"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich"), "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista e profundamente emocional sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.
A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.
Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno.
A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!
Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!
Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich"), "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista e profundamente emocional sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.
A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.
Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno.
A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!
Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!
É claro que o fã de futebol americano vai se conectar de uma forma diferente com "We Are the Brooklyn Saints" (no original), mas eu diria que a série documental da Netflix tem um objetivo menos esportivo do que o excelente "Last Chance U", por exemplo. A sensação que me deu é que o roteiro explorou muito mais as relações familiares e como o esporte pode impactar na vida de uma criança, do que propriamente como essa sendo a chance da vida daqueles garotos de ascender socialmente ao melhor estilo "custe o que custar" - não que esse elemento tão vivo na cultura americana não esteja presente na narrativa, mas sem a menor dúvida ele não é o foco e muito menos tem uma importância vital para nos manter ligados durante os 4 episódios dessa temporada.
"Brooklyn Saints: Paixão pelo Esporte" acompanha um programa de futebol juvenil no centro da cidade de East NY, no Brooklyn. Voltado para meninos de 7 a 13 anos de idade, a escolinha Brooklyn Saints é mais do que um esporte: é uma espécie de família, uma comunidade que trabalha como porta aberta para oportunidades de crescimento e aprendizados - um local cheio de lições valiosas para a vida toda. Confira o trailer:
O conceito da série é muito claro: acompanhar alguns personagens (especialmente D-lo and Kenan) durante a temporada de futebol americano escolar - mas não necessariamente trazendo as dificuldades ou desafios do esporte ou de aprendizado. Eu diria que é muito mais um recorte social e como a relação com os familiares, na intimidade, impactam no desenvolvimento esportivo das crianças. Veja, eles são muito novos e mesmo com a cultura do "só o melhor e mais forte vai vencer" não vemos nenhum tipo de excesso dos treinadores perante os garotos - aliás, a relação do Coach da equipe U9 (under 9 years) do Brooklin é tão bacana e marcante que chega a ser emocionante (e não sei se posso dizer a mesma coisa do responsável pela equipe U13).
Obviamente que essa escolha narrativa impacta em um elemento técnico que faz muita diferença como entretenimento: os conflitos de "Brooklyn Saints: Paixão pelo Esporte" são frágeis, não tem a potência de "Nada de Bandeja" e muito menos a polêmica de "Last Chance U" - apenas uma ou outra situação vai te tirar da zona de conforto. Mas preciso complementar: nem por isso deixa de ser uma série simpática e com mensagens que nos fazem refletir como seres humanos e, certamente, vai tocar os pais que enxergam no esporte, uma forma saudável de preparar os filhos para o mundo.
Vale o play pela conexão imediata com os personagens, mas não espere roer as unhas pelos desafios esportivos que eles enfrentarão.
É claro que o fã de futebol americano vai se conectar de uma forma diferente com "We Are the Brooklyn Saints" (no original), mas eu diria que a série documental da Netflix tem um objetivo menos esportivo do que o excelente "Last Chance U", por exemplo. A sensação que me deu é que o roteiro explorou muito mais as relações familiares e como o esporte pode impactar na vida de uma criança, do que propriamente como essa sendo a chance da vida daqueles garotos de ascender socialmente ao melhor estilo "custe o que custar" - não que esse elemento tão vivo na cultura americana não esteja presente na narrativa, mas sem a menor dúvida ele não é o foco e muito menos tem uma importância vital para nos manter ligados durante os 4 episódios dessa temporada.
"Brooklyn Saints: Paixão pelo Esporte" acompanha um programa de futebol juvenil no centro da cidade de East NY, no Brooklyn. Voltado para meninos de 7 a 13 anos de idade, a escolinha Brooklyn Saints é mais do que um esporte: é uma espécie de família, uma comunidade que trabalha como porta aberta para oportunidades de crescimento e aprendizados - um local cheio de lições valiosas para a vida toda. Confira o trailer:
O conceito da série é muito claro: acompanhar alguns personagens (especialmente D-lo and Kenan) durante a temporada de futebol americano escolar - mas não necessariamente trazendo as dificuldades ou desafios do esporte ou de aprendizado. Eu diria que é muito mais um recorte social e como a relação com os familiares, na intimidade, impactam no desenvolvimento esportivo das crianças. Veja, eles são muito novos e mesmo com a cultura do "só o melhor e mais forte vai vencer" não vemos nenhum tipo de excesso dos treinadores perante os garotos - aliás, a relação do Coach da equipe U9 (under 9 years) do Brooklin é tão bacana e marcante que chega a ser emocionante (e não sei se posso dizer a mesma coisa do responsável pela equipe U13).
Obviamente que essa escolha narrativa impacta em um elemento técnico que faz muita diferença como entretenimento: os conflitos de "Brooklyn Saints: Paixão pelo Esporte" são frágeis, não tem a potência de "Nada de Bandeja" e muito menos a polêmica de "Last Chance U" - apenas uma ou outra situação vai te tirar da zona de conforto. Mas preciso complementar: nem por isso deixa de ser uma série simpática e com mensagens que nos fazem refletir como seres humanos e, certamente, vai tocar os pais que enxergam no esporte, uma forma saudável de preparar os filhos para o mundo.
Vale o play pela conexão imediata com os personagens, mas não espere roer as unhas pelos desafios esportivos que eles enfrentarão.
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
Depois das histórias de corrupção que embrulharam nosso estômago em "Esquemas da Fifa", é impossível deixar de valorizar o que realmente importa quando o assunto é o futebol e a Copa do Mundo. Nessa produção original do FIFA+, que aqui está sendo distribuído pela Netflix, entendemos exatamente o valor de defender um país que está em busca da classificação para a Copa do Catar - o interessante porém, é que essa jornada é contada de forma bastante intimista e honesta pelos olhos de 6 capitães de seleções em diferentes estágios e posições no ranking mundial. "Capitães" não se trata de uma série sobre futebol, mas sim sobre atletas e sonhos!
Da dor do fracasso à felicidade do triunfo, "Captains - The Chosen Few" acompanha a jornada de seis capitães e os bastidores de suas respectivas equipes enquanto lutam por uma vaga na Copa do Mundo da FIFA 2022. De Aubameyang do Gabão até Thiago Silva no Brasil, passando por craques como Modric e seleções menos expressivas como Jamaica, Vanuatu e Líbano, a série é um recorte humano do que representa o futebol como ferramenta social. Confira o trailer (em inglês):
Para nós brasileiros, estar em uma Copa do Mundo não é mais do que uma obrigação, mas para qualquer uma das mais de 200 seleções que disputam uma das 32 vagas, essa jornada representa um desafio que vai muito além da capacidade de um time se superar na busca da vitória. É a partir dessa premissa que os diretores David Finch e Will Francome acompanham seis atletas, em 8 episódios lindamente editados, expondo um contexto muito particular que cada uma das suas seleções estão vivendo.
