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História de um Casamento

Costumo dizer que uma história tem sempre dois lados e por isso acredito que uma das maiores covardias sociais que pode existir é o julgamento ou pior, quando alguém próximo resolve tomar partido de um dos lados durante a separação ou no fim de um casamento, principalmente se o casal já tiver filhos! "História de um Casamento" é um soco no estômago por tudo isso e dependendo da sua história de vida, esse soco pode doer mais! O filme mostra o processo de separação de um Diretor de Teatro residente em NY e de uma atriz nascida em Los Angeles. Os dois foram muito felizes durante anos até que ela resolve se separar e voltar com o filho para sua cidade - o que acontece a partir daí é uma das mais doloridas jornadas de aceitação que um casal precisa passar durante a vida.

O interessante do filme é que o roteiro trás os dois lados da história desde o início (com uma prólogo sensacional que já dá o tom do que virá pela frente, apresentando os personagens e o momento que eles estão passando) e toda a transformação que eles se submetem graças a pressão social e, claro, ao ego ferido de cada um (inclusive dos advogados)! A crueldade do filme está em abordar com muita sensibilidade essa solidão muito particular que Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) passam ao tentar esconder seus reais sentimentos para impedir que esse divórcio não acabe definitivamente com tudo que eles construíram juntos e com todos os sonhos que compartilharam durante anos - aliás, muito personificado na figura de um lindo garoto, filho do casal! Olha, se prepare para um grande filme, difícil, inteligente e muito visceral - mais um que deve brilhar nas premiações do próximo ano, pode apostar!

Poderia ser um filme dirigido pelo Wood Allen tranquilamente, mas a competência do Noah Baumbach (A Lula e a Baleia e The Meyerowitz Stories) nos proporciona a mesma qualidade na experiência de acompanhar a história dos dois protagonistas filmando em 35mm (e não em Digital) para aproveitar aquela magia do grão e o aspecto mais, digamos, antigo da imagem - propositalmente nostálgico. Noah, que também escreveu o roteiro, se inspirou no seu próprio processo de divórcio, deixando claro que o filme, na verdade, é mais uma provocação sobre o valor do verdadeiro amor, mesmo em um cenário tão conturbado como o divórcio. Pode parecer complexo, mas não é; "História de um Casamento" tem alma e uma direção focada nos detalhes - sem a necessidade de elevar o tom da interpretação, aproveitando o silêncio, os olhares, o sofrimento dos atores - puxa, e que atores!!!! Claro que os diálogos são excelentes, mas Scarlett Johansson e (principalmente) Adam Drive dão um show. Pode escrever: Adam Drive será indicado como melhor ator e não me surpreenderia se ganhasse, mesmo correndo por fora contra Adam Sandler e Joaquin Phoenix. Outra atriz que merece destaque e pode ganhar uma indicação de coadjuvante é Laura Dern (Big Little Lies) - ela está incrível como a advogada de Nicole.

"História de um Casamento" é o que é, um filme que mexe com a gente, que emociona pelo simples fato de nos colocarmos na pele de cada um dos personagens. É um filme de relação difícil, dolorido, injusto, mas muito (muito mesmo) sensível! Embora Noah Baumbach tenha colocado sua história em muitos detalhes dessa jornada, é notável sua capacidade de universalizar os assuntos discutidos no filme. O amor colocado em segundo plano por causa de convenções de uma mesma sociedade que cobra a cada instante e que se sente prazer ao julgar um casal quando não se assume alguma dificuldade ou até quando se toma alguma decisão diferente do óbvio pensando no bem do filho, por exemplo. Olha, "História de um Casamento" é sensacional; com um roteiro, direção e atuação extremamente alinhados. Impecável! O filme foi muito bem nos Festivais que participou até agora e, na minha opinião, vem muito forte para o Oscar de 2020 - dá para esperar umas 3 ou 4 indicações tranquilamente, entre elas, melhor filme (e não é exagero)! Não acredita? Dê o play e se prepare para duas horas com o coração apertado e muito tempo de reflexão quando o filme acabar - e por favor repare como a trilha sonora é a cereja desse bolo delicioso!!!

Up-date: "História de um Casamento" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz Coadjuvante!

Assista Agora 

Costumo dizer que uma história tem sempre dois lados e por isso acredito que uma das maiores covardias sociais que pode existir é o julgamento ou pior, quando alguém próximo resolve tomar partido de um dos lados durante a separação ou no fim de um casamento, principalmente se o casal já tiver filhos! "História de um Casamento" é um soco no estômago por tudo isso e dependendo da sua história de vida, esse soco pode doer mais! O filme mostra o processo de separação de um Diretor de Teatro residente em NY e de uma atriz nascida em Los Angeles. Os dois foram muito felizes durante anos até que ela resolve se separar e voltar com o filho para sua cidade - o que acontece a partir daí é uma das mais doloridas jornadas de aceitação que um casal precisa passar durante a vida.

O interessante do filme é que o roteiro trás os dois lados da história desde o início (com uma prólogo sensacional que já dá o tom do que virá pela frente, apresentando os personagens e o momento que eles estão passando) e toda a transformação que eles se submetem graças a pressão social e, claro, ao ego ferido de cada um (inclusive dos advogados)! A crueldade do filme está em abordar com muita sensibilidade essa solidão muito particular que Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) passam ao tentar esconder seus reais sentimentos para impedir que esse divórcio não acabe definitivamente com tudo que eles construíram juntos e com todos os sonhos que compartilharam durante anos - aliás, muito personificado na figura de um lindo garoto, filho do casal! Olha, se prepare para um grande filme, difícil, inteligente e muito visceral - mais um que deve brilhar nas premiações do próximo ano, pode apostar!

Poderia ser um filme dirigido pelo Wood Allen tranquilamente, mas a competência do Noah Baumbach (A Lula e a Baleia e The Meyerowitz Stories) nos proporciona a mesma qualidade na experiência de acompanhar a história dos dois protagonistas filmando em 35mm (e não em Digital) para aproveitar aquela magia do grão e o aspecto mais, digamos, antigo da imagem - propositalmente nostálgico. Noah, que também escreveu o roteiro, se inspirou no seu próprio processo de divórcio, deixando claro que o filme, na verdade, é mais uma provocação sobre o valor do verdadeiro amor, mesmo em um cenário tão conturbado como o divórcio. Pode parecer complexo, mas não é; "História de um Casamento" tem alma e uma direção focada nos detalhes - sem a necessidade de elevar o tom da interpretação, aproveitando o silêncio, os olhares, o sofrimento dos atores - puxa, e que atores!!!! Claro que os diálogos são excelentes, mas Scarlett Johansson e (principalmente) Adam Drive dão um show. Pode escrever: Adam Drive será indicado como melhor ator e não me surpreenderia se ganhasse, mesmo correndo por fora contra Adam Sandler e Joaquin Phoenix. Outra atriz que merece destaque e pode ganhar uma indicação de coadjuvante é Laura Dern (Big Little Lies) - ela está incrível como a advogada de Nicole.

"História de um Casamento" é o que é, um filme que mexe com a gente, que emociona pelo simples fato de nos colocarmos na pele de cada um dos personagens. É um filme de relação difícil, dolorido, injusto, mas muito (muito mesmo) sensível! Embora Noah Baumbach tenha colocado sua história em muitos detalhes dessa jornada, é notável sua capacidade de universalizar os assuntos discutidos no filme. O amor colocado em segundo plano por causa de convenções de uma mesma sociedade que cobra a cada instante e que se sente prazer ao julgar um casal quando não se assume alguma dificuldade ou até quando se toma alguma decisão diferente do óbvio pensando no bem do filho, por exemplo. Olha, "História de um Casamento" é sensacional; com um roteiro, direção e atuação extremamente alinhados. Impecável! O filme foi muito bem nos Festivais que participou até agora e, na minha opinião, vem muito forte para o Oscar de 2020 - dá para esperar umas 3 ou 4 indicações tranquilamente, entre elas, melhor filme (e não é exagero)! Não acredita? Dê o play e se prepare para duas horas com o coração apertado e muito tempo de reflexão quando o filme acabar - e por favor repare como a trilha sonora é a cereja desse bolo delicioso!!!

Up-date: "História de um Casamento" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz Coadjuvante!

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Hollywood

A minissérie "Hollywood", nova produção da Netflix com o carimbo do badalado showrunner Ryan Murphy ("Feud", "Glee" e "Nip Tuck"), tem muitos acertos e algumas transgressões, mas depois de assistir os sete episódios fiquei com a sensação de que o projeto poderia ter ido muito além do que foi em um ponto muito particular: o roteiro! Para tudo fazer um pouco mais de sentido, te convido a assistir o trailer:

Ao assistir o trailer temos a impressão que estamos diante da melhor minissérie que um amante da sétima arte poderia sonhar: uma excelente produção, ótimos atores, uma história real muito cativante e, claro, tudo isso embrulhado perfeitamente com o glamour e o charme do universo do cinema americano! Pois bem, acontece que "Hollywood" não sustenta essa expectativa ao escolher soluções narrativas mais fáceis e, por incrível que pareça, acaba se perdendo na falta de identidade. 

