"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.
"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:
As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!
O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!
Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!
"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.
"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:
As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!
O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!
Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!
Esse filme é uma graça - inteligente, criativo, envolvente e muito sensível! "(500) Dias com Ela", dirigido pelo Marc Webb pode, tranquilamente, ser considerada uma comédia romântica moderna, que sob um novo olhar narrativo, surpreende o público ao subverter alguns elementos tão emblemáticos do estilo "água com açúcar". Lançado em 2009, posso te afirmar que o filme, de fato, apresenta uma história cativante, narrada de uma forma diferente, mais para o não-linear do que para o clássico, e que explora as complexidades do amor com muita sabedoria, expondo os desejos mais íntimos ao mesmo tempo que precisamos lidar com as expectativas que criamos sobre os relacionamentos.
O filme gira em torno de Tom Hansen (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), um romântico incorrigível que se apaixona perdidamente por Summer Finn (interpretada por Zooey Deschanel), uma mulher que não acredita em amor verdadeiro. A história é apresentada em 500 dias não consecutivos, pulando entre os altos e baixos do relacionamento de Tom e Summer. Confira o trailer (em inglês):
Marc Webb construiu sua carreira como diretor de videoclipes e certamente por isso, ele trouxe para o seu primeiro longa-metragem um certo suspiro de criatividade e inovação ao narrar uma cotidiana história de amor sob uma perspectiva bastante realista e nem por isso menos envolvente visualmente - já que o diretor usa e abusa da narrativa fragmentada para construir essa ligação que dificilmente conseguimos explicar quando acontece conosco. Isso é muito genial, pois embora nossa vida seja linear, nossas decisões e escolhas se baseiam em experiências diversas e, como conceito, "(500) Dias com Ela" tem muito disso. Reparem como a narrativa habilmente desconstrói a ideia de que o amor é sempre um conto de fadas, mostrando que as pessoas podem ter visões diferentes sobre o amor e sobre as expectativas que depositam nele.
Webb é notável ao usar técnicas como a sobreposição de imagens, animações e sequências de dança, criando uma dinâmica única para o filme e mergulhando no mundo mais subjetivo dos personagens, ajudando a transmitir suas emoções de maneira tangível. Joseph Gordon-Levitt entrega uma atuação encantadora como Tom, capturando perfeitamente a vulnerabilidade e a complexidade emocional de seu personagem. Zooey Deschanel traz uma mistura de doçura e atitude para sua performance como Summer, tornando-a uma figura intrigante e cheia de camadas. Agora, a química entre os dois atores, olha, é tão palpável - eu diria até que é o coração do filme.
O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é tão afiado quanto perspicaz. Os diálogos inteligentes e os monólogos internos que revelam os pensamentos e as inseguranças dos personagens, criando uma conexão genuína com a audiência, são excelentes! Talvez por isso, "(500) Days of Summer" (no original) transcenda o gênero de "comédia romântica", oferecendo uma visão mais realista e, por vezes, até melancólica dos relacionamentos amorosos - essa honestidade e capacidade de retratar as complexidades do amor moderno merecem todos os elogios (e prêmios) que o filme colecionou!
Vale muito o seu play!
Esse filme é uma graça - inteligente, criativo, envolvente e muito sensível! "(500) Dias com Ela", dirigido pelo Marc Webb pode, tranquilamente, ser considerada uma comédia romântica moderna, que sob um novo olhar narrativo, surpreende o público ao subverter alguns elementos tão emblemáticos do estilo "água com açúcar". Lançado em 2009, posso te afirmar que o filme, de fato, apresenta uma história cativante, narrada de uma forma diferente, mais para o não-linear do que para o clássico, e que explora as complexidades do amor com muita sabedoria, expondo os desejos mais íntimos ao mesmo tempo que precisamos lidar com as expectativas que criamos sobre os relacionamentos.
O filme gira em torno de Tom Hansen (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), um romântico incorrigível que se apaixona perdidamente por Summer Finn (interpretada por Zooey Deschanel), uma mulher que não acredita em amor verdadeiro. A história é apresentada em 500 dias não consecutivos, pulando entre os altos e baixos do relacionamento de Tom e Summer. Confira o trailer (em inglês):
Marc Webb construiu sua carreira como diretor de videoclipes e certamente por isso, ele trouxe para o seu primeiro longa-metragem um certo suspiro de criatividade e inovação ao narrar uma cotidiana história de amor sob uma perspectiva bastante realista e nem por isso menos envolvente visualmente - já que o diretor usa e abusa da narrativa fragmentada para construir essa ligação que dificilmente conseguimos explicar quando acontece conosco. Isso é muito genial, pois embora nossa vida seja linear, nossas decisões e escolhas se baseiam em experiências diversas e, como conceito, "(500) Dias com Ela" tem muito disso. Reparem como a narrativa habilmente desconstrói a ideia de que o amor é sempre um conto de fadas, mostrando que as pessoas podem ter visões diferentes sobre o amor e sobre as expectativas que depositam nele.
Webb é notável ao usar técnicas como a sobreposição de imagens, animações e sequências de dança, criando uma dinâmica única para o filme e mergulhando no mundo mais subjetivo dos personagens, ajudando a transmitir suas emoções de maneira tangível. Joseph Gordon-Levitt entrega uma atuação encantadora como Tom, capturando perfeitamente a vulnerabilidade e a complexidade emocional de seu personagem. Zooey Deschanel traz uma mistura de doçura e atitude para sua performance como Summer, tornando-a uma figura intrigante e cheia de camadas. Agora, a química entre os dois atores, olha, é tão palpável - eu diria até que é o coração do filme.
O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é tão afiado quanto perspicaz. Os diálogos inteligentes e os monólogos internos que revelam os pensamentos e as inseguranças dos personagens, criando uma conexão genuína com a audiência, são excelentes! Talvez por isso, "(500) Days of Summer" (no original) transcenda o gênero de "comédia romântica", oferecendo uma visão mais realista e, por vezes, até melancólica dos relacionamentos amorosos - essa honestidade e capacidade de retratar as complexidades do amor moderno merecem todos os elogios (e prêmios) que o filme colecionou!
Vale muito o seu play!
"10.000 Km" é um filme sobre a vida real - e como tal, nem sempre tudo é tão espetacular! Obviamente que essa premiada produção espanhola vai se conectar com aquela audiência que se identifica com a situação, seja por uma memória afetiva, seja por uma experiência similar; mas o fato é que é preciso entender que o filme se trata de um recorte sobre como os relacionamentos vão se transformando e que a perspectiva de quem a assiste nem sempre é a mesma de quem vive - e talvez aí esteja o grande mérito dessa obra: ela nos toca como se nos reconhecêssemos na figura daqueles dois personagens.
