"Perdi Meu Corpo" (I Lost My Body) é, sem dúvida, a maior surpresa entre os cinco indicados à Melhor Animação do Oscar 2020. A animação francesa, distribuída pela Netflix, desbancou concorrentes de peso como "Frozen 2" e o "Rei Leão", mas chega com um enorme status de azarão na premiação - não pela falta de qualidade técnica ou narrativa, mas pelos próprios caminhos conceituais que o projeto escolheu - e põe conceitual nisso! Repare na premissa: o filme acompanha a jornada de uma "mão" em busca do corpo do qual ela fazia parte! Por mais bizarro que possa parecer, "Perdi Meu Corpo" aproveita essa jornada um tanto quanto peculiar para falar de escolhas, de destino e de auto-conhecimento, já que a história se passa em duas linhas temporais distintas: o presente, onde a protagonista é a "mão"; e o passado, onde o protagonista é Naoufel, um jovem, órfão, que se apaixona por Gabriella, uma garota que ele conheceu através do interfone de um prédio em Paris. É fácil deduzir que a "mão" é de Naoufel e que são as "memórias" que amarram a história, mas não sabemos se ele morreu, como ele perdeu a mão, o que aconteceu com seu pais, por que ele se tornou um garoto introspectivo, etc. "Perdi Meu Corpo" não é uma animação infantil (nem para a família como costumamos encontrar por aí), tem um tom independente bastante presente, quase experimental, e sua história é muito mais contemplativa do que dinâmica - e isso pode causar um certo estranhamento e quebrar um pouco a expectativa de quem assiste. Não é um filme que vai agradar a todos - ele é um drama com elementos bastante enraizados do cinema francês, só que em animação! Eu gostei, mas só assista se você se identificar com os elementos que comentei, se não você vai se decepcionar!
O visual da animação é incrível - parece um jogo de vídeo game, daqueles cults e muito bem desenvolvidos. A técnica da animação trás, ao mesmo tempo, o colorido e o monocromático, assim como o roteiro nos provoca a construir a história seguindo justamente esses signos! Os traços da animação 2D parecem sair das páginas de uma revista em quadrinhos, mesmo sendo um processo digital. A fotografia trabalha a iluminação e os enquadramentos lindamente, encaixando completamente com a sua estética - reparem nas cenas onde as memórias são mais antigas, preto e branco; como a sensação do preenchimento com a cor, dá lugar ao grafitado, quase que perfeitamente borrado, respeitando os limites do traço! Puxa, é lindo! A composição dos personagens tem uma forma mais caricaturada ao mesmo tempo em que nos perdemos no realismo de alguns movimentos - a "mão" é tão viva quanto qualquer outro personagem "desenhado" que está em cena!
É o primeiro longa-metragem do diretor Jérémy Clapin, um cara muito premiado com curtas de animação e é aí que eu acho que o filme dá uma vacilada - tenho a impressão que "Perdi Meu Corpo" poderia ser muito mais dinâmico, sem perder sua profundidade, se fosse um curta-metragem! O roteiro de Guillaume Laurant, um dos roteiristas do incrível "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é bom, trabalha bem os detalhes emocionais dos personagens (inclusive da "mão"), mas parece que não move muito a história para frente. São, basicamente, duas histórias distintas que funcionam muito bem sozinhas, que se unem no final, mas que não entrega algo que justifique a expectativa que o próprio filme vai criando - não sei, me parece que faltou um desfecho que impactasse mais! Pessoalmente, a escolha do final me incomodou um pouco, mas entendo a razão, principalmente por se tratar de uma animação. Não quero me alongar muito para não sugerir algum "spoiler", mas reparem como a dramaticidade poderia ter sido maior tanto para "mão" quanto para Naoufel se a escolha fosse "a" outra - e se encaixaria perfeitamente com as memórias e toda aquela sensação de culpa que o protagonista sempre carregou.