No final da década de 1940, diversos jovens desembarcavam em Los Angeles com a esperança de se tornarem famosos e reconhecidos no cinema. Entretanto, para chamar atenção na multidão, os aspirantes ao estrelato precisavam sobreviver em uma cidade muitas vezes cruel e ainda dar a sorte de conhecer as pessoas certas. É nesse contexto que o ex-soldado Jack Castello (David Corenswet) passa a se prostituir enquanto espera por uma oportunidade de se tornar ator. No meio dessa jornada, ele conhece Archie Coleman (Jeremy Pope), um roteirista negro e gay, o jovem diretor Raymond Ainsley (Darren Chris) e a milionária Avis Amberg (Patti LuPone), casada com o dono de um dos maiores Estúdios de Cinema dos EUA, o ACE Studios!

Questões como assédio, abuso de poder e preconceito são elementos exaustivamente discutidos da minissérie, porém com um enfoque diferente do que estamos acostumados: os homens são as vítimas, retratando assim, em uma mesma tacada, tanto o movimento gay, como as perseguições raciais nos bastidores da Era de Ouro do Cinema Americano! Quase como um manifesto, o que vemos nos episódios não é exatamente o que se dá a entender que veremos pelo trailer! A minissérie não economiza em nenhum tipo de cena: nas relações pessoais, amorosas ou na prostituição, até no diálogo mais ácido sobre alguns assuntos bem pesados! De fato não é uma minissérie que vai agradar a todos justamente por isso, mas há de se destacar a coragem em mostrar a realidade, por mais que possa nos incomodar (e não estou falando de um assunto em particular e sim do todo)! Vale o play, mas com essas ressalvas e algumas outras que discuto à seguir!

Quando o roteiro assume sua clara preocupação em priorizar a forma e não o conteúdo, "Hollywood" perde sua alma! Escrevo isso com dor no coração, pois era uma oportunidade de ouro. Reparem na trama: precisando de dinheiro para cuidar da esposa grávida e sem conseguir uma oportunidade como figurante em um filme, Jack Castello é aliciado pelo dono de um posto de gasolina que, além de encher o tanque dos carros, serve de fachada para serviços sexuais. Embora Jack recuse se prostituir com outros homens (como era de costume aliás), ele cede à necessidade de sobrevivência e se dispõe a sair com mulheres ricas - é aí que conhece Avis Amberg e sua vida começa a mudar.Em paralelo somos apresentados a história de mais alguns personagens intrigantes, mas que vão parecer pouco explorados: Archie Coleman, também trabalha no posto - ele gerou interesse do Estúdio ao ter seu roteiro (que enviou pelo correio) lido por um dos produtores. Sabendo desse interesse, ele precisa esconder do dono do Estúdio que é negro e gay enquanto não assina o contrato de produção. Já Camille Washington (Laura Harrier), é uma excelente atriz que sempre acaba em papéis secundários justamente por também ser negra e por fim, Henry Wilson (Jim Parsons), um importante agente de talentos bastante conhecido por transformar bons atores em estrelas de cinema, em troca de favores sexuais. 

Com um tom muito parecido com os dois primeiros atos de "Era uma vez em… Hollywood", mas sem o brilhantismo de Quentin Tarantino para conduzir a história, "Hollywood" mistura fatos e personagens reais com muita fantasia - se em alguns momentos temos a impressão de acompanhar uma aula de história do cinema, em outros presenciamos uma trama completamente superficial que parecia ser uma coisa e na realidade é algo completamente diferente - bem menos interessante! Com personagens tão complexos, a história sofre com a falta de rumo (e talvez até de tempo - se fosse uma série, poderia ser diferente!). Mas é preciso dizer também, que não se trata de uma minissérie ruim - existem algumas forçadas de barra com o claro objetivo de chocar quem assiste e que depois não se sustentam com o passar dos episódios, culminando em um último ato que mais parece um final de novela, que incomoda! É um pouco frustrante, mas não dá par dizer que é um jornada chata!

Ryan Murphy entregou uma minissérie muito bem produzida: a "arte" está impecável em todos os seus departamentos, mas uma das suas maiores qualidades, simplesmente, vai se desfazendo lentamente com um problema sério de progressão narrativa: os cinco primeiros episódios tem um ritmo e os dois últimos, outro - é tão perceptível que a falta unidade chega a confundir!  "Hollywood" é um bom entretenimento se você estiver disposto a entrar no jogo que o roteiro propõe - tem uma história interessante, bons temas para se discutir e refletir, mas uma dramaturgia pouco inspirada! Vai do gosto!

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A minissérie "Hollywood", nova produção da Netflix com o carimbo do badalado showrunner Ryan Murphy ("Feud", "Glee" e "Nip Tuck"), tem muitos acertos e algumas transgressões, mas depois de assistir os sete episódios fiquei com a sensação de que o projeto poderia ter ido muito além do que foi em um ponto muito particular: o roteiro! Para tudo fazer um pouco mais de sentido, te convido a assistir o trailer:

Ao assistir o trailer temos a impressão que estamos diante da melhor minissérie que um amante da sétima arte poderia sonhar: uma excelente produção, ótimos atores, uma história real muito cativante e, claro, tudo isso embrulhado perfeitamente com o glamour e o charme do universo do cinema americano! Pois bem, acontece que "Hollywood" não sustenta essa expectativa ao escolher soluções narrativas mais fáceis e, por incrível que pareça, acaba se perdendo na falta de identidade. 

No final da década de 1940, diversos jovens desembarcavam em Los Angeles com a esperança de se tornarem famosos e reconhecidos no cinema. Entretanto, para chamar atenção na multidão, os aspirantes ao estrelato precisavam sobreviver em uma cidade muitas vezes cruel e ainda dar a sorte de conhecer as pessoas certas. É nesse contexto que o ex-soldado Jack Castello (David Corenswet) passa a se prostituir enquanto espera por uma oportunidade de se tornar ator. No meio dessa jornada, ele conhece Archie Coleman (Jeremy Pope), um roteirista negro e gay, o jovem diretor Raymond Ainsley (Darren Chris) e a milionária Avis Amberg (Patti LuPone), casada com o dono de um dos maiores Estúdios de Cinema dos EUA, o ACE Studios!

Questões como assédio, abuso de poder e preconceito são elementos exaustivamente discutidos da minissérie, porém com um enfoque diferente do que estamos acostumados: os homens são as vítimas, retratando assim, em uma mesma tacada, tanto o movimento gay, como as perseguições raciais nos bastidores da Era de Ouro do Cinema Americano! Quase como um manifesto, o que vemos nos episódios não é exatamente o que se dá a entender que veremos pelo trailer! A minissérie não economiza em nenhum tipo de cena: nas relações pessoais, amorosas ou na prostituição, até no diálogo mais ácido sobre alguns assuntos bem pesados! De fato não é uma minissérie que vai agradar a todos justamente por isso, mas há de se destacar a coragem em mostrar a realidade, por mais que possa nos incomodar (e não estou falando de um assunto em particular e sim do todo)! Vale o play, mas com essas ressalvas e algumas outras que discuto à seguir!

Quando o roteiro assume sua clara preocupação em priorizar a forma e não o conteúdo, "Hollywood" perde sua alma! Escrevo isso com dor no coração, pois era uma oportunidade de ouro. Reparem na trama: precisando de dinheiro para cuidar da esposa grávida e sem conseguir uma oportunidade como figurante em um filme, Jack Castello é aliciado pelo dono de um posto de gasolina que, além de encher o tanque dos carros, serve de fachada para serviços sexuais. Embora Jack recuse se prostituir com outros homens (como era de costume aliás), ele cede à necessidade de sobrevivência e se dispõe a sair com mulheres ricas - é aí que conhece Avis Amberg e sua vida começa a mudar.Em paralelo somos apresentados a história de mais alguns personagens intrigantes, mas que vão parecer pouco explorados: Archie Coleman, também trabalha no posto - ele gerou interesse do Estúdio ao ter seu roteiro (que enviou pelo correio) lido por um dos produtores. Sabendo desse interesse, ele precisa esconder do dono do Estúdio que é negro e gay enquanto não assina o contrato de produção. Já Camille Washington (Laura Harrier), é uma excelente atriz que sempre acaba em papéis secundários justamente por também ser negra e por fim, Henry Wilson (Jim Parsons), um importante agente de talentos bastante conhecido por transformar bons atores em estrelas de cinema, em troca de favores sexuais. 

