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100 Metros

Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

Vale seu play!

Assista Agora

Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

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127 horas

"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

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"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

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15:17 Destino Paris

Baseado no livro “The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers”, o filme de Clint Eastwood conta a história de três americanos, Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos. Amigos desde a infância, eles estavam viajando pela Europa quando acabaram reféns de um terrorista marroquino, Ayoub El-Khazzani (Ray Corasani), em um trem que ia de Amsterdã para Paris.

Pelo trailer temos a impressão que é mais um grande filme sobre heróis americanos "15:17 Destino Paris", certo? Pois é, de fato, esse é o objetivo de Eastwood, mas o resultado talvez deixe a desejar para os mais exigentes, embora seja um bom entretenimento se você não assistir com as expectativas que um filme do diretor carrega!

"15:17 Destino Paris" é muito bem dirigido por uma cara que domina a gramática cinematográfica como ninguém - é perceptível a qualidade técnica e a capacidade que Eastwood tem de contar uma história que dialoga com seus propósitos, mas para mim, o maior problema do filme acabou sendo seu roteiro! Ele é muito inconsistente - parece que editaram para caber na "Tela Quente", sabe? 

O roteiro de Dorothy Blyskal transita entre a vida adulta e a infância dos três protagonistas, porém, o que poderia ser um trabalho profundo sobre a formação do caráter e dos valores dos futuros heróis em diversas camadas, é só um retrato de três garotos fazendo malcriação! Já adultos, o filme soa mais como uma espécie de Road Movie, quase colegial, com diálogos muitas vezes superficiais e sem muito propósito para o que mais interessa: os momentos de tensão perante uma experiência marcante e aterrorizante vivida naquele 21 de agosto de 2015 - como, por exemplo, Paul Greengrass fez brilhantemente no excelente "Voo United 93".

A parte curiosa do filme é que Clint Eastwood não usou atores para contar a história! Quem viveu aquele dia, reviveu na ficção - e isso pesa no filme! Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos se esforçam, mas não entregam a dramaticidade que o filme pedia!

Olha, de fato, "15:17 Destino Paris" era uma história que merecia ser contada! Vale como referência histórica, como retrato de uma sociedade doentia, mas como filme em si, é aquele típico entretenimento "Sessão da Tarde" sem maiores pretensões ou seja, vale pela diversão!

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Baseado no livro “The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers”, o filme de Clint Eastwood conta a história de três americanos, Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos. Amigos desde a infância, eles estavam viajando pela Europa quando acabaram reféns de um terrorista marroquino, Ayoub El-Khazzani (Ray Corasani), em um trem que ia de Amsterdã para Paris.

Pelo trailer temos a impressão que é mais um grande filme sobre heróis americanos "15:17 Destino Paris", certo? Pois é, de fato, esse é o objetivo de Eastwood, mas o resultado talvez deixe a desejar para os mais exigentes, embora seja um bom entretenimento se você não assistir com as expectativas que um filme do diretor carrega!

"15:17 Destino Paris" é muito bem dirigido por uma cara que domina a gramática cinematográfica como ninguém - é perceptível a qualidade técnica e a capacidade que Eastwood tem de contar uma história que dialoga com seus propósitos, mas para mim, o maior problema do filme acabou sendo seu roteiro! Ele é muito inconsistente - parece que editaram para caber na "Tela Quente", sabe? 

O roteiro de Dorothy Blyskal transita entre a vida adulta e a infância dos três protagonistas, porém, o que poderia ser um trabalho profundo sobre a formação do caráter e dos valores dos futuros heróis em diversas camadas, é só um retrato de três garotos fazendo malcriação! Já adultos, o filme soa mais como uma espécie de Road Movie, quase colegial, com diálogos muitas vezes superficiais e sem muito propósito para o que mais interessa: os momentos de tensão perante uma experiência marcante e aterrorizante vivida naquele 21 de agosto de 2015 - como, por exemplo, Paul Greengrass fez brilhantemente no excelente "Voo United 93".

A parte curiosa do filme é que Clint Eastwood não usou atores para contar a história! Quem viveu aquele dia, reviveu na ficção - e isso pesa no filme! Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos se esforçam, mas não entregam a dramaticidade que o filme pedia!