"Perdi Meu Corpo" merece estar na disputa da categoria, mas seu aspecto técnico deve ter pesado bastante. Essa animação é diferente, tem uma identidade forte e uma arco principal bem particular - como foi o "Menino e o Mundo" em 2016, inclusive! Justamente por isso acredito que seu maior prêmio foi a indicação! O filme é bom e tem uma mistura de emoções bem equilibrada: do romance adolescente de Naoufel com Gabrielle, da angustia e tensão da jornada surreal e cheia de aventuras da "mão" até o drama mais sentimental e reflexivo da vida do protagonista! Pode ter certeza que vale o pouco mais de uma hora de filme!
"Perdi Meu Corpo" (I Lost My Body) é, sem dúvida, a maior surpresa entre os cinco indicados à Melhor Animação do Oscar 2020. A animação francesa, distribuída pela Netflix, desbancou concorrentes de peso como "Frozen 2" e o "Rei Leão", mas chega com um enorme status de azarão na premiação - não pela falta de qualidade técnica ou narrativa, mas pelos próprios caminhos conceituais que o projeto escolheu - e põe conceitual nisso! Repare na premissa: o filme acompanha a jornada de uma "mão" em busca do corpo do qual ela fazia parte! Por mais bizarro que possa parecer, "Perdi Meu Corpo" aproveita essa jornada um tanto quanto peculiar para falar de escolhas, de destino e de auto-conhecimento, já que a história se passa em duas linhas temporais distintas: o presente, onde a protagonista é a "mão"; e o passado, onde o protagonista é Naoufel, um jovem, órfão, que se apaixona por Gabriella, uma garota que ele conheceu através do interfone de um prédio em Paris. É fácil deduzir que a "mão" é de Naoufel e que são as "memórias" que amarram a história, mas não sabemos se ele morreu, como ele perdeu a mão, o que aconteceu com seu pais, por que ele se tornou um garoto introspectivo, etc. "Perdi Meu Corpo" não é uma animação infantil (nem para a família como costumamos encontrar por aí), tem um tom independente bastante presente, quase experimental, e sua história é muito mais contemplativa do que dinâmica - e isso pode causar um certo estranhamento e quebrar um pouco a expectativa de quem assiste. Não é um filme que vai agradar a todos - ele é um drama com elementos bastante enraizados do cinema francês, só que em animação! Eu gostei, mas só assista se você se identificar com os elementos que comentei, se não você vai se decepcionar!
O visual da animação é incrível - parece um jogo de vídeo game, daqueles cults e muito bem desenvolvidos. A técnica da animação trás, ao mesmo tempo, o colorido e o monocromático, assim como o roteiro nos provoca a construir a história seguindo justamente esses signos! Os traços da animação 2D parecem sair das páginas de uma revista em quadrinhos, mesmo sendo um processo digital. A fotografia trabalha a iluminação e os enquadramentos lindamente, encaixando completamente com a sua estética - reparem nas cenas onde as memórias são mais antigas, preto e branco; como a sensação do preenchimento com a cor, dá lugar ao grafitado, quase que perfeitamente borrado, respeitando os limites do traço! Puxa, é lindo! A composição dos personagens tem uma forma mais caricaturada ao mesmo tempo em que nos perdemos no realismo de alguns movimentos - a "mão" é tão viva quanto qualquer outro personagem "desenhado" que está em cena!
É o primeiro longa-metragem do diretor Jérémy Clapin, um cara muito premiado com curtas de animação e é aí que eu acho que o filme dá uma vacilada - tenho a impressão que "Perdi Meu Corpo" poderia ser muito mais dinâmico, sem perder sua profundidade, se fosse um curta-metragem! O roteiro de Guillaume Laurant, um dos roteiristas do incrível "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é bom, trabalha bem os detalhes emocionais dos personagens (inclusive da "mão"), mas parece que não move muito a história para frente. São, basicamente, duas histórias distintas que funcionam muito bem sozinhas, que se unem no final, mas que não entrega algo que justifique a expectativa que o próprio filme vai criando - não sei, me parece que faltou um desfecho que impactasse mais! Pessoalmente, a escolha do final me incomodou um pouco, mas entendo a razão, principalmente por se tratar de uma animação. Não quero me alongar muito para não sugerir algum "spoiler", mas reparem como a dramaticidade poderia ter sido maior tanto para "mão" quanto para Naoufel se a escolha fosse "a" outra - e se encaixaria perfeitamente com as memórias e toda aquela sensação de culpa que o protagonista sempre carregou.
