indika.tv - Drama

Iris

"Iris" (que em em inglês recebeu o título de "In the Shadow of Iris") é um excelente drama policial francês - daqueles que as informações mais embaralham nossa cabeça, mas que em nenhum momento rouba no jogo. Talvez sem a necessidade de uma suspensão da realidade tão marcante como em "Contratiempo", mas não menos competente na construção de seu mistério - eu diria até que "Iris" vem bem na linha do ótimo "O Amante Duplo". 

Iris (Charlotte Le Bon) a linda esposa de Antoine (Jalil Lespert), um banqueiro muito rico e poderoso, desaparece no centro de Paris enquanto esperava do lado de fora de um restaurante enquanto o marido pagava a conta. Depois de apenas algumas horas, um sequestrador exige meio milhão de euros como resgate - a grande questão, porém, é que nem tudo é o que parece quando a corda começa a estourar para lado mais fraco. Confira o trailer com legendas em inglês:

"Iris" que na verdade é um remake do filme "Chaos" (2000), de Hideo Nakata, é instigante desde o primeiro plano. O roteiro do australiano Andrew Bovell vai construindo uma trama que parece previsível, mas que vai nos provocando um certo caos (e aqui fica impossível não citar o acerto do título original). Lespert, que também dirige o filme, foi muito feliz (e corajoso) ao escolher um conceito visual onde os planos (e os cortes) são rápidos e quase sempre "sujos", para justamente nos causar uma sensação de confusão - o fato é que o diretor não deixa de mostrar absolutamente nada durante as cenas, mas nunca ele expõe com clareza a razão de determinados movimentos dos atores em ação.

A dúvida sobre o que assistimos em uma cena, algum relance de personagem ou o que de fato aconteceu como um todo, ganha uma camada ainda mais corajosa quando Lespert não diferencia visualmente as ações na linha do tempo, ou seja, o que é flashback tem exatamente o mesmo conceito estético que o presente. A fotografia do Pierre-Yves Bastard (Versailles) é igualmente linda ao retratar Paris com a mesma competência em que cria esse mood de mistério que o roteiro tanto exige. O elenco também caminha alinhado com essa proposta: Charlotte Le Bon está impecável mais uma vez, mas quem rouba a cena, sem dúvida, é Camille Cottin - ela é uma das melhores atrizes da França na atualidade: versátil e sempre no tom certo! 

"Iris" é o tipo do filme que está escondido no catálogo do streaming, mas que vale muito a pena e que é louco para entrar no boca a boca dos amantes de dramas policiais - eu diria, inclusive, que é um thriller que merece ser descoberto e apreciado como um ótimo entretenimento. Saíba que ele é desafiador - um prato cheio para quem gosta de mistério policial com um toque sex appeal

Vale o play!

Assista Agora

"Iris" (que em em inglês recebeu o título de "In the Shadow of Iris") é um excelente drama policial francês - daqueles que as informações mais embaralham nossa cabeça, mas que em nenhum momento rouba no jogo. Talvez sem a necessidade de uma suspensão da realidade tão marcante como em "Contratiempo", mas não menos competente na construção de seu mistério - eu diria até que "Iris" vem bem na linha do ótimo "O Amante Duplo". 

Iris (Charlotte Le Bon) a linda esposa de Antoine (Jalil Lespert), um banqueiro muito rico e poderoso, desaparece no centro de Paris enquanto esperava do lado de fora de um restaurante enquanto o marido pagava a conta. Depois de apenas algumas horas, um sequestrador exige meio milhão de euros como resgate - a grande questão, porém, é que nem tudo é o que parece quando a corda começa a estourar para lado mais fraco. Confira o trailer com legendas em inglês:

"Iris" que na verdade é um remake do filme "Chaos" (2000), de Hideo Nakata, é instigante desde o primeiro plano. O roteiro do australiano Andrew Bovell vai construindo uma trama que parece previsível, mas que vai nos provocando um certo caos (e aqui fica impossível não citar o acerto do título original). Lespert, que também dirige o filme, foi muito feliz (e corajoso) ao escolher um conceito visual onde os planos (e os cortes) são rápidos e quase sempre "sujos", para justamente nos causar uma sensação de confusão - o fato é que o diretor não deixa de mostrar absolutamente nada durante as cenas, mas nunca ele expõe com clareza a razão de determinados movimentos dos atores em ação.

A dúvida sobre o que assistimos em uma cena, algum relance de personagem ou o que de fato aconteceu como um todo, ganha uma camada ainda mais corajosa quando Lespert não diferencia visualmente as ações na linha do tempo, ou seja, o que é flashback tem exatamente o mesmo conceito estético que o presente. A fotografia do Pierre-Yves Bastard (Versailles) é igualmente linda ao retratar Paris com a mesma competência em que cria esse mood de mistério que o roteiro tanto exige. O elenco também caminha alinhado com essa proposta: Charlotte Le Bon está impecável mais uma vez, mas quem rouba a cena, sem dúvida, é Camille Cottin - ela é uma das melhores atrizes da França na atualidade: versátil e sempre no tom certo! 

