indika.tv - Drama

Minha Obra-Prima

Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!

A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!

"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!

"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!

Assista Agora

Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!

A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!

"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!

"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!

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Modern Love

"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.

Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida. 

Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.

Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).

O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.

O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.

Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!

No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!

O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.

O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.

"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!

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"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.

Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida. 

Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.

Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).

O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.

O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.

Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!

No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!

O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.

O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.

"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!

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Moneyball

"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.

Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:

Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane. 

Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.

"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.

Imperdível!

Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".

Vale seu play!

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"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.

Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:

Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane. 

Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.

"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.

Imperdível!

Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".

Vale seu play!

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Monstro

"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!

A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:

"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.

O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!

"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!

Vale muito a pena!

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"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!

A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:

"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.

O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!

"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!

Vale muito a pena!

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Monstros: Irmãos Menendez

Monstros: Irmãos Menendez

Essa é o tipo de recomendação que não tem erro - se você gostou de "Dahmer: Um Canibal Americano""O Paraíso e a Serpente" e "American Crime Story", é impossível você não gostar da segunda temporada da (queridinha) série antológica de Ryan Murphy, "Monstros: Irmãos Menendez". Essa leva de nove episódios foca no brutal assassinato de José e Kitty Menendez em 1989. A temporada mergulha profundamente nas complexidades desse caso de grande repercussão, que chocou os Estados Unidos e levantou debates sobre abuso, poder e as pressões dentro de uma família aparentemente perfeita. Tal como a primeira temporada da série, que abordou a história de Jeffrey Dahmer, esta nova abordagem de "Monstros" continua com o estilo característico de Ryan Murphy: visualmente impactante, intensa em sua trama e com uma narrativa que usa e abusa do drama psicológico.

Aqui história se passa em Beverly Hills, onde Lyle (Nicholas Alexander Chavez) e Erik Menendez (Cooper Kochassassinaram seus pais, José (Javier Bardem) e Kitty Menendez (Chloë Sevigny), em sua própria casa. Inicialmente, o crime parecia ser um assassinato motivado por ganância, já que os jovens herdeiros gastaram vastas quantias de dinheiro após a morte de seus pais. No entanto, durante o julgamento, a defesa revelou uma nova camada da narrativa: os irmãos alegaram que os assassinatos foram uma reação aos anos de abuso físico, psicológico e sexual que teriam sofrido nas mãos de José Menendez. A temporada explora esses dois lados — o do sensacionalismo e o íntimo e sombrio do abuso dentro de uma família completamente disfuncional. Confira o trailer:

Obviamente que a força da segunda temporada de Monstros está na forma como Ryan Murphy e seu parceiro Ian Brennan (de "Halston") estruturam a narrativa - eles não economizam na densidade dos diálogos, no grafismo dos assassinatos e no exagero de seus cenários, figurinos, maquiagens e até das performances. Dito isso, fica fácil afirmar: "Monstros: Irmãos Menendez" é, sim, apelativa, mas funciona! Por outro lado, a série se esforça para não apresentar uma versão simplificada do caso e, em vez disso, sugere um estudo de personagens muitas vezes desconfortável. Os episódios são montados de forma que a audiência constantemente questione as motivações dos irmãos - ao melhor estilo Suzane Richthofen, os Menendez  foram vítimas de uma situação insustentável ou assassinos friamente calculistas?

Essa temporada da série, como em muitas outras produções de Murphy, se move na direção da ambiguidade, deixando para quem assiste a reflexão sobre qual a verdade por trás dos acontecimentos. Murphy e Brennan fazem o que sabem de melhor: criar a atmosfera de tensão psicológica que permeia cada episódio - e aqui cabe um comentário: o episódio 5, chamado de "Apelido" e rodado em um único plano, com a câmera sem nunca sair da mesma posição, é algo a ser celebrado e aplaudido de pé. Embora seja notavelmente diferente do tom de "Dahmer", a estética visual dessa temporada é igualmente competente já que tem uma fotografia que não se intimida em mostrar o contraste entre o glamour de Beverly Hills e o horror silencioso dentro da mansão dos Menendez. O uso de sombras e tons escuros para simbolizar o trauma reprimido é uma assinatura estética de Murphy, que aqui é usada com a precisão que a narrativa pede.

Nicholas Alexander Chavez e Cooper Koch capturam com eficácia a complexidade emocional dos irmãos. Suas performances oscilam entre jovens traumatizados, tentando lidar com os horrores de suas infâncias, e figuras manipuladoras, cientes das repercussões de seus atos. Esse equilíbrio é fundamental para nos manter envolvidos na narrativa, uma vez que o caso real dos Menendez continua a ser um dos mais divisivos na história criminal americana. Repare na química entre os dois atores e como ela é crucial para retratar a relação entre os irmãos, que oscila entre cumplicidade, desespero e um profundo vínculo de dependência emocional.

Embora o caso Menendez seja chocante por si só, a tendência de Murphy em enfatizar o drama extremo pode, às vezes, parecer excessiva para quem busca uma análise mais equilibrada e factual dos eventos -  mas nesse caso não tem jeito, esse é seu estilo e muito do que você vai ver na tela foi de fato potencializado em troca de um conflito mais evidente e uma dramatização mais impactante. Apesar dessa ressalva, posso te garantir que "Monstros: Irmãos Menendez" é um entretenimento de primeira - essencialmente se você for mesmo um fã de true crime. Eu diria até que essa temporada é um retrato profundo e angustiante de uma das famílias mais disfuncionais da história criminal dos EUA, que aborda não apenas os atos brutais de violência, mas também as causas subjacentes do trauma.

Se você está disposto a considerar questões morais complexas, enquanto a narrativa desafia noções simplistas de culpabilidade e justiça, pode dar o play sem o menor medo de errar!

