"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.
A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:
É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.
Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.
O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!
Independente disso, experimente o play!
"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.
A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:
É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.
Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.
O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!
Independente disso, experimente o play!
Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!
A diretora francesa Mati Diop foi muito inteligente em abordar temas delicados de uma sociedade sofrida e cheia de conflitos sociais mostrando diversos pontos de vista e usando elementos sobrenaturais como pano de fundo. Essa co-produção França / Senegal / Bélgica usa o cenário interessando do que Dakar vem se transformando. Enquanto o abismo social entre empreiteiros e operários ditam as regras na região, a bem construída introdução de uma história de amor dá o tom de "Atlantique" no primeiro ato. O problema é que o segundo e o terceiro atos vão se enfraquecendo com a quantidade de explicações e, depois, conclusões que a história se sente obrigada a fazer. A história de Ada e Souleiman já me parecia ser o suficiente, porém o roteiro trás outras tramas sem tanto desenvolvimento - uma delas é a febre que as mulheres tem após a morte dos maridos citada em todas as sinopses do filme. Sim, ela é vital para o entendimento do que vem a seguir, mas o sua importância não se reflete nas poucas cenas que contam essa passagem. Os reais motivos da fuga para a Espanha também me soaram frágeis, embora entendível; mas não deu a dimensão da perda para as mulheres que ficaram e isso complica ainda mais quando os mortos resolvem voltar para cobrar a dívida incorporando nelas - a idéia é ótima, mas poderia ser mais impactante - fiquei com essa impressão!
O filme é lindamente fotografado pela Claire Mathon, porém alguns planos comandados por Diop são longos demais - repare na cena em que os operários estão voltando para casa no inicio do filme! A trilha sonora e o desenho de som me chamaram muito atenção - achei muito bem construída a ambientação da cidade, enaltecendo o propósito de escancarar a diferença social do país. A trilha tem uma levada bastante emocional, mas, ao mesmo tempo, conta com elementos de suspense que funcionam perfeitamente na história. Os atores também vão bem, mas nada fora da curva - me agradou o trabalho Mame Bineta Sane como Ada e só! A produção não é ruim, mas as duas cenas de incêndio em nada me convenceram - sinceramente, era possível não mostrar e mesmo assim trazer o peso e o drama das situações só com o trabalho dos atores ou com as consequências desses fatos para os personagens (o que aliás foi um grande acerto da diretora quando resolveu não mostrar o naufrágio).
"Atlantique" chegou no catálogo como a aposta da Netflix para a disputa do Oscar de filme estrangeiro. Não acredito na indicação, embora não me surpreenderá caso ela vier. Já vencer, acho muito (mas muito) difícil! O filme pode parecer contemplativo demais para alguns e passar a impressão de artístico demais para outros - é uma pena, pois acredito que vale a pena conhecer o trabalho de Diop na direção e do cinema senegalês como um todo (embora a produção seja basicamente francesa). É o estilo de filme que me atrai, mas preciso dizer que não me marcou como eu imaginava - o trailer me impactou mais que o filme! Vale a indicação apenas se você for um amante de filmes com uma pegada mais lírica!
Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!
A diretora francesa Mati Diop foi muito inteligente em abordar temas delicados de uma sociedade sofrida e cheia de conflitos sociais mostrando diversos pontos de vista e usando elementos sobrenaturais como pano de fundo. Essa co-produção França / Senegal / Bélgica usa o cenário interessando do que Dakar vem se transformando. Enquanto o abismo social entre empreiteiros e operários ditam as regras na região, a bem construída introdução de uma história de amor dá o tom de "Atlantique" no primeiro ato. O problema é que o segundo e o terceiro atos vão se enfraquecendo com a quantidade de explicações e, depois, conclusões que a história se sente obrigada a fazer. A história de Ada e Souleiman já me parecia ser o suficiente, porém o roteiro trás outras tramas sem tanto desenvolvimento - uma delas é a febre que as mulheres tem após a morte dos maridos citada em todas as sinopses do filme. Sim, ela é vital para o entendimento do que vem a seguir, mas o sua importância não se reflete nas poucas cenas que contam essa passagem. Os reais motivos da fuga para a Espanha também me soaram frágeis, embora entendível; mas não deu a dimensão da perda para as mulheres que ficaram e isso complica ainda mais quando os mortos resolvem voltar para cobrar a dívida incorporando nelas - a idéia é ótima, mas poderia ser mais impactante - fiquei com essa impressão!
O filme é lindamente fotografado pela Claire Mathon, porém alguns planos comandados por Diop são longos demais - repare na cena em que os operários estão voltando para casa no inicio do filme! A trilha sonora e o desenho de som me chamaram muito atenção - achei muito bem construída a ambientação da cidade, enaltecendo o propósito de escancarar a diferença social do país. A trilha tem uma levada bastante emocional, mas, ao mesmo tempo, conta com elementos de suspense que funcionam perfeitamente na história. Os atores também vão bem, mas nada fora da curva - me agradou o trabalho Mame Bineta Sane como Ada e só! A produção não é ruim, mas as duas cenas de incêndio em nada me convenceram - sinceramente, era possível não mostrar e mesmo assim trazer o peso e o drama das situações só com o trabalho dos atores ou com as consequências desses fatos para os personagens (o que aliás foi um grande acerto da diretora quando resolveu não mostrar o naufrágio).
"Atlantique" chegou no catálogo como a aposta da Netflix para a disputa do Oscar de filme estrangeiro. Não acredito na indicação, embora não me surpreenderá caso ela vier. Já vencer, acho muito (mas muito) difícil! O filme pode parecer contemplativo demais para alguns e passar a impressão de artístico demais para outros - é uma pena, pois acredito que vale a pena conhecer o trabalho de Diop na direção e do cinema senegalês como um todo (embora a produção seja basicamente francesa). É o estilo de filme que me atrai, mas preciso dizer que não me marcou como eu imaginava - o trailer me impactou mais que o filme! Vale a indicação apenas se você for um amante de filmes com uma pegada mais lírica!
"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!
Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):
O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.
Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!
"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!
Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis!
"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!
Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):
O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.
Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!
"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!
Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis!
"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:
O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!
Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.
"Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!
Vale muito a pena!
"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:
O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!
Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.
"Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!
Vale muito a pena!
No esporte existe uma máxima que diz: "chegar ao topo pode até ser fácil, se manter lá que é o complicado" - e me parece que nos negócios não é muito diferente, pois interferências bastante particulares começam a fazer muita diferença. Se você gostou de "Mito e Magnata: John Delorean", não deixe de assistir "Bad Boys e Bilionários: Índia". Essa série de três episódios da Netflix mostra de uma forma brutal como o ser humano pautado pela ganância e pelo ego, é capaz de transformar oportunidades raras de sucesso nos negócios em cases de corrupção, estelionato, desvio de dinheiro e muitos outros crimes que eu nem tenho vocabulário para listar.
Em "A Bad Boy Billionaires"(no original) conhecemos a história de três magnatas indianos: Vijay Mallya, conhecido como “Rei da Farra”, Nirav Modi e Subrata Roy, que alcançaram sucesso absurdo em seus negócios antes de serem acusados de fraudes financeiras e corrupção que culminaram na queda de seus impérios. Confira os teasers originais de cada um deles, na ordem dos episódios da série:
Vijay Mallya (64), conhecido como o “Rei da Farra”, é o presidente do conselho de administração da United Beverages Group, um conglomerado com atuação nas áreas de bebidas alcoólicas, infraestrutura de aviação, imóveis e fertilizantes. Herdeiro do industrial Vittal Mallya, desde que assumiu a presidência viu o faturamento anual do grupo aumentar em 64%. A cerveja Kingfisher, por exemplo, tem uma participação de mercado superior a 50% na Índia - o que faz da Uniteda maior empresa de bebidas do mundo em volume. Ao assistir o episódio, os mais atentos podem reconhecer Mallya graças a sua equipe de Fórmula 1 - a Force India (patrocinada e depois adquirida pela Sahara de Subrata Roy - personagem do último episódio). Aparentemente um gênio dos negócios, Mallya começou a assistir sua queda ao tomar decisões erradas em sua gestão, principalmente no que diz respeito a Kingfisher Airlines - mas isso o episódio conta em detalhes, inclusive com a participação do filho de Mallya dando depoimentos que transitam entre a total falta de noção da realidade com a recorrente mania de perseguição de que não enxerga fora da bolha.
