desenho de produção, a série tem tudo para cair nas graças da audiência e ganhar algumas temporadas - o que ela não pode, é ceder a tentação de querer ser algo que não nasceu para ser e você sabe do que eu estou falando!

Vale seu play!

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É inegável que desde seu anúncio, expectativas foram criadas em cima de "A Diplomata" como uma substituta natural de "House of Cards" pela perspectiva politica que a série traria para sua trama. De fato, ter Debora Cahn como criadora, trazendo toda sua expertise de "West Wing", potencializou essa premissa, no entanto, e até para alinharmos nossa expectativa, essa produção da Netflix está mais próxima da dinâmica de "Homeland" (também de Cahn) ou de "Scandal" - na forma e no conteúdo. Isso ruim? Não, muito pelo contrário, mas também não pode ser considerada uma produção "prime" como acompanhamos nos primórdios da Netflix.

Em meio a uma crise política de grandes proporções, graças a um ataque terrorista contra um porta-aviões britânico, Kate (Keri Russell) é designada pelo presidente americano para ser a representante dos EUA em Londres e assim tentar colocar panos quentes na tensão mundial enquanto uma delicada investigação acontece. Porém, esse novo posto de Kate é considerado largamente cerimonial e ela se sente inadequada para cumprir tal função, além de saber que as diferenças entre essa missão e sua personalidade podem afetar o seu casamento e ainda impactar o resto do mundo. Confira o trailer:

Não será preciso mais que alguns minutos para entender que Kate Wyler está anos luz de Frank e Claire Underwood - embora bem construída por Russel, a personagem não tem as nuances da dupla de "House of Cards", a profundidade dramática e muito menos o charme com aquele toque de ironia, muitas vezes requintada, de se comunicar. Isso impacta diretamente na forma como a direção conduz a série, e mais uma vez falando de requinte, faz falta um David Fincher. Por outro lado, "A Diplomata" acerta ao simplificar aquele universo complexo dos bastidores políticos, muitas vezes se apoiando em alívios cômicos bem inseridos, o que suaviza a narrativa e nos aproxima dos personagens sem a necessidade de julga-los a todo momento. Veja, nomes de cargos e suas dinâmicas de poder são condensados de uma forma que até os jargões políticos soam naturais, e toda aquela dinâmica de informações entre várias esferas de governo que nos deixavam de cabelo em pé em "House of Cards", na verdade, faz pouca ou nenhuma diferença no conflito central aqui - o que eu quero dizer, é que o entretenimento despretensioso impera, deixando as teorias de conspiração apenas como um bom e equilibrado recheio.

Outro ponto que merece ser observado está na maneira pela qual a série constrói um cenário plenamente reconhecível, porém sem se deixar datar por ele. Mais uma vez na linha de "Homeland" a história pega emprestado o contexto, se localiza, para só depois valorizar os pilares dramáticos de um mundo em crise onde a confiança na democracia está sempre colocada a prova. Os protagonistas, Kate e Hal (Rufus Sewell), funcionam como o elo de ligação entre a veracidade e o fantasioso - e até quando a tensão ganha força, o texto logo se apropria de um tom mais satírico para valorizar sua identidade. Imagine, isso só aconteceria em "House of Cards" se a Shonda Rhimes fosse sua criadora.

"A Diplomata" tem mesmo um ritmo frenético, com episódios dinâmicos e bem estruturados que nos permite diversão sem sofrimento. O roteiro sabe dosar a acidez de seus diálogos, com uma trama política envolvente e protagonistas divertidos - um verdadeiro mix de gêneros e estilos que vai se conectar com um público muito maior do que aqueles fãs de thrillers políticos mais sérios e densos. Com uma produção que merece elogios, belas locações e um requintado desenho de produção, a série tem tudo para cair nas graças da audiência e ganhar algumas temporadas - o que ela não pode, é ceder a tentação de querer ser algo que não nasceu para ser e você sabe do que eu estou falando!

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A Escada

Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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A Extorsão

A Extorsão

Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

Vale seu play!

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Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

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A Garota da Foto

Na linha "True Crime", "A Garota da Foto" é um documentário que não se preocupa em se aprofundar em cada detalhe da investigação - o que muitas vezes deixam as séries do gênero cansativas demais. Em pouco mais de 90 minutos, o filme vai direto ao ponto, sem enrolação, e apresenta uma história completamente surreal, onde, pouco a pouco, a diretora Skye Borgman (do premiado "Sequestrada à Luz do Dia") vai apresentando as peças desse misterioso quebra-cabeça para que a audiência tenha a sensação de construir, junto com a narrativa, uma linha temporal coerente com os fatos que vários personagens-chaves vão descobrindo - e é muito importante que você se atente a esse detalhe para que não se tenha a impressão de que o roteiro está roubando no jogo só para te surpreender.

A morte misteriosa de uma jovem mulher depois um suposto atropelamento e o subsequente sequestro de seu filho de dois anos abrem alguns mistérios que perdurariam por quase 30 anos. Qual a verdadeira identidade da mulher? Quem é, de fato, o homem que sequestrou seu filho? E o que aconteceu com o garoto após o sequestro? Confira o trailer (em inglês):

Talvez o que chame mais a atenção nessa produção original da Netflix, e que foi brilhantemente retratado por Borgman, seja a capacidade que um ser humano tem de se tornar maligno de acordo com suas experiências de vida. Embora possa parecer injustificável, e de fato os fatos que você vai ter que lidar durante o filme nos levam a pensar que existe uma complexidade que vai além do nosso julgamento, a história de Franklin Delano Floyd e suas atitudes durante tantos anos parecem se conectar e fazer sentido quando entendemos o todo. São movimentos tão cruéis (e por isso defini a história como "surreal"), que o personagem soa ficcional.

Seguindo aquela fórmula "dramatização + imagens de arquivo + entrevista com os envolvidos", "A Garota da Foto" consegue entregar uma narrativa dinâmica em seu "conteúdo", mas que para alguns pode parecer levemente monótona em sua "forma". Sim, o roteiro é redondinho ao expor as entranhas do caso e a montagem consegue deixar esse contexto bem fácil de entender, mesmo com a quebra da linearidade temporal bem marcante; mas não espere nada de novo no que diz respeito ao tom ou ao conceito visual - eu diria que o filme é uma mistura de "Lost Girls"com "O Caso Evandro", onde o resultado caminha para um desfecho cada vez mais doloroso e trágico. 