Com um tom muito parecido com os dois primeiros atos de "Era uma vez em… Hollywood", mas sem o brilhantismo de Quentin Tarantino para conduzir a história, "Hollywood" mistura fatos e personagens reais com muita fantasia - se em alguns momentos temos a impressão de acompanhar uma aula de história do cinema, em outros presenciamos uma trama completamente superficial que parecia ser uma coisa e na realidade é algo completamente diferente - bem menos interessante! Com personagens tão complexos, a história sofre com a falta de rumo (e talvez até de tempo - se fosse uma série, poderia ser diferente!). Mas é preciso dizer também, que não se trata de uma minissérie ruim - existem algumas forçadas de barra com o claro objetivo de chocar quem assiste e que depois não se sustentam com o passar dos episódios, culminando em um último ato que mais parece um final de novela, que incomoda! É um pouco frustrante, mas não dá par dizer que é um jornada chata!

Ryan Murphy entregou uma minissérie muito bem produzida: a "arte" está impecável em todos os seus departamentos, mas uma das suas maiores qualidades, simplesmente, vai se desfazendo lentamente com um problema sério de progressão narrativa: os cinco primeiros episódios tem um ritmo e os dois últimos, outro - é tão perceptível que a falta unidade chega a confundir!  "Hollywood" é um bom entretenimento se você estiver disposto a entrar no jogo que o roteiro propõe - tem uma história interessante, bons temas para se discutir e refletir, mas uma dramaturgia pouco inspirada! Vai do gosto!

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Holy Spider

Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas, já que "Holy Spider" pode ser entendido de duas formas: uma pela perspectiva mais sócio-cultural e religiosa do cinema independente iraniano e outra pelo olhar mais investigativo do entretenimento nórdico. Pois bem, se analisarmos o filme mais superficialmente, eu diria que essa produção dinamarquesa dirigida pelo iraniano Ali Abbasi (de "Border"), é apenas um mediado (para bom) thriller policial. Então não caia nessa armadilha, pois essa atmosfera "serial killer" é apenas o pano de fundo para discutir camadas muito mais delicadas sobre a relação visceral entre o ser humano extremista  e a violência misógina do Irã. Um dos lançamentos mais comentados de 2022, dividindo opiniões e gerando debates acalorados,  "Holy Spider" chega chancelado por mais de 20 prêmios em festivais ao redor do planeta incluindo o de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Zar Amir Ebrahimi.

A trama acompanha a saga da destemida jornalista Arezoo Rahimi (Amir-Ebrahimi), que se infiltra no submundo da cidade sagrada de Mashhad, no Irã, em busca de um serial killer que aterroriza a comunidade: o "Aranha Assassina". Motivado por crenças religiosas distorcidas e sexistas, ele se autoproclama o purificador da cidade, exterminando prostitutas que considera "impuras". Confira o trailer (com legendas em inglês):

Impactante no seu conteúdo e provocar na forma como esse conteúdo é apresentado, Abbasi merece todos os elogios por nos entregar um retrato cru e sem concessões sobre a realidade iraniana, onde a misoginia está enraizada na cultura e na religião. Embora em um primeiro olhar "Holy Spider" pareça focar na investigação de Rahimi, o roteiro do próprio diretor com o estreante Afshin Kamran Bahrami, sai do óbvio ao colocar a jornalista em uma verdadeira rota de colisão com as autoridades corruptas e os homens misóginos que defendem os atos do assassino. Se a cada passo, Rahimi enfrenta os perigos e os obstáculos de uma mulher, solteira, jornalista e forasteira, tentando entender a razão da polícia local não estar dando atenção aos crimes, seu impulso, sem dúvida, está na razão pela qual essa busca por justiça acontece: é preciso dar voz às mulheres silenciadas pela violência.

O diretor constrói uma atmosfera claustrofóbica e sufocante, utilizando planos fechados e uma paleta de cores sombrias que refletem a opressão e a violência presentes na história. Esse estilo de fotografia do dinamarquês Nadim Carlsen nos remete aos excelentes policiais nórdicos - aqui sem o azul gélido, mas com o verde e o marrom das paisagens de Mashhad totalmente alinhados ao conceito mais documental de Abbasi. Ele usa muito da câmera solta para trazer veracidade para a narrativa e valorizar a história que é baseada em fatos reais. As performances dos atores são igualmente competentes, com destaque para Zar Amir-Ebrahimi, que entrega uma jornada comovente como Rahimi.

"Holy Spider" é realmente um filme mais difícil, que vai exigir um olhar mais holístico sobre a trama e por se tratar de uma forte crítica social, profunda e contundente, que expõe a hipocrisia e a brutalidade de um sistema patriarcal que oprime e silencia as mulheres iranianas. É um filme que choca e que revolta, mas que também nos convida para uma reflexão importante sobre a força e a resiliência das mulheres em sua luta por justiça e liberdade. Então se você busca uma experiência cinematográfica perturbadora e ao mesmo tempo instigante, que te fará questionar as estruturas de poder e as raízes da violência contra as mulheres, "Holy Spider" é um filme imperdível - especialmente por um terceiro ato digno de muitos prêmios.

Prepare-se para ser confrontado com realidades duras e incômodas, mas também com a força e a bravura de uma mulher que luta por um mundo mais justo. Pode dar o play!

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Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas, já que "Holy Spider" pode ser entendido de duas formas: uma pela perspectiva mais sócio-cultural e religiosa do cinema independente iraniano e outra pelo olhar mais investigativo do entretenimento nórdico. Pois bem, se analisarmos o filme mais superficialmente, eu diria que essa produção dinamarquesa dirigida pelo iraniano Ali Abbasi (de "Border"), é apenas um mediado (para bom) thriller policial. Então não caia nessa armadilha, pois essa atmosfera "serial killer" é apenas o pano de fundo para discutir camadas muito mais delicadas sobre a relação visceral entre o ser humano extremista  e a violência misógina do Irã. Um dos lançamentos mais comentados de 2022, dividindo opiniões e gerando debates acalorados,  "Holy Spider" chega chancelado por mais de 20 prêmios em festivais ao redor do planeta incluindo o de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Zar Amir Ebrahimi.

A trama acompanha a saga da destemida jornalista Arezoo Rahimi (Amir-Ebrahimi), que se infiltra no submundo da cidade sagrada de Mashhad, no Irã, em busca de um serial killer que aterroriza a comunidade: o "Aranha Assassina". Motivado por crenças religiosas distorcidas e sexistas, ele se autoproclama o purificador da cidade, exterminando prostitutas que considera "impuras". Confira o trailer (com legendas em inglês):

Impactante no seu conteúdo e provocar na forma como esse conteúdo é apresentado, Abbasi merece todos os elogios por nos entregar um retrato cru e sem concessões sobre a realidade iraniana, onde a misoginia está enraizada na cultura e na religião. Embora em um primeiro olhar "Holy Spider" pareça focar na investigação de Rahimi, o roteiro do próprio diretor com o estreante Afshin Kamran Bahrami, sai do óbvio ao colocar a jornalista em uma verdadeira rota de colisão com as autoridades corruptas e os homens misóginos que defendem os atos do assassino. Se a cada passo, Rahimi enfrenta os perigos e os obstáculos de uma mulher, solteira, jornalista e forasteira, tentando entender a razão da polícia local não estar dando atenção aos crimes, seu impulso, sem dúvida, está na razão pela qual essa busca por justiça acontece: é preciso dar voz às mulheres silenciadas pela violência.

O diretor constrói uma atmosfera claustrofóbica e sufocante, utilizando planos fechados e uma paleta de cores sombrias que refletem a opressão e a violência presentes na história. Esse estilo de fotografia do dinamarquês Nadim Carlsen nos remete aos excelentes policiais nórdicos - aqui sem o azul gélido, mas com o verde e o marrom das paisagens de Mashhad totalmente alinhados ao conceito mais documental de Abbasi. Ele usa muito da câmera solta para trazer veracidade para a narrativa e valorizar a história que é baseada em fatos reais. As performances dos atores são igualmente competentes, com destaque para Zar Amir-Ebrahimi, que entrega uma jornada comovente como Rahimi.

"Holy Spider" é realmente um filme mais difícil, que vai exigir um olhar mais holístico sobre a trama e por se tratar de uma forte crítica social, profunda e contundente, que expõe a hipocrisia e a brutalidade de um sistema patriarcal que oprime e silencia as mulheres iranianas. É um filme que choca e que revolta, mas que também nos convida para uma reflexão importante sobre a força e a resiliência das mulheres em sua luta por justiça e liberdade. Então se você busca uma experiência cinematográfica perturbadora e ao mesmo tempo instigante, que te fará questionar as estruturas de poder e as raízes da violência contra as mulheres, "Holy Spider" é um filme imperdível - especialmente por um terceiro ato digno de muitos prêmios.

Prepare-se para ser confrontado com realidades duras e incômodas, mas também com a força e a bravura de uma mulher que luta por um mundo mais justo. Pode dar o play!

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Homecoming

Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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Hotel Mumbai

Hotel Mumbai

Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.

Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus  funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:

É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.  

Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.

Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.

"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!

Vale seu play!

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Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.

Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus  funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:

É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.  

Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.

Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.

"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!