Já Nirav Deepak Modi (49) é um empresário indiano que está sendo investigado por um caso de fraude de mais de US$ 2 bilhões ao Punjab National Bank (PNB). Modi que já tinha um histórico familiar no mercado de pedras preciosas, surgiu de repente no universo da moda ao criar uma marca forte e respeitada graças a qualidade de seus diamantes e o design inovador de suas peças. Rapidamente ele abriu lojas nos destinos mais badalados do mundo e tinha planos audaciosos para sua empresa quando descobriram que a forma usada para financiar essa expansão não era legal (entre outras jogadas que ele fazia com empresas de fachada para desviar muito dinheiro para o próprio bolso).
E finalmente Subrata Roy (72), o fundador e presidente da Sahara India Pariwar, um conglomerado indiano com negócios diversificados e interesses de propriedade que incluem até o Plaza Hotel de Nova Iorque, talvez seja o mais mal caráter de todos - se assim pudermos listar com base em impacto na sociedade. A Sahara é um espécie de "pirâmide de investimentos" que prometeu para 30 milhões de indianos de baixa renda e quase nenhuma instrução, um resultado financeiro expressivo em pouco tempo, desde que o dinheiro fosse reinvestido e aportes mensais fosse realizados para manter a operação. Vale lembrar que em 2013, Roy figurou entre as 10 pessoas mais poderosas da Índia - um país com 1.3 bilhões de pessoas.
Embora embrulhe o estômago em muitos momentos, o documentário tem uma dinâmica bastante interessante como entretenimento - ele usa vários materiais de arquivo para ilustrar depoimentos de pessoas que, de alguma forma, estiveram muito próximas de cada um dos personagens. O diretor e roteirista Dylan Mohan Gray (do premiado "Fire in the Blood") foi de fato muito feliz em construir uma linha temporal simples de entender, que exalta as qualidades de cada um dos empreendedores para, na segunda metade, indicar onde e quando as coisas começaram a desandar - inclusive com depoimentos de especialistas em negócios e ex-executivos das empresas.
Olá, é um super estudo de caso! Vale muito a pena!
Antes de finalizar uma curiosidade: Assim que a Netflix lançou o trailer oficial da série, ela precisou remover um dos episódios do projeto - inicialmente seriam 4 e não 3 histórias; graças a uma ação judicial de B Ramalinga Raju, fundador da Satyam Computers. Reparem que no cartaz, é possível localizar esse personagem.
No esporte existe uma máxima que diz: "chegar ao topo pode até ser fácil, se manter lá que é o complicado" - e me parece que nos negócios não é muito diferente, pois interferências bastante particulares começam a fazer muita diferença. Se você gostou de "Mito e Magnata: John Delorean", não deixe de assistir "Bad Boys e Bilionários: Índia". Essa série de três episódios da Netflix mostra de uma forma brutal como o ser humano pautado pela ganância e pelo ego, é capaz de transformar oportunidades raras de sucesso nos negócios em cases de corrupção, estelionato, desvio de dinheiro e muitos outros crimes que eu nem tenho vocabulário para listar.
Em "A Bad Boy Billionaires"(no original) conhecemos a história de três magnatas indianos: Vijay Mallya, conhecido como “Rei da Farra”, Nirav Modi e Subrata Roy, que alcançaram sucesso absurdo em seus negócios antes de serem acusados de fraudes financeiras e corrupção que culminaram na queda de seus impérios. Confira os teasers originais de cada um deles, na ordem dos episódios da série:
Vijay Mallya (64), conhecido como o “Rei da Farra”, é o presidente do conselho de administração da United Beverages Group, um conglomerado com atuação nas áreas de bebidas alcoólicas, infraestrutura de aviação, imóveis e fertilizantes. Herdeiro do industrial Vittal Mallya, desde que assumiu a presidência viu o faturamento anual do grupo aumentar em 64%. A cerveja Kingfisher, por exemplo, tem uma participação de mercado superior a 50% na Índia - o que faz da Uniteda maior empresa de bebidas do mundo em volume. Ao assistir o episódio, os mais atentos podem reconhecer Mallya graças a sua equipe de Fórmula 1 - a Force India (patrocinada e depois adquirida pela Sahara de Subrata Roy - personagem do último episódio). Aparentemente um gênio dos negócios, Mallya começou a assistir sua queda ao tomar decisões erradas em sua gestão, principalmente no que diz respeito a Kingfisher Airlines - mas isso o episódio conta em detalhes, inclusive com a participação do filho de Mallya dando depoimentos que transitam entre a total falta de noção da realidade com a recorrente mania de perseguição de que não enxerga fora da bolha.
Já Nirav Deepak Modi (49) é um empresário indiano que está sendo investigado por um caso de fraude de mais de US$ 2 bilhões ao Punjab National Bank (PNB). Modi que já tinha um histórico familiar no mercado de pedras preciosas, surgiu de repente no universo da moda ao criar uma marca forte e respeitada graças a qualidade de seus diamantes e o design inovador de suas peças. Rapidamente ele abriu lojas nos destinos mais badalados do mundo e tinha planos audaciosos para sua empresa quando descobriram que a forma usada para financiar essa expansão não era legal (entre outras jogadas que ele fazia com empresas de fachada para desviar muito dinheiro para o próprio bolso).
E finalmente Subrata Roy (72), o fundador e presidente da Sahara India Pariwar, um conglomerado indiano com negócios diversificados e interesses de propriedade que incluem até o Plaza Hotel de Nova Iorque, talvez seja o mais mal caráter de todos - se assim pudermos listar com base em impacto na sociedade. A Sahara é um espécie de "pirâmide de investimentos" que prometeu para 30 milhões de indianos de baixa renda e quase nenhuma instrução, um resultado financeiro expressivo em pouco tempo, desde que o dinheiro fosse reinvestido e aportes mensais fosse realizados para manter a operação. Vale lembrar que em 2013, Roy figurou entre as 10 pessoas mais poderosas da Índia - um país com 1.3 bilhões de pessoas.
Embora embrulhe o estômago em muitos momentos, o documentário tem uma dinâmica bastante interessante como entretenimento - ele usa vários materiais de arquivo para ilustrar depoimentos de pessoas que, de alguma forma, estiveram muito próximas de cada um dos personagens. O diretor e roteirista Dylan Mohan Gray (do premiado "Fire in the Blood") foi de fato muito feliz em construir uma linha temporal simples de entender, que exalta as qualidades de cada um dos empreendedores para, na segunda metade, indicar onde e quando as coisas começaram a desandar - inclusive com depoimentos de especialistas em negócios e ex-executivos das empresas.
Olá, é um super estudo de caso! Vale muito a pena!
Antes de finalizar uma curiosidade: Assim que a Netflix lançou o trailer oficial da série, ela precisou remover um dos episódios do projeto - inicialmente seriam 4 e não 3 histórias; graças a uma ação judicial de B Ramalinga Raju, fundador da Satyam Computers. Reparem que no cartaz, é possível localizar esse personagem.