Para os fãs do gênero, "A Garota da Foto" certamente vai valer muito a pena. É inegável como a cada descoberta, nossa curiosidade só vai aumentando. Embora a história seja um enorme emaranhado de informações, conforme desvendamos alguns mistérios, outros vão se formando e é assim que trama caminha até o fim - em apenas um momento, no inicio do terceiro ato, tive a impressão que a diretora cedeu à tentação do "plot twist matador" e roubou no jogo inserindo uma personagem importante que nem ao menos havia sido citada durante toda a jornada de investigação. Mas ok, isso não vai prejudicar sua experiência até porquê entendemos rapidamente a estrutura de que quando tudo parece que está resolvido, sempre uma nova informação surge e muda os rumos da investigação.

Dito isso, "A Garota da Foto" acerta ao tratar o tema com respeito (e não é fácil), sem qualquer exploração sensacionalista (o que é tentador), e até quando dá voz ao Floyd não mitifica o criminoso como já vimos em outras produções.

Pode dar o play que vale muito a pena!

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Na linha "True Crime", "A Garota da Foto" é um documentário que não se preocupa em se aprofundar em cada detalhe da investigação - o que muitas vezes deixam as séries do gênero cansativas demais. Em pouco mais de 90 minutos, o filme vai direto ao ponto, sem enrolação, e apresenta uma história completamente surreal, onde, pouco a pouco, a diretora Skye Borgman (do premiado "Sequestrada à Luz do Dia") vai apresentando as peças desse misterioso quebra-cabeça para que a audiência tenha a sensação de construir, junto com a narrativa, uma linha temporal coerente com os fatos que vários personagens-chaves vão descobrindo - e é muito importante que você se atente a esse detalhe para que não se tenha a impressão de que o roteiro está roubando no jogo só para te surpreender.

A morte misteriosa de uma jovem mulher depois um suposto atropelamento e o subsequente sequestro de seu filho de dois anos abrem alguns mistérios que perdurariam por quase 30 anos. Qual a verdadeira identidade da mulher? Quem é, de fato, o homem que sequestrou seu filho? E o que aconteceu com o garoto após o sequestro? Confira o trailer (em inglês):

Talvez o que chame mais a atenção nessa produção original da Netflix, e que foi brilhantemente retratado por Borgman, seja a capacidade que um ser humano tem de se tornar maligno de acordo com suas experiências de vida. Embora possa parecer injustificável, e de fato os fatos que você vai ter que lidar durante o filme nos levam a pensar que existe uma complexidade que vai além do nosso julgamento, a história de Franklin Delano Floyd e suas atitudes durante tantos anos parecem se conectar e fazer sentido quando entendemos o todo. São movimentos tão cruéis (e por isso defini a história como "surreal"), que o personagem soa ficcional.

Seguindo aquela fórmula "dramatização + imagens de arquivo + entrevista com os envolvidos", "A Garota da Foto" consegue entregar uma narrativa dinâmica em seu "conteúdo", mas que para alguns pode parecer levemente monótona em sua "forma". Sim, o roteiro é redondinho ao expor as entranhas do caso e a montagem consegue deixar esse contexto bem fácil de entender, mesmo com a quebra da linearidade temporal bem marcante; mas não espere nada de novo no que diz respeito ao tom ou ao conceito visual - eu diria que o filme é uma mistura de "Lost Girls"com "O Caso Evandro", onde o resultado caminha para um desfecho cada vez mais doloroso e trágico. 

Para os fãs do gênero, "A Garota da Foto" certamente vai valer muito a pena. É inegável como a cada descoberta, nossa curiosidade só vai aumentando. Embora a história seja um enorme emaranhado de informações, conforme desvendamos alguns mistérios, outros vão se formando e é assim que trama caminha até o fim - em apenas um momento, no inicio do terceiro ato, tive a impressão que a diretora cedeu à tentação do "plot twist matador" e roubou no jogo inserindo uma personagem importante que nem ao menos havia sido citada durante toda a jornada de investigação. Mas ok, isso não vai prejudicar sua experiência até porquê entendemos rapidamente a estrutura de que quando tudo parece que está resolvido, sempre uma nova informação surge e muda os rumos da investigação.

Dito isso, "A Garota da Foto" acerta ao tratar o tema com respeito (e não é fácil), sem qualquer exploração sensacionalista (o que é tentador), e até quando dá voz ao Floyd não mitifica o criminoso como já vimos em outras produções.

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A Garota da Vez

Esse filme é excelente! Com um recorte preciso e angustiante, "A Garota da Vez" transforma uma história absurda em um estudo provocativo sobre o descaso, a manipulação e o perigo inerente de ser mulher em uma sociedade estruturalmente machista. Anna Kendrick, que faz sua estreia na direção, entrega um thriller psicológico que combina habilmente o suspense com uma crítica afiada, utilizando um estilo narrativo que remete a um cinema mais independente, ela explora o sombrio encontro entre o entretenimento e a tragédia anunciada. Inspirado em fatos reais, o filme joga luz sobre os bastidores de um famoso programa de TV dos anos 70 e expõe a responsabilidade moral negligenciada em um contexto que beira o surreal. As legendas finais, inclusive, deixam claro o quão sério e alarmante foi esse caso - eu diria até que muito mais grave do que muitos poderiam imaginar.

"Woman of the Hour", no original, segue Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz que aceita participar de um popular programa de namoro na TV. Lá, ela interage com Rodney Alcala (Daniel Zovatto), um homem charmoso e enigmático que concorre para ganhar um encontro com ela. O que Cheryl desconhece, no entanto, é que Rodney é um assassino em série. A tensão do filme nasce dessa premissa perturbadora e é amplificada pela alternância entre o palco do programa, com seu verniz de entretenimento inocente, e os momentos de horror silencioso que muitas mulheres enfrentaram fora dele. Confira o trailer:

Assim como em "A Assistente", o filme recusa entregar para audiência os momentos mais explícitos de violência - uma decisão conceitual que torna "A Garota da Vez"ainda mais potente. Anna Kendrick demonstra grande maturidade em sua estreia como diretora, equilibrando diferentes tons para construir uma atmosfera de desconforto constante. O pavor e a opressão estão refletidos nos detalhes - repare nos planos fechados com os olhares tensos das mulheres e nos cortes rápidos e precisos que aumentam a sensação de "perigo" - seja em um humilhante teste de elenco, na investida desconfortável em um bar ou no isolamento de um estacionamento vazio. Veja, Kendrick compreende a força do não-dito, capturando assim o horror cotidiano sem precisar recorrer ao sensacionalismo ou a repostas fáceis.