Olha, de fato, "15:17 Destino Paris" era uma história que merecia ser contada! Vale como referência histórica, como retrato de uma sociedade doentia, mas como filme em si, é aquele típico entretenimento "Sessão da Tarde" sem maiores pretensões ou seja, vale pela diversão!

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150 Miligramas

Quando os interesses econômicos se sobressaem ao que realmente impacta na sociedade, independente do universo em que essa "mentira" (para não dizer hipocrisia) esteja inserida, encontramos uma ótima premissa para o desenvolvimento de uma jornada que, de fato, vai prender a atenção da audiência - primeiro por nos provocar, de imediato, indignação e depois por gerar uma enorme empatia pela protagonista que luta contra tudo e contra todos para provar que o "sistema" não está preocupado com o ser humano e sim com o seu lucro. Indicado ao César Awards (o Oscar Francês) em 2017, "150 Miligramas" é uma surpreendente adaptação do livro da pneumologista Irène Frachon que segue justamente essa linha narrativa - o filme retrata o que foi considerado por muitos, uma das mais impactantes denúncias que a indústria farmacêutica já sofreu em todos os tempos.

"La Fille de Brest" (no original) recria a luta travada pela Dra. Franchon (Sidse Babett Knudsen), entre 2009 e 2011, quando ela colocou a própria profissão em risco ao desafiar a indústria farmacêutica e estabelecer uma ligação direta entre mortes suspeitas e o consumo de Mediator, um medicamento para controle da obesidade em diabéticos que apresentava graves efeitos colaterais, mesmo já no mercado há mais 30 anos. Confira o trailer:

Contextualizando, a ótima diretora Emmanuelle Bercot já havia se destacado ao priorizar personagens femininas fortes - seus dois trabalhos anteriores teve "só" Catherine Deneuve como protagonista ("Ela Vai" de 2013 e "De Cabeça Erguida" de 2015), então já era de se esperar que a talentosa Sidse Babett Knudsen fosse capaz de entregar uma Irène Frachon incrível - e é o que acontece! Knudsen foi capaz de traduzir a expectativa de Bercot, criando uma protagonista que oscila emocionalmente de acordo com a situação em que ela se encontra. Essa capacidade da atriz humaniza sua personagem de uma forma que, por muitos momentos, temos a impressão de estarmos assistindo ao mesmo tempo um documentário investigativo e um filme caseiro de sua família. E aqui cabe um comentário: Knudsen concorreu ao prêmio de Melhor Atriz no César Awards daquele ano por essa performance.

Por se tratar de uma adaptação, a linha acaba ficando muito tênue entre o genial e o superficial, principalmente pelo pouco tempo para expor os sentimentos mais honestos e profundos dos personagens e é justamente por isso que destaco um dos grandes acertos do roteiro de Séverine Bosschem ao lado de Bercot: existe um equilíbrio entre poesia e drama - as cenas da protagonista no mar, ilustrando de forma metafórica sua incessante luta contra o laboratório Servier, nadando contra a maré, quase perdendo o fôlego e ainda tentando sobreviver em meio a tanta pressão, é simplesmente incrível! Impossível também não destacar o trabalho do fotógrafo indicado ao Oscar em 2012 pelo "O Artista", Guillaume Schiffman.

Como em "Minamata" ou no mais recente "O Preço da Verdade", existe uma proposital sensação de exaustão depois de duas horas de filme para ilustrar o peso da jornada de Irène Frachon, rodeada de estafa física e psicológica, mas lindamente decodificada pela diretora que não se limitou em construir "uma salvadora da pátria" e sim retratar os seus medos, suas falhas e inseguranças - e como dito em uma das melhores passagens do filme: "não há luta sem medo e ele atinge todos os rebeldes".

Vale muito a pena!

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Quando os interesses econômicos se sobressaem ao que realmente impacta na sociedade, independente do universo em que essa "mentira" (para não dizer hipocrisia) esteja inserida, encontramos uma ótima premissa para o desenvolvimento de uma jornada que, de fato, vai prender a atenção da audiência - primeiro por nos provocar, de imediato, indignação e depois por gerar uma enorme empatia pela protagonista que luta contra tudo e contra todos para provar que o "sistema" não está preocupado com o ser humano e sim com o seu lucro. Indicado ao César Awards (o Oscar Francês) em 2017, "150 Miligramas" é uma surpreendente adaptação do livro da pneumologista Irène Frachon que segue justamente essa linha narrativa - o filme retrata o que foi considerado por muitos, uma das mais impactantes denúncias que a indústria farmacêutica já sofreu em todos os tempos.