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Essa é o tipo de recomendação que não tem erro - se você gostou de "Dahmer: Um Canibal Americano""O Paraíso e a Serpente" e "American Crime Story", é impossível você não gostar da segunda temporada da (queridinha) série antológica de Ryan Murphy, "Monstros: Irmãos Menendez". Essa leva de nove episódios foca no brutal assassinato de José e Kitty Menendez em 1989. A temporada mergulha profundamente nas complexidades desse caso de grande repercussão, que chocou os Estados Unidos e levantou debates sobre abuso, poder e as pressões dentro de uma família aparentemente perfeita. Tal como a primeira temporada da série, que abordou a história de Jeffrey Dahmer, esta nova abordagem de "Monstros" continua com o estilo característico de Ryan Murphy: visualmente impactante, intensa em sua trama e com uma narrativa que usa e abusa do drama psicológico.

Aqui história se passa em Beverly Hills, onde Lyle (Nicholas Alexander Chavez) e Erik Menendez (Cooper Kochassassinaram seus pais, José (Javier Bardem) e Kitty Menendez (Chloë Sevigny), em sua própria casa. Inicialmente, o crime parecia ser um assassinato motivado por ganância, já que os jovens herdeiros gastaram vastas quantias de dinheiro após a morte de seus pais. No entanto, durante o julgamento, a defesa revelou uma nova camada da narrativa: os irmãos alegaram que os assassinatos foram uma reação aos anos de abuso físico, psicológico e sexual que teriam sofrido nas mãos de José Menendez. A temporada explora esses dois lados — o do sensacionalismo e o íntimo e sombrio do abuso dentro de uma família completamente disfuncional. Confira o trailer:

Obviamente que a força da segunda temporada de Monstros está na forma como Ryan Murphy e seu parceiro Ian Brennan (de "Halston") estruturam a narrativa - eles não economizam na densidade dos diálogos, no grafismo dos assassinatos e no exagero de seus cenários, figurinos, maquiagens e até das performances. Dito isso, fica fácil afirmar: "Monstros: Irmãos Menendez" é, sim, apelativa, mas funciona! Por outro lado, a série se esforça para não apresentar uma versão simplificada do caso e, em vez disso, sugere um estudo de personagens muitas vezes desconfortável. Os episódios são montados de forma que a audiência constantemente questione as motivações dos irmãos - ao melhor estilo Suzane Richthofen, os Menendez  foram vítimas de uma situação insustentável ou assassinos friamente calculistas?

Essa temporada da série, como em muitas outras produções de Murphy, se move na direção da ambiguidade, deixando para quem assiste a reflexão sobre qual a verdade por trás dos acontecimentos. Murphy e Brennan fazem o que sabem de melhor: criar a atmosfera de tensão psicológica que permeia cada episódio - e aqui cabe um comentário: o episódio 5, chamado de "Apelido" e rodado em um único plano, com a câmera sem nunca sair da mesma posição, é algo a ser celebrado e aplaudido de pé. Embora seja notavelmente diferente do tom de "Dahmer", a estética visual dessa temporada é igualmente competente já que tem uma fotografia que não se intimida em mostrar o contraste entre o glamour de Beverly Hills e o horror silencioso dentro da mansão dos Menendez. O uso de sombras e tons escuros para simbolizar o trauma reprimido é uma assinatura estética de Murphy, que aqui é usada com a precisão que a narrativa pede.

Nicholas Alexander Chavez e Cooper Koch capturam com eficácia a complexidade emocional dos irmãos. Suas performances oscilam entre jovens traumatizados, tentando lidar com os horrores de suas infâncias, e figuras manipuladoras, cientes das repercussões de seus atos. Esse equilíbrio é fundamental para nos manter envolvidos na narrativa, uma vez que o caso real dos Menendez continua a ser um dos mais divisivos na história criminal americana. Repare na química entre os dois atores e como ela é crucial para retratar a relação entre os irmãos, que oscila entre cumplicidade, desespero e um profundo vínculo de dependência emocional.

Embora o caso Menendez seja chocante por si só, a tendência de Murphy em enfatizar o drama extremo pode, às vezes, parecer excessiva para quem busca uma análise mais equilibrada e factual dos eventos -  mas nesse caso não tem jeito, esse é seu estilo e muito do que você vai ver na tela foi de fato potencializado em troca de um conflito mais evidente e uma dramatização mais impactante. Apesar dessa ressalva, posso te garantir que "Monstros: Irmãos Menendez" é um entretenimento de primeira - essencialmente se você for mesmo um fã de true crime. Eu diria até que essa temporada é um retrato profundo e angustiante de uma das famílias mais disfuncionais da história criminal dos EUA, que aborda não apenas os atos brutais de violência, mas também as causas subjacentes do trauma.

Se você está disposto a considerar questões morais complexas, enquanto a narrativa desafia noções simplistas de culpabilidade e justiça, pode dar o play sem o menor medo de errar!

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Moonlight

"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:

Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!

Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!

A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!

Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!

Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!

Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!

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"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:

Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!

Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!

A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!

Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!

Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!

Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!

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Mosaic

"Mosaic" é muito mais que uma série policial, é uma tentativa de gameficar a experiência de acompanhar a investigação de um assassinato pelos olhos de vários personagens através de um aplicativo. Acontece que o brasileiro nunca teve a oportunidade de testar essa novidade, já que o app só funcionou nos EUA (ele era bloqueado por geolocalização) e como a HBO adquiriu os direitos de distribuição para sua plataforma, uma versão linear da trama foi montada como uma minissérie de 6 episódios - e é aí que a coisa complicou um pouquinho!