O roteiro de Ian McDonald (do premiado *Some Freaks*) é outro ponto a ser elogiado. Ágil e afiado, ele critica a superficialidade do entretenimento da época com a mesma força com que revela, de forma gradual, as camadas de um perigo muito mais profundo: o machismo estrutural e institucionalizado. O diálogo, mesmo nos momentos mais banais, carrega subtextos potentes que expõem como a cultura dos anos 70, com suas dinâmicas de poder disfarçadas de normalidade, criava um ambiente perfeito para predadores como Alcala. A não-linearidade da narrativa, aliás, funciona como um trunfo aqui, conectando momentos dispersos que, juntos, revelam com uma clareza inquietante como Cheryl e outras mulheres foram vítimas de um sistema falho e complacente. Anna Kendrick, como protagonista, traz o carisma e a vulnerabilidade para Cheryl. Ela equilibra o papel social de sua personagem, uma mulher forçada a sorrir e parecer acessível; com o terror crescente assim que percebe que existe um perigo real ao seu redor. Já Daniel Zovatto entrega uma performance assustadora, oscilando entre o charme sedutor e o olhar frio e vazio, que denuncia a verdadeira natureza de seu personagem. Sua interpretação transmite os segredos da manipulação de uma forma tão ameaçadora que chega a incomodar.

Tecnicamente, "A Garota da Vez" é impecável. A direção de fotografia do Zach Kuperstein (de "Não se Mexa") utiliza tons saturados e o brilho artificial da televisão dos anos 70, criando um contraste marcante com as cenas externas, mais sombrias e totalmente naturalista. Esse conceito visual reforça a dualidade entre o entretenimento ingênuo e a realidade brutal que se escondia por trás das câmeras - essa dinâmica intensifica o suspense e o desconforto, pontuando os momentos de maior tensão sem jamais sobrecarregar a narrativa. Agora um ponto é preciso ser destacado: é realmente impossível não pensar nessa história como uma potencial temporada da série *Monstros*, de Ryan Murphy. O aprofundamento na psicologia de Alcala, por exemplo, é apenas sugerido, deixando a audiência com uma curiosidade que Kendrick escolhe deliberadamente não saciar. Funciona, mas também admito que, nos tempos de true crime fazendo tanto sucesso nos streamings, dava para ir um pouquinho mais fundo!

Embarque na proposta do filme que vai valer muito o seu play!

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Esse filme é excelente! Com um recorte preciso e angustiante, "A Garota da Vez" transforma uma história absurda em um estudo provocativo sobre o descaso, a manipulação e o perigo inerente de ser mulher em uma sociedade estruturalmente machista. Anna Kendrick, que faz sua estreia na direção, entrega um thriller psicológico que combina habilmente o suspense com uma crítica afiada, utilizando um estilo narrativo que remete a um cinema mais independente, ela explora o sombrio encontro entre o entretenimento e a tragédia anunciada. Inspirado em fatos reais, o filme joga luz sobre os bastidores de um famoso programa de TV dos anos 70 e expõe a responsabilidade moral negligenciada em um contexto que beira o surreal. As legendas finais, inclusive, deixam claro o quão sério e alarmante foi esse caso - eu diria até que muito mais grave do que muitos poderiam imaginar.

"Woman of the Hour", no original, segue Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz que aceita participar de um popular programa de namoro na TV. Lá, ela interage com Rodney Alcala (Daniel Zovatto), um homem charmoso e enigmático que concorre para ganhar um encontro com ela. O que Cheryl desconhece, no entanto, é que Rodney é um assassino em série. A tensão do filme nasce dessa premissa perturbadora e é amplificada pela alternância entre o palco do programa, com seu verniz de entretenimento inocente, e os momentos de horror silencioso que muitas mulheres enfrentaram fora dele. Confira o trailer:

Assim como em "A Assistente", o filme recusa entregar para audiência os momentos mais explícitos de violência - uma decisão conceitual que torna "A Garota da Vez"ainda mais potente. Anna Kendrick demonstra grande maturidade em sua estreia como diretora, equilibrando diferentes tons para construir uma atmosfera de desconforto constante. O pavor e a opressão estão refletidos nos detalhes - repare nos planos fechados com os olhares tensos das mulheres e nos cortes rápidos e precisos que aumentam a sensação de "perigo" - seja em um humilhante teste de elenco, na investida desconfortável em um bar ou no isolamento de um estacionamento vazio. Veja, Kendrick compreende a força do não-dito, capturando assim o horror cotidiano sem precisar recorrer ao sensacionalismo ou a repostas fáceis.

O roteiro de Ian McDonald (do premiado *Some Freaks*) é outro ponto a ser elogiado. Ágil e afiado, ele critica a superficialidade do entretenimento da época com a mesma força com que revela, de forma gradual, as camadas de um perigo muito mais profundo: o machismo estrutural e institucionalizado. O diálogo, mesmo nos momentos mais banais, carrega subtextos potentes que expõem como a cultura dos anos 70, com suas dinâmicas de poder disfarçadas de normalidade, criava um ambiente perfeito para predadores como Alcala. A não-linearidade da narrativa, aliás, funciona como um trunfo aqui, conectando momentos dispersos que, juntos, revelam com uma clareza inquietante como Cheryl e outras mulheres foram vítimas de um sistema falho e complacente. Anna Kendrick, como protagonista, traz o carisma e a vulnerabilidade para Cheryl. Ela equilibra o papel social de sua personagem, uma mulher forçada a sorrir e parecer acessível; com o terror crescente assim que percebe que existe um perigo real ao seu redor. Já Daniel Zovatto entrega uma performance assustadora, oscilando entre o charme sedutor e o olhar frio e vazio, que denuncia a verdadeira natureza de seu personagem. Sua interpretação transmite os segredos da manipulação de uma forma tão ameaçadora que chega a incomodar.

Tecnicamente, "A Garota da Vez" é impecável. A direção de fotografia do Zach Kuperstein (de "Não se Mexa") utiliza tons saturados e o brilho artificial da televisão dos anos 70, criando um contraste marcante com as cenas externas, mais sombrias e totalmente naturalista. Esse conceito visual reforça a dualidade entre o entretenimento ingênuo e a realidade brutal que se escondia por trás das câmeras - essa dinâmica intensifica o suspense e o desconforto, pontuando os momentos de maior tensão sem jamais sobrecarregar a narrativa. Agora um ponto é preciso ser destacado: é realmente impossível não pensar nessa história como uma potencial temporada da série *Monstros*, de Ryan Murphy. O aprofundamento na psicologia de Alcala, por exemplo, é apenas sugerido, deixando a audiência com uma curiosidade que Kendrick escolhe deliberadamente não saciar. Funciona, mas também admito que, nos tempos de true crime fazendo tanto sucesso nos streamings, dava para ir um pouquinho mais fundo!