Um ano longe e com um continente entre eles, Alex (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer) precisam se adaptar a uma nova realidade e contar com a comunicação virtual para tentar manter viva a chama de seu relacionamento. Mas com os cotidianos não mais compartilhados e o contato mútuo desaparecido, a tecnologia que supostamente aproximou o mundo pode simplesmente separá-los. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Se você gostou de "Malcolm e Marie"ou "Cenas de um Casamento", é bem possível que você vá gostar de "10.000 Km". Embora a estrutura narrativa seja um pouco menos fluída que a produção americana do diretor Sam Levinson ou que a recente série da HBO, aqui seguimos basicamente a mesma cartilha: dois ótimos atores discutindo e lidando com as dificuldades de uma relação. O diretor Carlos Marques-Marcet (que inclusive venceu o Goya de "Melhor Novo Diretor" em 2015 com esse filme) cria uma dinâmica bastante interessante e criativa para estabelecer o processo de degradação de um relacionamento quando as expectativas já não estão mais alinhadas. O roteiro do próprio Marcel em parceria com Clara Roquet, foi muito feliz em fragmentar essa desconexão entre os personagens usando o tempo de separação física como termômetro da relação e, ao mesmo tempo, expondo as fragilidades da comunicação e da tecnologia quando a "essência" já não existe mais.
Veja, após um belíssimo prólogo construído em um competente plano sequência (ou seja, sem cortes), "10.000 Km" se apoia 90% das cenas em ligações de vídeo ou troca de mensagens entre os personagens, retratando uma realidade moderna, mas fria e distante (e aqui não menciono a questão geográfica). As cenas vão de comemorações de aniversários, passando pelo sexo virtual até chegar nas brigas e desentendimentos que só crescem com o passar do tempo. Funciona, mas pode soar monótono para grande parte da audiência - principalmente durante o segundo ato.
"10.000 Km" é original, profundo e muito bem realizado em todos os aspectos técnicos e artísticos. Não se trata de uma história convencional, embora tenhamos a correta impressão de que tudo aquilo não soa tão distante de nós. O caráter experimental e independente do filme chega a ser óbvio, porém não vai afastar quem se interessa por dramas de relação, muito pelo contrário.
O filme chega chancelado por inúmeros prêmios em festivais importantes de cinema independente como o European Film Awards, o Gaudí Awards, o Seattle International Film Festival, o SXSW Film Festival e o próprio Goya.
Vale a pena! "10.000 Km" é um filme dos mais interessantes e com muita alma - mesmo que ela esteja profundamente machucada.
"10.000 Km" é um filme sobre a vida real - e como tal, nem sempre tudo é tão espetacular! Obviamente que essa premiada produção espanhola vai se conectar com aquela audiência que se identifica com a situação, seja por uma memória afetiva, seja por uma experiência similar; mas o fato é que é preciso entender que o filme se trata de um recorte sobre como os relacionamentos vão se transformando e que a perspectiva de quem a assiste nem sempre é a mesma de quem vive - e talvez aí esteja o grande mérito dessa obra: ela nos toca como se nos reconhecêssemos na figura daqueles dois personagens.
Um ano longe e com um continente entre eles, Alex (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer) precisam se adaptar a uma nova realidade e contar com a comunicação virtual para tentar manter viva a chama de seu relacionamento. Mas com os cotidianos não mais compartilhados e o contato mútuo desaparecido, a tecnologia que supostamente aproximou o mundo pode simplesmente separá-los. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Se você gostou de "Malcolm e Marie"ou "Cenas de um Casamento", é bem possível que você vá gostar de "10.000 Km". Embora a estrutura narrativa seja um pouco menos fluída que a produção americana do diretor Sam Levinson ou que a recente série da HBO, aqui seguimos basicamente a mesma cartilha: dois ótimos atores discutindo e lidando com as dificuldades de uma relação. O diretor Carlos Marques-Marcet (que inclusive venceu o Goya de "Melhor Novo Diretor" em 2015 com esse filme) cria uma dinâmica bastante interessante e criativa para estabelecer o processo de degradação de um relacionamento quando as expectativas já não estão mais alinhadas. O roteiro do próprio Marcel em parceria com Clara Roquet, foi muito feliz em fragmentar essa desconexão entre os personagens usando o tempo de separação física como termômetro da relação e, ao mesmo tempo, expondo as fragilidades da comunicação e da tecnologia quando a "essência" já não existe mais.
Veja, após um belíssimo prólogo construído em um competente plano sequência (ou seja, sem cortes), "10.000 Km" se apoia 90% das cenas em ligações de vídeo ou troca de mensagens entre os personagens, retratando uma realidade moderna, mas fria e distante (e aqui não menciono a questão geográfica). As cenas vão de comemorações de aniversários, passando pelo sexo virtual até chegar nas brigas e desentendimentos que só crescem com o passar do tempo. Funciona, mas pode soar monótono para grande parte da audiência - principalmente durante o segundo ato.
"10.000 Km" é original, profundo e muito bem realizado em todos os aspectos técnicos e artísticos. Não se trata de uma história convencional, embora tenhamos a correta impressão de que tudo aquilo não soa tão distante de nós. O caráter experimental e independente do filme chega a ser óbvio, porém não vai afastar quem se interessa por dramas de relação, muito pelo contrário.
O filme chega chancelado por inúmeros prêmios em festivais importantes de cinema independente como o European Film Awards, o Gaudí Awards, o Seattle International Film Festival, o SXSW Film Festival e o próprio Goya.
Vale a pena! "10.000 Km" é um filme dos mais interessantes e com muita alma - mesmo que ela esteja profundamente machucada.
Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!
Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):
Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!
O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.
"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!
PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!
Vale seu play!
Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!
Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):
Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!
O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.
"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!
PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!
Vale seu play!
"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.
Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:
O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.
A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante - ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense.
"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo.
Vale seu play!
Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".
"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.
Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:
O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.
A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante - ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense.
"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo.
Vale seu play!
Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".
Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?
Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:
Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!
"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!
Vale muito a pena!
Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!
Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?
Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:
Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!
"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!
Vale muito a pena!
Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!
"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!
Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.
É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.
"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!
Vale muito o seu play!
"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!
Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.
É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.
"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!
Vale muito o seu play!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos" e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Ele nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
Se Woody Allen fosse francês, ele teria dirigido esse filme! Está tudo lá: a narração conectando o sentimento com a ação, os personagens se encontrando por acaso, as relações sendo desconstruídas por situações incomuns, as sensações pontuando a narrativa, além do diálogo inteligente, enfim, "A Arte de Amar" é uma clara homenagem ao cineasta americano em sua fase mais autoral, apegado aos personagens mais adultos, urbanos, complexos, neuróticos e, por muitas vezes, até melancólicos. Dito isso, se você gosta dos clássicos dramas de relação fantasiados de comédia dos anos 70 e 80, você está no lugar certo!
