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Marcella

Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

Assista Agora

Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir.  Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.

Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar. 

Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!

Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!

PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!

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Me chame pelo seu nome

Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.

"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!

Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!

Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!

Assista Agora

Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.

"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!

Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!

Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!

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Na Própria Pele

Para mim, um dos grandes diferenciais da Netflix atualmente, são os títulos de filmes premiados em festivais importantes que ela adquire os direitos de distribuição. Normalmente filmes independentes, esse material dificilmente chegaria ao grande público sem a atuação de um grande player como a Netflix. Só lamento que o marketing da empresa não invista na sua divulgação como faz com alguns lançamentos de gosto bem duvidosos, mas enfim, regras da casa, regras do mercado.

O filme conta a história real do que aconteceu com Stefano Cucchi durante a semana que ficou preso após uma corriqueira batida policial no seu bairro. Com elementos narrativos muito parecidos com "Bicho de 7 Cabeças" e "Olhos que Condenam", esse premiado filme italiano é imperdível, mas esteja preparado, pois digerir aqueles fatos que vemos durante pouco mais 100 minutos, não é tarefa fácil.

"Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é uma dessas pérolas escondidas no catálogo que, para quem aprecia um cinema de qualidade, nos faz acreditar na importância  de uma boa história, de uma produção bem realizada e de uma direção autoral bastante competente, mas já adianto: o filme é duro, dolorido, intenso e ao mesmo tempo ótimo.

Stefano Cucchi era um jovem italiano de 31 anos que, em 2009, foi detido em uma abordagem policial enquanto fumava um simples cigarro com um amigo de infância. Embora não estivesse usando drogas no momento de sua prisão, os policiais que o abordaram naquela noite, encontraram dois cigarros de maconha e 2g de cocaína com ele. Após revistar a casa dos seus pais e não encontrar nada, Stefano passaria apenas uma noite na prisão e seria liberado, porém uma série de fatos transformaram a vida do rapaz. Uma atuação desastrosa da policia, uma postura extremamente arrogante das autoridades e com vários dos seus direitos simplesmente ignorados, Stefano Cucchi morreu apenas uma semana depois de ser condenado por, acreditem, tráfico de drogas! É importante ressaltar que trata-se de um caso real que mobilizou a Itália na época e que por isso, o valor do filme não está no resultado trágico dessa história e, sim, em que circunstâncias os fatos foram acontecendo e como se tornou uma enorme bola de neve. É terrível a velocidade como tudo se desenrola e como isso reflete na sua família. É uma realidade que incomoda pela naturalidade de como tudo é mostrado e de como as pessoas se relacionam com um ser humano pré julgado, impotente, assustado e ingênuo - sim, Stefano Cucchi foi muito ingênuo (e talvez aqui caiba a única crítica em relação ao roteiro)!!!

"Na própria pele" chega validado por inúmeros prêmios em festivais pelo mundo, inclusive em Veneza - além de uma importante indicação como melhor filme na Mostra "Novos Horizontes". É um trabalho irretocável do diretor Alessio Cremonini, com uma fotografia linda de Matteo Cocco - reparem como a câmera passeia lentamente pelo ambiente até chegar no protagonista, nos causando uma sensação absurda de ansiedade. Ou como o Diretor escolhe simplesmente travar a câmera e não acompanhar uma determinada ação até o fim, deixando que a imaginação de quem assiste construa parte dessa narrativa - assim foi no que seria a cena mais chocante do filme (o espancamento de Stefano)! Isso é cinema autoral de qualidade e com propósito conceitual que justificam as escolhas! Palmas!!!! 

Com um trabalho sensacional de um irreconhecível Alessandro Borghi (Suburra), fica impossível não se emocionar ou se revoltar com o que assistimos. "Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é daqueles filmes que ficam martelando na nossa cabeça, que nos trazem sensações únicas e que nos faz ficar em silêncio enquanto os créditos sobem - aliás, durante os créditos ouvimos os áudios reais do julgamento de Stefano e isso potencializa a dor que sentimos por aqueles personagens da vida real. O fato é que o filme vale muito a pena, mas esteja preparado para digerir uma história cruel que até hoje não foi totalmente explicada. Indico de olhos fechados!