"La Fille de Brest" (no original) recria a luta travada pela Dra. Franchon (Sidse Babett Knudsen), entre 2009 e 2011, quando ela colocou a própria profissão em risco ao desafiar a indústria farmacêutica e estabelecer uma ligação direta entre mortes suspeitas e o consumo de Mediator, um medicamento para controle da obesidade em diabéticos que apresentava graves efeitos colaterais, mesmo já no mercado há mais 30 anos. Confira o trailer:

Contextualizando, a ótima diretora Emmanuelle Bercot já havia se destacado ao priorizar personagens femininas fortes - seus dois trabalhos anteriores teve "só" Catherine Deneuve como protagonista ("Ela Vai" de 2013 e "De Cabeça Erguida" de 2015), então já era de se esperar que a talentosa Sidse Babett Knudsen fosse capaz de entregar uma Irène Frachon incrível - e é o que acontece! Knudsen foi capaz de traduzir a expectativa de Bercot, criando uma protagonista que oscila emocionalmente de acordo com a situação em que ela se encontra. Essa capacidade da atriz humaniza sua personagem de uma forma que, por muitos momentos, temos a impressão de estarmos assistindo ao mesmo tempo um documentário investigativo e um filme caseiro de sua família. E aqui cabe um comentário: Knudsen concorreu ao prêmio de Melhor Atriz no César Awards daquele ano por essa performance.

Por se tratar de uma adaptação, a linha acaba ficando muito tênue entre o genial e o superficial, principalmente pelo pouco tempo para expor os sentimentos mais honestos e profundos dos personagens e é justamente por isso que destaco um dos grandes acertos do roteiro de Séverine Bosschem ao lado de Bercot: existe um equilíbrio entre poesia e drama - as cenas da protagonista no mar, ilustrando de forma metafórica sua incessante luta contra o laboratório Servier, nadando contra a maré, quase perdendo o fôlego e ainda tentando sobreviver em meio a tanta pressão, é simplesmente incrível! Impossível também não destacar o trabalho do fotógrafo indicado ao Oscar em 2012 pelo "O Artista", Guillaume Schiffman.

Como em "Minamata" ou no mais recente "O Preço da Verdade", existe uma proposital sensação de exaustão depois de duas horas de filme para ilustrar o peso da jornada de Irène Frachon, rodeada de estafa física e psicológica, mas lindamente decodificada pela diretora que não se limitou em construir "uma salvadora da pátria" e sim retratar os seus medos, suas falhas e inseguranças - e como dito em uma das melhores passagens do filme: "não há luta sem medo e ele atinge todos os rebeldes".

Vale muito a pena!

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1917

1917

Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro!

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

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Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro!

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

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22 July

Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.

Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:

"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.

Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.

Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!

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Um filme europeu chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequência de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e de fato é realmente perturbador! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass (de "Vôo United 93" e "Capitão Phillips") para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir os dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou.

Noruega, 2011. Anders Behring Breivik, consumido pelos seus ideias fundamentalistas cristãos e anti-islâmicos, mata 75 pessoas a tiros em um acampamento na Ilha de Utoya. Os sobreviventes do ataque pedem justiça ao governo Norueguês, enquanto os advogados do terrorista condenado se mobilizam para defendê-lo perante a lei. Confira o trailer:

"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") - ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass.

Se no filme norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, nessa versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta porque nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.

Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase uma experiência sensorial), enquanto "22 July" é mais um entretenimento - os dois são excelentes filmes, que fique claro. A dica, no entanto, é para que você assista os dois e tenha experiências tão diferentes quanto complementares! Pode acreditar, vai valer muito a pena!

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438 Dias

Uma das maravilhas desses tempos de streaming é poder ter acesso à filmes incríveis que certamente não teriam a menor chance no circuito comercial das salas de cinema - esse é o caso de "438 Dias", produção sueca do diretor Jesper Ganslandt ( o mesmo de "Dinheiro Fácil: A Série" da Netflix). Muito bem realizado cinematograficamente, essa é uma história que de fato merecia ser contada - então se você gosta de tramas investigativas ou de denúncias que impactam toda uma sociedade, como "150 Miligramas""Minamata" ou "O Preço da Verdade", sua diversão está garantida!

