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Dirty John – O Golpe do Amor

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

Assista Agora

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

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O Desaparecimento de Madeleine McCann

De cara eu já te digo:  "O Desaparecimento de Madeleine McCann" é viciante!!! A série de 8 episódios, com 50 minutos em média, conta, em detalhes, tudo o que envolveu a investigação sobre o sumiço da garotinha inglesa Madeleine em Portugal.

Mas antes das minhas impressões, vamos entender o que aconteceu: um casal de médicos ingleses viaja para um Resort, em uma linda praia de Portugal, com um grupo de amigos e seus respectivos filhos pequenos. Todos se divertem muito no verão europeu até que um dia resolvem sair para jantar e deixam as crianças no quarto dormindo. Como o restaurante ficava no mesmo complexo e era bem próximo aos quartos, tudo parecia normal, tranquilo, seguro - além do que, a cada 30 minutos ia alguém dar aquela espiada para ver se estava tudo certo com as crianças. Bom, por volta das 22:00, a mãe de Madeleine vai até o quarto e percebe que sua filha não está mais lá, seus outros filhos (um casal de gêmeos) continuavam dormindo no mesmo quarto, mas Madeleine havia desaparecido do nada!  Começava ai um mobilização no hotel e seus hospedes em busca da menina desaparecida!!! Só por esse prólogo já dá para começar os julgamentos...rs, ou melhor, as perguntas: "Por que catso os pais deixaram as crianças sozinhas dormindo no quarto se o hotel disponibilizava um serviço de babá??? E é a partir dessa simples pergunta que começa a se desenrolar uma série de teorias (e conspirações) que fazem com que você não queira parar de assistir a série!!!

O diretor Chris Smith (o mesmo de Fyre) conduz os episódios incitando questionamentos a todo momento. As teorias que criamos vão variando de acordo com os fatos que vão sendo apresentados pouco a pouco e isso é sensacional! A estrutra narrativa que ele constrói é quase que uma provocação com quem assiste - ele mistura depoimentos, com imagens de arquivo, com encenações, de maneira muito equilibrada e inteligente: a sensação é como se ele nos perguntasse a toda hora: O que você acha que aconteceu? Quem é o culpado? E, meu amigo, posso te garantir, a cada episódio você vai mudando de idéia!!!

O Desaparecimento de Madeleine McCann" é uma experiência muito interessante, já que a série tem o mérito de te colocar dentro da investigação, com uma certa dramaticidade (claro), mas sem aquela tendência de te influenciar logo de cara como fez ""Making a Murderer", por exemplo. A "dúvida" é, de fato, a protagonista da série. Agora, um fator precisa ser levado em consideração: diferente de "The Jinx", "Starcase" ou o do próprio "Making a Murderer", nessa série, a vítima tem a nossa empatia e isso muda tudo!!!! Outro elemento muito bem explorado, e que também apareceu no documentário da Amanda Knox, é o fato das diferenças culturais e sociais entre portugueses e ingleses interferirem ativamente na investigação e, importante, na cobertura do caso pela imprensa!!! É impressionante como a atmosfera criada ficou hostil!!! Como as particularidades de cada cultura transformou o caso em um grande circo - por isso minha brincadeira sobre os "julgamentos" no inicio do texto!!!

"O Desaparecimento de Madeleine McCann" é um ótimo entretenimento, que vai te fazer refletir, que vai te tocar emocionalmente em vários momentos (principalmente se você tiver filhos) e que vai te provocar em cada episódio!!! Se você gosta de séries investigativas de ficção, é certo que essa série documental vai te conquistar. Para mim, tão boa quanto "O.J. Made in America" que ganhou o Oscar há dois anos atrás!!!

Vale muito o play!!!!

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De cara eu já te digo:  "O Desaparecimento de Madeleine McCann" é viciante!!! A série de 8 episódios, com 50 minutos em média, conta, em detalhes, tudo o que envolveu a investigação sobre o sumiço da garotinha inglesa Madeleine em Portugal.

Mas antes das minhas impressões, vamos entender o que aconteceu: um casal de médicos ingleses viaja para um Resort, em uma linda praia de Portugal, com um grupo de amigos e seus respectivos filhos pequenos. Todos se divertem muito no verão europeu até que um dia resolvem sair para jantar e deixam as crianças no quarto dormindo. Como o restaurante ficava no mesmo complexo e era bem próximo aos quartos, tudo parecia normal, tranquilo, seguro - além do que, a cada 30 minutos ia alguém dar aquela espiada para ver se estava tudo certo com as crianças. Bom, por volta das 22:00, a mãe de Madeleine vai até o quarto e percebe que sua filha não está mais lá, seus outros filhos (um casal de gêmeos) continuavam dormindo no mesmo quarto, mas Madeleine havia desaparecido do nada!  Começava ai um mobilização no hotel e seus hospedes em busca da menina desaparecida!!! Só por esse prólogo já dá para começar os julgamentos...rs, ou melhor, as perguntas: "Por que catso os pais deixaram as crianças sozinhas dormindo no quarto se o hotel disponibilizava um serviço de babá??? E é a partir dessa simples pergunta que começa a se desenrolar uma série de teorias (e conspirações) que fazem com que você não queira parar de assistir a série!!!

O diretor Chris Smith (o mesmo de Fyre) conduz os episódios incitando questionamentos a todo momento. As teorias que criamos vão variando de acordo com os fatos que vão sendo apresentados pouco a pouco e isso é sensacional! A estrutra narrativa que ele constrói é quase que uma provocação com quem assiste - ele mistura depoimentos, com imagens de arquivo, com encenações, de maneira muito equilibrada e inteligente: a sensação é como se ele nos perguntasse a toda hora: O que você acha que aconteceu? Quem é o culpado? E, meu amigo, posso te garantir, a cada episódio você vai mudando de idéia!!!

O Desaparecimento de Madeleine McCann" é uma experiência muito interessante, já que a série tem o mérito de te colocar dentro da investigação, com uma certa dramaticidade (claro), mas sem aquela tendência de te influenciar logo de cara como fez ""Making a Murderer", por exemplo. A "dúvida" é, de fato, a protagonista da série. Agora, um fator precisa ser levado em consideração: diferente de "The Jinx", "Starcase" ou o do próprio "Making a Murderer", nessa série, a vítima tem a nossa empatia e isso muda tudo!!!! Outro elemento muito bem explorado, e que também apareceu no documentário da Amanda Knox, é o fato das diferenças culturais e sociais entre portugueses e ingleses interferirem ativamente na investigação e, importante, na cobertura do caso pela imprensa!!! É impressionante como a atmosfera criada ficou hostil!!! Como as particularidades de cada cultura transformou o caso em um grande circo - por isso minha brincadeira sobre os "julgamentos" no inicio do texto!!!

"O Desaparecimento de Madeleine McCann" é um ótimo entretenimento, que vai te fazer refletir, que vai te tocar emocionalmente em vários momentos (principalmente se você tiver filhos) e que vai te provocar em cada episódio!!! Se você gosta de séries investigativas de ficção, é certo que essa série documental vai te conquistar. Para mim, tão boa quanto "O.J. Made in America" que ganhou o Oscar há dois anos atrás!!!

Vale muito o play!!!!

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Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror

"Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" é uma excelente série documental da Netflix que coloca na linha do tempo as "causas" e "consequências" do 11 de setembro pelo ponto de vista de várias pessoas que de alguma forma estiveram (e estão) envolvidas com a relação entre os EUA e os grupos terroristas da Al-Qaeda e do Talibã. E aqui cabe uma primeira observação: o documentário é muito cuidadoso em apontar quem são os bandidos e quem são os mocinhos dessa história e ao assistir os cinco episódios, nossa sensação é que os mocinhos simplesmente não existem!