"Iris" é o tipo do filme que está escondido no catálogo do streaming, mas que vale muito a pena e que é louco para entrar no boca a boca dos amantes de dramas policiais - eu diria, inclusive, que é um thriller que merece ser descoberto e apreciado como um ótimo entretenimento. Saíba que ele é desafiador - um prato cheio para quem gosta de mistério policial com um toque sex appeal

Vale o play!

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Irma Vep

Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.

Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:

Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.

Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.

Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.

Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.

Assista Agora

Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.

Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:

Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.

Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.

Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.

Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.

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Isabel

Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio. 

Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):

Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.

A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos -  sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.

"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!

Vale muito o seu play!

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Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio. 

Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):

Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.

A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos -  sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.

"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!

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Jack Ryan

Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

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Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

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Je Suis Karl

Je Suis Karl

"Je Suis Karl" é um verdadeiro soco no estômago. Essa produção alemã usa muitos elementos de outros dois grandes sucessos do país: "Em Pedaços"e "Nós somos a Onda" - e aqui não estamos comparando as produções e sim pontuando características que facilmente conseguimos encontrar se olharmos com mais atenção para cada uma delas. Veja, "Je Suis Karl" explora várias camadas de uma complexa discussão sobre a imigração na Europa e seus reflexos em atentados terroristas, seja ele qual for a motivação - é um recorte de quem ataca e de quem é a vítima através de uma visão extremamente delicada sobre o extremismo e a ascensão da ultra direita.

Maxi Baier (Luna Wedler) é uma sobrevivente de um ataque terrorista que matou sua mãe e seus dois irmãos, restando apenas o pai. Em um belo dia, a jovem conhece Karl (Jannis Niewöhner), um sedutor estudante que a convida para um seminário de verão sobre a diversidade. Entretanto, na chamada para o evento destaca-se a frase “assuma o controle”. Juntos, eles se tornam parte de um movimento juvenil europeu que visa tomar, de fato, o poder a partir de ideias extremistas de supremacia branca. Confira o trailer (original):

Chancelado pela seleção no 71ª Festival de Berlin, o filme dirigido magistralmente por Christian Schwochow e escrito por Thomas Wendrich, apresenta uma reflexão sobre uma interpretação deturpada das origens e consequências de uma tragédia pelos olhos (e cliques) irresponsáveis de um grupo supremacista obcecado por suas estratégias de sedução - é impressionante a habilidade com que Schwochow vai quebrando a linha temporal e usando de conceitos estéticos para explorar uma narrativa que sobrepõe a dor com fanatismo, xenofobia e aliciamento, além, claro, da deturpação de valores morais com o único objetivo de mudar a mentalidade de pessoas aparentemente boas, mas facilmente influenciáveis - e aí está o grande problema (da humanidade em tempos de redes sociais).

Além de um roteiro bem redondinho e de uma direção com muita identidade, "Je Suis Karl" tem um conceito estética muito marcante, com uma fotografia deslumbrante que é potencializada por um trabalho de pós-produção das mais interessantes: reparem como as cores e as texturas se encaixam perfeitamente com a ambientação e com o clímax da história, seja em Berlim, Paris ou Praga. Mesmo em alguns momentos acima do tom, Maxi Baier faz um excelente trabalho ao lado de Jannis Niewöhner - mas a performance que mais me chamou a atenção foi a do pai de Maxi, Alex (Milan Peschel). Tem uma dor marcante no seu olhar que corta o coração.

"Je Suis Karl" tem uma levada independente que impacta na história e surpreende pelas escolhas narrativas que Schwochow e Wendrich fizeram. Saiba que o conflito prometido desde o início vai se transformando durante o segundo ato do filme e assim eliminando toda aquela previsibilidade que parecia natural, com isso a progressão das relações entre os personagens vão ganhando força e a interpretação de seus ideais, fatalmente, vai te provocar ótimas de reflexões - e esse é o ponto alto do filme!

Uma boa surpresa que vale cada minuto!

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"Je Suis Karl" é um verdadeiro soco no estômago. Essa produção alemã usa muitos elementos de outros dois grandes sucessos do país: "Em Pedaços"e "Nós somos a Onda" - e aqui não estamos comparando as produções e sim pontuando características que facilmente conseguimos encontrar se olharmos com mais atenção para cada uma delas. Veja, "Je Suis Karl" explora várias camadas de uma complexa discussão sobre a imigração na Europa e seus reflexos em atentados terroristas, seja ele qual for a motivação - é um recorte de quem ataca e de quem é a vítima através de uma visão extremamente delicada sobre o extremismo e a ascensão da ultra direita.

Maxi Baier (Luna Wedler) é uma sobrevivente de um ataque terrorista que matou sua mãe e seus dois irmãos, restando apenas o pai. Em um belo dia, a jovem conhece Karl (Jannis Niewöhner), um sedutor estudante que a convida para um seminário de verão sobre a diversidade. Entretanto, na chamada para o evento destaca-se a frase “assuma o controle”. Juntos, eles se tornam parte de um movimento juvenil europeu que visa tomar, de fato, o poder a partir de ideias extremistas de supremacia branca. Confira o trailer (original):

Chancelado pela seleção no 71ª Festival de Berlin, o filme dirigido magistralmente por Christian Schwochow e escrito por Thomas Wendrich, apresenta uma reflexão sobre uma interpretação deturpada das origens e consequências de uma tragédia pelos olhos (e cliques) irresponsáveis de um grupo supremacista obcecado por suas estratégias de sedução - é impressionante a habilidade com que Schwochow vai quebrando a linha temporal e usando de conceitos estéticos para explorar uma narrativa que sobrepõe a dor com fanatismo, xenofobia e aliciamento, além, claro, da deturpação de valores morais com o único objetivo de mudar a mentalidade de pessoas aparentemente boas, mas facilmente influenciáveis - e aí está o grande problema (da humanidade em tempos de redes sociais).

