"Euphoria" faz qualquer outra série adolescente parecer um episódio da "Galinha Pintadinha"! Dito isso, sem nenhum exagero, toda aquela discussão que envolveu "13 Reasons Why"depois de seu lançamento pela Netflix, certamente, vai alcançar outro patamar porque essa série da HBO traz um realismo tão chocante que nos faz refletir sobre a própria criação que devemos (ou conseguimos) dar para os nossos filhos!
Depois de assistir alguns episódios da série, a sensação que tive (com um pouco mais de 40 anos) foi a mesma quando assisti "Eu, Christiane F." pela primeira vez, há pelo menos 30 anos atrás. Sem qualquer tipo de comparação entre as duas obras ou o que elas podem representar para uma geração, "Euphoria" tem "cenas que são explícitas, difíceis de assistir e que podem ser gatilhos" - como bem definiu Zendaya, protagonista da série. Zendaya, aliás, nada se faz lembrar dos seus tempos de Disney - ela está impecável no papel da drogada Rue Bennett. É preciso dizer também que em um único episódio você vai encontrar uma adolescente tendo overdose, um pai de família tendo relações sexuais com uma adolescente trans, sexo com estrangulamento, muito bullying e até o drama de ter imagens intimas compartilhadas por WhatsApp! Parece chocante e realmente é, por mais que o criador da série, Sam Levinson, diga que não, que é apenas um retrato do jovem americano dos dias de hoje! Ok, esse retrato é chocante, fica mais um aviso!
"Euphoria" tem uma qualidade técnica e artística muito acima da média. A direção de atores é excelente, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos. A fotografia e os movimentos de câmera são bem inventivos, provocadores como o roteiro que mistura loucura com realidade em muitas passagens... o fato é que fica tudo muito alinhado, redondinho! A pegada documental também está presente, o que trás veracidade para aquela ficção - seja por uma camera mais solta, por vários planos mais fechados (intimistas até) e pelos offs da protagonista que servem para costurar toda a história. "13 Reasons Why" trouxe muito desse conceito, mas como comentei anteriormente: "Euphoria" elevou o nível também na sua realização!
É certo que ainda é muito cedo para dizer se "Euphoria" vai funcionar como série. Às vezes a realidade choca demais e o público, normalmente, usa seu momento de lazer para fugir dela, mas não dá para negar que a qualidade narrativa da série, sua produção nível HBO e os assuntos bastante espinhosos criam uma curiosidade que a série vai ter como bancar em todos os episódios até o final da temporada. Na hora de colocar na balança, se muito do que for mostrado tiver um propósito, sua chance de sucesso aumenta, se cair no erro de querer chocar mais do que entreter ou provocar uma discussão, assino o cancelamento já na primeira temporada - pessoalmente eu acho muito difícil que aconteça!
Vale o play? Com certeza, mas esteja preparado para, ao abrir essa janela, enxergar uma realidade nada confortável!
"Euphoria" faz qualquer outra série adolescente parecer um episódio da "Galinha Pintadinha"! Dito isso, sem nenhum exagero, toda aquela discussão que envolveu "13 Reasons Why"depois de seu lançamento pela Netflix, certamente, vai alcançar outro patamar porque essa série da HBO traz um realismo tão chocante que nos faz refletir sobre a própria criação que devemos (ou conseguimos) dar para os nossos filhos!
Depois de assistir alguns episódios da série, a sensação que tive (com um pouco mais de 40 anos) foi a mesma quando assisti "Eu, Christiane F." pela primeira vez, há pelo menos 30 anos atrás. Sem qualquer tipo de comparação entre as duas obras ou o que elas podem representar para uma geração, "Euphoria" tem "cenas que são explícitas, difíceis de assistir e que podem ser gatilhos" - como bem definiu Zendaya, protagonista da série. Zendaya, aliás, nada se faz lembrar dos seus tempos de Disney - ela está impecável no papel da drogada Rue Bennett. É preciso dizer também que em um único episódio você vai encontrar uma adolescente tendo overdose, um pai de família tendo relações sexuais com uma adolescente trans, sexo com estrangulamento, muito bullying e até o drama de ter imagens intimas compartilhadas por WhatsApp! Parece chocante e realmente é, por mais que o criador da série, Sam Levinson, diga que não, que é apenas um retrato do jovem americano dos dias de hoje! Ok, esse retrato é chocante, fica mais um aviso!
"Euphoria" tem uma qualidade técnica e artística muito acima da média. A direção de atores é excelente, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos. A fotografia e os movimentos de câmera são bem inventivos, provocadores como o roteiro que mistura loucura com realidade em muitas passagens... o fato é que fica tudo muito alinhado, redondinho! A pegada documental também está presente, o que trás veracidade para aquela ficção - seja por uma camera mais solta, por vários planos mais fechados (intimistas até) e pelos offs da protagonista que servem para costurar toda a história. "13 Reasons Why" trouxe muito desse conceito, mas como comentei anteriormente: "Euphoria" elevou o nível também na sua realização!
É certo que ainda é muito cedo para dizer se "Euphoria" vai funcionar como série. Às vezes a realidade choca demais e o público, normalmente, usa seu momento de lazer para fugir dela, mas não dá para negar que a qualidade narrativa da série, sua produção nível HBO e os assuntos bastante espinhosos criam uma curiosidade que a série vai ter como bancar em todos os episódios até o final da temporada. Na hora de colocar na balança, se muito do que for mostrado tiver um propósito, sua chance de sucesso aumenta, se cair no erro de querer chocar mais do que entreter ou provocar uma discussão, assino o cancelamento já na primeira temporada - pessoalmente eu acho muito difícil que aconteça!
Vale o play? Com certeza, mas esteja preparado para, ao abrir essa janela, enxergar uma realidade nada confortável!
Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!
Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.
A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.
"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.
Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!
Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!
Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.
A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.
"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.
Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!
Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!
Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:
"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.
Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!
"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!
Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!
Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:
"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.
Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!
"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!
Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.
Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.
Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.
A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!
Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.
Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.
Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.
A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!
"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.
Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:
Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.
A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.
Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.
Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!
"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.
Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:
Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.
A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.
Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.
Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!
"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.
O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:
É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.
Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.
Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!
"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.
O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:
É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.
Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.
Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!
"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf".
Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:
Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!
"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu play.
"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf".
Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:
Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!
"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu play.
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
De certa forma, a história de "Flamin' Hot" é melhor que o filme - e digo isso se comparamos com um filme de temática parecida como "Fome de Poder", por exemplo. Aqui o conceito narrativo escolhido pela "novata" na função de direção, Eva Longoria, se apropria de elementos que se apoiam, propositalmente, muito mais em clichês e que ajudam a contar a jornada de um herói improvável, misturando elementos dramáticos com (de certa forma) cômicos, com um tom mais agradável e uma dinâmica bastante coerente com o universo em que o próprio protagonista está inserido. Funciona, mas em um primeiro olhar pode afastar os mais exigentes - então te aconselho: dê uma chance ao filme.
"Flamin’ Hot" (que no Brasil ganhou o inspirado subtítulo "O Sabor que Mudou a História") conta a inspiradora jornada de Richard Montañez (Jesse Garcia), um zelador da Frito Lay que entendeu a importância de seu legado Mexicano-Americano e transformou o icônico salgadinho Cheetos Super Picante em um petisco que mudou a indústria alimentícia no inicio dos anos 90, tornando-se um fenômeno de vendas e um marco na relação multi-cultural entre o marketing e um público de nicho. Confira o trailer (em inglês):
É perceptível em "Flamin' Hot" que tudo foi muito bem pensado para que o filme passasse aquela mensagem que, com superação e determinação (ressaltando a importância do trabalho árduo e da crença em si mesmo), é possível alcançar nossos objetivos mais complicados. Seguindo esse propósito, Eva Longoria demonstra habilidade ao contar essa história real de uma forma bastante cativante. Ela utiliza uma narrativa que flui e que visualmente se torna atraente para audiência - ela se aproveita de uma variedade de técnicas visuais para nos colocar frente a frente com a vida de Richard Montañez. Repare como direção de Longoria está extremamente alinhada ao roteiro escrito pelo Lewis Colick e pela Linda Yvette Chávez (sob supervisão do próprio Montanez) que sabiamente explora toda dualidade entre o mundo corporativo e o principio da inovação, sob um olhar cultural (especificamente latino) trazendo à tona questões de identidade e pertencimento tão relevantes nos dias de hoje.
Embora o roteiro de "Flamin' Hot" seja bem construído, apresentando as dificuldades de Richard Montañez de forma coerente e envolvente, o recorte temporal me pareceu extenso demais: ao mostrar sua infância humilde e os desafios que enfrentou como imigrante nos Estados Unidos, até sua ascensão na Frito-Lay, o filme soa muito previsível. Por outro lado, é inegável que isso gera uma conexão imediata com o protagonista - aliás, Jesse Garcia consegue transmitir perfeitamente toda a determinação e a paixão pelo seu propósito ao mesmo tempo em que também expõe suas vulnerabilidades e dúvidas. Outro destaque positivo do elenco, sem dúvida, é Annie Gonzalez como Judy, a esposa e companheira fiel de Montañez.
"Flamin' Hot" é um filme que não apenas entretém, mas que também nos faz refletir sobre a importância da perseverança e do trabalho árduo na busca pelos nossos sonhos. São muitas lições empreendedoras que bem interpretadas podem nos trazer ótimos insights. Agora também é preciso dizer que a história de Richard Montañez tem uma levada "Sessão da Tarde" mesmo querendo ser um lembrete poderoso de que, independentemente de nossas origens ou circunstâncias, podemos alcançar grandes conquistas quando acreditamos em nós mesmos e nos esforçamos para transformar ideias em realidade - até quando insistem em nos dizer que aquilo não vai funcionar!
Vale muito seu play. Tipo de filme que ensina aquecendo o coração!
De certa forma, a história de "Flamin' Hot" é melhor que o filme - e digo isso se comparamos com um filme de temática parecida como "Fome de Poder", por exemplo. Aqui o conceito narrativo escolhido pela "novata" na função de direção, Eva Longoria, se apropria de elementos que se apoiam, propositalmente, muito mais em clichês e que ajudam a contar a jornada de um herói improvável, misturando elementos dramáticos com (de certa forma) cômicos, com um tom mais agradável e uma dinâmica bastante coerente com o universo em que o próprio protagonista está inserido. Funciona, mas em um primeiro olhar pode afastar os mais exigentes - então te aconselho: dê uma chance ao filme.
"Flamin’ Hot" (que no Brasil ganhou o inspirado subtítulo "O Sabor que Mudou a História") conta a inspiradora jornada de Richard Montañez (Jesse Garcia), um zelador da Frito Lay que entendeu a importância de seu legado Mexicano-Americano e transformou o icônico salgadinho Cheetos Super Picante em um petisco que mudou a indústria alimentícia no inicio dos anos 90, tornando-se um fenômeno de vendas e um marco na relação multi-cultural entre o marketing e um público de nicho. Confira o trailer (em inglês):
É perceptível em "Flamin' Hot" que tudo foi muito bem pensado para que o filme passasse aquela mensagem que, com superação e determinação (ressaltando a importância do trabalho árduo e da crença em si mesmo), é possível alcançar nossos objetivos mais complicados. Seguindo esse propósito, Eva Longoria demonstra habilidade ao contar essa história real de uma forma bastante cativante. Ela utiliza uma narrativa que flui e que visualmente se torna atraente para audiência - ela se aproveita de uma variedade de técnicas visuais para nos colocar frente a frente com a vida de Richard Montañez. Repare como direção de Longoria está extremamente alinhada ao roteiro escrito pelo Lewis Colick e pela Linda Yvette Chávez (sob supervisão do próprio Montanez) que sabiamente explora toda dualidade entre o mundo corporativo e o principio da inovação, sob um olhar cultural (especificamente latino) trazendo à tona questões de identidade e pertencimento tão relevantes nos dias de hoje.