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A Garota Desconhecida

Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

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Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

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A Grande Descoberta

"A Grande Descoberta", minissérie sensação da Netflix, está longe de ser genial, mas entrega um ótimo entretenimento - e mesmo sendo sueca, não colocaria o selo "drama policial nórdico" para defini-la. Então vamos por partes. "Genombrottet", no original, é muito envolvente, especialmente por se tratar de um fato real que nos provoca muita curiosidade ao longo dos 4 episódios. Dirigida pela Lisa Siwe (da versão original de "The Bridge") e baseada no livro de não-ficção de Anna Bodin e Peter Sjölund, a obra sabe combinar mistério, ciência e drama em uma narrativa que explora as possibilidades e os dilemas éticos da genealogia genética como a última esperança na solução de um duplo homicídio. Com uma abordagem que mescla realismo e tensão, a minissérie examina as dificuldades de solucionar um crime revoltante e que acabou servindo de oportunidade para revolucionar a adoção da ciência forense na Suécia - o único "porém" é que sua narrativa acaba cedendo a tentação de "roubar no jogo" para parecer mais surpreendente... e não precisava. Isso prejudica nossa experiência? Acredito que não, mas certamente coloca seu roteiro em uma prateleira, digamos, menos elogiável! Mas calma, a investigação é sim emocionante e a reflexão sobre o impacto do passado na busca pela justiça, custe o que custar, também nos move e nos satisfaz como audiência - apenas ficamos com a sensação de que, pelo seu potencial, "A Grande Descoberta" poderia ser ainda melhor!

Pois bem, a trama acompanha a investigação de um assassinato bárbaro e não resolvido que chocou a Suécia nos anos 2000. Durante 16 anos, o incansável detetive John (Peter Eggers) perdeu quase tudo na vida ao se dedicar à busca de um criminoso que marcou sua carreira. Em uma jornada que parecia não ter solução, ele conhece o genealogista Per (Mattias Nordkvist) e ambos decidem trabalhar juntos para tentar descobrir quem é o assassino antes mesmo que o caso seja arquivado pela policia local.

(a Netflix não disponibilizou um trailer da minissérie)

Desde o primeiro episódio, a narrativa explora uma investigação cheia de nuances que durou muitos anos - deixando para depois os fatos que abriram as novas possibilidades de se resolver crimes arquivados, Oskar Söderlund, conhecido por seu trabalho em "Dinheiro Fácil: A Série", constrói um roteiro que tenta equilibrar o rigor investigativo com o drama mais humano, trazendo à tona as implicações emocionais, morais e burocráticas do uso de uma tecnologia avançada para a resolução de crimes. A narrativa, nesse sentido, é habilmente estruturada, alternando entre os pequenos avanços da investigação tradicional e os eventos que sucederam o crime, permitindo que a audiência compreenda o peso histórico do caso e as questões científicas que tornaram possível sua resolução. Veja, enquanto a policia enfrenta desafios técnicos, legais e éticos, a minissérie revela o impacto desse caso na vida de John e das famílias da vítimas - mas nunca se aprofunda em nenhum dos conflitos que propõe.

Lisa Siwe, na direção, imprime uma sensibilidade que combina menos tensão com mais introspecção, evitando sensacionalismos, claro, mas colocando o foco nas consequências pessoais do crime e de sua investigação. Sua abordagem mais flat utiliza uma paleta de cores sombrias e uma cinematografia cuidadosa para refletir a atmosfera de mistério e as emoções contidas dos personagens, mas foge do conceito nórdico de composição visual, ou seja, as paisagens escandinavas, ao mesmo tempo belas e desoladoras, nesse caso não adicionam uma camada conceitual para amplificar a intensidade da narrativa como estamos acostumados a encontrar em outras produções do gênero. O elenco principal, liderado por Peter Eggers, transmite a autenticidade e profundidade emocional. Sua interpretação equilibra a determinação de um investigador que busca a verdade com a empatia de alguém que entende o impacto humano de sua busca por respostas. Mattias Nordkvist também merece destaque, trazendo um certo carisma que realmente contrasta com a complexidade técnica de seu trabalho e com a pressão emocional de ser a última carta da manga.

Apesar de algumas derrapadas, "A Grande Descoberta" é uma minissérie que vai agradar muita gente pela sua fluidez e pouca complexidade. Com episódios de 40 minutos no máximo, encontramos uma dinâmica narrativa bem interessante, onde sempre acontece algo, que diverte sem precisar recorrer ao impacto visual para nos prender ou chocar - o foco, saiba disso, está na investigação pelo viés mais humano em um primeiro momento e depois passa a olhar para certos aspectos técnicos da genealogia genética para servir de ferramenta de discussões éticas e morais onde "o fim pode justificar os meios" passa a ser o gatilho dramático que pauta o desenvolvimento da história.

Vale seu play!

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"A Grande Descoberta", minissérie sensação da Netflix, está longe de ser genial, mas entrega um ótimo entretenimento - e mesmo sendo sueca, não colocaria o selo "drama policial nórdico" para defini-la. Então vamos por partes. "Genombrottet", no original, é muito envolvente, especialmente por se tratar de um fato real que nos provoca muita curiosidade ao longo dos 4 episódios. Dirigida pela Lisa Siwe (da versão original de "The Bridge") e baseada no livro de não-ficção de Anna Bodin e Peter Sjölund, a obra sabe combinar mistério, ciência e drama em uma narrativa que explora as possibilidades e os dilemas éticos da genealogia genética como a última esperança na solução de um duplo homicídio. Com uma abordagem que mescla realismo e tensão, a minissérie examina as dificuldades de solucionar um crime revoltante e que acabou servindo de oportunidade para revolucionar a adoção da ciência forense na Suécia - o único "porém" é que sua narrativa acaba cedendo a tentação de "roubar no jogo" para parecer mais surpreendente... e não precisava. Isso prejudica nossa experiência? Acredito que não, mas certamente coloca seu roteiro em uma prateleira, digamos, menos elogiável! Mas calma, a investigação é sim emocionante e a reflexão sobre o impacto do passado na busca pela justiça, custe o que custar, também nos move e nos satisfaz como audiência - apenas ficamos com a sensação de que, pelo seu potencial, "A Grande Descoberta" poderia ser ainda melhor!

Pois bem, a trama acompanha a investigação de um assassinato bárbaro e não resolvido que chocou a Suécia nos anos 2000. Durante 16 anos, o incansável detetive John (Peter Eggers) perdeu quase tudo na vida ao se dedicar à busca de um criminoso que marcou sua carreira. Em uma jornada que parecia não ter solução, ele conhece o genealogista Per (Mattias Nordkvist) e ambos decidem trabalhar juntos para tentar descobrir quem é o assassino antes mesmo que o caso seja arquivado pela policia local.