Além de um roteiro bem redondinho e de uma direção com muita identidade, "Je Suis Karl" tem um conceito estética muito marcante, com uma fotografia deslumbrante que é potencializada por um trabalho de pós-produção das mais interessantes: reparem como as cores e as texturas se encaixam perfeitamente com a ambientação e com o clímax da história, seja em Berlim, Paris ou Praga. Mesmo em alguns momentos acima do tom, Maxi Baier faz um excelente trabalho ao lado de Jannis Niewöhner - mas a performance que mais me chamou a atenção foi a do pai de Maxi, Alex (Milan Peschel). Tem uma dor marcante no seu olhar que corta o coração.

"Je Suis Karl" tem uma levada independente que impacta na história e surpreende pelas escolhas narrativas que Schwochow e Wendrich fizeram. Saiba que o conflito prometido desde o início vai se transformando durante o segundo ato do filme e assim eliminando toda aquela previsibilidade que parecia natural, com isso a progressão das relações entre os personagens vão ganhando força e a interpretação de seus ideais, fatalmente, vai te provocar ótimas de reflexões - e esse é o ponto alto do filme!

Uma boa surpresa que vale cada minuto!

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Jogo da Corrupção

Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.

partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:

Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.

Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).

Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.

Vale seu play!

Assista Agora

Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.

partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:

Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.

Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).

Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.

Vale seu play!

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Jogo do Dinheiro

"Jogo do Dinheiro" é entretenimento puro, daqueles que será necessário uma boa dose de suspensão da realidade, mas que também te faz ficar grudado na tela durante seus 90 minutos de filme - e aqui cabe um comentário importante: mesmo com o filme sendo arquitetado para criar uma certa tensão, é a forma como os personagens vão se relacionando e construindo seus vínculos, que prende nossa atenção; não necessariamente as cenas de ação (mesmo com algumas sendo bem importantes).

Lee Gates (George Clooney) é o apresentador de um popular programa de TV chamado "Money Monster", onde presta uma espécie de consultoria financeira para sua audiência da forma mais debochada possível: ele canta, dança, pula, se veste de rapper, entra ao lado de dançarinas de palco - um autêntico showman! Diante da ingenuidade de quem segue seus conselhos, um deles, Kyle Budwell (Jack O’Connell) perde muito dinheiro devido a uma dessas dicas "infalíveis" de Lee, é quando, buscando vingança e explicações, faz do apresentador um refém em seu próprio programa e ao vivo. Lee conta com poucas pessoas para ajudá-lo a sair dessa situação, sendo a principal delas sua diretora Patty (Julia Roberts). Confira o trailer:

Diferente do recente "Interrompemos a Programação"- que tem um conceito narrativo mais autoral, independente e que tenta se aprofundar exclusivamente nos fantasmas por trás das motivações do protagonista; "Jogo do Dinheiro" foca muito mais na agilidade de um programa de TV ao vivo, com diferentes ângulos, cortes rápidos e uma urgência na transmissão da informação, custe o que custar. O interessante do roteiro, sem a menor dúvida, é a forma como é construída aquela atmosfera de tensão: de um lado o clichê, o tosco, o irônico e uma boa dose de humor (negro) personificado pelo apresentador Lee Gates; de outro, a critica social, a ingenuidade e o desespero de alguém que foi enganado (como vemos em tantos documentários sobre a relação com investidores de Wall Street) na figura de Kyle. 

O filme é dirigido pela Jodie Foster (sim, ela mesmo, a atriz de "Silêncio dos Inocentes"). Ela aproveita da dinâmica de urgência que a diretora na ficção (Patty) costuma imprimir no seu show para, em segundo plano, discutir questões importantes como a ganância de CEOs, a superficialidade da mídia americana e a irresponsabilidade de alguns programas "jornalísticos" que só pensam na audiência - mérito da conexão perfeita entre Foster e o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf.

De fato, "Jogo do Dinheiro" é entretenimento, mas não esquece do conteúdo denunciativo para atender os mais atentos.

Vale a pena!

Assista Agora

"Jogo do Dinheiro" é entretenimento puro, daqueles que será necessário uma boa dose de suspensão da realidade, mas que também te faz ficar grudado na tela durante seus 90 minutos de filme - e aqui cabe um comentário importante: mesmo com o filme sendo arquitetado para criar uma certa tensão, é a forma como os personagens vão se relacionando e construindo seus vínculos, que prende nossa atenção; não necessariamente as cenas de ação (mesmo com algumas sendo bem importantes).