Assista Agora 

Para mim, um dos grandes diferenciais da Netflix atualmente, são os títulos de filmes premiados em festivais importantes que ela adquire os direitos de distribuição. Normalmente filmes independentes, esse material dificilmente chegaria ao grande público sem a atuação de um grande player como a Netflix. Só lamento que o marketing da empresa não invista na sua divulgação como faz com alguns lançamentos de gosto bem duvidosos, mas enfim, regras da casa, regras do mercado.

O filme conta a história real do que aconteceu com Stefano Cucchi durante a semana que ficou preso após uma corriqueira batida policial no seu bairro. Com elementos narrativos muito parecidos com "Bicho de 7 Cabeças" e "Olhos que Condenam", esse premiado filme italiano é imperdível, mas esteja preparado, pois digerir aqueles fatos que vemos durante pouco mais 100 minutos, não é tarefa fácil.

"Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é uma dessas pérolas escondidas no catálogo que, para quem aprecia um cinema de qualidade, nos faz acreditar na importância  de uma boa história, de uma produção bem realizada e de uma direção autoral bastante competente, mas já adianto: o filme é duro, dolorido, intenso e ao mesmo tempo ótimo.

Stefano Cucchi era um jovem italiano de 31 anos que, em 2009, foi detido em uma abordagem policial enquanto fumava um simples cigarro com um amigo de infância. Embora não estivesse usando drogas no momento de sua prisão, os policiais que o abordaram naquela noite, encontraram dois cigarros de maconha e 2g de cocaína com ele. Após revistar a casa dos seus pais e não encontrar nada, Stefano passaria apenas uma noite na prisão e seria liberado, porém uma série de fatos transformaram a vida do rapaz. Uma atuação desastrosa da policia, uma postura extremamente arrogante das autoridades e com vários dos seus direitos simplesmente ignorados, Stefano Cucchi morreu apenas uma semana depois de ser condenado por, acreditem, tráfico de drogas! É importante ressaltar que trata-se de um caso real que mobilizou a Itália na época e que por isso, o valor do filme não está no resultado trágico dessa história e, sim, em que circunstâncias os fatos foram acontecendo e como se tornou uma enorme bola de neve. É terrível a velocidade como tudo se desenrola e como isso reflete na sua família. É uma realidade que incomoda pela naturalidade de como tudo é mostrado e de como as pessoas se relacionam com um ser humano pré julgado, impotente, assustado e ingênuo - sim, Stefano Cucchi foi muito ingênuo (e talvez aqui caiba a única crítica em relação ao roteiro)!!!

"Na própria pele" chega validado por inúmeros prêmios em festivais pelo mundo, inclusive em Veneza - além de uma importante indicação como melhor filme na Mostra "Novos Horizontes". É um trabalho irretocável do diretor Alessio Cremonini, com uma fotografia linda de Matteo Cocco - reparem como a câmera passeia lentamente pelo ambiente até chegar no protagonista, nos causando uma sensação absurda de ansiedade. Ou como o Diretor escolhe simplesmente travar a câmera e não acompanhar uma determinada ação até o fim, deixando que a imaginação de quem assiste construa parte dessa narrativa - assim foi no que seria a cena mais chocante do filme (o espancamento de Stefano)! Isso é cinema autoral de qualidade e com propósito conceitual que justificam as escolhas! Palmas!!!! 

Com um trabalho sensacional de um irreconhecível Alessandro Borghi (Suburra), fica impossível não se emocionar ou se revoltar com o que assistimos. "Na própria pele: o caso Stefano Cucchi" é daqueles filmes que ficam martelando na nossa cabeça, que nos trazem sensações únicas e que nos faz ficar em silêncio enquanto os créditos sobem - aliás, durante os créditos ouvimos os áudios reais do julgamento de Stefano e isso potencializa a dor que sentimos por aqueles personagens da vida real. O fato é que o filme vale muito a pena, mas esteja preparado para digerir uma história cruel que até hoje não foi totalmente explicada. Indico de olhos fechados!