A história gira em torno de Olivia Lake (Sharon Stone), uma bem sucedida escritora de livros infantis que vive sendo assediada para vender sua propriedade para empresários locais responsáveis pela exploração de minérios. Com uma personalidade forte e uma dificuldade enorme de lidar com a idade, Olivia se encanta por um jovem artista chamado Joel Hurley (Garrett Hedlund), porém logo ela descobre que o rapaz é comprometido e, digamos, não fica tão feliz. É nesse clima de fragilidade que o vigarista profissional Eric Neill (Frederick Weller) entra na sua vida. Eric foi contratado para convencê-la a vender sua propriedade, mas acaba se envolvendo com Olivia. Pensando na relação, Eric conta a verdade para Olivia, os dois tem uma grave discussão e ela acaba desaparecendo sem deixar pistas. Como principal suspeito, Eric é preso após se declarar culpado em troca de um acordo que reduziria sua pena. Após quatro anos, sua irmã Petra (Jennifer Ferrin) inicia uma investigação, com a ajuda do xerife local: o inseguro Nate Henry (Devin Ratray). Ela acredita na inocência do irmão e tenta de todas as formas juntar as peças de um enorme quebra-cabeça que possa finalmente levar o verdadeiro assassino para prisão. 

"Mosaic" tem uma excelente trama, mas a edição, por ser uma adaptação, falha na apresentação de vários elementos que são essenciais em um bom roteiro policial: embora a história pareça confusa e em alguns momentos até desconexa, existe um fio condutor que é a investigação - até aí, tudo bem; mas o problema passa a ser a superficialidade de algumas motivações de personagens-chaves, além de uma falta de unidade narrativa que nos deixe confortáveis com tantas idas e vindas da história - talvez uma legenda já ajudasse! Resumindo,"Mosaic" é um bom entretenimento, com uma trama simples, mas envolvente, e que vai divertir quem gosta do gênero - mas o mais atento pode perceber que a diluição da força dramática depois de algumas ações dos personagens fazem a história perder um pouco de sentido!

“Mosaic” foi um projeto que demorou cerca de 5 anos de desenvolvimento. Comandado pelo premiado (e inovador) Steven Soderbergh ("High Flying Bird") ao lado de  Casey Silver, ex-chefe da Universal Pictures, a minissérie trás muito do conceito visual característico de Soderbergh com uma câmera mais solta, sem muito ensaio ou marcações com os atores e ainda abusando da iluminação natural nas cenas - o que trás muito do estilo documental para o projeto! O problema, como já comentamos é o roteiro. A versão original tinha cerca de 500 páginas e com vários finais diferentes, já que as escolhas do usuário impactavam na linha narrativa da história. Como na minissérie da HBO isso não seria possível, algumas escolhas na montagem deixaram a história um pouco solta, sem todas as informações - com um roteiro de mais ou menos 300 páginas. Alguns elementos e até personagens, aparecem e somem sem nenhuma explicação - o símbolo misterioso que Petra repara durante a investigação e a morte de Cliff Jones são ótimos exemplos (não se preocupem, isso não é spolier)

A minissérie é muito bem produzida, tem um visual marcante e os atores estão muito bem: embora seja apenas uma participação especial, Sharon Stone está incrível. Imagino que o fato do aplicativo dividir a narrativa em pedaços de cerca de 20 minutos e acompanhar o ponto de vista de um único personagem, sua participação tenha ainda mais força que na versão da minissérie. Infelizmente alguns detalhes do ótimo trabalho do departamento de arte também devem passar despercebidos no streaming já que, pelo app, pequenas janelas se abriam no meio da história dando oportunidade para o usuário explorar uma determinada cena e objetos - como as obras de Joel, por exemplo. 

O fato é que toda adaptação falha em algum ponto, no caso de "Mosaic" o problema está na forma como a história foi comprimida e estruturada (a resolução do mistério escancara isso). Algumas liberdades narrativas prejudicaram a minissérie e enfraqueceram a história. Uma pena, pois o potencial era enorme. Vale pelo bom entretenimento, pelo gênero e pelo estilo de cinematografia que o diretor Steven Soderbergh imprimiu!

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"Mosaic" é muito mais que uma série policial, é uma tentativa de gameficar a experiência de acompanhar a investigação de um assassinato pelos olhos de vários personagens através de um aplicativo. Acontece que o brasileiro nunca teve a oportunidade de testar essa novidade, já que o app só funcionou nos EUA (ele era bloqueado por geolocalização) e como a HBO adquiriu os direitos de distribuição para sua plataforma, uma versão linear da trama foi montada como uma minissérie de 6 episódios - e é aí que a coisa complicou um pouquinho!

A história gira em torno de Olivia Lake (Sharon Stone), uma bem sucedida escritora de livros infantis que vive sendo assediada para vender sua propriedade para empresários locais responsáveis pela exploração de minérios. Com uma personalidade forte e uma dificuldade enorme de lidar com a idade, Olivia se encanta por um jovem artista chamado Joel Hurley (Garrett Hedlund), porém logo ela descobre que o rapaz é comprometido e, digamos, não fica tão feliz. É nesse clima de fragilidade que o vigarista profissional Eric Neill (Frederick Weller) entra na sua vida. Eric foi contratado para convencê-la a vender sua propriedade, mas acaba se envolvendo com Olivia. Pensando na relação, Eric conta a verdade para Olivia, os dois tem uma grave discussão e ela acaba desaparecendo sem deixar pistas. Como principal suspeito, Eric é preso após se declarar culpado em troca de um acordo que reduziria sua pena. Após quatro anos, sua irmã Petra (Jennifer Ferrin) inicia uma investigação, com a ajuda do xerife local: o inseguro Nate Henry (Devin Ratray). Ela acredita na inocência do irmão e tenta de todas as formas juntar as peças de um enorme quebra-cabeça que possa finalmente levar o verdadeiro assassino para prisão. 

