Imagine se o Mark Zuckerberg resolvesse criar um projeto que aparentemente parece impossível de realizar por questões tecnológicas e de logística, você investiria nessa ideia? "Linha Reta" (ou "The Hummingbird Project", no original) conta justamente essa história - inclusive com o Zuckerberg da ficção, Jesse Eisenberg, como protagonista.
O filme apresenta Vincent (Eisenberg) e Anton Zaleski (Alexander Skarsgård), funcionários de uma grande corretora que opera na bolsa de valores de Nova York e investe milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar sua performance e gerar ainda mais lucro para a empresa graças a essas inovações. Ambiciosos, os dois resolvem se demitir para começar um novo empreendimento que promete revolucionar a maneira como o processo de compra e venda de ações acontece - eles queriam construir um cabo de fibra ótica, em linha reta, entre a Bolsa de Valores do Kansas e a de Nova York que geraria uma velocidade superior ao da concorrência, dando assim uma vantagem importante na escala das negociações. O grande problema: eles não sabiam exatamente se a tecnologia funcionaria com a velocidade que prometiam e se, na prática, seria possível traçar essa linha reta imaginária que cruzaria o país, devido aos desafios geográficos do percurso. Confira o trailer:
Embora o filme seja muito interessante e curioso, ele certamente vai dialogar melhor com aqueles que estão, de alguma forma, envolvidos com o universo do empreendedorismo - são tantas lições que fica até difícil enumerar. Talvez o grande elemento dramático que move a narrativa seja justamente a vontade de transformar uma ideia em algo real, custe o que custar (e no caso foram bilhões de dólares). A linha tênue entre ser resiliente e ser teimoso também está presente, em diferentes formas, na construção da personalidade dos dois personagens - se Vincent é o Steve Jobs, Zaleski é seu Wosniak.
Apesar de o roteiro do canadense Kim Nguyen, que também dirige o filme, conseguir equilibrar uma proposta que mistura a jornada empreendedora com entretenimento (tão bem realizado pela dupla Fincher/Sorkin em "A Rede Social"), a dinâmica da narrativa pode prejudicar a percepção sobre o filme - muitas pessoas vão achar ele lento. Sinceramente não acho que seja o caso. Nguyen também é muito competente tecnicamente, discreto eu diria. Minha única critica diz respeito a direção de atores: ele transformou os personagens de Skarsgård (o nerd, desenvolvedor, introspectivo) e de Salma Hayek (a empresária, ambiciosa, sem escrúpulos) em esteriótipos desnecessários - embora tragam algum alívio cômico para a trama, essa composição gera uma sensação de distanciamento da realidade.
A técnica do PDCA (Promete Depois Corre Atrás) tão comum no meio startupeiro envolve alguns riscos e "Linha Reta" explora muito bem esse elemento, principalmente na relação dos empreendedores com os investidores e depois no impacto que a pressão pelo sucesso (e daquele retorno financeiro prometido) tem na saúde e nas interações com equipe e sócios. O roteiro trabalha muito bem aquele tão falado conceito de "montanha russa" da jornada, onde o tempo e a concorrência podem se tornar definir o sucesso ou o fracasso, e por essa razão não acho que o filme seja sobre "ganância", mas sim sobre "limites" (ou a falta deles) para ser a primeira ou a melhor solução para um problema.
Vale muito o seu play!
Imagine se o Mark Zuckerberg resolvesse criar um projeto que aparentemente parece impossível de realizar por questões tecnológicas e de logística, você investiria nessa ideia? "Linha Reta" (ou "The Hummingbird Project", no original) conta justamente essa história - inclusive com o Zuckerberg da ficção, Jesse Eisenberg, como protagonista.
