indika.tv - Drama

Maradona

Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).

A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:

Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.

Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.

Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.

"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona!  Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.

Vale a pena!

Assista Agora

Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).

A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:

Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.

Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.

Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.

"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona!  Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.

Vale a pena!

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Marcella

Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

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Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

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Mare of Easttown

Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!

Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:

O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.

Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!

"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!

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Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!

Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:

O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.

Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!

"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!

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Margin Call

"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.

Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer: 

A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.

Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!

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"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.

Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer: 

A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.

Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!

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Maudie

Maudie

"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.

Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:

"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!   

A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!

Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!

Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!

Aproveite e dê o play!

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"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.

Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:

"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!   

A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!

Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!

Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!

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Mayor of Kingstown

"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!

A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:

Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.

A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.

"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série! 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!

A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:

Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.

A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.

"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série! 

Vale muito o seu play!

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Me chame pelo seu nome

Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.

"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!

Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!

Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!

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Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.

"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!

Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!

Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!

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Mentira Incondicional

Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga! 

Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!

Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível! 

"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!

"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!

Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.

A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!

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Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga! 

Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!

Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível! 

"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!

"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!

Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.

A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!

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Mercado de Capitais

"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.

"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:

Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro -  isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá! 

"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos. 

Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.

Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!

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"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.

"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:

Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro -  isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá! 

"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos. 

Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.

Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!

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Mergulho

Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.

Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):

"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras. 

O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.

Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.

Vale muito o seu play!

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Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.

Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):

"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras. 

O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.

Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.

Vale muito o seu play!

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Meu Pai

Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.

Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:

“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.

Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.

“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.

Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:

“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.

Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.

“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Mia Madre

"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional! 

Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer: 

Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!

O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).

"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.

Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.

Assista Agora

"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional! 

Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer: 

Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!

O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).

"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.

Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.

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Mike: Além de Tyson

“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).

Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:

Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.

Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.

Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história. 

Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua"

“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.

Vale muito a pena!

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“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).

Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:

Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.

Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.

Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história. 

Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua"

“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.

Vale muito a pena!

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Mil Golpes

Vai ser difícil você querer parar de assistir mais essa pérola que está no catálogo da Disney+! Com apenas 6 episódios nessa primeira temporada, "Mil Golpes", criada por Steven Knight (o brilhante roteirista por trás de sucessos como "Peaky Blinders"), é uma série intensa, visualmente deslumbrante e com uma história profundamente envolvente. Knight novamente demonstra seu talento ao criar um drama histórico brutal, com personagens reais e ambientado nas ruas violentas e decadentes do subúrbio de uma Londres vitoriana. Combinando a crueza da luta pela sobrevivência com uma narrativa que aborda temas sensíveis como racismo, imigração e identidade cultural, "Mil Golpes", pode apostar, já se coloca entre os grandes dramas de época dos últimos anos, ao lado de produções "de grife" como "The Knick" e "Gangs of New York".

A trama se passa em meados do século XIX e acompanha a trajetória de Hezekiah Moscow (Malachi Kirby), um imigrante jamaicano que chega à Londres em busca de uma nova vida, até ele se encontrar em um submundo sombrio dominado pela violência, pela corrupção e pelo preconceito racial. Lutando para sobreviver e prosperar, ele se envolve com o brutal mundo do boxe clandestino, onde ele cruza caminhos com Sugar Goodson (Stephen Graham), um lutador implacável, cuja abordagem para a vida e para o esporte torna-se o fio condutor para uma série de conflitos explosivos, tanto dentro quanto fora do ringue. Confira o trailer:

Steven Knight é conhecido por sua capacidade de criar atmosferas de tensão com um rigor histórico impressionante - e em "Mil Golpes" não é diferente! Sua escrita detalhada e meticulosa revela um profundo compromisso em retratar uma Londres sem romantismo ou glamourização exagerada. Knight expõe as entranhas de uma sociedade que se sustentava à base da exploração, discriminação e violência. Sua habilidade em criar personagens moralmente ambíguos, multifacetados e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, é o ponto alto da série. Os diálogos são realmente afiados, vigorosos e frequentemente dúbios, mesmo quando refletem o desespero e as batalhas cotidianas das classes marginalizadas. Nesse sentido, a equipe de direção da série liderada por Nick Murphy (de "O Nevoeiro") merece um reconhecimento especial. Alinhado a uma fotografia deslumbrante e sombria, cada episódio tem uma textura visual quase palpável, lembrando em alguns momentos o estilo cru e fantasioso de séries como "Carnival Row". Repare como a Londres apresentada aqui é uma cidade ao mesmo tempo vibrante e sufocante, cheia de becos escuros, tavernas lotadas e arenas clandestinas. A violência das lutas é retratada com um realismo visceral, com cenas de combate coreografadas com uma precisão quase cirúrgica - cada golpe é sentido pela audiência, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, algo reforçado pela excelente edição de som e pela trilha sonora primorosa.

A performance de Malachi Kirby é digna de todos os elogios, entregando um protagonista mais complexo do que carismático - seu Hezekiah é uma figura poderosa, movida por sonhos, dores e cicatrizes de uma vida difícil e de um passado marcante. Kirby sabe navegar com segurança pelas nuances emocionais do personagem - nos provocando uma enorme empatia por ele. Já Stephen Graham entrega outra atuação impressionante como Sugar Goodson, um homem cuja dureza exterior esconde cicatrizes profundas - Graham constrói um personagem enigmático, cativante e perigoso, que muitas vezes rouba a cena graças ao magnetismo de sua interpretação. Outro ponto alto de "Mil Golpes" não poderia deixar de ser a Mary Carr de Erin Doherty. Que personagem incrível, uma espécie de Don Corleone de saias - com sua força, inteligência, charme e, principalmente, coerência!

Se há um aspecto que merece um olhar mais crítico para "A Thousand Blows" (no original) é a lentidão ocasional com que a narrativa se desenvolve na metade inicial da temporada. Knight se dedica bastante a estabelecer cuidadosamente seu universo e os conflitos centrais, como aliás ele já tinha feito em Peaky Blinders  - isso pode exigir um pouco mais de paciência daqueles mais ansiosos por uma ação imediata. No entanto, esse investimento compensa, já que a série vai ganhando força episódio após episódio, culminando em um final onde todos os elementos dramáticos finalmente se encaixam de forma brilhante. Saiba que "Mil Golpes" é, acima de tudo, uma série sobre resistência e sobrevivência em um mundo cruel e indiferente. Ao tratar com honestidade temas sensíveis, Steven Knight entrega mais um projeto notável, que certamente agradará os fãs de dramas históricos densos com um toque de humanidade que faz toda a diferença!. 

Mais um título imperdível da Disney+! Vale muito o seu play!

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Vai ser difícil você querer parar de assistir mais essa pérola que está no catálogo da Disney+! Com apenas 6 episódios nessa primeira temporada, "Mil Golpes", criada por Steven Knight (o brilhante roteirista por trás de sucessos como "Peaky Blinders"), é uma série intensa, visualmente deslumbrante e com uma história profundamente envolvente. Knight novamente demonstra seu talento ao criar um drama histórico brutal, com personagens reais e ambientado nas ruas violentas e decadentes do subúrbio de uma Londres vitoriana. Combinando a crueza da luta pela sobrevivência com uma narrativa que aborda temas sensíveis como racismo, imigração e identidade cultural, "Mil Golpes", pode apostar, já se coloca entre os grandes dramas de época dos últimos anos, ao lado de produções "de grife" como "The Knick" e "Gangs of New York".