"Banco Central Sob Ataque" é muito interessante, mas é preciso alinhar as expectativas: não espere muita ação - aqui, é o drama (e um perturbador recorte histórico) que vai te mover durante a jornada. Lançada em 2024 pela Netflix, essa minissérie espanhola narra, com uma boa dose de tensão e algum dinamismo, um dos assaltos mais ousados e emblemáticos da história recente da Espanha. Escrita por Patxi Amezcua e dirigida por Daniel Calparsoro, ambos de "O Aviso", a produção foca no olhar crítico sobre as motivações e consequências de um crime que desafiou o sistema financeiro e a ordem social em um período marcado pelo golpe de Estado frustrado que ocorreu na Espanha em 23 de fevereiro de 1981. Assim como "La Casa de Papel", "Asalto al Banco Central" (no original) também explora o fascínio e o impacto dos grandes assaltos na mídia, mas com uma abordagem realista e ancorada em fatos históricos impressionantes - eu diria que por isso, tudo fica ainda mais envolvente.
Em cinco episódios, acompanhamos um grupo de criminosos altamente organizados que planeja e executa um roubo audacioso ao Banco Central da Espanha. À medida que o plano se desenrola, a audiência é levada a conhecer não apenas os detalhes históricos sobre o assalto, mas também os conflitos internos do grupo e os desafios enfrentados pelas autoridades para evitar um desastre midiático - já que cerca de 200 pessoas eram mantidas como reféns. A minissérie alterna entre a perspectiva dos assaltantes e dos investigadores ao mesmo tempo que conhecemos a história de Maider (María Pedraza), uma jornalista que desafia as autoridades para descobrir a verdadeira motivação do assalto, criando assim uma narrativa multifacetada que nos mantém envolvidos do início ao fim. Confira o trailer:
Patxi Amezcua entrega um roteiro que sabe misturar elementos documentais com um drama de diálogos ágeis e bastante incisivos na sua essência. Obviamente que para nós, brasileiros, a dinâmica politica da Espanha pós-ditadura não é um assunto dos mais dominantes, mas é preciso que se diga que a narrativa proposta por Amezcua é eficaz ao explorar a psicologia dos personagens, especialmente no que diz respeito às relações do grupo de assaltantes com suas ideologias e perante as tensões partidárias entre esquerda e extrema direita que ameaçavam a recente democracia do país. A minissérie também é inteligente em abordar os eventos históricos com elementos de ficção que estão 100% alinhados com a proposta de transformar em entretenimento um fato marcante para a sociedade da época. Temas como ganância, corrupção e os limites da moralidade, que questionam as linhas tênues entre certo e errado em um contexto onde todos os envolvidos parecem ter algo a esconder, são muito bem desenvolvidos tanto nos personagens principais quando nos coadjuvantes.
Nesse sentido a direção de Daniel Calparsoro é marcada não só por sua habilidade em criar cenas de alta tensão, mas também por nunca perder o foco na construção desses personagens. Calparsoro equilibra momentos de adrenalina com sequências mais introspectivas, permitindo que a audiência se conecte com as motivações e vulnerabilidades de ambos os lados da história, provocando julgamentos que, de fato, confundem nossa persepção ao ponto de não sabermos muito bem para quem devemos torcer. O diretor utiliza uma cinematografia sombria e dinâmica, com enquadramentos que intensificam o clima claustrofóbico e a sensação de urgência dentro do banco, enquanto nas cenas externas captura a pressão pública e midiática que se desenrola paralelamente ao assalto - inclusive estabelecendo sua condição histórica inserindo imagens reais de arquivos jornalísticos.
Mesmo contando com seu grande elenco como um dos trunfos da minissérie, eu destaco três nomes conhecidos do público da Netflix que merecem sua atenção: Miguel Herrán como o líder do grupo de assaltantes, José Juan Martínez Gómez, o "El Rubio" - ele entrega mais uma performance magnética e cheia de nuances, mostrando a dualidade de um homem que combina inteligência estratégica com uma fragilidade emocional oculta com muita precisão dramática. Ao lado dele, María Pedraza e Isak Férriz, o policial Paco López, contribuem demais para a autenticidade dos conflitos e das relações quase sempre dúbias entre uma jovem jornalista e o responsável pelas investigações - repare como o apelo moral daquela sociedade ainda machucada pela ditadura traz para esses personagens um contraponto sólido e humano.
"Banco Central Sob Ataque", embora tenha seus momentos previsíveis, é uma minissérie que compensa por ter uma narrativa envolvente e personagens que capturam a complexidade de um conflito real entre o anarquismo e a politica da época sem soar didática demais. Tanto para os fãs de dramas criminais históricos e intensos quanto para aqueles que buscam só o entretenimento, eu diria que esse é o tipo de obra que tende a agradar a todos!
Vale seu play!
"Banco Central Sob Ataque" é muito interessante, mas é preciso alinhar as expectativas: não espere muita ação - aqui, é o drama (e um perturbador recorte histórico) que vai te mover durante a jornada. Lançada em 2024 pela Netflix, essa minissérie espanhola narra, com uma boa dose de tensão e algum dinamismo, um dos assaltos mais ousados e emblemáticos da história recente da Espanha. Escrita por Patxi Amezcua e dirigida por Daniel Calparsoro, ambos de "O Aviso", a produção foca no olhar crítico sobre as motivações e consequências de um crime que desafiou o sistema financeiro e a ordem social em um período marcado pelo golpe de Estado frustrado que ocorreu na Espanha em 23 de fevereiro de 1981. Assim como "La Casa de Papel", "Asalto al Banco Central" (no original) também explora o fascínio e o impacto dos grandes assaltos na mídia, mas com uma abordagem realista e ancorada em fatos históricos impressionantes - eu diria que por isso, tudo fica ainda mais envolvente.
Em cinco episódios, acompanhamos um grupo de criminosos altamente organizados que planeja e executa um roubo audacioso ao Banco Central da Espanha. À medida que o plano se desenrola, a audiência é levada a conhecer não apenas os detalhes históricos sobre o assalto, mas também os conflitos internos do grupo e os desafios enfrentados pelas autoridades para evitar um desastre midiático - já que cerca de 200 pessoas eram mantidas como reféns. A minissérie alterna entre a perspectiva dos assaltantes e dos investigadores ao mesmo tempo que conhecemos a história de Maider (María Pedraza), uma jornalista que desafia as autoridades para descobrir a verdadeira motivação do assalto, criando assim uma narrativa multifacetada que nos mantém envolvidos do início ao fim. Confira o trailer:
Patxi Amezcua entrega um roteiro que sabe misturar elementos documentais com um drama de diálogos ágeis e bastante incisivos na sua essência. Obviamente que para nós, brasileiros, a dinâmica politica da Espanha pós-ditadura não é um assunto dos mais dominantes, mas é preciso que se diga que a narrativa proposta por Amezcua é eficaz ao explorar a psicologia dos personagens, especialmente no que diz respeito às relações do grupo de assaltantes com suas ideologias e perante as tensões partidárias entre esquerda e extrema direita que ameaçavam a recente democracia do país. A minissérie também é inteligente em abordar os eventos históricos com elementos de ficção que estão 100% alinhados com a proposta de transformar em entretenimento um fato marcante para a sociedade da época. Temas como ganância, corrupção e os limites da moralidade, que questionam as linhas tênues entre certo e errado em um contexto onde todos os envolvidos parecem ter algo a esconder, são muito bem desenvolvidos tanto nos personagens principais quando nos coadjuvantes.
Nesse sentido a direção de Daniel Calparsoro é marcada não só por sua habilidade em criar cenas de alta tensão, mas também por nunca perder o foco na construção desses personagens. Calparsoro equilibra momentos de adrenalina com sequências mais introspectivas, permitindo que a audiência se conecte com as motivações e vulnerabilidades de ambos os lados da história, provocando julgamentos que, de fato, confundem nossa persepção ao ponto de não sabermos muito bem para quem devemos torcer. O diretor utiliza uma cinematografia sombria e dinâmica, com enquadramentos que intensificam o clima claustrofóbico e a sensação de urgência dentro do banco, enquanto nas cenas externas captura a pressão pública e midiática que se desenrola paralelamente ao assalto - inclusive estabelecendo sua condição histórica inserindo imagens reais de arquivos jornalísticos.