"Perdi Meu Corpo" merece estar na disputa da categoria, mas seu aspecto técnico deve ter pesado bastante. Essa animação é diferente, tem uma identidade forte e uma arco principal bem particular - como foi o "Menino e o Mundo" em 2016, inclusive! Justamente por isso acredito que seu maior prêmio foi a indicação! O filme é bom e tem uma mistura de emoções bem equilibrada: do romance adolescente de Naoufel com Gabrielle, da angustia e tensão da jornada surreal e cheia de aventuras da "mão" até o drama mais sentimental e reflexivo da vida do protagonista! Pode ter certeza que vale o pouco mais de uma hora de filme!
"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!
David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):
Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.
Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão.
Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.
Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!
"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!
David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):
Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.
Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão.
Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.
Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!
Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!
Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:
É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!
Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista!
Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).
"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!
Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!
Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:
É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!
Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista!
Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).
"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!
"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.
O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:
A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.
A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?
Vale muito a pena!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.
O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:
A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.
A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?
Vale muito a pena!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!
"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!
Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:
É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos.
O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.
A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.
"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!
"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!
Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:
É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos.
O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.
A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.
"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!
Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").
A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:
Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.
A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!
"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor.
Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.
Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").
A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:
Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.
A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!
"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor.
Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
Vou começar o review de uma forma diferente. Prestem a atenção na história: Um bem sucedido executivo catalão perde sua família em um acidente de carro. Além da dor, a culpa toma conta dele, afinal sua mulher havia se queixado de um problema no carro um dia antes, mas ele não deu a mínima atenção. Com isso vem a depressão e a vontade de acabar com a própria vida, porém no momento do suicídio surge uma mulher e impede que o ato seja consumado! Essa mulher, uma Mestre em astrofísica americana, sabendo que a vida já não importava mais para ele, convida nosso protagonista para participar de uma experiência única! Ela desenvolveu uma tecnologia capaz de abrir portais para os mais diversos universos, ou seja, seria possível ver (e interferir?!) nos rumos da história para entender o que poderia ser diferente se uma ou outra decisão fosse tomada, por ele e por quem o rodeia. Será que o acidente poderia ter sido evitado se ele não tivesse deixado a mulher sair com o carro dela naquele estado? Acontece que nem tudo sai como ele imaginava (claro!!!) e ao perceber que essas outras decisões também teriam suas consequências, o caos se instala na sua vida em diversas dimensões e suas interferências acabam virando uma bola de neve!!! - Nada muito original, mas interessante, não?
Acontece que "Se eu não tivesse te conhecido", produção catalã Original Netflix (de 10 episódios com 50 minutos cada) reuniu tudo o que existe de mais clichê em uma única série - na verdade, é um novelão! O over acting é tão presente em todos os personagens que qualquer possibilidade de imersão naquele realismo fantástico vai para o ralo. O primeiro episódio, sem brincadeira, são 40 minutos de lamentações para justificar uma coisa que seria tão natural: se sentir arrasado e sem esperanças após perder toda sua família em um acidente trágico! Não precisa alimentar esse sentimento mais do que 5 minutos, porque é óbvio que o personagem se sentiria assim, mas não, existe uma necessidade enorme de atingir a audiência com gatilhos emocionais completamente dispensáveis!!! Por exemplo: o desenho de som é terrível, a cada cena surge um violino depressivo tentando te fazer chorar... Eu não estou brincando, acho que a cada 2 minutos tem uma intervenção como essa, sem o menor sentido narrativo porque a história parece não te levar para frente nunca (ou pelo menos demora muito)! A produção também não ajuda, a qualidade oscila muito: as vezes temos planos lindos, com uma bela fotografia, uma qualidade cinematográfica incrível e logo em seguida uma cena que não consegue esconder que foi rodada em estúdio (ou na garagem de casa) - muito, mas muito, mal iluminada! Maquiagem e efeitos especiais dignos de Chapollin Colorado...