"Mosaic" tem uma excelente trama, mas a edição, por ser uma adaptação, falha na apresentação de vários elementos que são essenciais em um bom roteiro policial: embora a história pareça confusa e em alguns momentos até desconexa, existe um fio condutor que é a investigação - até aí, tudo bem; mas o problema passa a ser a superficialidade de algumas motivações de personagens-chaves, além de uma falta de unidade narrativa que nos deixe confortáveis com tantas idas e vindas da história - talvez uma legenda já ajudasse! Resumindo,"Mosaic" é um bom entretenimento, com uma trama simples, mas envolvente, e que vai divertir quem gosta do gênero - mas o mais atento pode perceber que a diluição da força dramática depois de algumas ações dos personagens fazem a história perder um pouco de sentido!

“Mosaic” foi um projeto que demorou cerca de 5 anos de desenvolvimento. Comandado pelo premiado (e inovador) Steven Soderbergh ("High Flying Bird") ao lado de  Casey Silver, ex-chefe da Universal Pictures, a minissérie trás muito do conceito visual característico de Soderbergh com uma câmera mais solta, sem muito ensaio ou marcações com os atores e ainda abusando da iluminação natural nas cenas - o que trás muito do estilo documental para o projeto! O problema, como já comentamos é o roteiro. A versão original tinha cerca de 500 páginas e com vários finais diferentes, já que as escolhas do usuário impactavam na linha narrativa da história. Como na minissérie da HBO isso não seria possível, algumas escolhas na montagem deixaram a história um pouco solta, sem todas as informações - com um roteiro de mais ou menos 300 páginas. Alguns elementos e até personagens, aparecem e somem sem nenhuma explicação - o símbolo misterioso que Petra repara durante a investigação e a morte de Cliff Jones são ótimos exemplos (não se preocupem, isso não é spolier)

A minissérie é muito bem produzida, tem um visual marcante e os atores estão muito bem: embora seja apenas uma participação especial, Sharon Stone está incrível. Imagino que o fato do aplicativo dividir a narrativa em pedaços de cerca de 20 minutos e acompanhar o ponto de vista de um único personagem, sua participação tenha ainda mais força que na versão da minissérie. Infelizmente alguns detalhes do ótimo trabalho do departamento de arte também devem passar despercebidos no streaming já que, pelo app, pequenas janelas se abriam no meio da história dando oportunidade para o usuário explorar uma determinada cena e objetos - como as obras de Joel, por exemplo. 

O fato é que toda adaptação falha em algum ponto, no caso de "Mosaic" o problema está na forma como a história foi comprimida e estruturada (a resolução do mistério escancara isso). Algumas liberdades narrativas prejudicaram a minissérie e enfraqueceram a história. Uma pena, pois o potencial era enorme. Vale pelo bom entretenimento, pelo gênero e pelo estilo de cinematografia que o diretor Steven Soderbergh imprimiu!

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My Son

"My Son" é mais um caso de um filme bom que poderia ter sido uma minissérie espetacular - e talvez dizer isso sem contextualizar possa parecer até injusto porque esse drama policial é realmente envolvente, mas falta tempo de tela para desenvolver algumas subtramas que são apenas pinceladas no roteiro e que teriam um potencial enorme de enriquecer toda a jornada. O fato é que temos a impressão que o mistério é resolvido rápido demais, sem muitos obstáculos e isso, embora entretenha, soa um pouco frustrante.

Na história conhecemos Edmond Murray (James McAvoy), um pai que viaja muito a trabalho para fora do país, até que descobre que seu filho de sete anos, Ethan (Max Wilson) está desaparecido. Dominado pela culpa por ter negligenciado seus deveres como pai e pela pressão de sua ex-mulher Joan (Claire Foy), ele faz de tudo para encontrar o filho, descobrindo um lado seu que ele mesmo desconhecia. Confira o trailer:

Para os mais atentos, "My Son" vai parecer familiar, já que é a refilmagem feita pelo mesmo diretor, o francês Christian Carion, de seu grande sucesso "Mon Garçon", de apenas quatro anos atrás e estrelado por Melanie Laurent e Guillaume Canet. Isso é um problema? Não, desde que você não tenha assistido a versão original, pois os filmes são praticamente idênticos - na forma e no conteúdo.

Veja, talvez essa versão mais gourmet seja realmente melhor produzida e o fato dos atores serem conhecidos nos dá a real sensação de conforto ao assistir o filme, mas o detalhe que salta aos olhos, sem dúvida, é a atmosfera gélida ao melhor estilo "The Killing" (o original). O diretor de fotografia Eric Dumont traz para seu quadro um visual quase nórdico, aprimorando o seu trabalho na versão original - o filme é muito lindo, alguns planos poderiam ser, tranquilamente, o plano de fundo da tela do seu computador. 

Outro detalhe que também foi amplamente divulgado durante a promoção de "My Son", diz repito a técnica que Carion escolheu para dirigir McAvoy - o ator não teve contato com o roteiro, improvisando em todas as suas cenas, tendo apenas a orientação do diretor. Não posso garantir que a dinâmica de filmagem tenha sido exatamente essa, pois não estava no set, porém é perceptível um certo desconforto em McAvoy que contribui muito para a construção do seu personagem. Seu Edmond Murray exige certa sensibilidade e muitas sutilezas, ao mesmo tempo em que precisa transparecer um senso de urgência e até mesmo alguma força física para alcançar o seu objetivo dramático - e funciona!

"My Son" não é uma obra-prima, mas não pode ser descartado por ser um filme e não uma minissérie. Sua narrativa é envolvente, os elementos de suspense e mistério se sustentam até o final e a direção é realmente impecável - se eu fosse a HBO, contrataria Carion e daria uma minissérie policial na mão dele tranquilamente (principalmente agora que, infelizmente, não temos mais o talento do inesquecível Jean-Marc Vallée).

Vale seu play!

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"My Son" é mais um caso de um filme bom que poderia ter sido uma minissérie espetacular - e talvez dizer isso sem contextualizar possa parecer até injusto porque esse drama policial é realmente envolvente, mas falta tempo de tela para desenvolver algumas subtramas que são apenas pinceladas no roteiro e que teriam um potencial enorme de enriquecer toda a jornada. O fato é que temos a impressão que o mistério é resolvido rápido demais, sem muitos obstáculos e isso, embora entretenha, soa um pouco frustrante.