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House of Cards

"House of Cards", criada por Beau Willimon e baseada no romance homônimo de Michael Dobbs, é uma série que redefiniu o drama político na televisão. Lançada em 2013 pela Netflix, a série rapidamente se tornou um fenômeno cultural, destacando-se por sua narrativa intricada, personagens complexos e uma visão cínica e implacável do mundo da política americana. Ao longo de suas seis temporadas, "House of Cards" ofereceu um mergulho profundo no poder e na corrupção, capturando a atenção e a imaginação dos espectadores em todo o mundo.

A trama de "House of Cards" segue Francis "Frank" Underwood (Kevin Spacey), um político ambicioso e implacável que, após ser preterido para o cargo de Secretário de Estado, embarca em uma jornada de vingança e manipulação para conquistar a presidência dos Estados Unidos. Ao seu lado está sua igualmente ambiciosa esposa, Claire Underwood (Robin Wright), cuja busca por poder e influência é tão implacável quanto a de Frank. Juntos, eles formam uma das duplas mais formidáveis e temíveis da televisão.

O maior trunfo de "House of Cards" está em suas performances soberbas, especialmente as de Kevin Spacey e Robin Wright. Spacey traz uma intensidade magnética a Frank Underwood, quebrando a quarta parede com seus monólogos cínicos e perspicazes, que revelam as profundezas de sua mente maquiavélica. Robin Wright, por sua vez, entrega uma atuação igualmente poderosa como Claire Underwood, evoluindo de uma parceira silenciosa para uma figura de poder autônoma e dominante. Sua química é palpável e sua dinâmica, fascinante, sustentando a série mesmo nos momentos mais sombrios.

A direção de David Fincher no piloto estabelece o tom visual da série: elegante, sombrio e imbuído de uma sensação constante de tensão. A cinematografia de Igor Martinovic e a trilha sonora de Jeff Beal complementam perfeitamente a narrativa, criando uma atmosfera opressiva que espelha o mundo moralmente ambíguo que os personagens habitam. As escolhas estéticas e a atenção aos detalhes visuais reforçam a sensação de decadência e corrupção que permeia a série. A narrativa de "House of Cards" é intricada e cheia de reviravoltas, explorando os mecanismos sombrios da política e do poder. A série é habilidosa em desenvolver arcos complexos e personagens multifacetados, onde cada ação tem consequências profundas e muitas vezes devastadoras. A escrita de Beau Willimon e sua equipe é afiada, com diálogos mordazes e uma trama que mantém os espectadores na ponta da cadeira.

No entanto, "House of Cards" não está isenta de controvérsias e desafios. As alegações de má conduta contra Kevin Spacey resultaram em sua saída abrupta após a quinta temporada, obrigando a série a reformular sua narrativa para a temporada final. Robin Wright assumiu o papel principal, e embora sua performance tenha sido amplamente elogiada, a série lutou para manter a mesma intensidade e coesão sem a presença de Spacey. Além disso, alguns críticos apontaram que as temporadas posteriores não conseguiram capturar a mesma magia das primeiras, com tramas que, por vezes, se tornaram excessivamente enroladas e menos impactantes.

Ainda assim, "House of Cards" permanece uma série marcante e influente, que ofereceu uma visão corajosa e muitas vezes perturbadora do mundo da política. Seu impacto na cultura pop é inegável, inspirando inúmeras discussões e análises sobre poder, ética e corrupção. A série é um testemunho da capacidade da televisão de explorar temas complexos e de desafiar os espectadores a refletir sobre a natureza do poder e da ambição.

Em resumo, temos uma obra imperdível para os amantes de dramas políticos que vale muito o seu play!

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"House of Cards", criada por Beau Willimon e baseada no romance homônimo de Michael Dobbs, é uma série que redefiniu o drama político na televisão. Lançada em 2013 pela Netflix, a série rapidamente se tornou um fenômeno cultural, destacando-se por sua narrativa intricada, personagens complexos e uma visão cínica e implacável do mundo da política americana. Ao longo de suas seis temporadas, "House of Cards" ofereceu um mergulho profundo no poder e na corrupção, capturando a atenção e a imaginação dos espectadores em todo o mundo.

A trama de "House of Cards" segue Francis "Frank" Underwood (Kevin Spacey), um político ambicioso e implacável que, após ser preterido para o cargo de Secretário de Estado, embarca em uma jornada de vingança e manipulação para conquistar a presidência dos Estados Unidos. Ao seu lado está sua igualmente ambiciosa esposa, Claire Underwood (Robin Wright), cuja busca por poder e influência é tão implacável quanto a de Frank. Juntos, eles formam uma das duplas mais formidáveis e temíveis da televisão.

O maior trunfo de "House of Cards" está em suas performances soberbas, especialmente as de Kevin Spacey e Robin Wright. Spacey traz uma intensidade magnética a Frank Underwood, quebrando a quarta parede com seus monólogos cínicos e perspicazes, que revelam as profundezas de sua mente maquiavélica. Robin Wright, por sua vez, entrega uma atuação igualmente poderosa como Claire Underwood, evoluindo de uma parceira silenciosa para uma figura de poder autônoma e dominante. Sua química é palpável e sua dinâmica, fascinante, sustentando a série mesmo nos momentos mais sombrios.

A direção de David Fincher no piloto estabelece o tom visual da série: elegante, sombrio e imbuído de uma sensação constante de tensão. A cinematografia de Igor Martinovic e a trilha sonora de Jeff Beal complementam perfeitamente a narrativa, criando uma atmosfera opressiva que espelha o mundo moralmente ambíguo que os personagens habitam. As escolhas estéticas e a atenção aos detalhes visuais reforçam a sensação de decadência e corrupção que permeia a série. A narrativa de "House of Cards" é intricada e cheia de reviravoltas, explorando os mecanismos sombrios da política e do poder. A série é habilidosa em desenvolver arcos complexos e personagens multifacetados, onde cada ação tem consequências profundas e muitas vezes devastadoras. A escrita de Beau Willimon e sua equipe é afiada, com diálogos mordazes e uma trama que mantém os espectadores na ponta da cadeira.

No entanto, "House of Cards" não está isenta de controvérsias e desafios. As alegações de má conduta contra Kevin Spacey resultaram em sua saída abrupta após a quinta temporada, obrigando a série a reformular sua narrativa para a temporada final. Robin Wright assumiu o papel principal, e embora sua performance tenha sido amplamente elogiada, a série lutou para manter a mesma intensidade e coesão sem a presença de Spacey. Além disso, alguns críticos apontaram que as temporadas posteriores não conseguiram capturar a mesma magia das primeiras, com tramas que, por vezes, se tornaram excessivamente enroladas e menos impactantes.

Ainda assim, "House of Cards" permanece uma série marcante e influente, que ofereceu uma visão corajosa e muitas vezes perturbadora do mundo da política. Seu impacto na cultura pop é inegável, inspirando inúmeras discussões e análises sobre poder, ética e corrupção. A série é um testemunho da capacidade da televisão de explorar temas complexos e de desafiar os espectadores a refletir sobre a natureza do poder e da ambição.

Em resumo, temos uma obra imperdível para os amantes de dramas políticos que vale muito o seu play!

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I Know this Much is True

Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").

"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:

A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!

Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração!  John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!

Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão  depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!

Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo! 

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Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").

"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:

A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!

Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração!  John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!

Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão  depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!

Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo! 

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I May Destroy You

"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!

Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:

De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!

"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO. 

Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!

Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.

Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!

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"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!

Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:

De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!

"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO. 

Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!

Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.

Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!

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I Wanna Dance with Somebody

Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

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Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

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Imperdoável

"Imperdoável" vem dividindo opniões, mas eu posso te adiantar: o filme é realmente bom e vale o seu play! Agora, não é nenhuma surpresa também que essa produção da Netflix seja baseada em uma minissérie de três episódios - no caso a britânica "Unforgiven" (no original), lançada em janeiro de 2009 e que foi muito bem de audiência e de crítica. Digo isso, pois algumas relações entre personagens que estão no filme mereciam um pouco mais de tempo de tela e certos assuntos justificariam mais aprofundamento. Isso prejudica a experiência? Não, mas fica aquele gostinho de "quero mais" (que para alguns vem sendo interpretado como um filme de resoluções atropeladas").

Na história, conhecemos a protagonista Ruth Slater (Sandra Bullock) que passa 20 anos na prisão após ter sido acusada do assassinato de um policial que estava em serviço no dia em que seria despejada de sua casa. Depois de cumprir a longa pena, Slater tenta retomar a vida em sociedade, enquanto busca de todas as formas reencontrar a irmã caçula, com quem perdeu contato após a sua prisão e que foi adotada por uma outra família na época. Confira o trailer:

Alguns pontos chamam muito nossa atenção. Sandra Bullock está sensacional e não fosse um certo preconceito com a atriz (mesmo depois do seu Oscar com "The Blind Side"), eu apostaria, no mínimo, em uma indicação na premiação de 2022 - sua performance é contida, pontuada, minimalista e sempre no tom correto para os diferentes tipos de cenas que ela precisa estar. Uma delas, inclusive, talvez seja o grande ponto alto do filme, quando "Ruth" de Bullock encontra com "Liz" de Viola Davis - além de uma cena muito bem construída para nos surpreender e de um talentoso embate entre duas excelentes atrizes, outro ponto que merece destaque é a montagem. Desde o inicio do filme, a montagem cria um ritmo sensacional para "Imperdoável" - mérito de Joe Walker (indicado ao Oscar por "A Chegada" e que usa do mesmo conceito técnico e narrativo para construir um mistério (e um suspense) em cima de um roteiro bem menos genial).