(a Netflix não disponibilizou um trailer da minissérie)

Desde o primeiro episódio, a narrativa explora uma investigação cheia de nuances que durou muitos anos - deixando para depois os fatos que abriram as novas possibilidades de se resolver crimes arquivados, Oskar Söderlund, conhecido por seu trabalho em "Dinheiro Fácil: A Série", constrói um roteiro que tenta equilibrar o rigor investigativo com o drama mais humano, trazendo à tona as implicações emocionais, morais e burocráticas do uso de uma tecnologia avançada para a resolução de crimes. A narrativa, nesse sentido, é habilmente estruturada, alternando entre os pequenos avanços da investigação tradicional e os eventos que sucederam o crime, permitindo que a audiência compreenda o peso histórico do caso e as questões científicas que tornaram possível sua resolução. Veja, enquanto a policia enfrenta desafios técnicos, legais e éticos, a minissérie revela o impacto desse caso na vida de John e das famílias da vítimas - mas nunca se aprofunda em nenhum dos conflitos que propõe.

Lisa Siwe, na direção, imprime uma sensibilidade que combina menos tensão com mais introspecção, evitando sensacionalismos, claro, mas colocando o foco nas consequências pessoais do crime e de sua investigação. Sua abordagem mais flat utiliza uma paleta de cores sombrias e uma cinematografia cuidadosa para refletir a atmosfera de mistério e as emoções contidas dos personagens, mas foge do conceito nórdico de composição visual, ou seja, as paisagens escandinavas, ao mesmo tempo belas e desoladoras, nesse caso não adicionam uma camada conceitual para amplificar a intensidade da narrativa como estamos acostumados a encontrar em outras produções do gênero. O elenco principal, liderado por Peter Eggers, transmite a autenticidade e profundidade emocional. Sua interpretação equilibra a determinação de um investigador que busca a verdade com a empatia de alguém que entende o impacto humano de sua busca por respostas. Mattias Nordkvist também merece destaque, trazendo um certo carisma que realmente contrasta com a complexidade técnica de seu trabalho e com a pressão emocional de ser a última carta da manga.

Apesar de algumas derrapadas, "A Grande Descoberta" é uma minissérie que vai agradar muita gente pela sua fluidez e pouca complexidade. Com episódios de 40 minutos no máximo, encontramos uma dinâmica narrativa bem interessante, onde sempre acontece algo, que diverte sem precisar recorrer ao impacto visual para nos prender ou chocar - o foco, saiba disso, está na investigação pelo viés mais humano em um primeiro momento e depois passa a olhar para certos aspectos técnicos da genealogia genética para servir de ferramenta de discussões éticas e morais onde "o fim pode justificar os meios" passa a ser o gatilho dramático que pauta o desenvolvimento da história.

Vale seu play!

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A Grande Entrevista

Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.

Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:

Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme  ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.

Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.

Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.

Vale muito a pena!

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Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.

Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:

Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme  ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.

Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.

Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.

Vale muito a pena!

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A Grande Mentira

Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:

Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.

Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!

O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!

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Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:

Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.

Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!

O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!

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A Guerra pelo Futebol

Ninguém é 100% santo, mas é bem fácil perceber quem, de fato, tem uma forte tendência para ser mal caráter - mesmo quando a fala mansa e o discurso bem estruturado tentam nos convencer do contrário (e é preciso admitir, muitas vezes com sucesso). Depois de documentários recentes como "Esquemas da FIFA" ou "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" e até séries de ficção bastante competentes como material histórico como "Jogo da Corrupção" "El presidente" onde a FIFA estava sob os holofotes, chegou a vez da UEFA (a União das Federações Europeias de Futebol) sentir o peso do jogo politico e corporativo que insistem em diminuir o valor do esporte mais amado do planeta - graças a ganância por poder e dinheiro de seus dirigentes. 

Em "Superliga: A Guerra pelo Futebol" acompanhamos uma verdadeira superprodução cinematográfica, com fortes elementos dramáticos, que transformam a narrativa de uma história real em uma jornada envolvente pelos 4 dias que quase mudaram o destino do futebol quando alguns dos maiores clubes da Europa resolveram criar uma liga independente para faturar de três a quatro vezes mais que na Champions League, mesmo que isso tivesse um custo esportivo irreparável para os clubes menores. Confira o trailer (em inglês):

A partir da perspectiva dos dois lados da história, um representado pelo presidente da UEFA, o esloveno Aleksander Ceferin; e outro pelo presidente da Juventus, e amigo pessoal de Ceferin, Andrea Agnelli, temos um recorte detalhado sobre os interesses por trás da tentativa de criação da Superliga (que envolveu clubes como Barcelona e Real Madrid) que foi marcada por uma traição que culminou no fim de uma longa amizade entre seus protagonistas.

Para quem não sabe Superliga foi um projeto anunciado em abril de 2021, na calada da noite, que prometia mudar o cenário esportivo e econômico do futebol europeu. A ideia era criar uma liga fechada com os principais clubes da Europa, que disputariam partidas entre si sem a possibilidade de rebaixamento ou promoção. O projeto causou tanta polêmica que até o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, entrou na discussão. Veja, ao melhor estilo "Formula 1: Dirigir paraViver"o roteiro brinca com o vai e vem da linha temporal criando uma dinâmica empolgante para a história, construindo uma trama politica e conspiratória de dar inveja aos melhores dias de "Game of Thrones".

"Superliga: A Guerra pelo Futebol" se apropria do contexto politico que envolveu o anúncio da criação da Superliga para expor a opinião de torcedores, jogadores, treinadores, jornalistas e dirigentes do mundo inteiro. Tudo muito bem conectado pelos diretores e roteiristas Connor Schell ("Man in the Arena") e Jeff Zimbalist (de "O Limite"), essa produção da AppleTV+ em quatro episódios, é uma verdadeira aula de cinema, na sua forma e, principalmente, no seu conteúdo!

Simplesmente imperdível!

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Ninguém é 100% santo, mas é bem fácil perceber quem, de fato, tem uma forte tendência para ser mal caráter - mesmo quando a fala mansa e o discurso bem estruturado tentam nos convencer do contrário (e é preciso admitir, muitas vezes com sucesso). Depois de documentários recentes como "Esquemas da FIFA" ou "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" e até séries de ficção bastante competentes como material histórico como "Jogo da Corrupção" "El presidente" onde a FIFA estava sob os holofotes, chegou a vez da UEFA (a União das Federações Europeias de Futebol) sentir o peso do jogo politico e corporativo que insistem em diminuir o valor do esporte mais amado do planeta - graças a ganância por poder e dinheiro de seus dirigentes. 

Em "Superliga: A Guerra pelo Futebol" acompanhamos uma verdadeira superprodução cinematográfica, com fortes elementos dramáticos, que transformam a narrativa de uma história real em uma jornada envolvente pelos 4 dias que quase mudaram o destino do futebol quando alguns dos maiores clubes da Europa resolveram criar uma liga independente para faturar de três a quatro vezes mais que na Champions League, mesmo que isso tivesse um custo esportivo irreparável para os clubes menores. Confira o trailer (em inglês):

A partir da perspectiva dos dois lados da história, um representado pelo presidente da UEFA, o esloveno Aleksander Ceferin; e outro pelo presidente da Juventus, e amigo pessoal de Ceferin, Andrea Agnelli, temos um recorte detalhado sobre os interesses por trás da tentativa de criação da Superliga (que envolveu clubes como Barcelona e Real Madrid) que foi marcada por uma traição que culminou no fim de uma longa amizade entre seus protagonistas.