A sinopse é tão curta quanto eficaz para nos fisgar sem a menor pretensão de nos indicar o que realmente vamos encontrar no filme, veja: um grupo heterogêneo de parisienses embarca em uma aventura diversa para tentar encontrar seu par ideal. Confira o trailer:
O título do filme faz uma referência pontual ao poeta Ovídio, cujo seu manual "Arte de Amar" ensinava técnicas de sedução para seus leitores. A referência literária não para por aí, já que o roteiro do também diretor (e ator) Emmanuel Mouret, se apropria de uma narração quase poética e de um certa divisão em capítulos para construir algumas histórias que se conectam em algum momento do filme. "Não há amor sem música", "É preciso esconder suas infidelidades", "Nunca recuse o que lhe é oferecido", são os ótimos títulos que ilustram perfeitamente o que vamos encontrar assim que começa a ação.
O tom é leve, divertido, cínico e muitas vezes até irônico - quase um crônica como vimos em "Modern Love". Aliás, a estrutura é bem parecida! Um ponto muito interessante, porém, é que todas as histórias giram em torno da infidelidade ou da lealdade entre amigos e casais, retratando uma classe média francesa de uma maneira auto-suficiente em sua "forma", mas neurótica em seu "conteúdo". Além de um direção competente de Mouret, é de brilhar os olhos o elenco estelar e sua performance - Frédérique Bel, Judith Godrèche, Julie Depardieu, Pascale Arbillot, François Cluzet, Élodie Navarre, Gaspard Ulliel, Stanislas Merhar; enfim, todos merecem ser aplaudidos de pé pela sensibilidade, pelo controle emocional e pela verdade com que tratam (e defendem) as imperfeições de seus personagens.
"A Arte de Amar" brinca com audiência de uma forma deliciosa - é como se estivéssemos ouvindo (ou assistindo) verdadeiros causos sobre o amor que acometeu algum conhecido de um conhecido ou aquele amigo que não vemos há anos. O filme brilha pela sua elegância estética e pela sua inteligência textual, mesmo quando não se preocupa em amarrar todas as pontas, afinal, uma história de amor é isso e o conceito narrativo se mantém 100% alinhado ao que mais importa: os sentimentos e sensações que tudo aquilo pode nos provocar!
Vale muito o seu play!
Se Woody Allen fosse francês, ele teria dirigido esse filme! Está tudo lá: a narração conectando o sentimento com a ação, os personagens se encontrando por acaso, as relações sendo desconstruídas por situações incomuns, as sensações pontuando a narrativa, além do diálogo inteligente, enfim, "A Arte de Amar" é uma clara homenagem ao cineasta americano em sua fase mais autoral, apegado aos personagens mais adultos, urbanos, complexos, neuróticos e, por muitas vezes, até melancólicos. Dito isso, se você gosta dos clássicos dramas de relação fantasiados de comédia dos anos 70 e 80, você está no lugar certo!
A sinopse é tão curta quanto eficaz para nos fisgar sem a menor pretensão de nos indicar o que realmente vamos encontrar no filme, veja: um grupo heterogêneo de parisienses embarca em uma aventura diversa para tentar encontrar seu par ideal. Confira o trailer:
O título do filme faz uma referência pontual ao poeta Ovídio, cujo seu manual "Arte de Amar" ensinava técnicas de sedução para seus leitores. A referência literária não para por aí, já que o roteiro do também diretor (e ator) Emmanuel Mouret, se apropria de uma narração quase poética e de um certa divisão em capítulos para construir algumas histórias que se conectam em algum momento do filme. "Não há amor sem música", "É preciso esconder suas infidelidades", "Nunca recuse o que lhe é oferecido", são os ótimos títulos que ilustram perfeitamente o que vamos encontrar assim que começa a ação.
O tom é leve, divertido, cínico e muitas vezes até irônico - quase um crônica como vimos em "Modern Love". Aliás, a estrutura é bem parecida! Um ponto muito interessante, porém, é que todas as histórias giram em torno da infidelidade ou da lealdade entre amigos e casais, retratando uma classe média francesa de uma maneira auto-suficiente em sua "forma", mas neurótica em seu "conteúdo". Além de um direção competente de Mouret, é de brilhar os olhos o elenco estelar e sua performance - Frédérique Bel, Judith Godrèche, Julie Depardieu, Pascale Arbillot, François Cluzet, Élodie Navarre, Gaspard Ulliel, Stanislas Merhar; enfim, todos merecem ser aplaudidos de pé pela sensibilidade, pelo controle emocional e pela verdade com que tratam (e defendem) as imperfeições de seus personagens.
"A Arte de Amar" brinca com audiência de uma forma deliciosa - é como se estivéssemos ouvindo (ou assistindo) verdadeiros causos sobre o amor que acometeu algum conhecido de um conhecido ou aquele amigo que não vemos há anos. O filme brilha pela sua elegância estética e pela sua inteligência textual, mesmo quando não se preocupa em amarrar todas as pontas, afinal, uma história de amor é isso e o conceito narrativo se mantém 100% alinhado ao que mais importa: os sentimentos e sensações que tudo aquilo pode nos provocar!
Vale muito o seu play!
Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!
A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):
Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.
O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.
Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!
Vale muito o seu play!
Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!
Esse filme é uma pancada! Lindo, profundo, honesto, visceral e, claro, tecnicamente perfeito, afinal estamos falando de Darren Aronofsky ("Mãe!" e "Cisne Negro"). É muito difícil analisar "A Baleia" sem pontuar sua potência narrativa - uma obra tão íntima quanto devastadora, com uma abordagem claustrofóbica e profundamente emocional. "The Whale" (no original) adapta a peça homônima de Samuel D. Hunter e explora temas como redenção, autoaceitação e, principalmente, como os impactos da dor emocional e do arrependimento podem ser devastadores. Assim como em outros trabalhos de Aronofsky, especialmente em "Réquiem para um Sonho", essa narrativa mergulha em um território psicológico dos mais desconfortáveis, revelando a complexidade das experiências de vida em sua forma mais crua e vulnerável e que inevitavelmente se reflete em um corpo cheio de simbolismos!
