Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.
Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:
Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.
Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.
Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.
Vale muito a pena!
Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.
Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:
Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.
Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.
Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.
Vale muito a pena!
Esse filme é uma pancada muito bem dada! Sério, é impressionante como "A Grande Virada" aborda de uma maneira incrivelmente realista e contundente os efeitos devastadores do desemprego e, consequentemente, da perda de identidade que muitos executivos enfrentaram pós-crise de 2008, quando, da noite para o dia, foram demitidos sem muitas explicações. O talentoso diretor e roteirista John Wells (de "West King") constrói uma narrativa muito sólida, cheia de nuances, que mergulha nas vidas dos protagonistas de modo a explorar suas lutas mais íntimas e suas transformações pessoais, além, obviamente, de fazer um recorte emocionante sobre os reflexos sociais dessa delicada situação - tudo como se fosse um documentário (não na forma, mas na profundidade do conteúdo).
"The Company Men" (no original) acompanha a vida de três executivos de uma grande empresa que são demitidos devido a crise financeira de 2008. O filme explora as consequências emocionais e financeiras que eles enfrentam enquanto tentam se adaptar a uma nova realidade e encontrar um propósito além de suas carreiras. Confira o trailer (em inglês):
O filme, de cara, se destaca por seu elenco brilhante. Ben Affleck interpreta Bobby Walker, um jovem executivo ambicioso e bem-sucedido, cuja vida desmorona após ser demitido. Affleck oferece uma interpretação convincente, retratando de forma comovente o impacto emocional que o desemprego tem sobre seu personagem. Tommy Lee Jones (Gene McClary) é um executivo de alto escalão que sofre com as demissões de sua equipe, no entanto sua atuação traz uma mistura de determinação e vulnerabilidade, enquanto ele lida com as mudanças em sua vida e as pressões financeiras de uma possível (e latente) demissão. A forma como Jones acrescenta essa camada de insegurança mesmo quando navega por mares aparentemente tranquilos, tem um impacto impressionante na nossa experiência como audiência. Mas talvez seja o personagem de Chris Cooper, o Phil Woodward (um veterano funcionário da empresa que está prestes a se aposentar) que transmite a maior angústia entre todos - pela idade, pela forma como enxerga a vida e, principalmente, pela dificuldade de encontrar um propósito ao perder a segurança que tinha em sua carreira.
É interessante como através de todas essas personas, "A Grande Virada" é capaz de oferecer uma crítica perspicaz sobre o mundo corporativo e, consequentemente, sobre aqueles que tomam as decisões, a fim de mostrar como as empresas priorizam o lucro em detrimento de seus colaboradores e como a ganância pode, tranquilamente, destruir muitas vidas sem ao menos se dar conta disso. O roteiro é ainda muito feliz ao abordar questões sociais relevantes, como a perda de empregos durante uma crise econômica e a dificuldade de reinserção no mercado de trabalho em diferentes aspectos - da manutenção dos altos salários ao problema de se ter uma idade avançada.
A fotografia do mestre Roger Deakins (de "1917") captura toda essa atmosfera melancólica e desoladora da história, com uma paleta de cores frias e com cenas que refletem a solidão dos personagens que chega a incomodar! Mesmo que o filme possa parecer lento em certos momentos, é no seu esmero estético e nas performances de seu elenco que encontramos o valor dramático de sua proposta. Reparem como, a todo momento, o filme nos oferece uma reflexão profunda sobre a vida além do trabalho enquanto a busca pelo significado pessoal parece estar tão conectada ao dinheiro que nos esquecemos do que realmente vale a pena. Olha, uma aula!
Vale muito o seu play!
Esse filme é uma pancada muito bem dada! Sério, é impressionante como "A Grande Virada" aborda de uma maneira incrivelmente realista e contundente os efeitos devastadores do desemprego e, consequentemente, da perda de identidade que muitos executivos enfrentaram pós-crise de 2008, quando, da noite para o dia, foram demitidos sem muitas explicações. O talentoso diretor e roteirista John Wells (de "West King") constrói uma narrativa muito sólida, cheia de nuances, que mergulha nas vidas dos protagonistas de modo a explorar suas lutas mais íntimas e suas transformações pessoais, além, obviamente, de fazer um recorte emocionante sobre os reflexos sociais dessa delicada situação - tudo como se fosse um documentário (não na forma, mas na profundidade do conteúdo).