Em 2011 os jornalistas suecos Martin Schibbye (Gustaf Skarsgård) e Johan Persson (Matias Varela) colocaram tudo em jogo, inclusive suas vidas, ao cruzar ilegalmente a fronteira da Somália para a Etiópia. Depois de meses de pesquisa, planejamento e tentativas fracassadas, eles estavam finalmente no caminho para relatar como a implacável busca por petróleo afetou a comunidade da isolada e conflituosa região de Ogaden. Confira o trailer:

Baseado, obviamente, na história real contada no livro escrito pelos próprios protagonistas de "438 Dias", o roteiro de Peter Birro traz para a narrativa vários elementos dramáticos dos títulos referenciados acima, porém com uma diferença fundamental: ele conta sim a jornada investigativa pela qual os jornalistas Johan Persson e Martin Schibbyeo estavam trabalhando, mas o foco mesmo é o incidente que levou a dupla à prisão na Etiópia e suas consequências.

Se apoiando nos relatos pessoais de ambos, Ganslandt foi muito feliz em criar um clima de tensão permanente durante toda a narrativa - provocando sensações bem particulares, o filme mostra como provas foram forjadas, porquê as autoridades queriam evitar que eles investigassem o envolvimento da Lundin Oil na região de Ogaden e como se deu uma eventual participação do Ministro das Relações Exteriores da Suécia (antes um alto diretor da empresa). Olha, existe um equilíbrio perfeito de temas que vai do jornalismo investigativo, passando ao drama político e que culmina nos momentos de terror que os personagens passaram enquanto esperavam seus julgamentos, presos em condições desumanas - e aqui cabe um comentário: o tom de denúncia do filme é tão forte que a estrutura narrativa soa quase como documental, com o diretor, inclusive, impondo um conceito que mistura as duas linguagens (ficção e documentário) em muitas passagens-chave da história.

Agora, é preciso dizer também que "438 Dias" não é um filme sobre prisão, onde a ação muitas vezes se sobrepõe ao drama real - aqui temos uma narrativa que não se apoia em sensacionalismo, ou seja, o roteiro mais sugere do que mostra, não aumenta os fatos e muito menos exagera em passagens que por si só já são impactantes. Claro que existem gatilhos visuais em situações marcantes que provocam certas emoções, mas nunca além da conta e isso transforma a jornada em algo muito mais introspectiva do que expositiva - mesmo que cadenciada demais para alguns, essa escolha foi um golaço do diretor!

Em dias turbulentos, "438 Dias" é um filme importante, para que governos autoritários ou os interesses de grandes corporações não suprimam o direito básico da "liberdade de expressão". Vale muito seu play!  

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Uma das maravilhas desses tempos de streaming é poder ter acesso à filmes incríveis que certamente não teriam a menor chance no circuito comercial das salas de cinema - esse é o caso de "438 Dias", produção sueca do diretor Jesper Ganslandt ( o mesmo de "Dinheiro Fácil: A Série" da Netflix). Muito bem realizado cinematograficamente, essa é uma história que de fato merecia ser contada - então se você gosta de tramas investigativas ou de denúncias que impactam toda uma sociedade, como "150 Miligramas""Minamata" ou "O Preço da Verdade", sua diversão está garantida!

Em 2011 os jornalistas suecos Martin Schibbye (Gustaf Skarsgård) e Johan Persson (Matias Varela) colocaram tudo em jogo, inclusive suas vidas, ao cruzar ilegalmente a fronteira da Somália para a Etiópia. Depois de meses de pesquisa, planejamento e tentativas fracassadas, eles estavam finalmente no caminho para relatar como a implacável busca por petróleo afetou a comunidade da isolada e conflituosa região de Ogaden. Confira o trailer:

Baseado, obviamente, na história real contada no livro escrito pelos próprios protagonistas de "438 Dias", o roteiro de Peter Birro traz para a narrativa vários elementos dramáticos dos títulos referenciados acima, porém com uma diferença fundamental: ele conta sim a jornada investigativa pela qual os jornalistas Johan Persson e Martin Schibbyeo estavam trabalhando, mas o foco mesmo é o incidente que levou a dupla à prisão na Etiópia e suas consequências.