Mas tem gente que gosta de um dramalhão, então vamos dar algum crédito: os ganchos entre um episódio e outro são excelentes (por incrível que pareça). Se você estiver disposto a fechar os olhos para a qualidade estética e narrativa da série, por gostar do tema ou do gênero, é bem capaz que você consiga seguir por mais de um episódio. Sério, os ganchos são tão bons que me fizeram assistir 3 episódios seguidos mesmo com todas essas limitações. O problema é que o gancho não se sustenta quando começa o episódio, dois minutos e tudo vai para o lixo de novo, mas aí você se esforça, se permite, vem outro gancho bom e resolve ir para mais um episódio e assim vai feito um ciclo vicioso até que você diz: "Chega!"
Bom, se você gostou de "O Barco", você talvez se interesse pela série. Se você gostou de "Dark", não dê o play em hipótese alguma!!! Enfim, tudo é uma questão de gosto! Assista por conta e risco!!!
Vou começar o review de uma forma diferente. Prestem a atenção na história: Um bem sucedido executivo catalão perde sua família em um acidente de carro. Além da dor, a culpa toma conta dele, afinal sua mulher havia se queixado de um problema no carro um dia antes, mas ele não deu a mínima atenção. Com isso vem a depressão e a vontade de acabar com a própria vida, porém no momento do suicídio surge uma mulher e impede que o ato seja consumado! Essa mulher, uma Mestre em astrofísica americana, sabendo que a vida já não importava mais para ele, convida nosso protagonista para participar de uma experiência única! Ela desenvolveu uma tecnologia capaz de abrir portais para os mais diversos universos, ou seja, seria possível ver (e interferir?!) nos rumos da história para entender o que poderia ser diferente se uma ou outra decisão fosse tomada, por ele e por quem o rodeia. Será que o acidente poderia ter sido evitado se ele não tivesse deixado a mulher sair com o carro dela naquele estado? Acontece que nem tudo sai como ele imaginava (claro!!!) e ao perceber que essas outras decisões também teriam suas consequências, o caos se instala na sua vida em diversas dimensões e suas interferências acabam virando uma bola de neve!!! - Nada muito original, mas interessante, não?
Acontece que "Se eu não tivesse te conhecido", produção catalã Original Netflix (de 10 episódios com 50 minutos cada) reuniu tudo o que existe de mais clichê em uma única série - na verdade, é um novelão! O over acting é tão presente em todos os personagens que qualquer possibilidade de imersão naquele realismo fantástico vai para o ralo. O primeiro episódio, sem brincadeira, são 40 minutos de lamentações para justificar uma coisa que seria tão natural: se sentir arrasado e sem esperanças após perder toda sua família em um acidente trágico! Não precisa alimentar esse sentimento mais do que 5 minutos, porque é óbvio que o personagem se sentiria assim, mas não, existe uma necessidade enorme de atingir a audiência com gatilhos emocionais completamente dispensáveis!!! Por exemplo: o desenho de som é terrível, a cada cena surge um violino depressivo tentando te fazer chorar... Eu não estou brincando, acho que a cada 2 minutos tem uma intervenção como essa, sem o menor sentido narrativo porque a história parece não te levar para frente nunca (ou pelo menos demora muito)! A produção também não ajuda, a qualidade oscila muito: as vezes temos planos lindos, com uma bela fotografia, uma qualidade cinematográfica incrível e logo em seguida uma cena que não consegue esconder que foi rodada em estúdio (ou na garagem de casa) - muito, mas muito, mal iluminada! Maquiagem e efeitos especiais dignos de Chapollin Colorado...