Mesmo contando com seu grande elenco como um dos trunfos da minissérie, eu destaco três nomes conhecidos do público da Netflix que merecem sua atenção: Miguel Herrán como o líder do grupo de assaltantes, José Juan Martínez Gómez, o "El Rubio" - ele entrega mais uma performance magnética e cheia de nuances, mostrando a dualidade de um homem que combina inteligência estratégica com uma fragilidade emocional oculta com muita precisão dramática. Ao lado dele, María Pedraza e Isak Férriz, o policial Paco López, contribuem demais para a autenticidade dos conflitos e das relações quase sempre dúbias entre uma jovem jornalista e o responsável pelas investigações - repare como o apelo moral daquela sociedade ainda machucada pela ditadura traz para esses personagens um contraponto sólido e humano.
"Banco Central Sob Ataque", embora tenha seus momentos previsíveis, é uma minissérie que compensa por ter uma narrativa envolvente e personagens que capturam a complexidade de um conflito real entre o anarquismo e a politica da época sem soar didática demais. Tanto para os fãs de dramas criminais históricos e intensos quanto para aqueles que buscam só o entretenimento, eu diria que esse é o tipo de obra que tende a agradar a todos!
Vale seu play!
"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.
O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):
Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.
Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto - a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.
O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.
Por isso, vale o play!
"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.
O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):
Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.
Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto - a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.
O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.
Por isso, vale o play!
"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.
Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há mais de 25 anos atrás. Confira o trailer:
Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss.
Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.
As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.
"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!
"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.
Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há mais de 25 anos atrás. Confira o trailer:
Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss.
Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.
As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.
"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!
Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!
"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.
Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!
"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar.
Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!
Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!
"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.
Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!
"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar.
Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!
"Beckett" é o tipo do filme que transita muito bem entre o drama e a ação, mas que acaba demorando um certo tempo para encontrar sua identidade e isso vai causar algum distanciamento da audiência - mas calma, o filme é bom, só precisamos alinhar as expectativas. Se no primeiro ato o foco é estabelecer a relação entre o protagonista e sua namorada, a partir do segundo ele subverte o gênero e traz para cena a correria e as reviravoltas de um bom thriller de ação - ou seja, se você gosta de ação será preciso suportar os primeiros 30 minutos de filme que são bem cadenciados, já se você gosta de um bom drama, é possível que você se decepcione com o andamento da trama.
Enquanto estava de férias no Norte da Grécia, o turista americano Beckett (John David Washington) se torna o alvo de uma caçada após sofrer um acidente de carro que acaba sendo fatal para sua namorada (Alicia Vikander). Devastado, Beckett tenta recompor suas forças enquanto aguarda a liberação do corpo e a investigação do acidente, porém uma série de eventos (aparentemente inexplicáveis) faz com que ele seja forçado a correr para salvar sua vida. Sem saber se comunicar e não podendo confiar em ninguém, Beckett precisa cruzar o pais até chegar na embaixada americana e assim tentar provar sua inocência, seja lá por qual crime ele está sendo procurado. Confira o trailer:
Veja, Samuel Beckett, é um famoso dramaturgo irlandês que escreveu o clássico "Esperando Godot" e acabou se transformando no maior representante do "Teatro do Absurdo" - honraria que acabou se derivando na expressão "beckettiana" que significa, prestem atenção: adjetivo usado para definir situações em que pessoas se veem imobilizadas, em comunicação truncada, sem saída ou mesmo sem propósito, como comentário pessimista da condição humana.
Não por acaso o diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino traz esse mesmo conceito para história que ele mesmo criou e que foi roteirizada pelo estreante Kevin A. Rice. Notadamente, Filomarino quer impor uma narrativa mais autoral, com ares de filme independente e esse mood parece não se encaixar no que vemos na tela - na minha opinião, falta organicidade nas transições de gênero. O diretor acerta no drama, mas derrapa na ação. Quando ele cria as inúmeras barreiras que uma comunicação (truncada) acarreta, sentimos a angustia e o medo de Beckett, mas quando começa a caçada, ele não entrega a mesma qualidade de gramática cinematográfica - nem a montagem consegue consertar alguns planos mal executados. Porém, chega a ser impressionante como isso não impacta na experiência quando mudamos a "chavinha" do drama para a ação - o que foi construído por John David Washington continua ali e convenhamos: o que buscamos no gênero é o entretenimento das perseguições, sentir a raiva quando das traições e alívio de mais um "final feliz", e isso o filme entrega!
A história é de fato boa, cheia de simbolismos que remetem ao absurdo de Beckett (o dramaturgo), mas dois elementos ajudam (e muito) na concepção do ritmo que o filme luta para impor: a fotografia do Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame pelo Seu Nome) e a excelente trilha sonora do astro japonêsRyuichi Sakamoto. Tudo se encaixa muito bem com o excelente trabalho de Washington, dando inclusive uma sensação de que tudo foi muito bem orquestrado, mesmo não sendo (como comentamos). A grande questão e talvez o mais difícil paradoxo das escolhas de Filomarino seja justamente encontrar o seu público dentro de dois gêneros que pouco se comunicam, mas que no final do dia vai agradar muito mais do que aborrecer.
"Beckett"é entretenimento puro e que vale o play pela experiência, sem muita preocupação de acertar em todas as escolhas narrativas!
"Beckett" é o tipo do filme que transita muito bem entre o drama e a ação, mas que acaba demorando um certo tempo para encontrar sua identidade e isso vai causar algum distanciamento da audiência - mas calma, o filme é bom, só precisamos alinhar as expectativas. Se no primeiro ato o foco é estabelecer a relação entre o protagonista e sua namorada, a partir do segundo ele subverte o gênero e traz para cena a correria e as reviravoltas de um bom thriller de ação - ou seja, se você gosta de ação será preciso suportar os primeiros 30 minutos de filme que são bem cadenciados, já se você gosta de um bom drama, é possível que você se decepcione com o andamento da trama.
Enquanto estava de férias no Norte da Grécia, o turista americano Beckett (John David Washington) se torna o alvo de uma caçada após sofrer um acidente de carro que acaba sendo fatal para sua namorada (Alicia Vikander). Devastado, Beckett tenta recompor suas forças enquanto aguarda a liberação do corpo e a investigação do acidente, porém uma série de eventos (aparentemente inexplicáveis) faz com que ele seja forçado a correr para salvar sua vida. Sem saber se comunicar e não podendo confiar em ninguém, Beckett precisa cruzar o pais até chegar na embaixada americana e assim tentar provar sua inocência, seja lá por qual crime ele está sendo procurado. Confira o trailer:
Veja, Samuel Beckett, é um famoso dramaturgo irlandês que escreveu o clássico "Esperando Godot" e acabou se transformando no maior representante do "Teatro do Absurdo" - honraria que acabou se derivando na expressão "beckettiana" que significa, prestem atenção: adjetivo usado para definir situações em que pessoas se veem imobilizadas, em comunicação truncada, sem saída ou mesmo sem propósito, como comentário pessimista da condição humana.
