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Os Miseráveis

Diretor
Ladj Ly
Elenco
Damien Bonnard, Alexis Manenti, Djibril Zonga
Ano
2019
País
França

Drama AppleTV+ ml-real ml-relacoes ml-violencia ml-independente ml-politico ml-frança ml-europa ml-cannes ml-oscar ml-gb

Os Miseráveis

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl" (no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

Assista Agora

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl" (no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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