Mas tem gente que gosta de um dramalhão, então vamos dar algum crédito: os ganchos entre um episódio e outro são excelentes (por incrível que pareça). Se você estiver disposto a fechar os olhos para a qualidade estética e narrativa da série, por gostar do tema ou do gênero, é bem capaz que você consiga seguir por mais de um episódio. Sério, os ganchos são tão bons que me fizeram assistir 3 episódios seguidos mesmo com todas essas limitações. O problema é que o gancho não se sustenta quando começa o episódio, dois minutos e tudo vai para o lixo de novo, mas aí você se esforça, se permite, vem outro gancho bom e resolve ir para mais um episódio e assim vai feito um ciclo vicioso até que você diz: "Chega!"
Bom, se você gostou de "O Barco", você talvez se interesse pela série. Se você gostou de "Dark", não dê o play em hipótese alguma!!! Enfim, tudo é uma questão de gosto! Assista por conta e risco!!!
"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:
Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.
Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!
Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!
"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:
Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.
Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!
Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.
A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.
O roteiro usa e abusa da construção de arquétipos vindos dos contos de fada para contar a história: enquanto a mãe de Luna soa como uma versão das “madrastas más”, o caráter íntegro de Giuseppe o aproxima dos príncipes encantados e a sensibilidade sonhadora de Luna das princesas à espera do final feliz! A própria fotografia do diretor Luca Bigazzi aproveita da belíssima paisagem mediterrânea para abusar dos longos planos-sequência, panorâmicas, cheia de planos abertos, além de alguns momentos onde a perspectiva parece distorcida como se alguém observasse toda a ação. Todo conceito estético é ainda mais valorizado pela linda trilha sonora de Anton Spielmann criando o universo que transita entre o encantamento e o sinistro, entre a fantasia e o real, trazendo muitas referências dos Irmãos Grimm.
É preciso dizer que "O Fantasma da Sicília" (título em português) é um pouco longo demais, reflexo desse estilo mais autoral e artístico dos diretores, o que dá a impressão de um filme que não evolui. O primeiro e o terceiro atos são excelentes, mas o ponto fraco é, sem dúvida, o segundo ato - eisso tende a cansar quem não está envolvido com o filme ou se identifica com esse tipo de cinema.
Não é um filme fácil, é lento, mas é muito bom! Eu gostei, mas sei que vai agradar um nicho bem pequeno de cinéfilos!!!
Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.
A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.
O roteiro usa e abusa da construção de arquétipos vindos dos contos de fada para contar a história: enquanto a mãe de Luna soa como uma versão das “madrastas más”, o caráter íntegro de Giuseppe o aproxima dos príncipes encantados e a sensibilidade sonhadora de Luna das princesas à espera do final feliz! A própria fotografia do diretor Luca Bigazzi aproveita da belíssima paisagem mediterrânea para abusar dos longos planos-sequência, panorâmicas, cheia de planos abertos, além de alguns momentos onde a perspectiva parece distorcida como se alguém observasse toda a ação. Todo conceito estético é ainda mais valorizado pela linda trilha sonora de Anton Spielmann criando o universo que transita entre o encantamento e o sinistro, entre a fantasia e o real, trazendo muitas referências dos Irmãos Grimm.
É preciso dizer que "O Fantasma da Sicília" (título em português) é um pouco longo demais, reflexo desse estilo mais autoral e artístico dos diretores, o que dá a impressão de um filme que não evolui. O primeiro e o terceiro atos são excelentes, mas o ponto fraco é, sem dúvida, o segundo ato - eisso tende a cansar quem não está envolvido com o filme ou se identifica com esse tipo de cinema.
Não é um filme fácil, é lento, mas é muito bom! Eu gostei, mas sei que vai agradar um nicho bem pequeno de cinéfilos!!!
Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!
Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!
Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor.
Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola.
Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!
Indico, mas por sua conta e risco...
Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!
Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!
Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor.
Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola.
Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!
Indico, mas por sua conta e risco...
Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!
O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!
Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:
O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.
Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.
"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!
O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!
Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!
O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!
Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:
O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.
Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.
"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!
O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!
"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.
O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:
Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!
A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".
Para quem gosta da receita, só dar o play!
"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.
O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:
Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!
A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".
Para quem gosta da receita, só dar o play!
Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!
Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:
"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.
O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!
Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!
Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!
Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:
"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.
O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!
Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!