Para quem não sabe Superliga foi um projeto anunciado em abril de 2021, na calada da noite, que prometia mudar o cenário esportivo e econômico do futebol europeu. A ideia era criar uma liga fechada com os principais clubes da Europa, que disputariam partidas entre si sem a possibilidade de rebaixamento ou promoção. O projeto causou tanta polêmica que até o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, entrou na discussão. Veja, ao melhor estilo "Formula 1: Dirigir paraViver"o roteiro brinca com o vai e vem da linha temporal criando uma dinâmica empolgante para a história, construindo uma trama politica e conspiratória de dar inveja aos melhores dias de "Game of Thrones".

"Superliga: A Guerra pelo Futebol" se apropria do contexto politico que envolveu o anúncio da criação da Superliga para expor a opinião de torcedores, jogadores, treinadores, jornalistas e dirigentes do mundo inteiro. Tudo muito bem conectado pelos diretores e roteiristas Connor Schell ("Man in the Arena") e Jeff Zimbalist (de "O Limite"), essa produção da AppleTV+ em quatro episódios, é uma verdadeira aula de cinema, na sua forma e, principalmente, no seu conteúdo!

Simplesmente imperdível!

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A História Não Contada

Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

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Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

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A Hora do Desespero

"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".

Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:

É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.

Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.

Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.

Vale o play!

Assista Agora

"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".

Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:

É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.

Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.

Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.

Vale o play!

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A Hora do Diabo

Se você está em busca de respostas rápidas, "A Hora do Diabo" pode não ser a melhor escolha. Agora, se você está disposto a mergulhar em uma jornada envolvente, cheia de mistérios e que, de fato, vai te provocar intelectualmente, pode dar o play sem o menor receio de errar - e fique tranquilo, as respostas virão, mas tudo no seu tempo! "The Devil's Hour" (no original) é uma minissérie de suspense psicológico e investigativo que desafia as convenções tradicionais ao mergulhar em temas como paranoia, trauma e até fenômenos sobrenaturais - no melhor estilo Stephen King, sabe? A produção é realmente intrigante nesse sentido e ao trazer o elemento criminal para a trama, olha, nos prende de uma forma que é difícil parar de assistir. Com uma narrativa inquietante e cheia de reviravoltas, "A Hora do Diabo" segue bem a linha de "Outsider" da Max e se você sabe do que eu estou falando, também sabe onde está se metendo!

A história gira em torno de Lucy Chambers (Jessica Raine), uma assistente social cuja vida parece estar em espiral, especialmente após uma série de eventos inexplicáveis pós-separação. Lucy é atormentada por algumas visões e acorda todas as noites às 3h33, um fenômeno conhecido como "a hora do diabo". Além de lidar com essa situação perturbadora, ela também enfrenta os desafios de criar seu filho Isaac (Benjamin Chivers), uma criança emocionalmente distante e que apresenta comportamentos, no mínimo, bem estranhos. À medida que todos esses eventos da vida de Lucy se conectam com uma série de crimes brutais, o que era ruim, piora ainda mais. Confira o trailer (em inglês):

O criador da minissérie, Tom Moran (de "The Feed"), constrói uma narrativa bem envolvente que brinca com muita inteligência com os conceitos de tempo e realidade. A estrutura da narrativa é naturalmente não linear, o que exige atenção dobrada, no entanto ao explorar questões profundas sobre o impacto psicológico de um trauma e dos reflexos da culpa, somos provocados a criar conexões entre todas essas camadas dramáticas a todo momento. O roteiro da minissérie usa essa estratégia com muita competência e ao questionar a natureza do destino e se os eventos que nos cercam são meros acasos ou se fatos predestinados, cria-se um subtexto filosófico fascinante para uma história de crime e mistério.

A direção de Johnny Allan (de "Bodkin") é meticulosamente trabalhada para entregar uma atmosfera densa e inquietante - sempre com aquela identidade visual britânica de cair o queixo. As cenas são carregadas de tensão, com uma fotografia evocativa que faz uso de sombras e de uma iluminação contrastante que acentua a sensação de desconforto. A estética é um dos pontos altos do projeto - repare como ela amplifica a "confusão" que Lucy sente, fazendo com que a audiência se questione, junto com ela, sobre o que é real e o que é fruto de sua mente perturbada. E aqui é preciso citar a performance de Jessica Raine - ela consegue transmitir a angústia, o medo e a vulnerabilidade de uma mulher que está lentamente perdendo o controle de sua vida, sem nunca perder o senso de força e determinação que a mantém viva. Peter Capaldi, como Gideon, traz uma presença sombria e magnética para um personagem envolto em mistério - com sua habilidade natural de encarnar figuras ambíguas, Gideon é ao mesmo tempo ameaçador e fascinante (uma espécie de Hannibal Lecter na sua essência).

É inegável que um dos principais pontos fortes de  "A Hora do Diabo" é a maneira como ela equilibra elementos sobrenaturais com o drama psicológico. Em vez de se apoiar inteiramente no inexplicável, a minissérie faz um trabalho eficaz ao explorar os efeitos psicológicos das marcas do passado, mostrando como essas emoções reprimidas podem distorcer a percepção da realidade. Isso torna nossa jornada mais complexa, eu diria até que, mais do que apenas uma minissérie de suspense sobrenatural ou de investigação criminal, aqui temos uma exploração profunda da mente humana e dos limites da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Mas antes do play apenas um disclaimer: "A Hora do Diabo"tem uma narrativa cativante, mas algumas pessoas podem achar o ritmo um tanto lento, especialmente nos primeiros episódios, onde o roteiro se dedica a estabelecer o tom e a atmosfera do que veremos a seguir. No entanto, posso te garantir que sua paciência será recompensada à medida que a trama se desenrola, com revelações surpreendentes e nada óbvias.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você está em busca de respostas rápidas, "A Hora do Diabo" pode não ser a melhor escolha. Agora, se você está disposto a mergulhar em uma jornada envolvente, cheia de mistérios e que, de fato, vai te provocar intelectualmente, pode dar o play sem o menor receio de errar - e fique tranquilo, as respostas virão, mas tudo no seu tempo! "The Devil's Hour" (no original) é uma minissérie de suspense psicológico e investigativo que desafia as convenções tradicionais ao mergulhar em temas como paranoia, trauma e até fenômenos sobrenaturais - no melhor estilo Stephen King, sabe? A produção é realmente intrigante nesse sentido e ao trazer o elemento criminal para a trama, olha, nos prende de uma forma que é difícil parar de assistir. Com uma narrativa inquietante e cheia de reviravoltas, "A Hora do Diabo" segue bem a linha de "Outsider" da Max e se você sabe do que eu estou falando, também sabe onde está se metendo!