Como é de se imaginar, "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" acompanha os ataques terroristas lançados contra o World Trade Center pela Al-Qaeda em setembro de 2001, explorando desde as origens da organização terrorista na década de 1980, passando pela violenta resposta dos EUA no Oriente Médio depois dos ataques até os dias de hoje e o recente processo de desocupação das foças americanas no Afeganistão. Confira o trailer (em inglês):

Talvez "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" seja o documentário que melhor explica tudo que envolveu os ataques terroristas até hoje. Misturando muitas imagens de arquivo, gravações telefônicas, depoimentos de muitos personagens (uns bastante impactantes, inclusive), fotografias e documentos confidenciais, no fim da jornada é possível ter a exata noção de como o ser humano é um caso perdido! Desculpem a constatação, mas a forma como as peças vão se encaixando e as ações vão sendo discutidas, não raramente mostrando os dois lados da história, é de se perder a fé perante a humanidade - alguns depoimentos são tão sinceros, doloridos, além de editados de uma forma tão sensacional, que fica impossível não se emocionar e, claro, refletir sobre tudo.

O diretor Brian Knappenberger, do ótimo "Nobody Speak: Trials of the Free Press", criou uma dinâmica bastante interessante para contar a história do 11 de setembro. Knappenberger vai e volta no tempo de acordo com as ramificações que cada assunto vai abrindo. Veja, em um único documentários acompanhamos a relação da União Soviética com o Afeganistão, o nascimento da Al-Qaeda, os conflitos entre Bush e Saddam Hussein, os abusos que aconteceram em Guantánamo, o despreparo de alguns oficiais do exército americano para traçar estratégias de combate, os absurdos (e desvios) durante a criação de um novo exército afegão, como se deu a caçada a Osama Bin Laden, entre várias outras passagens marcantes da "Guerra contra o Terror" mesmo antes dela existir.

O bacana "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror"é que todos os assuntos abordados, embora sem tanta profundidade, são extremamente bem pontuados e explicados de uma forma didática até, porém muito fácil de acompanhar - cada assunto faz sentido no todo e isso nos causa uma agradável sensação de conhecimento de causa. Vale dizer que os cinco episódios podem ser destrinchados se buscarmos outros títulos para termos uma visão mais completa sobre os temas - "9/11: Inside the President's War Room" mostra os ataques pelos olhos do presidente Bush e de seu staff; "Vice"conta a história Dick Cheney, vice-presidente dos EUA e responsável pela invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro; "Segredos Oficiais" acompanha uma funcionária inglesa que recebeu ordens para que buscasse informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque; e assim por diante.

Como disse, são muitos filmes e séries sobre vários sub-temas que se conectam ao documentário "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" - então a partir desse competente overview vai ficar mais fácil decidir qual caminho seguir daqui para frente para se aprofundar nessas histórias que marcaram a humanidade.

Vale muito a pena, mesmo!!!

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"Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" é uma excelente série documental da Netflix que coloca na linha do tempo as "causas" e "consequências" do 11 de setembro pelo ponto de vista de várias pessoas que de alguma forma estiveram (e estão) envolvidas com a relação entre os EUA e os grupos terroristas da Al-Qaeda e do Talibã. E aqui cabe uma primeira observação: o documentário é muito cuidadoso em apontar quem são os bandidos e quem são os mocinhos dessa história e ao assistir os cinco episódios, nossa sensação é que os mocinhos simplesmente não existem!

Como é de se imaginar, "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" acompanha os ataques terroristas lançados contra o World Trade Center pela Al-Qaeda em setembro de 2001, explorando desde as origens da organização terrorista na década de 1980, passando pela violenta resposta dos EUA no Oriente Médio depois dos ataques até os dias de hoje e o recente processo de desocupação das foças americanas no Afeganistão. Confira o trailer (em inglês):

Talvez "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" seja o documentário que melhor explica tudo que envolveu os ataques terroristas até hoje. Misturando muitas imagens de arquivo, gravações telefônicas, depoimentos de muitos personagens (uns bastante impactantes, inclusive), fotografias e documentos confidenciais, no fim da jornada é possível ter a exata noção de como o ser humano é um caso perdido! Desculpem a constatação, mas a forma como as peças vão se encaixando e as ações vão sendo discutidas, não raramente mostrando os dois lados da história, é de se perder a fé perante a humanidade - alguns depoimentos são tão sinceros, doloridos, além de editados de uma forma tão sensacional, que fica impossível não se emocionar e, claro, refletir sobre tudo.

O diretor Brian Knappenberger, do ótimo "Nobody Speak: Trials of the Free Press", criou uma dinâmica bastante interessante para contar a história do 11 de setembro. Knappenberger vai e volta no tempo de acordo com as ramificações que cada assunto vai abrindo. Veja, em um único documentários acompanhamos a relação da União Soviética com o Afeganistão, o nascimento da Al-Qaeda, os conflitos entre Bush e Saddam Hussein, os abusos que aconteceram em Guantánamo, o despreparo de alguns oficiais do exército americano para traçar estratégias de combate, os absurdos (e desvios) durante a criação de um novo exército afegão, como se deu a caçada a Osama Bin Laden, entre várias outras passagens marcantes da "Guerra contra o Terror" mesmo antes dela existir.

O bacana "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror"é que todos os assuntos abordados, embora sem tanta profundidade, são extremamente bem pontuados e explicados de uma forma didática até, porém muito fácil de acompanhar - cada assunto faz sentido no todo e isso nos causa uma agradável sensação de conhecimento de causa. Vale dizer que os cinco episódios podem ser destrinchados se buscarmos outros títulos para termos uma visão mais completa sobre os temas - "9/11: Inside the President's War Room" mostra os ataques pelos olhos do presidente Bush e de seu staff; "Vice"conta a história Dick Cheney, vice-presidente dos EUA e responsável pela invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro; "Segredos Oficiais" acompanha uma funcionária inglesa que recebeu ordens para que buscasse informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque; e assim por diante.

Como disse, são muitos filmes e séries sobre vários sub-temas que se conectam ao documentário "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" - então a partir desse competente overview vai ficar mais fácil decidir qual caminho seguir daqui para frente para se aprofundar nessas histórias que marcaram a humanidade.

Vale muito a pena, mesmo!!!

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Schumacher

"Schumacher" é muito mais uma homenagem ao piloto do que um documentário com passagens inéditas ou curiosidades de bastidores - como atleta ou sobre seu acidente. Na verdade, talvez o momento mais marcante do filme seja justamente quando vemos a relação entre ele e Senna, antes e depois do acidente -  eu diria até que esse é o ponto alto do documentário, o que para mim, amante da Fórmula 1, é pouco perante o tamanho que foi Michael Schumacher.

A Netflix apresentou o projeto da seguinte maneira: "Schumacher" é o documentário definitivo sobre um dos maiores nomes da Fórmula 1. O único filme aprovado pela família do piloto, traz entrevistas raras e imagens de arquivos nunca antes reveladas, para traçar um sensível perfil do homem que foi 7 vezes campeão mundial. Confira o trailer:

Dirigido porHanns-Bruno Kammertöns, Michael Wech e Vanessa Nöcke (todos responsáveis pelo documentários de outro ídolo do esporte alemão "Boris Becker: Der Spieler"), "Schumacher" tem uma narrativa dinâmica e para quem acompanha Fórmula 1 há alguns bons anos, certamente vai trazer uma sensação de nostalgia bastante interessante. É preciso dizer, porém, que o documentário não tem a qualidade cinematográfica de "Senna" e muito menos de "Formula 1: Dirigir para Viver" - é como se os diretores e roteiristas não quisesse arriscar em nenhum momento. Veja, a forma cronológica e linear como a carreira de Schumacher é construída, se apoia muito mais no seu envolvimento com o automobilismo do que na construção de um ícone do esporte - e aqui a comparação com "Senna" (o documentário) é ainda mais cruel.

Desde muito cedo, Michael se dedicou ao automobilismo, começou em uma equipe pequena (no caso a Jordan), logo depois chamou a atenção da Benetton - na época a quarta força do circuito, até ser o piloto mais jovem a vencer uma corrida e depois levar a equipe ao título em 1994. Tudo isso nós já sabemos, então o que esperávamos era um pouco mais de intimidade, dos bastidores - e por esse caminho, vemos muito pouco. Mesmo com depoimentos de pilotos como o irmão Ralf Schumacher, o ex-companheiro Eddie Irvine, David Coulthard, Mika Hakkinen e Sebastian Vettel, faltam informações, histórias. Por isso comentei acima: o tom é tão leve, mesmo nas explosões e nas atitudes anti-desportivas que marcaram a trajetória do piloto, que tudo não passa de uma grande homenagem.