Na história conhecemos Edmond Murray (James McAvoy), um pai que viaja muito a trabalho para fora do país, até que descobre que seu filho de sete anos, Ethan (Max Wilson) está desaparecido. Dominado pela culpa por ter negligenciado seus deveres como pai e pela pressão de sua ex-mulher Joan (Claire Foy), ele faz de tudo para encontrar o filho, descobrindo um lado seu que ele mesmo desconhecia. Confira o trailer:

Para os mais atentos, "My Son" vai parecer familiar, já que é a refilmagem feita pelo mesmo diretor, o francês Christian Carion, de seu grande sucesso "Mon Garçon", de apenas quatro anos atrás e estrelado por Melanie Laurent e Guillaume Canet. Isso é um problema? Não, desde que você não tenha assistido a versão original, pois os filmes são praticamente idênticos - na forma e no conteúdo.

Veja, talvez essa versão mais gourmet seja realmente melhor produzida e o fato dos atores serem conhecidos nos dá a real sensação de conforto ao assistir o filme, mas o detalhe que salta aos olhos, sem dúvida, é a atmosfera gélida ao melhor estilo "The Killing" (o original). O diretor de fotografia Eric Dumont traz para seu quadro um visual quase nórdico, aprimorando o seu trabalho na versão original - o filme é muito lindo, alguns planos poderiam ser, tranquilamente, o plano de fundo da tela do seu computador. 

Outro detalhe que também foi amplamente divulgado durante a promoção de "My Son", diz repito a técnica que Carion escolheu para dirigir McAvoy - o ator não teve contato com o roteiro, improvisando em todas as suas cenas, tendo apenas a orientação do diretor. Não posso garantir que a dinâmica de filmagem tenha sido exatamente essa, pois não estava no set, porém é perceptível um certo desconforto em McAvoy que contribui muito para a construção do seu personagem. Seu Edmond Murray exige certa sensibilidade e muitas sutilezas, ao mesmo tempo em que precisa transparecer um senso de urgência e até mesmo alguma força física para alcançar o seu objetivo dramático - e funciona!

"My Son" não é uma obra-prima, mas não pode ser descartado por ser um filme e não uma minissérie. Sua narrativa é envolvente, os elementos de suspense e mistério se sustentam até o final e a direção é realmente impecável - se eu fosse a HBO, contrataria Carion e daria uma minissérie policial na mão dele tranquilamente (principalmente agora que, infelizmente, não temos mais o talento do inesquecível Jean-Marc Vallée).

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Mytho

Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido. 

Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!

Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade -  e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!

Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!

O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.

Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!

O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.

Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!

Assista Agora

Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido. 

Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!

Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade -  e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!

Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!

O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.

Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!

O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.

Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!

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Na Própria Pele

Para mim, um dos grandes diferenciais da Netflix atualmente, são os títulos de filmes premiados em festivais importantes que ela adquire os direitos de distribuição. Normalmente filmes independentes, esse material dificilmente chegaria ao grande público sem a atuação de um grande player como a Netflix. Só lamento que o marketing da empresa não invista na sua divulgação como faz com alguns lançamentos de gosto bem duvidosos, mas enfim, regras da casa, regras do mercado.

O filme conta a história real do que aconteceu com Stefano Cucchi durante a semana que ficou preso após uma corriqueira batida policial no seu bairro. Com elementos narrativos muito parecidos com "Bicho de 7 Cabeças" e "Olhos que Condenam", esse premiado filme italiano é imperdível, mas esteja preparado, pois digerir aqueles fatos que vemos durante pouco mais 100 minutos, não é tarefa fácil.

"Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é uma dessas pérolas escondidas no catálogo que, para quem aprecia um cinema de qualidade, nos faz acreditar na importância  de uma boa história, de uma produção bem realizada e de uma direção autoral bastante competente, mas já adianto: o filme é duro, dolorido, intenso e ao mesmo tempo ótimo.

Stefano Cucchi era um jovem italiano de 31 anos que, em 2009, foi detido em uma abordagem policial enquanto fumava um simples cigarro com um amigo de infância. Embora não estivesse usando drogas no momento de sua prisão, os policiais que o abordaram naquela noite, encontraram dois cigarros de maconha e 2g de cocaína com ele. Após revistar a casa dos seus pais e não encontrar nada, Stefano passaria apenas uma noite na prisão e seria liberado, porém uma série de fatos transformaram a vida do rapaz. Uma atuação desastrosa da policia, uma postura extremamente arrogante das autoridades e com vários dos seus direitos simplesmente ignorados, Stefano Cucchi morreu apenas uma semana depois de ser condenado por, acreditem, tráfico de drogas! É importante ressaltar que trata-se de um caso real que mobilizou a Itália na época e que por isso, o valor do filme não está no resultado trágico dessa história e, sim, em que circunstâncias os fatos foram acontecendo e como se tornou uma enorme bola de neve. É terrível a velocidade como tudo se desenrola e como isso reflete na sua família. É uma realidade que incomoda pela naturalidade de como tudo é mostrado e de como as pessoas se relacionam com um ser humano pré julgado, impotente, assustado e ingênuo - sim, Stefano Cucchi foi muito ingênuo (e talvez aqui caiba a única crítica em relação ao roteiro)!!!

"Na própria pele" chega validado por inúmeros prêmios em festivais pelo mundo, inclusive em Veneza - além de uma importante indicação como melhor filme na Mostra "Novos Horizontes". É um trabalho irretocável do diretor Alessio Cremonini, com uma fotografia linda de Matteo Cocco - reparem como a câmera passeia lentamente pelo ambiente até chegar no protagonista, nos causando uma sensação absurda de ansiedade. Ou como o Diretor escolhe simplesmente travar a câmera e não acompanhar uma determinada ação até o fim, deixando que a imaginação de quem assiste construa parte dessa narrativa - assim foi no que seria a cena mais chocante do filme (o espancamento de Stefano)! Isso é cinema autoral de qualidade e com propósito conceitual que justificam as escolhas! Palmas!!!! 