O filme apresenta Vincent (Eisenberg) e Anton Zaleski (Alexander Skarsgård), funcionários de uma grande corretora que opera na bolsa de valores de Nova York e investe milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar sua performance e gerar ainda mais lucro para a empresa graças a essas inovações. Ambiciosos, os dois resolvem se demitir para começar um novo empreendimento que promete revolucionar a maneira como o processo de compra e venda de ações acontece - eles queriam construir um cabo de fibra ótica, em linha reta, entre a Bolsa de Valores do Kansas e a de Nova York que geraria uma velocidade superior ao da concorrência, dando assim uma vantagem importante na escala das negociações. O grande problema: eles não sabiam exatamente se a tecnologia funcionaria com a velocidade que prometiam e se, na prática, seria possível traçar essa linha reta imaginária que cruzaria o país, devido aos desafios geográficos do percurso. Confira o trailer:
Embora o filme seja muito interessante e curioso, ele certamente vai dialogar melhor com aqueles que estão, de alguma forma, envolvidos com o universo do empreendedorismo - são tantas lições que fica até difícil enumerar. Talvez o grande elemento dramático que move a narrativa seja justamente a vontade de transformar uma ideia em algo real, custe o que custar (e no caso foram bilhões de dólares). A linha tênue entre ser resiliente e ser teimoso também está presente, em diferentes formas, na construção da personalidade dos dois personagens - se Vincent é o Steve Jobs, Zaleski é seu Wosniak.
Apesar de o roteiro do canadense Kim Nguyen, que também dirige o filme, conseguir equilibrar uma proposta que mistura a jornada empreendedora com entretenimento (tão bem realizado pela dupla Fincher/Sorkin em "A Rede Social"), a dinâmica da narrativa pode prejudicar a percepção sobre o filme - muitas pessoas vão achar ele lento. Sinceramente não acho que seja o caso. Nguyen também é muito competente tecnicamente, discreto eu diria. Minha única critica diz respeito a direção de atores: ele transformou os personagens de Skarsgård (o nerd, desenvolvedor, introspectivo) e de Salma Hayek (a empresária, ambiciosa, sem escrúpulos) em esteriótipos desnecessários - embora tragam algum alívio cômico para a trama, essa composição gera uma sensação de distanciamento da realidade.
A técnica do PDCA (Promete Depois Corre Atrás) tão comum no meio startupeiro envolve alguns riscos e "Linha Reta" explora muito bem esse elemento, principalmente na relação dos empreendedores com os investidores e depois no impacto que a pressão pelo sucesso (e daquele retorno financeiro prometido) tem na saúde e nas interações com equipe e sócios. O roteiro trabalha muito bem aquele tão falado conceito de "montanha russa" da jornada, onde o tempo e a concorrência podem se tornar definir o sucesso ou o fracasso, e por essa razão não acho que o filme seja sobre "ganância", mas sim sobre "limites" (ou a falta deles) para ser a primeira ou a melhor solução para um problema.
Vale muito o seu play!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
Se você gosta daquele estilo de filme onde um único personagem comanda a narrativa normalmente contracenando com um telefone ou uma tela de computador como "A Hora do Desespero", de "Culpa" e até de "Buscando...", "Locke" é para você! O filme dirigido pelo Steven Knight (de "Calmaria"), funciona basicamente como um thriller psicológico dos mais inteligentes, levando a audiência em uma viagem angustiante, emocionalmente densa e profundamente cativante - eu diria que é um olhar profundo sobre temas como responsabilidade, ética e consequências, uma verdadeira reflexão sobre as escolhas que fazemos e como elas moldam nossas vidas.
A trama se desenrola em tempo real, enquanto acompanhamos Ivan Locke (Tom Hardy), um dedicado e respeitado engenheiro durante uma viagem de carro para Londres, um dia antes de encarar o maior desafio de sua carreira, pela qual lutou arduamente. Quando Locke recebe um telefonema ameaçando a segurança de sua família, ele tem 90 minutos e um "viva-voz" para enfrentar vários desafios pessoais e profissionais que colocam, inclusive, sua vida em xeque. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro escrito pelo próprio Knight é a prova de que uma boa história não exige grandes investimentos. O texto é afiado e inteligente, capaz de explorar as camadas emocionais do protagonista de uma forma sutil e eficaz. Através das conversas telefônicas de Locke com sua esposa, filhos, colegas de trabalho, somos expostos a diferentes facetas de sua vida e da sua personalidade. A estrutura narrativa que usa das vozes dos outros personagens sem mostrá-los fisicamente contribui para a sensação de isolamento e intensifica a atmosfera de tensão pela qual o personagem está passando.
