Você não vai precisar mais do que alguns minutos para sentir seu estômago revirar com as histórias desse imperdível documentário da Netflix, "Criptofraude" - eu diria, uma mistura de "Shiny Flakes" com "O Escândalo da Wirecard" e, claro, com aquele toque Billy McFarland de "Fyre Festival". Com um roteiro impecável e uma narrativa envolvente, o filme dirigido pelo excelente Bryan Storkel (de um dos episódios de "Untold") não só joga luz sobre as falcatruas do infame Ray Trapani e de seus sócios na Centra Tech, como também oferece uma análise profunda de uma geração que acredita poder ganhar muito dinheiro, sem muito esforço - nesse caso a partir das entranhas mais obscuras do mundo das criptomoedas. Storkel, sem dúvidas, entrega uma obra que não apenas informa, mas também prende a audiência com uma história real absurda de um pseudo-empreendedorismo pautado na ganância, na irresponsabilidade, na mentira e na ironia de acreditar que sim, o crime compensa (até nos EUA)!
"Criptofraude" basicamente desvenda os bastidores da Centra Tech, uma startup que prometia revolucionar o mercado de criptomoedas transformando dinheiro digital em moeda física para se usar onde bem entender, na hora que o usuário quisesse. O que à primeira vista parecia uma promissora ideia, na verdade era a forma como Ray Trapani e Sam 'Sorbee' Sharma arquitetavam uma fraude que abalou o mundo financeiro e fez muita gente perder muito dinheiro. O documentário expõe não só as artimanhas de Trapani como faz um recorte profundo da sua personalidade e da maneira como ele enxerga a vida, revelando não só sua rede de cúmplices, mas também sua incrível façanha de iludir investidores, celebridades e clientes do mundo inteiro. Confira o trailer (em inglês):
"Criptofraude" se destaca não apenas pelo seu tema intrigante, atual, mas também por uma execução técnica e artística primorosa - tudo no documentário funciona tão harmoniosamente, dos irritantes depoimentos do próprio Trapani até as reconstituições (sempre desfocadas) que nos dão a exata noção do que foi a Centra Tech e de como toda aquela fraude foi pensada por seus fundadores. O roteiro do Jonathan Ignatius Green mergulha nas sombras do mundo digital, criando uma atmosfera que reflete a complexidade moral da história, essencialmente personificando aquele mindset de que a vida é uma eterna festa.
A direção de Storkel sabe navegar entre a gramática documental e da ficção - isso mantém o ritmo e o interesse em alta. Sua proposta visual é agradável, como se ler uma revista cheia de cores marcantes fosse mais prazeiroso que ler um melancólico jornal preto e branco e é nesse sentido que destaco a montagem precisa de Weston Currie: envolvente, divertida e de muito bom gosto. Veja, todos esses elementos juntos só potencializam a capacidade do documentário de desvendar a mente realmente criminosa de um jovem Trapani, oferecendo uma análise psicológica das mais interessantes, e da forma como ele enxergava oportunidades e transformava em negócios. Acho até que o filme não apenas acusa ele, mas também explora suas motivações e as nuances éticas por trás das suas ações sempre com um olhar perspicaz e muitas vezes provocador, mesmo soando inocente em várias passagens.
O fato é que "Criptofraude" adiciona camadas de profundidade emocionais à trama, tornando-a mais do que uma simples exposição de fraudes para se tornar um objeto de reflexão sobre essa era das redes sociais e da busca pela vida perfeita sem esforço. Saíba que você será envolvido em uma experiência única que combina uma narrativa fascinante com personagens odiáveis. Então se você procura uma história, ou melhor, uma jornada intrigante sobre os bastidores do empreendedorismo mentiroso em um universo digital que representa 78% de fraudes, "Criptofraude" é a escolha certa. Pode ir para o play!
Você não vai precisar mais do que alguns minutos para sentir seu estômago revirar com as histórias desse imperdível documentário da Netflix, "Criptofraude" - eu diria, uma mistura de "Shiny Flakes" com "O Escândalo da Wirecard" e, claro, com aquele toque Billy McFarland de "Fyre Festival". Com um roteiro impecável e uma narrativa envolvente, o filme dirigido pelo excelente Bryan Storkel (de um dos episódios de "Untold") não só joga luz sobre as falcatruas do infame Ray Trapani e de seus sócios na Centra Tech, como também oferece uma análise profunda de uma geração que acredita poder ganhar muito dinheiro, sem muito esforço - nesse caso a partir das entranhas mais obscuras do mundo das criptomoedas. Storkel, sem dúvidas, entrega uma obra que não apenas informa, mas também prende a audiência com uma história real absurda de um pseudo-empreendedorismo pautado na ganância, na irresponsabilidade, na mentira e na ironia de acreditar que sim, o crime compensa (até nos EUA)!
"Criptofraude" basicamente desvenda os bastidores da Centra Tech, uma startup que prometia revolucionar o mercado de criptomoedas transformando dinheiro digital em moeda física para se usar onde bem entender, na hora que o usuário quisesse. O que à primeira vista parecia uma promissora ideia, na verdade era a forma como Ray Trapani e Sam 'Sorbee' Sharma arquitetavam uma fraude que abalou o mundo financeiro e fez muita gente perder muito dinheiro. O documentário expõe não só as artimanhas de Trapani como faz um recorte profundo da sua personalidade e da maneira como ele enxerga a vida, revelando não só sua rede de cúmplices, mas também sua incrível façanha de iludir investidores, celebridades e clientes do mundo inteiro. Confira o trailer (em inglês):
"Criptofraude" se destaca não apenas pelo seu tema intrigante, atual, mas também por uma execução técnica e artística primorosa - tudo no documentário funciona tão harmoniosamente, dos irritantes depoimentos do próprio Trapani até as reconstituições (sempre desfocadas) que nos dão a exata noção do que foi a Centra Tech e de como toda aquela fraude foi pensada por seus fundadores. O roteiro do Jonathan Ignatius Green mergulha nas sombras do mundo digital, criando uma atmosfera que reflete a complexidade moral da história, essencialmente personificando aquele mindset de que a vida é uma eterna festa.
A direção de Storkel sabe navegar entre a gramática documental e da ficção - isso mantém o ritmo e o interesse em alta. Sua proposta visual é agradável, como se ler uma revista cheia de cores marcantes fosse mais prazeiroso que ler um melancólico jornal preto e branco e é nesse sentido que destaco a montagem precisa de Weston Currie: envolvente, divertida e de muito bom gosto. Veja, todos esses elementos juntos só potencializam a capacidade do documentário de desvendar a mente realmente criminosa de um jovem Trapani, oferecendo uma análise psicológica das mais interessantes, e da forma como ele enxergava oportunidades e transformava em negócios. Acho até que o filme não apenas acusa ele, mas também explora suas motivações e as nuances éticas por trás das suas ações sempre com um olhar perspicaz e muitas vezes provocador, mesmo soando inocente em várias passagens.
O fato é que "Criptofraude" adiciona camadas de profundidade emocionais à trama, tornando-a mais do que uma simples exposição de fraudes para se tornar um objeto de reflexão sobre essa era das redes sociais e da busca pela vida perfeita sem esforço. Saíba que você será envolvido em uma experiência única que combina uma narrativa fascinante com personagens odiáveis. Então se você procura uma história, ou melhor, uma jornada intrigante sobre os bastidores do empreendedorismo mentiroso em um universo digital que representa 78% de fraudes, "Criptofraude" é a escolha certa. Pode ir para o play!
Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios", "O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar.
Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):
Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter. O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.
A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.
É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito.
Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios", "O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar.
Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):
Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter. O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.
A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.
É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito.
Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.
Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:
Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.
Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.
Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.
"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.
Vale seu play!
