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The Square

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

Assista Agora

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

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Toc toc

Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!

O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo. 

É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com  Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!

Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!

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Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!

O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo. 

É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com  Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!

Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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Um Reencontro

"Um Reencontro" é um típico romance francês - daqueles que assistimos sorrindo. Se você busca um filme sobre relações, leve, bem escrito, bem dirigido e bastante despretensioso, pode dar o play sem receio que sua diversão está garantida e também pode ter certeza: ele vai te provocar deliciosas memórias!

Pierre (François Cluzet) é um advogado criminalista reconhecido, casado há mais de 15 anos e que sempre coloca a família em primeiro lugar. Elsa (Sophie Marceau) é uma escritora recém-saída de um divórcio com dois filhos adolescentes e que vive um bom momento profissional. Um relacionamento amoroso entre os dois, portanto, seria proibido, mas desde a primeira troca de olhares, algo mudou na vida dos dois. Agora, eles terão que decidir se seguem esse desejo e essa paixão ou se param enquanto conseguem resistir um ao outro. Confira o trailer: 

Essa história escrita e dirigida pela francesa Lisa Azuelos (que também faz uma interessante participação como Anne, a mulher de Pierre) tem um elemento, que por sinal é explicado rapidamente durante o filme e que não tem a menor intenção de fazer dessa premissa uma verdade absoluta como em "As Leis da Termodinâmica", que remete à física quântica. Veja, se um átomo pode estar em diferentes lugares ao mesmo tempo, consequentemente, é possível que existam trajetórias diferentes ao mesmo tempo. Transportando para um relacionamento, diferentes possibilidades a partir de uma única ação não é algo tão absurdo - tanto que o livro que a personagem Elsa está lançando na ficção é intitulado “Homem Quântico”.

Feito esse disclaimer, "Um Reencontro" constrói sua narrativa em cima de algumas possibilidades a cada reencontro de Pierre e Elsa, respeitando uma ideia clara de "e se?" e assim se divertindo com todas as suspensões de realidade que um romance permitiria ter. Visualmente, Azuelos se alinha com o mesmo conceito: sua câmera passeia pelas reações dos protagonistas com uma delicadeza e sensibilidade impressionantes. Se os planos são fechamos, entendemos seus desejos mais íntimos; se plano está mais aberto, o que vemos é a confusão entre "razão" e "coração" que ambos precisam lidar a cada encontro. As transições entre essas duas situações, inclusive, são, além de criativas, tecnicamente muito bem executadas, criando um dinâmica muito bacana de assistir.

Tanto Marceau quanto François estão perfeitos - existe uma química entre os dois de dar inveja! A trilha sonora ajuda, e muito, na construção dessa relação e é um espetáculo a parte. Reparem como a montagem, responsabilidade de Stan Collet e Karine Prido, encaixa ótimos diálogos com essa trilha empolgante a partir de cortes precisos, dando um ar de modernidade diferenciado ao filme - além de reforçar a ideia sobre as diferentes possibilidades de uma relação entre dois personagens apaixonados que não podem se envolver - nesse sentido, as referência da literatura também estão no roteiro.  Eu diria que é o clássico do conteúdo com a modernidade da forma! Funciona!

"Um Reencontro" vale muito a pena mesmo! 

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"Um Reencontro" é um típico romance francês - daqueles que assistimos sorrindo. Se você busca um filme sobre relações, leve, bem escrito, bem dirigido e bastante despretensioso, pode dar o play sem receio que sua diversão está garantida e também pode ter certeza: ele vai te provocar deliciosas memórias!

Pierre (François Cluzet) é um advogado criminalista reconhecido, casado há mais de 15 anos e que sempre coloca a família em primeiro lugar. Elsa (Sophie Marceau) é uma escritora recém-saída de um divórcio com dois filhos adolescentes e que vive um bom momento profissional. Um relacionamento amoroso entre os dois, portanto, seria proibido, mas desde a primeira troca de olhares, algo mudou na vida dos dois. Agora, eles terão que decidir se seguem esse desejo e essa paixão ou se param enquanto conseguem resistir um ao outro. Confira o trailer: 

Essa história escrita e dirigida pela francesa Lisa Azuelos (que também faz uma interessante participação como Anne, a mulher de Pierre) tem um elemento, que por sinal é explicado rapidamente durante o filme e que não tem a menor intenção de fazer dessa premissa uma verdade absoluta como em "As Leis da Termodinâmica", que remete à física quântica. Veja, se um átomo pode estar em diferentes lugares ao mesmo tempo, consequentemente, é possível que existam trajetórias diferentes ao mesmo tempo. Transportando para um relacionamento, diferentes possibilidades a partir de uma única ação não é algo tão absurdo - tanto que o livro que a personagem Elsa está lançando na ficção é intitulado “Homem Quântico”.

Feito esse disclaimer, "Um Reencontro" constrói sua narrativa em cima de algumas possibilidades a cada reencontro de Pierre e Elsa, respeitando uma ideia clara de "e se?" e assim se divertindo com todas as suspensões de realidade que um romance permitiria ter. Visualmente, Azuelos se alinha com o mesmo conceito: sua câmera passeia pelas reações dos protagonistas com uma delicadeza e sensibilidade impressionantes. Se os planos são fechamos, entendemos seus desejos mais íntimos; se plano está mais aberto, o que vemos é a confusão entre "razão" e "coração" que ambos precisam lidar a cada encontro. As transições entre essas duas situações, inclusive, são, além de criativas, tecnicamente muito bem executadas, criando um dinâmica muito bacana de assistir.

Tanto Marceau quanto François estão perfeitos - existe uma química entre os dois de dar inveja! A trilha sonora ajuda, e muito, na construção dessa relação e é um espetáculo a parte. Reparem como a montagem, responsabilidade de Stan Collet e Karine Prido, encaixa ótimos diálogos com essa trilha empolgante a partir de cortes precisos, dando um ar de modernidade diferenciado ao filme - além de reforçar a ideia sobre as diferentes possibilidades de uma relação entre dois personagens apaixonados que não podem se envolver - nesse sentido, as referência da literatura também estão no roteiro.  Eu diria que é o clássico do conteúdo com a modernidade da forma! Funciona!

"Um Reencontro" vale muito a pena mesmo! 

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Uma Família Quase Perfeita

Uma Família Quase Perfeita

Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

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Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

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Utoya 22 de Julho

"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.

Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:

O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!

"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!

PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.

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"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.

Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:

O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!

"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!

PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.

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Victoria

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Viver duas vezes

"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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Vórtex

"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.  

Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):

Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas  - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência  se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada. 

Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.

Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.

Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!

PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs

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"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.  

Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):

Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas  - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência  se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada. 

Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.

Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.

Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!

PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs

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Zona de Confronto

Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

Vale seu play!

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Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

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