Inclusive, Tom Hardy entrega uma performance emocionalmente poderosa como Locke. Sua habilidade de transmitir as complexidades do personagem, mesmo sem a presença física de outros atores, é notável. Através de sua voz e das suas expressões faciais, Hardy transmite um range considerável de emoções - reparem como a confiança e determinação inicial se transforma em uma crescente ansiedade e vulnerabilidade à medida que os desafios se intensificam. Não foi por acaso que "Locke" ganhou o prêmio de melhor roteiro no British Independent Film Awards em 2013.
A direção de Steven Knight também é muito competente ao criar uma verdadeira experiência imersiva, mesmo com recursos limitados. A escolha de manter a ação dentro do carro e usar a iluminação noturna das estradas para criar uma atmosfera claustrofóbica é muito eficaz. A trilha sonora e o desenho de som também contribuem para a construção desse clima tenso, no entanto, para alguns, essa abordagem altamente conceitual pode parecer maçante. A falta de ação física e a ênfase quase exclusiva nas conversas por telefone podem desapontar aqueles que buscam um ritmo mais acelerado.
"Locke" é um filme com uma pegada independente, autoral e bastante criativo (valores que a A24 carrega em sua produções, diga-se de passagem) - só por isso já mereceria o seu play, mas além de tudo sua história é concisa, e mesmo sem se preocupar em entregar todas as respostas, nos proporciona uma ótima jornada de entretenimento.
Se você gosta daquele estilo de filme onde um único personagem comanda a narrativa normalmente contracenando com um telefone ou uma tela de computador como "A Hora do Desespero", de "Culpa" e até de "Buscando...", "Locke" é para você! O filme dirigido pelo Steven Knight (de "Calmaria"), funciona basicamente como um thriller psicológico dos mais inteligentes, levando a audiência em uma viagem angustiante, emocionalmente densa e profundamente cativante - eu diria que é um olhar profundo sobre temas como responsabilidade, ética e consequências, uma verdadeira reflexão sobre as escolhas que fazemos e como elas moldam nossas vidas.
A trama se desenrola em tempo real, enquanto acompanhamos Ivan Locke (Tom Hardy), um dedicado e respeitado engenheiro durante uma viagem de carro para Londres, um dia antes de encarar o maior desafio de sua carreira, pela qual lutou arduamente. Quando Locke recebe um telefonema ameaçando a segurança de sua família, ele tem 90 minutos e um "viva-voz" para enfrentar vários desafios pessoais e profissionais que colocam, inclusive, sua vida em xeque. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro escrito pelo próprio Knight é a prova de que uma boa história não exige grandes investimentos. O texto é afiado e inteligente, capaz de explorar as camadas emocionais do protagonista de uma forma sutil e eficaz. Através das conversas telefônicas de Locke com sua esposa, filhos, colegas de trabalho, somos expostos a diferentes facetas de sua vida e da sua personalidade. A estrutura narrativa que usa das vozes dos outros personagens sem mostrá-los fisicamente contribui para a sensação de isolamento e intensifica a atmosfera de tensão pela qual o personagem está passando.
Inclusive, Tom Hardy entrega uma performance emocionalmente poderosa como Locke. Sua habilidade de transmitir as complexidades do personagem, mesmo sem a presença física de outros atores, é notável. Através de sua voz e das suas expressões faciais, Hardy transmite um range considerável de emoções - reparem como a confiança e determinação inicial se transforma em uma crescente ansiedade e vulnerabilidade à medida que os desafios se intensificam. Não foi por acaso que "Locke" ganhou o prêmio de melhor roteiro no British Independent Film Awards em 2013.