Embora o roteiro de "Flamin' Hot" seja bem construído, apresentando as dificuldades de Richard Montañez de forma coerente e envolvente, o recorte temporal me pareceu extenso demais: ao mostrar sua infância humilde e os desafios que enfrentou como imigrante nos Estados Unidos, até sua ascensão na Frito-Lay, o filme soa muito previsível. Por outro lado, é inegável que isso gera uma conexão imediata com o protagonista - aliás, Jesse Garcia consegue transmitir perfeitamente toda a determinação e a paixão pelo seu propósito ao mesmo tempo em que também expõe suas vulnerabilidades e dúvidas. Outro destaque positivo do elenco, sem dúvida, é Annie Gonzalez como Judy, a esposa e companheira fiel de Montañez.
"Flamin' Hot" é um filme que não apenas entretém, mas que também nos faz refletir sobre a importância da perseverança e do trabalho árduo na busca pelos nossos sonhos. São muitas lições empreendedoras que bem interpretadas podem nos trazer ótimos insights. Agora também é preciso dizer que a história de Richard Montañez tem uma levada "Sessão da Tarde" mesmo querendo ser um lembrete poderoso de que, independentemente de nossas origens ou circunstâncias, podemos alcançar grandes conquistas quando acreditamos em nós mesmos e nos esforçamos para transformar ideias em realidade - até quando insistem em nos dizer que aquilo não vai funcionar!
Vale muito seu play. Tipo de filme que ensina aquecendo o coração!
Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:
Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.
"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.
Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!
Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:
Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.
"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.
Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!
Basicamente existe duas formas de assistir "Fome de Poder" - a primeira pelo entretenimento puro e simples, e aí talvez o filme não seja tão consistente, dinâmico e empolgante quanto sua premissa prometia. A segunda, e é aí que o roteiro brilha, é que a história por trás de Ray Kroc é simplesmente genial - uma aula com muitos elementos e nuances que servem de lição para quem empreende (para o lado bom e para lado ruim).
O filme do diretor John Lee Hancock (de "Um sonho possível") se propõe a contar a história de ascensão do McDonald's. Após receber uma demanda sem precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora do normal, um fracassado vendedor de Illinois chamado Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participação nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald no sul da Califórnia e, pouco a pouco, eliminando os dois das decisões estratégicas, acaba transformando a marca em um gigantesco império de fast food. Confira o trailer:
Muito mais do que uma rede de lanchonetes, o McDonald's se tornou um verdadeiro símbolo cultural que conquistou o planeta e como o próprio Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg sugeriu em "A Rede Social": "Você não faz 500 milhões de amigos, sem fazer alguns inimigos". Pois bem, a história de Ray Kroc inegavelmente segue esse mesmo conceito em sua jornada empreendedora e obviamente existe um preço a se pagar. Kroc é apresentado como uma pessoa determinada, visionária, resiliente e tão focada no sucesso que em nenhum momento hesita em abrir mão de sua ética profissional ou de sua relação com a família para alcançar seu objetivo - é impressionante como o roteiro do Robert Siegel (do imperdível "Bem-Vindos ao Clube da Sedução") vai construindo essa persona e Keaton vai embarcando na ideia com uma performance digna de muitos prêmios.
Embora "Fome de Poder" possa ser considerado um "filme de ator", sua estrutura narrativa naturalmente amplia a visão do entretenimento para ganhar ainda mais força com as lições que a própria história pode nos ensinar. Frases como "Se você pretende crescer na vida, pessoal e profissionalmente, deve aprender a assumir riscos" ou "Você não precisa ser o melhor em tudo, desde que esteja cercado das melhores pessoas para auxiliá-lo” pontuam uma linha do tempo bem construída, mas que não deixa de pincelar aquele certo tom de fábula. A fotografia do John Schwartzman (indicado ao Oscar por "Seabiscuit: Alma de Herói") prioriza as cores quentes e saturadas, criando uma ambientação agradável, enquanto a trilha sonora de Carter Burwell (de "Três Anúncios para um Crime") se prontifica a trazer a transição entre o triunfante e o sombrio - reparem como o mood do filme vai se modificando, ganhando ares de "Succession" mesmo antes da série da HBO se quer existir.
"Fome de Poder" pode dividir opiniões baseado no olhar ou na perspectiva de quem assiste. Sim, existe um discurso cínico, fortemente apoiado nos pilares do capitalismo (selvagem) americano, mas nunca crítico em relação aos movimentos de Ray Kroc e de suas escolhas estratégicas - principalmente se levarmos em consideração que todo marketing das redes de fast foodno EUA, historicamente, deriva de uma premissa de costumes, de coletividade; e não de conveniências da industrialização. Dito isso, posso te garantir que "The Founder" (no original) tem um apelo inegável enquanto narrativa e que certamente vai te provocar muitas reflexões, além de expandir seus horizontes como quem é capaz de ler (e perceber) as maravilhas escritas nas entre-linhas.
Vale muito o seu play!
Basicamente existe duas formas de assistir "Fome de Poder" - a primeira pelo entretenimento puro e simples, e aí talvez o filme não seja tão consistente, dinâmico e empolgante quanto sua premissa prometia. A segunda, e é aí que o roteiro brilha, é que a história por trás de Ray Kroc é simplesmente genial - uma aula com muitos elementos e nuances que servem de lição para quem empreende (para o lado bom e para lado ruim).