Lee Gates (George Clooney) é o apresentador de um popular programa de TV chamado "Money Monster", onde presta uma espécie de consultoria financeira para sua audiência da forma mais debochada possível: ele canta, dança, pula, se veste de rapper, entra ao lado de dançarinas de palco - um autêntico showman! Diante da ingenuidade de quem segue seus conselhos, um deles, Kyle Budwell (Jack O’Connell) perde muito dinheiro devido a uma dessas dicas "infalíveis" de Lee, é quando, buscando vingança e explicações, faz do apresentador um refém em seu próprio programa e ao vivo. Lee conta com poucas pessoas para ajudá-lo a sair dessa situação, sendo a principal delas sua diretora Patty (Julia Roberts). Confira o trailer:

Diferente do recente "Interrompemos a Programação"- que tem um conceito narrativo mais autoral, independente e que tenta se aprofundar exclusivamente nos fantasmas por trás das motivações do protagonista; "Jogo do Dinheiro" foca muito mais na agilidade de um programa de TV ao vivo, com diferentes ângulos, cortes rápidos e uma urgência na transmissão da informação, custe o que custar. O interessante do roteiro, sem a menor dúvida, é a forma como é construída aquela atmosfera de tensão: de um lado o clichê, o tosco, o irônico e uma boa dose de humor (negro) personificado pelo apresentador Lee Gates; de outro, a critica social, a ingenuidade e o desespero de alguém que foi enganado (como vemos em tantos documentários sobre a relação com investidores de Wall Street) na figura de Kyle. 

O filme é dirigido pela Jodie Foster (sim, ela mesmo, a atriz de "Silêncio dos Inocentes"). Ela aproveita da dinâmica de urgência que a diretora na ficção (Patty) costuma imprimir no seu show para, em segundo plano, discutir questões importantes como a ganância de CEOs, a superficialidade da mídia americana e a irresponsabilidade de alguns programas "jornalísticos" que só pensam na audiência - mérito da conexão perfeita entre Foster e o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf.

De fato, "Jogo do Dinheiro" é entretenimento, mas não esquece do conteúdo denunciativo para atender os mais atentos.

Vale a pena!

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Jogo do Poder

Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União. 

"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis)Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.

Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.

A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!

Vale seu play!

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Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União. 

"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis)Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.

Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.

A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!

Vale seu play!

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Jogo Justo

Você vai se surpreender com a potência de “Jogo Justo” - principalmente por trazer elementos bastante particulares de obras como “A Assistente” e “Industry”. Embora tenha sido vendido como uma espécie de thriller erótico pela Netflix, o filme vai muito além ao equilibrar aquela atmosfera de excessos dos bancos de investimento de Wall Street (daí a referência de “Industry”) com um drama angustiante pela sua psicologia e pela discussão relevante sobre o machismo e as várias formas de abuso (talvez um pouco mais explícito, mas igualmente competente, como vimos em “A Assistente”). Com um excelente roteiro e uma inspirada direção de Chloe Domon (de “Ballers”), o filme se alimenta de uma tensão crescente, quase insuportável, para expor uma triste realidade que realmente mexe com nossa percepção sobre o ser humano.

Basicamente, o filme acompanha o jovem casal Emily (Phoebe Dynevor) e Luke (Alden Ehrenreich), que trabalha em um banco de investimentos e que acabam embarcando em um romance proibido que vai contra as regras da organização. O segredo parece tornar as coisas ainda mais intensas até que Emily é promovida inesperadamente para uma posição que Luke almejava e aí, já viu. Confira o trailer:

Ë impressionante como acompanhar o colapso de um relacionamento diante da ebulição de egos, poder e pressões sociais e profissionais, mexe com a gente. “Jogo Justo” sabe exatamente como construir uma dinâmica envolvente que, pouca a pouco, é tirada de nós em uma desconstrução narrativa digna de aplausos - tirando algumas leves derrapadas no terceiro ato, eu diria que o roteiro merece mais do que elogios!

Domon é inteligente com explorar a sensibilidade do olhar e do silêncio ao mesmo tempo em que seu texto é mais bruto, direto, provocador. Não por acaso você vai escutar que Emily deve ter tido relações sexuais com o chefe para conseguir a promoção ou até que ela nunca será respeitada porque parece um cupcake indo para o trabalho, no entanto é na forma como Dynevor e Ehrenreich se relacionam com essas situações que somos tocados - é quase como se eles não soubessem decodificar suas falhas, dada a naturalidade desse tipo de posicionamento machista (para quem diz e para quem escuta). E o legal é que o roteiro também expõe a insegurança de Emily ao lidar com essa atmosfera, mesmo quando ela vai contra seus princípios para fazer parte de tudo aquilo e assim se sentir “inserida”.

Um ponto muito interessante e que vale citar é o fato de que “Fair Play” (no original) fez um certo barulho no Festival de Sundance em 2023 - gerando, inclusive, comparações com “Psicopata Americano” destaque no mesmo festival em 2000. Tão diferentes quanto semelhantes, ambos os filmes desafiam nossa compreensão sobre o ser humana ao ser provocado intimamente. O fato é que aqui temos mais uma história densa sobre a colisão caótica entre o poder e o ego, em uma era tão socialmente sensível ao lugar de fala sobre disparidade de gêneros. Com uma direção que sabe da capacidade interpretativa de sua audiência, ela deixa espaço para uma discussão coerente sem precisar levantar bandeiras à toa - é por isso que eu diria que esse filme já pode ser considerado um dos melhores dramas psicológicos recentes. Finalmente temos um excepcional filme de gênero que vale cada centavo dos míseros US$20 milhões pagos em direitos pela Netflix.