A direção de Steven Knight também é muito competente ao criar uma verdadeira experiência imersiva, mesmo com recursos limitados. A escolha de manter a ação dentro do carro e usar a iluminação noturna das estradas para criar uma atmosfera claustrofóbica é muito eficaz. A trilha sonora e o desenho de som também contribuem para a construção desse clima tenso, no entanto, para alguns, essa abordagem altamente conceitual pode parecer maçante. A falta de ação física e a ênfase quase exclusiva nas conversas por telefone podem desapontar aqueles que buscam um ritmo mais acelerado.
"Locke" é um filme com uma pegada independente, autoral e bastante criativo (valores que a A24 carrega em sua produções, diga-se de passagem) - só por isso já mereceria o seu play, mas além de tudo sua história é concisa, e mesmo sem se preocupar em entregar todas as respostas, nos proporciona uma ótima jornada de entretenimento.
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Malcolm e Marie" é excelente, porém é preciso fazer um alerta: como a história se apoia, basicamente, em uma longa discussão entre um jovem casal; toda narrativa fica muito cadenciada, naturalmente verborrágica e isso, normalmente, cansa quem não é adepto a esse estilo de filme. Além disso, ele foi todo rodado em "preto e branco" e em película, o que traz para a imagem uma certa granulação que, mais uma vez, pode incomodar quem assiste e é indiferente a esse conceito mais "retrô". Dito isso, e se você não enxergou nenhum problema nesses elementos conceituais que o diretor Sam Levinson trouxe para sua obra, "Malcolm e Marie" não decepciona ao discutir sob o olhar profundo e cirurgicamente dividido em várias camadas, o desafio de um relacionamento construído em cima de expectativas que muitas vezes não são atingidas por um simples detalhe: as pessoas são únicas e enxergam algumas passagens da vida de forma diferente - nem certo, nem errado, apenas diferente!
Na história acompanhamos um cineasta, Malcolm (John David Washington), voltando para casa com sua namorada, Marie (Zendaya), após a pré-estreia de seu novo filme. Enquanto espera as primeiras críticas sobre seu filme, Malcolm e Marie iniciam uma conversa despretensiosa que acaba se transformando em uma longa e reveladora discussão - o fato é que uma “pequena” fagulha estoura uma bomba de acusações com muita tensão acumulada, mágoas, reflexões e arrependimentos. Uma noite que seria de comemoração, muda repentinamente e coloca em teste a força do amor do casal. Confira o trailer:
Desde o seu anúncio, "Malcolm e Marie" já flertava com a possibilidade de algumas indicações para o Oscar 2021 e, de fato, não seria surpresa se John David Washington, Zendaya, Marcell Rév (Diretor de Fotografia) e talvez Sam Levinson, fossem indicados. Não acredito que o filme tenha força para alcançar voos mais altos pelo simples fato de que são os atores a base de toda narrativa e tanto o diretor, quanto o fotógrafo, estão ali apenas para servir de apoio e potencializar o trabalho deles - que é simplesmente sensacional (e do mesmo nível), diga-se de passagem.
Alguns diálogos escritos pelo próprio diretor são capazes de nos remeter a situações que já passamos, mas outros não acrescentam absolutamente nada para a história e acabam virando monólogos sem muito propósito. Na verdade até existe um propósito, mas não se encaixa ao que está acontecendo com aqueles personagens - toda a discussão racial, por exemplo, embora importante, cansa um pouco, já que perde muita força por ter sido inserida em um contexto muito frágil e que pouco impacta nos dramas de Malcolm e Marie como casal. As referências do universo do cinema também podem deixar algumas pessoas "boiando" - da mesma forma como aconteceu recentemente com Mank!