"The Company Men" (no original) acompanha a vida de três executivos de uma grande empresa que são demitidos devido a crise financeira de 2008. O filme explora as consequências emocionais e financeiras que eles enfrentam enquanto tentam se adaptar a uma nova realidade e encontrar um propósito além de suas carreiras. Confira o trailer (em inglês):
O filme, de cara, se destaca por seu elenco brilhante. Ben Affleck interpreta Bobby Walker, um jovem executivo ambicioso e bem-sucedido, cuja vida desmorona após ser demitido. Affleck oferece uma interpretação convincente, retratando de forma comovente o impacto emocional que o desemprego tem sobre seu personagem. Tommy Lee Jones (Gene McClary) é um executivo de alto escalão que sofre com as demissões de sua equipe, no entanto sua atuação traz uma mistura de determinação e vulnerabilidade, enquanto ele lida com as mudanças em sua vida e as pressões financeiras de uma possível (e latente) demissão. A forma como Jones acrescenta essa camada de insegurança mesmo quando navega por mares aparentemente tranquilos, tem um impacto impressionante na nossa experiência como audiência. Mas talvez seja o personagem de Chris Cooper, o Phil Woodward (um veterano funcionário da empresa que está prestes a se aposentar) que transmite a maior angústia entre todos - pela idade, pela forma como enxerga a vida e, principalmente, pela dificuldade de encontrar um propósito ao perder a segurança que tinha em sua carreira.
É interessante como através de todas essas personas, "A Grande Virada" é capaz de oferecer uma crítica perspicaz sobre o mundo corporativo e, consequentemente, sobre aqueles que tomam as decisões, a fim de mostrar como as empresas priorizam o lucro em detrimento de seus colaboradores e como a ganância pode, tranquilamente, destruir muitas vidas sem ao menos se dar conta disso. O roteiro é ainda muito feliz ao abordar questões sociais relevantes, como a perda de empregos durante uma crise econômica e a dificuldade de reinserção no mercado de trabalho em diferentes aspectos - da manutenção dos altos salários ao problema de se ter uma idade avançada.
A fotografia do mestre Roger Deakins (de "1917") captura toda essa atmosfera melancólica e desoladora da história, com uma paleta de cores frias e com cenas que refletem a solidão dos personagens que chega a incomodar! Mesmo que o filme possa parecer lento em certos momentos, é no seu esmero estético e nas performances de seu elenco que encontramos o valor dramático de sua proposta. Reparem como, a todo momento, o filme nos oferece uma reflexão profunda sobre a vida além do trabalho enquanto a busca pelo significado pessoal parece estar tão conectada ao dinheiro que nos esquecemos do que realmente vale a pena. Olha, uma aula!
Vale muito o seu play!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").
A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):
Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.
A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.
"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!
Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").
A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):
Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.
A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.
"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!
Divertido e envolvente! "A Mais Pura Verdade" é uma minissérie rápida - daquelas perfeitas para maratonar de uma vez! Lançada em 2021 pela Netflix, "A Mais Pura Verdade" foi criada por Eric Newman (a mente criativa de "Narcos" e "Griselda") e traz para tela muito suspense, drama e um toque de ironia, ao explorar os limites da fama, as complexidades do sucesso e as consequências de algumas decisões desesperadas. Estrelada por Kevin Hart, em um de seus papéis mais interessantes até hoje, a minissérie se apoia no caos que se torna a vida de um astro da comédia depois que ele comete um crime e tenta sair ileso. Olha, bem na linha de um bom thriller psicológico, é inegável como a trama, mesmo soando previsível desde o início, ainda assim nos mantém conectados com o drama do protagonista. Para aqueles que gostam de explorar a escuridão por trás das luzes brilhantes da fama, "True Story" (no original) oferece, de fato, uma experiência cativante e intensa durante os sete episódios.