Dirigido pela ótima cineasta alemã Nora Fingscheidt, estreando em produções com um maior orçamento, o filme flerta com discussões bastante relevantes como o difícil processo de ressocialização de um ex-presidiário e como as vidas desses indivíduos são impactadas pelos crimes cometidos (especialmente contra policiais). O roteiro até pincela algumas críticas sobre os privilégios de ser uma mulher branca perante o preconceito sofrido pelos negros nas mesmas condições, mas não se tem tempo de ir além. A própria relação e as motivações dos irmãos Whelan ficam prejudicadas pela restrição de tempo.

O fato é que "Imperdoável" merece muito mais elogios do que críticas, além de ser um excelente entretenimento com um plot twist bem arquitetado, mesmo que com um final não tão corajoso. Existe um certo ar emotivo no desfecho da história, claro, mas talvez tenha faltado um pouco mais de impacto - algo que uma série da HBO entregaria sem receio, entende? 

Se você gosta de um bom drama, pode ir tranquilo que vale a pena!

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"Imperdoável" vem dividindo opniões, mas eu posso te adiantar: o filme é realmente bom e vale o seu play! Agora, não é nenhuma surpresa também que essa produção da Netflix seja baseada em uma minissérie de três episódios - no caso a britânica "Unforgiven" (no original), lançada em janeiro de 2009 e que foi muito bem de audiência e de crítica. Digo isso, pois algumas relações entre personagens que estão no filme mereciam um pouco mais de tempo de tela e certos assuntos justificariam mais aprofundamento. Isso prejudica a experiência? Não, mas fica aquele gostinho de "quero mais" (que para alguns vem sendo interpretado como um filme de resoluções atropeladas").

Na história, conhecemos a protagonista Ruth Slater (Sandra Bullock) que passa 20 anos na prisão após ter sido acusada do assassinato de um policial que estava em serviço no dia em que seria despejada de sua casa. Depois de cumprir a longa pena, Slater tenta retomar a vida em sociedade, enquanto busca de todas as formas reencontrar a irmã caçula, com quem perdeu contato após a sua prisão e que foi adotada por uma outra família na época. Confira o trailer:

Alguns pontos chamam muito nossa atenção. Sandra Bullock está sensacional e não fosse um certo preconceito com a atriz (mesmo depois do seu Oscar com "The Blind Side"), eu apostaria, no mínimo, em uma indicação na premiação de 2022 - sua performance é contida, pontuada, minimalista e sempre no tom correto para os diferentes tipos de cenas que ela precisa estar. Uma delas, inclusive, talvez seja o grande ponto alto do filme, quando "Ruth" de Bullock encontra com "Liz" de Viola Davis - além de uma cena muito bem construída para nos surpreender e de um talentoso embate entre duas excelentes atrizes, outro ponto que merece destaque é a montagem. Desde o inicio do filme, a montagem cria um ritmo sensacional para "Imperdoável" - mérito de Joe Walker (indicado ao Oscar por "A Chegada" e que usa do mesmo conceito técnico e narrativo para construir um mistério (e um suspense) em cima de um roteiro bem menos genial).

Dirigido pela ótima cineasta alemã Nora Fingscheidt, estreando em produções com um maior orçamento, o filme flerta com discussões bastante relevantes como o difícil processo de ressocialização de um ex-presidiário e como as vidas desses indivíduos são impactadas pelos crimes cometidos (especialmente contra policiais). O roteiro até pincela algumas críticas sobre os privilégios de ser uma mulher branca perante o preconceito sofrido pelos negros nas mesmas condições, mas não se tem tempo de ir além. A própria relação e as motivações dos irmãos Whelan ficam prejudicadas pela restrição de tempo.

O fato é que "Imperdoável" merece muito mais elogios do que críticas, além de ser um excelente entretenimento com um plot twist bem arquitetado, mesmo que com um final não tão corajoso. Existe um certo ar emotivo no desfecho da história, claro, mas talvez tenha faltado um pouco mais de impacto - algo que uma série da HBO entregaria sem receio, entende? 

Se você gosta de um bom drama, pode ir tranquilo que vale a pena!

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Império da Dor

A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!

Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:

Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança"com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!

Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de  "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".

"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.

Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!

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A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!

Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:

Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança"com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!

Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de  "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".

"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.

Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!

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Império da Luz

Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.

Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.

Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.

"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!

Vale muito o seu play!

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Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.

Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.

Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.

"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!

Vale muito o seu play!

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In Treatment

Cada episódio de "In Treatment" tem cerca de 24 minutos de duração e a história se desenvolve em um único cenário: o consultório do terapeuta Paul Weston (Gabriel Byrne). O roteiro dá série se desenvolve a partir das confissões e relatos de quatro pacientes em sessões individuais. Pode parecer cansativo, mas o roteiro é tão bem construído que é impossível não nos envolvermos com a história de cada um deles.

Na segunda, a paciente é a Laura (Melissa George) - ela é uma anestesiologista que  que não consegue lidar de uma forma madura com seus relacionamentos, quase sempre todos muito conturbados. Alex (Blair Underwood) é o paciente da terça, ele é um piloto de caça, que sofreu um ataque cardíaco e que precisa de uma avaliação psicológica antes de voltar à ativa. Na quarta é a vez de Sophie (Mia Wasikowska), uma ginasta adolescente que sofreu um acidente de bicicleta e que agora precisa de um laudo médico antes de voltar a treinar e competir. Amy (Embeth Davidtz) e Jake (Josh Charles) são os pacientes de quinta, eles são casados e ela está grávida; a questão é que eles precisam de ajuda para decidir entre abortar ou não. Já na sexta é o próprio Weston que busca orientação profissional com uma espécie de mentora, Gina (Dianne Wiest).

Baseado no formato original “BeTipul” de Israel, a versão americana é boa e tem três temporadas que merecem ser assistidas, mas se prepare, pois só na primeira temporada são 43 episódios!

Como curiosidade fiz o exercício de assistir três versões disponíveis do formato. A versão argentina me pareceu a mais realista, sem pesar tanto no caricatura de cada personagem - me pareceu um texto melhor adaptado para cada um dos pacientes. Os atores ajudaram muito e a produção em si é tão boa quanto a americana - e isso é um elogio, pois estamos falando de HBO! Já a versão brasileira, eu achei muito sombria e faltou um pouco mais de cuidado no tom que os atores imprimiram em cena. Que fique claro que a versão não é ruim, pelo contrário, é muito boa; mas para o meu gosto a argentina ainda é melhor (pena que não está mais disponível na Netflix)!

É vital enfatizar a importância de um bom roteiro no sentido artístico e econômico do projeto. Artístico, pois o texto é facilmente adaptado em vários países, com suas realidades, particularidades e cultura - o que faz desse Formato um grande sucesso! “BeTipul” é, certamente, um dos maiores cases de globalização de um Formato  de Ficção pela sua qualidade e, claro, criatividade! Econômico, pois como comentei acima, cada episódio tem apenas dois atores em cena e, praticamente, só uma locação (ou estúdio) - o que ajuda ainda mais a viabilizar o projeto. Costumo dizer que esse é o tipo de projeto que todo mundo quer fazer (ou criar) - é o bom e barato!

"In Treatment" vale a pena assistir, seja ela qualquer das versões. Aqui o foco é a americana, mas a versão brasileira também merece sua atenção.

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Cada episódio de "In Treatment" tem cerca de 24 minutos de duração e a história se desenvolve em um único cenário: o consultório do terapeuta Paul Weston (Gabriel Byrne). O roteiro dá série se desenvolve a partir das confissões e relatos de quatro pacientes em sessões individuais. Pode parecer cansativo, mas o roteiro é tão bem construído que é impossível não nos envolvermos com a história de cada um deles.

Na segunda, a paciente é a Laura (Melissa George) - ela é uma anestesiologista que  que não consegue lidar de uma forma madura com seus relacionamentos, quase sempre todos muito conturbados. Alex (Blair Underwood) é o paciente da terça, ele é um piloto de caça, que sofreu um ataque cardíaco e que precisa de uma avaliação psicológica antes de voltar à ativa. Na quarta é a vez de Sophie (Mia Wasikowska), uma ginasta adolescente que sofreu um acidente de bicicleta e que agora precisa de um laudo médico antes de voltar a treinar e competir. Amy (Embeth Davidtz) e Jake (Josh Charles) são os pacientes de quinta, eles são casados e ela está grávida; a questão é que eles precisam de ajuda para decidir entre abortar ou não. Já na sexta é o próprio Weston que busca orientação profissional com uma espécie de mentora, Gina (Dianne Wiest).