É natural a curiosidade sobre o acidente - não que se esperasse mostrar a situação atual do piloto, longe disso; mas apenas citar o acidente nos dez minutos finais do documentário, me soou decepcionante, confesso. Os poucos relatos mais íntimos da família, especialmente deCorinna, esposa de Michael, e dos filhos, Gina-Maria e Mick trazem um pouco de emoção ao documentário, mas é tão rápido que não dá nem tempo de mergulhamos no drama e na saudade.

"Schumacher" é um documentário imperdível? Não. Merece ser assistido? Não tenha a menor dúvida - principalmente para os amantes do esporte!

PS: Nem Barrichello e muito menos Massa (um dos melhores amigos do piloto) inexplicavelmente sequer são citados em todo documentário.

Assista Agora

"Schumacher" é muito mais uma homenagem ao piloto do que um documentário com passagens inéditas ou curiosidades de bastidores - como atleta ou sobre seu acidente. Na verdade, talvez o momento mais marcante do filme seja justamente quando vemos a relação entre ele e Senna, antes e depois do acidente -  eu diria até que esse é o ponto alto do documentário, o que para mim, amante da Fórmula 1, é pouco perante o tamanho que foi Michael Schumacher.

A Netflix apresentou o projeto da seguinte maneira: "Schumacher" é o documentário definitivo sobre um dos maiores nomes da Fórmula 1. O único filme aprovado pela família do piloto, traz entrevistas raras e imagens de arquivos nunca antes reveladas, para traçar um sensível perfil do homem que foi 7 vezes campeão mundial. Confira o trailer:

Dirigido porHanns-Bruno Kammertöns, Michael Wech e Vanessa Nöcke (todos responsáveis pelo documentários de outro ídolo do esporte alemão "Boris Becker: Der Spieler"), "Schumacher" tem uma narrativa dinâmica e para quem acompanha Fórmula 1 há alguns bons anos, certamente vai trazer uma sensação de nostalgia bastante interessante. É preciso dizer, porém, que o documentário não tem a qualidade cinematográfica de "Senna" e muito menos de "Formula 1: Dirigir para Viver" - é como se os diretores e roteiristas não quisesse arriscar em nenhum momento. Veja, a forma cronológica e linear como a carreira de Schumacher é construída, se apoia muito mais no seu envolvimento com o automobilismo do que na construção de um ícone do esporte - e aqui a comparação com "Senna" (o documentário) é ainda mais cruel.

Desde muito cedo, Michael se dedicou ao automobilismo, começou em uma equipe pequena (no caso a Jordan), logo depois chamou a atenção da Benetton - na época a quarta força do circuito, até ser o piloto mais jovem a vencer uma corrida e depois levar a equipe ao título em 1994. Tudo isso nós já sabemos, então o que esperávamos era um pouco mais de intimidade, dos bastidores - e por esse caminho, vemos muito pouco. Mesmo com depoimentos de pilotos como o irmão Ralf Schumacher, o ex-companheiro Eddie Irvine, David Coulthard, Mika Hakkinen e Sebastian Vettel, faltam informações, histórias. Por isso comentei acima: o tom é tão leve, mesmo nas explosões e nas atitudes anti-desportivas que marcaram a trajetória do piloto, que tudo não passa de uma grande homenagem.

É natural a curiosidade sobre o acidente - não que se esperasse mostrar a situação atual do piloto, longe disso; mas apenas citar o acidente nos dez minutos finais do documentário, me soou decepcionante, confesso. Os poucos relatos mais íntimos da família, especialmente deCorinna, esposa de Michael, e dos filhos, Gina-Maria e Mick trazem um pouco de emoção ao documentário, mas é tão rápido que não dá nem tempo de mergulhamos no drama e na saudade.

"Schumacher" é um documentário imperdível? Não. Merece ser assistido? Não tenha a menor dúvida - principalmente para os amantes do esporte!

PS: Nem Barrichello e muito menos Massa (um dos melhores amigos do piloto) inexplicavelmente sequer são citados em todo documentário.

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100 Metros

100 Metros

Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

Vale seu play!

Assista Agora

Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

Vale seu play!

Assista Agora

13 de Novembro: Terror em Paris

Por mais dolorido que possa parecer, a série documental da Netflix é um retrato da capacidade humana de se reinventar, seja nos momentos mais extremos, seja pela forma como ela reage ao evento que transformou sua vida!

São 3 episódios de quase 1 hora, mostrando minuto a minuto, tudo o que aconteceu naquela noite em Paris quando as primeiras explosões chamaram a atenção de todos que acompanhavam o amistoso França e Alemanha no Stade de France em Saint-Denis. As 80 mil pessoas que ali estavam, não tinham a menor noção do se transformaria aquela noite quando, poucos minutos depois, restaurantes e bares começaram a ser atacados por terroristas, culminando no massacre da boate Bataclan.

Pelo olhar e a lembrança de quem estava lá, em cada um desses lugares, ou pelos depoimentos de quem socorreu as vítimas naquela noite, e até pelas constatações dos políticos e policiais que precisaram tomar decisões difíceis durante os ataques, "13 de Novembro: Terror em Paris", talvez seja o documentário mais humano sobre um ataque terrorista que eu já assisti. É impressionante, marcante, mas, principalmente, necessário, pois só assim vamos entender o quanto a humanidade está machucada, mas ainda luta para continuar caminhando com a cabeça erguida!

A série mistura depoimentos com imagens de arquivos, vídeos feitos por celulares e até gravações da própria polícia, para ilustrar, em detalhes, o inferno de quem viveu e sobreviveu aos atentados. Muito interessante é a dinâmica que os diretores Gédéon Naudet e Jules Naudet, que já ganharam um Emmy pelo também excelente "9/11" de 2002, usaram para contar cada uma das histórias do ataque. Em nenhum momento sentimos um viés político, muito pelo contrário - nem o Estado Islâmico é citado durante os episódios. O foco é realmente o lado humano dos atentados e é aí que o drama pega forte. Fica fácil de visualizar aqueles momentos tão particulares que são contados pelos sobreviventes e isso dói. Os relatos são impressionantes, sinceros, sem nenhum tipo de máscara ou receio. É forte!!!!

Um dos artifícios usados pelos irmãos Naudet foi a inserção de elementos gráficos que serviram para pontuar o trajeto que os terroristas fizeram até chegar na Bataclan. Enquanto o primeiro episódio da série se dedica aos ataques nos restaurantes e bares, o segundo e o terceiro mergulham no interior da boate - o bacana é que, mesmo complexos, os fatos são facilmente explicados e localizados por uma  animação que ilustra perfeitamente onde estavam os personagens, os terroristas e, finalmente, os policiais. Fica tudo muito simples, fluido, o que, sem dúvida, nos coloca dentro da história sem a menor piedade. É belo como obra, como técnica de storytelling, mas difícil de digerir como ser humano!

"13 de Novembro: Terror em Paris" é uma bela surpresa escondida dentro do catálogo da Netflix. É preciso estar disposto para encarar uma história como essa, mas a experiência é extremamente imersiva e provocadora. É impossível não se colocar no lugar daquelas pessoas quando relatam o silêncio após os disparos, o cheiro de sangue misturado com pólvora, os clarões das explosões e até o barulho ensurdecedor dos celulares das vítimas tocando depois do massacre.  Embora esse seja o melhor elogio que um documentário pode receber, estar ali dentro, mesmo que pelos olhos dos outros, não é uma tarefa fácil!!!

Eu indico tranquilamente, mas assista sabendo que o assunto vai machucar e que o resultado da obra é um relato emocionante, cheio de detalhes, de uma noite que nunca mais será esquecida!!!!

Assista Agora 

Por mais dolorido que possa parecer, a série documental da Netflix é um retrato da capacidade humana de se reinventar, seja nos momentos mais extremos, seja pela forma como ela reage ao evento que transformou sua vida!