Se "O Paraíso e a Serpente" (coprodução da BBC One com a Netflix) poderia, tranquilamente, ser uma temporada de "American Crime Story", a minissérie de dez episódios, "Dahmer: Um Canibal Americano", sem a menor dúvida, se encaixa dentro do mesmo conceito como obra antológica sobre crimes marcantes, além de se apropriar de uma narrativa muito similar ao que o próprio Ryan Murphy já desenvolveu no passado - citar "O Assassinato de Gianni Versace", inclusive, parece até natural como referência.
Aqui acompanhamos a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters) através do tempo. Ao explorar a juventude do assassino até sua vida adulta, temos um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos entre os anos de 1978 e 1991, em Milwaukee, nos EUA. Além de cobrir muitos dos seus brutais assassinatos, a minissérie também analisa os problemas que permitiram que Dahmer continuasse agindo com total impunidade ao longo de mais de uma década. Confira o trailer:
Embora o time de diretores encabeçado pela excelente Jennifer Lynch (de "Sob Controle") domine completamente a gramática cinematográfica do suspense, é inegável que o ponto alto da minissérie está na maneira como o elenco se relaciona com seus personagens ao ponto de termos a exata noção do terror que representou aquele universo onde Jeffrey Dahmer estava inserido. Ter a vencedora do Emmy, Niecy Nash, como a vizinha Glenda Cleveland, além de Evan Peters no melhor e mais profundo papel de sua carreira (até melhor que o do detetive Colin Zabel de "Mare of Easttown"), é de fato um privilégio - ambos estão tão bem que chega a ser impossível imaginar uma nova temporada de premiações sem a presença de ambos.
Obviamente que o foco da minissérie é expor os crimes brutais que Dahmer cometeu, porém o pano de fundo é tão potente (embora em alguns momentos o roteiro se esforce para ser didático e repetitivo demais - ao melhor estilo Ryan Murphy) que tudo se encaixa perfeitamente dentro de um fluxo narrativo que praticamente nos impede de desligar a tv antes de assistir o próximo episódio. Ao pontuar uma sociedade que convivia com o desprezo pelos grupos minoritários, com um forte racismo estrutural e com importantes falhas institucionais, "Dahmer: Um Canibal Americano" é praticamente uma obra-denúncia que sinceramente deve ter deixado muita gente constrangida.
Embora os detalhes dos crimes de Dahmer sejam até mais sugestivos do que explícitos visualmente, é preciso que se diga que algumas cenas são bem impactantes graficamente. O primeiro episódio não nos poupa, por exemplo, de fotos onde vemos corpos completamente desmembrados ou mutilados, bem como introduz algumas particularidades sobre o modo (brutal e doentio) com que o assassino se relacionava com suas vítimas. Reparem até como isso dialoga com a fotografia do Jason McCormick e do veterano John T. Connor - ela vai se tornando mais escura com o passar do tempo, indicando o caminho sombrio que o protagonista escolheu. Os planos mais longos também merecem sua atenção - eles são tão bem planejados que os movimentos soam quase como documentais, dando uma sensação de realidade impressionante.
"Dahmer: Um Canibal Americano" é um soco no estômago que vai ganhando maior intensidade conforme os episódios vão se desenrolando. Talvez pelo caminho escolhido para contar uma história real tão complexa e aterrorizante, dentro de um recorte de tempo tão extenso, prejudique um pouco a experiência - você vai notar isso a partir do episódio 6 quando o foco da história muda um pouco. Porém, é inegável a capacidade de Ryan Murphy em entregar entretenimento onde normalmente se encontraria repulsa e esse é o que faz dessa minissérie despontar como uma ótima surpresa no catálogo da Netflix mesmo com aquela sensação de "já vi algo parecido em algum lugar" e sem o selo respeitável de "American Crime Story" da FX.
Vale seu play!
"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.
Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:
Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.
Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.
No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.
PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!
"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.
Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:
Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.
Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.
No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.
PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!
Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!
O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:
Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos.
Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!
O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada.
Vale muito o seu play!
Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!
O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:
Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos.
Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!
O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada.
Vale muito o seu play!
"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...
Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):
Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.
Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.
"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!
"De Rainha do Veganismo a Foragida" é mais uma história surpreendente onde uma mulher (aparentemente carente) é enganada por um homem (supostamente milionário) em nome do amor, porém, nesse caso, existe um certo ponto de interrogação já que a história é tão surreal que, de fora, fica quase impossível acreditar que uma empresária bem sucedida, bem relacionada, talentosa, bonita e inteligente fosse acreditar em qualquer que fossem as intenções do tal criminoso - e não estou falando de promessas falsas de amor em troca de dinheiro; estou falando de vida eterna, intervenção interplanetária, relação espiritual com forças dividas e por aí vai...
Bem na linha de "O Golpista do Tinder" e "The Con", "Bad Vegan: Fame. Fraud. Fugitives" (no original e infinitamente mais apropriado que o título em português) conta a história de Sarma Melngailis, uma famosa e bem sucedida empresaria e chef vegana que perde completamente o controle da própria vida depois de se casar com um homem misterioso que garante que, entre outras coisas absurdas, pode imortalizar o cachorro dela. Confira o trailer (em inglês):
Sarma Melngailis criou ao lado do ex-marido, o chef Matthew Kenney, e do mega empresário Jeffrey Chodorow, um restaurante vegano que movimentou a sociedade nova-iorquina em meados de 2004 - o Pure Food and Wine era, de fato, inovador e muito bem recomendado por especialistas, o que o transformou em um lugar requisitado por celebridades na época. Autoridade, fama, dinheiro e realização profissional não impediram que Sarma se envolvesse em uma complexa rede de crimes a partir de 2011, depois de conhecer Shane Fox no Twitter, um misterioso homem que de referência tinha apenas uma amizade virtual com um antigo affair da empresaria, o ator Alec Baldwin.
Dito isso, é possível ter uma ideia do que o diretor Chris Smith (de "Educação Americana: Fraude e Privilégio", "O Desaparecimento de Madeleine McCann" e "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e um dos produtores de "A Máfia dos Tigres ") foi capaz de fazer com esse material. Com uma dinâmica extremamente ágil e muito bem conectada com o drama da protagonista que conduz a narrativa com seus depoimentos, "De Rainha do Veganismo a Foragida" é o tipo da minissérie documental que você não consegue parar até encontrar seu final - são 4 episódios tão bem estruturados e completamente isentos, que temos a exata sensação de que tudo aquilo está acontecendo bem próximo de nós. São depoimentos de todos os envolvidos (com excessão de Shane), que vão de ex-funcionários do restaurante até investidores e jornalistas, passando por amigos e familiares de Sarma, além de inúmeras gravações telefônicas, reportagens da época e até uma transcrição que, juro, soa ficção.
"De Rainha do Veganismo a Foragida" não é um jornada fácil, é até indigesta, pois somos provocados ao julgamento a todo instante e nossa opinião muda a cada nova revelação, a cada nova falcatrua, mas, principalmente a cada postura de Sarma em relação aos fatos - o final sugerido por Smith, inclusive, foi muito feliz em desconstruir tudo que poderíamos em algum momento dar como certeza. Não se trata de criminalizar ou inocentar a vítima, mas é inegável o quanto a narrativa (e a excelente edição da Amanda C. Griffin e do Michael Mahaffie) vai mexendo com nossas percepções e gerando discussões internas que jamais nos daríamos conta caso não estivéssemos tão imersos na história - e te garanto: vale o mergulho!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
Se você acha que o "Fyre Festival" foi um verdadeiro caos (e de fato foi), você precisa assistir essa minissérie documental em três episódios da Netflix (porque aqui meu amigo, a bagunça foi ainda pior)! "Desastre Total: Woodstock 99" é o reflexo da ganância de seus organizadores potencializada por um bando de idiotas, narcisistas e sem noção, que se colocam acima de tudo com a desculpa da liberdade e da diversão - pessoas que se acham no direito de fazer o que bem entendem sem pensar nas consequências de seus atos ou da sua influência (e aqui estou falando de quem esteve em cima do palco e no público)!