Baseado no formato original “BeTipul” de Israel, a versão americana é boa e tem três temporadas que merecem ser assistidas, mas se prepare, pois só na primeira temporada são 43 episódios!

Como curiosidade fiz o exercício de assistir três versões disponíveis do formato. A versão argentina me pareceu a mais realista, sem pesar tanto no caricatura de cada personagem - me pareceu um texto melhor adaptado para cada um dos pacientes. Os atores ajudaram muito e a produção em si é tão boa quanto a americana - e isso é um elogio, pois estamos falando de HBO! Já a versão brasileira, eu achei muito sombria e faltou um pouco mais de cuidado no tom que os atores imprimiram em cena. Que fique claro que a versão não é ruim, pelo contrário, é muito boa; mas para o meu gosto a argentina ainda é melhor (pena que não está mais disponível na Netflix)!

É vital enfatizar a importância de um bom roteiro no sentido artístico e econômico do projeto. Artístico, pois o texto é facilmente adaptado em vários países, com suas realidades, particularidades e cultura - o que faz desse Formato um grande sucesso! “BeTipul” é, certamente, um dos maiores cases de globalização de um Formato  de Ficção pela sua qualidade e, claro, criatividade! Econômico, pois como comentei acima, cada episódio tem apenas dois atores em cena e, praticamente, só uma locação (ou estúdio) - o que ajuda ainda mais a viabilizar o projeto. Costumo dizer que esse é o tipo de projeto que todo mundo quer fazer (ou criar) - é o bom e barato!

"In Treatment" vale a pena assistir, seja ela qualquer das versões. Aqui o foco é a americana, mas a versão brasileira também merece sua atenção.

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Inacreditável

"Inacreditável" é o tipo de história que só te surpreende com o passar dos episódios, então, se você for assistir, sugiro que você leia todo esse review antes para entender como funciona a estrutura da minissérie.

Com 8 episódios de 45 minutos de média, "Inacreditável" pode não agradar logo de cara, até porque a estratégia de lançamento não foi, na verdade, 100% honesta! A Netflix apresentou o projeto como uma minissérie que acompanharia a história de uma jovem chamada Marie Adler (Kaitlyn Dever) que, ao relatar um suposto estupro, é desacreditada pela polícia de seu estado, gerando uma série de complicações na sua vida por muito tempo. De fato essa trama está em "Inacreditável", mas ela é só o ponto de partida para um arco muito maior: o trabalho de investigação das detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette) para encontrar um estuprador serial! Na realidade, são duas linhas temporais distintas, uma em 2008, mostrando o reflexo das escolhas de Adler após seus depoimentos para a polícia e outra em 2011, acompanhando o complicado trabalho de duas detetives de regiões diferentes, caçando o mesmo criminoso.

É preciso dizer que, à partir do momento que você entende o conceito narrativo da série, tudo se encaixa e a experiência melhora muito, mas isso não é imediato - eu diria que durante o terceiro episódio, a estrutura vai ficando mais clara e a história começa a fazer mais sentido e é aí que vem aquela ótima sensação de que valeu muito a pena ter dado o play!

Baseada na reportagem “An unbelivable story of rape” (Uma inacreditável história de estupro), escrita por T. Christian Miller e Ken Armstrong em 2015 - que inclusive lhes rendeu prêmio Pulitzer - o roteiro de "Inacreditável" acaba sendo muito inteligente em separar as histórias em duas linhas temporais distintas que se unem no final (isso não é spoiler, isso é óbvio). Em 2008, ficamos com o caso "mal contado" de Marie - e realmente é difícil cravar o que realmente aconteceu com ela. Mas isso não importa, porque o foco dessa linha é mostrar os reflexos que o frágil sistema policial (e jurídico) dos EUA, podem causar em pessoas que sofrem estupro. Quando Marie é forçada a contar sua experiência várias vezes, para diferentes detetives, que a cada versão vão ficando mais hostis, céticos e menos inclinados a acreditar nela, ela resolve assumir que inventou a história com medo do que poderia acontecer caso nada fosse comprovado. Ela inventou mesmo ou foi realmente atacada? - o grande valor do roteiro é brincar com nossa imaginação e nos forçar ao julgamento, então se permita. O fato é que depois disso as coisas só pioram para ela, provocando sensações muito parecidas com as que sentimos assistindo "Olhos que condenam"! Paralelamente, já três anos mais tarde (é preciso ficar atento nas legendas), somos apresentados à duas investigadoras que não se conhecem por trabalhar em delegacias diferentes, mas que investigam crimes muito semelhantes de estupro, e que nos fazem lembrar do depoimento de Marie. Essa linha trás elementos de gênero policial muito mais próximos de "Manhunt: Unabomber" por exemplo. É de se elogiar a química entre as duas protagonistas femininas da minissérie: a investigadora Duvall é mais reservada e calculista, enquanto a experiente Rasmussen é uma bomba relógio de emoções.

Admito que, para mim, 6 episódios seriam capazes de contar a mesma história sem tanta enrolação, mas é justificável quando o maior objetivo de uma série policial é criar a tensão até se descobrir quem é o criminoso - e aqui dou mais um ponto para o roteiro: ele não rouba no jogo! A sequência de fatos é coerente, real e angustiante, apresenta possibilidades, mas também as descarta rapidamente sem causar nenhum ruído na história - tudo fica redondo, mesmo quando o plot principal parece escapar. O fato de ser basado em fatos reais ajuda muito nesse desenvolvimento e os roteiristas foram inteligentes em usar essas "derrapadas" à favor da trama.

"Inacreditável" não é uma história fácil e imagino que deve ter um peso ainda maior para as mulheres, pois a violência é velada e as vítimas são pessoas comuns da comunidade - sem nenhum tipo de estereótipo! Dói como ser humano, claro, mas ao olhar para lado e ver sua filha brincando vem um sentimento ainda mais forte. É revoltante como a sociedade (no geral) lida com o assunto e quem sofre acaba sendo a que mais é questionada. É a que tem que provar, é a que precisa ser coerente no discurso mesmo estando destroçada por dentro... olha, é preciso ter estômago! Mais dois destaques antes de finalizar: Kaitlyn Dever, como Marie acertou no tom, na forma, no silêncio - ela sofre com os olhos, é possível sentir sua dor! E os episódios 5 e 7 merecem atenção, eles valem a minissérie - ótimos diálogos e interpretações dignas de prêmio! Não perca tempo... play!!!!

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"Inacreditável" é o tipo de história que só te surpreende com o passar dos episódios, então, se você for assistir, sugiro que você leia todo esse review antes para entender como funciona a estrutura da minissérie.

Com 8 episódios de 45 minutos de média, "Inacreditável" pode não agradar logo de cara, até porque a estratégia de lançamento não foi, na verdade, 100% honesta! A Netflix apresentou o projeto como uma minissérie que acompanharia a história de uma jovem chamada Marie Adler (Kaitlyn Dever) que, ao relatar um suposto estupro, é desacreditada pela polícia de seu estado, gerando uma série de complicações na sua vida por muito tempo. De fato essa trama está em "Inacreditável", mas ela é só o ponto de partida para um arco muito maior: o trabalho de investigação das detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette) para encontrar um estuprador serial! Na realidade, são duas linhas temporais distintas, uma em 2008, mostrando o reflexo das escolhas de Adler após seus depoimentos para a polícia e outra em 2011, acompanhando o complicado trabalho de duas detetives de regiões diferentes, caçando o mesmo criminoso.

É preciso dizer que, à partir do momento que você entende o conceito narrativo da série, tudo se encaixa e a experiência melhora muito, mas isso não é imediato - eu diria que durante o terceiro episódio, a estrutura vai ficando mais clara e a história começa a fazer mais sentido e é aí que vem aquela ótima sensação de que valeu muito a pena ter dado o play!

Baseada na reportagem “An unbelivable story of rape” (Uma inacreditável história de estupro), escrita por T. Christian Miller e Ken Armstrong em 2015 - que inclusive lhes rendeu prêmio Pulitzer - o roteiro de "Inacreditável" acaba sendo muito inteligente em separar as histórias em duas linhas temporais distintas que se unem no final (isso não é spoiler, isso é óbvio). Em 2008, ficamos com o caso "mal contado" de Marie - e realmente é difícil cravar o que realmente aconteceu com ela. Mas isso não importa, porque o foco dessa linha é mostrar os reflexos que o frágil sistema policial (e jurídico) dos EUA, podem causar em pessoas que sofrem estupro. Quando Marie é forçada a contar sua experiência várias vezes, para diferentes detetives, que a cada versão vão ficando mais hostis, céticos e menos inclinados a acreditar nela, ela resolve assumir que inventou a história com medo do que poderia acontecer caso nada fosse comprovado. Ela inventou mesmo ou foi realmente atacada? - o grande valor do roteiro é brincar com nossa imaginação e nos forçar ao julgamento, então se permita. O fato é que depois disso as coisas só pioram para ela, provocando sensações muito parecidas com as que sentimos assistindo "Olhos que condenam"! Paralelamente, já três anos mais tarde (é preciso ficar atento nas legendas), somos apresentados à duas investigadoras que não se conhecem por trabalhar em delegacias diferentes, mas que investigam crimes muito semelhantes de estupro, e que nos fazem lembrar do depoimento de Marie. Essa linha trás elementos de gênero policial muito mais próximos de "Manhunt: Unabomber" por exemplo. É de se elogiar a química entre as duas protagonistas femininas da minissérie: a investigadora Duvall é mais reservada e calculista, enquanto a experiente Rasmussen é uma bomba relógio de emoções.

