"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.
Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:
"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.
Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.
Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!
Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.
Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:
"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.
Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.
Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):
Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!
Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo - eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!
Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral!
"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência!
Imperdível!
"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):
Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!
Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo - eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!
Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral!
"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência!
Imperdível!
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!
Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:
Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.
O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.
Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!
Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!
Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:
Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.
O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.
Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!
Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:
O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!
Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.
O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!
Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:
O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!
Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.
O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
"A Mão de Deus" é o representante da Itália no Oscar 2022 - e com todo merecimento. O filme fala sobre a "solidão", ou melhor, sobre "de repente estar sozinho" e para isso o premiado diretor Paolo Sorrentino retorna a Nápoles em busca de um retrato profundamente nostálgico que se divide em dois momentos: o primeiro é barulhento, colorido, animado - um recorte divertido de uma família napolitana que vivia a expectativa do melhor jogador de futebol do mundo (pelo menos para eles), Maradona, ser contratado pelo time da cidade. O segundo, completamente silencioso, quase monocromático, triste, mas ainda assim maduro para discutir o luto - justamente quando o sonho de ver o Napoli campeão italiano se concretizava graças ao talento do jogador argentino!
Na década de 1980, o jovem Fabietto Schisa (Filippo Scotti) mora em Nápoles junto de seu pai Saverio (Toni Servillo) e sua mãe Maria (Teresa Saponangelo). Embora não seja um rapaz introvertido, Fabietto não tem muitos amigos ou namoradas, tendo como foco se preparar para cursar filosofia na faculdade. Apaixonado pela música e principalmente pelo seu time do coração, o Napoli de Diego Maradona, o jovem sempre se dedicou a família, inclusive seguindo seu irmão Marchino (Marlon Joubert) durante alguns testes para atuar em filmes do cineasta Frederico Felinni - de onde começa a despertar nele um certo interesse pelo cinema, e não necessariamente apenas pela arte. Até que uma tragédia atinge sua família, e Fabietto se vê chegando na maioridade de uma forma cruel e solitária. Confira o trailer:
Com uma narrativa que mistura elementos de "Roma" com o conceito visual e nostálgico de "Me chame pelo seu nome", "A Mão de Deus" é praticamente um filme de personagem, tendo em Fabietto uma espécie de alter-ego de Sorrentino - mais ou menos como Almodóvar fez no seu "Dor e Glória". Embora aqui a proposta do diretor não seja provocar uma enorme reflexão e muito menos se colocar como um personagem egocêntrico e saudosista como o espanhol, "A Mão de Deus" não deixa de ser um recorte sobre a família napolitana contada por quem viveu aquela história. Filippo Scotti (uma versão carismática de Timothée Chalamet) traz um tom extremamente naturalista, sem nenhum tipo de exagero, para o personagem, criando uma abordagem quase que documental da sua própria vida - nos bons e nos maus momentos.
O interessante da história é que Sorrentino brinca com nossa imaginação em todo momento, como se aquela vida fosse contada apenas a partir das lembranças de Fabietto - o que não necessariamente funciona como um relato fiel dos acontecimentos em si. Será que a Baronesa solitária (Betty Pedrazzi), vizinha da sua família, era realmente daquela forma e reagiu daquela maneira durante o período de luto do jovem? Ou Patrizia (Luisa Ranieri), ela realmente agia daquela forma ou não passava de uma fantasia de Fabietto? E sua irmã, ela realmente vivia trancada no banheiro? Veja, os demais personagens são tão alegóricos que nos faz duvidar sobre a veracidade daquilo que assistimos - agora uma coisa é fato: as reuniões da família Schisa são deliciosas de vivenciar.
"È stata la mano di Dio" (no original) explora paisagens belíssimas da cidade costeira italiana de um modo mágico - mérito do diretor de fotografia Daria D'Antoni. Mas sem dúvida que é na atmosfera nostálgica criada por Sorrentino que o filme ganha um valor inestimável - sua capacidade de estabelecer os laços familiares pelas alegrias de algumas passagens e pela tristeza marcante de outros momentos, mexem com nossos sentimentos mais profundos e criam uma experiência quase sensorial ao pontuar determinadas tradições familiares através da memória, da linha do tempo e, por que não, de Diego Maradona.
Vale muito a pena!
“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.
Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:
Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.
A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!
“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.
Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.
Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:
Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.
A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!
“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.
Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:
Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).
Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!
Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!
Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!
Vale muito o seu play!
Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:
Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).
Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!
Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!
Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!
Vale muito o seu play!
"Altos Negócios" é uma espécie de "Shiny Flakes" do golpe imobiliário e embora um seja ficção e o outro documentário, os elementos narrativos são praticamente idênticos e, por coincidência, ambas as produções são alemãs. Embora nenhum dos dois títulos sejam inesquecíveis, é impossível negar que além de curiosos, estamos falando de ótimos entretenimentos onde as discussões morais são completamente substituídas por sensações bastante peculiares - então não se assuste se, mais uma vez, você estiver torcendo para os "bandidos"!