Quando se trata de Woodstock, é comum associarmos ao verão do amor americano da década de 60, mas não foi o que aconteceu em sua terceira edição organizada 30 anos depois do festival original. O Woodstock de 1999 é conhecido por ter sido um evento caótico, desorganizado, cheio de revoltas por parte do público e que, além de centenas de pessoas feridas, desidratadas, doentes e até estupradas; ainda deixou três mortos. Os episódios da série exploram o que aconteceu para que o festival fosse um desastre, tudo que deu errado no caminho e quem estava por trás da organização. Confira o trailer (em inglês):
A sensação de assistir "Desastre Total: Woodstock 99" não é nada agradável - a percepção de que algo daria errado é enorme, afinal um festival para 250 mil pessoas sem a menor estrutura para acontecer funcionou como um enorme barril de pólvora prestes a explodir... até que explodiu! A partir de inúmeras entrevistas com participantes, jornalistas e até com os organizadores, o diretor Jamie Crawford (de "À Procura de Ted Bundy") nos dá a exata noção do real significado da palavra "caos". As imagens de arquivo usadas para ilustrar os depoimentos de quem esteve envolvido com o festival são tão impressionantes que visto por outro prisma vai te parecer muito mais uma guerra do que um evento musical.
Crawford cria uma dinâmica narrativa bastante eficiente ao pontuar a atmosfera de tensão conforme os dias do evento vão passando. O aumento da temperatura a partir das cenas de nudez explícita, de violência e do consumo absurdo de drogas e bebida alcoólicas são apenas gatilhos que a minissérie tenta explorar para justificar a atitude do parte do público em seu último episódio. Por outro lado, os depoimentos de profissionais que participaram da produção do evento justificam como os cortes de orçamento impactaram no resultado final. É um atestado de despreparo, claro, mas pior foi postura dos organizadores, alheios aos acontecimentos de uma forma cínica e pouco empática - chega a ser irritante ver dois deles (John Scher e Michael Lang) minimizarem os fatos, mesmo hoje em dia e olhando em retrospectiva.
"Em um bando, todos viram animais (até os que não são)" - esse comentário justifica muita coisa do que você verá na tela. A falta de noção e de bom senso de muitos artistas que se apresentaram naquele palco, também é revoltante - Red Hot e Limp Bizkit são bons exemplos desse descaso com o ser humano! "Desastre Total: Woodstock 99" ainda faz uma análise bastante inteligente sobre um determinado recorte daquela sociedade do final dos anos 90 nos EUA a partir de referências da política, do cinema, do entretenimento e da música, que trazem questões muito pertinentes sobre o machismo, a liberdade de expressão e o discurso questionador que influenciavam os jovens na época e que ajudou a distanciar essa edição do festival do seu propósito original.
Vale muito o seu play!
Se você acha que o "Fyre Festival" foi um verdadeiro caos (e de fato foi), você precisa assistir essa minissérie documental em três episódios da Netflix (porque aqui meu amigo, a bagunça foi ainda pior)! "Desastre Total: Woodstock 99" é o reflexo da ganância de seus organizadores potencializada por um bando de idiotas, narcisistas e sem noção, que se colocam acima de tudo com a desculpa da liberdade e da diversão - pessoas que se acham no direito de fazer o que bem entendem sem pensar nas consequências de seus atos ou da sua influência (e aqui estou falando de quem esteve em cima do palco e no público)!
Quando se trata de Woodstock, é comum associarmos ao verão do amor americano da década de 60, mas não foi o que aconteceu em sua terceira edição organizada 30 anos depois do festival original. O Woodstock de 1999 é conhecido por ter sido um evento caótico, desorganizado, cheio de revoltas por parte do público e que, além de centenas de pessoas feridas, desidratadas, doentes e até estupradas; ainda deixou três mortos. Os episódios da série exploram o que aconteceu para que o festival fosse um desastre, tudo que deu errado no caminho e quem estava por trás da organização. Confira o trailer (em inglês):
A sensação de assistir "Desastre Total: Woodstock 99" não é nada agradável - a percepção de que algo daria errado é enorme, afinal um festival para 250 mil pessoas sem a menor estrutura para acontecer funcionou como um enorme barril de pólvora prestes a explodir... até que explodiu! A partir de inúmeras entrevistas com participantes, jornalistas e até com os organizadores, o diretor Jamie Crawford (de "À Procura de Ted Bundy") nos dá a exata noção do real significado da palavra "caos". As imagens de arquivo usadas para ilustrar os depoimentos de quem esteve envolvido com o festival são tão impressionantes que visto por outro prisma vai te parecer muito mais uma guerra do que um evento musical.
Crawford cria uma dinâmica narrativa bastante eficiente ao pontuar a atmosfera de tensão conforme os dias do evento vão passando. O aumento da temperatura a partir das cenas de nudez explícita, de violência e do consumo absurdo de drogas e bebida alcoólicas são apenas gatilhos que a minissérie tenta explorar para justificar a atitude do parte do público em seu último episódio. Por outro lado, os depoimentos de profissionais que participaram da produção do evento justificam como os cortes de orçamento impactaram no resultado final. É um atestado de despreparo, claro, mas pior foi postura dos organizadores, alheios aos acontecimentos de uma forma cínica e pouco empática - chega a ser irritante ver dois deles (John Scher e Michael Lang) minimizarem os fatos, mesmo hoje em dia e olhando em retrospectiva.
"Em um bando, todos viram animais (até os que não são)" - esse comentário justifica muita coisa do que você verá na tela. A falta de noção e de bom senso de muitos artistas que se apresentaram naquele palco, também é revoltante - Red Hot e Limp Bizkit são bons exemplos desse descaso com o ser humano! "Desastre Total: Woodstock 99" ainda faz uma análise bastante inteligente sobre um determinado recorte daquela sociedade do final dos anos 90 nos EUA a partir de referências da política, do cinema, do entretenimento e da música, que trazem questões muito pertinentes sobre o machismo, a liberdade de expressão e o discurso questionador que influenciavam os jovens na época e que ajudou a distanciar essa edição do festival do seu propósito original.
Vale muito o seu play!
O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!
Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:
Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!
O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!
Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!
"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!
O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!
Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:
Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!
O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!
Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!
"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!
E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!
Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:
Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.
Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.
"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!
Vale seu play!
Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!
Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:
Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.
Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.
"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!
Vale seu play!
Talvez o maior mérito de "Dix pour Cent" seja o fato de ser muito despretensiosa. A série francesa, distribuída pela Netflix, é muito divertida e realmente não se preocupa com os próprios escorregões (literalmente) até encontrar o tom de cada episódio. "Dix pour Cent" é uma série da TV aberta francesa, um procedural (episódios com começo, meio e fim, além de um arco maior que abrange todos os personagens e suas relações), muito parecida com "House of Lies" em sua estrutura narrativa. Enquanto a série da HBO acompanha uma equipe de consultores, "Dix pour Cent" segue quatro agentes de talentos em Paris. Ambas usam a comédia para aliviar o peso dos seus dramas pessoais e cotidianos, às vezes até abusando um pouco do over-acting, mas ok, porque cabe perfeitamente nas situações que os personagens enfrentam na série. Digamos que tudo combina tão bem que nos fisga facilmente!