São 3 episódios de quase 1 hora, mostrando minuto a minuto, tudo o que aconteceu naquela noite em Paris quando as primeiras explosões chamaram a atenção de todos que acompanhavam o amistoso França e Alemanha no Stade de France em Saint-Denis. As 80 mil pessoas que ali estavam, não tinham a menor noção do se transformaria aquela noite quando, poucos minutos depois, restaurantes e bares começaram a ser atacados por terroristas, culminando no massacre da boate Bataclan.

Pelo olhar e a lembrança de quem estava lá, em cada um desses lugares, ou pelos depoimentos de quem socorreu as vítimas naquela noite, e até pelas constatações dos políticos e policiais que precisaram tomar decisões difíceis durante os ataques, "13 de Novembro: Terror em Paris", talvez seja o documentário mais humano sobre um ataque terrorista que eu já assisti. É impressionante, marcante, mas, principalmente, necessário, pois só assim vamos entender o quanto a humanidade está machucada, mas ainda luta para continuar caminhando com a cabeça erguida!

A série mistura depoimentos com imagens de arquivos, vídeos feitos por celulares e até gravações da própria polícia, para ilustrar, em detalhes, o inferno de quem viveu e sobreviveu aos atentados. Muito interessante é a dinâmica que os diretores Gédéon Naudet e Jules Naudet, que já ganharam um Emmy pelo também excelente "9/11" de 2002, usaram para contar cada uma das histórias do ataque. Em nenhum momento sentimos um viés político, muito pelo contrário - nem o Estado Islâmico é citado durante os episódios. O foco é realmente o lado humano dos atentados e é aí que o drama pega forte. Fica fácil de visualizar aqueles momentos tão particulares que são contados pelos sobreviventes e isso dói. Os relatos são impressionantes, sinceros, sem nenhum tipo de máscara ou receio. É forte!!!!

Um dos artifícios usados pelos irmãos Naudet foi a inserção de elementos gráficos que serviram para pontuar o trajeto que os terroristas fizeram até chegar na Bataclan. Enquanto o primeiro episódio da série se dedica aos ataques nos restaurantes e bares, o segundo e o terceiro mergulham no interior da boate - o bacana é que, mesmo complexos, os fatos são facilmente explicados e localizados por uma  animação que ilustra perfeitamente onde estavam os personagens, os terroristas e, finalmente, os policiais. Fica tudo muito simples, fluido, o que, sem dúvida, nos coloca dentro da história sem a menor piedade. É belo como obra, como técnica de storytelling, mas difícil de digerir como ser humano!

"13 de Novembro: Terror em Paris" é uma bela surpresa escondida dentro do catálogo da Netflix. É preciso estar disposto para encarar uma história como essa, mas a experiência é extremamente imersiva e provocadora. É impossível não se colocar no lugar daquelas pessoas quando relatam o silêncio após os disparos, o cheiro de sangue misturado com pólvora, os clarões das explosões e até o barulho ensurdecedor dos celulares das vítimas tocando depois do massacre.  Embora esse seja o melhor elogio que um documentário pode receber, estar ali dentro, mesmo que pelos olhos dos outros, não é uma tarefa fácil!!!

Eu indico tranquilamente, mas assista sabendo que o assunto vai machucar e que o resultado da obra é um relato emocionante, cheio de detalhes, de uma noite que nunca mais será esquecida!!!!

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13 Reasons Why

Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?

Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:

Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!

"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!

Vale muito a pena!

Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!

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Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?

Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:

Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!

"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!

Vale muito a pena!

Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!

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1408

"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.

Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):

Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).

Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.

Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.

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"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.

Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):

Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).

Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.

Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.

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22 July

Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.

Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:

"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.

Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.

Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!

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Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.

Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:

"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.

Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.

Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!

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7 anos

Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!

Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).

Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!

Vale o play!

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Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!

Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).

Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!

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A Baleia

Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!

A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.

O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.

Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!

Vale muito o seu play!

Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!

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Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!

A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.

O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.

Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!

Vale muito o seu play!

Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!

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A Bilionária, o Mordomo e o Namorado

A única coisa ruim de "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado", minissérie documental da Netflix, é o nome. Quilômetros de se alinhar com a proposta de retratar os bastidores da vida de Liliane Bettencourt, herdeira do império L'Oréal e considerada a mulher mais rica do mundo, o título diminui demais o valor histórico da trama que envolve desde espionagem, passando pelas brigas envolvendo sua família até chegar em conspirações politicas que quase derrubaram um presidente. E escrevo isso com a tranquilidade de quem achou que, em um primeiro olhar, se tratava de uma versão elegante de "Proibido por Deus"! Muito pelo contrário, aqui a narrativa nos leva para uma complexa teia de relacionamentos, dinheiro, poder e influência que deixaria os roteiristas de "The Crown" e de "Succession" de cabelo em pé - aliás, que série seria se a história dos Bettencourt fosse contada em detalhes na ficção! 

Escândalo nas manchetes de todos os meios de comunicação franceses na década de 2010, o caso Bettencourt é o centro de uma história sombria onde uma bilionária idosa e fragilizada precisa lidar com várias pessoas tentando explorar sua riqueza, entre eles um fotógrafo picareta e um secretário de confiança; com uma filha distante determinada a obter a sua tutela legal  e até mesmo com um mordomo que atuou como espião ao instalar microfones por toda a mansão e que depois ainda liberou todas essas gravações para a imprensa. Confira o trailer (em francês):

"L'Affaire Bettencourt: Scandale chez la femme la plus riche du monde" (no original), de fato, tem uma narrativa, habilmente construída pelos diretores Baptiste Etchegaray e Maxime Bonnet, muito envolvente - com depoimentos de peças-chave de todo o escândalo que envolveu a família (como Patrice de Maistre, secretário de Liliane), imagens de arquivo, reconstituições criadas tendo as fitas gravadas pelo mordomo como fio condutor e interferências gráficas belíssimas; a minissérie tem tudo para agradar quem gosta de um "barraco chique" - desculpem o tom da expressão (e não falo de superficialidade), mas é que é impossível não lembrar das passagens constrangedoras de "Succession" ao assistir esses três episódios.

Aqui é possível encontrar uma pesquisa minuciosa, com interações de jornalistas, amigos pessoais e até políticos influentes, que validam aquilo tudo que está sendo mostrado em retrospectiva - é como se esses depoimentos quisessem justificar tudo que aconteceu entre Liliane Bettencourt, sua filha Françoise Bettencourt Meyers, seu amigo François Marie Banier e, claro, Nicolas Sarkozy e seu ministro Eric Woerth. O roteiro é inteligente o bastante para, ao mesmo tempo que revela detalhes e nuances da vida de Liliane que escaparam à atenção pública,  também expõe a influência política da família, lançando luz sobre uma complexa rede de relações pautadas no poder e no dinheiro que transita nas esferas políticas da França.

Mesmo que possa soar assunto de programa de fofoca, a minissérie sabe equilibrar muito bem nossa natural curiosidade pelo estilo de vida de uma mulher tão rica como Liliane, com uma análise mais crítica sobre os problemas que rodeavam sua família através dos anos. Existe sim uma busca pelos culpados, ou pelo menos pelas razões que fizeram pessoas agirem de uma forma, digamos, muito suspeita, mas é revelando o retrato humano, que transcende a espetacularização dos escândalos, que a "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado" ganha força. Mesmo que o "Namorado" nunca tenha sido um namorado, que o "Mordomo" praticamente passe despercebido, é a história da "Bilionária" que nos faz ficar grudado na tela até o seu final - que aliás, deixa um certo gosto amargo e nos faz refletir sobre o que realmente representa a felicidade!

Vale muito o seu play!

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A única coisa ruim de "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado", minissérie documental da Netflix, é o nome. Quilômetros de se alinhar com a proposta de retratar os bastidores da vida de Liliane Bettencourt, herdeira do império L'Oréal e considerada a mulher mais rica do mundo, o título diminui demais o valor histórico da trama que envolve desde espionagem, passando pelas brigas envolvendo sua família até chegar em conspirações politicas que quase derrubaram um presidente. E escrevo isso com a tranquilidade de quem achou que, em um primeiro olhar, se tratava de uma versão elegante de "Proibido por Deus"! Muito pelo contrário, aqui a narrativa nos leva para uma complexa teia de relacionamentos, dinheiro, poder e influência que deixaria os roteiristas de "The Crown" e de "Succession" de cabelo em pé - aliás, que série seria se a história dos Bettencourt fosse contada em detalhes na ficção! 