Imperdível.

Assista Agora

Você vai se surpreender com a potência de “Jogo Justo” - principalmente por trazer elementos bastante particulares de obras como “A Assistente” e “Industry”. Embora tenha sido vendido como uma espécie de thriller erótico pela Netflix, o filme vai muito além ao equilibrar aquela atmosfera de excessos dos bancos de investimento de Wall Street (daí a referência de “Industry”) com um drama angustiante pela sua psicologia e pela discussão relevante sobre o machismo e as várias formas de abuso (talvez um pouco mais explícito, mas igualmente competente, como vimos em “A Assistente”). Com um excelente roteiro e uma inspirada direção de Chloe Domon (de “Ballers”), o filme se alimenta de uma tensão crescente, quase insuportável, para expor uma triste realidade que realmente mexe com nossa percepção sobre o ser humano.

Basicamente, o filme acompanha o jovem casal Emily (Phoebe Dynevor) e Luke (Alden Ehrenreich), que trabalha em um banco de investimentos e que acabam embarcando em um romance proibido que vai contra as regras da organização. O segredo parece tornar as coisas ainda mais intensas até que Emily é promovida inesperadamente para uma posição que Luke almejava e aí, já viu. Confira o trailer:

Ë impressionante como acompanhar o colapso de um relacionamento diante da ebulição de egos, poder e pressões sociais e profissionais, mexe com a gente. “Jogo Justo” sabe exatamente como construir uma dinâmica envolvente que, pouca a pouco, é tirada de nós em uma desconstrução narrativa digna de aplausos - tirando algumas leves derrapadas no terceiro ato, eu diria que o roteiro merece mais do que elogios!

Domon é inteligente com explorar a sensibilidade do olhar e do silêncio ao mesmo tempo em que seu texto é mais bruto, direto, provocador. Não por acaso você vai escutar que Emily deve ter tido relações sexuais com o chefe para conseguir a promoção ou até que ela nunca será respeitada porque parece um cupcake indo para o trabalho, no entanto é na forma como Dynevor e Ehrenreich se relacionam com essas situações que somos tocados - é quase como se eles não soubessem decodificar suas falhas, dada a naturalidade desse tipo de posicionamento machista (para quem diz e para quem escuta). E o legal é que o roteiro também expõe a insegurança de Emily ao lidar com essa atmosfera, mesmo quando ela vai contra seus princípios para fazer parte de tudo aquilo e assim se sentir “inserida”.

Um ponto muito interessante e que vale citar é o fato de que “Fair Play” (no original) fez um certo barulho no Festival de Sundance em 2023 - gerando, inclusive, comparações com “Psicopata Americano” destaque no mesmo festival em 2000. Tão diferentes quanto semelhantes, ambos os filmes desafiam nossa compreensão sobre o ser humana ao ser provocado intimamente. O fato é que aqui temos mais uma história densa sobre a colisão caótica entre o poder e o ego, em uma era tão socialmente sensível ao lugar de fala sobre disparidade de gêneros. Com uma direção que sabe da capacidade interpretativa de sua audiência, ela deixa espaço para uma discussão coerente sem precisar levantar bandeiras à toa - é por isso que eu diria que esse filme já pode ser considerado um dos melhores dramas psicológicos recentes. Finalmente temos um excepcional filme de gênero que vale cada centavo dos míseros US$20 milhões pagos em direitos pela Netflix.

Imperdível.

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Jóias Brutas

"Jóias Brutas" é sobre o caos que pode se tornar a vida de um ser-humano que está sempre preocupado em ganhar mais dinheiro, no sentido ganancioso da palavra! Aliás, é angustiante como a direção, o roteiro e a montagem trabalham alinhados para provocar essa sensação de caos, de desordem, de desespero! Simplesmente incrível!

O filme acompanha a jornada do joalheiro (e judeu) Howard Ratner (Adam Sandler). Viciado em apostas, e não necessariamente apenas com dinheiro, Ratner está sempre colocando sua própria vida jogo. Assim que consegue uma pedra de opala de mineradores da Etiópia, ele inicia uma série de negociações paralelas com o objetivo de valorizar o artefacto que vai entrar em um leilão em breve. Acontece que Ratner acaba se enrolando e agora precisa quitar algumas dívidas anteriores, para isso, sua única saída são as apostas, cada vez mais arriscadas, envolvendo jogos de basquete e um dos seus principais clientes, o astro do Boston Celtics, Kevin Garnett. Confira o trailer: 

Esse é o segundo filme que assisto dos irmãos Benny e Josh Safdie - o primeiro, o excelente, Amor, Drogas e Nova York, uma espécie de "Eu, Christiane F." com um olhar extremamente visceral sobre o relacionamento humano e como o ambiente impacta nesse processo de auto-destruição. O interessante é que "Jóias Brutas" segue esse mesmo conceito narrativo e visual, e fortalece a identidade dos irmãos Safdie como poucas vezes vi na história recente do cinema autoral. Eu já adianto: prestem muita atenção no trabalho desses caras! 