Veja, se o Gabão nunca esteve em uma Copa, a presença de um atleta como Pierre-Emerick Aubameyang como capitão é a certeza de que uma geração pode enfim vencer. Já para Andre Blake da Jamaica, reviver os anos de ouro que levaram sua seleção para a Copa da França em 98 é quase que uma obrigação. Para Hassan Maatouk do Líbano, nunca a oportunidade de estar em uma Copa foi tão real, enquanto para Luka Modric suportar o peso de ter sido considerado o melhor jogador do mundo depois que sua seleção disputou (e perdeu) a última final na Rússia, classificar a Croácia não parece tão simples como se previa. Isso sem falar na desconhecida seleção de Vanuatu, um jovem país no sul do Pacífico formado por cerca de 80 ilhas, que atualmente ocupa a posição 164 do ranking da Fifa e luta com atletas praticamente amadores para se manter vivos nas eliminatórias da Oceania.
O fato é que com uma narrativa extremamente fragmentada, mas naturalmente dinâmica, "Capitães" é uma espécie de "Chef's Table do Futebol" - também é preciso dizer que existe sim uma certa poesia (muitas vezes exagerada), que ajuda na experiência de ser um observador, mas que por outro lado pode cansar parte da audiência. Sem se aprofundar em temas tão específicos, enquanto pontua com sensibilidade passagens importantes para cada uma daqueles atletas durante esse recorte de jornada, posso garantir que a série além de muito bem produzida e realizada, visualmente impecável, é uma delicia de assistir!
Para quem gosta de futebol e dos bastidores do que realmente importa, ou seja, o esporte; essa é uma excelente pedida. Vale seu play!
Depois das histórias de corrupção que embrulharam nosso estômago em "Esquemas da Fifa", é impossível deixar de valorizar o que realmente importa quando o assunto é o futebol e a Copa do Mundo. Nessa produção original do FIFA+, que aqui está sendo distribuído pela Netflix, entendemos exatamente o valor de defender um país que está em busca da classificação para a Copa do Catar - o interessante porém, é que essa jornada é contada de forma bastante intimista e honesta pelos olhos de 6 capitães de seleções em diferentes estágios e posições no ranking mundial. "Capitães" não se trata de uma série sobre futebol, mas sim sobre atletas e sonhos!
Da dor do fracasso à felicidade do triunfo, "Captains - The Chosen Few" acompanha a jornada de seis capitães e os bastidores de suas respectivas equipes enquanto lutam por uma vaga na Copa do Mundo da FIFA 2022. De Aubameyang do Gabão até Thiago Silva no Brasil, passando por craques como Modric e seleções menos expressivas como Jamaica, Vanuatu e Líbano, a série é um recorte humano do que representa o futebol como ferramenta social. Confira o trailer (em inglês):
Para nós brasileiros, estar em uma Copa do Mundo não é mais do que uma obrigação, mas para qualquer uma das mais de 200 seleções que disputam uma das 32 vagas, essa jornada representa um desafio que vai muito além da capacidade de um time se superar na busca da vitória. É a partir dessa premissa que os diretores David Finch e Will Francome acompanham seis atletas, em 8 episódios lindamente editados, expondo um contexto muito particular que cada uma das suas seleções estão vivendo.
Veja, se o Gabão nunca esteve em uma Copa, a presença de um atleta como Pierre-Emerick Aubameyang como capitão é a certeza de que uma geração pode enfim vencer. Já para Andre Blake da Jamaica, reviver os anos de ouro que levaram sua seleção para a Copa da França em 98 é quase que uma obrigação. Para Hassan Maatouk do Líbano, nunca a oportunidade de estar em uma Copa foi tão real, enquanto para Luka Modric suportar o peso de ter sido considerado o melhor jogador do mundo depois que sua seleção disputou (e perdeu) a última final na Rússia, classificar a Croácia não parece tão simples como se previa. Isso sem falar na desconhecida seleção de Vanuatu, um jovem país no sul do Pacífico formado por cerca de 80 ilhas, que atualmente ocupa a posição 164 do ranking da Fifa e luta com atletas praticamente amadores para se manter vivos nas eliminatórias da Oceania.
O fato é que com uma narrativa extremamente fragmentada, mas naturalmente dinâmica, "Capitães" é uma espécie de "Chef's Table do Futebol" - também é preciso dizer que existe sim uma certa poesia (muitas vezes exagerada), que ajuda na experiência de ser um observador, mas que por outro lado pode cansar parte da audiência. Sem se aprofundar em temas tão específicos, enquanto pontua com sensibilidade passagens importantes para cada uma daqueles atletas durante esse recorte de jornada, posso garantir que a série além de muito bem produzida e realizada, visualmente impecável, é uma delicia de assistir!
Para quem gosta de futebol e dos bastidores do que realmente importa, ou seja, o esporte; essa é uma excelente pedida. Vale seu play!
"Casamentos às Cegas" é um formato que chamamos de Dating Game Show e que se tornou um verdadeiro fenômeno, sendo o conteúdo mais assistido nos EUA por várias semanas. Aliás, esse sucesso refletiu na audiência do mundo inteiro, o que fez a própria Netflix rever sua estratégia de produção e estudar uma nova leva de episódios - embora uma segunda temporada, até o fechamento dessa publicação, ainda não tenha sido confirmada, mas pode acreditar: será!!!!
O conceito é simples, em "Love is Blind" (Título original)" são selecionados 15 homens e 15 mulheres, onde cada um participa de uma série de "encontros às cegas" entre eles. Esses encontros acontecem individualmente, em duas pequenas cabines separadas por uma parede - o objetivo é, a partir de uma (ou várias) conversas, achar pontos em comum que possam justificar um possível encontro ao vivo, mas para isso se concretizar eles precisam estar seguros o bastante para assumir um compromisso bem sério: noivar! É isso mesmo, se der "match" os participantes ficam noivos sem nunca terem se visto pessoalmente, apenas pelo papo! Confira o trailer:
Como vocês puderam perceber pelo trailer, o experimento social (como a própria Netflix definiu a competição) não se limita em criar seus conflitos dentro dessas pequenas salas onde os participantes iniciam sua relação. Feito o pedido de noivado (e aceito), eles são apresentados um ao outro e convidados a passar por algumas fases até chegar no casamento em si: primeiro uma viagem para um lugar paradisíaco (onde eles possam se relacionar mais intimamente), depois são convidados a morar juntos em um mesmo condomínio, tudo preparado pela produção - é nesse momento que o cotidiano começa a pesar, pois eles passam a ter acesso aos celulares, redes sociais e ainda são estimulados a se apresentarem para os futuros sogros e sogras (além de amigos e outros familiares, claro) e, para finalizar, quem consegue superar essas duas fases, enfrentam o tão sonhado "casamento" e aí precisam encarar um ao outro e tomar a decisão final: dizer "sim" (ou "não") para essa relação construída em apenas algumas semanas!
Existem alguns elementos do formato que são extremamente originais e que nos prendem às histórias construídas pelo show: os encontros nas cabines são interessantes - é uma versão moderna dos chats de namoro, mas funcionam como uma espécie de termômetro de afinidade. Passar as fases de um relacionamento, mesmo que rapidamente, afinal o casamento ocorre em 30 dias, é um desafio ainda mais complexo, mas funciona perfeitamente como stroytelling. Claro que dos 30 participantes, poucos conseguem chegar ao fim - na primeira temporada, apenas cinco - e, claro, nem todos ficam juntos!