Embora extremamente bem produzida, tendo Paris como pano de fundo, "Dix pour Cent" é quase um novelão, nem tanto por sua forma (já que fica fácil perceber o cuidado da direção, com a fotografia e o desenho de produção,) mas sim por sua essência (quase cartunesca) - e é nessa busca do equilíbrio entre linguagens que a série sai na frente, pois tudo nos soa muito familiar ao mesmo tempo que é uma grande novidade. Os personagens: Andrea (Camille Cottin), Mathias (Thibault de Montalembert), Gabriel (Grégory Montel) e Arlette (Liliane Rovère) são os sócios minoritários da agência "ASK", e têm que enfrentar um futuro incerto depois que o sócio majoritário, e chefe, Samuel Kerr, morre repentinamente em uma viagem para o Brasil (pois é...rs). Apesar de sócios, a relação entre os quatro protagonistas não é nada saudável e a pressão do dia a dia para não perder seus clientes, estrelas de cinema nada convencionais, criam uma dinâmica muito interessante e divertida para a série.
Um dos pontos altos é a participação especial de estrelas reais do cinema francês - é claro que seu público nativo se identifica (ou reconhece esses personagens) muito mais que nós brasileiros, mas em episódios que contam com Cécile de France, Nathalie Baye, Isabelle Adjan, Juliette Binochi e até Isabelle Huppert sentimos o gostinho dessa característica tão especial da série - mais ou menos como faz "Ballers" com o esporte americano na HBO. O fato é que essa relação entre uma narrativa de ficção com personagens reais, mas estereotipados, é muito bem aproveitada em "Dix pour Cent" e faz toda a diferença no resultado final!
"Dix pour Cent" tem 6 episódios, de 50 minutos, na sua primeira temporada, mas a Netflix já disponibilizou as três temporadas exibidas na França. Uma quarta já está sendo filmada e a previsão de estréia é para o início de 2020. Olha, vale muito a pena, "Dix pour Cent" é uma série sem compromisso que diverte e vicia! Puro entretenimento!
Talvez o maior mérito de "Dix pour Cent" seja o fato de ser muito despretensiosa. A série francesa, distribuída pela Netflix, é muito divertida e realmente não se preocupa com os próprios escorregões (literalmente) até encontrar o tom de cada episódio. "Dix pour Cent" é uma série da TV aberta francesa, um procedural (episódios com começo, meio e fim, além de um arco maior que abrange todos os personagens e suas relações), muito parecida com "House of Lies" em sua estrutura narrativa. Enquanto a série da HBO acompanha uma equipe de consultores, "Dix pour Cent" segue quatro agentes de talentos em Paris. Ambas usam a comédia para aliviar o peso dos seus dramas pessoais e cotidianos, às vezes até abusando um pouco do over-acting, mas ok, porque cabe perfeitamente nas situações que os personagens enfrentam na série. Digamos que tudo combina tão bem que nos fisga facilmente!
Embora extremamente bem produzida, tendo Paris como pano de fundo, "Dix pour Cent" é quase um novelão, nem tanto por sua forma (já que fica fácil perceber o cuidado da direção, com a fotografia e o desenho de produção,) mas sim por sua essência (quase cartunesca) - e é nessa busca do equilíbrio entre linguagens que a série sai na frente, pois tudo nos soa muito familiar ao mesmo tempo que é uma grande novidade. Os personagens: Andrea (Camille Cottin), Mathias (Thibault de Montalembert), Gabriel (Grégory Montel) e Arlette (Liliane Rovère) são os sócios minoritários da agência "ASK", e têm que enfrentar um futuro incerto depois que o sócio majoritário, e chefe, Samuel Kerr, morre repentinamente em uma viagem para o Brasil (pois é...rs). Apesar de sócios, a relação entre os quatro protagonistas não é nada saudável e a pressão do dia a dia para não perder seus clientes, estrelas de cinema nada convencionais, criam uma dinâmica muito interessante e divertida para a série.
Um dos pontos altos é a participação especial de estrelas reais do cinema francês - é claro que seu público nativo se identifica (ou reconhece esses personagens) muito mais que nós brasileiros, mas em episódios que contam com Cécile de France, Nathalie Baye, Isabelle Adjan, Juliette Binochi e até Isabelle Huppert sentimos o gostinho dessa característica tão especial da série - mais ou menos como faz "Ballers" com o esporte americano na HBO. O fato é que essa relação entre uma narrativa de ficção com personagens reais, mas estereotipados, é muito bem aproveitada em "Dix pour Cent" e faz toda a diferença no resultado final!
"Dix pour Cent" tem 6 episódios, de 50 minutos, na sua primeira temporada, mas a Netflix já disponibilizou as três temporadas exibidas na França. Uma quarta já está sendo filmada e a previsão de estréia é para o início de 2020. Olha, vale muito a pena, "Dix pour Cent" é uma série sem compromisso que diverte e vicia! Puro entretenimento!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) eAnthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!
Acho que mais do que uma obra "baseada em fatos reais", o maior acerto do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles é o estudo de personalidade que o roteirista Anthony McCarten (A Teoria de Tudo) nos apresenta. O filme acaba criando uma certa dependência nos dois protagonistas, mas ao mesmo tempo resgata o que há de mais humano no processo de auto-conhecimento e de reflexão que ambos precisam passar para se perdoarem e seguirem adiante. É lindo de assistir!
O roteiro equilibra tão bem assuntos espinhosos, pontos de vista diferentes e ideais completamente contraditórios, mas com respeito, inteligência e até humor - a cena durante os créditos dos dois papas (um argentino e outro alemão) assistindo a final da Copa de 2014 no Brasil é impagável! Meirelles foi muito feliz ao deixar os dois atores "soltos" para dialogarem e aproveitarem a organicidade que o texto sugeria. As pausas, os olhares, os tímidos sorrisos, o receito de ir além, o respeito mútuo, a humildade e o reconhecimento, nossa, tudo está lá e é tão perceptível e dinâmico que nem vemos o tempo passar - até nos momentos mais delicados quando o assunto fica realmente mais pesado, como a lembrança da ditadura argentina ou a discussão sobre pedofilia na igreja, o filme elabora tão bem as idéias e fica tão alinhado com as escolhas conceituais da direção do brasileiro e, claro do fotógrafo e parceiro, César Charlone, que impressiona! A troca da janela de exibição de 16:9 para a antiga 4:3, o preto e branco, a câmera mais nervosa e até a inserção de cenas reais, de noticiários e reportagens da época - tudo isso trás uma veracidade que mexe com a gente! Reparem em como o conceito visual ajuda a contar a história e transforma um simples artifício em uma experiência imersiva bastante intensa - é como se estivemos revivendo toda aquela dor junto com os personagens!
A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - existe uma variação de ritmos e tons que vão pontuando a aproximação dos dois personagens de acordo com a liberdade que ambos vão conquistando - a cena do piano e dos dois dançando tango ao se despedirem, é isso: o elo de respeito que foi construído a partir do momento que ambos se permitiram conhecer outros olhares, outros gostos, outra forma de ver a vida. Puxa, são tantos detalhes, tanto cuidado que, para mim, é uma aula de cinema - mais uma vez, reparem na cena em que Francisco impede os seguranças de interferirem no passeio que Bento XVI faz em um dos salões no Vaticano em meio aos turistas, ele diz algo assim: deixe, ele esta feliz! É tão humana a relação que foi construída que muitas vezes nem nos damos conta que são dois atores conversando por quase duas horas de filme. Uma sugestão que pode enriquecer a experiência de acompanhar "Dois Papas" - assistam a minissérie italiana "Pode me chamar de Francisco", ela se aprofunda na história da ditadura e como realmente tudo aconteceu - essa parte pode ter parecido um pouco confusa ou superficial no filme, mas na minissérie fica tudo muito claro (e tem na Netflix).
"Dois Papas" é daqueles filmes que nos enchem de amor ao assistir, que quebra alguns pré-conceitos e que nos fazem acreditar que mesmo com nossa falhas (inerentes ao ser humano e isso é dito no filme) é possível enxergar o mundo de uma outra forma e trabalhar para sua constante evolução. Não se surpreendam se Jonathan Pryce e Anthony Hopkins forem indicados para o Oscar, junto com Melhor Filme (talvez), Melhor Roteiro (certeza) e Melhor Fotografia (quem sabe). Grande filme, merece seu play já!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) eAnthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!