Com um trabalho sensacional de um irreconhecível Alessandro Borghi (Suburra), fica impossível não se emocionar ou se revoltar com o que assistimos. "Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é daqueles filmes que ficam martelando na nossa cabeça, que nos trazem sensações únicas e que nos faz ficar em silêncio enquanto os créditos sobem - aliás, durante os créditos ouvimos os áudios reais do julgamento de Stefano e isso potencializa a dor que sentimos por aqueles personagens da vida real. O fato é que o filme vale muito a pena, mas esteja preparado para digerir uma história cruel que até hoje não foi totalmente explicada. Indico de olhos fechados!

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Para mim, um dos grandes diferenciais da Netflix atualmente, são os títulos de filmes premiados em festivais importantes que ela adquire os direitos de distribuição. Normalmente filmes independentes, esse material dificilmente chegaria ao grande público sem a atuação de um grande player como a Netflix. Só lamento que o marketing da empresa não invista na sua divulgação como faz com alguns lançamentos de gosto bem duvidosos, mas enfim, regras da casa, regras do mercado.

O filme conta a história real do que aconteceu com Stefano Cucchi durante a semana que ficou preso após uma corriqueira batida policial no seu bairro. Com elementos narrativos muito parecidos com "Bicho de 7 Cabeças" e "Olhos que Condenam", esse premiado filme italiano é imperdível, mas esteja preparado, pois digerir aqueles fatos que vemos durante pouco mais 100 minutos, não é tarefa fácil.

"Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é uma dessas pérolas escondidas no catálogo que, para quem aprecia um cinema de qualidade, nos faz acreditar na importância  de uma boa história, de uma produção bem realizada e de uma direção autoral bastante competente, mas já adianto: o filme é duro, dolorido, intenso e ao mesmo tempo ótimo.

Stefano Cucchi era um jovem italiano de 31 anos que, em 2009, foi detido em uma abordagem policial enquanto fumava um simples cigarro com um amigo de infância. Embora não estivesse usando drogas no momento de sua prisão, os policiais que o abordaram naquela noite, encontraram dois cigarros de maconha e 2g de cocaína com ele. Após revistar a casa dos seus pais e não encontrar nada, Stefano passaria apenas uma noite na prisão e seria liberado, porém uma série de fatos transformaram a vida do rapaz. Uma atuação desastrosa da policia, uma postura extremamente arrogante das autoridades e com vários dos seus direitos simplesmente ignorados, Stefano Cucchi morreu apenas uma semana depois de ser condenado por, acreditem, tráfico de drogas! É importante ressaltar que trata-se de um caso real que mobilizou a Itália na época e que por isso, o valor do filme não está no resultado trágico dessa história e, sim, em que circunstâncias os fatos foram acontecendo e como se tornou uma enorme bola de neve. É terrível a velocidade como tudo se desenrola e como isso reflete na sua família. É uma realidade que incomoda pela naturalidade de como tudo é mostrado e de como as pessoas se relacionam com um ser humano pré julgado, impotente, assustado e ingênuo - sim, Stefano Cucchi foi muito ingênuo (e talvez aqui caiba a única crítica em relação ao roteiro)!!!

"Na própria pele" chega validado por inúmeros prêmios em festivais pelo mundo, inclusive em Veneza - além de uma importante indicação como melhor filme na Mostra "Novos Horizontes". É um trabalho irretocável do diretor Alessio Cremonini, com uma fotografia linda de Matteo Cocco - reparem como a câmera passeia lentamente pelo ambiente até chegar no protagonista, nos causando uma sensação absurda de ansiedade. Ou como o Diretor escolhe simplesmente travar a câmera e não acompanhar uma determinada ação até o fim, deixando que a imaginação de quem assiste construa parte dessa narrativa - assim foi no que seria a cena mais chocante do filme (o espancamento de Stefano)! Isso é cinema autoral de qualidade e com propósito conceitual que justificam as escolhas! Palmas!!!! 

Com um trabalho sensacional de um irreconhecível Alessandro Borghi (Suburra), fica impossível não se emocionar ou se revoltar com o que assistimos. "Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é daqueles filmes que ficam martelando na nossa cabeça, que nos trazem sensações únicas e que nos faz ficar em silêncio enquanto os créditos sobem - aliás, durante os créditos ouvimos os áudios reais do julgamento de Stefano e isso potencializa a dor que sentimos por aqueles personagens da vida real. O fato é que o filme vale muito a pena, mas esteja preparado para digerir uma história cruel que até hoje não foi totalmente explicada. Indico de olhos fechados!

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Nada Ortodoxa

Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:

"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!

Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!

A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!

Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento"  - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.

Vale muito a pena!!!!!

Assista Agora

Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:

"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!

Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!

A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!

Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento"  - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.

Vale muito a pena!!!!!

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Não Fale com Estranhos

"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

Assista Agora

"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

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Não me diga adeus

Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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Não se preocupe, querida

"Não se preocupe, querida" vai dividir opniões, pois não se trata de um filme de "jornada" e sim de "respostas". Para você que gosta de séries como "Ruptura" ou "Black Mirror", certamente sua conexão será imediata; e talvez se buscarmos referências de narrativas pautadas na semiótica - até mesmo "WandaVision" poderá te ajudar a entender como o roteiro tenta construir inúmeras camadas de interpretação, em vez de se apoiar em um caminho mais fácil e assim ser considerado só um filme de gênero.