Assista Agora 

Nada a esconder

“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!

Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido.

O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.

Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são diferentes! 

“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!

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“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!

Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido.

O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.

Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são diferentes! 

“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!

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Nada Ortodoxa

Nada Ortodoxa

Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:

"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!

Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!

A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!

Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento"  - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.

Vale muito a pena!!!!!

Assista Agora

Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:

"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!

Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!

A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!

Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento"  - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.

Vale muito a pena!!!!!

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No Matarás

“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Normandia Nua

"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

Vale a pena!

Assista Agora

"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

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Nós somos a Onda

"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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O Aviso

"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

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"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

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O Bosque

Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

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Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!

Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.

Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.

"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!

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O Inocente

"O Inocente" é uma minissérie muito bacana, que se você se permitir um pouco de abstração da realidade, vai se divertir muito! Para os mais atentos, foi exatamente assim que eu comecei o review de "Um Contratempo", filme espanhol de 2016 e um dos maiores sucessos da história da Netflix. Não por acaso, o diretor de "Um Contratempo" é o mesmo Oriol Paulo de "O Inocente" e seu protagonista, Mario Casas, também. Ou seja, se você gostou de um, certamente vai gostar do outro!

Essa é mais uma adaptação de Harlan Corben para a Netflix. Depois de "Safe" e "Não Fale com Estranhos", "O Inocente" acompanha a história Mateo (Mario Casas), um jovem estudante de direito que, numa noitada, foi arrastado para uma briga e acabou empurrando um de seus agressores contra a calçada, causando sua morte. Após seu julgamento, ele é mandado para prisão para cumprir uma pena de quatro anos. Ao retomar a sua vida, ele monta um escritório de advocacia com seu irmão e acaba reencontrando Olivia Costa (Aura Garrido), uma linda jovem com quem passou a noite anos antes. Apaixonados, eles resolvem começar uma vida juntos até que Mat percebe que algumas histórias não resolvidas começam a vir à tona e, pior, Olivia, a pessoa em quem ele mais confia, parece esconder segredos obscuros que podem ter relação com o seu passado. Confira o trailer:

Mesmo com um roteiro com algumas soluções preguiçosas, "O Inocente" é entretenimento puro - e de qualidade, eu diria! Sem dúvida que a dinâmica narrativa tem um valor muito maior do que a originalidade da trama e esse é um grande trunfo de Oriol Paulo - ele realmente sabe criar uma atmosfera de tensão e mistério, mesmo não contando com um elenco excepcional, Paulo é inteligente ao resgatar muito do que funcionou em "Um Contratempo" para entregar uma minissérie que nos surpreende a cada episódio! Escrita pelo próprio diretor os episódios são bem construidos e o conceito narrativo de focar em como o passado de um personagem impacta na história que está sendo contada no presente, funciona perfeitamente. Reparem como a disparidade entre o 1º e 2º episódio é tão grande que, por um momento, chegamos a acreditar que estamos assistindo outra série.

Em cada episódio, vamos reconhecendo na trajetória dos personagens uma série de conexões com o arco principal da trama: a morte acidental que levou Matteo para prisão. Característico da literatura de Corben, a história vai abrindo muitas questões e inevitavelmente é preciso voltar a cada plot para recontar uma determinada passagem e assim deixar claro que tudo foi muito bem pensado. Isso não é ruim, mas traz um certo didatismo para o roteiro que vai incomodar os mais críticos. Por outro lado, é de se elogiar a forma como as pontas vão sendo amarradas - a sensação de que nada é por acaso, mesmo que inicialmente muita coisa soe ser, é reflexo de uma boa condução e de um trabalho minucioso do diretor.

É um fato que "O Inocente" possui um número exagerado de reviravoltas e isso vai dividir opiniões, mas que fique claro que não deve atrapalhar a experiência. A busca insaciável para surpreender a todo instante e assim manter o ritmo instigante do começo é falha em alguns momentos, mas em muitos outros, funciona bem.