Duas coisas me desagradaram e fica a dica para você que vai assistir logo após ler essa análise: no final do primeiro episódio (os dois ou três minutos finais) a Netflix mostra o que vai acontecer na temporada e, infelizmente, escapam alguns spoilers ou aparecem cenas que depois não são mostradas nos episódios seguintes - isso é uma estratégia desonesta para manter a audiência interessada e que atrapalha a experiência. Se fosse explicado pelos apresentadores (que estão ali muito mais para cumprir tabela do que para nos guiar) seria muito mais inteligente - ou seja, pulem para o segundo episódio, assim que essa edição começar! A outra coisa, e aí o título traduzido mais prejudica do que ajuda (por uma adequação cultural), é que os casamentos são quase cenários para um veredito final - todo o primor de produção do inicio é simplesmente esquecido no momento mais importante da temporada - é tão superficial que parece de mentira - uma pena!
Dito isso, "Casamentos às Cegas" é viciante, dinâmico e muito divertido. A construção narrativa mexe com a gente, nos aproxima dos personagens e nos projeta para cada uma das relações (e situações) de uma forma quase íntima - e isso é um convite aos julgamentos e reações bastante emocionais da nossa parte (rs)! São 10 episódios de 60 minutos, em média, e o 11º é uma espécie "lavagem de roupa suja" - já que o projeto foi gravado no final de 2018 e os casais (ou ex-casais) se reencontram um ano depois para comentar o que aconteceu durante (e após) a experiência!
Gostei muito, é original e vale muito a pena! Um ou outro ajuste para uma segunda temporada e digo que o formato terá vida longa e muitas adaptações pelo mundo à fora! Pode me cobrar!
"Casamentos às Cegas" é um formato que chamamos de Dating Game Show e que se tornou um verdadeiro fenômeno, sendo o conteúdo mais assistido nos EUA por várias semanas. Aliás, esse sucesso refletiu na audiência do mundo inteiro, o que fez a própria Netflix rever sua estratégia de produção e estudar uma nova leva de episódios - embora uma segunda temporada, até o fechamento dessa publicação, ainda não tenha sido confirmada, mas pode acreditar: será!!!!
O conceito é simples, em "Love is Blind" (Título original)" são selecionados 15 homens e 15 mulheres, onde cada um participa de uma série de "encontros às cegas" entre eles. Esses encontros acontecem individualmente, em duas pequenas cabines separadas por uma parede - o objetivo é, a partir de uma (ou várias) conversas, achar pontos em comum que possam justificar um possível encontro ao vivo, mas para isso se concretizar eles precisam estar seguros o bastante para assumir um compromisso bem sério: noivar! É isso mesmo, se der "match" os participantes ficam noivos sem nunca terem se visto pessoalmente, apenas pelo papo! Confira o trailer:
Como vocês puderam perceber pelo trailer, o experimento social (como a própria Netflix definiu a competição) não se limita em criar seus conflitos dentro dessas pequenas salas onde os participantes iniciam sua relação. Feito o pedido de noivado (e aceito), eles são apresentados um ao outro e convidados a passar por algumas fases até chegar no casamento em si: primeiro uma viagem para um lugar paradisíaco (onde eles possam se relacionar mais intimamente), depois são convidados a morar juntos em um mesmo condomínio, tudo preparado pela produção - é nesse momento que o cotidiano começa a pesar, pois eles passam a ter acesso aos celulares, redes sociais e ainda são estimulados a se apresentarem para os futuros sogros e sogras (além de amigos e outros familiares, claro) e, para finalizar, quem consegue superar essas duas fases, enfrentam o tão sonhado "casamento" e aí precisam encarar um ao outro e tomar a decisão final: dizer "sim" (ou "não") para essa relação construída em apenas algumas semanas!
Existem alguns elementos do formato que são extremamente originais e que nos prendem às histórias construídas pelo show: os encontros nas cabines são interessantes - é uma versão moderna dos chats de namoro, mas funcionam como uma espécie de termômetro de afinidade. Passar as fases de um relacionamento, mesmo que rapidamente, afinal o casamento ocorre em 30 dias, é um desafio ainda mais complexo, mas funciona perfeitamente como stroytelling. Claro que dos 30 participantes, poucos conseguem chegar ao fim - na primeira temporada, apenas cinco - e, claro, nem todos ficam juntos!
Duas coisas me desagradaram e fica a dica para você que vai assistir logo após ler essa análise: no final do primeiro episódio (os dois ou três minutos finais) a Netflix mostra o que vai acontecer na temporada e, infelizmente, escapam alguns spoilers ou aparecem cenas que depois não são mostradas nos episódios seguintes - isso é uma estratégia desonesta para manter a audiência interessada e que atrapalha a experiência. Se fosse explicado pelos apresentadores (que estão ali muito mais para cumprir tabela do que para nos guiar) seria muito mais inteligente - ou seja, pulem para o segundo episódio, assim que essa edição começar! A outra coisa, e aí o título traduzido mais prejudica do que ajuda (por uma adequação cultural), é que os casamentos são quase cenários para um veredito final - todo o primor de produção do inicio é simplesmente esquecido no momento mais importante da temporada - é tão superficial que parece de mentira - uma pena!
Dito isso, "Casamentos às Cegas" é viciante, dinâmico e muito divertido. A construção narrativa mexe com a gente, nos aproxima dos personagens e nos projeta para cada uma das relações (e situações) de uma forma quase íntima - e isso é um convite aos julgamentos e reações bastante emocionais da nossa parte (rs)! São 10 episódios de 60 minutos, em média, e o 11º é uma espécie "lavagem de roupa suja" - já que o projeto foi gravado no final de 2018 e os casais (ou ex-casais) se reencontram um ano depois para comentar o que aconteceu durante (e após) a experiência!
Gostei muito, é original e vale muito a pena! Um ou outro ajuste para uma segunda temporada e digo que o formato terá vida longa e muitas adaptações pelo mundo à fora! Pode me cobrar!
"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)!
O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:
Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha!
Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!
A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada).
Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!
Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!
"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)!
O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:
Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha!
Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!
A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada).
Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!
Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!
Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.
Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:
A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!
No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.
Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.
Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles!
"Challenger - Voo Final" é imperdível!
Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.
Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:
A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!
No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.
Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.
Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles!
"Challenger - Voo Final" é imperdível!
"Chef's Table" é uma série documental produzido pela Netflix que estreiou em 2015 sem muito alarde, mas que virou um fenômeno - tanto que a Netflix já disponibiliza várias temporadas e alguns spin-offs! A ideia é muito simples: são de 4 a 6 episódios por temporada, com uma média de 45 minutos cada, que contam as histórias de 4 (ou 6) grandes chef's do mundo inteiro e, claro, os desafios e os diferenciais de sua arte e de seus respectivos restaurantes. O mais interessante, porém, é que o Formato não é propriamente sobre gastronomia em si, mas sobre pessoas, na verdade sobre gênios, que inovaram, que criaram um conceito e que aplicaram com maestria em seus restaurantes. Confira o trailer:
Pelo trailer já dá para perceber que além de boas histórias, a direção se preocupa com alguns elementos que colocam essa série documental em um outro patamar: a qualidade absurda da fotografia e da sua trilha sonora. Eu diria que "Chef's Table" é uma delicia de se assistir, é uma aula de história da gastronomia e uma referência multicultural impressionante, tanto que a série já foi indicada para 8 Emmys desde sua estréia!