A história, basicamente, acompanha Charlie (Brendan Fraser), um homem recluso que luta contra a obesidade mórbida enquanto tenta se reconectar com sua filha Ellie (Sadie Sink), de quem se afastou anos antes. Vivendo em um pequeno apartamento, ele passa seus dias como professor de redação online, escondendo sua aparência dos alunos. À medida que o filme avança, descobrimos que sua compulsão alimentar é um reflexo de sua dor emocional, resultado de uma perda pessoal e de sua incapacidade de lidar com o abandono e com a culpa. Essa jornada é intensificada pelo confronto com Ellie, uma adolescente rebelde e amarga, e pela presença de Liz (Hong Chau), uma enfermeira e amiga leal que se preocupa profundamente com Charlie, mas também enfrenta sua própria frustração diante da autodestruição dele. Confira o trailer (em inglês):
Mais uma vez Darren Aronofsky traz sua assinatura visual para uma narrativa que é, em essência, teatral e contida em um único espaço. O filme utiliza uma razão de aspecto 4:3 (como das antigas TVs, mais quadradas), criando uma sensação de confinamento que reflete perfeitamente o que a vida de Charlie se tornou, tanto física quanto emocionalmente. A direção de Aronofsky enfatiza a intimidade dos diálogos e os silêncios incômodos, permitindo que cada interação do elenco se torne um espelho das dores e dos desejos reprimidos dos personagens - cada um em sua camada emocional, inclusive. A câmera de Aronofsky, mais uma vez ao lado de seu parceiro de longa data, o fotógrafo Matthew Libatique, frequentemente foca nos planos mais fechados, intensos e longos, capturando a fragilidade de Charlie e expondo para a audiência à vulnerabilidade quase sufocante de sua existência encarcerada.
O roteiro de Samuel D. Hunter, adaptado de sua própria peça, mantém a estrutura teatrall, mas em nada perde sua força no formato cinematográfico - mesmo com o filme se passando em apenas um cenário. Aliás, a dinâmica narrativa é tão boa, fluída e impactante que talvez você nem se dê conta disso! Os diálogos são incríveis ao ponto de esmagar nosso coração, equilibrando momentos de alguma esperança e muito desespero. A escrita de Hunter é hábil ao abordar questões como o impacto da culpa, os desafios do perdão e a luta contra o próprio corpo e mente com a propriedade de quem viveu o drama. O texto, embora denso, nunca se torna excessivamente didático, permitindo que os personagens "respirem" e que suas camadas sejam reveladas de forma gradual e orgânica sem nunca se afastar da realidade. E aqui é preciso citar Brendan Fraser - ele incorpora a dor e o arrependimento de seu personagem com uma autenticidade que transcende a fisicalidade do papel. Fraser transmite uma bondade inerente e uma tristeza avassaladora, tornando impossível não se conectar emocionalmente com sua jornada. Sadie Sink também merece elogios - ela é feroz e intensa, oferecendo um contraste poderoso à suavidade de Charlie, enquanto Hong Chau traz um equilíbrio perfeito de empatia e frustração como Liz, criando uma personagem que é forte e vulnerável sem errar o tom.
Dois outros pontos precisam ser analisados: o design de produção, mais minimalista, reflete a natureza enclausurada da vida de Charlie, criando uma atmosfera melancólica que reforça o peso emocional da narrativa. Já a trilha sonora de Rob Simonsen (de "Tully") é sutil, mas eficaz, pontuando os momentos de maior tensão e os raros lampejos de esperança com delicadeza. A música mixada com o desenho do som, especialmente os ruídos cotidianos e a chuva recorrente, amplificam a sensação de desconforto, nos jogando para uma experiência de fato visceral. Agora um aviso: " A Baleia" pode parecer excessivamente pesada para alguns, beirando o insuportável em certos momentos, no entanto é justamente esse caráter de crueldade que faz do filme um testemunho do poder do cinema como uma ferramenta para explorar as profundezas da experiência humana. Demais!
Vale muito o seu play!
Up-date: "A Baleia" ganhou em duas categorias no Oscar 2023: Melhor Maquiagem e Melhor Ator, além de ter recebido uma indicação para Hong Chau como coadjuvante!
Quando assisti a versão para cinema do musical "Les Miserables" fiz um review (que você pode ler aqui) torcendo para que desse muito certo e tudo aquilo que eu havia assistido no teatro se transformasse em grandes filmes. "Beauty and the Beast" (título original) é um grande filme, no sentido mais cinematográfico da afirmação! É uma história que fez sucesso em Animação, na Broadway e agora no Cinema - custou 160 milhões e "só" no final de semana de lançamento arrecadou 174 milhões (apenas nos EUA)! Confira o belíssimo trailer e tente não se emocionar:
O filme é sobre a fantástica história de Bela (Emma Watson), uma jovem brilhante, bonita e independente, que é aprisionada por um Monstro (Dan Stevens) no seu castelo. Apesar dos seus receios, Bela torna-se amiga dos empregados - figuras encantadas que personificam objetos de decoração ou de cozinha. A jovem se diferencia de outras "convidadas" por conseguir ver além do terrível exterior da Fera assim que começa conhecer a alma e o coração de um verdadeiro Príncipe amaldiçoado!
Dirigido pelo ótimo Bill Condon (de "Dreamgirls"), o filme é muito bem feito, muito bonito visualmente e pode separar um monte de estatuetas para as categorias técnicas e de arte (desenho de produção, figurino, maquiagem e se bobear até efeitos especiais) do Oscar 2018. É muito bacana o conceito que imprimiram no filme, você tem a impressão que está assistindo uma animação só que com pessoas de verdade - as cores, os efeitos, os movimentos de câmera, a fotografia; tudo colabora pra isso e trás muito da magia que é assistir "A Bela e a Fera" na Broadway.
Torço para que a Disney traga mais dos seus clássicos para o cinema e que outros estúdios acreditem e invistam em adaptações de outras clássicos como Miss Saygon, Phanton of the Opera, Cats, etc!
É um filme para toda a familia! Vale muito o play!
Up-date: "A Bela e a Fera" foi indicada em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção, mas acabou não ganhando nenhuma estatueta!
Quando assisti a versão para cinema do musical "Les Miserables" fiz um review (que você pode ler aqui) torcendo para que desse muito certo e tudo aquilo que eu havia assistido no teatro se transformasse em grandes filmes. "Beauty and the Beast" (título original) é um grande filme, no sentido mais cinematográfico da afirmação! É uma história que fez sucesso em Animação, na Broadway e agora no Cinema - custou 160 milhões e "só" no final de semana de lançamento arrecadou 174 milhões (apenas nos EUA)! Confira o belíssimo trailer e tente não se emocionar:
O filme é sobre a fantástica história de Bela (Emma Watson), uma jovem brilhante, bonita e independente, que é aprisionada por um Monstro (Dan Stevens) no seu castelo. Apesar dos seus receios, Bela torna-se amiga dos empregados - figuras encantadas que personificam objetos de decoração ou de cozinha. A jovem se diferencia de outras "convidadas" por conseguir ver além do terrível exterior da Fera assim que começa conhecer a alma e o coração de um verdadeiro Príncipe amaldiçoado!
Dirigido pelo ótimo Bill Condon (de "Dreamgirls"), o filme é muito bem feito, muito bonito visualmente e pode separar um monte de estatuetas para as categorias técnicas e de arte (desenho de produção, figurino, maquiagem e se bobear até efeitos especiais) do Oscar 2018. É muito bacana o conceito que imprimiram no filme, você tem a impressão que está assistindo uma animação só que com pessoas de verdade - as cores, os efeitos, os movimentos de câmera, a fotografia; tudo colabora pra isso e trás muito da magia que é assistir "A Bela e a Fera" na Broadway.