Olha, não é uma minissérie inesquecível, mas vale demais pela pela diversão. Pode pegar a pipoca e apertar o play sem receio!

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"O Inocente" é uma minissérie muito bacana, que se você se permitir um pouco de abstração da realidade, vai se divertir muito! Para os mais atentos, foi exatamente assim que eu comecei o review de "Um Contratempo", filme espanhol de 2016 e um dos maiores sucessos da história da Netflix. Não por acaso, o diretor de "Um Contratempo" é o mesmo Oriol Paulo de "O Inocente" e seu protagonista, Mario Casas, também. Ou seja, se você gostou de um, certamente vai gostar do outro!

Essa é mais uma adaptação de Harlan Corben para a Netflix. Depois de "Safe" e "Não Fale com Estranhos", "O Inocente" acompanha a história Mateo (Mario Casas), um jovem estudante de direito que, numa noitada, foi arrastado para uma briga e acabou empurrando um de seus agressores contra a calçada, causando sua morte. Após seu julgamento, ele é mandado para prisão para cumprir uma pena de quatro anos. Ao retomar a sua vida, ele monta um escritório de advocacia com seu irmão e acaba reencontrando Olivia Costa (Aura Garrido), uma linda jovem com quem passou a noite anos antes. Apaixonados, eles resolvem começar uma vida juntos até que Mat percebe que algumas histórias não resolvidas começam a vir à tona e, pior, Olivia, a pessoa em quem ele mais confia, parece esconder segredos obscuros que podem ter relação com o seu passado. Confira o trailer:

Mesmo com um roteiro com algumas soluções preguiçosas, "O Inocente" é entretenimento puro - e de qualidade, eu diria! Sem dúvida que a dinâmica narrativa tem um valor muito maior do que a originalidade da trama e esse é um grande trunfo de Oriol Paulo - ele realmente sabe criar uma atmosfera de tensão e mistério, mesmo não contando com um elenco excepcional, Paulo é inteligente ao resgatar muito do que funcionou em "Um Contratempo" para entregar uma minissérie que nos surpreende a cada episódio! Escrita pelo próprio diretor os episódios são bem construidos e o conceito narrativo de focar em como o passado de um personagem impacta na história que está sendo contada no presente, funciona perfeitamente. Reparem como a disparidade entre o 1º e 2º episódio é tão grande que, por um momento, chegamos a acreditar que estamos assistindo outra série.

Em cada episódio, vamos reconhecendo na trajetória dos personagens uma série de conexões com o arco principal da trama: a morte acidental que levou Matteo para prisão. Característico da literatura de Corben, a história vai abrindo muitas questões e inevitavelmente é preciso voltar a cada plot para recontar uma determinada passagem e assim deixar claro que tudo foi muito bem pensado. Isso não é ruim, mas traz um certo didatismo para o roteiro que vai incomodar os mais críticos. Por outro lado, é de se elogiar a forma como as pontas vão sendo amarradas - a sensação de que nada é por acaso, mesmo que inicialmente muita coisa soe ser, é reflexo de uma boa condução e de um trabalho minucioso do diretor.

É um fato que "O Inocente" possui um número exagerado de reviravoltas e isso vai dividir opiniões, mas que fique claro que não deve atrapalhar a experiência. A busca insaciável para surpreender a todo instante e assim manter o ritmo instigante do começo é falha em alguns momentos, mas em muitos outros, funciona bem.

Olha, não é uma minissérie inesquecível, mas vale demais pela pela diversão. Pode pegar a pipoca e apertar o play sem receio!

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O Labirinto

"O Labirinto" é mais um daqueles filmes "ame ou odeie", bem na linha do espanhol "O Poço". Essa produção italiana que tem Dustin Hoffman (falando em inglês) no elenco, é bem peculiar - tanto na forma quanto no seu conteúdo, ou seja, é possível amar a história, mas odiar a estética e vice-versa. O fato é que essa adaptação da obra homônima do aclamado escritor italiano Donato Carrisi (que também dirige o filme) é um suspense psicológico com elementos que remetem ao drama policial e que tenta, de várias maneiras, revitalizar o estilo noir trazendo para os dias de hoje, toda aquela experiência do exagero visual e da narrativa pontuada por uma trilha sonora igualmente marcante.