Para não estragar a surpresa, comento sobre o primeiro episódio da primeira temporada que conta a história do italiano Massimo Bottura, top 5 no The World's 50 Best Restaurants Awards desde 2010, que quase faliu por acreditar que as tradições da gastronomia de Modenna mereciam ser modernizadas! Imagine isso em uma cidade super tradicional italiana!!! O cara é uma espécie de Steve Jobs da gastronomia! A história do Massimo Bottura é incrível e o que ele faz na cozinha é surreal, mas não é o único grande nome que encontramos, temos também o Francis Mallman, o Magnus Nilsson, o Grant Achatz, o Virgilio Martinez e até o nosso Alex Atala.
Olha, se você gosta de gastronomia, de conhecer as histórias de profissionais referência na sua profissão, não deixe de assistir essa série porque vale muito a pena!!!!
Indico de olhos fechados!!!!
PS: Alguns podem achar os episódios um pouco lento demais e de fato não é um narrativa muito dinâmica, até porque o conceito usa da gastronomia para fazer uma espécie de poesia visual. Eu sugiro sempre um ou dois episódios por vez e pode ter certeza que você vai parecer um grande conhecedor da gastronomia no final das temporadas!
"Chef's Table" é uma série documental produzido pela Netflix que estreiou em 2015 sem muito alarde, mas que virou um fenômeno - tanto que a Netflix já disponibiliza várias temporadas e alguns spin-offs! A ideia é muito simples: são de 4 a 6 episódios por temporada, com uma média de 45 minutos cada, que contam as histórias de 4 (ou 6) grandes chef's do mundo inteiro e, claro, os desafios e os diferenciais de sua arte e de seus respectivos restaurantes. O mais interessante, porém, é que o Formato não é propriamente sobre gastronomia em si, mas sobre pessoas, na verdade sobre gênios, que inovaram, que criaram um conceito e que aplicaram com maestria em seus restaurantes. Confira o trailer:
Pelo trailer já dá para perceber que além de boas histórias, a direção se preocupa com alguns elementos que colocam essa série documental em um outro patamar: a qualidade absurda da fotografia e da sua trilha sonora. Eu diria que "Chef's Table" é uma delicia de se assistir, é uma aula de história da gastronomia e uma referência multicultural impressionante, tanto que a série já foi indicada para 8 Emmys desde sua estréia!
Para não estragar a surpresa, comento sobre o primeiro episódio da primeira temporada que conta a história do italiano Massimo Bottura, top 5 no The World's 50 Best Restaurants Awards desde 2010, que quase faliu por acreditar que as tradições da gastronomia de Modenna mereciam ser modernizadas! Imagine isso em uma cidade super tradicional italiana!!! O cara é uma espécie de Steve Jobs da gastronomia! A história do Massimo Bottura é incrível e o que ele faz na cozinha é surreal, mas não é o único grande nome que encontramos, temos também o Francis Mallman, o Magnus Nilsson, o Grant Achatz, o Virgilio Martinez e até o nosso Alex Atala.
Olha, se você gosta de gastronomia, de conhecer as histórias de profissionais referência na sua profissão, não deixe de assistir essa série porque vale muito a pena!!!!
Indico de olhos fechados!!!!
PS: Alguns podem achar os episódios um pouco lento demais e de fato não é um narrativa muito dinâmica, até porque o conceito usa da gastronomia para fazer uma espécie de poesia visual. Eu sugiro sempre um ou dois episódios por vez e pode ter certeza que você vai parecer um grande conhecedor da gastronomia no final das temporadas!
Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" - e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.
Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.
Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:
Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.
A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.
"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!
Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" - e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.
Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.
Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:
Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.
A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.
"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!
Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.
Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):
Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.
A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.
Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.
"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!
Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022!
Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.
Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):
Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.
A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.
Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.
"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!
Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022!
"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.
Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):
Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.
Em 2011, o diretor Daniel H. Birman já havia produzido um documentário sobre o caso, chamado: "Me Facing Life: Cyntoia's Story", até que 9 anos depois, ele retorna ao tema para nos apresentar alguns fatos inéditos, com várias imagens exclusivas e algumas informações que na época do julgamento pareciam improváveis, mas que agora tem uma força reveladora e passível de mudar o rumo do caso. Fica claro que o diretor defende a tese pessoal de que Cyntoia deveria ser libertada imediatamente e que sua condenação não existiria se o julgamento tivesse ocorrido nos tempos atuais. O roteiro não se preocupa em mostrar o outro lado da história, ele é um exercício escancarado de argumentação - inclusive se apoiando em uma campanha liderada por vários famosos, de 2017, a favor de Cyntoia.
Apesar de "Clemência: A História de Cyntoia Brown" ter se concentrando na dinâmica legal do caso e não nas investigações do assassinato, usando e abusando de cenas de audiências e de conversas entre advogados e especialistas, Burman nos convida para uma reflexão muito mais do ponto de vista moral do que pela discussão dos fatos em si. Quando ele explora que a garota possui alguma deficiência intelectual ou um transtorno de bipolaridade, que seu histórico familiar foi marcada pelo alcoolismo e pela violência, ele deixa de lado a razão pela qual Cyntoia Brown atirou em Johnny Allen, para defender que essa ação foi um reflexo natural da sua experiência como ser humano até ali - o advogado de Cyntoia chega a comentar: "Matar alguém é errado, e ninguém contesta isso. No entanto, o que leva uma menina de 16 anos a cometer um assassinato como esse?"
Sim, nos vemos refletindo sobre os pontos levantados em defesa de Cyntoia, mas em nenhum momento somos levados ao outro lado da história e isso incomoda um pouco. Em compensação somos convidados a ver a história de uma outra forma, que para alguns fará mais sentido do que para outros, mas o fato é que a construção narrativa do documentário trabalha como um quebra-cabeça de fácil resolução, basta nos fazer acreditar naquela tese! Para quem gosta do gênero, será mais um bom filme que merece ser assistido; só não espere o improvável porque o objetivo não é esse e desde o começo sabemos qual é!
"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.
Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):
Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.
Em 2011, o diretor Daniel H. Birman já havia produzido um documentário sobre o caso, chamado: "Me Facing Life: Cyntoia's Story", até que 9 anos depois, ele retorna ao tema para nos apresentar alguns fatos inéditos, com várias imagens exclusivas e algumas informações que na época do julgamento pareciam improváveis, mas que agora tem uma força reveladora e passível de mudar o rumo do caso. Fica claro que o diretor defende a tese pessoal de que Cyntoia deveria ser libertada imediatamente e que sua condenação não existiria se o julgamento tivesse ocorrido nos tempos atuais. O roteiro não se preocupa em mostrar o outro lado da história, ele é um exercício escancarado de argumentação - inclusive se apoiando em uma campanha liderada por vários famosos, de 2017, a favor de Cyntoia.