Se existiu toda a polêmica pela não indicação do Adam Sandler por "Jóias Brutas", já que essa parecia ser a chance da sua vida como comentamos no blog, é preciso dizer que o filme vai muito além do seu incrível trabalho. Da concepção estética ao roteiro redondinho, passando por uma direção de elenco simplesmente fabulosa - esse filme é daqueles que mexem com nossas sensações e que entrega um final impecável!

Existem alguns elementos nesse filme dos irmão Safdie que podem passar despercebidos para os menos atentos, mas que ajudam a construir todas as sensações que temos enquanto acompanhamos a história. Muito do que sentimos é reflexo de como a ambientação de uma ação nos provoca a refletir, veja: existe um conceito visual frenético, mérito de um trabalho sensacional do fotógrafo Darius Khondji - um daqueles profissionais notáveis que ainda não ganhou um Oscar, mas carrega no currículo obras-primas como "Seven", "Evita", "Okja", "Amor", "Meia-noite em Paris" e por aí vai! Pois bem, alinhado a isso temos um desenho de som fantástico - reparem em como a cidade pulsa (NY é aquilo) e em detalhes simples como o som da botão que abre a porta de segurança da loja, nos causam uma enorme sensação de angústia! Tudo isso com personagens falando todos ao mesmo tempo onde, mais importante do que entende-los, é experimentar aquela desorientação momentânea que a cena propõe! 

Seguindo essa linha, a trilha sonora mais tecno traz para "Jóias Brutas" um ar hipnótico, moderno, inovador, tão presente na vida do nova-iorquino! Reparem no desenho da luz negra e no brilho das roupas na cena da boate onde, em determinado momento, tudo desaparece para dar protagonismo ao personagem que interessa na construção do próximo caos: no caso, Demany (LaKeith Stanfield), o responsável por levar clientes ilustres para a joalheria de Ratner. Nessa mesma sequência, sentimos na pele a dor de nunca ser o centro das atenções ou de ter o respeito por ser o que é, e sim por já ter tido algo, quando Howard Ratner se depara com sua "amante gostosa" (Julia Fox) ao lado de alguém supostamente mais em evidência naquele momento! É intenso, real e cruel!

O resumo técnico de "Jóias Brutas" comprova uma das maiores injustiças que a Academia cometeu em 2020 (ao lado de "A Despedida"). Como "Closer", onde o subtexto e as sensações são mais profundos do que exatamente o que vemos na tela, talvez esse filme não se estabeleça como uma unanimidade! Para mim, um dos melhores do ano sem a menor sombra de dúvidas e um convite ao "cinema de gênero com alma". Não se trata de um suspense policial como a Netflix erradamente divulgou, "Jóias Brutas" é sim um drama profundo, auto-destrutivo e caótico, capaz de relativizar a importância da família, da vida e do caráter pela busca de um sonho material e ostensivo que só existe onde pouco se constrói com propósito!

Play, para não se arrepender!

Assista Agora

"Jóias Brutas" é sobre o caos que pode se tornar a vida de um ser-humano que está sempre preocupado em ganhar mais dinheiro, no sentido ganancioso da palavra! Aliás, é angustiante como a direção, o roteiro e a montagem trabalham alinhados para provocar essa sensação de caos, de desordem, de desespero! Simplesmente incrível!

O filme acompanha a jornada do joalheiro (e judeu) Howard Ratner (Adam Sandler). Viciado em apostas, e não necessariamente apenas com dinheiro, Ratner está sempre colocando sua própria vida jogo. Assim que consegue uma pedra de opala de mineradores da Etiópia, ele inicia uma série de negociações paralelas com o objetivo de valorizar o artefacto que vai entrar em um leilão em breve. Acontece que Ratner acaba se enrolando e agora precisa quitar algumas dívidas anteriores, para isso, sua única saída são as apostas, cada vez mais arriscadas, envolvendo jogos de basquete e um dos seus principais clientes, o astro do Boston Celtics, Kevin Garnett. Confira o trailer: 

Esse é o segundo filme que assisto dos irmãos Benny e Josh Safdie - o primeiro, o excelente, Amor, Drogas e Nova York, uma espécie de "Eu, Christiane F." com um olhar extremamente visceral sobre o relacionamento humano e como o ambiente impacta nesse processo de auto-destruição. O interessante é que "Jóias Brutas" segue esse mesmo conceito narrativo e visual, e fortalece a identidade dos irmãos Safdie como poucas vezes vi na história recente do cinema autoral. Eu já adianto: prestem muita atenção no trabalho desses caras! 

Se existiu toda a polêmica pela não indicação do Adam Sandler por "Jóias Brutas", já que essa parecia ser a chance da sua vida como comentamos no blog, é preciso dizer que o filme vai muito além do seu incrível trabalho. Da concepção estética ao roteiro redondinho, passando por uma direção de elenco simplesmente fabulosa - esse filme é daqueles que mexem com nossas sensações e que entrega um final impecável!