"Altos Negócios" conta a história de Viktor Stein (David Kross), um garoto que deixa a casa de seu pai e parte para a cidade grande para se tornar um empresário de sucesso. Não demora muito para que o rapaz descubra que precisa quebrar algumas regras e assim se infiltrar em um ramo disputado como o imobiliário. Após uma parceria inesperada com o malandro Gerry Falkland (Frederick Lau) e a bancária Nicole Kleber (Janina Uhse), Stein entra em uma jornada repleta de dinheiro, glamour, álcool e drogas que não demora para fugir do seu controle. Confira o trailer (dublado):
Se em "Breaking Bad" aprendemos a olhar as motivações dos personagens por um outro ponto de vista e assim colocar em julgamento suas atitudes com a desculpa que o "fim" pode justificar os "meios", nessa produção alemã voltamos justamente para essa interpretação. O roteiro deCüneyt Kaya, que também assina a direção, parece ter uma certa dificuldade em assumir que Viktor pode ser corrompido, deixando sempre uma leve impressão de que o rapaz tem um bom coração, ou seja, mesmo sendo um mau-caráter, Viktor parece sofrer com certo arrependimento e que em algum momento isso poderá se tornar sua redenção. Dito isso, o filme me soou conformista demais, como se não tivesse coragem para expor o mal que um personagem como esse pode causar para a sociedade - e a mesma critica se extende para o próprio "Shiny Flakes".
Embora completamente linear e seguro dessa postura narrativa, é impossível não se envolver com as falcatruas do protagonista (e de seus parceiros) e assim desfrutar do sucesso e da vingança perante o "sistema" (em algum momento do filme você vai escutar exatamente isso). Será natural uma leve lembrança com o estilo e a ambientação de "O Lobo de Wall Street" - a edição ágil intercalada com a narrativa focada no ponto de vista do protagonista colabora com essa memória (quase) emotiva, mas as semelhanças tendem a parar por aí - no contexto e na qualidade como obra.
"Altos Negócios" perdeu a oportunidade de mergulhar na ganância e na maneira egocêntrica como esses tipos de personagens enxergam o mundo (como assistimos recentemente em "A Bad Boy Billionaires"), por outro lado entregou um filme dinâmico, sem muita enrolação, divertido e honesto. Muito bem produzido, dirigido e fotografado pelo Sebastian Bäumler, que construiu sua carreira nos documentários, "Betonrausch" (título original) é uma ótima recomendação para quem gosta de tramas realistas e subvertidas na linha de "Ozark" ou de "O Primeiro Milhão".
Vale o play!
"Altos Negócios" é uma espécie de "Shiny Flakes" do golpe imobiliário e embora um seja ficção e o outro documentário, os elementos narrativos são praticamente idênticos e, por coincidência, ambas as produções são alemãs. Embora nenhum dos dois títulos sejam inesquecíveis, é impossível negar que além de curiosos, estamos falando de ótimos entretenimentos onde as discussões morais são completamente substituídas por sensações bastante peculiares - então não se assuste se, mais uma vez, você estiver torcendo para os "bandidos"!
"Altos Negócios" conta a história de Viktor Stein (David Kross), um garoto que deixa a casa de seu pai e parte para a cidade grande para se tornar um empresário de sucesso. Não demora muito para que o rapaz descubra que precisa quebrar algumas regras e assim se infiltrar em um ramo disputado como o imobiliário. Após uma parceria inesperada com o malandro Gerry Falkland (Frederick Lau) e a bancária Nicole Kleber (Janina Uhse), Stein entra em uma jornada repleta de dinheiro, glamour, álcool e drogas que não demora para fugir do seu controle. Confira o trailer (dublado):
Se em "Breaking Bad" aprendemos a olhar as motivações dos personagens por um outro ponto de vista e assim colocar em julgamento suas atitudes com a desculpa que o "fim" pode justificar os "meios", nessa produção alemã voltamos justamente para essa interpretação. O roteiro deCüneyt Kaya, que também assina a direção, parece ter uma certa dificuldade em assumir que Viktor pode ser corrompido, deixando sempre uma leve impressão de que o rapaz tem um bom coração, ou seja, mesmo sendo um mau-caráter, Viktor parece sofrer com certo arrependimento e que em algum momento isso poderá se tornar sua redenção. Dito isso, o filme me soou conformista demais, como se não tivesse coragem para expor o mal que um personagem como esse pode causar para a sociedade - e a mesma critica se extende para o próprio "Shiny Flakes".
Embora completamente linear e seguro dessa postura narrativa, é impossível não se envolver com as falcatruas do protagonista (e de seus parceiros) e assim desfrutar do sucesso e da vingança perante o "sistema" (em algum momento do filme você vai escutar exatamente isso). Será natural uma leve lembrança com o estilo e a ambientação de "O Lobo de Wall Street" - a edição ágil intercalada com a narrativa focada no ponto de vista do protagonista colabora com essa memória (quase) emotiva, mas as semelhanças tendem a parar por aí - no contexto e na qualidade como obra.