O filme do diretor John Lee Hancock (de "Um sonho possível") se propõe a contar a história de ascensão do McDonald's. Após receber uma demanda sem precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora do normal, um fracassado vendedor de Illinois chamado Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participação nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald no sul da Califórnia e, pouco a pouco, eliminando os dois das decisões estratégicas, acaba transformando a marca em um gigantesco império de fast food. Confira o trailer:
Muito mais do que uma rede de lanchonetes, o McDonald's se tornou um verdadeiro símbolo cultural que conquistou o planeta e como o próprio Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg sugeriu em "A Rede Social": "Você não faz 500 milhões de amigos, sem fazer alguns inimigos". Pois bem, a história de Ray Kroc inegavelmente segue esse mesmo conceito em sua jornada empreendedora e obviamente existe um preço a se pagar. Kroc é apresentado como uma pessoa determinada, visionária, resiliente e tão focada no sucesso que em nenhum momento hesita em abrir mão de sua ética profissional ou de sua relação com a família para alcançar seu objetivo - é impressionante como o roteiro do Robert Siegel (do imperdível "Bem-Vindos ao Clube da Sedução") vai construindo essa persona e Keaton vai embarcando na ideia com uma performance digna de muitos prêmios.
Embora "Fome de Poder" possa ser considerado um "filme de ator", sua estrutura narrativa naturalmente amplia a visão do entretenimento para ganhar ainda mais força com as lições que a própria história pode nos ensinar. Frases como "Se você pretende crescer na vida, pessoal e profissionalmente, deve aprender a assumir riscos" ou "Você não precisa ser o melhor em tudo, desde que esteja cercado das melhores pessoas para auxiliá-lo” pontuam uma linha do tempo bem construída, mas que não deixa de pincelar aquele certo tom de fábula. A fotografia do John Schwartzman (indicado ao Oscar por "Seabiscuit: Alma de Herói") prioriza as cores quentes e saturadas, criando uma ambientação agradável, enquanto a trilha sonora de Carter Burwell (de "Três Anúncios para um Crime") se prontifica a trazer a transição entre o triunfante e o sombrio - reparem como o mood do filme vai se modificando, ganhando ares de "Succession" mesmo antes da série da HBO se quer existir.
"Fome de Poder" pode dividir opiniões baseado no olhar ou na perspectiva de quem assiste. Sim, existe um discurso cínico, fortemente apoiado nos pilares do capitalismo (selvagem) americano, mas nunca crítico em relação aos movimentos de Ray Kroc e de suas escolhas estratégicas - principalmente se levarmos em consideração que todo marketing das redes de fast foodno EUA, historicamente, deriva de uma premissa de costumes, de coletividade; e não de conveniências da industrialização. Dito isso, posso te garantir que "The Founder" (no original) tem um apelo inegável enquanto narrativa e que certamente vai te provocar muitas reflexões, além de expandir seus horizontes como quem é capaz de ler (e perceber) as maravilhas escritas nas entre-linhas.
Vale muito o seu play!
A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.
A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.
O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.
"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!
Vale muito o seu play!
A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.
A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.
O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.
"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!
Vale muito o seu play!
"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.
Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):
Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado).
Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar.
Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.
Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.
"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.
Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):
Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado).
Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar.
Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.
Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.
"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.
Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:
"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.
A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.
Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.
Vale muito o seu play e sua reflexão!
"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.
Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:
"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.
A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.
Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.
Vale muito o seu play e sua reflexão!
"Ford vs Ferrari" é um filme que escancara a necessidade absurda que os americanos tem de provar que sua estrutura capitalista é a melhor do mundo! Por mais que essa frase possa parecer carregada de orientações políticas e até ideológicas, eu já me adianto: não é o caso! Porém é impossível fechar os olhos para a maneira como essa história foi contada!
No meio da década de 60, a Ford sentia a necessidade de transformar a percepção de como toda uma nova geração de americanos viam seus carros: de um meio de transporte para um símbolo de status e alta performance. Para isso, foi sugerido ao então presidente, Henry Ford II (Tracy Letts), neto do fundador da empresa, que iniciasse um processo de aquisição da Ferrari, que estava à beira da falência. A montadora italiana possuía os atributos que a Ford sonhava em construir e ainda, de quebra, vinha tendo anos de sucesso em competições automobilísticas - seria o casamento perfeito! Acontece que Enzo Ferrari queria manter o controle sobre sua marca mesmo depois da venda, mas a Ford nunca levou isso em consideração. Resultado: a Ferrari acabou fechando negócio com a Fiat e frustrou os planos de Henry Ford II. Ressentido, Henry partiu para o contra-ataque: convocou os melhores designers e engenheiros para fabricar um carro esportivo que pudesse destronar a Ferrari no maior evento esportivo da época: as 24 horas de Le Mans.
Pela sinopse é possível ter uma idéia bastante clara do que esperar de "Ford vs Ferrari", pois o filme é uma imersão nos bastidores do automobilismo raiz - com cheiro de pneu queimado e mancha de óleo para todo lado. Se você se identifica com esse universo, vá em frente que a diversão está garantida: no mínimo pelas boas sequências de corridas como Daytona e, claro, Le Mans.