Escândalo nas manchetes de todos os meios de comunicação franceses na década de 2010, o caso Bettencourt é o centro de uma história sombria onde uma bilionária idosa e fragilizada precisa lidar com várias pessoas tentando explorar sua riqueza, entre eles um fotógrafo picareta e um secretário de confiança; com uma filha distante determinada a obter a sua tutela legal  e até mesmo com um mordomo que atuou como espião ao instalar microfones por toda a mansão e que depois ainda liberou todas essas gravações para a imprensa. Confira o trailer (em francês):

"L'Affaire Bettencourt: Scandale chez la femme la plus riche du monde" (no original), de fato, tem uma narrativa, habilmente construída pelos diretores Baptiste Etchegaray e Maxime Bonnet, muito envolvente - com depoimentos de peças-chave de todo o escândalo que envolveu a família (como Patrice de Maistre, secretário de Liliane), imagens de arquivo, reconstituições criadas tendo as fitas gravadas pelo mordomo como fio condutor e interferências gráficas belíssimas; a minissérie tem tudo para agradar quem gosta de um "barraco chique" - desculpem o tom da expressão (e não falo de superficialidade), mas é que é impossível não lembrar das passagens constrangedoras de "Succession" ao assistir esses três episódios.

Aqui é possível encontrar uma pesquisa minuciosa, com interações de jornalistas, amigos pessoais e até políticos influentes, que validam aquilo tudo que está sendo mostrado em retrospectiva - é como se esses depoimentos quisessem justificar tudo que aconteceu entre Liliane Bettencourt, sua filha Françoise Bettencourt Meyers, seu amigo François Marie Banier e, claro, Nicolas Sarkozy e seu ministro Eric Woerth. O roteiro é inteligente o bastante para, ao mesmo tempo que revela detalhes e nuances da vida de Liliane que escaparam à atenção pública,  também expõe a influência política da família, lançando luz sobre uma complexa rede de relações pautadas no poder e no dinheiro que transita nas esferas políticas da França.

Mesmo que possa soar assunto de programa de fofoca, a minissérie sabe equilibrar muito bem nossa natural curiosidade pelo estilo de vida de uma mulher tão rica como Liliane, com uma análise mais crítica sobre os problemas que rodeavam sua família através dos anos. Existe sim uma busca pelos culpados, ou pelo menos pelas razões que fizeram pessoas agirem de uma forma, digamos, muito suspeita, mas é revelando o retrato humano, que transcende a espetacularização dos escândalos, que a "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado" ganha força. Mesmo que o "Namorado" nunca tenha sido um namorado, que o "Mordomo" praticamente passe despercebido, é a história da "Bilionária" que nos faz ficar grudado na tela até o seu final - que aliás, deixa um certo gosto amargo e nos faz refletir sobre o que realmente representa a felicidade!

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A Bruxa

O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol"ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.

Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:

"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..

Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.

Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!

Vale muito o seu play!

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O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol"ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.

Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:

"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..

Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.

Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!

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A Casa

"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!

Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:

O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!

Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.

Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.

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"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!

Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:

O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!

Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.

Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.

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A Chegada

"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".

"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:

O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você  pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.

O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!

Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.

Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!

Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".

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"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".

"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:

O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você  pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.

O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!

Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.

Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!

Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".

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A Conspiração Consumista

Embora "A Conspiração Consumista" se aproprie de um tom meio "Cavaleiro do Apocalipse" e apresente uma "leve" inclinação ideológica, é inegável que esse documentário da Netflix nos faz refletir. Provocativo e impactante, "Buy Now! The Shopping Conspiracy" pontua com muito simbolismo (e carregado de críticas) as estratégias ocultas usadas por grandes marcas globais para perpetuar o ciclo de consumismo desenfreado. Sob a direção incisiva de Nic Stacey (de "O Mundo Segundo Jeff Goldblum"), o filme assume um tom carregado de deboche para expor como as empresas priorizam o lucro acima de tudo, muitas vezes às custas de impactos ambientais, éticos e psicológicos. O documentário segue a linha de produções como "Privacidade Hackeada" e até de "Minimalism: A Documentary About the Important Things", mas aqui com uma abordagem ainda mais direta e acusatória, apontando o dedo para o que considera o lado mais sombrio da indústria do consumo.

A narrativa central é construída em torno de uma série de entrevistas com especialistas em marketing, investigadores, economistas e ex-funcionários de grandes empresas que revelam táticas como da obsolescência programada ou da manipulação psicológica por meio de publicidade, para influenciar decisões de compra. Esses depoimentos são entrelaçados com dados alarmantes e imagens impactantes de práticas, no mínimo, controversas, criando uma visão abrangente do desenvolvimento tecnológico e de processos internos de um sistema tão bem estabelecido culturalmente que parece impossível de escapar. Confira o trailer (em inglês):

Com o intuito de facilitar o entendimento sem tornar a narrativa maçante, Nic Stacey adota uma abordagem visual bastante dinâmica, combinando gráficos informativos com cenas de consumo excessivo e impactos ambientais - como aterros e praias repletos de resíduos eletrônicos. A direção utiliza uma montagem rápida, eficaz e impactante para manter o ritmo e prender a atenção da audiência, enquanto o tom de "A Conspiração Consumista"oscila entre o informativo e o alarmante - eu diria até mais alarmante do que informativo. Stacey não apenas apresenta os fatos, mas os contextualiza, mostrando como o consumismo moderno está enraizado em práticas corporativas cuidadosamente orquestradas que remontam ao século XX.

O roteiro escrito por Stacey vai além de simplesmente criticar o consumismo; ele explora as implicações mais profundas de um sistema que alimenta inseguranças e cria necessidades artificiais muito baseado no que encontramos nas redes sociais. Entrevistados explicam como as marcas exploram nossas emoções e vulnerabilidades, desde a promessa de felicidade até o medo constante de ficarmos para trás. Altos executivos (de marketing) e ex-funcionários (de empresas como Amazon e Apple) traçam as conexões entre o consumismo e os impactos econômicos globais, enquanto ambientalistas destacam os custos devastadores que essas práticas têm para o planeta. Veja, a busca pelo equilíbrio entre dados concretos e histórias mais humanas faz com que o documentário ressoe tanto em um nível intelectual quanto emocional, mas repare como sempre um certo tom de hipocrisia pontua a narrativa.

Com os efeitos visuais e uma trilha sonora colocados de forma estratégica para elevar as mensagens que variam de urgentes à melancólicas, refletindo a gravidade das revelações, "A Conspiração Consumista" é uma verdadeira imersão pelas camadas mais angustiantes do consumo urbano criando uma sensação de inquietação que persiste ao longo do filme - a capacidade de Stacey em conectar os pontos entre as práticas corporativas e o comportamento do consumidor, chega a ser impressionante. No entanto nos pareceu tendencioso já que sua narrativa prioriza culpar as empresas e, se não isentar, diminuir a responsabilidade dos indivíduos. 

O documentário levanta questões importantes, mas nem sempre oferece respostas claras, deixando a audiência com a sensação de que a solução é tão complexa quanto o problema, ou seja, esteja preparado para refletir, mas não se apegue ao sensacionalismo - não é isso que nos fará mudar! Vale muito o seu play! 

Assista Agora

Embora "A Conspiração Consumista" se aproprie de um tom meio "Cavaleiro do Apocalipse" e apresente uma "leve" inclinação ideológica, é inegável que esse documentário da Netflix nos faz refletir. Provocativo e impactante, "Buy Now! The Shopping Conspiracy" pontua com muito simbolismo (e carregado de críticas) as estratégias ocultas usadas por grandes marcas globais para perpetuar o ciclo de consumismo desenfreado. Sob a direção incisiva de Nic Stacey (de "O Mundo Segundo Jeff Goldblum"), o filme assume um tom carregado de deboche para expor como as empresas priorizam o lucro acima de tudo, muitas vezes às custas de impactos ambientais, éticos e psicológicos. O documentário segue a linha de produções como "Privacidade Hackeada" e até de "Minimalism: A Documentary About the Important Things", mas aqui com uma abordagem ainda mais direta e acusatória, apontando o dedo para o que considera o lado mais sombrio da indústria do consumo.