A história gira em torno de Kid (Kevin Hart), um comediante de stand-up que alcançou enorme sucesso e fama. Durante uma parada em sua cidade natal, Filadélfia, em uma turnê, a vida de Kid rapidamente desmorona quando ele se vê envolvido em um evento trágico. O que começa como uma noite de festa. termina com um incidente fatal, e Kid, junto com seu problemático irmão mais velho, Carlton (Wesley Snipes), é forçado a lidar com as consequências de suas ações. À medida que a trama avança, segredos são revelados e a audiência é levada a questionar quem Kid realmente é e até onde ele irá para proteger sua carreira. Confira o trailer:
É indiscutível a habilidade de Eric Newman em criar narrativas tensas e envolventes - e mais uma vez, ele acerta na mosca! "A Mais Pura Verdade" é estruturada em um formato dos mais interessantes, onde em cada episódio, encontramos uma verdadeira mistura de gêneros que vai desde o suspense psicológico até o drama de personagem, sempre pontuado por um suspiro de humor negro e por alguma reviravolta que nos tira da zona de conforto. Sim, esse é aquele tipo de entretenimento onde a sensação de "vai dar ruim" nos acompanha por toda a jornada. A direção da minissérie, dividida entre Stephen Williams (de "Watchmen") e Hanelle M. Culpepper (de "Westworld") é extremamente eficaz em criar essa atmosfera claustrofóbica que reflete a crescente paranoia e o desespero de Kid perante um problema que só vai se complicando. A fotografia, repare, é sombria e estilizada - com uma iluminação contrastante que captura o estado mental tumultuado do protagonista e as incertezas de suas escolhas. Outro ponto interessante é como os ambientes urbanos da Filadélfia são filmados de maneira a refletir tanto a grandiosidade quanto a decadência, sublinhando o contraste entre o brilho superficial da fama e a escuridão que se esconde por trás dela. Genial!
Kevin Hart entrega uma performance surpreendentemente dramática como Kid, mostrando uma faceta mais séria e emocionalmente complexa de suas habilidades como ator. Hart, geralmente conhecido por seu trabalho em comédias, consegue transmitir a angústia e o conflito interno de um homem que enfrenta consequências devastadoras de seus próprios erros. Sua performance é crível e ressonante, tornando Kid um personagem cheio de camadas, humano - facilitando a identificação apesar de suas falhas. Wesley Snipes, como Carlton, também oferece uma performance igualmente forte. Snipes traz uma presença cheia de marcas, eu diria intensa para o papel, interpretando um homem conturbado, invejoso, fracassado, mas que mesmo assim encontra as suas próprias razões para proteger seu irmão. A química entre Hart e Snipes é ótima - uma dinâmica de amor fraternal e desconfiança mútua que só fortalece o núcleo mais emocional da minissérie.
Obviamente que "A Mais Pura Verdade" não está isenta de críticas - em sua tentativa de manter um ritmo acelerado e um alto nível de suspense, Newman parece escolher sacrificar o desenvolvimento mais profundo de alguns personagens secundários para se apoiar nas várias reviravoltas que acompanham os protagonistas e que acabam nos mantendo ligados. Isso não diminui o impacto da história, mas deixa "A Mais Pura Verdade" na prateleira do bom entretenimento, mesmo tendo potencial para ser ainda mais provocadora. Ok, faz parte do jogo e mesmo com uma exploração corajosa dos lados obscuros da fama e das escolhas que as pessoas fazem sob pressão, a minissérie não deixa de questionar o que realmente significa ter sucesso e como as consequências morais de algumas decisões se tornam até irrelevantes quando estamos sob os holofotes. Para pensar!
Vale seu play!
Divertido e envolvente! "A Mais Pura Verdade" é uma minissérie rápida - daquelas perfeitas para maratonar de uma vez! Lançada em 2021 pela Netflix, "A Mais Pura Verdade" foi criada por Eric Newman (a mente criativa de "Narcos" e "Griselda") e traz para tela muito suspense, drama e um toque de ironia, ao explorar os limites da fama, as complexidades do sucesso e as consequências de algumas decisões desesperadas. Estrelada por Kevin Hart, em um de seus papéis mais interessantes até hoje, a minissérie se apoia no caos que se torna a vida de um astro da comédia depois que ele comete um crime e tenta sair ileso. Olha, bem na linha de um bom thriller psicológico, é inegável como a trama, mesmo soando previsível desde o início, ainda assim nos mantém conectados com o drama do protagonista. Para aqueles que gostam de explorar a escuridão por trás das luzes brilhantes da fama, "True Story" (no original) oferece, de fato, uma experiência cativante e intensa durante os sete episódios.