Se apoiando nos relatos pessoais de ambos, Ganslandt foi muito feliz em criar um clima de tensão permanente durante toda a narrativa - provocando sensações bem particulares, o filme mostra como provas foram forjadas, porquê as autoridades queriam evitar que eles investigassem o envolvimento da Lundin Oil na região de Ogaden e como se deu uma eventual participação do Ministro das Relações Exteriores da Suécia (antes um alto diretor da empresa). Olha, existe um equilíbrio perfeito de temas que vai do jornalismo investigativo, passando ao drama político e que culmina nos momentos de terror que os personagens passaram enquanto esperavam seus julgamentos, presos em condições desumanas - e aqui cabe um comentário: o tom de denúncia do filme é tão forte que a estrutura narrativa soa quase como documental, com o diretor, inclusive, impondo um conceito que mistura as duas linguagens (ficção e documentário) em muitas passagens-chave da história.

Agora, é preciso dizer também que "438 Dias" não é um filme sobre prisão, onde a ação muitas vezes se sobrepõe ao drama real - aqui temos uma narrativa que não se apoia em sensacionalismo, ou seja, o roteiro mais sugere do que mostra, não aumenta os fatos e muito menos exagera em passagens que por si só já são impactantes. Claro que existem gatilhos visuais em situações marcantes que provocam certas emoções, mas nunca além da conta e isso transforma a jornada em algo muito mais introspectiva do que expositiva - mesmo que cadenciada demais para alguns, essa escolha foi um golaço do diretor!

Em dias turbulentos, "438 Dias" é um filme importante, para que governos autoritários ou os interesses de grandes corporações não suprimam o direito básico da "liberdade de expressão". Vale muito seu play!  

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7500

"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):

Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!

Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo -  eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!

Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral! 

"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência! 

Imperdível!

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"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):

Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!

Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo -  eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!

Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral! 

"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência! 

Imperdível!

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A Assistente

Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!

O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):

Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte",  não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!

Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!

Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!

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Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!

O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):

Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte",  não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!

Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!

Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!

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A Baleia

Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!

A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.

O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.

Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!

Vale muito o seu play!

Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!

Assista Agora

Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!

A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.

O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.

Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!

Vale muito o seu play!

Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!

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A Batalha das Correntes

"A Batalha das Correntes" é um filme dos mais interessantes, principalmente para aqueles que buscam referências históricas para entender a jornada da inovação (e eventualmente do empreendedorismo). Com uma narrativa bem próxima de "Radioactive" temos a chance de conhecer uma das mentes mais brilhantes da história, Thomas Edison, mesmo que se apropriando de uma personalidade bastante difícil bem ao estilo Steve Jobs, diga-se de passagem.

Ambientado no final do século XIX, a Guerra das Correntes foi uma disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon) sobre como deveria ser feita a distribuição da eletricidade nos EUA. Edison fez uma campanha pela utilização da corrente contínua para isso, enquanto Westinghouse e Nikola Tesla (Nicholas Hoult) defendiam a corrente alternada. Basicamente, o primeiro dizia que a segunda opção apresentava pouca segurança no seu manejo, podendo, inclusive, causar mortes, enquanto que estes defendiam a economia da prática que empregavam. Confira o trailer:

Pela sinopse temos a impressão que o assunto pode parecer chato, mas dada a referência histórica e respeitando uma época onde grandes descobertas movimentavam a humanidade, era como se Jobs disputasse com Bill Gates a hegemonia de um mercado de computadores pessoais a partir de suas criações. E a analogia vem repleta de coincidências, veja: o roteiro se concentra nas disputas (pessoais e profissionais) entre Edison e Westinghouse, o primeiro apontado como um gênio, famoso, admirado, com temperamento forte, seguro de sua forma de enxergar o mundo e como suas criações poderiam mudar os rumos da história; já o segundo trazia uma visão menos romântica do empresário, mais objetiva, focado na relação custo x beneficio e um pouco incomodado com a falta de reconhecimento, mas nem por isso desprovido de um bom coração e uma capacidade intelectual acima da média. E aqui cabe um elogio: tanto Benedict Cumberbatch como Michael Shannon estão excelentes nos personagens - mesmo com diálogos um pouco pesados, ambos trazem "alma" para um tema completamente técnico e muitas vezes durante o filme, extremamente racional.