A narrativa central é construída em torno de uma série de entrevistas com especialistas em marketing, investigadores, economistas e ex-funcionários de grandes empresas que revelam táticas como da obsolescência programada ou da manipulação psicológica por meio de publicidade, para influenciar decisões de compra. Esses depoimentos são entrelaçados com dados alarmantes e imagens impactantes de práticas, no mínimo, controversas, criando uma visão abrangente do desenvolvimento tecnológico e de processos internos de um sistema tão bem estabelecido culturalmente que parece impossível de escapar. Confira o trailer (em inglês):

Com o intuito de facilitar o entendimento sem tornar a narrativa maçante, Nic Stacey adota uma abordagem visual bastante dinâmica, combinando gráficos informativos com cenas de consumo excessivo e impactos ambientais - como aterros e praias repletos de resíduos eletrônicos. A direção utiliza uma montagem rápida, eficaz e impactante para manter o ritmo e prender a atenção da audiência, enquanto o tom de "A Conspiração Consumista"oscila entre o informativo e o alarmante - eu diria até mais alarmante do que informativo. Stacey não apenas apresenta os fatos, mas os contextualiza, mostrando como o consumismo moderno está enraizado em práticas corporativas cuidadosamente orquestradas que remontam ao século XX.

O roteiro escrito por Stacey vai além de simplesmente criticar o consumismo; ele explora as implicações mais profundas de um sistema que alimenta inseguranças e cria necessidades artificiais muito baseado no que encontramos nas redes sociais. Entrevistados explicam como as marcas exploram nossas emoções e vulnerabilidades, desde a promessa de felicidade até o medo constante de ficarmos para trás. Altos executivos (de marketing) e ex-funcionários (de empresas como Amazon e Apple) traçam as conexões entre o consumismo e os impactos econômicos globais, enquanto ambientalistas destacam os custos devastadores que essas práticas têm para o planeta. Veja, a busca pelo equilíbrio entre dados concretos e histórias mais humanas faz com que o documentário ressoe tanto em um nível intelectual quanto emocional, mas repare como sempre um certo tom de hipocrisia pontua a narrativa.

Com os efeitos visuais e uma trilha sonora colocados de forma estratégica para elevar as mensagens que variam de urgentes à melancólicas, refletindo a gravidade das revelações, "A Conspiração Consumista" é uma verdadeira imersão pelas camadas mais angustiantes do consumo urbano criando uma sensação de inquietação que persiste ao longo do filme - a capacidade de Stacey em conectar os pontos entre as práticas corporativas e o comportamento do consumidor, chega a ser impressionante. No entanto nos pareceu tendencioso já que sua narrativa prioriza culpar as empresas e, se não isentar, diminuir a responsabilidade dos indivíduos. 

O documentário levanta questões importantes, mas nem sempre oferece respostas claras, deixando a audiência com a sensação de que a solução é tão complexa quanto o problema, ou seja, esteja preparado para refletir, mas não se apegue ao sensacionalismo - não é isso que nos fará mudar! Vale muito o seu play! 

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A Diplomata

É inegável que desde seu anúncio, expectativas foram criadas em cima de "A Diplomata" como uma substituta natural de "House of Cards" pela perspectiva politica que a série traria para sua trama. De fato, ter Debora Cahn como criadora, trazendo toda sua expertise de "West Wing", potencializou essa premissa, no entanto, e até para alinharmos nossa expectativa, essa produção da Netflix está mais próxima da dinâmica de "Homeland" (também de Cahn) ou de "Scandal" - na forma e no conteúdo. Isso ruim? Não, muito pelo contrário, mas também não pode ser considerada uma produção "prime" como acompanhamos nos primórdios da Netflix.

Em meio a uma crise política de grandes proporções, graças a um ataque terrorista contra um porta-aviões britânico, Kate (Keri Russell) é designada pelo presidente americano para ser a representante dos EUA em Londres e assim tentar colocar panos quentes na tensão mundial enquanto uma delicada investigação acontece. Porém, esse novo posto de Kate é considerado largamente cerimonial e ela se sente inadequada para cumprir tal função, além de saber que as diferenças entre essa missão e sua personalidade podem afetar o seu casamento e ainda impactar o resto do mundo. Confira o trailer:

Não será preciso mais que alguns minutos para entender que Kate Wyler está anos luz de Frank e Claire Underwood - embora bem construída por Russel, a personagem não tem as nuances da dupla de "House of Cards", a profundidade dramática e muito menos o charme com aquele toque de ironia, muitas vezes requintada, de se comunicar. Isso impacta diretamente na forma como a direção conduz a série, e mais uma vez falando de requinte, faz falta um David Fincher. Por outro lado, "A Diplomata" acerta ao simplificar aquele universo complexo dos bastidores políticos, muitas vezes se apoiando em alívios cômicos bem inseridos, o que suaviza a narrativa e nos aproxima dos personagens sem a necessidade de julga-los a todo momento. Veja, nomes de cargos e suas dinâmicas de poder são condensados de uma forma que até os jargões políticos soam naturais, e toda aquela dinâmica de informações entre várias esferas de governo que nos deixavam de cabelo em pé em "House of Cards", na verdade, faz pouca ou nenhuma diferença no conflito central aqui - o que eu quero dizer, é que o entretenimento despretensioso impera, deixando as teorias de conspiração apenas como um bom e equilibrado recheio.

Outro ponto que merece ser observado está na maneira pela qual a série constrói um cenário plenamente reconhecível, porém sem se deixar datar por ele. Mais uma vez na linha de "Homeland" a história pega emprestado o contexto, se localiza, para só depois valorizar os pilares dramáticos de um mundo em crise onde a confiança na democracia está sempre colocada a prova. Os protagonistas, Kate e Hal (Rufus Sewell), funcionam como o elo de ligação entre a veracidade e o fantasioso - e até quando a tensão ganha força, o texto logo se apropria de um tom mais satírico para valorizar sua identidade. Imagine, isso só aconteceria em "House of Cards" se a Shonda Rhimes fosse sua criadora.

"A Diplomata" tem mesmo um ritmo frenético, com episódios dinâmicos e bem estruturados que nos permite diversão sem sofrimento. O roteiro sabe dosar a acidez de seus diálogos, com uma trama política envolvente e protagonistas divertidos - um verdadeiro mix de gêneros e estilos que vai se conectar com um público muito maior do que aqueles fãs de thrillers políticos mais sérios e densos. Com uma produção que merece elogios, belas locações e um requintado desenho de produção, a série tem tudo para cair nas graças da audiência e ganhar algumas temporadas - o que ela não pode, é ceder a tentação de querer ser algo que não nasceu para ser e você sabe do que eu estou falando!

Vale seu play!

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É inegável que desde seu anúncio, expectativas foram criadas em cima de "A Diplomata" como uma substituta natural de "House of Cards" pela perspectiva politica que a série traria para sua trama. De fato, ter Debora Cahn como criadora, trazendo toda sua expertise de "West Wing", potencializou essa premissa, no entanto, e até para alinharmos nossa expectativa, essa produção da Netflix está mais próxima da dinâmica de "Homeland" (também de Cahn) ou de "Scandal" - na forma e no conteúdo. Isso ruim? Não, muito pelo contrário, mas também não pode ser considerada uma produção "prime" como acompanhamos nos primórdios da Netflix.