Um dos aspectos técnicos que mais me agradou ao assistir "Ford vs Ferrari" foi, sem dúvida, a edição (inclusive indicada ao Oscar 2020). Embora muito bem filmadas pelo diretor James Mangold (Logan), a dinâmica das corridas tem muito da mão de Michael McCusker e equipe. São cortes rápidos, bem escolhidos e completamente alinhados aos movimentos de câmera que Mangold sabe fazer como poucos (basta lembrar das sequências de luta em "Logan") - na minha opinião, as cenas das corridas estão melhores do que assistimos em "Rush", embora, no geral, o filme dirigido pelo do Ron Howard me agrade mais! Desenho de Som e Mixagem, também indicados ao Oscar, merecem um destaque. A construção da ambientação de uma corrida de automóvel é extremamente complexa e "Ford vs Ferrari" foi capaz de entregar uma experiência muito interessante - é aquele típico filme que merece um tela grande e um bom equipamento de som como pede "1917", por exemplo. Nessas categorias, "Ford vs Ferrari" pode até ser considerado um dos favoritos e não me surpreenderia em nada se ganhasse. A quarta e última indicação é a mais polêmica: "Melhor Filme" - sinceramente, não acho que "Ford vs Ferrari" tem força para estar nessa categoria. Se compararmos com filmes como "Dois Papas"ou "Rocketman" é possível afirmar que a indicação já foi seu prêmio! Não estou dizendo com isso que o filme seja ruim, apenas que existem filmes melhores na fila que foram esquecidos só no Oscar! O roteiro de "Ford vs Ferrari" é bom nos dois primeiros atos, mas é completamente desequilibrado no terceiro: reparem como a história proposta já estava contada no final da corrida de Le Mans - não precisava de mais nada do que foi para tela depois. Christian Bale como o piloto Ken Miles está, mais uma vez, sensacional e sua ausência no Oscar se deve, única e exclusivamente, ao altíssimo nível dos indicados desse ano. Matt Damon como o lendário Carroll Shelby praticamente some ao lado dele.
O fato é que "Ford vs Ferrari" tem ótimos momentos de ação, uma história interessante, mas que infelizmente, muito em breve, será outro filme de "sessão da tarde". Os aspectos técnicos realmente merecem ser observados, mas, na minha opinião, faltou alma para que o filme vingasse. A natural comparação com "Rush" é perfeita nesse caso, pois fica bem fácil visualizar como a fusão dessas duas obras seria a situação ideal - se "Rush" tem um drama melhor construído e um texto mais consistente, "Ford vs Ferrari" tem nas cenas de ação sua maior força, o que diverte, mas não sei se justifica as duas horas e meia de tela! Eu, pessoalmente, até gostei do filme, mas indicaria apenas para um público bem especifico, pois para quem não se identifica com o tema, vai ser como assistir uma briga de dois garotos lutando para ver quem é o mais forte (como, inclusive, aparece no filme)!
Up-date: "Ford vs Ferrari" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Edição de Som e Melhor Montagem!
"Ford vs Ferrari" é um filme que escancara a necessidade absurda que os americanos tem de provar que sua estrutura capitalista é a melhor do mundo! Por mais que essa frase possa parecer carregada de orientações políticas e até ideológicas, eu já me adianto: não é o caso! Porém é impossível fechar os olhos para a maneira como essa história foi contada!
No meio da década de 60, a Ford sentia a necessidade de transformar a percepção de como toda uma nova geração de americanos viam seus carros: de um meio de transporte para um símbolo de status e alta performance. Para isso, foi sugerido ao então presidente, Henry Ford II (Tracy Letts), neto do fundador da empresa, que iniciasse um processo de aquisição da Ferrari, que estava à beira da falência. A montadora italiana possuía os atributos que a Ford sonhava em construir e ainda, de quebra, vinha tendo anos de sucesso em competições automobilísticas - seria o casamento perfeito! Acontece que Enzo Ferrari queria manter o controle sobre sua marca mesmo depois da venda, mas a Ford nunca levou isso em consideração. Resultado: a Ferrari acabou fechando negócio com a Fiat e frustrou os planos de Henry Ford II. Ressentido, Henry partiu para o contra-ataque: convocou os melhores designers e engenheiros para fabricar um carro esportivo que pudesse destronar a Ferrari no maior evento esportivo da época: as 24 horas de Le Mans.
Pela sinopse é possível ter uma idéia bastante clara do que esperar de "Ford vs Ferrari", pois o filme é uma imersão nos bastidores do automobilismo raiz - com cheiro de pneu queimado e mancha de óleo para todo lado. Se você se identifica com esse universo, vá em frente que a diversão está garantida: no mínimo pelas boas sequências de corridas como Daytona e, claro, Le Mans.
Um dos aspectos técnicos que mais me agradou ao assistir "Ford vs Ferrari" foi, sem dúvida, a edição (inclusive indicada ao Oscar 2020). Embora muito bem filmadas pelo diretor James Mangold (Logan), a dinâmica das corridas tem muito da mão de Michael McCusker e equipe. São cortes rápidos, bem escolhidos e completamente alinhados aos movimentos de câmera que Mangold sabe fazer como poucos (basta lembrar das sequências de luta em "Logan") - na minha opinião, as cenas das corridas estão melhores do que assistimos em "Rush", embora, no geral, o filme dirigido pelo do Ron Howard me agrade mais! Desenho de Som e Mixagem, também indicados ao Oscar, merecem um destaque. A construção da ambientação de uma corrida de automóvel é extremamente complexa e "Ford vs Ferrari" foi capaz de entregar uma experiência muito interessante - é aquele típico filme que merece um tela grande e um bom equipamento de som como pede "1917", por exemplo. Nessas categorias, "Ford vs Ferrari" pode até ser considerado um dos favoritos e não me surpreenderia em nada se ganhasse. A quarta e última indicação é a mais polêmica: "Melhor Filme" - sinceramente, não acho que "Ford vs Ferrari" tem força para estar nessa categoria. Se compararmos com filmes como "Dois Papas"ou "Rocketman" é possível afirmar que a indicação já foi seu prêmio! Não estou dizendo com isso que o filme seja ruim, apenas que existem filmes melhores na fila que foram esquecidos só no Oscar! O roteiro de "Ford vs Ferrari" é bom nos dois primeiros atos, mas é completamente desequilibrado no terceiro: reparem como a história proposta já estava contada no final da corrida de Le Mans - não precisava de mais nada do que foi para tela depois. Christian Bale como o piloto Ken Miles está, mais uma vez, sensacional e sua ausência no Oscar se deve, única e exclusivamente, ao altíssimo nível dos indicados desse ano. Matt Damon como o lendário Carroll Shelby praticamente some ao lado dele.