Torço para que a Disney traga mais dos seus clássicos para o cinema e que outros estúdios acreditem e invistam em adaptações de outras clássicos como Miss Saygon, Phanton of the Opera, Cats, etc!
É um filme para toda a familia! Vale muito o play!
Up-date: "A Bela e a Fera" foi indicada em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção, mas acabou não ganhando nenhuma estatueta!
A única coisa ruim de "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado", minissérie documental da Netflix, é o nome. Quilômetros de se alinhar com a proposta de retratar os bastidores da vida de Liliane Bettencourt, herdeira do império L'Oréal e considerada a mulher mais rica do mundo, o título diminui demais o valor histórico da trama que envolve desde espionagem, passando pelas brigas envolvendo sua família até chegar em conspirações politicas que quase derrubaram um presidente. E escrevo isso com a tranquilidade de quem achou que, em um primeiro olhar, se tratava de uma versão elegante de "Proibido por Deus"! Muito pelo contrário, aqui a narrativa nos leva para uma complexa teia de relacionamentos, dinheiro, poder e influência que deixaria os roteiristas de "The Crown" e de "Succession" de cabelo em pé - aliás, que série seria se a história dos Bettencourt fosse contada em detalhes na ficção!
Escândalo nas manchetes de todos os meios de comunicação franceses na década de 2010, o caso Bettencourt é o centro de uma história sombria onde uma bilionária idosa e fragilizada precisa lidar com várias pessoas tentando explorar sua riqueza, entre eles um fotógrafo picareta e um secretário de confiança; com uma filha distante determinada a obter a sua tutela legal e até mesmo com um mordomo que atuou como espião ao instalar microfones por toda a mansão e que depois ainda liberou todas essas gravações para a imprensa. Confira o trailer (em francês):
"L'Affaire Bettencourt: Scandale chez la femme la plus riche du monde" (no original), de fato, tem uma narrativa, habilmente construída pelos diretores Baptiste Etchegaray e Maxime Bonnet, muito envolvente - com depoimentos de peças-chave de todo o escândalo que envolveu a família (como Patrice de Maistre, secretário de Liliane), imagens de arquivo, reconstituições criadas tendo as fitas gravadas pelo mordomo como fio condutor e interferências gráficas belíssimas; a minissérie tem tudo para agradar quem gosta de um "barraco chique" - desculpem o tom da expressão (e não falo de superficialidade), mas é que é impossível não lembrar das passagens constrangedoras de "Succession" ao assistir esses três episódios.
Aqui é possível encontrar uma pesquisa minuciosa, com interações de jornalistas, amigos pessoais e até políticos influentes, que validam aquilo tudo que está sendo mostrado em retrospectiva - é como se esses depoimentos quisessem justificar tudo que aconteceu entre Liliane Bettencourt, sua filha Françoise Bettencourt Meyers, seu amigo François Marie Banier e, claro, Nicolas Sarkozy e seu ministro Eric Woerth. O roteiro é inteligente o bastante para, ao mesmo tempo que revela detalhes e nuances da vida de Liliane que escaparam à atenção pública, também expõe a influência política da família, lançando luz sobre uma complexa rede de relações pautadas no poder e no dinheiro que transita nas esferas políticas da França.
Mesmo que possa soar assunto de programa de fofoca, a minissérie sabe equilibrar muito bem nossa natural curiosidade pelo estilo de vida de uma mulher tão rica como Liliane, com uma análise mais crítica sobre os problemas que rodeavam sua família através dos anos. Existe sim uma busca pelos culpados, ou pelo menos pelas razões que fizeram pessoas agirem de uma forma, digamos, muito suspeita, mas é revelando o retrato humano, que transcende a espetacularização dos escândalos, que a "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado" ganha força. Mesmo que o "Namorado" nunca tenha sido um namorado, que o "Mordomo" praticamente passe despercebido, é a história da "Bilionária" que nos faz ficar grudado na tela até o seu final - que aliás, deixa um certo gosto amargo e nos faz refletir sobre o que realmente representa a felicidade!
Vale muito o seu play!
A única coisa ruim de "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado", minissérie documental da Netflix, é o nome. Quilômetros de se alinhar com a proposta de retratar os bastidores da vida de Liliane Bettencourt, herdeira do império L'Oréal e considerada a mulher mais rica do mundo, o título diminui demais o valor histórico da trama que envolve desde espionagem, passando pelas brigas envolvendo sua família até chegar em conspirações politicas que quase derrubaram um presidente. E escrevo isso com a tranquilidade de quem achou que, em um primeiro olhar, se tratava de uma versão elegante de "Proibido por Deus"! Muito pelo contrário, aqui a narrativa nos leva para uma complexa teia de relacionamentos, dinheiro, poder e influência que deixaria os roteiristas de "The Crown" e de "Succession" de cabelo em pé - aliás, que série seria se a história dos Bettencourt fosse contada em detalhes na ficção!
Escândalo nas manchetes de todos os meios de comunicação franceses na década de 2010, o caso Bettencourt é o centro de uma história sombria onde uma bilionária idosa e fragilizada precisa lidar com várias pessoas tentando explorar sua riqueza, entre eles um fotógrafo picareta e um secretário de confiança; com uma filha distante determinada a obter a sua tutela legal e até mesmo com um mordomo que atuou como espião ao instalar microfones por toda a mansão e que depois ainda liberou todas essas gravações para a imprensa. Confira o trailer (em francês):
"L'Affaire Bettencourt: Scandale chez la femme la plus riche du monde" (no original), de fato, tem uma narrativa, habilmente construída pelos diretores Baptiste Etchegaray e Maxime Bonnet, muito envolvente - com depoimentos de peças-chave de todo o escândalo que envolveu a família (como Patrice de Maistre, secretário de Liliane), imagens de arquivo, reconstituições criadas tendo as fitas gravadas pelo mordomo como fio condutor e interferências gráficas belíssimas; a minissérie tem tudo para agradar quem gosta de um "barraco chique" - desculpem o tom da expressão (e não falo de superficialidade), mas é que é impossível não lembrar das passagens constrangedoras de "Succession" ao assistir esses três episódios.
Aqui é possível encontrar uma pesquisa minuciosa, com interações de jornalistas, amigos pessoais e até políticos influentes, que validam aquilo tudo que está sendo mostrado em retrospectiva - é como se esses depoimentos quisessem justificar tudo que aconteceu entre Liliane Bettencourt, sua filha Françoise Bettencourt Meyers, seu amigo François Marie Banier e, claro, Nicolas Sarkozy e seu ministro Eric Woerth. O roteiro é inteligente o bastante para, ao mesmo tempo que revela detalhes e nuances da vida de Liliane que escaparam à atenção pública, também expõe a influência política da família, lançando luz sobre uma complexa rede de relações pautadas no poder e no dinheiro que transita nas esferas políticas da França.