Na história, Samantha (Valentina Bellè) está no hospital, em estado de choque, quinze anos depois de ser raptada a caminho da escola. Ao lado dela, Dr. Green (Dustin Hoffman) busca resgatar suas memórias para tentar encontrar o criminoso que a manteve em cativeiro por tanto tempo. É nesse processo que Green descobre o labirinto - uma prisão subterrânea, aparentemente sem saída, onde a jovem era obrigada a resolver alguns enigmas em troca de recompensas por seus sucessos (ou sendo punida por seus fracassos). Paralelo a isso, Bruno Genko (Toni Servillo), um investigador particular de talento excepcional, também está ansioso para resolver o mistério já que não tem muito tempo de vida e ainda guarda uma relação de dívida com os pais de Samantha que o contrataram na época do sequestro. Confira o trailer:

Partindo do principio que dois protagonistas (um italiano e um americano) buscam encontrar o mesmo criminoso, mas usando de métodos e estilos distintos, a sensação de urgência e dúvida nos fisga logo de cara. A pergunta sobre qual deles conseguirá chegar até a verdade primeiro, nos guia por duas linhas narrativas distintas que, é preciso que se diga, deve ter funcionado muito melhor no livro do que no filme - e aqui cabe um comentário pertinente: muito dessa falta de conexão entre o propósito e os personagens é culpa do diretor que não teve (e não tem) a capacidade de construir uma jornada inesquecível a partir de uma história ótima, por simplesmente não dominar a gramática cinematográfica do suspense policial. Para mim a forma é falha, o conteúdo não - para você a inverso pode ser verdadeiro e tudo bem, será uma questão de gosto.

É de se ressaltar que essa é uma adaptação das mais difíceis, já que os elementos narrativos pedem uma atmosfera repleta de cenários abstratos para trazer uma forte sensação de terror psicológico com base em ambientes apavorantes - daqueles que nunca sabemos se é real ou produto da imaginação dos personagens. Essa mistura entre o pesadelo juvenil e o cabaréhardcore, mesmo em sua complexidade, funciona em vários momentos e entrega a sustentação para uma trama cheia de peças e informações espalhadas e que, a todo momento, nos convida a participar de uma investigação interessante - sempre esperando aqueles plots twistsmatadores.

Veja, como todo filme "ame ou odeie", se você se permitir mergulhar no exagero estético que comentamos, abstrair o senso de realidade e ainda se permitir embarcar na proposta do diretor, é muito provável que você vai se divertir (e muito) com "L'uomo del Labirinto" (no original). Agora, se você procura uma história mais palpável, com um realismo narrativo e estético mais conservador, esse filme definitivamente não vai te agradar. 

Na linha de Harlan Coben (de "Não Fale com Estranhos") ou dos games de investigação como "Black Dahlia", vale a pena experimentar!

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"O Labirinto" é mais um daqueles filmes "ame ou odeie", bem na linha do espanhol "O Poço". Essa produção italiana que tem Dustin Hoffman (falando em inglês) no elenco, é bem peculiar - tanto na forma quanto no seu conteúdo, ou seja, é possível amar a história, mas odiar a estética e vice-versa. O fato é que essa adaptação da obra homônima do aclamado escritor italiano Donato Carrisi (que também dirige o filme) é um suspense psicológico com elementos que remetem ao drama policial e que tenta, de várias maneiras, revitalizar o estilo noir trazendo para os dias de hoje, toda aquela experiência do exagero visual e da narrativa pontuada por uma trilha sonora igualmente marcante.