Acho que mais do que uma obra "baseada em fatos reais", o maior acerto do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles é o estudo de personalidade que o roteirista Anthony McCarten (A Teoria de Tudo) nos apresenta. O filme acaba criando uma certa dependência nos dois protagonistas, mas ao mesmo tempo resgata o que há de mais humano no processo de auto-conhecimento e de reflexão que ambos precisam passar para se perdoarem e seguirem adiante. É lindo de assistir!
O roteiro equilibra tão bem assuntos espinhosos, pontos de vista diferentes e ideais completamente contraditórios, mas com respeito, inteligência e até humor - a cena durante os créditos dos dois papas (um argentino e outro alemão) assistindo a final da Copa de 2014 no Brasil é impagável! Meirelles foi muito feliz ao deixar os dois atores "soltos" para dialogarem e aproveitarem a organicidade que o texto sugeria. As pausas, os olhares, os tímidos sorrisos, o receito de ir além, o respeito mútuo, a humildade e o reconhecimento, nossa, tudo está lá e é tão perceptível e dinâmico que nem vemos o tempo passar - até nos momentos mais delicados quando o assunto fica realmente mais pesado, como a lembrança da ditadura argentina ou a discussão sobre pedofilia na igreja, o filme elabora tão bem as idéias e fica tão alinhado com as escolhas conceituais da direção do brasileiro e, claro do fotógrafo e parceiro, César Charlone, que impressiona! A troca da janela de exibição de 16:9 para a antiga 4:3, o preto e branco, a câmera mais nervosa e até a inserção de cenas reais, de noticiários e reportagens da época - tudo isso trás uma veracidade que mexe com a gente! Reparem em como o conceito visual ajuda a contar a história e transforma um simples artifício em uma experiência imersiva bastante intensa - é como se estivemos revivendo toda aquela dor junto com os personagens!
A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - existe uma variação de ritmos e tons que vão pontuando a aproximação dos dois personagens de acordo com a liberdade que ambos vão conquistando - a cena do piano e dos dois dançando tango ao se despedirem, é isso: o elo de respeito que foi construído a partir do momento que ambos se permitiram conhecer outros olhares, outros gostos, outra forma de ver a vida. Puxa, são tantos detalhes, tanto cuidado que, para mim, é uma aula de cinema - mais uma vez, reparem na cena em que Francisco impede os seguranças de interferirem no passeio que Bento XVI faz em um dos salões no Vaticano em meio aos turistas, ele diz algo assim: deixe, ele esta feliz! É tão humana a relação que foi construída que muitas vezes nem nos damos conta que são dois atores conversando por quase duas horas de filme. Uma sugestão que pode enriquecer a experiência de acompanhar "Dois Papas" - assistam a minissérie italiana "Pode me chamar de Francisco", ela se aprofunda na história da ditadura e como realmente tudo aconteceu - essa parte pode ter parecido um pouco confusa ou superficial no filme, mas na minissérie fica tudo muito claro (e tem na Netflix).
"Dois Papas" é daqueles filmes que nos enchem de amor ao assistir, que quebra alguns pré-conceitos e que nos fazem acreditar que mesmo com nossa falhas (inerentes ao ser humano e isso é dito no filme) é possível enxergar o mundo de uma outra forma e trabalhar para sua constante evolução. Não se surpreendam se Jonathan Pryce e Anthony Hopkins forem indicados para o Oscar, junto com Melhor Filme (talvez), Melhor Roteiro (certeza) e Melhor Fotografia (quem sabe). Grande filme, merece seu play já!
Você vai se surpreender com a qualidade narrativa e visual de "Doze Jurados"! Se em um primeiro momento a série da Één, emissora pública belga (mas que ganhou notoriedade ao ser distribuída mundialmente pela Netflix), soa como mais um drama jurídico, em poucos episódios você vai entender que além de uma crítica contundente sobre o sistema judicial da Bélgica, a história ainda expõe um elemento crucial que vai te provocar muitas reflexões: a parcialidade de um ser humano despreparado para uma determinada função. "De Twaalf" (no original) se diferencia pela forma como apresenta um estudo profundo do impacto emocional e psicológico de um julgamento de grande repercussão, tanto sobre os envolvidos diretamente no caso quanto (e especialmente) sobre os jurados. Criada por Sanne Nuyens, Bert Van Dael e Roel Mondelaers, a série traz uma abordagem até certo ponto inovadora, deixando os aspectos legais do julgamento apenas como complemento da narrativa para priorizar a vida pessoal dos jurados, cujas histórias individuais acabam influenciando suas percepções e decisões. "Doze Jurados" é uma trama complexa que vai além dos estereótipos das séries jurídicas tradicionais, oferecendo uma experiência realmente densa e emocionalmente impactante.
A premissa gira em torno de um julgamento que atrai grande atenção da mídia na Bélgica: Frie Palmers (Maaike Cafmeyer) é uma mulher divorciada acusada de dois assassinatos - da filha pequena e de sua melhor amiga. A série acompanha o desenrolar do processo do ponto de vista dos doze jurados que precisam decidir o destino de Frie. No entanto, enquanto o caso é exposto no tribunal, cada jurado traz para a corte suas próprias bagagens emocionais e questões pessoais, que acabam moldando a forma como cada um interpreta as evidências e os depoimentos das testemunhas, criando assim uma dinâmica capaz de destruir o que mais deveria importar: a busca pela verdade! Confira o trailer (com legendas em inglês):
Produzido pelaEyeworks Film, "Doze Jurados" brilha ao construir uma narrativa realmente envolvente que dá voz aos jurados, provocando um desconforto de fato angustiante ao expor que um julgamento não é apenas sobre a culpa ou a inocência, mas também sobre como a vida de cada um é afetada ao longo do processo. A série destaca o impacto que é ter que decidir o futuro de outra pessoa, mostrando como a vida dos jurados começam a se entrelaçar com o julgamento, trazendo para os holofotes dilemas pessoais, traumas e segredos que, intercaladas com o drama jurídico em si, cria uma jornada verdadeiramente rica em nuances como dificilmente encontramos no gênero. Veja, a roteiro mistura com sabedoria a tensão das cenas de tribunal com o desenvolvimento profundo dos personagens - especialmente nos flashbacks dos personagens. Essa proposta conceitual é eficaz em manter o ritmo da narrativa e entregar um certo tom de mistério em torno de todos os envolvidos no caso.
A direção de Wouter Bouvijn (de "1985") é precisa, com uma estética fria e claustrofóbica ao ponto de refletir o peso do julgamento com a mesma força que as tensões internas dos personagens - a câmera de Bouvijn tem um movimento quase documental, um identidade do cinema independente europeu e um timinig perfeito na construção do drama. Repare também como a fotografia utiliza bem o contraste entre os ambientes do tribunal, austeros e impessoais, com os momentos de intimidade dos jurados fora da corte, onde suas emoções ganham destaque quase sempre com uma lente fechada e um desfoque belíssimo do segundo plano. Essa proposta em criar o contrate visual entre o ambiente controlado do tribunal e a turbulência emocional do cotidiano ajuda demais a potencializar a atmosfera de crescente tensão - é impressionante como sentimos esse mood! As performances do elenco também merecem destaque, especialmente de Maaike Cafmeyer - ela traz uma intensidade contida que alimenta a ambiguidade da narrativa. Frie é retratada como uma mulher que oscila entre a dor e a frieza, o que nos mantém em dúvida sobre sua culpa ou inocência até o fim da temporada. Cafmeyer consegue transmitir essa ambiguidade com uma atuação sutil, sem exageros, o que torna seu personagem ainda mais intrigante. Outro nome que merece destaque é o de Maaike Neuville, a Delphine Spijkers - belíssimo trabalho.