A história gira em torno de Lucy Chambers (Jessica Raine), uma assistente social cuja vida parece estar em espiral, especialmente após uma série de eventos inexplicáveis pós-separação. Lucy é atormentada por algumas visões e acorda todas as noites às 3h33, um fenômeno conhecido como "a hora do diabo". Além de lidar com essa situação perturbadora, ela também enfrenta os desafios de criar seu filho Isaac (Benjamin Chivers), uma criança emocionalmente distante e que apresenta comportamentos, no mínimo, bem estranhos. À medida que todos esses eventos da vida de Lucy se conectam com uma série de crimes brutais, o que era ruim, piora ainda mais. Confira o trailer (em inglês):

O criador da minissérie, Tom Moran (de "The Feed"), constrói uma narrativa bem envolvente que brinca com muita inteligência com os conceitos de tempo e realidade. A estrutura da narrativa é naturalmente não linear, o que exige atenção dobrada, no entanto ao explorar questões profundas sobre o impacto psicológico de um trauma e dos reflexos da culpa, somos provocados a criar conexões entre todas essas camadas dramáticas a todo momento. O roteiro da minissérie usa essa estratégia com muita competência e ao questionar a natureza do destino e se os eventos que nos cercam são meros acasos ou se fatos predestinados, cria-se um subtexto filosófico fascinante para uma história de crime e mistério.

A direção de Johnny Allan (de "Bodkin") é meticulosamente trabalhada para entregar uma atmosfera densa e inquietante - sempre com aquela identidade visual britânica de cair o queixo. As cenas são carregadas de tensão, com uma fotografia evocativa que faz uso de sombras e de uma iluminação contrastante que acentua a sensação de desconforto. A estética é um dos pontos altos do projeto - repare como ela amplifica a "confusão" que Lucy sente, fazendo com que a audiência se questione, junto com ela, sobre o que é real e o que é fruto de sua mente perturbada. E aqui é preciso citar a performance de Jessica Raine - ela consegue transmitir a angústia, o medo e a vulnerabilidade de uma mulher que está lentamente perdendo o controle de sua vida, sem nunca perder o senso de força e determinação que a mantém viva. Peter Capaldi, como Gideon, traz uma presença sombria e magnética para um personagem envolto em mistério - com sua habilidade natural de encarnar figuras ambíguas, Gideon é ao mesmo tempo ameaçador e fascinante (uma espécie de Hannibal Lecter na sua essência).

É inegável que um dos principais pontos fortes de  "A Hora do Diabo" é a maneira como ela equilibra elementos sobrenaturais com o drama psicológico. Em vez de se apoiar inteiramente no inexplicável, a minissérie faz um trabalho eficaz ao explorar os efeitos psicológicos das marcas do passado, mostrando como essas emoções reprimidas podem distorcer a percepção da realidade. Isso torna nossa jornada mais complexa, eu diria até que, mais do que apenas uma minissérie de suspense sobrenatural ou de investigação criminal, aqui temos uma exploração profunda da mente humana e dos limites da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Mas antes do play apenas um disclaimer: "A Hora do Diabo"tem uma narrativa cativante, mas algumas pessoas podem achar o ritmo um tanto lento, especialmente nos primeiros episódios, onde o roteiro se dedica a estabelecer o tom e a atmosfera do que veremos a seguir. No entanto, posso te garantir que sua paciência será recompensada à medida que a trama se desenrola, com revelações surpreendentes e nada óbvias.

Vale muito o seu play!

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A Ligação

"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!

Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):

O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".

Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.

Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade! 

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"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!

Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):

O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".

Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.

Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade! 

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A Mente do Assassino: Aaron Hernandez

"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador  já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!

A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:

O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer". 

"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!

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"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador  já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!

A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:

O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer". 

"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!

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A Mulher da Janela

Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!

“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:

Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!

Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".

O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!   

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Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!

“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:

Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!

Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".

O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!   

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A Mulher na Parede

Angustiante e com uma trama muito bem construída - e tudo isso muito bem envolvido em um conceito estético realmente belíssimo! "A Mulher na Parede" é mesmo surpreendente! Criada por Joe Murtagh e produzida pela BBC, essa é mais uma minissérie de suspense psicológico que explora os limites entre o trauma e a memória, sempre pautada em muito mistério. Ambientada em uma pequena cidade irlandesa,  "A Mulher na Parede"se destaca pela intensidade emocional de sua protagonista e pela atmosfera sombria e envolvente que permeia cada episódio. A produção combina um mistério intrigante com uma crítica social real sobre os abusos cometidos em instituições religiosas na Irlanda, especificamente em torno das chamadas Magdalene Laundries, onde mulheres (geralmente solteiras grávidas, prostitutas ou pessoas vistas de alguma forma como moralmente degradadas) eram mantidas em condições desumanas por décadas com o único objetivo de "dar a luz"!

A trama de "The Woman in the Wall" (no original) gira em torno de Lorna Brady (Ruth Wilson), uma mulher assombrada por eventos de seu passado relacionados ao tempo que passou em uma determinada instituição religiosa. Lorna, que sofre de episódios de amnésia e sonambulismo, acorda um dia para descobrir um cadáver em sua casa, mas não tem ideia de como ele foi parar lá. À medida que tenta desvendar o mistério, Lorna precisa enfrentar os fantasmas do passado, descobrir a verdade sobre sua relação com o convento e as mulheres que desapareceram de lá. É nesse contexto que conhecemos o detetive Colman Akande (Daryl McCormack), que investiga o caso e revela segredos que vão muito além de um crime comum. Confira o trailer:

Murtagh (de "Gangs of London") constrói uma narrativa rica em tensão. A minissérie é sombria em tom e estética, com uma direção que utiliza habilmente os cenários da pequena cidade irlandesa para criar uma sensação de isolamento e claustrofobia impressionante. A atmosfera opressiva escolhida pelas diretoras Harry Wootliff (de "Only You") e  Rachna Suri (de "O Filho Bastardo do Diabo") reflete perfeitamente o estado mental de Lorna, além de remeter à sensação de desespero e perda de controle das mulheres que passaram pelas Magdalene Laundries - a minissérie é habilidosa em retratar como o passado pode assombrar o presente, e como instituições que deveriam cuidar das pessoas mais vulneráveis acabaram causando traumas ainda mais profundos. Essa crítica social de "A Mulher na Parede" é até sutil, mas poderosa. Veja, as Magdalene Laundries são retratadas como o cerne do mistério e também como um símbolo dos abusos institucionais sofridos por mulheres marginalizadas na sociedade irlandesa e embora o foco da trama esteja no suspense e na investigação, a crítica a essas instituições é clara.