Em meio a década de 1950, Alice (Florence Pugh) é uma jovem dona de casa que, aparentemente, tem uma vida perfeita. Ela e o marido, Jack (Harry Styles), moram em uma comunidade em algum lugar do deserto da Califórnia. No entanto, com o passar do tempo, ela começa a desconfiar de toda aquela realidade. A partir de alguns estranhos eventos, Alice vai atrás de respostas até ter certeza que a empresa que seu marido trabalha, esconde, de fato, segredos perturbadores. Confira o trailer:

É inegável que por ser um filme de 120 minutos, "Não se preocupe, querida" não tem o tempo para trabalhar as nuances do mistério que pautam sua narrativa como as séries citadas acima. Comparar, em termos de detalhes e complexidade, "Ruptura" com o filme de Olivia Wilde é até injusto, mas natural. Veja, como na série da Apple, desde o primeiro minuto sabemos que algo está errado - que aquela atmosfera de perfeição quase utópica parece ter sido construída, justamente, para nos provocar desconfiança. Não acho que nem seja esse o problema do roteiro de Katie Silberman (de "Fora de Série"), e de Carey e Shane Van Dyke (de "O Silêncio") - na verdade a grande questão que pode ser levantada é que mesmo com o esforço da narrativa para entregar "pistas" pouco a pouco, no final o que vemos são resoluções atropeladas e pouco desenvolvidas (embora boas, diga-se de passagem).

Por outro lado, o que faz de "Não se preocupe, querida" um bom entretenimento, é que toda história criada dentro daquele contexto surreal bem apresentado no primeiro ato, tem uma resolução de mistério que faz total sentido no terceiro - o que dói um pouco é ter em mente que essa "jornada" (do segundo ato) tinha potencial para ser melhor explorada. Em uma era "pós-Lost", se apropriar de uma narrativa cercada de mistérios onde o impacto do plot twist se torna o diferencial da experiência, em um longa-metragem é quase um suicídio. Simplesmente não dá tempo! É até um pecado atribuir ao formato uma responsabilidade tão grande, até porquê o que assistimos aqui é uma produção extremamente cuidadosa e bem realizada - o desenho de produção, figurino, fotografia e trilha sonora estão muito bem alinhados com a proposta de Wilde (uma mistura de Ari Aster com Jordan Peele).

Sem dúvida que o grande mérito do filme vem da performance de Florence Pugh - é possível sentir na pele seu desespero e ansiedade para entender o que, de fato, está acontecendo ali. Por isso um detalhe importante precisa ser citado: Olivia Wilde é uma jovem diretora, mas já muito competente ao equilibrar o requinte de sua visão estética com sua inerente capacidade de dirigir atores - reparem nas cenas onde Alice parece surtar e como as inserções de imagens (e de som) mais abstratas ajudam a criar uma forte sensação de vazio e caos interno.

Pois bem, por tudo isso, "Não se preocupe, querida" vale como entretenimento desde que todas as expectativas estejam alinhadas. Cobrar da história mais do que o tempo lhe permitiria contar, não vai mudar sua percepção sobre o filme - as repostas que você normalmente buscaria em um filme de mistério e as reflexões sobre alguns assuntos delicados, como machismo, relacionamentos tóxicos, ganância e submissão, também vão estar lá, então "não se preocupe" e divirta-se!

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"Não se preocupe, querida" vai dividir opniões, pois não se trata de um filme de "jornada" e sim de "respostas". Para você que gosta de séries como "Ruptura" ou "Black Mirror", certamente sua conexão será imediata; e talvez se buscarmos referências de narrativas pautadas na semiótica - até mesmo "WandaVision" poderá te ajudar a entender como o roteiro tenta construir inúmeras camadas de interpretação, em vez de se apoiar em um caminho mais fácil e assim ser considerado só um filme de gênero.

Em meio a década de 1950, Alice (Florence Pugh) é uma jovem dona de casa que, aparentemente, tem uma vida perfeita. Ela e o marido, Jack (Harry Styles), moram em uma comunidade em algum lugar do deserto da Califórnia. No entanto, com o passar do tempo, ela começa a desconfiar de toda aquela realidade. A partir de alguns estranhos eventos, Alice vai atrás de respostas até ter certeza que a empresa que seu marido trabalha, esconde, de fato, segredos perturbadores. Confira o trailer:

É inegável que por ser um filme de 120 minutos, "Não se preocupe, querida" não tem o tempo para trabalhar as nuances do mistério que pautam sua narrativa como as séries citadas acima. Comparar, em termos de detalhes e complexidade, "Ruptura" com o filme de Olivia Wilde é até injusto, mas natural. Veja, como na série da Apple, desde o primeiro minuto sabemos que algo está errado - que aquela atmosfera de perfeição quase utópica parece ter sido construída, justamente, para nos provocar desconfiança. Não acho que nem seja esse o problema do roteiro de Katie Silberman (de "Fora de Série"), e de Carey e Shane Van Dyke (de "O Silêncio") - na verdade a grande questão que pode ser levantada é que mesmo com o esforço da narrativa para entregar "pistas" pouco a pouco, no final o que vemos são resoluções atropeladas e pouco desenvolvidas (embora boas, diga-se de passagem).

Por outro lado, o que faz de "Não se preocupe, querida" um bom entretenimento, é que toda história criada dentro daquele contexto surreal bem apresentado no primeiro ato, tem uma resolução de mistério que faz total sentido no terceiro - o que dói um pouco é ter em mente que essa "jornada" (do segundo ato) tinha potencial para ser melhor explorada. Em uma era "pós-Lost", se apropriar de uma narrativa cercada de mistérios onde o impacto do plot twist se torna o diferencial da experiência, em um longa-metragem é quase um suicídio. Simplesmente não dá tempo! É até um pecado atribuir ao formato uma responsabilidade tão grande, até porquê o que assistimos aqui é uma produção extremamente cuidadosa e bem realizada - o desenho de produção, figurino, fotografia e trilha sonora estão muito bem alinhados com a proposta de Wilde (uma mistura de Ari Aster com Jordan Peele).