"Doze Jurados" é um retrato realista do sistema de justiça e um recorte dos mais inteligente sobre a falibilidade humana. A série não oferece respostas fáceis; ao contrário, ela nos desafia a confrontar a complexidade de um julgamento pelos olhos da imperfeição humana, mostrando como nossas decisões são moldadas por nossas experiências pessoais e emoções. O roteiro, premiado no Cannes International Series Festival (ou para os mais íntimos, CannesSeries) sabe equilibrar diferentes narrativas de seus personagens, sem perder o foco no julgamento em si. eu diria que o golaço da série está na sua capacidade de escancarar a fragilidade e a subjetividade ao humanizar quem julga sem a propriedade de julgar!
Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com a qualidade narrativa e visual de "Doze Jurados"! Se em um primeiro momento a série da Één, emissora pública belga (mas que ganhou notoriedade ao ser distribuída mundialmente pela Netflix), soa como mais um drama jurídico, em poucos episódios você vai entender que além de uma crítica contundente sobre o sistema judicial da Bélgica, a história ainda expõe um elemento crucial que vai te provocar muitas reflexões: a parcialidade de um ser humano despreparado para uma determinada função. "De Twaalf" (no original) se diferencia pela forma como apresenta um estudo profundo do impacto emocional e psicológico de um julgamento de grande repercussão, tanto sobre os envolvidos diretamente no caso quanto (e especialmente) sobre os jurados. Criada por Sanne Nuyens, Bert Van Dael e Roel Mondelaers, a série traz uma abordagem até certo ponto inovadora, deixando os aspectos legais do julgamento apenas como complemento da narrativa para priorizar a vida pessoal dos jurados, cujas histórias individuais acabam influenciando suas percepções e decisões. "Doze Jurados" é uma trama complexa que vai além dos estereótipos das séries jurídicas tradicionais, oferecendo uma experiência realmente densa e emocionalmente impactante.
A premissa gira em torno de um julgamento que atrai grande atenção da mídia na Bélgica: Frie Palmers (Maaike Cafmeyer) é uma mulher divorciada acusada de dois assassinatos - da filha pequena e de sua melhor amiga. A série acompanha o desenrolar do processo do ponto de vista dos doze jurados que precisam decidir o destino de Frie. No entanto, enquanto o caso é exposto no tribunal, cada jurado traz para a corte suas próprias bagagens emocionais e questões pessoais, que acabam moldando a forma como cada um interpreta as evidências e os depoimentos das testemunhas, criando assim uma dinâmica capaz de destruir o que mais deveria importar: a busca pela verdade! Confira o trailer (com legendas em inglês):
Produzido pelaEyeworks Film, "Doze Jurados" brilha ao construir uma narrativa realmente envolvente que dá voz aos jurados, provocando um desconforto de fato angustiante ao expor que um julgamento não é apenas sobre a culpa ou a inocência, mas também sobre como a vida de cada um é afetada ao longo do processo. A série destaca o impacto que é ter que decidir o futuro de outra pessoa, mostrando como a vida dos jurados começam a se entrelaçar com o julgamento, trazendo para os holofotes dilemas pessoais, traumas e segredos que, intercaladas com o drama jurídico em si, cria uma jornada verdadeiramente rica em nuances como dificilmente encontramos no gênero. Veja, a roteiro mistura com sabedoria a tensão das cenas de tribunal com o desenvolvimento profundo dos personagens - especialmente nos flashbacks dos personagens. Essa proposta conceitual é eficaz em manter o ritmo da narrativa e entregar um certo tom de mistério em torno de todos os envolvidos no caso.
A direção de Wouter Bouvijn (de "1985") é precisa, com uma estética fria e claustrofóbica ao ponto de refletir o peso do julgamento com a mesma força que as tensões internas dos personagens - a câmera de Bouvijn tem um movimento quase documental, um identidade do cinema independente europeu e um timinig perfeito na construção do drama. Repare também como a fotografia utiliza bem o contraste entre os ambientes do tribunal, austeros e impessoais, com os momentos de intimidade dos jurados fora da corte, onde suas emoções ganham destaque quase sempre com uma lente fechada e um desfoque belíssimo do segundo plano. Essa proposta em criar o contrate visual entre o ambiente controlado do tribunal e a turbulência emocional do cotidiano ajuda demais a potencializar a atmosfera de crescente tensão - é impressionante como sentimos esse mood! As performances do elenco também merecem destaque, especialmente de Maaike Cafmeyer - ela traz uma intensidade contida que alimenta a ambiguidade da narrativa. Frie é retratada como uma mulher que oscila entre a dor e a frieza, o que nos mantém em dúvida sobre sua culpa ou inocência até o fim da temporada. Cafmeyer consegue transmitir essa ambiguidade com uma atuação sutil, sem exageros, o que torna seu personagem ainda mais intrigante. Outro nome que merece destaque é o de Maaike Neuville, a Delphine Spijkers - belíssimo trabalho.
"Doze Jurados" é um retrato realista do sistema de justiça e um recorte dos mais inteligente sobre a falibilidade humana. A série não oferece respostas fáceis; ao contrário, ela nos desafia a confrontar a complexidade de um julgamento pelos olhos da imperfeição humana, mostrando como nossas decisões são moldadas por nossas experiências pessoais e emoções. O roteiro, premiado no Cannes International Series Festival (ou para os mais íntimos, CannesSeries) sabe equilibrar diferentes narrativas de seus personagens, sem perder o foco no julgamento em si. eu diria que o golaço da série está na sua capacidade de escancarar a fragilidade e a subjetividade ao humanizar quem julga sem a propriedade de julgar!
Vale muito o seu play!
Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!
Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:
Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.
A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação.
O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!
Imperdível!
Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!
Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!
Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:
Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.
A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação.
O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!
Imperdível!
Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!
É praticamente impossível iniciar qualquer conversa sobre o excelente "Druk - mais uma rodada", sem pontuar que ele foi o grande vencedor da categoria "Filme Internacional" no Oscar de 2021 - isso sem falar nas mais de 60 vitórias que colecionou ao redor do mundo em festivais e premiações como Goya, César e Bafta, para citar só os "fora dos EUA". Dito isso, fica fácil atestar que o filme dirigido pelo "pra lá de talentoso", Thomas Vinterberg (do imperdível "A Caça"), é uma experiência cinematográfica universal que cativa a audiência desde os primeiros minutos até um emocionante desfecho. Essa obra, que explora a relação entre álcool e a vida cotidiana de maneira única, é uma verdadeira pérola do cinema contemporâneo que merece muito a sua atenção. Aliás, o que torna "Druk" tão especial assim é justamente a profundidade da narrativa e como a impecável performance do elenco, liderado por Mads Mikkelsen, estão tão bem alinhados ao ponto de abordar temas tão complexos com um toque impressionante de humanidade.
Em "Another Round" (no original) acompanhamos a história de quatro amigos, professores de meia-idade, interpretados por Mads Mikkelsen (Martin), Thomas Bo Larsen (Tommy), Magnus Millang (Nikolaj) e Lars Ranthe (Peter), que decidem embarcar em um experimento, no mínimo, ousado: manter um nível constante de álcool no sangue para melhorar suas vidas pessoais e profissionais. No início, essa aventura os leva a redescobrir o prazer da vida, mas, à medida que o experimento avança, eles se veem confrontando as consequências e desafios inesperados. Confira o trailer:
Não é preciso ser um especialista para perceber como Vinterberg (também indicado ao Oscar como "Melhor Diretor") e sua equipe técnica alcançam uma harmonia excepcional entre a direção, o texto, a fotografia e a trilha sonora. A cinematografia de Sturla Brandth Grovlen (de "Victoria") capta brilhantemente a transformação gradual dos personagens e sua crescente euforia à medida que seus níveis de álcool vão subindo e subindo. Essa "dança visual" espelha as oscilações emocionais dos protagonistas - o que deixa claro que tudo aquilo não passa de uma “ideia estúpida” pela óbvia possibilidade de se transformar em alcoolismo, no entanto existe um ponto a ser levado em conta: o olhar sobre as necessidades de cada um em termos de relações interpessoais. Reparem como a montagem de Janus Billeskov Jansen e a trilha sonoracomplementam de maneira sutil e eficaz os momentos de intensidade emocional, ressaltando toda aquela atmosfera envolvente do filme.