Não por acaso o diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino traz esse mesmo conceito para história que ele mesmo criou e que foi roteirizada pelo estreante Kevin A. Rice. Notadamente, Filomarino quer impor uma narrativa mais autoral, com ares de filme independente e esse mood parece não se encaixar no que vemos na tela - na minha opinião, falta organicidade nas transições de gênero. O diretor acerta no drama, mas derrapa na ação. Quando ele cria as inúmeras barreiras que uma comunicação (truncada) acarreta, sentimos a angustia e o medo de Beckett, mas quando começa a caçada, ele não entrega a mesma qualidade de gramática cinematográfica - nem a montagem consegue consertar alguns planos mal executados. Porém, chega a ser impressionante como isso não impacta na experiência quando mudamos a "chavinha" do drama para a ação - o que foi construído por John David Washington continua ali e convenhamos: o que buscamos no gênero é o entretenimento das perseguições, sentir a raiva quando das traições e alívio de mais um "final feliz", e isso o filme entrega!
A história é de fato boa, cheia de simbolismos que remetem ao absurdo de Beckett (o dramaturgo), mas dois elementos ajudam (e muito) na concepção do ritmo que o filme luta para impor: a fotografia do Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame pelo Seu Nome) e a excelente trilha sonora do astro japonêsRyuichi Sakamoto. Tudo se encaixa muito bem com o excelente trabalho de Washington, dando inclusive uma sensação de que tudo foi muito bem orquestrado, mesmo não sendo (como comentamos). A grande questão e talvez o mais difícil paradoxo das escolhas de Filomarino seja justamente encontrar o seu público dentro de dois gêneros que pouco se comunicam, mas que no final do dia vai agradar muito mais do que aborrecer.
"Beckett"é entretenimento puro e que vale o play pela experiência, sem muita preocupação de acertar em todas as escolhas narrativas!
Nesse vasto universo do entretenimento, existem histórias que realmente transcendem o nicho ao qual pertencem e é aqui, mais uma vez, que a vida imita a arte! "Beckham", minissérie de 4 episódios sobre a vida e carreira do astro David Beckham, é uma dessas pérolas imperdíveis para quem gosta e para quem não gosta de futebol. Com o propósito de responder intermináveis questionamentos sobre sua capacidade como atleta ou seu valor como produto construído pela mídia para gerar mais dinheiro do que títulos nos clubes que jogou, essa produção dirigida pelo renomado Fisher Stevens (vencedor do Oscar por "A Enseada") é um verdadeiro estudo de caso sobre uma das maiores referências do esporte inglês de todos os tempos - e olha, ele pagou um preço bem caro para alcançar esse status.
A minissérie narra a jornada extraordinária de David Beckham, desde seu humilde começo com 12, 13 anos no Manchester United até se tornar um ícone global do esporte e do marketing. O roteiro apresenta um David Beckham autêntico e emocional, sem filtros, que explora não apenas os altos e baixos de sua carreira esportiva, mas também a influência de sua família, com destaque para sua esposa e ex-Spice Girls, Victoria Beckham. Confira o trailer:
Com uma abordagem extremamente íntima e cativante, "Beckham" é um mergulho na psique do atleta como poucas vezes vimos - até se compararmos com outros documentários do gênero, é de se elogiar a capacidade Stevens em alcançar tantas respostas sinceras de vários personagens que deram seu depoimento. Ao buscar uma certa originalidade conceitual para a narrativa, o diretor equilibra esses depoimentos com os fatos mais marcantes da história do atleta e um vasto material de arquivos da época para ilustrar tudo isso - muito em ordem cronológica, aliás. Dito isso, é impossível não destacar a presença de nomes como Alex Ferguson (seu treinador no Manchester United), Fabio Capello (seu treinador no Real Madrid), Ronaldo, Roberto Carlos, Roy Keane, Paul Scholes, Simeone, Landon Donovan, entre outros.
Essa combinação de elementos narrativos se encaixa perfeitamente em uma edição realmente primorosa que prioriza seu protagonista sem se esquecer do esmero visual como obra cinematográfica - isso torna a minissérie uma experiência única, muito agradável de acompanhar. Ao oferecer uma análise critica sobre os feitos esportivos de David Beckham, durante quase 5 horas de material, a produção não deixa de convidar o próprio atleta a fazer um olhar retrospectivo sobre os impasses que viveu com a imprensa, com a família (leia-se Victoria) e com os colegas de equipe (principalmente com alguns de seus treinadores). O bacana disso tudo é que Beckham não se esquiva dessas polêmicas e mesmo soando "chapa branca", a minissérie se esforça para mostrar sempre os dois lados da história.
A grande verdade é que, ao lado de "Arremesso Final" e "Man in the Arena", "Beckham" é um dos melhores documentários biográficos sobre um atleta produzidos até aqui! Bem dirigido por Stevens, eu diria que esse é daqueles projetos que transcendem nossas expectativas como audiência. Com uma narrativa envolvente e depoimentos incríveis, oferece uma visão profunda da vida de um verdadeiro ícone. Seja você um fã de esportes ou alguém que aprecia apenas uma boa história, esta minissérie encapsula a essência do sucesso, perseverança e autenticidade, fazendo jus à grandiosidade de David Beckham e de sua enorme influência global além dos gramados, até hoje.
Imperdível!
Nesse vasto universo do entretenimento, existem histórias que realmente transcendem o nicho ao qual pertencem e é aqui, mais uma vez, que a vida imita a arte! "Beckham", minissérie de 4 episódios sobre a vida e carreira do astro David Beckham, é uma dessas pérolas imperdíveis para quem gosta e para quem não gosta de futebol. Com o propósito de responder intermináveis questionamentos sobre sua capacidade como atleta ou seu valor como produto construído pela mídia para gerar mais dinheiro do que títulos nos clubes que jogou, essa produção dirigida pelo renomado Fisher Stevens (vencedor do Oscar por "A Enseada") é um verdadeiro estudo de caso sobre uma das maiores referências do esporte inglês de todos os tempos - e olha, ele pagou um preço bem caro para alcançar esse status.
A minissérie narra a jornada extraordinária de David Beckham, desde seu humilde começo com 12, 13 anos no Manchester United até se tornar um ícone global do esporte e do marketing. O roteiro apresenta um David Beckham autêntico e emocional, sem filtros, que explora não apenas os altos e baixos de sua carreira esportiva, mas também a influência de sua família, com destaque para sua esposa e ex-Spice Girls, Victoria Beckham. Confira o trailer:
Com uma abordagem extremamente íntima e cativante, "Beckham" é um mergulho na psique do atleta como poucas vezes vimos - até se compararmos com outros documentários do gênero, é de se elogiar a capacidade Stevens em alcançar tantas respostas sinceras de vários personagens que deram seu depoimento. Ao buscar uma certa originalidade conceitual para a narrativa, o diretor equilibra esses depoimentos com os fatos mais marcantes da história do atleta e um vasto material de arquivos da época para ilustrar tudo isso - muito em ordem cronológica, aliás. Dito isso, é impossível não destacar a presença de nomes como Alex Ferguson (seu treinador no Manchester United), Fabio Capello (seu treinador no Real Madrid), Ronaldo, Roberto Carlos, Roy Keane, Paul Scholes, Simeone, Landon Donovan, entre outros.
Essa combinação de elementos narrativos se encaixa perfeitamente em uma edição realmente primorosa que prioriza seu protagonista sem se esquecer do esmero visual como obra cinematográfica - isso torna a minissérie uma experiência única, muito agradável de acompanhar. Ao oferecer uma análise critica sobre os feitos esportivos de David Beckham, durante quase 5 horas de material, a produção não deixa de convidar o próprio atleta a fazer um olhar retrospectivo sobre os impasses que viveu com a imprensa, com a família (leia-se Victoria) e com os colegas de equipe (principalmente com alguns de seus treinadores). O bacana disso tudo é que Beckham não se esquiva dessas polêmicas e mesmo soando "chapa branca", a minissérie se esforça para mostrar sempre os dois lados da história.