A história gira em torno de Kid (Kevin Hart), um comediante de stand-up que alcançou enorme sucesso e fama. Durante uma parada em sua cidade natal, Filadélfia, em uma turnê, a vida de Kid rapidamente desmorona quando ele se vê envolvido em um evento trágico. O que começa como uma noite de festa. termina com um incidente fatal, e Kid, junto com seu problemático irmão mais velho, Carlton (Wesley Snipes), é forçado a lidar com as consequências de suas ações. À medida que a trama avança, segredos são revelados e a audiência é levada a questionar quem Kid realmente é e até onde ele irá para proteger sua carreira. Confira o trailer:
É indiscutível a habilidade de Eric Newman em criar narrativas tensas e envolventes - e mais uma vez, ele acerta na mosca! "A Mais Pura Verdade" é estruturada em um formato dos mais interessantes, onde em cada episódio, encontramos uma verdadeira mistura de gêneros que vai desde o suspense psicológico até o drama de personagem, sempre pontuado por um suspiro de humor negro e por alguma reviravolta que nos tira da zona de conforto. Sim, esse é aquele tipo de entretenimento onde a sensação de "vai dar ruim" nos acompanha por toda a jornada. A direção da minissérie, dividida entre Stephen Williams (de "Watchmen") e Hanelle M. Culpepper (de "Westworld") é extremamente eficaz em criar essa atmosfera claustrofóbica que reflete a crescente paranoia e o desespero de Kid perante um problema que só vai se complicando. A fotografia, repare, é sombria e estilizada - com uma iluminação contrastante que captura o estado mental tumultuado do protagonista e as incertezas de suas escolhas. Outro ponto interessante é como os ambientes urbanos da Filadélfia são filmados de maneira a refletir tanto a grandiosidade quanto a decadência, sublinhando o contraste entre o brilho superficial da fama e a escuridão que se esconde por trás dela. Genial!
Kevin Hart entrega uma performance surpreendentemente dramática como Kid, mostrando uma faceta mais séria e emocionalmente complexa de suas habilidades como ator. Hart, geralmente conhecido por seu trabalho em comédias, consegue transmitir a angústia e o conflito interno de um homem que enfrenta consequências devastadoras de seus próprios erros. Sua performance é crível e ressonante, tornando Kid um personagem cheio de camadas, humano - facilitando a identificação apesar de suas falhas. Wesley Snipes, como Carlton, também oferece uma performance igualmente forte. Snipes traz uma presença cheia de marcas, eu diria intensa para o papel, interpretando um homem conturbado, invejoso, fracassado, mas que mesmo assim encontra as suas próprias razões para proteger seu irmão. A química entre Hart e Snipes é ótima - uma dinâmica de amor fraternal e desconfiança mútua que só fortalece o núcleo mais emocional da minissérie.
Obviamente que "A Mais Pura Verdade" não está isenta de críticas - em sua tentativa de manter um ritmo acelerado e um alto nível de suspense, Newman parece escolher sacrificar o desenvolvimento mais profundo de alguns personagens secundários para se apoiar nas várias reviravoltas que acompanham os protagonistas e que acabam nos mantendo ligados. Isso não diminui o impacto da história, mas deixa "A Mais Pura Verdade" na prateleira do bom entretenimento, mesmo tendo potencial para ser ainda mais provocadora. Ok, faz parte do jogo e mesmo com uma exploração corajosa dos lados obscuros da fama e das escolhas que as pessoas fazem sob pressão, a minissérie não deixa de questionar o que realmente significa ter sucesso e como as consequências morais de algumas decisões se tornam até irrelevantes quando estamos sob os holofotes. Para pensar!
Vale seu play!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!
A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:
O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer".
"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!
"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!
A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:
O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer".
"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").
Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):
Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!
Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.
"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!
Vale muito o seu play!
Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").
Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):
Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!
Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.
"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!
Vale muito o seu play!
"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.
O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).
O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!
É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!
"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.
O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).
O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!
É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!
Confira o trailer:
Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!
É de se imaginar que no livro de Joan Didion, a história de "A última coisa que ele queria" avance com mais naturalidade e as peças do quebra-cabeça não sejam tão aleatórias, pois certamente existe uma coerência dramática na construção das motivações da protagonista. Nessa adaptação, o roteiro se perde com alguns elementos que para o filme não fazem o menor sentido. A relação de Elena McMahon com sua filha e a citação do seu câncer de mama criam o drama, mas não se justificam - experimente tirar todas essas cenas e reparem se faz (ou não) alguma diferença no resultado final! É claro que, com mais tempo, esses dramas seriam essenciais para a construção da personagem - mais ou menos como a bipolaridade e a tensão sexual serviam de gatilhos para Carrie Mathison (Claire Danes) em "Homeland". As relações estabelecidas com seu pai Dick (Willem Dafoe) e com o Treat Morrison (Ben Affleck) são superficiais, baseado em motivações sem questionamentos ou preocupações - Treat Morrison, por exemplo, parece o "Mestre do Magos": ele aparece (e some) em todos os lugares do planeta como em um passe de mágica!