Na história, Samantha (Valentina Bellè) está no hospital, em estado de choque, quinze anos depois de ser raptada a caminho da escola. Ao lado dela, Dr. Green (Dustin Hoffman) busca resgatar suas memórias para tentar encontrar o criminoso que a manteve em cativeiro por tanto tempo. É nesse processo que Green descobre o labirinto - uma prisão subterrânea, aparentemente sem saída, onde a jovem era obrigada a resolver alguns enigmas em troca de recompensas por seus sucessos (ou sendo punida por seus fracassos). Paralelo a isso, Bruno Genko (Toni Servillo), um investigador particular de talento excepcional, também está ansioso para resolver o mistério já que não tem muito tempo de vida e ainda guarda uma relação de dívida com os pais de Samantha que o contrataram na época do sequestro. Confira o trailer:

Partindo do principio que dois protagonistas (um italiano e um americano) buscam encontrar o mesmo criminoso, mas usando de métodos e estilos distintos, a sensação de urgência e dúvida nos fisga logo de cara. A pergunta sobre qual deles conseguirá chegar até a verdade primeiro, nos guia por duas linhas narrativas distintas que, é preciso que se diga, deve ter funcionado muito melhor no livro do que no filme - e aqui cabe um comentário pertinente: muito dessa falta de conexão entre o propósito e os personagens é culpa do diretor que não teve (e não tem) a capacidade de construir uma jornada inesquecível a partir de uma história ótima, por simplesmente não dominar a gramática cinematográfica do suspense policial. Para mim a forma é falha, o conteúdo não - para você a inverso pode ser verdadeiro e tudo bem, será uma questão de gosto.

É de se ressaltar que essa é uma adaptação das mais difíceis, já que os elementos narrativos pedem uma atmosfera repleta de cenários abstratos para trazer uma forte sensação de terror psicológico com base em ambientes apavorantes - daqueles que nunca sabemos se é real ou produto da imaginação dos personagens. Essa mistura entre o pesadelo juvenil e o cabaréhardcore, mesmo em sua complexidade, funciona em vários momentos e entrega a sustentação para uma trama cheia de peças e informações espalhadas e que, a todo momento, nos convida a participar de uma investigação interessante - sempre esperando aqueles plots twistsmatadores.

Veja, como todo filme "ame ou odeie", se você se permitir mergulhar no exagero estético que comentamos, abstrair o senso de realidade e ainda se permitir embarcar na proposta do diretor, é muito provável que você vai se divertir (e muito) com "L'uomo del Labirinto" (no original). Agora, se você procura uma história mais palpável, com um realismo narrativo e estético mais conservador, esse filme definitivamente não vai te agradar. 

Na linha de Harlan Coben (de "Não Fale com Estranhos") ou dos games de investigação como "Black Dahlia", vale a pena experimentar!

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O Poço

"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!

Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:

Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!

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"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!

Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:

Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!

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O Último Amor de Mr. Morgan

Finalista no Festival de Locarno em 2013, "O Último Amor de Mr. Morgan" é daqueles filmes que enchem nosso coração de felicidade - mesmo sendo completamente previsível e tendo uma história que parece que já vimos em algum lugar, sabe? No filme, Mr. Morgan (Michael Caine) acabou de perder a esposa (Jane Alexander) para o câncer. Embora americano, Mr. Morgan decide continuar em Paris onde mora, mesmo sem falar francês e vivendo praticamente sozinho, ele é tomado pela tristeza e pelas lembranças do grande amor da sua vida. Certo dia, ele conhece Pauline (Clémence Poésy), uma professora de dança que desperta uma nova motivação em sua rotina: a vontade de viver para poder estar ao lado dessa adorável jovem. Durante a história, ainda conhecemos a relação conturbada dele com os filhos Karen (Gillian Anderson) e Miles (Justin Kirk) e como isso impactou na sua forma de enxergar os laços familiares. Confira o trailer:

Um ano após o grande sucesso de Michael Haneke, "Amour" (Amor), "Last Love" (título original) fala sobre temas muito parecidos: os ciclos da vida, as relações familiares e, claro, sobre como a falta de comunicação pode nos afastar de um amor verdadeiro e nos encher de ressentimentos e arrependimentos. Embora não seja uma narrativa tão marcante, "O Último Amor de Mr. Morgan" é uma delicia de assistir e equilibra perfeitamente momentos leves e emotivos, com o drama e a profundidade de algumas marcas que a vida nos deixa.