Mesmo que possa soar assunto de programa de fofoca, a minissérie sabe equilibrar muito bem nossa natural curiosidade pelo estilo de vida de uma mulher tão rica como Liliane, com uma análise mais crítica sobre os problemas que rodeavam sua família através dos anos. Existe sim uma busca pelos culpados, ou pelo menos pelas razões que fizeram pessoas agirem de uma forma, digamos, muito suspeita, mas é revelando o retrato humano, que transcende a espetacularização dos escândalos, que a "A Bilionária, o Mordomo e o Namorado" ganha força. Mesmo que o "Namorado" nunca tenha sido um namorado, que o "Mordomo" praticamente passe despercebido, é a história da "Bilionária" que nos faz ficar grudado na tela até o seu final - que aliás, deixa um certo gosto amargo e nos faz refletir sobre o que realmente representa a felicidade!
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!
Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!
Criança não mente! Será?
Essa é apenas uma das polêmicas abordadas pelo excelente drama dinamarquês "A Caça" - o filme rendeu para Mads Mikkelsen o prêmio de Melhor Ator no festival de Cannes em 2012 e o credenciou para protagonizar a incrível série "Hannibal". Além disso, "Jagten" (título original) concorreu ao Globo de Ouro, ao Batfa e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.
Na trama, Lucas é um homem recém-divorciado que tenta se reerguer no novo emprego em uma escola infantil, mas sua sorte começa a mudar quando Klara (Annika Wedderkopp), filha do seu melhor amigo Marcus (Lasse Fogelstrøm), inventa uma mentira impiedosa com graves consequências, após ela não ter dele a atenção que queria. Antes que Lucas tenha a real dimensão do que está acontecendo, ele se torna o Inimigo número 1 da cidade e enfrenta a hostilidade de todos ao redor, correndo o risco de não conseguir provar sua inocência. Confira o trailer:
Traçando um paralelo entre os acontecimentos do filme e o momento em que vivemos, é inevitável concluir que o "cancelamento sempre existiu" - mesmo antes da internet. Se você mora ou já morou em cidade pequena, sabe bem disso. Uma pessoa "supostamente" tem uma atitude questionável, a notícia se espalha, o julgamento popular é imediato e dá início a um processo de "assassinato de reputação", que muitas vezes é irreversível - mesmo após provado que tudo não passava de boato ou engano. É exatamente o mesmo mecanismo do cancelamento da internet, que se diferencia somente pela velocidade e escala em que acontece. Nota-se, também, o poder do senso comum na sociedade: instantaneamente, as pessoas acreditam que “criança não mente” e que “se falam e voltam atrás, é porque criaram trauma ou medo”. Sabemos que isso é o que realmente acontece na grande maioria dos casos, mas os "canceladores" ignoram o benefício da dúvida e as autoridades legais, antecipando o julgamento.
Dirigido pelo excelente Thomas Vinterberg (de "Kursk - A Última Missão" e do também indicado ao Oscar, "Druk - Mais Uma Rodada") e com roteiro de Tobias Lindholm, "A Caça" constrói com maestria um clima crescente de suspense e o final nos mostra a amplitude semântica da palavra "sequelas". A última cena, especialmente, não poderia justificar melhor o título desse filme que é simplesmente imperdível!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
Criança não mente! Será?
Essa é apenas uma das polêmicas abordadas pelo excelente drama dinamarquês "A Caça" - o filme rendeu para Mads Mikkelsen o prêmio de Melhor Ator no festival de Cannes em 2012 e o credenciou para protagonizar a incrível série "Hannibal". Além disso, "Jagten" (título original) concorreu ao Globo de Ouro, ao Batfa e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.
Na trama, Lucas é um homem recém-divorciado que tenta se reerguer no novo emprego em uma escola infantil, mas sua sorte começa a mudar quando Klara (Annika Wedderkopp), filha do seu melhor amigo Marcus (Lasse Fogelstrøm), inventa uma mentira impiedosa com graves consequências, após ela não ter dele a atenção que queria. Antes que Lucas tenha a real dimensão do que está acontecendo, ele se torna o Inimigo número 1 da cidade e enfrenta a hostilidade de todos ao redor, correndo o risco de não conseguir provar sua inocência. Confira o trailer:
Traçando um paralelo entre os acontecimentos do filme e o momento em que vivemos, é inevitável concluir que o "cancelamento sempre existiu" - mesmo antes da internet. Se você mora ou já morou em cidade pequena, sabe bem disso. Uma pessoa "supostamente" tem uma atitude questionável, a notícia se espalha, o julgamento popular é imediato e dá início a um processo de "assassinato de reputação", que muitas vezes é irreversível - mesmo após provado que tudo não passava de boato ou engano. É exatamente o mesmo mecanismo do cancelamento da internet, que se diferencia somente pela velocidade e escala em que acontece. Nota-se, também, o poder do senso comum na sociedade: instantaneamente, as pessoas acreditam que “criança não mente” e que “se falam e voltam atrás, é porque criaram trauma ou medo”. Sabemos que isso é o que realmente acontece na grande maioria dos casos, mas os "canceladores" ignoram o benefício da dúvida e as autoridades legais, antecipando o julgamento.
Dirigido pelo excelente Thomas Vinterberg (de "Kursk - A Última Missão" e do também indicado ao Oscar, "Druk - Mais Uma Rodada") e com roteiro de Tobias Lindholm, "A Caça" constrói com maestria um clima crescente de suspense e o final nos mostra a amplitude semântica da palavra "sequelas". A última cena, especialmente, não poderia justificar melhor o título desse filme que é simplesmente imperdível!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"A Crônica Francesa" é genial, mas vai se conectar com uma audiência muito (mas, muito) particular e disposta a embarcar em uma experiência visual e narrativa bastante autoral e profundamente experimental - característica aliás, que fez do premiado (e muito criativo) Wes Anderson ("O Grande Hotel Budapeste" e "Moonrise Kingdom") um dos diretores mais cultuados de sua geração.