Outros dois destaques que saltam aos olhos, sem dúvida, é a fotografia incandescente de Chung-hoon Chung ("It: A Coisa") e o desenho de produção (+ departamento de arte) liderado por Jan Roelfs (indicado duas vezes ao Oscar por "Gattaca" e "Orlando, a mulher imortal") - a junção dessas duas competências criam uma ambientação bastante interessante, mesmo que para alguns um pouco descolada da realidade. O fato é que, no geral, o filme é muito bem realizado tecnicamente e conceitualmente segue o mesmo caminho - com uma direção segura do Alfonso Gomez-Rejon é fácil perceber a identidade do cineasta, porém, fica claro que o filme poderia ter ido além, talvez até como uma minissérie, tamanha era a efervescência da época, por se tratar de um período tão transformador e tão rico em personagens e histórias.

Gostei muito e indico tranquilamente!

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"A Batalha das Correntes" é um filme dos mais interessantes, principalmente para aqueles que buscam referências históricas para entender a jornada da inovação (e eventualmente do empreendedorismo). Com uma narrativa bem próxima de "Radioactive" temos a chance de conhecer uma das mentes mais brilhantes da história, Thomas Edison, mesmo que se apropriando de uma personalidade bastante difícil bem ao estilo Steve Jobs, diga-se de passagem.

Ambientado no final do século XIX, a Guerra das Correntes foi uma disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon) sobre como deveria ser feita a distribuição da eletricidade nos EUA. Edison fez uma campanha pela utilização da corrente contínua para isso, enquanto Westinghouse e Nikola Tesla (Nicholas Hoult) defendiam a corrente alternada. Basicamente, o primeiro dizia que a segunda opção apresentava pouca segurança no seu manejo, podendo, inclusive, causar mortes, enquanto que estes defendiam a economia da prática que empregavam. Confira o trailer:

Pela sinopse temos a impressão que o assunto pode parecer chato, mas dada a referência histórica e respeitando uma época onde grandes descobertas movimentavam a humanidade, era como se Jobs disputasse com Bill Gates a hegemonia de um mercado de computadores pessoais a partir de suas criações. E a analogia vem repleta de coincidências, veja: o roteiro se concentra nas disputas (pessoais e profissionais) entre Edison e Westinghouse, o primeiro apontado como um gênio, famoso, admirado, com temperamento forte, seguro de sua forma de enxergar o mundo e como suas criações poderiam mudar os rumos da história; já o segundo trazia uma visão menos romântica do empresário, mais objetiva, focado na relação custo x beneficio e um pouco incomodado com a falta de reconhecimento, mas nem por isso desprovido de um bom coração e uma capacidade intelectual acima da média. E aqui cabe um elogio: tanto Benedict Cumberbatch como Michael Shannon estão excelentes nos personagens - mesmo com diálogos um pouco pesados, ambos trazem "alma" para um tema completamente técnico e muitas vezes durante o filme, extremamente racional.

Outros dois destaques que saltam aos olhos, sem dúvida, é a fotografia incandescente de Chung-hoon Chung ("It: A Coisa") e o desenho de produção (+ departamento de arte) liderado por Jan Roelfs (indicado duas vezes ao Oscar por "Gattaca" e "Orlando, a mulher imortal") - a junção dessas duas competências criam uma ambientação bastante interessante, mesmo que para alguns um pouco descolada da realidade. O fato é que, no geral, o filme é muito bem realizado tecnicamente e conceitualmente segue o mesmo caminho - com uma direção segura do Alfonso Gomez-Rejon é fácil perceber a identidade do cineasta, porém, fica claro que o filme poderia ter ido além, talvez até como uma minissérie, tamanha era a efervescência da época, por se tratar de um período tão transformador e tão rico em personagens e histórias.

Gostei muito e indico tranquilamente!

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A Cabana

Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!

O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington​) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:

Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana"  é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!

Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!

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Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!

O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington​) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:

Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana"  é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!

Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!

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A Escavação

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

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"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

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A Queda

Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

Vale seu play!