Admito que, para mim, 6 episódios seriam capazes de contar a mesma história sem tanta enrolação, mas é justificável quando o maior objetivo de uma série policial é criar a tensão até se descobrir quem é o criminoso - e aqui dou mais um ponto para o roteiro: ele não rouba no jogo! A sequência de fatos é coerente, real e angustiante, apresenta possibilidades, mas também as descarta rapidamente sem causar nenhum ruído na história - tudo fica redondo, mesmo quando o plot principal parece escapar. O fato de ser basado em fatos reais ajuda muito nesse desenvolvimento e os roteiristas foram inteligentes em usar essas "derrapadas" à favor da trama.

"Inacreditável" não é uma história fácil e imagino que deve ter um peso ainda maior para as mulheres, pois a violência é velada e as vítimas são pessoas comuns da comunidade - sem nenhum tipo de estereótipo! Dói como ser humano, claro, mas ao olhar para lado e ver sua filha brincando vem um sentimento ainda mais forte. É revoltante como a sociedade (no geral) lida com o assunto e quem sofre acaba sendo a que mais é questionada. É a que tem que provar, é a que precisa ser coerente no discurso mesmo estando destroçada por dentro... olha, é preciso ter estômago! Mais dois destaques antes de finalizar: Kaitlyn Dever, como Marie acertou no tom, na forma, no silêncio - ela sofre com os olhos, é possível sentir sua dor! E os episódios 5 e 7 merecem atenção, eles valem a minissérie - ótimos diálogos e interpretações dignas de prêmio! Não perca tempo... play!!!!

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Incêndios

“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.

Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"! 

Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.

“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!

Vale muito a pena!

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“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.

Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"! 

Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.

“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!

Vale muito a pena!

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Industry

"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).

Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:

Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.

A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários" Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.

"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?

Vale seu play!

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"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).

Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:

Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.

A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários" Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.

"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?

Vale seu play!

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Infiltrado na Klan

"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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Interrompemos a Programação

"Prime Time" (que no Brasil ganhou o sugestivo título de "Interrompemos a Programação") chegou na Netflix com a chancela de ter sido indicado ao Grand Jury Prize de Sundance em 2021, porém, essa produção polonesa, certamente veio para entrar naquela prateleira de "ame ou odeie"!

A premissa é simples, mas excelente: Na véspera do Ano Novo de 1999, um homem armado invade um estúdio de uma TV de Varsóvia, fazendo um segurança e uma apresentadora como reféns, tendo apenas uma única exigência: entrar ao vivo em rede nacional para transmitir uma mensagem. Confira o trailer (dublado):

O Filme é dirigido por Jakub Piatek e conta com Bartosz Bielenia - ator que ganhou muita notoriedade por sua participação no ótimo "Corpus Christi" (de 2019), representante da Polônia na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020. Embora estreante na função, Piatek teve muita personalidade ao escolher o caminho mais difícil para contar uma história aparentemente simples, mas cheia de camadas. Veja, a tensão de "Interrompemos a Programação" não se baseia na ação imersiva como no excelente "Utoya 22 de Julho" e sim na expectativa do que pode acontecer a qualquer momento e por motivos que não sabemos. Ao focar na cadência narrativa, o diretor deixa claro preferir o tom mais autoral, independente, e assume a responsabilidade por inúmeras criticas - muitas de quem via sua obra como uma nova visão de "Jogo do Dinheiro" de 2016, longa com George Clooney e Julia Roberts sobre um rapaz que invade um estúdio de TV armado e faz o apresentador refém.

Três cenas definem a força da narrativa apoiada nos detalhes e na sensibilidade do elenco. A primeira, sem dúvida, é o embate entre Sebastian e seu pai - se até ali o garoto parecia sem propósito ou força para assumir suas decisões, claramente após essa discussão, tudo ganha um novo rumo. Detalhe para o ótimo trabalho, tanto de  Bielenia quanto Juliusz Chrzastowski. Já na outra cena, vemos Mira (Magdalena Poplawska), visivelmente irritada ao ser contrariada pelos seus superiores, ligando para um contato na emissora concorrente, oferecendo uma transmissão exclusiva do seu sequestrador. Para finalizar, reparem na atitude da produtora executiva e diretora do programa de Mira, Laura (Malgorzata Hajewska), em uma das últimas cenas do filme.

Saiba que "Interrompemos a Programação" não é sobre os motivos que levaram Sebastian até ali - isso pouco importa na verdade. O filme é sobre a solidão do ser humano, sobre a vaidade, sobre a incompreensão e sobre o espetáculo, ainda que grotesco, que a mídia tenta impor com a desculpa de fazer jornalismo. Ah, e a critica politica é fácil de ser percebida em vários momentos - dentro e fora do estúdio onde 90% da narrativa acontece!

Eu entendo que pode ficar uma sensação, de certa forma até frustrante, de que o potencial de "Interrompemos a Programação" foi desperdiçado. Para alguns essa percepção será óbvia e o roteiro, em muitos momentos, colabora para esse mal-humor, mas convido nosso leitor a olhar além e buscar entender como o desespero pode nos levar a atitudes impensáveis - seja por medo ou, simplesmente, por vaidade!

Vale o play, mas com todos esses "poréns" bastante particulares que o filme não se preocupa em esconder. Filme para quem gosta do que não é óbvio!

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"Prime Time" (que no Brasil ganhou o sugestivo título de "Interrompemos a Programação") chegou na Netflix com a chancela de ter sido indicado ao Grand Jury Prize de Sundance em 2021, porém, essa produção polonesa, certamente veio para entrar naquela prateleira de "ame ou odeie"!

A premissa é simples, mas excelente: Na véspera do Ano Novo de 1999, um homem armado invade um estúdio de uma TV de Varsóvia, fazendo um segurança e uma apresentadora como reféns, tendo apenas uma única exigência: entrar ao vivo em rede nacional para transmitir uma mensagem. Confira o trailer (dublado):

O Filme é dirigido por Jakub Piatek e conta com Bartosz Bielenia - ator que ganhou muita notoriedade por sua participação no ótimo "Corpus Christi" (de 2019), representante da Polônia na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020. Embora estreante na função, Piatek teve muita personalidade ao escolher o caminho mais difícil para contar uma história aparentemente simples, mas cheia de camadas. Veja, a tensão de "Interrompemos a Programação" não se baseia na ação imersiva como no excelente "Utoya 22 de Julho" e sim na expectativa do que pode acontecer a qualquer momento e por motivos que não sabemos. Ao focar na cadência narrativa, o diretor deixa claro preferir o tom mais autoral, independente, e assume a responsabilidade por inúmeras criticas - muitas de quem via sua obra como uma nova visão de "Jogo do Dinheiro" de 2016, longa com George Clooney e Julia Roberts sobre um rapaz que invade um estúdio de TV armado e faz o apresentador refém.

Três cenas definem a força da narrativa apoiada nos detalhes e na sensibilidade do elenco. A primeira, sem dúvida, é o embate entre Sebastian e seu pai - se até ali o garoto parecia sem propósito ou força para assumir suas decisões, claramente após essa discussão, tudo ganha um novo rumo. Detalhe para o ótimo trabalho, tanto de  Bielenia quanto Juliusz Chrzastowski. Já na outra cena, vemos Mira (Magdalena Poplawska), visivelmente irritada ao ser contrariada pelos seus superiores, ligando para um contato na emissora concorrente, oferecendo uma transmissão exclusiva do seu sequestrador. Para finalizar, reparem na atitude da produtora executiva e diretora do programa de Mira, Laura (Malgorzata Hajewska), em uma das últimas cenas do filme.

Saiba que "Interrompemos a Programação" não é sobre os motivos que levaram Sebastian até ali - isso pouco importa na verdade. O filme é sobre a solidão do ser humano, sobre a vaidade, sobre a incompreensão e sobre o espetáculo, ainda que grotesco, que a mídia tenta impor com a desculpa de fazer jornalismo. Ah, e a critica politica é fácil de ser percebida em vários momentos - dentro e fora do estúdio onde 90% da narrativa acontece!

Eu entendo que pode ficar uma sensação, de certa forma até frustrante, de que o potencial de "Interrompemos a Programação" foi desperdiçado. Para alguns essa percepção será óbvia e o roteiro, em muitos momentos, colabora para esse mal-humor, mas convido nosso leitor a olhar além e buscar entender como o desespero pode nos levar a atitudes impensáveis - seja por medo ou, simplesmente, por vaidade!