Em meio a uma crise política de grandes proporções, graças a um ataque terrorista contra um porta-aviões britânico, Kate (Keri Russell) é designada pelo presidente americano para ser a representante dos EUA em Londres e assim tentar colocar panos quentes na tensão mundial enquanto uma delicada investigação acontece. Porém, esse novo posto de Kate é considerado largamente cerimonial e ela se sente inadequada para cumprir tal função, além de saber que as diferenças entre essa missão e sua personalidade podem afetar o seu casamento e ainda impactar o resto do mundo. Confira o trailer:

Não será preciso mais que alguns minutos para entender que Kate Wyler está anos luz de Frank e Claire Underwood - embora bem construída por Russel, a personagem não tem as nuances da dupla de "House of Cards", a profundidade dramática e muito menos o charme com aquele toque de ironia, muitas vezes requintada, de se comunicar. Isso impacta diretamente na forma como a direção conduz a série, e mais uma vez falando de requinte, faz falta um David Fincher. Por outro lado, "A Diplomata" acerta ao simplificar aquele universo complexo dos bastidores políticos, muitas vezes se apoiando em alívios cômicos bem inseridos, o que suaviza a narrativa e nos aproxima dos personagens sem a necessidade de julga-los a todo momento. Veja, nomes de cargos e suas dinâmicas de poder são condensados de uma forma que até os jargões políticos soam naturais, e toda aquela dinâmica de informações entre várias esferas de governo que nos deixavam de cabelo em pé em "House of Cards", na verdade, faz pouca ou nenhuma diferença no conflito central aqui - o que eu quero dizer, é que o entretenimento despretensioso impera, deixando as teorias de conspiração apenas como um bom e equilibrado recheio.

Outro ponto que merece ser observado está na maneira pela qual a série constrói um cenário plenamente reconhecível, porém sem se deixar datar por ele. Mais uma vez na linha de "Homeland" a história pega emprestado o contexto, se localiza, para só depois valorizar os pilares dramáticos de um mundo em crise onde a confiança na democracia está sempre colocada a prova. Os protagonistas, Kate e Hal (Rufus Sewell), funcionam como o elo de ligação entre a veracidade e o fantasioso - e até quando a tensão ganha força, o texto logo se apropria de um tom mais satírico para valorizar sua identidade. Imagine, isso só aconteceria em "House of Cards" se a Shonda Rhimes fosse sua criadora.

"A Diplomata" tem mesmo um ritmo frenético, com episódios dinâmicos e bem estruturados que nos permite diversão sem sofrimento. O roteiro sabe dosar a acidez de seus diálogos, com uma trama política envolvente e protagonistas divertidos - um verdadeiro mix de gêneros e estilos que vai se conectar com um público muito maior do que aqueles fãs de thrillers políticos mais sérios e densos. Com uma produção que merece elogios, belas locações e um requintado desenho de produção, a série tem tudo para cair nas graças da audiência e ganhar algumas temporadas - o que ela não pode, é ceder a tentação de querer ser algo que não nasceu para ser e você sabe do que eu estou falando!

Vale seu play!

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A Escavação

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

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"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

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A Filha Perdida

"A Filha Perdida" é um grande filme, mas muito (muito mesmo) angustiante! A construção narrativa imposta pela talentosa atriz e agora diretora, Maggie Gyllenhaal, é baseada naquilo que "pode acontecer", não necessariamente no que "vai acontecer" - e isso pode até parecer contraditório já que a tensão do "presente" nada mais é do que um olhar profundo sobre algumas decisões do passado. Eu diria, inclusive, que o filme além de incrivelmente intimista, é provocador ao posicionar a protagonista em uma espécie de limbo entre seus fantasmas mais dolorosos e uma necessidade absurda de seguir em frente, mesmo carregada de culpa.

Leda (Olivia Colman) é uma professora, sozinha, que está em busca de paz e sossego em uma curta temporada de férias na Grécia. Ao se deparar com Nina (Dakota Johnson), uma linda jovem que vive um relacionamento tóxico com um criminoso local, as duas passam a dividir as dores de uma relação ambivalente com a maternidade. Essa aproximação faz com que Leda comece a ter que lidar com dolorosos flashbacks de uma época onde suas filhas eram pequenas e suas ambições não se encaixavam no padrão romântico de ter se tornado mãe tão jovem. Confira o trailer:

"A Filha Perdida" é um drama pesado, com elementos de suspense psicológico que servem "apenas" como gatilhos para um profundo processo de introspecção da protagonista - o que coloca Olivia Colman em um lugar extraordinário, dando um espaço para ela, mais uma vez, mostrar seu enorme talento de uma forma avassaladora. O caráter independente da produção ganhar ainda mais elegância com a direção de Gyllenhaal que usa e abusa das lentes mais fechadas (quase sempre em close-ups) para mergulhar nas camadas mais inacessíveis de um ser humano marcado pelo passado.

A escolha de dividir a narrativa em duas linhas temporais distintas que vão se cruzando entre memórias e coincidências da vida é brilhantemente pontuada por uma edição maravilhosa do Affonso Gonçalves (o premiado montador por trás de "True Detective" da HBO). Existe uma sensibilidade muito bacana ao indicar os perigos de ser inconstante (e ingenuamente reservada) em um ambiente que claramente não lhe pertence, ficando quase impossível assistir ao filme sem pausar algumas vezes para recuperar o fôlego. O roteiro que pode soar simples em um primeiro momento, vai se mostrando ameaçador por um lado e muito honesto por outro - embora alguns assuntos sejam discutidos sem a menor pretensão de carregar pré-julgamentos, como isso impacta na vida dos personagens, incomoda.

Além de Colman, é preciso destacar as performances de Jessie Buckley (como a Leda, na sua versão jovem), Dakota Johnson (como Nina), Ed Harris (como Lyle) e a irreconhecível Dagmara Dominczyk (como Callie) - e aqui cabe um comentário pertinente: Colman merece o reconhecimento nas premiações, mas o elenco como um todo dá um suporte sensacional para a atriz brilhar e não vou me surpreender se mais indicações acontecerem.

"A Filha Perdida" expõe um universo, muito bem protegido, que existe no íntimo feminino e justamente por isso a conexão tende a ser imediata. Muitas vezes difícil de visitar e quando feito, de digerir, algumas questões vitais sobre a maternidade e como isso impacta na vida de todos, são retratadas aqui de uma maneira muito humana. Brilhantemente adaptado no livro homônimo "The Lost Daughter" de Elena Ferrante, o filme é cirúrgico na forma e no conteúdo, além de colocar a audiência dentro de uma mente cheia de culpas e de uma vida marcada por essas escolhas, mesmo que em silêncio.

Vale muito a pena!

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"A Filha Perdida" é um grande filme, mas muito (muito mesmo) angustiante! A construção narrativa imposta pela talentosa atriz e agora diretora, Maggie Gyllenhaal, é baseada naquilo que "pode acontecer", não necessariamente no que "vai acontecer" - e isso pode até parecer contraditório já que a tensão do "presente" nada mais é do que um olhar profundo sobre algumas decisões do passado. Eu diria, inclusive, que o filme além de incrivelmente intimista, é provocador ao posicionar a protagonista em uma espécie de limbo entre seus fantasmas mais dolorosos e uma necessidade absurda de seguir em frente, mesmo carregada de culpa.

Leda (Olivia Colman) é uma professora, sozinha, que está em busca de paz e sossego em uma curta temporada de férias na Grécia. Ao se deparar com Nina (Dakota Johnson), uma linda jovem que vive um relacionamento tóxico com um criminoso local, as duas passam a dividir as dores de uma relação ambivalente com a maternidade. Essa aproximação faz com que Leda comece a ter que lidar com dolorosos flashbacks de uma época onde suas filhas eram pequenas e suas ambições não se encaixavam no padrão romântico de ter se tornado mãe tão jovem. Confira o trailer:

"A Filha Perdida" é um drama pesado, com elementos de suspense psicológico que servem "apenas" como gatilhos para um profundo processo de introspecção da protagonista - o que coloca Olivia Colman em um lugar extraordinário, dando um espaço para ela, mais uma vez, mostrar seu enorme talento de uma forma avassaladora. O caráter independente da produção ganhar ainda mais elegância com a direção de Gyllenhaal que usa e abusa das lentes mais fechadas (quase sempre em close-ups) para mergulhar nas camadas mais inacessíveis de um ser humano marcado pelo passado.

A escolha de dividir a narrativa em duas linhas temporais distintas que vão se cruzando entre memórias e coincidências da vida é brilhantemente pontuada por uma edição maravilhosa do Affonso Gonçalves (o premiado montador por trás de "True Detective" da HBO). Existe uma sensibilidade muito bacana ao indicar os perigos de ser inconstante (e ingenuamente reservada) em um ambiente que claramente não lhe pertence, ficando quase impossível assistir ao filme sem pausar algumas vezes para recuperar o fôlego. O roteiro que pode soar simples em um primeiro momento, vai se mostrando ameaçador por um lado e muito honesto por outro - embora alguns assuntos sejam discutidos sem a menor pretensão de carregar pré-julgamentos, como isso impacta na vida dos personagens, incomoda.