O filme serve como uma carta de amor aos jornalistas. Ambientada em um posto avançado de um jornal americano em uma pacata cidade na França do século XX, a fictícia Ennui-sur-Blasé, Arthur Howitzer Jr. (Bill Murray), editor da revista "The French Dispatch", morre subitamente de ataque cardíaco. De acordo com os desejos expressos em seu testamento, a publicação da revista teria que ser imediatamente suspensa após um último número de despedida onde seriam publicados quatro crônicas, além, é claro, do seu obituário. Confira o trailer:
Vamos aos fatos: sabe-se que Wes Anderson pensou em "A Crônica Francesa" como uma espécie de agradecimento para a revistaThe New Yorker, fundada em 1905 por Raoul Fleishmann e Harold Ross, este último, referência para a criação do personagem Arthur Howitzer Jr., editor doFrench Dispatch. Pois bem, como estamos falando de uma clara homenagem ao jornalismo raiz, aquele preocupado com a qualidade do texto, com a identidade de quem escreve e não necessariamente com a interpretação de quem lê, somos jogados em uma atmosfera que visualmente tenta reconstruir a experiência de ler uma revista, enquanto narrativamente expõe a maravilha que é mergulhar nas mentes mais brilhantes da profissão pelos olhos de quem escreve maravilhosas (e profundas) crônicas - que, aliás, marcaram a existência da publicação!
Pontuar a qualidade visual de um filme de Anderson não é novidade - o que me surpreende é a Academia ter esnobado o trabalho do diretor e de sua equipe em departamentos como "desenho de produção", "montagem", "figurino" e "fotografia" - só para citar quatro categorias que o filme merecia disputar. O roteiro do próprio diretor, baseado em uma história que ele criou ao lado de Roman Coppola, Hugo Guinness e Jason Schwartzman, é um primor, mas difícil de compreender, já que cada um dos jornalistas se envolvem com sua crônica de uma maneira muito pessoal, criando uma dinâmica narrativa única para cada história que vemos na tela. Os quatros artigos são divididos entre diversos assuntos, o jornalista Herbsaint Sazerac (Owen Wilson) faz um tour rápido pela cidade de Ennui-sur-Blasé. Ele compara o passado e o presente de cada lugar, demonstrando o quanto pouco mudou em Ennui ao longo do tempo. O segundo artigo é feito por J.K.L. Berensen (Tilda Swinton), a partir de uma palestra na galeria de arte de seu ex-chefe - aqui temos um Benicio Del Toro como o pintor Moses Rosenthaler, magnífico. No terceiro, Lucinda Krementz (Frances McDormand) relata um protesto estudantil nas ruas de Ennui que logo se transforma na "Revolução do Tabuleiro de Xadrez". Enquanto a revolução inicialmente é inspirada por preocupações mesquinhas sobre o acesso ao dormitório feminino, o traumático recrutamento militar de um estudante, Mitch-Mitch, inspira uma revolta infinitamente maior. E por último, Roebuck Wright (Jeffrey Wright) conta a história de sua participação em um jantar privado da força policial do Ennui, preparado pelo lendário policial/chef tenente Nescaffier (Steve Park), no dia que o filho do comissário foi sequestrado.
Se você não se delicia com uma crônica bem escrita e cheio de referências culturais e politicas (que muitas vezes se misturam, exigindo do leitor um boa capacidade de interpretação) e também com uma gramática cinematográfica completamente autoral, criativa e subversiva até, certamente "A Crônica Francesa" não vai te agradar. Antes do play, parta do principio que a experimentação de Anderson vai muito além do que estamos acostumados a ver normalmente - sempre foi assim e aqui talvez ele tenha elevado esse conceito para um outro nível. O filme traz uma conexão com o passado sem esquecer da importância da sua narrativa para o presente e é uma pena que muita gente vai achar o filme "sem pé nem cabeça" enquanto poucos vão agradecer pela incrível experiência.
"A Crônica Francesa" é genial, mas vai se conectar com uma audiência muito (mas, muito) particular e disposta a embarcar em uma experiência visual e narrativa bastante autoral e profundamente experimental - característica aliás, que fez do premiado (e muito criativo) Wes Anderson ("O Grande Hotel Budapeste" e "Moonrise Kingdom") um dos diretores mais cultuados de sua geração.
O filme serve como uma carta de amor aos jornalistas. Ambientada em um posto avançado de um jornal americano em uma pacata cidade na França do século XX, a fictícia Ennui-sur-Blasé, Arthur Howitzer Jr. (Bill Murray), editor da revista "The French Dispatch", morre subitamente de ataque cardíaco. De acordo com os desejos expressos em seu testamento, a publicação da revista teria que ser imediatamente suspensa após um último número de despedida onde seriam publicados quatro crônicas, além, é claro, do seu obituário. Confira o trailer:
Vamos aos fatos: sabe-se que Wes Anderson pensou em "A Crônica Francesa" como uma espécie de agradecimento para a revistaThe New Yorker, fundada em 1905 por Raoul Fleishmann e Harold Ross, este último, referência para a criação do personagem Arthur Howitzer Jr., editor doFrench Dispatch. Pois bem, como estamos falando de uma clara homenagem ao jornalismo raiz, aquele preocupado com a qualidade do texto, com a identidade de quem escreve e não necessariamente com a interpretação de quem lê, somos jogados em uma atmosfera que visualmente tenta reconstruir a experiência de ler uma revista, enquanto narrativamente expõe a maravilha que é mergulhar nas mentes mais brilhantes da profissão pelos olhos de quem escreve maravilhosas (e profundas) crônicas - que, aliás, marcaram a existência da publicação!
Pontuar a qualidade visual de um filme de Anderson não é novidade - o que me surpreende é a Academia ter esnobado o trabalho do diretor e de sua equipe em departamentos como "desenho de produção", "montagem", "figurino" e "fotografia" - só para citar quatro categorias que o filme merecia disputar. O roteiro do próprio diretor, baseado em uma história que ele criou ao lado de Roman Coppola, Hugo Guinness e Jason Schwartzman, é um primor, mas difícil de compreender, já que cada um dos jornalistas se envolvem com sua crônica de uma maneira muito pessoal, criando uma dinâmica narrativa única para cada história que vemos na tela. Os quatros artigos são divididos entre diversos assuntos, o jornalista Herbsaint Sazerac (Owen Wilson) faz um tour rápido pela cidade de Ennui-sur-Blasé. Ele compara o passado e o presente de cada lugar, demonstrando o quanto pouco mudou em Ennui ao longo do tempo. O segundo artigo é feito por J.K.L. Berensen (Tilda Swinton), a partir de uma palestra na galeria de arte de seu ex-chefe - aqui temos um Benicio Del Toro como o pintor Moses Rosenthaler, magnífico. No terceiro, Lucinda Krementz (Frances McDormand) relata um protesto estudantil nas ruas de Ennui que logo se transforma na "Revolução do Tabuleiro de Xadrez". Enquanto a revolução inicialmente é inspirada por preocupações mesquinhas sobre o acesso ao dormitório feminino, o traumático recrutamento militar de um estudante, Mitch-Mitch, inspira uma revolta infinitamente maior. E por último, Roebuck Wright (Jeffrey Wright) conta a história de sua participação em um jantar privado da força policial do Ennui, preparado pelo lendário policial/chef tenente Nescaffier (Steve Park), no dia que o filho do comissário foi sequestrado.