Filme para curtir, em um lindo cenário, com uma trilha sonora maravilhosa que nos faz refletir em vários momentos e valorizar algumas coisas que teimamos em esquecer graças ao dia a dia corrido que vivemos!

A premiada diretora alemã, Sandra Nettelbeck (de "Bella Martha") é muito competente em criar uma atmosfera bastante nostálgica ao apresentar os conflitos de cada personagem. Com muita habilidade, ela trabalha enquadramentos que misturam realidade com imaginação que, muito mais que uma habilidade técnica, é capaz que nos proporcionar sensações bastante especiais. Reparem como Mr. Morgan se relaciona com a esposa morta com uma delicadeza impressionante!

Como roteirista, Nettelbeck, é muito inteligente em dividir muito bem a história - uma adaptação da obra de Françoise Dorner. No primeiro ato, o foco está na relação de Mr. Morgan e Pauline - uma jovem de certa forma misteriosa que apareceu na vida do protagonista em um momento de fragilidade e tristeza, com sua doçura e projetando nele uma figura paterna - aqui existe um jogo interessante proposto pelo texto: como sabemos pouco de Pauline e entendemos o momento de Morgan, é inevitável não se questionar se esse encantamento entre os dois pode ir além de uma inocente amizade, mas, sinceramente, os diálogos são tão bem escritos que até isso pouco importa diante do que ambos estão vivendo.

Pois bem, no segundo ato acompanhamos a entrada dos filhos de Mr. Morgan na história. Se no início acompanhamos o luto do protagonista e a esperança do recomeço ao conhecer Pauline, agora somos provocados a nos questionar perante o relacionamento familiar e a verdade que Morgan pode esconder através da sua personalidade - e aproveito para citar o excelente trabalho do ator Michael Caine. É no desenrolar desse ato que o roteiro de Nettelbeck acerta e erra ao mesmo tempo: se ela vai nos contando sobre a vida dos personagens nos momentos certos, ela vacila ao deixar claro por quem Pauline vai, de fato, se apaixonar - e fique tranquilo, isso não está nem perto de ser um spoiler de tão óbvio que é desde o primeiro momento!

Para finalizar, temos um terceiro ato onde sua relação com Pauline se mistura com os conflitos familiares em busca de uma solução - eu diria até, em busca de uma redenção e o texto não decepciona. Os diálogos são cirúrgicos ao não cair no piegas e Nettelbeck entrega, nos detalhes, um filme com alma! Daqueles que sentimos na pele ao assistir e que nos trazem coisas boas, mesmo quando algo ruim pode acontecer na tela. Emoção no ponto certo e aqui vai meu segundo destaque do elenco: Clémency Poésy é doce, talentosa e linda!

Ao som de uma trilha sonora de Hans Zimmer que conta com Norah Jones e uma belíssima versão de "Not to Late", “O Último Amor de Mr. Morgan” é um ótimo filme para assistir, sentir e se divertir! Vale muito a pena com aquele aperto no coração da saudade!

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Finalista no Festival de Locarno em 2013, "O Último Amor de Mr. Morgan" é daqueles filmes que enchem nosso coração de felicidade - mesmo sendo completamente previsível e tendo uma história que parece que já vimos em algum lugar, sabe? No filme, Mr. Morgan (Michael Caine) acabou de perder a esposa (Jane Alexander) para o câncer. Embora americano, Mr. Morgan decide continuar em Paris onde mora, mesmo sem falar francês e vivendo praticamente sozinho, ele é tomado pela tristeza e pelas lembranças do grande amor da sua vida. Certo dia, ele conhece Pauline (Clémence Poésy), uma professora de dança que desperta uma nova motivação em sua rotina: a vontade de viver para poder estar ao lado dessa adorável jovem. Durante a história, ainda conhecemos a relação conturbada dele com os filhos Karen (Gillian Anderson) e Miles (Justin Kirk) e como isso impactou na sua forma de enxergar os laços familiares. Confira o trailer:

Um ano após o grande sucesso de Michael Haneke, "Amour" (Amor), "Last Love" (título original) fala sobre temas muito parecidos: os ciclos da vida, as relações familiares e, claro, sobre como a falta de comunicação pode nos afastar de um amor verdadeiro e nos encher de ressentimentos e arrependimentos. Embora não seja uma narrativa tão marcante, "O Último Amor de Mr. Morgan" é uma delicia de assistir e equilibra perfeitamente momentos leves e emotivos, com o drama e a profundidade de algumas marcas que a vida nos deixa.