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Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

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A Sociedade da Neve

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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A Teacher

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

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Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Além da Vida

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

Assista Agora

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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Alpha Dog

Por que "raios" eu não assisti esse filme antes? Provavelmente você vai se fazer a mesma pergunta assim que os créditos de "Alpha Dog" subirem - pode acreditar! Dirigido pelo experiente Nick Cassavetes (de "Um Ato de Coragem"), esse filme de 2006 é uma montanha-russa emocional que nos leva para uma jornada pelo submundo juvenil do final dos anos 90 na Califórnia para discutir como algumas decisões erradas resultam em consequências irreversíveis. Aqui temos uma narrativa tão intensa quanto algumas referências mais contemporâneas como "Breaking Bad", por exemplo, no entanto a habilidade de Cassavetes em capturar a complexidade das relações entre os personagens já naquela época, é de se aplaudir de pé. Embora não tenha recebido o reconhecimento que merecia, "Alpha Dog" é uma obra que hoje, em época de um true crime atrás do outro, certamente vai ressoar com muito mais propriedade para aqueles que buscam um drama real extremamente visceral. Se você gostou de filmes como "Kids" ou "Ken Park", você encontrará em "Alpha Dog" uma história poderosa e inquietante com o mesmo vigor!

Johnny Truelove (Emile Hirsch) e seus amigos sequestram o irmão de 15 anos de Jake Mazursky (Ben Foster), Zach (Anton Yelchin), como estratégia para fazer com que ele pague uma dívida de drogas. No entanto, ao designar Frankie (Justin Timberlake) para ser o guardião do garoto, as relações acabam se transformando e eles desenvolvem uma amizade quase fraternal, o que coloca todo plano de Truelove em cheque. Porém o crime de sequestro já está configurado, a policia está envolvida, então agora é preciso achar uma forma de sair dessa confusão sem ir direto para cadeia. Assista o trailer (em inglês):

Esse é o tipo do filme que o fato dele ser inspirado em eventos reais, sem dúvida, o coloca em outro patamar - pensar que tudo aquilo foi acontecendo daquela maneira, chega a ser angustiante. Reparem como o roteiro do próprio Cassavetes brinca com o desequilíbrio emocional dos jovens personagens nos convidando para um mergulho nas motivações e dilemas morais de cada um deles como se estivéssemos ao lado de amigos fazendo besteira - lembrando que o filme se passa em 1999, ou seja, quem nunca? A escolha de não retratar os eventos de maneira linear, mas sim através de diferentes perspectivas, acrescenta camadas à narrativa nos desafiando a questionar nossa própria compreensão sobre aqueles acontecimentos. Veja, não será uma ou duas vezes que você vai pensar como tudo aquilo poderia ser resolvido tão facilmente, e vai se irritar por atestar que ninguém é capaz de enxergar isso!

A força de "Alpha Dog" reside não apenas em sua narrativa intrigante, envolvente, provocadora; mas também na maestria técnica e artística com que Cassavetes constrói sua obra. A fotografia de Robert Fraisse (indicado ao Oscar por "O Amante") destaca-se por capturar a atmosfera crua e frenética da vida daqueles jovens que cresceram juntos, cheios de possibilidades, ricos (eu diria), mas que resolveram se envolver com o crime por achar cool. A trilha sonora é um elemento importante para essa geração MTV - no filme ela é repleta de músicas contemporâneas, o que amplifica a energia de um elenco impressionante que vai de Timberlake, passando pelas promissoras Olivia Wilde e Amanda Seyfried até chegar em uma Sharon Stone na melhor forma - o seu monólogo no terceiro ato, transformada pelos quilos a mais de maquiagem, é impressionante de bom!

"Alpha Dog" não é um filme fácil de ser digerido, mas sua intensidade e complexidade o tornam uma experiência das mais interessantes - essa proposta de transitar pelos meandros do crime e pela amizade entre os jovens que parecem boas pessoas, apenas ingênuos, chega a ser cruel. O roteiro sabe disso e de fato desafia nossos limites emocionais - existe um sentimento de "vai dar ruim" constante que mexe com a gente, por outro lado, ao apresentar uma visão brutal daquela juventude, fica impossível não refletir sobre o quanto as relações familiares impactam na vida dos filhos.

Vale muito o seu play!