Mads Mikkelsen entrega uma das melhores performances de sua carreira - chega a ser impressionante o carisma tão raro para um ator escandinavo capaz de trazer complexidade e autenticidade ao personagem sem soar expositivo demais. Sua jornada de transformação como Martin, do professor desanimado até o homem redescobrindo sua paixão pela vida, é convincente e comovente ao mesmo tempo - o que na minha opinião justificaria sua indicação (já tardia) para o Oscar de Melhor Ator. Aliás, todo o elenco se destaca, cada qual com suas dores e alegrias, proporcionando um equilíbrio perfeito entre humor e drama como poucas vezes encontramos.
"Druk" é de fato uma obra que nos faz refletir sobre a nossa relação com o álcool, sobre a busca pela autenticidade na vida adulta e a importância de viver plenamente - esse contexto de crise de meia idade é bastante linear na sua previsibilidade, no entanto é envolvente e de fácil identificação. Com isso Vinterberg nos entrega uma verdadeira experiência emocional, que desafia expectativas, oferecendo uma certa crítica à hipocrisia social - se existe uma "moral da história" muito simples em favor da alegria de viver, não se deve deixar de discutir como uma sociedade é capaz de reconhecer sua patológica sensação de tédio e de fadiga espiritual tão "facilmente".Ao final, claro, o filme se propõe a deixar uma mensagem emocionalmente impactante sobre a importância de encontrar um equilíbrio na vida, no entanto saiba que aqui o interessante é mesmo a jornada, não o seu fim!
Vale muito o seu play!
É praticamente impossível iniciar qualquer conversa sobre o excelente "Druk - mais uma rodada", sem pontuar que ele foi o grande vencedor da categoria "Filme Internacional" no Oscar de 2021 - isso sem falar nas mais de 60 vitórias que colecionou ao redor do mundo em festivais e premiações como Goya, César e Bafta, para citar só os "fora dos EUA". Dito isso, fica fácil atestar que o filme dirigido pelo "pra lá de talentoso", Thomas Vinterberg (do imperdível "A Caça"), é uma experiência cinematográfica universal que cativa a audiência desde os primeiros minutos até um emocionante desfecho. Essa obra, que explora a relação entre álcool e a vida cotidiana de maneira única, é uma verdadeira pérola do cinema contemporâneo que merece muito a sua atenção. Aliás, o que torna "Druk" tão especial assim é justamente a profundidade da narrativa e como a impecável performance do elenco, liderado por Mads Mikkelsen, estão tão bem alinhados ao ponto de abordar temas tão complexos com um toque impressionante de humanidade.
Em "Another Round" (no original) acompanhamos a história de quatro amigos, professores de meia-idade, interpretados por Mads Mikkelsen (Martin), Thomas Bo Larsen (Tommy), Magnus Millang (Nikolaj) e Lars Ranthe (Peter), que decidem embarcar em um experimento, no mínimo, ousado: manter um nível constante de álcool no sangue para melhorar suas vidas pessoais e profissionais. No início, essa aventura os leva a redescobrir o prazer da vida, mas, à medida que o experimento avança, eles se veem confrontando as consequências e desafios inesperados. Confira o trailer:
Não é preciso ser um especialista para perceber como Vinterberg (também indicado ao Oscar como "Melhor Diretor") e sua equipe técnica alcançam uma harmonia excepcional entre a direção, o texto, a fotografia e a trilha sonora. A cinematografia de Sturla Brandth Grovlen (de "Victoria") capta brilhantemente a transformação gradual dos personagens e sua crescente euforia à medida que seus níveis de álcool vão subindo e subindo. Essa "dança visual" espelha as oscilações emocionais dos protagonistas - o que deixa claro que tudo aquilo não passa de uma “ideia estúpida” pela óbvia possibilidade de se transformar em alcoolismo, no entanto existe um ponto a ser levado em conta: o olhar sobre as necessidades de cada um em termos de relações interpessoais. Reparem como a montagem de Janus Billeskov Jansen e a trilha sonoracomplementam de maneira sutil e eficaz os momentos de intensidade emocional, ressaltando toda aquela atmosfera envolvente do filme.
Mads Mikkelsen entrega uma das melhores performances de sua carreira - chega a ser impressionante o carisma tão raro para um ator escandinavo capaz de trazer complexidade e autenticidade ao personagem sem soar expositivo demais. Sua jornada de transformação como Martin, do professor desanimado até o homem redescobrindo sua paixão pela vida, é convincente e comovente ao mesmo tempo - o que na minha opinião justificaria sua indicação (já tardia) para o Oscar de Melhor Ator. Aliás, todo o elenco se destaca, cada qual com suas dores e alegrias, proporcionando um equilíbrio perfeito entre humor e drama como poucas vezes encontramos.
"Druk" é de fato uma obra que nos faz refletir sobre a nossa relação com o álcool, sobre a busca pela autenticidade na vida adulta e a importância de viver plenamente - esse contexto de crise de meia idade é bastante linear na sua previsibilidade, no entanto é envolvente e de fácil identificação. Com isso Vinterberg nos entrega uma verdadeira experiência emocional, que desafia expectativas, oferecendo uma certa crítica à hipocrisia social - se existe uma "moral da história" muito simples em favor da alegria de viver, não se deve deixar de discutir como uma sociedade é capaz de reconhecer sua patológica sensação de tédio e de fadiga espiritual tão "facilmente".Ao final, claro, o filme se propõe a deixar uma mensagem emocionalmente impactante sobre a importância de encontrar um equilíbrio na vida, no entanto saiba que aqui o interessante é mesmo a jornada, não o seu fim!
Vale muito o seu play!
Definitivamente "Duck Butter" não é um filme fácil, mas dentro da sua proposta é um filme que me atraiu, principalmente por ser muito bem dirigido pelo Porto-riquenho Miguel Arteta - diretor que veio da TV e que fez um belo trabalho de direção de atores nesse filme. "Duck Butter" bebe na fonte do francês "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), mas sem a mesma força, na minha opinião.
O filme trata da relação entre duas jovens completamente diferentes que, por circunstâncias de vida, acabam se aproximando e vivendo uma intensa relação de 24 horas que vai minguando de acordo com a aproximação da realidade que é a vida e que é estar em uma relação! É preciso dizer que o filme é intenso no conteúdo e na maneira de expor essas "imperfeições" do ser humano. É um filme que discute até quanto "mandar tudo a m..." é um caminho a se considerar.
Miguel Arteta tem sensibilidade e aplica isso nas escolhas que faz com sua diretora de fotografia Hillary Spera. O filme foi finalista no Tribeca Film Festival de 2018 e tem como grande nome a Laia Costa uma jovem e talentosa atriz que merece atenção pelo seu trabalho - é o segundo filme que assisto dela (o primeiro foi "Newness") e em ambos ela mandou muito bem!
Filme complicado, mas para quem gosta de filmes independentes com ótima carreira em Festivais, é imperdível!!!