Se você não se delicia com uma crônica bem escrita e cheio de referências culturais e politicas (que muitas vezes se misturam, exigindo do leitor um boa capacidade de interpretação) e também com uma gramática cinematográfica completamente autoral, criativa e subversiva até, certamente "A Crônica Francesa" não vai te agradar. Antes do play, parta do principio que a experimentação de Anderson vai muito além do que estamos acostumados a ver normalmente - sempre foi assim e aqui talvez ele tenha elevado esse conceito para um outro nível. O filme traz uma conexão com o passado sem esquecer da importância da sua narrativa para o presente e é uma pena que muita gente vai achar o filme "sem pé nem cabeça" enquanto poucos vão agradecer pela incrível experiência.
"La délicatesse" (no original) é mais um daqueles filmes que você assiste sorrindo - até quando o peito aperta um pouquinho, dá para prever que algo bom vem pela frente. Eu diria que o filme traz um cinema francês clássico sob um novo olhar, com a propriedade de quem tem a sensibilidade de captar os pequenos gestos no meio de grandes atuações. Mérito de Audrey Tautou e François Damiens e de uma direção segura de David e Stéphane Foenkinos que vale a sessão!
Nathalie (Audrey Tautou) tem uma vida maravilhosa. Ela é jovem, bonita e tem o casamento perfeito. Mas depois de um terrível acidente, seu mundo vira de ponta cabeça. Nos anos seguintes, ela foca em seu trabalho, deixando seus sentimentos de lado. Então, de repente, sem mesmo entender o porquê, ela beija o homem mais inesperado -- seu colega de trabalho, Markus (François Damiens). Esse casal incomum embarca numa jornada emocional; uma jornada que suscita todos os tipos de questões e hostilidade no trabalho. Confira o trailer:
A grande questão que o roteiro levanta, brilhantemente adaptado do romance do próprio David Foenkinos, é se, de fato, podemos escolher uma maneira de redescobrir o prazer de viver?
Veja, Nathalie e Markus formam um casal improvável: ele, sueco, introspectivo e fisicamente desajeitado; ela, linda, naturalmente irradiante. E aqui cabe uma passagem interessante do filme que define a inteligência do roteiro e a felicidade da escolha do elenco: em um fim de noite, já levemente bêbado de vinho (e paixão), Charles (Bruno Todeschini), o chefe de Nathalie , diz: “Nathalie é daquela categoria especial de mulher que anula todas as outras. Nathalie é Yoko Ono – do tipo que é capaz de acabar com a maior banda de rock do mundo.”
Talvez o prólogo de "A Delicadeza do Amor" não justifique o que vem a seguir, mas ao mesmo tempo é muito inteligente ao nos posicionar naquilo que Tautou parece fazer de melhor no cinema: viver um conto de fadas - então espere, tenha paciência com a história! A própria fotografia do diretor Rémy Chevrin vai nos transportando para Paris pouco a pouco, da mesma forma que Gordon Willis fez com Manhattan de Woody Allen. Ela cria uma atmosfera de fantasia dentro de um cenário realista que é lindo de sentir. O filme dos irmãos Foenkinos é justamente isso: um drama sensorial, que nos tira da realidade, mesmo em muitos momentos explorando situações brutalmente reais! Esse choque é justamente o diferencial da narrativa!
"A Delicadeza do Amor" é uma história de renascimento, mas é também um conto sobre a singularidade do amor, que prova, mais uma vez, que a beleza está nos detalhes. Reparem como um filme de 2011 continua extremamente atual, em tempos instagramáveis de uma supervalorização da aparência, da beleza fútil, do sucesso material e da riqueza vazia, existem valores muito mais importantes e verdadeiros!
Vale muito a pena!
"La délicatesse" (no original) é mais um daqueles filmes que você assiste sorrindo - até quando o peito aperta um pouquinho, dá para prever que algo bom vem pela frente. Eu diria que o filme traz um cinema francês clássico sob um novo olhar, com a propriedade de quem tem a sensibilidade de captar os pequenos gestos no meio de grandes atuações. Mérito de Audrey Tautou e François Damiens e de uma direção segura de David e Stéphane Foenkinos que vale a sessão!
Nathalie (Audrey Tautou) tem uma vida maravilhosa. Ela é jovem, bonita e tem o casamento perfeito. Mas depois de um terrível acidente, seu mundo vira de ponta cabeça. Nos anos seguintes, ela foca em seu trabalho, deixando seus sentimentos de lado. Então, de repente, sem mesmo entender o porquê, ela beija o homem mais inesperado -- seu colega de trabalho, Markus (François Damiens). Esse casal incomum embarca numa jornada emocional; uma jornada que suscita todos os tipos de questões e hostilidade no trabalho. Confira o trailer:
A grande questão que o roteiro levanta, brilhantemente adaptado do romance do próprio David Foenkinos, é se, de fato, podemos escolher uma maneira de redescobrir o prazer de viver?
Veja, Nathalie e Markus formam um casal improvável: ele, sueco, introspectivo e fisicamente desajeitado; ela, linda, naturalmente irradiante. E aqui cabe uma passagem interessante do filme que define a inteligência do roteiro e a felicidade da escolha do elenco: em um fim de noite, já levemente bêbado de vinho (e paixão), Charles (Bruno Todeschini), o chefe de Nathalie , diz: “Nathalie é daquela categoria especial de mulher que anula todas as outras. Nathalie é Yoko Ono – do tipo que é capaz de acabar com a maior banda de rock do mundo.”
Talvez o prólogo de "A Delicadeza do Amor" não justifique o que vem a seguir, mas ao mesmo tempo é muito inteligente ao nos posicionar naquilo que Tautou parece fazer de melhor no cinema: viver um conto de fadas - então espere, tenha paciência com a história! A própria fotografia do diretor Rémy Chevrin vai nos transportando para Paris pouco a pouco, da mesma forma que Gordon Willis fez com Manhattan de Woody Allen. Ela cria uma atmosfera de fantasia dentro de um cenário realista que é lindo de sentir. O filme dos irmãos Foenkinos é justamente isso: um drama sensorial, que nos tira da realidade, mesmo em muitos momentos explorando situações brutalmente reais! Esse choque é justamente o diferencial da narrativa!
"A Delicadeza do Amor" é uma história de renascimento, mas é também um conto sobre a singularidade do amor, que prova, mais uma vez, que a beleza está nos detalhes. Reparem como um filme de 2011 continua extremamente atual, em tempos instagramáveis de uma supervalorização da aparência, da beleza fútil, do sucesso material e da riqueza vazia, existem valores muito mais importantes e verdadeiros!
Vale muito a pena!
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!
"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!
A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final.
Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!
O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs
Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!
"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!
A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final.
Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!
O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs
Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!