A grande verdade é que, ao lado de "Arremesso Final" e "Man in the Arena", "Beckham" é um dos melhores documentários biográficos sobre um atleta produzidos até aqui! Bem dirigido por Stevens, eu diria que esse é daqueles projetos que transcendem nossas expectativas como audiência. Com uma narrativa envolvente e depoimentos incríveis, oferece uma visão profunda da vida de um verdadeiro ícone. Seja você um fã de esportes ou alguém que aprecia apenas uma boa história, esta minissérie encapsula a essência do sucesso, perseverança e autenticidade, fazendo jus à grandiosidade de David Beckham e de sua enorme influência global além dos gramados, até hoje.
Imperdível!
"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!
Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade, estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:
"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.
Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.
Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!
Imperdível!
Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.
"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!
Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade, estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:
"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.
Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.
Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!
Imperdível!
Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.
"Bernie Madoff" (que ganhou o subtítulo inspirado de "O golpista de Wall Street") talvez seja o maior e mais rentável "case" de marketing de percepção usado para o mal da história! E veja, a linha é muito tênue entre a fraude e a capacidade de criar uma atmosfera que vai além da realidade para atrair clientes e, nesse caso, Madoff desconstruiu as duas narrativas de uma forma tão alinhada que fez a Anna Sorokin, da série da Netflix "Inventando Anna", parecer uma personagem da Galinha Pintadinha!
Essa minissérie documental em 4 episódios mostra a ascensão e queda do mega-investidor Bernie Madoff, responsável por um dos maiores esquemas de pirâmide financeira na história de Wall Street. O cineasta Joe Berlinger, vencedor do Emmy por "Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills" e "Ten Days That Unexpectedly Changed America", traz todos os detalhes sobre os bastidores do golpe de US$ 64 bilhões que quebrou centenas de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
É inegável a capacidade de Joe Berlinger para construir uma narrativa dinâmica e coerente com a história que está contando - independente de sua complexidade. Em "Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street", ele se distancia do conceito documental/jornalístico e se apropria de vários elementos da ficção que funcionam como pano de fundo para os inúmeros e surpreendentes depoimentos que o diretor foi capaz de copilar para contar as nuances de todo esquema fraudulento que Madoff conduziu durante décadas. Muito bem produzido, as entrevistas servem como condutor dos fatos, mas sem aquela densidade que o assunto certamente provocaria se a gramática cinematográfica fosse outra - aqui nos deparamos com inúmeras curiosidades contadas por pessoas que conviveram com Madoff em sua empresa (da secretária pessoal ao funcionário que não quis mostrar o rosto), que foram vítimas do golpe e que investigaram e/ou escreveram sobre o caso.
Até mesmo para quem conhece a história e seu personagem, algumas passagens são de fato bem interessantes: como a do analista financeiro Harry Markopolos que começou a desconfiar de Madoff e resolveu fazer um estudo detalhado do suposto fundo de cobertura que ele administrava, descobrindo assim o "Esquema Ponzi" do investidor. Outra passagem surpreendente diz respeito a maneira como a Comissão de Valores Imobiliários dos EUA tratou o caso mesmo depois de muitas denúncias e suspeitas de seus próprios agentes. Um detalhe que vale sua atenção, é a simplicidade como o roteiro vai nos apresentando as peças e como, pouco a pouco, ele vai encaixando organicamente, nos dando a exata impressão de que dominamos o assunto - olha, é de se aplaudir.
Diferente da excelente abordagem que (recomendo) assistimos em "O Mago das Mentiras", “Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street” é um retrato menos familiar, impessoal e, talvez por isso, menos glamouroso, comprovando que, ao contrário do que muitos acreditaram por muito tempo, a fraude que o protagonista cometeu não foi obra de um único "gênio do mal" e sim de um grupo de cúmplices e de instituições que escolheram fechar os olhos para o comportamento suspeito de Madoff e para os resultados absurdos que seu fundo rendia aos clientes até o dia que a "bolha" estourou!
Se você gosta do assunto, essa minissérie é realmente imperdível! Belíssimo trabalho investigativo!
"Bernie Madoff" (que ganhou o subtítulo inspirado de "O golpista de Wall Street") talvez seja o maior e mais rentável "case" de marketing de percepção usado para o mal da história! E veja, a linha é muito tênue entre a fraude e a capacidade de criar uma atmosfera que vai além da realidade para atrair clientes e, nesse caso, Madoff desconstruiu as duas narrativas de uma forma tão alinhada que fez a Anna Sorokin, da série da Netflix "Inventando Anna", parecer uma personagem da Galinha Pintadinha!
Essa minissérie documental em 4 episódios mostra a ascensão e queda do mega-investidor Bernie Madoff, responsável por um dos maiores esquemas de pirâmide financeira na história de Wall Street. O cineasta Joe Berlinger, vencedor do Emmy por "Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills" e "Ten Days That Unexpectedly Changed America", traz todos os detalhes sobre os bastidores do golpe de US$ 64 bilhões que quebrou centenas de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
É inegável a capacidade de Joe Berlinger para construir uma narrativa dinâmica e coerente com a história que está contando - independente de sua complexidade. Em "Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street", ele se distancia do conceito documental/jornalístico e se apropria de vários elementos da ficção que funcionam como pano de fundo para os inúmeros e surpreendentes depoimentos que o diretor foi capaz de copilar para contar as nuances de todo esquema fraudulento que Madoff conduziu durante décadas. Muito bem produzido, as entrevistas servem como condutor dos fatos, mas sem aquela densidade que o assunto certamente provocaria se a gramática cinematográfica fosse outra - aqui nos deparamos com inúmeras curiosidades contadas por pessoas que conviveram com Madoff em sua empresa (da secretária pessoal ao funcionário que não quis mostrar o rosto), que foram vítimas do golpe e que investigaram e/ou escreveram sobre o caso.
Até mesmo para quem conhece a história e seu personagem, algumas passagens são de fato bem interessantes: como a do analista financeiro Harry Markopolos que começou a desconfiar de Madoff e resolveu fazer um estudo detalhado do suposto fundo de cobertura que ele administrava, descobrindo assim o "Esquema Ponzi" do investidor. Outra passagem surpreendente diz respeito a maneira como a Comissão de Valores Imobiliários dos EUA tratou o caso mesmo depois de muitas denúncias e suspeitas de seus próprios agentes. Um detalhe que vale sua atenção, é a simplicidade como o roteiro vai nos apresentando as peças e como, pouco a pouco, ele vai encaixando organicamente, nos dando a exata impressão de que dominamos o assunto - olha, é de se aplaudir.
Diferente da excelente abordagem que (recomendo) assistimos em "O Mago das Mentiras", “Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street” é um retrato menos familiar, impessoal e, talvez por isso, menos glamouroso, comprovando que, ao contrário do que muitos acreditaram por muito tempo, a fraude que o protagonista cometeu não foi obra de um único "gênio do mal" e sim de um grupo de cúmplices e de instituições que escolheram fechar os olhos para o comportamento suspeito de Madoff e para os resultados absurdos que seu fundo rendia aos clientes até o dia que a "bolha" estourou!
Se você gosta do assunto, essa minissérie é realmente imperdível! Belíssimo trabalho investigativo!
Um verdadeiro estudo de caso! Na verdade eu iria até mais longe, "Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é de fato um playbook do que "se deve" e do que "não se deve" fazer no lançamento de um produto de tecnologia que tem no seu DNA um elemento muito sensível e que era sabido, geraria muita polêmica - o vício. Olha, dadas as devidas diferenças, é impossível não lembrar do caso da Theranos que conhecemos em "A Inventora"! Bom, para quem não conhece, o Juul é um cigarro eletrônico estiloso, parecido com um pen drive, que pode ser carregado em portas USB do computador. Ao conectar um pequeno cartucho, disponível em sabores como manga, menta e até crème brûlée, o device prometia as mesmas sensações de fumar um cigarro tradicional só que sem fazer o mal que a combustão do tabaco proporcionava para a saúde - leia-se câncer no pulmão, doença cardiovascular e enfisema pulmonar. Porém, o que parecia de fato revolucionário se mostrou um tanto perigoso quando adolescentes passaram a se viciar com a nicotina contida nos cartuchos, graças a uma campanha de marketing belíssima, mas completamente desastrosa na sua estratégia, que transformou o ato de "Juular" em um "estilo de vida instagramável" com sérias consequências morais.