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Por que "raios" eu não assisti esse filme antes? Provavelmente você vai se fazer a mesma pergunta assim que os créditos de "Alpha Dog" subirem - pode acreditar! Dirigido pelo experiente Nick Cassavetes (de "Um Ato de Coragem"), esse filme de 2006 é uma montanha-russa emocional que nos leva para uma jornada pelo submundo juvenil do final dos anos 90 na Califórnia para discutir como algumas decisões erradas resultam em consequências irreversíveis. Aqui temos uma narrativa tão intensa quanto algumas referências mais contemporâneas como "Breaking Bad", por exemplo, no entanto a habilidade de Cassavetes em capturar a complexidade das relações entre os personagens já naquela época, é de se aplaudir de pé. Embora não tenha recebido o reconhecimento que merecia, "Alpha Dog" é uma obra que hoje, em época de um true crime atrás do outro, certamente vai ressoar com muito mais propriedade para aqueles que buscam um drama real extremamente visceral. Se você gostou de filmes como "Kids" ou "Ken Park", você encontrará em "Alpha Dog" uma história poderosa e inquietante com o mesmo vigor!

Johnny Truelove (Emile Hirsch) e seus amigos sequestram o irmão de 15 anos de Jake Mazursky (Ben Foster), Zach (Anton Yelchin), como estratégia para fazer com que ele pague uma dívida de drogas. No entanto, ao designar Frankie (Justin Timberlake) para ser o guardião do garoto, as relações acabam se transformando e eles desenvolvem uma amizade quase fraternal, o que coloca todo plano de Truelove em cheque. Porém o crime de sequestro já está configurado, a policia está envolvida, então agora é preciso achar uma forma de sair dessa confusão sem ir direto para cadeia. Assista o trailer (em inglês):

Esse é o tipo do filme que o fato dele ser inspirado em eventos reais, sem dúvida, o coloca em outro patamar - pensar que tudo aquilo foi acontecendo daquela maneira, chega a ser angustiante. Reparem como o roteiro do próprio Cassavetes brinca com o desequilíbrio emocional dos jovens personagens nos convidando para um mergulho nas motivações e dilemas morais de cada um deles como se estivéssemos ao lado de amigos fazendo besteira - lembrando que o filme se passa em 1999, ou seja, quem nunca? A escolha de não retratar os eventos de maneira linear, mas sim através de diferentes perspectivas, acrescenta camadas à narrativa nos desafiando a questionar nossa própria compreensão sobre aqueles acontecimentos. Veja, não será uma ou duas vezes que você vai pensar como tudo aquilo poderia ser resolvido tão facilmente, e vai se irritar por atestar que ninguém é capaz de enxergar isso!

A força de "Alpha Dog" reside não apenas em sua narrativa intrigante, envolvente, provocadora; mas também na maestria técnica e artística com que Cassavetes constrói sua obra. A fotografia de Robert Fraisse (indicado ao Oscar por "O Amante") destaca-se por capturar a atmosfera crua e frenética da vida daqueles jovens que cresceram juntos, cheios de possibilidades, ricos (eu diria), mas que resolveram se envolver com o crime por achar cool. A trilha sonora é um elemento importante para essa geração MTV - no filme ela é repleta de músicas contemporâneas, o que amplifica a energia de um elenco impressionante que vai de Timberlake, passando pelas promissoras Olivia Wilde e Amanda Seyfried até chegar em uma Sharon Stone na melhor forma - o seu monólogo no terceiro ato, transformada pelos quilos a mais de maquiagem, é impressionante de bom!

"Alpha Dog" não é um filme fácil de ser digerido, mas sua intensidade e complexidade o tornam uma experiência das mais interessantes - essa proposta de transitar pelos meandros do crime e pela amizade entre os jovens que parecem boas pessoas, apenas ingênuos, chega a ser cruel. O roteiro sabe disso e de fato desafia nossos limites emocionais - existe um sentimento de "vai dar ruim" constante que mexe com a gente, por outro lado, ao apresentar uma visão brutal daquela juventude, fica impossível não refletir sobre o quanto as relações familiares impactam na vida dos filhos.

Vale muito o seu play!

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American Underdog

Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!

Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.

Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.

O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!

Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety""No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.

Vale muito o seu play!

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Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!

Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.

Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.

O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!

Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety""No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.

Vale muito o seu play!

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