O fato é que "Ford vs Ferrari" tem ótimos momentos de ação, uma história interessante, mas que infelizmente, muito em breve, será outro filme de "sessão da tarde". Os aspectos técnicos realmente merecem ser observados, mas, na minha opinião, faltou alma para que o filme vingasse. A natural comparação com "Rush" é perfeita nesse caso, pois fica bem fácil visualizar como a fusão dessas duas obras seria a situação ideal - se "Rush" tem um drama melhor construído e um texto mais consistente, "Ford vs Ferrari" tem nas cenas de ação sua maior força, o que diverte, mas não sei se justifica as duas horas e meia de tela! Eu, pessoalmente, até gostei do filme, mas indicaria apenas para um público bem especifico, pois para quem não se identifica com o tema, vai ser como assistir uma briga de dois garotos lutando para ver quem é o mais forte (como, inclusive, aparece no filme)!
Up-date: "Ford vs Ferrari" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Edição de Som e Melhor Montagem!
David Fincher é daqueles poucos diretores capaz de criar um ambiente de extrema tensão apenas posicionando a câmera no lugar certo e deixando que a história (com a ajuda de ótimas performances) se conte sozinha - talvez seja esse o maior mérito de "Garota Exemplar". Mesmo se apropriando de diversos elementos narrativos que nos dão a exata sensação de estarmos diante de um complexo thriller policial, Fincher vai além ao nos entregar um inteligente ensaio sobre as interações humanas, a vida adulta e a convivência de um relacionamento.
Adaptação de livro homônimo de Gillian Flynn (a mesma de "Sharp Objects" da HBO), que também assume o papel de roteirista no filme, "Garota Exemplar" conta a história de Nick (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike). Após um casamento dos sonhos, eles se veem obrigados a deixar a vida em Nova York e se mudar para uma cidadezinha no Missouri após a notícia de que a mãe de Nick está com câncer. No dia em que comemorariam o aniversário de cinco anos de casamento, Nick retorna para casa e encontra o lugar completamente revirado. Ao não encontrar sua esposa, ele chama a polícia, mas o que ele não imaginava é que a partir daí ele se tornaria o principal suspeito. Confira o trailer:
Depois desse belíssimo trailer ao som de "She" (de Elvis Costello), já dá para se ter uma ideia do que esperar de "Garota Exemplar" e acreditem: você não vai se decepcionar. Com uma fotografia bastante contrastada e trazendo o verde para o primeiro plano da iluminação do diretor Jeff Cronenweth (indicado ao Oscar duas vezes por "The Girl with the Dragon Tattoo" e "Rede Social") e somando com um trabalho de design de som e uma trilha sonora incríveis, o filme nos remete aos bons tempos dos dramas policiais cheio de reviravoltas como "Seven" ou "Zodíaco" (para ficar só na filmografia de Fincher)! Outro ponto que merece muito destaque é a montagem de Kirk Baxter - a forma original como a história vai sendo contada, mesclando cenas atuais, com flashbackse sequências que são fruto da imaginação dos personagens, é simplesmente extraordinária!
O roteiro, fielmente adaptado por Flynn, se apropria do conceito narrativo do livro, mas expande nossa percepção graças ao trabalho detalhista do diretor - se nas cenas do presente, temos o foco no homem, que é objeto de investigação e que segura o mistério até o último ato; nos flashbacks o que interessa é o ponto de vista de Amy, com sua narração humana e que retrata exatamente o que ela mesmo escrevia em seu diário de uma forma quase juvenil - não à toa que Pike foi indicada ao Oscar por essa performance profunda e cheia de camadas. Você vai se surpreender com essa personagem!
O caminho percorrido pelos personagens através da condução segura de Fincher vai além do óbvio. Tecnicamente exemplar (sem nenhum trocadilho), "Gone Girl" (no original) é de uma originalidade artística acima da média e muito atraente para uma audiência disposta a enfrentar aquele universo tão particular. Cheio de contrastes como a vida costuma ser, o filme brinca com nossa percepção da mesma forma que nos provoca a reflexão. Impecável até mesmo diante dos altos parâmetros aos quais constrói sua história, Fincher é capaz de atender aos mais diferentes níveis de leitura, como poucos. Entretenimento de qualidade, "Garota Exemplar" já pode ser considerado um marco na carreira do diretor!
Vale muito o seu play e o seu replay!
David Fincher é daqueles poucos diretores capaz de criar um ambiente de extrema tensão apenas posicionando a câmera no lugar certo e deixando que a história (com a ajuda de ótimas performances) se conte sozinha - talvez seja esse o maior mérito de "Garota Exemplar". Mesmo se apropriando de diversos elementos narrativos que nos dão a exata sensação de estarmos diante de um complexo thriller policial, Fincher vai além ao nos entregar um inteligente ensaio sobre as interações humanas, a vida adulta e a convivência de um relacionamento.