Sem dúvida que o grande mérito do filme vem da performance de Florence Pugh - é possível sentir na pele seu desespero e ansiedade para entender o que, de fato, está acontecendo ali. Por isso um detalhe importante precisa ser citado: Olivia Wilde é uma jovem diretora, mas já muito competente ao equilibrar o requinte de sua visão estética com sua inerente capacidade de dirigir atores - reparem nas cenas onde Alice parece surtar e como as inserções de imagens (e de som) mais abstratas ajudam a criar uma forte sensação de vazio e caos interno.

Pois bem, por tudo isso, "Não se preocupe, querida" vale como entretenimento desde que todas as expectativas estejam alinhadas. Cobrar da história mais do que o tempo lhe permitiria contar, não vai mudar sua percepção sobre o filme - as repostas que você normalmente buscaria em um filme de mistério e as reflexões sobre alguns assuntos delicados, como machismo, relacionamentos tóxicos, ganância e submissão, também vão estar lá, então "não se preocupe" e divirta-se!

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Nasce uma Estrela

"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!

"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!

O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas  também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.

"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!

Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.

Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!

Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!

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"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!

"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!

O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas  também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.

"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!

Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.

Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!

Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!

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Ninguém sabe que estou aqui

"Ninguém sabe que estou aqui" provavelmente vai te surpreender! Embora tenha uma narrativa sem muita dinâmica, com pouquíssimos diálogos e uma história, digamos, previsível, o filme entrega um final onde tudo se encaixa de uma maneira muito correta - o que nos proporciona uma sensação de alivio muito particular e acaba sobrepondo as inúmeras fraquezas do roteiro. De fato, eu diria que "Ninguém sabe que estou aqui" é um filme que se apoia na empatia do protagonista para nos mover por um drama pessoal profundo sobre injustiça e as marcas que ela deixa na vida!

Memo (Jorge Garcia - Hurley de "Lost"), quando criança, foi um candidato a se tornar um fenômeno da música pop, porém os padrões da indústria do entretenimento dos anos 90 exigia um visual diferente - não havia espaço para uma criança como ele, mesmo com seu talento. Por ter uma voz incrível e uma afinação acima da média, os produtores resolveram fabricar uma "estrela" de sucesso internacional, usando a voz de Memo, mas o visual de outra criança. Traumatizado por esses (e outros importantes) acontecimentos do passado, Memo resolveu se isolar do mundo, indo morar com o tio em uma fazenda no interior do Chile, até que uma mulher da região lhe oferece a chance de encontrar a paz que ele procurou por tantos anos. Confira o trailer:

É verdade que no inicio do filme temos a impressão de estarmos assistindo algo mais cadenciado como "Sob a Pele do Lobo" até que ele vai evoluindo, pegando no tranco e nos trazendo alguns elementos bem emocionais que nos provocam a torcer pelo protagonista como em "Nasce uma Estrela" por exemplo! Essa dinâmica exige um pouco de paciência, mas o ótimo trabalho do Jorge Garcia e um direção muito competente do estreante Gaspar Antillo, nos conquista e vai nos entretendo até que finalmente encontramos a paz junto com o protagonista em uma cena ao melhor estilo "Judy"! É isso: se você gostou dessas referências que acabei de citar, sua diversão está garantida, mesmo que de uma forma um pouco menos hollywoodiana e mais autoral, mas que de qualquer modo, vai valer muito a pena!

Assista Agora ou

"Ninguém sabe que estou aqui" provavelmente vai te surpreender! Embora tenha uma narrativa sem muita dinâmica, com pouquíssimos diálogos e uma história, digamos, previsível, o filme entrega um final onde tudo se encaixa de uma maneira muito correta - o que nos proporciona uma sensação de alivio muito particular e acaba sobrepondo as inúmeras fraquezas do roteiro. De fato, eu diria que "Ninguém sabe que estou aqui" é um filme que se apoia na empatia do protagonista para nos mover por um drama pessoal profundo sobre injustiça e as marcas que ela deixa na vida!

Memo (Jorge Garcia - Hurley de "Lost"), quando criança, foi um candidato a se tornar um fenômeno da música pop, porém os padrões da indústria do entretenimento dos anos 90 exigia um visual diferente - não havia espaço para uma criança como ele, mesmo com seu talento. Por ter uma voz incrível e uma afinação acima da média, os produtores resolveram fabricar uma "estrela" de sucesso internacional, usando a voz de Memo, mas o visual de outra criança. Traumatizado por esses (e outros importantes) acontecimentos do passado, Memo resolveu se isolar do mundo, indo morar com o tio em uma fazenda no interior do Chile, até que uma mulher da região lhe oferece a chance de encontrar a paz que ele procurou por tantos anos. Confira o trailer:

É verdade que no inicio do filme temos a impressão de estarmos assistindo algo mais cadenciado como "Sob a Pele do Lobo" até que ele vai evoluindo, pegando no tranco e nos trazendo alguns elementos bem emocionais que nos provocam a torcer pelo protagonista como em "Nasce uma Estrela" por exemplo! Essa dinâmica exige um pouco de paciência, mas o ótimo trabalho do Jorge Garcia e um direção muito competente do estreante Gaspar Antillo, nos conquista e vai nos entretendo até que finalmente encontramos a paz junto com o protagonista em uma cena ao melhor estilo "Judy"! É isso: se você gostou dessas referências que acabei de citar, sua diversão está garantida, mesmo que de uma forma um pouco menos hollywoodiana e mais autoral, mas que de qualquer modo, vai valer muito a pena!

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No Limite

Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!

"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):

Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.

As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.

"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé"e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!

Vale muito a pena!

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Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!

"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):

Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.

As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.

"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé"e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!

Vale muito a pena!

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No Ritmo do Coração

"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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Nomadland

"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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Nós somos a Onda

"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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