Essa minissérie documental da Netflix oferece, em 4 episódios, uma análise profunda e bastante imparcial sobre essa história fascinante e controversa do Juul. Produzida pela Amblin de Steven Spielberg, ela traz uma visão multifacetada do que aconteceu nos bastidores da empresa que revolucionou o mercado de cigarros eletrônicos e que por um breve período preocupou a gigantesca e opressora indústria do tabaco, explorando não apenas o sucesso meteórico da startup, mas também os inúmeros desafios que a envolveram. Confira o trailer (em inglês):
A partir de uma narrativa extremamente fluida que mistura depoimento reveladores, animações muito bem produzidas e uma infinidade de imagens de arquivo, a minissérie dirigida pelo multi-premiado R.J. Cutler (de "Elton John Live: Farewell from Dodger Stadium") é muito inteligente ao analisar como James Monsees e Adam Bowen, dois ex-alunos da Universidade de Stanford, conseguiram criar um device de tabaco esteticamente atraente, bem no "estilo Apple" de design, que transformou uma startup duvidosa em uma empresa de mais de 40 bilhões do dólares e líder absoluta de mercado. A grande questão, no entanto, é que nem Monsees, nem Bowen, participam do documentário, deixando assim suas visões e ideias para quem, de alguma forma, via no Juul o real propósito de ser uma opção segura para quem queria parar de fumar cigarros tradicionais.
E é aí que talvez surja o ponto mais interessante de toda minissérie: como um propósito que conquistou inúmeros investidores no powerpoint se transformou em uma bomba relógio prestes a explodir ao se apoiar em uma estratégia de lançamento completamente desconectada de seu objetivo inicial. Veja, ao focar no jovem e não no fumante, o Juul conquistou rapidamente uma base de fãs absurda - seu design moderno, a variedade de sabores e uma fácil acessibilidade através de lojas de conveniência e vendas online atraiu uma nova geração de usuários de tabaco que a colocou como uma verdadeira sensação tecnológica e um ícone cultural, mas que também ligou um sinal de alerta nas autoridades - essa passagem é praticamente uma aula sobre branding e produto, mas ao mesmo tempo um convite para reflexões importantes sobre ICP (pu perfil de cliente ideal) e sobre o preço da pressa!
"Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é baseada no livro de Jamie Ducharme, um renomado correspondente de saúde e ciência da Time - o que chancela sua narrativa autêntica e confiável, enquanto temos acesso à entrevistas com diversas partes envolvidas na jornada da Juul Lab. Eu diria que essa minissérie é um "prato cheio" se você está interessado em conhecer os bastidores do empreendedorismo no Vale do Silício, o desenvolvimento de tecnologias e produtos disruptivos, de negócios de impacto, de discussões sobre a saúde pública ou até se você simplesmente gosta de um história tão envolvente quanto intrigante, com um leve toque de hipocrisia.
Vale muito o seu play!
Um verdadeiro estudo de caso! Na verdade eu iria até mais longe, "Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é de fato um playbook do que "se deve" e do que "não se deve" fazer no lançamento de um produto de tecnologia que tem no seu DNA um elemento muito sensível e que era sabido, geraria muita polêmica - o vício. Olha, dadas as devidas diferenças, é impossível não lembrar do caso da Theranos que conhecemos em "A Inventora"! Bom, para quem não conhece, o Juul é um cigarro eletrônico estiloso, parecido com um pen drive, que pode ser carregado em portas USB do computador. Ao conectar um pequeno cartucho, disponível em sabores como manga, menta e até crème brûlée, o device prometia as mesmas sensações de fumar um cigarro tradicional só que sem fazer o mal que a combustão do tabaco proporcionava para a saúde - leia-se câncer no pulmão, doença cardiovascular e enfisema pulmonar. Porém, o que parecia de fato revolucionário se mostrou um tanto perigoso quando adolescentes passaram a se viciar com a nicotina contida nos cartuchos, graças a uma campanha de marketing belíssima, mas completamente desastrosa na sua estratégia, que transformou o ato de "Juular" em um "estilo de vida instagramável" com sérias consequências morais.
Essa minissérie documental da Netflix oferece, em 4 episódios, uma análise profunda e bastante imparcial sobre essa história fascinante e controversa do Juul. Produzida pela Amblin de Steven Spielberg, ela traz uma visão multifacetada do que aconteceu nos bastidores da empresa que revolucionou o mercado de cigarros eletrônicos e que por um breve período preocupou a gigantesca e opressora indústria do tabaco, explorando não apenas o sucesso meteórico da startup, mas também os inúmeros desafios que a envolveram. Confira o trailer (em inglês):
A partir de uma narrativa extremamente fluida que mistura depoimento reveladores, animações muito bem produzidas e uma infinidade de imagens de arquivo, a minissérie dirigida pelo multi-premiado R.J. Cutler (de "Elton John Live: Farewell from Dodger Stadium") é muito inteligente ao analisar como James Monsees e Adam Bowen, dois ex-alunos da Universidade de Stanford, conseguiram criar um device de tabaco esteticamente atraente, bem no "estilo Apple" de design, que transformou uma startup duvidosa em uma empresa de mais de 40 bilhões do dólares e líder absoluta de mercado. A grande questão, no entanto, é que nem Monsees, nem Bowen, participam do documentário, deixando assim suas visões e ideias para quem, de alguma forma, via no Juul o real propósito de ser uma opção segura para quem queria parar de fumar cigarros tradicionais.
E é aí que talvez surja o ponto mais interessante de toda minissérie: como um propósito que conquistou inúmeros investidores no powerpoint se transformou em uma bomba relógio prestes a explodir ao se apoiar em uma estratégia de lançamento completamente desconectada de seu objetivo inicial. Veja, ao focar no jovem e não no fumante, o Juul conquistou rapidamente uma base de fãs absurda - seu design moderno, a variedade de sabores e uma fácil acessibilidade através de lojas de conveniência e vendas online atraiu uma nova geração de usuários de tabaco que a colocou como uma verdadeira sensação tecnológica e um ícone cultural, mas que também ligou um sinal de alerta nas autoridades - essa passagem é praticamente uma aula sobre branding e produto, mas ao mesmo tempo um convite para reflexões importantes sobre ICP (pu perfil de cliente ideal) e sobre o preço da pressa!
"Big Vape - A Ascensão e Queda da Juul" é baseada no livro de Jamie Ducharme, um renomado correspondente de saúde e ciência da Time - o que chancela sua narrativa autêntica e confiável, enquanto temos acesso à entrevistas com diversas partes envolvidas na jornada da Juul Lab. Eu diria que essa minissérie é um "prato cheio" se você está interessado em conhecer os bastidores do empreendedorismo no Vale do Silício, o desenvolvimento de tecnologias e produtos disruptivos, de negócios de impacto, de discussões sobre a saúde pública ou até se você simplesmente gosta de um história tão envolvente quanto intrigante, com um leve toque de hipocrisia.
Vale muito o seu play!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido!
Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.
Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.
Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!
"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido!
Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.
Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.
Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!
"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".
Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.
Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.
Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.
"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!
PS: A série terá três temporadas.
"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".
Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.
Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.
Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.
"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!
PS: A série terá três temporadas.