Além de Colman, é preciso destacar as performances de Jessie Buckley (como a Leda, na sua versão jovem), Dakota Johnson (como Nina), Ed Harris (como Lyle) e a irreconhecível Dagmara Dominczyk (como Callie) - e aqui cabe um comentário pertinente: Colman merece o reconhecimento nas premiações, mas o elenco como um todo dá um suporte sensacional para a atriz brilhar e não vou me surpreender se mais indicações acontecerem.

"A Filha Perdida" expõe um universo, muito bem protegido, que existe no íntimo feminino e justamente por isso a conexão tende a ser imediata. Muitas vezes difícil de visitar e quando feito, de digerir, algumas questões vitais sobre a maternidade e como isso impacta na vida de todos, são retratadas aqui de uma maneira muito humana. Brilhantemente adaptado no livro homônimo "The Lost Daughter" de Elena Ferrante, o filme é cirúrgico na forma e no conteúdo, além de colocar a audiência dentro de uma mente cheia de culpas e de uma vida marcada por essas escolhas, mesmo que em silêncio.

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A Garota da Foto

Na linha "True Crime", "A Garota da Foto" é um documentário que não se preocupa em se aprofundar em cada detalhe da investigação - o que muitas vezes deixam as séries do gênero cansativas demais. Em pouco mais de 90 minutos, o filme vai direto ao ponto, sem enrolação, e apresenta uma história completamente surreal, onde, pouco a pouco, a diretora Skye Borgman (do premiado "Sequestrada à Luz do Dia") vai apresentando as peças desse misterioso quebra-cabeça para que a audiência tenha a sensação de construir, junto com a narrativa, uma linha temporal coerente com os fatos que vários personagens-chaves vão descobrindo - e é muito importante que você se atente a esse detalhe para que não se tenha a impressão de que o roteiro está roubando no jogo só para te surpreender.

A morte misteriosa de uma jovem mulher depois um suposto atropelamento e o subsequente sequestro de seu filho de dois anos abrem alguns mistérios que perdurariam por quase 30 anos. Qual a verdadeira identidade da mulher? Quem é, de fato, o homem que sequestrou seu filho? E o que aconteceu com o garoto após o sequestro? Confira o trailer (em inglês):

Talvez o que chame mais a atenção nessa produção original da Netflix, e que foi brilhantemente retratado por Borgman, seja a capacidade que um ser humano tem de se tornar maligno de acordo com suas experiências de vida. Embora possa parecer injustificável, e de fato os fatos que você vai ter que lidar durante o filme nos levam a pensar que existe uma complexidade que vai além do nosso julgamento, a história de Franklin Delano Floyd e suas atitudes durante tantos anos parecem se conectar e fazer sentido quando entendemos o todo. São movimentos tão cruéis (e por isso defini a história como "surreal"), que o personagem soa ficcional.

Seguindo aquela fórmula "dramatização + imagens de arquivo + entrevista com os envolvidos", "A Garota da Foto" consegue entregar uma narrativa dinâmica em seu "conteúdo", mas que para alguns pode parecer levemente monótona em sua "forma". Sim, o roteiro é redondinho ao expor as entranhas do caso e a montagem consegue deixar esse contexto bem fácil de entender, mesmo com a quebra da linearidade temporal bem marcante; mas não espere nada de novo no que diz respeito ao tom ou ao conceito visual - eu diria que o filme é uma mistura de "Lost Girls"com "O Caso Evandro", onde o resultado caminha para um desfecho cada vez mais doloroso e trágico. 

Para os fãs do gênero, "A Garota da Foto" certamente vai valer muito a pena. É inegável como a cada descoberta, nossa curiosidade só vai aumentando. Embora a história seja um enorme emaranhado de informações, conforme desvendamos alguns mistérios, outros vão se formando e é assim que trama caminha até o fim - em apenas um momento, no inicio do terceiro ato, tive a impressão que a diretora cedeu à tentação do "plot twist matador" e roubou no jogo inserindo uma personagem importante que nem ao menos havia sido citada durante toda a jornada de investigação. Mas ok, isso não vai prejudicar sua experiência até porquê entendemos rapidamente a estrutura de que quando tudo parece que está resolvido, sempre uma nova informação surge e muda os rumos da investigação.

Dito isso, "A Garota da Foto" acerta ao tratar o tema com respeito (e não é fácil), sem qualquer exploração sensacionalista (o que é tentador), e até quando dá voz ao Floyd não mitifica o criminoso como já vimos em outras produções.

Pode dar o play que vale muito a pena!

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Na linha "True Crime", "A Garota da Foto" é um documentário que não se preocupa em se aprofundar em cada detalhe da investigação - o que muitas vezes deixam as séries do gênero cansativas demais. Em pouco mais de 90 minutos, o filme vai direto ao ponto, sem enrolação, e apresenta uma história completamente surreal, onde, pouco a pouco, a diretora Skye Borgman (do premiado "Sequestrada à Luz do Dia") vai apresentando as peças desse misterioso quebra-cabeça para que a audiência tenha a sensação de construir, junto com a narrativa, uma linha temporal coerente com os fatos que vários personagens-chaves vão descobrindo - e é muito importante que você se atente a esse detalhe para que não se tenha a impressão de que o roteiro está roubando no jogo só para te surpreender.

A morte misteriosa de uma jovem mulher depois um suposto atropelamento e o subsequente sequestro de seu filho de dois anos abrem alguns mistérios que perdurariam por quase 30 anos. Qual a verdadeira identidade da mulher? Quem é, de fato, o homem que sequestrou seu filho? E o que aconteceu com o garoto após o sequestro? Confira o trailer (em inglês):

Talvez o que chame mais a atenção nessa produção original da Netflix, e que foi brilhantemente retratado por Borgman, seja a capacidade que um ser humano tem de se tornar maligno de acordo com suas experiências de vida. Embora possa parecer injustificável, e de fato os fatos que você vai ter que lidar durante o filme nos levam a pensar que existe uma complexidade que vai além do nosso julgamento, a história de Franklin Delano Floyd e suas atitudes durante tantos anos parecem se conectar e fazer sentido quando entendemos o todo. São movimentos tão cruéis (e por isso defini a história como "surreal"), que o personagem soa ficcional.

Seguindo aquela fórmula "dramatização + imagens de arquivo + entrevista com os envolvidos", "A Garota da Foto" consegue entregar uma narrativa dinâmica em seu "conteúdo", mas que para alguns pode parecer levemente monótona em sua "forma". Sim, o roteiro é redondinho ao expor as entranhas do caso e a montagem consegue deixar esse contexto bem fácil de entender, mesmo com a quebra da linearidade temporal bem marcante; mas não espere nada de novo no que diz respeito ao tom ou ao conceito visual - eu diria que o filme é uma mistura de "Lost Girls"com "O Caso Evandro", onde o resultado caminha para um desfecho cada vez mais doloroso e trágico. 

Para os fãs do gênero, "A Garota da Foto" certamente vai valer muito a pena. É inegável como a cada descoberta, nossa curiosidade só vai aumentando. Embora a história seja um enorme emaranhado de informações, conforme desvendamos alguns mistérios, outros vão se formando e é assim que trama caminha até o fim - em apenas um momento, no inicio do terceiro ato, tive a impressão que a diretora cedeu à tentação do "plot twist matador" e roubou no jogo inserindo uma personagem importante que nem ao menos havia sido citada durante toda a jornada de investigação. Mas ok, isso não vai prejudicar sua experiência até porquê entendemos rapidamente a estrutura de que quando tudo parece que está resolvido, sempre uma nova informação surge e muda os rumos da investigação.

Dito isso, "A Garota da Foto" acerta ao tratar o tema com respeito (e não é fácil), sem qualquer exploração sensacionalista (o que é tentador), e até quando dá voz ao Floyd não mitifica o criminoso como já vimos em outras produções.

Pode dar o play que vale muito a pena!

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