Quando o filme começa com Elena McMahon cobrindo o conflito militar de El Salvador em 1982 e depois questionando o governo americano sobre uma possível relação com grupos milicianos da região, temos a impressão que tudo vai funcionar bem, porém quando o drama do seu pai é inserido na trama e uma série de personagens começam a surgir na história sem nenhuma explicação, ficamos apenas com a tensão que a personagem está vivendo por estar em um ambiente completamente inóspito, onde a chance de tudo acabar mal é muito grande - e aí temos o alivio dramático com o excelente trabalho de Hathaway. A direção consegue construir esse clima (tirando a última cena de Elena McMahon que foi pessimamente realizada), a fotografia do Bobby Bukowski não compromete (mas também não empolga), o desenho de produção é bem interessante na reconstrução dos anos 80 caribenho, mas o roteiro não acompanha - parece que faltaram cenas que contassem melhor a história! Embora o final tenha um certo valor, percebemos claramente um descompasso entre um primeiro ato interessante, um segundo ato fraco e um terceiro bem confuso e corrido.
"A última coisa que ele queria" deixa um gostinho de que poderia ser melhor - mas não nesse formato! Quem gosta de tramas politicas com aquele tempero investigativo vai se divertir mais do que aqueles que buscam apenas um bom entretenimento, mas ambos não vão terminar o filme com aquela sensação maravilhosa de ter assistido algo incrível!
"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!
Confira o trailer:
Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!
É de se imaginar que no livro de Joan Didion, a história de "A última coisa que ele queria" avance com mais naturalidade e as peças do quebra-cabeça não sejam tão aleatórias, pois certamente existe uma coerência dramática na construção das motivações da protagonista. Nessa adaptação, o roteiro se perde com alguns elementos que para o filme não fazem o menor sentido. A relação de Elena McMahon com sua filha e a citação do seu câncer de mama criam o drama, mas não se justificam - experimente tirar todas essas cenas e reparem se faz (ou não) alguma diferença no resultado final! É claro que, com mais tempo, esses dramas seriam essenciais para a construção da personagem - mais ou menos como a bipolaridade e a tensão sexual serviam de gatilhos para Carrie Mathison (Claire Danes) em "Homeland". As relações estabelecidas com seu pai Dick (Willem Dafoe) e com o Treat Morrison (Ben Affleck) são superficiais, baseado em motivações sem questionamentos ou preocupações - Treat Morrison, por exemplo, parece o "Mestre do Magos": ele aparece (e some) em todos os lugares do planeta como em um passe de mágica!
Quando o filme começa com Elena McMahon cobrindo o conflito militar de El Salvador em 1982 e depois questionando o governo americano sobre uma possível relação com grupos milicianos da região, temos a impressão que tudo vai funcionar bem, porém quando o drama do seu pai é inserido na trama e uma série de personagens começam a surgir na história sem nenhuma explicação, ficamos apenas com a tensão que a personagem está vivendo por estar em um ambiente completamente inóspito, onde a chance de tudo acabar mal é muito grande - e aí temos o alivio dramático com o excelente trabalho de Hathaway. A direção consegue construir esse clima (tirando a última cena de Elena McMahon que foi pessimamente realizada), a fotografia do Bobby Bukowski não compromete (mas também não empolga), o desenho de produção é bem interessante na reconstrução dos anos 80 caribenho, mas o roteiro não acompanha - parece que faltaram cenas que contassem melhor a história! Embora o final tenha um certo valor, percebemos claramente um descompasso entre um primeiro ato interessante, um segundo ato fraco e um terceiro bem confuso e corrido.
"A última coisa que ele queria" deixa um gostinho de que poderia ser melhor - mas não nesse formato! Quem gosta de tramas politicas com aquele tempero investigativo vai se divertir mais do que aqueles que buscam apenas um bom entretenimento, mas ambos não vão terminar o filme com aquela sensação maravilhosa de ter assistido algo incrível!
Parece ficção, mas é real - e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!
Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):
O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.
Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.
Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.
Vale muito o seu play!
Parece ficção, mas é real - e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!
Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):
O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.
Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.
Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.
Vale muito o seu play!
Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!
Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:
Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!
Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.
“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!
Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!
Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:
Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!
Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.
“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!
Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo.
"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):
Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!
Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.
Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).
Vale muito o seu play!
Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo.
"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):
Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!
Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.
Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).
Vale muito o seu play!
É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!
Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:
Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles.
É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,
"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.
É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!
Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:
Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles.
É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,
"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.
"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união.
O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim
Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).
"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!
A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!
"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!
Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!
"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união.
O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim
Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).
"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!
A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!
"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!
Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!
Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.
"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:
Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.
A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.
"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.
Olha, vale muito o seu play!
Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.
"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:
Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.
A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.
"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.
Olha, vale muito o seu play!