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
Se você gosta de futebol e também acordou cedo para acompanhar a Copa do Mundo do Japão e da Coréia, você vai me agradecer muito por essa recomendação: "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" é um excelente documentário sobre todo o contexto que envolveu nosso último (até aqui) título mundial. Muito além do campo, o filme do diretor americano Luís Ara (de "Para Sempre Chape") se aproveita de inúmeras imagens de arquivo (inclusive pessoais dos próprios jogadores) e de entrevistas marcantes com quem participou da jornada, para desenvolver uma narrativa dinâmica, nostálgica e muito interessante sobre os bastidores dessa conquista.
Luis Ara, que apesar de nascido em Houston, Estados Unidos, fez toda sua carreira no Uruguai e talvez por isso seja um grande entusiasta de um esporte que, digamos, não está entre as prioridades dos americanos. Depois de retratar com muita competência a tragédia da Chapecoense, Lara resolveu mergulhar em um passado não tão distante para recontar como uma Seleção desacreditada, cheia de problemas e ainda marcada pela convulsão de Ronaldo em 98, venceu a desconfiança e se tornou a primeira (e única) Pentacampeã de futebol.
Além de construir uma linha do tempo extremamente coerente com os fatos, se apoiando em depoimentos muito interessantes, "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" humaniza a conquista e estabelece uma comunicação tão informal que nos sentimos a vontade em ouvir novamente as mesmas histórias. Claro que algumas delas são inéditas, algumas imagens também, mas a maioria das passagens que vemos na tela, nós já conhecemos, porém o interessante dessa nova experiência não está necessariamente no "conteúdo" e sim na "forma" como tudo está sendo contado.
Ara foi muito feliz em trazer para seu filme os protagonistas da Seleção: Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e Lúcio; mas também alguns coadjuvantes como Belletti, Vampeta, Gilberto Silva e Rogério Ceni, porém o gol de placa foi mesmo colocar os "antagonistas" para comentar cada momento marcante da Copa pelo olhar de quem perdeu: Oliver Kahn, goleiro e capitão da Alemanha, comenta sobre seu momento na final da Copa e como a seleção alemã entendia o favoritismo do Brasil; Marc Wilmots, capitão da Bélgica, fala sobre o gol anulado de seu time e a forma como o Brasil se impôs quando se sentiu em perigo; David Beckham, capitão da Inglaterra, e Michael Owen, pontuam detalhes sobre a virada que sofreram de uma forma muito curiosa - reparem na história de Beckham sobre o humor de Ronaldo e Roberto Carlos mesmo enquanto o Brasil perdia o jogo e como ele, ali, percebeu que algo muito ruim aconteceria para sua seleção.
Basturk, jogador da Turquia, diz no documentário algo como: "Poderíamos ter ganho aquela Copa, mas Ala não via dessa forma e resolveu colocar o Brasil duas vezes na nossa trajetória" - é com esse tipo de depoimento, intimo e descontraído, que "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" nos conquista como torcedor e audiência. Além dos jogadores, o lado da imprensa também é mostrado graças aos depoimentos de Arnaldo Ribeiro e Juca Kfouri, além de uma curiosa passagem envolvendo Pierluigi Collina, ex-árbitro italiano e responsável por apitar a final.
"Brasil 2002 - Bastidores do Penta" não é um recorte sócio-político-esportivo de uma época, cheio de criticas ou que se propõe a mergulhar em tudo que acontecia no Brasil e no Mundo antes da Copa do Japão e da Coréia (talvez se fosse uma minissérie...). O documentário é muito mais uma celebração nostálgica que enaltece uma importante conquista esportiva que o mal humor de muita gente (principalmente críticos politizados) fazem questão de diminuir em pró de suas prioridades. Essa produção da Netflix não é para quem busca o embate, é para quem busca um outro olhar sobre o orgulho que sentimos em uma época onde até a Alemanha, Inglaterra e Bélgica nos aplaudiram de pé.
Vale o seu play, torcedor!
Se você gosta de futebol e também acordou cedo para acompanhar a Copa do Mundo do Japão e da Coréia, você vai me agradecer muito por essa recomendação: "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" é um excelente documentário sobre todo o contexto que envolveu nosso último (até aqui) título mundial. Muito além do campo, o filme do diretor americano Luís Ara (de "Para Sempre Chape") se aproveita de inúmeras imagens de arquivo (inclusive pessoais dos próprios jogadores) e de entrevistas marcantes com quem participou da jornada, para desenvolver uma narrativa dinâmica, nostálgica e muito interessante sobre os bastidores dessa conquista.
Luis Ara, que apesar de nascido em Houston, Estados Unidos, fez toda sua carreira no Uruguai e talvez por isso seja um grande entusiasta de um esporte que, digamos, não está entre as prioridades dos americanos. Depois de retratar com muita competência a tragédia da Chapecoense, Lara resolveu mergulhar em um passado não tão distante para recontar como uma Seleção desacreditada, cheia de problemas e ainda marcada pela convulsão de Ronaldo em 98, venceu a desconfiança e se tornou a primeira (e única) Pentacampeã de futebol.
Além de construir uma linha do tempo extremamente coerente com os fatos, se apoiando em depoimentos muito interessantes, "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" humaniza a conquista e estabelece uma comunicação tão informal que nos sentimos a vontade em ouvir novamente as mesmas histórias. Claro que algumas delas são inéditas, algumas imagens também, mas a maioria das passagens que vemos na tela, nós já conhecemos, porém o interessante dessa nova experiência não está necessariamente no "conteúdo" e sim na "forma" como tudo está sendo contado.
Ara foi muito feliz em trazer para seu filme os protagonistas da Seleção: Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e Lúcio; mas também alguns coadjuvantes como Belletti, Vampeta, Gilberto Silva e Rogério Ceni, porém o gol de placa foi mesmo colocar os "antagonistas" para comentar cada momento marcante da Copa pelo olhar de quem perdeu: Oliver Kahn, goleiro e capitão da Alemanha, comenta sobre seu momento na final da Copa e como a seleção alemã entendia o favoritismo do Brasil; Marc Wilmots, capitão da Bélgica, fala sobre o gol anulado de seu time e a forma como o Brasil se impôs quando se sentiu em perigo; David Beckham, capitão da Inglaterra, e Michael Owen, pontuam detalhes sobre a virada que sofreram de uma forma muito curiosa - reparem na história de Beckham sobre o humor de Ronaldo e Roberto Carlos mesmo enquanto o Brasil perdia o jogo e como ele, ali, percebeu que algo muito ruim aconteceria para sua seleção.
Basturk, jogador da Turquia, diz no documentário algo como: "Poderíamos ter ganho aquela Copa, mas Ala não via dessa forma e resolveu colocar o Brasil duas vezes na nossa trajetória" - é com esse tipo de depoimento, intimo e descontraído, que "Brasil 2002 - Bastidores do Penta" nos conquista como torcedor e audiência. Além dos jogadores, o lado da imprensa também é mostrado graças aos depoimentos de Arnaldo Ribeiro e Juca Kfouri, além de uma curiosa passagem envolvendo Pierluigi Collina, ex-árbitro italiano e responsável por apitar a final.
"Brasil 2002 - Bastidores do Penta" não é um recorte sócio-político-esportivo de uma época, cheio de criticas ou que se propõe a mergulhar em tudo que acontecia no Brasil e no Mundo antes da Copa do Japão e da Coréia (talvez se fosse uma minissérie...). O documentário é muito mais uma celebração nostálgica que enaltece uma importante conquista esportiva que o mal humor de muita gente (principalmente críticos politizados) fazem questão de diminuir em pró de suas prioridades. Essa produção da Netflix não é para quem busca o embate, é para quem busca um outro olhar sobre o orgulho que sentimos em uma época onde até a Alemanha, Inglaterra e Bélgica nos aplaudiram de pé.
Vale o seu play, torcedor!