Existem alguns elementos nesse filme dos irmão Safdie que podem passar despercebidos para os menos atentos, mas que ajudam a construir todas as sensações que temos enquanto acompanhamos a história. Muito do que sentimos é reflexo de como a ambientação de uma ação nos provoca a refletir, veja: existe um conceito visual frenético, mérito de um trabalho sensacional do fotógrafo Darius Khondji - um daqueles profissionais notáveis que ainda não ganhou um Oscar, mas carrega no currículo obras-primas como "Seven", "Evita", "Okja", "Amor", "Meia-noite em Paris" e por aí vai! Pois bem, alinhado a isso temos um desenho de som fantástico - reparem em como a cidade pulsa (NY é aquilo) e em detalhes simples como o som da botão que abre a porta de segurança da loja, nos causam uma enorme sensação de angústia! Tudo isso com personagens falando todos ao mesmo tempo onde, mais importante do que entende-los, é experimentar aquela desorientação momentânea que a cena propõe! 

Seguindo essa linha, a trilha sonora mais tecno traz para "Jóias Brutas" um ar hipnótico, moderno, inovador, tão presente na vida do nova-iorquino! Reparem no desenho da luz negra e no brilho das roupas na cena da boate onde, em determinado momento, tudo desaparece para dar protagonismo ao personagem que interessa na construção do próximo caos: no caso, Demany (LaKeith Stanfield), o responsável por levar clientes ilustres para a joalheria de Ratner. Nessa mesma sequência, sentimos na pele a dor de nunca ser o centro das atenções ou de ter o respeito por ser o que é, e sim por já ter tido algo, quando Howard Ratner se depara com sua "amante gostosa" (Julia Fox) ao lado de alguém supostamente mais em evidência naquele momento! É intenso, real e cruel!

O resumo técnico de "Jóias Brutas" comprova uma das maiores injustiças que a Academia cometeu em 2020 (ao lado de "A Despedida"). Como "Closer", onde o subtexto e as sensações são mais profundos do que exatamente o que vemos na tela, talvez esse filme não se estabeleça como uma unanimidade! Para mim, um dos melhores do ano sem a menor sombra de dúvidas e um convite ao "cinema de gênero com alma". Não se trata de um suspense policial como a Netflix erradamente divulgou, "Jóias Brutas" é sim um drama profundo, auto-destrutivo e caótico, capaz de relativizar a importância da família, da vida e do caráter pela busca de um sonho material e ostensivo que só existe onde pouco se constrói com propósito!

Play, para não se arrepender!

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Joika

Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.

Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):

Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística  Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.

Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".

Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.

Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):

Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística  Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.

Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".

Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.

Vale muito o seu play!

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Jovem e Bela

"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.

No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.

Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!

Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.

Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.

Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.

Vale muito o seu play!

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"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.

No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.

Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!

Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.

Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.

Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.

Vale muito o seu play!

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Joy

Joy

Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar. 

Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:

Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.

Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.

Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.

É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!

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Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar. 

Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:

Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.

Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.

Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.

É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!

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Judas e o Messias Negro

Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Julho Agosto

"Julho Agosto" (que em algumas plataformas de streaming ganhou o título de "Verão em Família") pode até soar como uma história adolescente com aquele tempero quase independente de um filme francês produzido para encantar o grande público - e de fato o filme escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème traz esses elementos, mas basta alguns minutos para perceber que a proposta é muito mais profunda, pois o roteiro se apoia em diversas camadas para expor um delicado retrato sobre a juventude e como essa realidade pode impactar no relacionamento entre pais (separados) e seus filhos.

As irmãs Laura (Luna Lou) e Josephine (Alma Jodorowsky) vão passar as férias de julho na casa de praia do padrasto. Enquanto a primeira se esforça para esconder uma grave travessura, a mais velha vive a dor e a delícia de uma intensa paixão de verão. No mês seguinte, elas vão visitar o pai em outra região da França e os problemas mudam de figura: enquanto Josephine lida com as consequências inimagináveis de seu romance, Luna se afasta a cada dia da infância em busca de respostas para suas próprias convicções. Confira o trailer:

Veja, "Juillet août" (no original) constrói uma narrativa interessante, mesmo que em alguns momentos pareça se perder na proposta - digo isso pelos caminhos que o roteiro escolhe para criar os conflitos e justificar a relação, essa sim muito mais interessante, entre as irmãs Laura e Josephine com seus pais que não estão mais juntos, mas fazem questão de se mostrar amorosos com elas e respeitosos entre si. Aqui, é bacana relatar que em nenhum momento (ou quase nenhum, graças a personalidade forte de Laura) o embate tem um tom dramático, pelo contrário, Diastème provoca a audiência muito mais por priorizar o diálogo do que por criar cenas impactantes - isso humaniza a relação familiar de tal maneira que fica impossível não nos colocarmos (como pais) nas situações vividas pelos personagens. Não existe a dicotomia usual dos filmes americanos do bom e do mal, ou do certo e do errado - como na vida real, são pontos de vista para uma mesma situação, e a partir daí as demonstrações de carinho, mesmo quando a bronca é necessária, são construídas com o intuito de educar e de encontrar as melhores soluções.