Apesar de "Clemência: A História de Cyntoia Brown" ter se concentrando na dinâmica legal do caso e não nas investigações do assassinato, usando e abusando de cenas de audiências e de conversas entre advogados e especialistas, Burman nos convida para uma reflexão muito mais do ponto de vista moral do que pela discussão dos fatos em si. Quando ele explora que a garota possui alguma deficiência intelectual ou um transtorno de bipolaridade, que seu histórico familiar foi marcada pelo alcoolismo e pela violência, ele deixa de lado a razão pela qual Cyntoia Brown atirou em Johnny Allen, para defender que essa ação foi um reflexo natural da sua experiência como ser humano até ali - o advogado de Cyntoia chega a comentar: "Matar alguém é errado, e ninguém contesta isso. No entanto, o que leva uma menina de 16 anos a cometer um assassinato como esse?"
Sim, nos vemos refletindo sobre os pontos levantados em defesa de Cyntoia, mas em nenhum momento somos levados ao outro lado da história e isso incomoda um pouco. Em compensação somos convidados a ver a história de uma outra forma, que para alguns fará mais sentido do que para outros, mas o fato é que a construção narrativa do documentário trabalha como um quebra-cabeça de fácil resolução, basta nos fazer acreditar naquela tese! Para quem gosta do gênero, será mais um bom filme que merece ser assistido; só não espere o improvável porque o objetivo não é esse e desde o começo sabemos qual é!
Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.
Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.
Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante.
Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!
Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!
Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.
Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.
Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante.
Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!
Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!
“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.
Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):
O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!
Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.
“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.
Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):
O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!
Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.
“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.
"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:
O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.
Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.
Vale a pena!
"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.
"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:
O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.
Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.
Vale a pena!
"Cobra Kai" é um projeto que merece ser estudado. Imaginem um nova série onde dois antigos rivais do esporte: o primeiro se tornou um empresário de sucesso, casado, dois filhos, feliz; já o segundo, sobrevive como um fracassado, na vida pessoal e profissional, alcoólatra e solitário. De repente o caminho dos dois volta a se cruzar, o fracassado se vê com a oportunidade de ensinar karatê para que um jovem imigrante consiga se defender dos valentões da escola, enquanto o bem sucedido se sente na obrigação de evitar que o fantasma que o assombrou há 30 anos atrás, ressurja. Junte a essa premissa vários personagens estereotipados, um texto extremamente superficial e um conceito visual e narrativo completamente ultrapassado - você acha que essa série mereceria uma recomendação? Pois bem, "Cobra Kai" é, de fato, tudo isso que pontuei, porém com uma dupla de protagonistas que subverte toda essa percepção: Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) - e quando ligamos "o nome à pessoa", uma enorme carga nostálgica toma conta do nosso subconsciente e tudo que julgávamos ruim se transforma em algo sensacional. Duvida? Então assista o trailer abaixo:
Nada em "Cobra Kai" é por acaso, pode acreditar - ou seja, por mais estranho que pareça, todos elementos que criticaríamos em qualquer outra circunstância se tornam simplesmente geniais ao recriar, 30 anos depois, o mesmo universo que marcou toda uma geração - e aqui é preciso deixar claro: essa série é justamente para quem tem mais que 40 anos e torceu por Daniel San como se estivesse assistindo uma final olímpica ou que tenha repetido aquele golpe final de "Karatê Kid" em alguma brincadeira adolescente lá pelos 80 e 90. É óbvio que essa conexão emocional está pautando o sucesso da série, mais ou menos como aconteceu com "Stranger Things", mas se você não faz parte dessa geração e ficou curioso, eu sugiro que você assista o clássico de 1984 antes e só se você se divertir muito, parta para os episódios da série disponíveis na Netflix. Para os mais de 40, imperdível!
A principio, "Cobra Kai" aproveitou o contexto do primeiro filme e os dez minutos iniciais do segundo, o resto foi para o lixo (e ainda bem!). Apresentar uma nova perspectiva em uma história que já foi contada, para mim, foi a grande sacada da série. Mostrar que para uma mesma história, existem pontos de vista diferentes, que aquela necessidade de escolhermos um lado e torcermos por ele, quase sempre funciona apenas como um gatilho para rotularmos quem é o herói e quem é o bandido - e é justamente ao discutir sobre "rótulos" que "Cobra Kai" ganha ainda mais força. Impactar uma nova geração com problemas atuais, mas se equilibrando em conceitos que já não se encaixam na sociedade moderna e ainda não problematizar sobre eles, certamente, deixa a série leve, entretenimento puro! Todos os signos que marcaram o gênero em 1984 estão presentes: desde os momentos de tensão pontuados com uma trilha sonora motivacional e transformadora à toda uma construção de jornada dos personagens mais jovens em cima da "imagem e semelhança" do que aconteceu há 30 anos atrás, porém repaginada!
O roteiro é direto, sem pegadinhas ou necessidade de grandes plot twists, e é por isso que sempre sabemos exatamente o que vai acontecer em cada cena e quais serão suas consequências, e nem assim paramos de assistir ou deixamos de torcer pelos personagens que escolhemos como heróis (e aqui, mais uma vez, não sabemos exatamente quais são). É em cima disso que Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, criadores da série, foram muito inteligentes - eles nos provocam, como se dissessem: "as coisas não são exatamente como nós achamos que elas são!" As homenagens são sensíveis, como ao citar o Sr. Miyagi (o saudoso Pat Morita - indicado ao Oscar pelo personagem) ou mostrar apenas de relance o carro amarelo que Daniel San tanto encerou no primeiro filme e até ao relembrar alguns eventos-chave da obra de John G. Avildsen (e que acabam fazendo todo sentido na narrativa da série, diga-se de passagem).
"Cobra Kai" reaproveita os clichês de um gênero que fez muito sucesso nos anos 80, sem a menor vergonha, e transforma em uma viagem nostálgica ao descompromisso com o subtexto, com a seriedade de discussões filosóficas ou existenciais, deixando que o entretenimento nos conduza e permitindo que nossas interpretações fiquem limitadas entre uma cena de pancadaria e outra, sem aquela necessidade de encontrar um algo a mais onde não existe - ou pelo menos, onde não precisaria existir! "Cobra Kai" foi um tiro certo da Netflix e mais uma prova de que os "fins" justificam os "meios", ou seja, mesmo com um certo sucesso que a série teve quando fazia parte do finado "YouTube Red", só agora ela alcançou o status de cult e o reconhecimento de crítica e público!
Vale muito a pena! Dê o play e divirta-se, só!
"Cobra Kai" é um projeto que merece ser estudado. Imaginem um nova série onde dois antigos rivais do esporte: o primeiro se tornou um empresário de sucesso, casado, dois filhos, feliz; já o segundo, sobrevive como um fracassado, na vida pessoal e profissional, alcoólatra e solitário. De repente o caminho dos dois volta a se cruzar, o fracassado se vê com a oportunidade de ensinar karatê para que um jovem imigrante consiga se defender dos valentões da escola, enquanto o bem sucedido se sente na obrigação de evitar que o fantasma que o assombrou há 30 anos atrás, ressurja. Junte a essa premissa vários personagens estereotipados, um texto extremamente superficial e um conceito visual e narrativo completamente ultrapassado - você acha que essa série mereceria uma recomendação? Pois bem, "Cobra Kai" é, de fato, tudo isso que pontuei, porém com uma dupla de protagonistas que subverte toda essa percepção: Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) - e quando ligamos "o nome à pessoa", uma enorme carga nostálgica toma conta do nosso subconsciente e tudo que julgávamos ruim se transforma em algo sensacional. Duvida? Então assista o trailer abaixo:
Nada em "Cobra Kai" é por acaso, pode acreditar - ou seja, por mais estranho que pareça, todos elementos que criticaríamos em qualquer outra circunstância se tornam simplesmente geniais ao recriar, 30 anos depois, o mesmo universo que marcou toda uma geração - e aqui é preciso deixar claro: essa série é justamente para quem tem mais que 40 anos e torceu por Daniel San como se estivesse assistindo uma final olímpica ou que tenha repetido aquele golpe final de "Karatê Kid" em alguma brincadeira adolescente lá pelos 80 e 90. É óbvio que essa conexão emocional está pautando o sucesso da série, mais ou menos como aconteceu com "Stranger Things", mas se você não faz parte dessa geração e ficou curioso, eu sugiro que você assista o clássico de 1984 antes e só se você se divertir muito, parta para os episódios da série disponíveis na Netflix. Para os mais de 40, imperdível!