Filme para curtir, em um lindo cenário, com uma trilha sonora maravilhosa que nos faz refletir em vários momentos e valorizar algumas coisas que teimamos em esquecer graças ao dia a dia corrido que vivemos!

A premiada diretora alemã, Sandra Nettelbeck (de "Bella Martha") é muito competente em criar uma atmosfera bastante nostálgica ao apresentar os conflitos de cada personagem. Com muita habilidade, ela trabalha enquadramentos que misturam realidade com imaginação que, muito mais que uma habilidade técnica, é capaz que nos proporcionar sensações bastante especiais. Reparem como Mr. Morgan se relaciona com a esposa morta com uma delicadeza impressionante!

Como roteirista, Nettelbeck, é muito inteligente em dividir muito bem a história - uma adaptação da obra de Françoise Dorner. No primeiro ato, o foco está na relação de Mr. Morgan e Pauline - uma jovem de certa forma misteriosa que apareceu na vida do protagonista em um momento de fragilidade e tristeza, com sua doçura e projetando nele uma figura paterna - aqui existe um jogo interessante proposto pelo texto: como sabemos pouco de Pauline e entendemos o momento de Morgan, é inevitável não se questionar se esse encantamento entre os dois pode ir além de uma inocente amizade, mas, sinceramente, os diálogos são tão bem escritos que até isso pouco importa diante do que ambos estão vivendo.

Pois bem, no segundo ato acompanhamos a entrada dos filhos de Mr. Morgan na história. Se no início acompanhamos o luto do protagonista e a esperança do recomeço ao conhecer Pauline, agora somos provocados a nos questionar perante o relacionamento familiar e a verdade que Morgan pode esconder através da sua personalidade - e aproveito para citar o excelente trabalho do ator Michael Caine. É no desenrolar desse ato que o roteiro de Nettelbeck acerta e erra ao mesmo tempo: se ela vai nos contando sobre a vida dos personagens nos momentos certos, ela vacila ao deixar claro por quem Pauline vai, de fato, se apaixonar - e fique tranquilo, isso não está nem perto de ser um spoiler de tão óbvio que é desde o primeiro momento!

Para finalizar, temos um terceiro ato onde sua relação com Pauline se mistura com os conflitos familiares em busca de uma solução - eu diria até, em busca de uma redenção e o texto não decepciona. Os diálogos são cirúrgicos ao não cair no piegas e Nettelbeck entrega, nos detalhes, um filme com alma! Daqueles que sentimos na pele ao assistir e que nos trazem coisas boas, mesmo quando algo ruim pode acontecer na tela. Emoção no ponto certo e aqui vai meu segundo destaque do elenco: Clémency Poésy é doce, talentosa e linda!

Ao som de uma trilha sonora de Hans Zimmer que conta com Norah Jones e uma belíssima versão de "Not to Late", “O Último Amor de Mr. Morgan” é um ótimo filme para assistir, sentir e se divertir! Vale muito a pena com aquele aperto no coração da saudade!

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O Vazio do Domingo

O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!

Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):

Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.

Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a  solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.

Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?

Vale o seu play, mas por conta e risco!

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O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!

Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):

Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.

Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a  solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.

Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?

Vale o seu play, mas por conta e risco!

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Os Miseráveis

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Osmosis

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

Assista Agora

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Oxigênio

"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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Paraíso

"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

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"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

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Pelas ruas de Paris

Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.

Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente! 

"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!

Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.

"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!

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Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.

Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente! 

"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!

Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.

"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!

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