Vale o play, mas com todos esses "poréns" bastante particulares que o filme não se preocupa em esconder. Filme para quem gosta do que não é óbvio!

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Intocáveis

Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!

Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:

"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!  

Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.

"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.

Vale muito o seu play!

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Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!

Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:

"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!  

Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.

"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.

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Inventando Anna

O grande segredo para você não se decepcionar ao assistir "Inventando Anna" está no alinhamento de expectativas. Veja, a minissérie da Netflix é muito boa, mas não tem uma narrativa realista, tão comum em projetos que usam os elementos documentais de "true crime" para simular a veracidade na ficção. Não, "Inventando Anna" não se propõe a ser um mergulho profundo na mente da protagonista (mesmo sugerindo), a minissérie é dinâmica, divertida, mas entretenimento puro - bem no estilo da sua criadora, Shonda Rhimes (de "Grey’s Anatomy", "How to Get Away with Murder" e "Scandal").

A minissérie acompanha a jornalista Vivian (Anna Chlumsky) enquanto ela investiga a glamourosa e misteriosa Anna Delvey (Julia Garner), uma jovem socialite que tem uma vida de luxos e festas e que se apresenta como uma herdeira alemã milionária, mas que na verdade utiliza dessa fachada para dar inúmeros golpes em bancos e jovens ricos. Depois que os golpes de Anna são expostos e ela acaba sendo processada e presa, Vivian decide contar a história de como Anna conseguiu se tornar uma das maiores figuras da elite burguesa de Nova Iorque mesmo vindo de origem pobre. Confira o trailer:

Você não vai precisar de mais que dois episódios para perceber que "Inventando Anna" poderia, tranquilamente, ser um spin-off de "Gossip Girl" - e não falo isso com demérito, pois a dinâmica imposta por Rhimes, embora nada original, funciona muito bem e diverte. Existe um mood mais jovem na narrativa, sempre pontuada com uma trilha sonora moderninha e interpretações mais caricatas. Eu sei que pode parecer que estou criticando a minissérie, mas não é o caso, porém o estilo escolhido para contar uma história real como essa, pode não agradar quem procura por algo, digamos, mais sério.

Com uma aplicação gráfica criativa, recebemos um aviso no inicio de cada episódio: Esta história é completamente verdadeira. Exceto pelas partes que foram totalmente inventadas”. Baseada em uma publicação da jornalistaJessica Pressler da revista "New York", "Inventando Anna" transita muito bem entre o "fato" e o "conto" em um dos temas mais interessantes na construção de uma narrativa envolvente e que fomenta muita curiosidade para audiência: como o anti-herói conseguiu enganar tanta gente e viver de uma forma que "eu" gostaria de viver, mas dificilmente vou conseguir trabalhando honestamente (por favor, entendam a ironia da afirmação). A maneira como essa premissa nos provoca, reflete exatamente nosso sentimento ao assistir a minissérie: nunca sabemos para quem torcer, quem está certo, errado, o que faríamos em determinada situação - e é esse o charme da experiência, basta reparar no sucesso que "O Golpista do Tinder" fez recentemente.

Muito bem produzida e com Julia Garner (de "Ozark") brilhando, "Inventando Anna" é um retrato de uma sociedade instagramável - vimos isso em "Fake Famous" e em "As Faces da Marca". Mas as referências não param por aí: picaretas que lesaram muita gente também são citados durante os episódios dentro de um contexto que deixa claro como Anna tinha o dom do convencimento. Ela era uma mistura de Elizabeth Holmes (do ótimo e imperdível "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício") com Billy McFarland (criador do "Fyre Festival") - esse último, inclusive, era amigo de Anna e é muito citado na história.

O fato é que "Inventando Anna" é fácil de assistir, diverte de verdade e não cansa. Mesmo com uma falta de unidade na estrutura narrativa, você sempre vai encontrar um artificio visual para renovar sua atenção, seja uma tela dividida, um freeze frame,um corte rápido que te leva para um flashback, uma quebra de linha temporal entre passado e presente na mesma cena. São 9 episódios, mas poderiam ser 7. Os dois últimos focam no julgamento, mas poderiam ser resolvidos com algumas legendas na tela preta, mas como isso não seria um "Shonda Rhimes" acabamos embarcando na proposta.

Antes de finalizar, um detalhe importante: boas atrizes são aquelas que aparecem nos mínimos movimentos e na introspecção de uma ação carregada de sentimento - reparem na cena em que Anna, sem dinheiro algum e sozinha, está no metro e encontra um saco com fast food.Veja como Julia Garner se relaciona com aquela situação e com que prazer que ela come a batata frita - tudo isso sem dizer uma só palavra! Lindo!

Se você chegou até aqui, pode dar o play, você vai se divertir!

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O grande segredo para você não se decepcionar ao assistir "Inventando Anna" está no alinhamento de expectativas. Veja, a minissérie da Netflix é muito boa, mas não tem uma narrativa realista, tão comum em projetos que usam os elementos documentais de "true crime" para simular a veracidade na ficção. Não, "Inventando Anna" não se propõe a ser um mergulho profundo na mente da protagonista (mesmo sugerindo), a minissérie é dinâmica, divertida, mas entretenimento puro - bem no estilo da sua criadora, Shonda Rhimes (de "Grey’s Anatomy", "How to Get Away with Murder" e "Scandal").

A minissérie acompanha a jornalista Vivian (Anna Chlumsky) enquanto ela investiga a glamourosa e misteriosa Anna Delvey (Julia Garner), uma jovem socialite que tem uma vida de luxos e festas e que se apresenta como uma herdeira alemã milionária, mas que na verdade utiliza dessa fachada para dar inúmeros golpes em bancos e jovens ricos. Depois que os golpes de Anna são expostos e ela acaba sendo processada e presa, Vivian decide contar a história de como Anna conseguiu se tornar uma das maiores figuras da elite burguesa de Nova Iorque mesmo vindo de origem pobre. Confira o trailer:

Você não vai precisar de mais que dois episódios para perceber que "Inventando Anna" poderia, tranquilamente, ser um spin-off de "Gossip Girl" - e não falo isso com demérito, pois a dinâmica imposta por Rhimes, embora nada original, funciona muito bem e diverte. Existe um mood mais jovem na narrativa, sempre pontuada com uma trilha sonora moderninha e interpretações mais caricatas. Eu sei que pode parecer que estou criticando a minissérie, mas não é o caso, porém o estilo escolhido para contar uma história real como essa, pode não agradar quem procura por algo, digamos, mais sério.

Com uma aplicação gráfica criativa, recebemos um aviso no inicio de cada episódio: Esta história é completamente verdadeira. Exceto pelas partes que foram totalmente inventadas”. Baseada em uma publicação da jornalistaJessica Pressler da revista "New York", "Inventando Anna" transita muito bem entre o "fato" e o "conto" em um dos temas mais interessantes na construção de uma narrativa envolvente e que fomenta muita curiosidade para audiência: como o anti-herói conseguiu enganar tanta gente e viver de uma forma que "eu" gostaria de viver, mas dificilmente vou conseguir trabalhando honestamente (por favor, entendam a ironia da afirmação). A maneira como essa premissa nos provoca, reflete exatamente nosso sentimento ao assistir a minissérie: nunca sabemos para quem torcer, quem está certo, errado, o que faríamos em determinada situação - e é esse o charme da experiência, basta reparar no sucesso que "O Golpista do Tinder" fez recentemente.

Muito bem produzida e com Julia Garner (de "Ozark") brilhando, "Inventando Anna" é um retrato de uma sociedade instagramável - vimos isso em "Fake Famous" e em "As Faces da Marca". Mas as referências não param por aí: picaretas que lesaram muita gente também são citados durante os episódios dentro de um contexto que deixa claro como Anna tinha o dom do convencimento. Ela era uma mistura de Elizabeth Holmes (do ótimo e imperdível "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício") com Billy McFarland (criador do "Fyre Festival") - esse último, inclusive, era amigo de Anna e é muito citado na história.

O fato é que "Inventando Anna" é fácil de assistir, diverte de verdade e não cansa. Mesmo com uma falta de unidade na estrutura narrativa, você sempre vai encontrar um artificio visual para renovar sua atenção, seja uma tela dividida, um freeze frame,um corte rápido que te leva para um flashback, uma quebra de linha temporal entre passado e presente na mesma cena. São 9 episódios, mas poderiam ser 7. Os dois últimos focam no julgamento, mas poderiam ser resolvidos com algumas legendas na tela preta, mas como isso não seria um "Shonda Rhimes" acabamos embarcando na proposta.

Antes de finalizar, um detalhe importante: boas atrizes são aquelas que aparecem nos mínimos movimentos e na introspecção de uma ação carregada de sentimento - reparem na cena em que Anna, sem dinheiro algum e sozinha, está no metro e encontra um saco com fast food.Veja como Julia Garner se relaciona com aquela situação e com que prazer que ela come a batata frita - tudo isso sem dizer uma só palavra! Lindo!

Se você chegou até aqui, pode dar o play, você vai se divertir!

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