A principio, "Cobra Kai" aproveitou o contexto do primeiro filme e os dez minutos iniciais do segundo, o resto foi para o lixo (e ainda bem!). Apresentar uma nova perspectiva em uma história que já foi contada, para mim, foi a grande sacada da série. Mostrar que para uma mesma história, existem pontos de vista diferentes, que aquela necessidade de escolhermos um lado e torcermos por ele, quase sempre funciona apenas como um gatilho para rotularmos quem é o herói e quem é o bandido - e é justamente ao discutir sobre "rótulos" que "Cobra Kai" ganha ainda mais força. Impactar uma nova geração com problemas atuais, mas se equilibrando em conceitos que já não se encaixam na sociedade moderna e ainda não problematizar sobre eles, certamente, deixa a série leve, entretenimento puro! Todos os signos que marcaram o gênero em 1984 estão presentes: desde os momentos de tensão pontuados com uma trilha sonora motivacional e transformadora à toda uma construção de jornada dos personagens mais jovens em cima da "imagem e semelhança" do que aconteceu há 30 anos atrás, porém repaginada!
O roteiro é direto, sem pegadinhas ou necessidade de grandes plot twists, e é por isso que sempre sabemos exatamente o que vai acontecer em cada cena e quais serão suas consequências, e nem assim paramos de assistir ou deixamos de torcer pelos personagens que escolhemos como heróis (e aqui, mais uma vez, não sabemos exatamente quais são). É em cima disso que Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, criadores da série, foram muito inteligentes - eles nos provocam, como se dissessem: "as coisas não são exatamente como nós achamos que elas são!" As homenagens são sensíveis, como ao citar o Sr. Miyagi (o saudoso Pat Morita - indicado ao Oscar pelo personagem) ou mostrar apenas de relance o carro amarelo que Daniel San tanto encerou no primeiro filme e até ao relembrar alguns eventos-chave da obra de John G. Avildsen (e que acabam fazendo todo sentido na narrativa da série, diga-se de passagem).
"Cobra Kai" reaproveita os clichês de um gênero que fez muito sucesso nos anos 80, sem a menor vergonha, e transforma em uma viagem nostálgica ao descompromisso com o subtexto, com a seriedade de discussões filosóficas ou existenciais, deixando que o entretenimento nos conduza e permitindo que nossas interpretações fiquem limitadas entre uma cena de pancadaria e outra, sem aquela necessidade de encontrar um algo a mais onde não existe - ou pelo menos, onde não precisaria existir! "Cobra Kai" foi um tiro certo da Netflix e mais uma prova de que os "fins" justificam os "meios", ou seja, mesmo com um certo sucesso que a série teve quando fazia parte do finado "YouTube Red", só agora ela alcançou o status de cult e o reconhecimento de crítica e público!
Vale muito a pena! Dê o play e divirta-se, só!
"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!
Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:
Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.
Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.
A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.
Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.
PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".
"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!
Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:
Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.
Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.
A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.
Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.
PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".
Se "Good Girls" foi definida como a versão de "Breaking Bad" com protagonistas femininos, naturalmente vamos relacionar "Como Vender Drogas Online (Rápido)" como a versão adolescente da série de Vince Gilligan. O que poderia soar com uma certa desconfiança, afinal a Netflix vem enchendo seu catálogo de projetos bem duvidosos com temática adolescente desde 2019, tem um elemento que acaba colocando essa série em um outro patamar: "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma produção alemã! Repare na sinopse: Moritz (Maximilian Mundt) é um nerd que, após terminar um relacionamento de muitos anos e ver sua ex-namorada, Lisa (Lena Klenke), começar a se relacionar com o "traficante", popular e esportista da escola, resolve abrir seu próprio negócio para ganhar muito dinheiro, respeito, poder e assim reconquistá-la - o problema é "como" ele quer conseguir tudo isso, claro! Confira o trailer:
Vender drogas online pela Deep Web foi uma escolha tão natural para dois Nerds com o mindset empreendedor, como produzir metanfetamina de qualidade foi para um químico como Walter White. Se a motivação de White era ganhar a maior quantidade de dinheiro possível para deixar sua família tranquila após descobrir que o câncer no pulmão acabaria com sua vida, a de Moritz soa exatamente igual - mas dentro daquele universo que ele pertence! O que achei interessante em "Como Vender Drogas Online (Rápido)"é que não existe uma banalização do drama do protagonista por ele ser um adolescente cheio de inseguranças - sua dor e preocupação são tão legitimos quanto o câncer de White. Mesmo se apoiando em assuntos que estamos cansados de assistir, a série usa de um conceito narrativo menos denso, o que transforma temas bastante delicados em alegorias de fácil entendimento. O fato da série ser relativamente curta, cada episódio com cerca de 30 minutos e cada temporada com apenas seis episódios, ajuda muito nessa dinâmica e vai proporcionar um ótimo entretenimento sem tomar muito seu tempo, porém, talvez deixe a sensação que os personagens mereceriam um desenvolvimento mais cuidadoso. De cara, eu posso afirmar tranquilamente que vale a pena - sinceramente, acho que essa série pode te surpreender e, muito em breve, se tornar uma das queridinhas dos assinantes da Netflix se for inteligente o suficiente para não cair no óbvio!
Ao lado da Espanha, a Alemanha talvez seja o país europeu que mais ganhou os holofotes recentemente e que vem entregando ótimos conteúdos - deixando, inclusive, França e Reino Unido para trás. Dito isso, é de se esperar que depois de "Dark" e "Nós somos a Onda", o país trouxesse para um universo um pouco mais lúdico, a seriedade com que desenvolve suas histórias. Essa percepção executiva e criativa vem fazendo muita diferença. Um dos pontos que nos provocava em Breaking Bad e que encontramos em "Como Vender Drogas Online (Rápido)" diz respeito a construção de um mito (mesmo que na forma de anti-herói). O interessante é que para contextualizar essa jornada, os criadores Philipp Käßbohrer e Matthias Murmann, a todo momento, fazem paralelos com empreendedores de sucesso da vida real, deixando claro que existe um padrão para alcançar o sucesso e que se repetido, a chance de funcionar aumenta consideravelmente, mesmo com um produto ilegal. Não é raro, aliás, nomes como Steve Jobs, Elon Musk e Jeff Bezos serem citados para validar uma ou outra atitude dos protagonistas - essas referências trazem uma agradável lembrança de "Silicon Valley" da HBO, inclusive!