Ruth Wilson, mais uma vez, dá um show em "A Mulher na Parede". Sua performance é repleta de camadas, oscilando entre vulnerabilidade e determinação com muita habilidade. Wilson retrata com sensibilidade o trauma psicológico de sua personagem, enquanto o mistério do corpo encontrado em sua casa funciona como uma metáfora para o peso das memórias reprimidas e os abusos sofridos em algum momento de sua vida. Lorna é sim uma figura trágica, mas também resiliente, e Wilson consegue transitar entres esses pólos de forma convincente, nos levando em uma jornada emocional de fato intensa. Daryl McCormack, o detetive Colman Akande, também merece destaque - ele traz uma dinâmica interessante para a narrativa através de sua interação com Lorna. É um misto de empatia e desconfiança, onde as descobertas que ele faz ao longo dos episódios acabam revelando que o mistério central é apenas a ponta do iceberg.

Uma infinidade de tons frios e sombrios intensificam esse aspecto mais melancólico e opressor da narrativa, enquanto as cenas externas capturam a beleza austera da paisagem irlandesa. A cidade pequena e isolada funciona quase como um personagem adicional, com seus segredos escondidos em cada esquina, ecoando a própria mente fragmentada de Lorna. Obviamente que esse mood visual reforça a atmosfera de mistério e tensão da narrativa, no entanto, por ser menos intrusiva, essa cadência pode afastar parte da audiência. A profundidade psicológica da trama e o foco em traumas pessoais podem parecer mais importantes que mistério central em certos episódios, no entanto, tudo é tão bem amarrado e os personagens são tão bem desenvolvidos que esse forte subtexto emocional em nada atrapalha nossa experiência, muito pelo contrário: assim que entendemos a proposta de Joe Murtagh é difícil parar de assistir!

Resumindo, "A Mulher na Parede" é uma reflexão poderosa sobre o passado e seus ecos no presente, fantasiada de investigação criminal, que vale muito o seu play!

Assista Agora

Angustiante e com uma trama muito bem construída - e tudo isso muito bem envolvido em um conceito estético realmente belíssimo! "A Mulher na Parede" é mesmo surpreendente! Criada por Joe Murtagh e produzida pela BBC, essa é mais uma minissérie de suspense psicológico que explora os limites entre o trauma e a memória, sempre pautada em muito mistério. Ambientada em uma pequena cidade irlandesa,  "A Mulher na Parede"se destaca pela intensidade emocional de sua protagonista e pela atmosfera sombria e envolvente que permeia cada episódio. A produção combina um mistério intrigante com uma crítica social real sobre os abusos cometidos em instituições religiosas na Irlanda, especificamente em torno das chamadas Magdalene Laundries, onde mulheres (geralmente solteiras grávidas, prostitutas ou pessoas vistas de alguma forma como moralmente degradadas) eram mantidas em condições desumanas por décadas com o único objetivo de "dar a luz"!

A trama de "The Woman in the Wall" (no original) gira em torno de Lorna Brady (Ruth Wilson), uma mulher assombrada por eventos de seu passado relacionados ao tempo que passou em uma determinada instituição religiosa. Lorna, que sofre de episódios de amnésia e sonambulismo, acorda um dia para descobrir um cadáver em sua casa, mas não tem ideia de como ele foi parar lá. À medida que tenta desvendar o mistério, Lorna precisa enfrentar os fantasmas do passado, descobrir a verdade sobre sua relação com o convento e as mulheres que desapareceram de lá. É nesse contexto que conhecemos o detetive Colman Akande (Daryl McCormack), que investiga o caso e revela segredos que vão muito além de um crime comum. Confira o trailer:

Murtagh (de "Gangs of London") constrói uma narrativa rica em tensão. A minissérie é sombria em tom e estética, com uma direção que utiliza habilmente os cenários da pequena cidade irlandesa para criar uma sensação de isolamento e claustrofobia impressionante. A atmosfera opressiva escolhida pelas diretoras Harry Wootliff (de "Only You") e  Rachna Suri (de "O Filho Bastardo do Diabo") reflete perfeitamente o estado mental de Lorna, além de remeter à sensação de desespero e perda de controle das mulheres que passaram pelas Magdalene Laundries - a minissérie é habilidosa em retratar como o passado pode assombrar o presente, e como instituições que deveriam cuidar das pessoas mais vulneráveis acabaram causando traumas ainda mais profundos. Essa crítica social de "A Mulher na Parede" é até sutil, mas poderosa. Veja, as Magdalene Laundries são retratadas como o cerne do mistério e também como um símbolo dos abusos institucionais sofridos por mulheres marginalizadas na sociedade irlandesa e embora o foco da trama esteja no suspense e na investigação, a crítica a essas instituições é clara.

Ruth Wilson, mais uma vez, dá um show em "A Mulher na Parede". Sua performance é repleta de camadas, oscilando entre vulnerabilidade e determinação com muita habilidade. Wilson retrata com sensibilidade o trauma psicológico de sua personagem, enquanto o mistério do corpo encontrado em sua casa funciona como uma metáfora para o peso das memórias reprimidas e os abusos sofridos em algum momento de sua vida. Lorna é sim uma figura trágica, mas também resiliente, e Wilson consegue transitar entres esses pólos de forma convincente, nos levando em uma jornada emocional de fato intensa. Daryl McCormack, o detetive Colman Akande, também merece destaque - ele traz uma dinâmica interessante para a narrativa através de sua interação com Lorna. É um misto de empatia e desconfiança, onde as descobertas que ele faz ao longo dos episódios acabam revelando que o mistério central é apenas a ponta do iceberg.

Uma infinidade de tons frios e sombrios intensificam esse aspecto mais melancólico e opressor da narrativa, enquanto as cenas externas capturam a beleza austera da paisagem irlandesa. A cidade pequena e isolada funciona quase como um personagem adicional, com seus segredos escondidos em cada esquina, ecoando a própria mente fragmentada de Lorna. Obviamente que esse mood visual reforça a atmosfera de mistério e tensão da narrativa, no entanto, por ser menos intrusiva, essa cadência pode afastar parte da audiência. A profundidade psicológica da trama e o foco em traumas pessoais podem parecer mais importantes que mistério central em certos episódios, no entanto, tudo é tão bem amarrado e os personagens são tão bem desenvolvidos que esse forte subtexto emocional em nada atrapalha nossa experiência, muito pelo contrário: assim que entendemos a proposta de Joe Murtagh é difícil parar de assistir!

Resumindo, "A Mulher na Parede" é uma reflexão poderosa sobre o passado e seus ecos no presente, fantasiada de investigação criminal, que vale muito o seu play!

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A Noite do Jogo

"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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