"Julho Agosto" tem o mérito de falar sobre o amadurecimento pelo olhar das jovens protagonistas - e como todos sabem, amadurecer não é um jornada das mais fáceis. O filme é realmente muito feliz ao discutir uma dinâmica de comunicação moderna observando uma nova estrutura familiar, com suas dores, mas também com seus pontos positivos: o papel do padrasto das meninas, é um bom exemplo, já que da sua forma mais simples, ele tenta passar ensinamentos e ainda deixa claro que está sempre disposto a ajudar no que elas precisarem; enquanto, ao mesmo tempo, Laura sente um enorme ciúme do pai e de forma honesta com seu sentimento tenta se colocar entre ele e sua pretendente. Entendem a complexidade das relações, mas com que delicadeza que esse filme trata do tema?

O filme é uma graça, muito mérito do seu roteiro. É incrível como a audiência se sente bem ao lado dos personagens e como eles são carismáticos - não é por acaso que nos interessamos por suas jornadas, entendemos suas motivações e principalmente torcemos para que tudo dê certo em nome da paz para aquela família. A mensagem é das melhores, mesmo que a vida teime em desafiar todos eles.

Vale muito a pena!

Assista Agora

"Julho Agosto" (que em algumas plataformas de streaming ganhou o título de "Verão em Família") pode até soar como uma história adolescente com aquele tempero quase independente de um filme francês produzido para encantar o grande público - e de fato o filme escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème traz esses elementos, mas basta alguns minutos para perceber que a proposta é muito mais profunda, pois o roteiro se apoia em diversas camadas para expor um delicado retrato sobre a juventude e como essa realidade pode impactar no relacionamento entre pais (separados) e seus filhos.

As irmãs Laura (Luna Lou) e Josephine (Alma Jodorowsky) vão passar as férias de julho na casa de praia do padrasto. Enquanto a primeira se esforça para esconder uma grave travessura, a mais velha vive a dor e a delícia de uma intensa paixão de verão. No mês seguinte, elas vão visitar o pai em outra região da França e os problemas mudam de figura: enquanto Josephine lida com as consequências inimagináveis de seu romance, Luna se afasta a cada dia da infância em busca de respostas para suas próprias convicções. Confira o trailer:

Veja, "Juillet août" (no original) constrói uma narrativa interessante, mesmo que em alguns momentos pareça se perder na proposta - digo isso pelos caminhos que o roteiro escolhe para criar os conflitos e justificar a relação, essa sim muito mais interessante, entre as irmãs Laura e Josephine com seus pais que não estão mais juntos, mas fazem questão de se mostrar amorosos com elas e respeitosos entre si. Aqui, é bacana relatar que em nenhum momento (ou quase nenhum, graças a personalidade forte de Laura) o embate tem um tom dramático, pelo contrário, Diastème provoca a audiência muito mais por priorizar o diálogo do que por criar cenas impactantes - isso humaniza a relação familiar de tal maneira que fica impossível não nos colocarmos (como pais) nas situações vividas pelos personagens. Não existe a dicotomia usual dos filmes americanos do bom e do mal, ou do certo e do errado - como na vida real, são pontos de vista para uma mesma situação, e a partir daí as demonstrações de carinho, mesmo quando a bronca é necessária, são construídas com o intuito de educar e de encontrar as melhores soluções.

"Julho Agosto" tem o mérito de falar sobre o amadurecimento pelo olhar das jovens protagonistas - e como todos sabem, amadurecer não é um jornada das mais fáceis. O filme é realmente muito feliz ao discutir uma dinâmica de comunicação moderna observando uma nova estrutura familiar, com suas dores, mas também com seus pontos positivos: o papel do padrasto das meninas, é um bom exemplo, já que da sua forma mais simples, ele tenta passar ensinamentos e ainda deixa claro que está sempre disposto a ajudar no que elas precisarem; enquanto, ao mesmo tempo, Laura sente um enorme ciúme do pai e de forma honesta com seu sentimento tenta se colocar entre ele e sua pretendente. Entendem a complexidade das relações, mas com que delicadeza que esse filme trata do tema?

O filme é uma graça, muito mérito do seu roteiro. É incrível como a audiência se sente bem ao lado dos personagens e como eles são carismáticos - não é por acaso que nos interessamos por suas jornadas, entendemos suas motivações e principalmente torcemos para que tudo dê certo em nome da paz para aquela família. A mensagem é das melhores, mesmo que a vida teime em desafiar todos eles.

Vale muito a pena!

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Julieta

"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.

A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:

Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.

O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.

"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.

Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.

Assista Agora

"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.

A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:

Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.

O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.

"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.

Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.

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King Richard

Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

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Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

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Kursk

"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!

Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!

Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.

As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados. 

Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!

É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.

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"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!

Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!

Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.

As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados. 

Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!

É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.

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La La Land

A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa! 

O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:

Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!

Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").

Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.

Vale muito o seu play!

Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!

Assista Agora

A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa! 

O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:

Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!

Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").

Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.

Vale muito o seu play!

Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!

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Lady Bird

"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:

O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.

O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!

Vale muito a pena!

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"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:

O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.

O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!

Vale muito a pena!

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