Peço licença para repetir a mesma premissa que destaquei em "Good Girls": "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, mas vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair!" - Dito isso, é possível afirmar que as tramas e sub-tramas vão soar familiares! Acontece que a série apresenta tantos elementos interessantes para serem desenvolvidos que eu chego a duvidar se a escolha por episódios menores foi realmente a melhor - acho que não!
Comandado pelo diretor Arne Feldhusen, a série tem um conceito estético maravilhoso que nos insere no universo da Geração Z com muita elegância. As inserções gráficas para explicar como a tecnologia faz parte do cotidiano dessa geração e como ela interfere na formação social desses jovens, é simplesmente genial - embora auto-explicativo, ter Moritz como narrador e protagonista só facilita o entendimento, além de render ótimas tiradas. Outro elemento visual muito bacana mostra como a droga impacta a vida de um ser humano normal - em uma sequência de cenas excepcionalmente bem editadas (totalmente clipadas), vemos uma pessoa no seu dia a dia que, rapidamente, sofre uma transformação assim que coloca um comprimido da boca. Usando tanto fashfowards quanto flashbacks, além de visualmente interessante, essas cenas ajudam a explicar os efeitos e consequências das drogas que estão sendo vendidas por Moritz e pelo seu sócio Lenny (Danilo Kamber).
Outro ponto que merece ser destacado antes de finalizarmos o review é justamente a qualidade do elenco: tanto Moritz (Maximilian Mundt) quanto Lenny (Danilo Kamber) fogem completamente do estereótipo que costumamos encontrar em séries adolescentes (e aqui estou sendo bastante taxativo). Com excelentes performances, a dupla de protagonistas convencem, cada um apoiado no seu drama particular, sem soar superficial e isso não é nada fácil!
Agora, é claro que beber na fonte de "Breaking Bad" tem seus prós e contras - são inúmeras referências (quase adaptações): como ter um policial dentro de família ou o corte de cabelo do protagonista, mas que funcionam tão bem que soa até original, embora sabemos que não é! "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma ótima escolha, pela dinâmica da série e pela forma como a história é contada - ela exige da nossa imaginação e até de uma certa abstração da realidade, ao mesmo tempo em que é extremamente real e paupável dentro daquele cenário! Vale muito a pena pela dicotomia inteligente da narrativa e pela diversão que ela nos proporciona!
Se "Good Girls" foi definida como a versão de "Breaking Bad" com protagonistas femininos, naturalmente vamos relacionar "Como Vender Drogas Online (Rápido)" como a versão adolescente da série de Vince Gilligan. O que poderia soar com uma certa desconfiança, afinal a Netflix vem enchendo seu catálogo de projetos bem duvidosos com temática adolescente desde 2019, tem um elemento que acaba colocando essa série em um outro patamar: "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma produção alemã! Repare na sinopse: Moritz (Maximilian Mundt) é um nerd que, após terminar um relacionamento de muitos anos e ver sua ex-namorada, Lisa (Lena Klenke), começar a se relacionar com o "traficante", popular e esportista da escola, resolve abrir seu próprio negócio para ganhar muito dinheiro, respeito, poder e assim reconquistá-la - o problema é "como" ele quer conseguir tudo isso, claro! Confira o trailer:
Vender drogas online pela Deep Web foi uma escolha tão natural para dois Nerds com o mindset empreendedor, como produzir metanfetamina de qualidade foi para um químico como Walter White. Se a motivação de White era ganhar a maior quantidade de dinheiro possível para deixar sua família tranquila após descobrir que o câncer no pulmão acabaria com sua vida, a de Moritz soa exatamente igual - mas dentro daquele universo que ele pertence! O que achei interessante em "Como Vender Drogas Online (Rápido)"é que não existe uma banalização do drama do protagonista por ele ser um adolescente cheio de inseguranças - sua dor e preocupação são tão legitimos quanto o câncer de White. Mesmo se apoiando em assuntos que estamos cansados de assistir, a série usa de um conceito narrativo menos denso, o que transforma temas bastante delicados em alegorias de fácil entendimento. O fato da série ser relativamente curta, cada episódio com cerca de 30 minutos e cada temporada com apenas seis episódios, ajuda muito nessa dinâmica e vai proporcionar um ótimo entretenimento sem tomar muito seu tempo, porém, talvez deixe a sensação que os personagens mereceriam um desenvolvimento mais cuidadoso. De cara, eu posso afirmar tranquilamente que vale a pena - sinceramente, acho que essa série pode te surpreender e, muito em breve, se tornar uma das queridinhas dos assinantes da Netflix se for inteligente o suficiente para não cair no óbvio!
Ao lado da Espanha, a Alemanha talvez seja o país europeu que mais ganhou os holofotes recentemente e que vem entregando ótimos conteúdos - deixando, inclusive, França e Reino Unido para trás. Dito isso, é de se esperar que depois de "Dark" e "Nós somos a Onda", o país trouxesse para um universo um pouco mais lúdico, a seriedade com que desenvolve suas histórias. Essa percepção executiva e criativa vem fazendo muita diferença. Um dos pontos que nos provocava em Breaking Bad e que encontramos em "Como Vender Drogas Online (Rápido)" diz respeito a construção de um mito (mesmo que na forma de anti-herói). O interessante é que para contextualizar essa jornada, os criadores Philipp Käßbohrer e Matthias Murmann, a todo momento, fazem paralelos com empreendedores de sucesso da vida real, deixando claro que existe um padrão para alcançar o sucesso e que se repetido, a chance de funcionar aumenta consideravelmente, mesmo com um produto ilegal. Não é raro, aliás, nomes como Steve Jobs, Elon Musk e Jeff Bezos serem citados para validar uma ou outra atitude dos protagonistas - essas referências trazem uma agradável lembrança de "Silicon Valley" da HBO, inclusive!
Peço licença para repetir a mesma premissa que destaquei em "Good Girls": "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, mas vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair!" - Dito isso, é possível afirmar que as tramas e sub-tramas vão soar familiares! Acontece que a série apresenta tantos elementos interessantes para serem desenvolvidos que eu chego a duvidar se a escolha por episódios menores foi realmente a melhor - acho que não!
Comandado pelo diretor Arne Feldhusen, a série tem um conceito estético maravilhoso que nos insere no universo da Geração Z com muita elegância. As inserções gráficas para explicar como a tecnologia faz parte do cotidiano dessa geração e como ela interfere na formação social desses jovens, é simplesmente genial - embora auto-explicativo, ter Moritz como narrador e protagonista só facilita o entendimento, além de render ótimas tiradas. Outro elemento visual muito bacana mostra como a droga impacta a vida de um ser humano normal - em uma sequência de cenas excepcionalmente bem editadas (totalmente clipadas), vemos uma pessoa no seu dia a dia que, rapidamente, sofre uma transformação assim que coloca um comprimido da boca. Usando tanto fashfowards quanto flashbacks, além de visualmente interessante, essas cenas ajudam a explicar os efeitos e consequências das drogas que estão sendo vendidas por Moritz e pelo seu sócio Lenny (Danilo Kamber).