Definitivamente "Duck Butter" não é um filme fácil, mas dentro da sua proposta é um filme que me atraiu, principalmente por ser muito bem dirigido pelo Porto-riquenho Miguel Arteta - diretor que veio da TV e que fez um belo trabalho de direção de atores nesse filme. "Duck Butter" bebe na fonte do francês "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), mas sem a mesma força, na minha opinião.
O filme trata da relação entre duas jovens completamente diferentes que, por circunstâncias de vida, acabam se aproximando e vivendo uma intensa relação de 24 horas que vai minguando de acordo com a aproximação da realidade que é a vida e que é estar em uma relação! É preciso dizer que o filme é intenso no conteúdo e na maneira de expor essas "imperfeições" do ser humano. É um filme que discute até quanto "mandar tudo a m..." é um caminho a se considerar.
Miguel Arteta tem sensibilidade e aplica isso nas escolhas que faz com sua diretora de fotografia Hillary Spera. O filme foi finalista no Tribeca Film Festival de 2018 e tem como grande nome a Laia Costa uma jovem e talentosa atriz que merece atenção pelo seu trabalho - é o segundo filme que assisto dela (o primeiro foi "Newness") e em ambos ela mandou muito bem!
Filme complicado, mas para quem gosta de filmes independentes com ótima carreira em Festivais, é imperdível!!!
"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"
Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!
Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:
Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira!
Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível!
Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!
"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"
Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!
Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:
Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira!
Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível!
Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!
Como "Modern Love" da Prime Vídeo, "Easy", produção original da Netflix, é uma série deliciosa de assistir e que usa de um conceito narrativo muito inteligente para falar "basicamente" de relacionamentos - em diferentes pontos, perspectivas, gêneros, etc. O interessante é que o talento do diretor Joe Swanberg (de "Love") traz para o projeto um tom extremamente realista, com personagens tão complexos quanto palpáveis, onde as situações se apoiam muito mais nas consequências das decisões tomadas por eles do que apenas na aparente superficialidade do que causou determinada situação - e é por isso que nos identificamos com esses dramas.
A história é simples, mas nem por isso simplista - em 8 episódios, "Easy" acompanha um grupo de jovens que moram em Chicago e que acabam se atrapalhando com o moderno labirinto do amor. Cada qual da sua maneira, os personagens precisam lidar com as dificuldades de suas relações, seja no sexo, pela tecnologia ou até enfrentando as novas perspectivas de uma cultura que passou a ser tão presente em nossas decisões cotidianas. Confira o trailer:
Saber tratar de forma tão honesta (e original) vários tipos de conflitos pessoais, de casais tão diferentes, mas que se encontram em algum buraco de suas vidas, faz de "Easy" uma das séries mais interessantes desse gênero - o equilíbrio entre o drama e a comédia é cirúrgico. Swanberg, aliás, se apropria do estilo mumblecore para impactar a audiência com uma realidade quase que visceral. Para quem não sabe, esse é um movimento cinematográfico que funciona como uma espécie de sub-gênero do cinema independente, onde a atmosfera da narrativa é a mais natural possível, sendo comum ver improvisos entre os atores em cena, muitos deles amadores ou desconhecidos em um ambiente completamente naturalista que chega a dispensar a iluminação artificial e onde a câmera documental funciona como uma espécie de observador onipresente.
É claro que os próprios roteiros sustentam essa escolha conceitual - eles são excelentes e como os atores são ótimos, até mesmo quando os planos são mais longos (e têm vários) os diálogos não se perdem em futilidades ou esteriótipos de gênero. Aqui cabe um comentário: alguns anos atrás assisti duas séries inglesas com o mesmo conceito e seguindo o mesmo gênero: "Dates" e "True Love". Para quem sabe do que estou falando, "Easy" traz um pouco dessas duas produções, talvez com um pouco menos de sutileza no texto e de uma fotografia mais autoral, mas com um resultado igualmente elogiável.
Uma grande vantagem das séries que possuem o formato de antologia é o de poder contar histórias que não precisem necessariamente se conectar uma nas outras - essa estrutura de fato se repete em sete episódios, porém no oitavo revisitamos alguns personagens e entendemos que tudo que foi visto até ali poderá ter suas consequências - e de fato se provou assim na segunda e terceira temporadas. Embora seja uma série mais de nicho, ou menos ritmada (como preferir), sua trama chega carregada de profundas discussões, com tantas camadas e assuntos que temos a exata sensação de que conhecemos alguém que vive (ou viveu) algo parecido com os dramas dos protagonistas.
"Easy" é mais uma daquelas que indico de olhos fechados para quem gosta desse tipo de série, ainda mais sabendo que a Netflix se planejou e produziu um final já na terceira temporada! Vale muito o seu play!
Como "Modern Love" da Prime Vídeo, "Easy", produção original da Netflix, é uma série deliciosa de assistir e que usa de um conceito narrativo muito inteligente para falar "basicamente" de relacionamentos - em diferentes pontos, perspectivas, gêneros, etc. O interessante é que o talento do diretor Joe Swanberg (de "Love") traz para o projeto um tom extremamente realista, com personagens tão complexos quanto palpáveis, onde as situações se apoiam muito mais nas consequências das decisões tomadas por eles do que apenas na aparente superficialidade do que causou determinada situação - e é por isso que nos identificamos com esses dramas.
A história é simples, mas nem por isso simplista - em 8 episódios, "Easy" acompanha um grupo de jovens que moram em Chicago e que acabam se atrapalhando com o moderno labirinto do amor. Cada qual da sua maneira, os personagens precisam lidar com as dificuldades de suas relações, seja no sexo, pela tecnologia ou até enfrentando as novas perspectivas de uma cultura que passou a ser tão presente em nossas decisões cotidianas. Confira o trailer:
Saber tratar de forma tão honesta (e original) vários tipos de conflitos pessoais, de casais tão diferentes, mas que se encontram em algum buraco de suas vidas, faz de "Easy" uma das séries mais interessantes desse gênero - o equilíbrio entre o drama e a comédia é cirúrgico. Swanberg, aliás, se apropria do estilo mumblecore para impactar a audiência com uma realidade quase que visceral. Para quem não sabe, esse é um movimento cinematográfico que funciona como uma espécie de sub-gênero do cinema independente, onde a atmosfera da narrativa é a mais natural possível, sendo comum ver improvisos entre os atores em cena, muitos deles amadores ou desconhecidos em um ambiente completamente naturalista que chega a dispensar a iluminação artificial e onde a câmera documental funciona como uma espécie de observador onipresente.
É claro que os próprios roteiros sustentam essa escolha conceitual - eles são excelentes e como os atores são ótimos, até mesmo quando os planos são mais longos (e têm vários) os diálogos não se perdem em futilidades ou esteriótipos de gênero. Aqui cabe um comentário: alguns anos atrás assisti duas séries inglesas com o mesmo conceito e seguindo o mesmo gênero: "Dates" e "True Love". Para quem sabe do que estou falando, "Easy" traz um pouco dessas duas produções, talvez com um pouco menos de sutileza no texto e de uma fotografia mais autoral, mas com um resultado igualmente elogiável.
Uma grande vantagem das séries que possuem o formato de antologia é o de poder contar histórias que não precisem necessariamente se conectar uma nas outras - essa estrutura de fato se repete em sete episódios, porém no oitavo revisitamos alguns personagens e entendemos que tudo que foi visto até ali poderá ter suas consequências - e de fato se provou assim na segunda e terceira temporadas. Embora seja uma série mais de nicho, ou menos ritmada (como preferir), sua trama chega carregada de profundas discussões, com tantas camadas e assuntos que temos a exata sensação de que conhecemos alguém que vive (ou viveu) algo parecido com os dramas dos protagonistas.
"Easy" é mais uma daquelas que indico de olhos fechados para quem gosta desse tipo de série, ainda mais sabendo que a Netflix se planejou e produziu um final já na terceira temporada! Vale muito o seu play!