Adaptação de livro homônimo de Gillian Flynn (a mesma de "Sharp Objects" da HBO), que também assume o papel de roteirista no filme, "Garota Exemplar" conta a história de Nick (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike). Após um casamento dos sonhos, eles se veem obrigados a deixar a vida em Nova York e se mudar para uma cidadezinha no Missouri após a notícia de que a mãe de Nick está com câncer. No dia em que comemorariam o aniversário de cinco anos de casamento, Nick retorna para casa e encontra o lugar completamente revirado. Ao não encontrar sua esposa, ele chama a polícia, mas o que ele não imaginava é que a partir daí ele se tornaria o principal suspeito. Confira o trailer:
Depois desse belíssimo trailer ao som de "She" (de Elvis Costello), já dá para se ter uma ideia do que esperar de "Garota Exemplar" e acreditem: você não vai se decepcionar. Com uma fotografia bastante contrastada e trazendo o verde para o primeiro plano da iluminação do diretor Jeff Cronenweth (indicado ao Oscar duas vezes por "The Girl with the Dragon Tattoo" e "Rede Social") e somando com um trabalho de design de som e uma trilha sonora incríveis, o filme nos remete aos bons tempos dos dramas policiais cheio de reviravoltas como "Seven" ou "Zodíaco" (para ficar só na filmografia de Fincher)! Outro ponto que merece muito destaque é a montagem de Kirk Baxter - a forma original como a história vai sendo contada, mesclando cenas atuais, com flashbackse sequências que são fruto da imaginação dos personagens, é simplesmente extraordinária!
O roteiro, fielmente adaptado por Flynn, se apropria do conceito narrativo do livro, mas expande nossa percepção graças ao trabalho detalhista do diretor - se nas cenas do presente, temos o foco no homem, que é objeto de investigação e que segura o mistério até o último ato; nos flashbacks o que interessa é o ponto de vista de Amy, com sua narração humana e que retrata exatamente o que ela mesmo escrevia em seu diário de uma forma quase juvenil - não à toa que Pike foi indicada ao Oscar por essa performance profunda e cheia de camadas. Você vai se surpreender com essa personagem!
O caminho percorrido pelos personagens através da condução segura de Fincher vai além do óbvio. Tecnicamente exemplar (sem nenhum trocadilho), "Gone Girl" (no original) é de uma originalidade artística acima da média e muito atraente para uma audiência disposta a enfrentar aquele universo tão particular. Cheio de contrastes como a vida costuma ser, o filme brinca com nossa percepção da mesma forma que nos provoca a reflexão. Impecável até mesmo diante dos altos parâmetros aos quais constrói sua história, Fincher é capaz de atender aos mais diferentes níveis de leitura, como poucos. Entretenimento de qualidade, "Garota Exemplar" já pode ser considerado um marco na carreira do diretor!
Vale muito o seu play e o seu replay!
Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.
"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:
Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.
Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.
"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.
Vale eu play!
Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.
"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:
Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.
Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.
"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.
Vale eu play!
Essa história vai te surpreender - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas! "George & Tammy", minissérie criada por Abe Sylvia, repete a fórmula do premiado "Os Olhos de Tammy Faye", ou seja, Sylvia oferece mais uma vez um olhar íntimo e profundo sobre o tumultuado relacionamento entre duas lendas, dessa vez da da música country americana, George Jones e Tammy Wynette. Estrelada por Michael Shannon e Jessica Chastain, a produção explora tanto o lado pessoal quanto o profissional do casal, que não apenas moldou o gênero country, mas também deixou uma marca indiscutível no cenário musical dos Estados Unidos. Com uma combinação pontente de drama e música, ao melhor estilo "Nasce uma Estrela", "George & Tammy" pode sim ser considerada uma imersão intensa na vida de dois ícones que ficaram marcados pelo amor, pelo talento e pela auto-destruição.
A trama basicamente se concentra na relação conflituosa entre Jones, um dos mais celebrados cantores de música country americana, e Wynette, conhecida por seu sucesso "Stand by Your Man". O relacionamento dos dois foi marcado por grande paixão, mas também por muitas turbulências. O abuso de substâncias, as lutas emocionais e as pressões envolvidas nas carreiras intensas das celebridades formam o pano de fundo para uma história que captura tanto os altos e baixos de sua vida pessoal quanto o impacto que eles tiveram na cena musical da época. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que essa uma história que se confunde com o contexto musical de um país e nesse caso, ainda é explorado sem a menor vergonha de assumir um certo "bairrismo". Baseado na obra de Georgette Jones, 'The Three of Us: Growing Up with Tammy and George', a minissérie mergulha não apenas no relacionamento tumultuado dos protagonistas, mas também no impacto que eles tiveram na música country, abordando a criação de suas canções e a influência que suas vidas pessoais tiveram em suas obras. A criação de Abe Sylvia é realmente notável nesse sentido, já que sua habilidade em equilibrar o drama com o contexto musical e cultural da época gera um recorte impactante. O diretor John Hillcoat, que fez carreira com video clipes, sabe o valor da trilha sonora como elemento narrativo/estratégico para esse tipo de projeto, com isso ele é capaz de adicionar uma camada autêntica à trama, permitindo que o público experimente de maneira mais íntima o talento musical que definiu o casal - mesmo que para alguns essas intervenções musicais soem um pouco maçante.
Outro destaque da minissérie são as atuações de seus protagonistas. Jessica Chastain entrega uma performance notável como Tammy Wynette, capturando com precisão a força e a vulnerabilidade da cantora. Ela traz profundidade emocional para o papel, equilibrando a imagem pública de Tammy como uma mulher forte com suas lutas internas, especialmente em seu relacionamento com George. Chastain transmite de forma tocante a pressão que Tammy sentiu tanto em sua vida pessoal quanto na carreira, oferecendo uma interpretação complexa de uma mulher que buscava equilíbrio entre o amor e sua própria identidade. Michael Shannon, como George Jones, também brilha, trazendo para a tela um retrato multifacetado do cantor. Shannon interpreta Jones como um homem talentoso, mas quebrado por seus próprios demônios, especialmente o alcoolismo. Ele consegue capturar tanto o carisma de Jones no palco quanto seus momentos mais sombrios fora dele - e aqui cabe um comentário: a química entre Shannon e Chastain é tão palpável que fundamenta a narrativa, dando peso emocional à montanha-russa que define esse relacionamento.