Outro ponto que merece ser destacado antes de finalizarmos o review é justamente a qualidade do elenco: tanto Moritz (Maximilian Mundt) quanto Lenny (Danilo Kamber) fogem completamente do estereótipo que costumamos encontrar em séries adolescentes (e aqui estou sendo bastante taxativo). Com excelentes performances, a dupla de protagonistas convencem, cada um apoiado no seu drama particular, sem soar superficial e isso não é nada fácil!
Agora, é claro que beber na fonte de "Breaking Bad" tem seus prós e contras - são inúmeras referências (quase adaptações): como ter um policial dentro de família ou o corte de cabelo do protagonista, mas que funcionam tão bem que soa até original, embora sabemos que não é! "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma ótima escolha, pela dinâmica da série e pela forma como a história é contada - ela exige da nossa imaginação e até de uma certa abstração da realidade, ao mesmo tempo em que é extremamente real e paupável dentro daquele cenário! Vale muito a pena pela dicotomia inteligente da narrativa e pela diversão que ela nos proporciona!
Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!
Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:
Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais do mesmo"!
Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!
Logo no inicio, mesmo nos causando uma certa estranheza, já percebemos que a quebra da linearidade da narrativa, vai nos criar aquela sensação incômoda do "o que aconteceu?" e esse mérito precisa ser valorizado. A questão é que o roteiro tem elementos mais críticos e que não precisava dessa dinâmica - o que eu quero dizer é que o drama existencial da mãe, Alícia, poderia ser um caminho muito mais eficiente do que o mistério investigativo escolhido. Repare: são dois crimes, um envolvendo o filho adulto, mimado e problemático do casal rico e o outro, uma empregada doméstica semi-analfabeta, pobre e introspectiva - a questão chave da trama é que a resposta da família à cada um dos "criminosos" é completamente diferente e tendenciosa! Ao discutir assuntos como: aborto, abuso sexual, drogas, alcoolismo, abandono, violência contra a mulher, racismo, preconceito, "Crimes de Família" cutuca feridas profundas da sociedade moderna, mas acaba transitando na superficialidade de cada tema por se preocupar muito mais com os crimes em si do que com os motivos e reflexos deles.
Cecília Roth poderia ser uma espécie de Isabelle Huppert de "Elle", não pela similaridade das personagens, mas pela profundidade das discussões e das decisões que ambas precisam tomar perante sua história, mas, mais uma vez, transita na inconstância da escolha do gênero. Quando provocada a mergulhar nas dores mais intimas, Roth dá um show: quando conversa com o marido sobre ajudar mais uma vez o filho problemático ou quando precisa tomar uma decisão que vai completamente contra o que acreditava ser o melhor para sua família, são dois ótimos exemplos. Outro destaque do elenco é a empregada Gladys, interpretada pela atriz Yanina Ávila - essa sim me impressionou durante os quase 100 minutos de filme. Benjamín Amadeo, o filho Daniel, é pouco aproveitado, mas o depoimento que faz no seu julgamento também merece reconhecimento!
Outro fator que o roteiro apresenta, mas que é pouco desenvolvido, diz respeito as várias formas de lidar com maternidade: se com Alícia vemos a incondicionalidade ou um predatório amor de mãe, até irracional, com Gladys temos um lado mais sombrio, marcado pelo passado e completamente inseguro, despreparado. Já a ex-esposa de Daniel, Marcela (Sofía Gala), encontramos a mulher em transformação, que encontra força para lutar e buscar uma vida melhor - tudo isso com o reflexo da convivência social entre filhos, parceiros e pais. Mais uma vez, quando Sebastián Schindel foca na ação e não na discussão entre essas diferenças, perdemos uma ótima oportunidade de ir um pouco além! Uma pena!
Fiz questão de exaltar tantos pontos positivos até para justificar o inicio dessa análise: "Crimes de Família" tem uma excelente história nas mãos e que vai tocar na alma feminina de uma forma mais cruel, mesmo com todas essas escolhas narrativas menos sensíveis. Poderia ser, de fato, um grande filme, mas acabou se tornando um bom entretenimento, com algum mistério, nada de suspense (como foi vendido pela Netflix) e com um drama mais forte do que será percebido!
Vale o play, mas não será uma unanimidade!
Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!
Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:
Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais do mesmo"!
Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!
Logo no inicio, mesmo nos causando uma certa estranheza, já percebemos que a quebra da linearidade da narrativa, vai nos criar aquela sensação incômoda do "o que aconteceu?" e esse mérito precisa ser valorizado. A questão é que o roteiro tem elementos mais críticos e que não precisava dessa dinâmica - o que eu quero dizer é que o drama existencial da mãe, Alícia, poderia ser um caminho muito mais eficiente do que o mistério investigativo escolhido. Repare: são dois crimes, um envolvendo o filho adulto, mimado e problemático do casal rico e o outro, uma empregada doméstica semi-analfabeta, pobre e introspectiva - a questão chave da trama é que a resposta da família à cada um dos "criminosos" é completamente diferente e tendenciosa! Ao discutir assuntos como: aborto, abuso sexual, drogas, alcoolismo, abandono, violência contra a mulher, racismo, preconceito, "Crimes de Família" cutuca feridas profundas da sociedade moderna, mas acaba transitando na superficialidade de cada tema por se preocupar muito mais com os crimes em si do que com os motivos e reflexos deles.
Cecília Roth poderia ser uma espécie de Isabelle Huppert de "Elle", não pela similaridade das personagens, mas pela profundidade das discussões e das decisões que ambas precisam tomar perante sua história, mas, mais uma vez, transita na inconstância da escolha do gênero. Quando provocada a mergulhar nas dores mais intimas, Roth dá um show: quando conversa com o marido sobre ajudar mais uma vez o filho problemático ou quando precisa tomar uma decisão que vai completamente contra o que acreditava ser o melhor para sua família, são dois ótimos exemplos. Outro destaque do elenco é a empregada Gladys, interpretada pela atriz Yanina Ávila - essa sim me impressionou durante os quase 100 minutos de filme. Benjamín Amadeo, o filho Daniel, é pouco aproveitado, mas o depoimento que faz no seu julgamento também merece reconhecimento!
Outro fator que o roteiro apresenta, mas que é pouco desenvolvido, diz respeito as várias formas de lidar com maternidade: se com Alícia vemos a incondicionalidade ou um predatório amor de mãe, até irracional, com Gladys temos um lado mais sombrio, marcado pelo passado e completamente inseguro, despreparado. Já a ex-esposa de Daniel, Marcela (Sofía Gala), encontramos a mulher em transformação, que encontra força para lutar e buscar uma vida melhor - tudo isso com o reflexo da convivência social entre filhos, parceiros e pais. Mais uma vez, quando Sebastián Schindel foca na ação e não na discussão entre essas diferenças, perdemos uma ótima oportunidade de ir um pouco além! Uma pena!
Fiz questão de exaltar tantos pontos positivos até para justificar o inicio dessa análise: "Crimes de Família" tem uma excelente história nas mãos e que vai tocar na alma feminina de uma forma mais cruel, mesmo com todas essas escolhas narrativas menos sensíveis. Poderia ser, de fato, um grande filme, mas acabou se tornando um bom entretenimento, com algum mistério, nada de suspense (como foi vendido pela Netflix) e com um drama mais forte do que será percebido!
Vale o play, mas não será uma unanimidade!