Talvez o grande mérito do filme, tenha sido a capacidade do diretor Sam Levinson em mostrar um retrato cruel e extremamente realista de como algumas relações podem se tornar complicadas quando as expectativas não são alcançadas, mesmo entre pessoas que se amam. Basta um querer discutir para que uma pequena mágoa se transforme em um motivo para rever a relação - "Malcolm e Marie" é isso! Tenho a impressão que o filme poderia agradar mais pessoas se fosse mais direto, sem tantos rodeios poéticos e ações sem sentido - certamente traria mais dinâmica para narrativa! Se você gosta de um texto "estilo Woody Allen", mas com um certo peso emocional de "História de um Casamento", esse filme foi feito para você!
"Malcolm e Marie" é excelente, porém é preciso fazer um alerta: como a história se apoia, basicamente, em uma longa discussão entre um jovem casal; toda narrativa fica muito cadenciada, naturalmente verborrágica e isso, normalmente, cansa quem não é adepto a esse estilo de filme. Além disso, ele foi todo rodado em "preto e branco" e em película, o que traz para a imagem uma certa granulação que, mais uma vez, pode incomodar quem assiste e é indiferente a esse conceito mais "retrô". Dito isso, e se você não enxergou nenhum problema nesses elementos conceituais que o diretor Sam Levinson trouxe para sua obra, "Malcolm e Marie" não decepciona ao discutir sob o olhar profundo e cirurgicamente dividido em várias camadas, o desafio de um relacionamento construído em cima de expectativas que muitas vezes não são atingidas por um simples detalhe: as pessoas são únicas e enxergam algumas passagens da vida de forma diferente - nem certo, nem errado, apenas diferente!
Na história acompanhamos um cineasta, Malcolm (John David Washington), voltando para casa com sua namorada, Marie (Zendaya), após a pré-estreia de seu novo filme. Enquanto espera as primeiras críticas sobre seu filme, Malcolm e Marie iniciam uma conversa despretensiosa que acaba se transformando em uma longa e reveladora discussão - o fato é que uma “pequena” fagulha estoura uma bomba de acusações com muita tensão acumulada, mágoas, reflexões e arrependimentos. Uma noite que seria de comemoração, muda repentinamente e coloca em teste a força do amor do casal. Confira o trailer:
Desde o seu anúncio, "Malcolm e Marie" já flertava com a possibilidade de algumas indicações para o Oscar 2021 e, de fato, não seria surpresa se John David Washington, Zendaya, Marcell Rév (Diretor de Fotografia) e talvez Sam Levinson, fossem indicados. Não acredito que o filme tenha força para alcançar voos mais altos pelo simples fato de que são os atores a base de toda narrativa e tanto o diretor, quanto o fotógrafo, estão ali apenas para servir de apoio e potencializar o trabalho deles - que é simplesmente sensacional (e do mesmo nível), diga-se de passagem.
Alguns diálogos escritos pelo próprio diretor são capazes de nos remeter a situações que já passamos, mas outros não acrescentam absolutamente nada para a história e acabam virando monólogos sem muito propósito. Na verdade até existe um propósito, mas não se encaixa ao que está acontecendo com aqueles personagens - toda a discussão racial, por exemplo, embora importante, cansa um pouco, já que perde muita força por ter sido inserida em um contexto muito frágil e que pouco impacta nos dramas de Malcolm e Marie como casal. As referências do universo do cinema também podem deixar algumas pessoas "boiando" - da mesma forma como aconteceu recentemente com Mank!
Talvez o grande mérito do filme, tenha sido a capacidade do diretor Sam Levinson em mostrar um retrato cruel e extremamente realista de como algumas relações podem se tornar complicadas quando as expectativas não são alcançadas, mesmo entre pessoas que se amam. Basta um querer discutir para que uma pequena mágoa se transforme em um motivo para rever a relação - "Malcolm e Marie" é isso! Tenho a impressão que o filme poderia agradar mais pessoas se fosse mais direto, sem tantos rodeios poéticos e ações sem sentido - certamente traria mais dinâmica para narrativa! Se você gosta de um texto "estilo Woody Allen", mas com um certo peso emocional de "História de um Casamento", esse filme foi feito para você!
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!