"George & Tammy" foi indicado em 4 categorias no Emmy de 2023, especialmente por capturar a atmosfera exata de uma época - seja com os dois protagonistas perfeitamente caracterizados, seja com a fotografia, seja com o desenho de produção e arte. Aliás, essa produção da Showtime, de fato, nos transporta para centro da música country dos anos 1960 e 1970, desde os estúdios de gravação até as turnês exaustivas que as celebridades faziam na época. A minissérie é eficaz em mostrar as pressões da fama como pano de fundo e como isso afeta o relacionamento de qualquer casal do showbiz - sua narrativa enfatiza o ciclo vicioso em que eles se encontravam, enquanto o amor alimentava suas carreiras musicais.
"George & Tammy" traz uma abordagem humana sobre duas figuras públicas que, à primeira vista, parecem intocáveis, mas que na verdade lida com os desafios comuns: no amor, no vício, no sucesso e no fracasso. Vale muito o seu play!
Essa história vai te surpreender - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas! "George & Tammy", minissérie criada por Abe Sylvia, repete a fórmula do premiado "Os Olhos de Tammy Faye", ou seja, Sylvia oferece mais uma vez um olhar íntimo e profundo sobre o tumultuado relacionamento entre duas lendas, dessa vez da da música country americana, George Jones e Tammy Wynette. Estrelada por Michael Shannon e Jessica Chastain, a produção explora tanto o lado pessoal quanto o profissional do casal, que não apenas moldou o gênero country, mas também deixou uma marca indiscutível no cenário musical dos Estados Unidos. Com uma combinação pontente de drama e música, ao melhor estilo "Nasce uma Estrela", "George & Tammy" pode sim ser considerada uma imersão intensa na vida de dois ícones que ficaram marcados pelo amor, pelo talento e pela auto-destruição.
A trama basicamente se concentra na relação conflituosa entre Jones, um dos mais celebrados cantores de música country americana, e Wynette, conhecida por seu sucesso "Stand by Your Man". O relacionamento dos dois foi marcado por grande paixão, mas também por muitas turbulências. O abuso de substâncias, as lutas emocionais e as pressões envolvidas nas carreiras intensas das celebridades formam o pano de fundo para uma história que captura tanto os altos e baixos de sua vida pessoal quanto o impacto que eles tiveram na cena musical da época. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que essa uma história que se confunde com o contexto musical de um país e nesse caso, ainda é explorado sem a menor vergonha de assumir um certo "bairrismo". Baseado na obra de Georgette Jones, 'The Three of Us: Growing Up with Tammy and George', a minissérie mergulha não apenas no relacionamento tumultuado dos protagonistas, mas também no impacto que eles tiveram na música country, abordando a criação de suas canções e a influência que suas vidas pessoais tiveram em suas obras. A criação de Abe Sylvia é realmente notável nesse sentido, já que sua habilidade em equilibrar o drama com o contexto musical e cultural da época gera um recorte impactante. O diretor John Hillcoat, que fez carreira com video clipes, sabe o valor da trilha sonora como elemento narrativo/estratégico para esse tipo de projeto, com isso ele é capaz de adicionar uma camada autêntica à trama, permitindo que o público experimente de maneira mais íntima o talento musical que definiu o casal - mesmo que para alguns essas intervenções musicais soem um pouco maçante.
Outro destaque da minissérie são as atuações de seus protagonistas. Jessica Chastain entrega uma performance notável como Tammy Wynette, capturando com precisão a força e a vulnerabilidade da cantora. Ela traz profundidade emocional para o papel, equilibrando a imagem pública de Tammy como uma mulher forte com suas lutas internas, especialmente em seu relacionamento com George. Chastain transmite de forma tocante a pressão que Tammy sentiu tanto em sua vida pessoal quanto na carreira, oferecendo uma interpretação complexa de uma mulher que buscava equilíbrio entre o amor e sua própria identidade. Michael Shannon, como George Jones, também brilha, trazendo para a tela um retrato multifacetado do cantor. Shannon interpreta Jones como um homem talentoso, mas quebrado por seus próprios demônios, especialmente o alcoolismo. Ele consegue capturar tanto o carisma de Jones no palco quanto seus momentos mais sombrios fora dele - e aqui cabe um comentário: a química entre Shannon e Chastain é tão palpável que fundamenta a narrativa, dando peso emocional à montanha-russa que define esse relacionamento.
"George & Tammy" foi indicado em 4 categorias no Emmy de 2023, especialmente por capturar a atmosfera exata de uma época - seja com os dois protagonistas perfeitamente caracterizados, seja com a fotografia, seja com o desenho de produção e arte. Aliás, essa produção da Showtime, de fato, nos transporta para centro da música country dos anos 1960 e 1970, desde os estúdios de gravação até as turnês exaustivas que as celebridades faziam na época. A minissérie é eficaz em mostrar as pressões da fama como pano de fundo e como isso afeta o relacionamento de qualquer casal do showbiz - sua narrativa enfatiza o ciclo vicioso em que eles se encontravam, enquanto o amor alimentava suas carreiras musicais.
"George & Tammy" traz uma abordagem humana sobre duas figuras públicas que, à primeira vista, parecem intocáveis, mas que na verdade lida com os desafios comuns: no amor, no vício, no sucesso e no fracasso. Vale muito o seu play!
"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o " Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!
A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):
De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.
A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.
A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!
Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!
"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o " Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!
A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):
De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.
A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.
A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!
Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!
Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação", "Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.
Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):
Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!
Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história.
Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de " ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!
Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação", "Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.
Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):
Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!
Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história.
Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de " ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!