A trama se passa em meados do século XIX e acompanha a trajetória de Hezekiah Moscow (Malachi Kirby), um imigrante jamaicano que chega à Londres em busca de uma nova vida, até ele se encontrar em um submundo sombrio dominado pela violência, pela corrupção e pelo preconceito racial. Lutando para sobreviver e prosperar, ele se envolve com o brutal mundo do boxe clandestino, onde ele cruza caminhos com Sugar Goodson (Stephen Graham), um lutador implacável, cuja abordagem para a vida e para o esporte torna-se o fio condutor para uma série de conflitos explosivos, tanto dentro quanto fora do ringue. Confira o trailer:

Steven Knight é conhecido por sua capacidade de criar atmosferas de tensão com um rigor histórico impressionante - e em "Mil Golpes" não é diferente! Sua escrita detalhada e meticulosa revela um profundo compromisso em retratar uma Londres sem romantismo ou glamourização exagerada. Knight expõe as entranhas de uma sociedade que se sustentava à base da exploração, discriminação e violência. Sua habilidade em criar personagens moralmente ambíguos, multifacetados e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, é o ponto alto da série. Os diálogos são realmente afiados, vigorosos e frequentemente dúbios, mesmo quando refletem o desespero e as batalhas cotidianas das classes marginalizadas. Nesse sentido, a equipe de direção da série liderada por Nick Murphy (de "O Nevoeiro") merece um reconhecimento especial. Alinhado a uma fotografia deslumbrante e sombria, cada episódio tem uma textura visual quase palpável, lembrando em alguns momentos o estilo cru e fantasioso de séries como "Carnival Row". Repare como a Londres apresentada aqui é uma cidade ao mesmo tempo vibrante e sufocante, cheia de becos escuros, tavernas lotadas e arenas clandestinas. A violência das lutas é retratada com um realismo visceral, com cenas de combate coreografadas com uma precisão quase cirúrgica - cada golpe é sentido pela audiência, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, algo reforçado pela excelente edição de som e pela trilha sonora primorosa.

A performance de Malachi Kirby é digna de todos os elogios, entregando um protagonista mais complexo do que carismático - seu Hezekiah é uma figura poderosa, movida por sonhos, dores e cicatrizes de uma vida difícil e de um passado marcante. Kirby sabe navegar com segurança pelas nuances emocionais do personagem - nos provocando uma enorme empatia por ele. Já Stephen Graham entrega outra atuação impressionante como Sugar Goodson, um homem cuja dureza exterior esconde cicatrizes profundas - Graham constrói um personagem enigmático, cativante e perigoso, que muitas vezes rouba a cena graças ao magnetismo de sua interpretação. Outro ponto alto de "Mil Golpes" não poderia deixar de ser a Mary Carr de Erin Doherty. Que personagem incrível, uma espécie de Don Corleone de saias - com sua força, inteligência, charme e, principalmente, coerência!

Se há um aspecto que merece um olhar mais crítico para "A Thousand Blows" (no original) é a lentidão ocasional com que a narrativa se desenvolve na metade inicial da temporada. Knight se dedica bastante a estabelecer cuidadosamente seu universo e os conflitos centrais, como aliás ele já tinha feito em Peaky Blinders  - isso pode exigir um pouco mais de paciência daqueles mais ansiosos por uma ação imediata. No entanto, esse investimento compensa, já que a série vai ganhando força episódio após episódio, culminando em um final onde todos os elementos dramáticos finalmente se encaixam de forma brilhante. Saiba que "Mil Golpes" é, acima de tudo, uma série sobre resistência e sobrevivência em um mundo cruel e indiferente. Ao tratar com honestidade temas sensíveis, Steven Knight entrega mais um projeto notável, que certamente agradará os fãs de dramas históricos densos com um toque de humanidade que faz toda a diferença!. 

Mais um título imperdível da Disney+! Vale muito o seu play!

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Mil Vezes Boa Noite

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

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Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

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Milagre Azul

"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.

O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:

Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.

O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante  a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!

Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!

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"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.

O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:

Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.

O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante  a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!

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Minamata

"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

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"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

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Minari

"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um  personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.

O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:

Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.

Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.

A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!

Vale a pena!

Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.

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"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um  personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.

O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:

Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.

Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.

A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!

Vale a pena!

Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.

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Minha Obra-Prima

Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!

A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!

"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!

"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!

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Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!

A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!

"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!

"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!

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Modern Love

"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.

Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida. 

Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.

Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).

O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.

O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.

Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!

No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!

O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.

O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.

"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!

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"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.

Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida. 

Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.

Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).

O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.

O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.

Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!

No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!

O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.

O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.

"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!

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