"Altos Negócios" perdeu a oportunidade de mergulhar na ganância e na maneira egocêntrica como esses tipos de personagens enxergam o mundo (como assistimos recentemente em "A Bad Boy Billionaires"), por outro lado entregou um filme dinâmico, sem muita enrolação, divertido e honesto. Muito bem produzido, dirigido e fotografado pelo Sebastian Bäumler, que construiu sua carreira nos documentários, "Betonrausch" (título original) é uma ótima recomendação para quem gosta de tramas realistas e subvertidas na linha de "Ozark" ou de "O Primeiro Milhão".
Vale o play!
Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.
Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?
Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!
A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!!
"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!
Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.
Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?
Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!
A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!!
"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!
"As Leis da Termodinâmica", filme espanhol distribuído pela Netflix (por isso o selo de Original), é muito bacana. Na verdade ele começa um pouco lento, fiquei até na dúvida se o filme era um documentário ou uma ficção e isso até me gerou um certo desconforto. O fato é que o filme é um híbrido dos dois gêneros e assim que se entende a dinâmica narrativa, o filme flui muito tranquilo porque tem um roteiro inteligente e é muito bem dirigido pelo Mateo Gil - um dos roteiristas de "Mar Adentro" do chileno Alejandro Amenábar e vencedor do Oscar estrangeiro de 2005.
"Las leyes de la termodinámica" (no original), conta a história (improvável) de amor entre um assistente de professor universitário e cientista com uma modelo famosa - uma pegada meio "Nothing Hill". O grande trunfo do filme, é a forma como essa história é contada, pois é feito um paralelo entre as fases de um relacionamento com as Leis da Termodinâmica - pode parecer chato e até um formato repetitivo, mas é muito inteligente e extremamente bem explorada pelo diretor (que também assina o roteiro). Fica impossível não se identificar com uma ou outra situação! O filme é categorizado como uma comédia romântica, mas é inteligente e vai além do óbvio, surpreende pela qualidade.
Tecnicamente é excelente também: tem uma montagem dinâmica, intervenções gráficas interessantes (e que ajudam contar a história sem chamar muito a atenção) e os atores estão ótimos (Vito Sanz, especialmente). Vale muito a pena. Entretenimento leve e inteligente!
\Vale o play. Vale a indicação!!! Assistam no clima que a surpresa será boa!!!
"As Leis da Termodinâmica", filme espanhol distribuído pela Netflix (por isso o selo de Original), é muito bacana. Na verdade ele começa um pouco lento, fiquei até na dúvida se o filme era um documentário ou uma ficção e isso até me gerou um certo desconforto. O fato é que o filme é um híbrido dos dois gêneros e assim que se entende a dinâmica narrativa, o filme flui muito tranquilo porque tem um roteiro inteligente e é muito bem dirigido pelo Mateo Gil - um dos roteiristas de "Mar Adentro" do chileno Alejandro Amenábar e vencedor do Oscar estrangeiro de 2005.
"Las leyes de la termodinámica" (no original), conta a história (improvável) de amor entre um assistente de professor universitário e cientista com uma modelo famosa - uma pegada meio "Nothing Hill". O grande trunfo do filme, é a forma como essa história é contada, pois é feito um paralelo entre as fases de um relacionamento com as Leis da Termodinâmica - pode parecer chato e até um formato repetitivo, mas é muito inteligente e extremamente bem explorada pelo diretor (que também assina o roteiro). Fica impossível não se identificar com uma ou outra situação! O filme é categorizado como uma comédia romântica, mas é inteligente e vai além do óbvio, surpreende pela qualidade.
Tecnicamente é excelente também: tem uma montagem dinâmica, intervenções gráficas interessantes (e que ajudam contar a história sem chamar muito a atenção) e os atores estão ótimos (Vito Sanz, especialmente). Vale muito a pena. Entretenimento leve e inteligente!
\Vale o play. Vale a indicação!!! Assistam no clima que a surpresa será boa!!!
"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.
Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):
É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.
De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.
Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.
Vale seu play!
"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.
Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):
É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.
De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.
Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.
Vale seu play!
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".
Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção entre o certo e o errado.
"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!
Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico!
"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):
O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!
O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!
O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado "Em Pedaços".
"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!
Vale seu play sem o menor medo de errar!
As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.
Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:
O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).
Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).
Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.
Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".
Pode dar play sem medo!
Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco Marisa Tomei e Liev Schreiber.
As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.
Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:
O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).
Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).
Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.
Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".
Pode dar play sem medo!
Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco Marisa Tomei e Liev Schreiber.
"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!
Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:
Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.
Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.
"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.
Vale a pena!
"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!
Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:
Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.
Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.
"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.
Vale a pena!