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127 horas

"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

Assista Agora

"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

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1917

Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro! Assistam o vídeo abaixo e entendam a complexidade que foi produzir "1917". Reparem nas soluções encontradas para uma cena noturna (que ficou maravilhosa na tela) e como isso tudo foi cuidadosamente planejado:

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

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Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro! Assistam o vídeo abaixo e entendam a complexidade que foi produzir "1917". Reparem nas soluções encontradas para uma cena noturna (que ficou maravilhosa na tela) e como isso tudo foi cuidadosamente planejado:

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

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45 Anos

"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!

Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.

É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.

"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!

Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.

É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.

"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!

Vale muito o seu play!

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A Chegada

"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".

"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:

O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você  pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.

O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!

Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.

Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!

Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".

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"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".

"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:

O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você  pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.

O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!

Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.

Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!

Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".

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A Favorita

A Favorita

"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!

"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!

A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final. 

Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de  "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!

O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs

Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

Assista Agora

"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!

"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!

A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final. 

Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de  "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!

O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs

Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

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A Forma da Água

Já na maratona do Oscar 2018, assisti "A Forma da Água" e gostei - uma mistura de "Amélie Poulain" com a "Bela e a Fera"! Em 1963, durante o auge da Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins), uma solitária funcionária responsável pela limpeza em laboratório ultra-secreto do governo, vê a sua vida mudar para sempre quando ela descobre a existência de um estranho ser aquático que vive isolado dentro de um tanque. Para executar um arriscado e apaixonado resgate, ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Otavia Spencer), em uma aventura que pode custar muito mais do que o seu emprego. Confira o lindo trailer:

Admito que não me impressionei o bastante para apostar em "A Forma da Água" como o grande vencedor da noite. Claro que se ganhar não será nenhum absurdo, mas, pra mim, são nas indicações do Departamento de Arte que o filme vai disputar prêmio a prêmio com "O Destino de Uma Nação". Já nos prêmios técnicos, Dunkirk me pareceu um trabalho mais complexo, embora o trabalho do diretor Guillermo del Toro tenha sido primoroso - existem duas ou três cenas que equilibra tão bem a fantasia com a realidade que chegamos a acreditar que tudo aquilo seria possível - olha, Del Toro tem boas chances! Prestem atenção na trilha sonora e no trabalho Otavia Spencer indicada como atriz coadjuvante - ambos podem surpreender. Na categoria de "Atriz Principal" a Sally Hawkins mandou muito bem, mas está tão disputado que fica difícil arriscar - eu não apostaria! Dan Laustsen na fotografia também pode levar - embora com "Dunkirk" na disputa complica um pouco.

Das incríveis 13 indicações, se levar 4 ou 5 estará de bom tamanho - e aproveito para dizer, o filme merece cada uma delas e seu play só vai comprovar a enorme qualidade do filme!

Up-date: "A Forma da Água" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora, Melhor Desenho de Produção, Melhor Diretor e Melhor Filme!

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Já na maratona do Oscar 2018, assisti "A Forma da Água" e gostei - uma mistura de "Amélie Poulain" com a "Bela e a Fera"! Em 1963, durante o auge da Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins), uma solitária funcionária responsável pela limpeza em laboratório ultra-secreto do governo, vê a sua vida mudar para sempre quando ela descobre a existência de um estranho ser aquático que vive isolado dentro de um tanque. Para executar um arriscado e apaixonado resgate, ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Otavia Spencer), em uma aventura que pode custar muito mais do que o seu emprego. Confira o lindo trailer:

Admito que não me impressionei o bastante para apostar em "A Forma da Água" como o grande vencedor da noite. Claro que se ganhar não será nenhum absurdo, mas, pra mim, são nas indicações do Departamento de Arte que o filme vai disputar prêmio a prêmio com "O Destino de Uma Nação". Já nos prêmios técnicos, Dunkirk me pareceu um trabalho mais complexo, embora o trabalho do diretor Guillermo del Toro tenha sido primoroso - existem duas ou três cenas que equilibra tão bem a fantasia com a realidade que chegamos a acreditar que tudo aquilo seria possível - olha, Del Toro tem boas chances! Prestem atenção na trilha sonora e no trabalho Otavia Spencer indicada como atriz coadjuvante - ambos podem surpreender. Na categoria de "Atriz Principal" a Sally Hawkins mandou muito bem, mas está tão disputado que fica difícil arriscar - eu não apostaria! Dan Laustsen na fotografia também pode levar - embora com "Dunkirk" na disputa complica um pouco.

Das incríveis 13 indicações, se levar 4 ou 5 estará de bom tamanho - e aproveito para dizer, o filme merece cada uma delas e seu play só vai comprovar a enorme qualidade do filme!

Up-date: "A Forma da Água" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora, Melhor Desenho de Produção, Melhor Diretor e Melhor Filme!

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A História Pessoal de David Copperfield

Antes de mais nada é preciso alertar os mais desavisados: "A História Pessoal de David Copperfield" não é sobre o mágico e sim sobre o clássico personagem de Charles Dickens! Pode até parecer engraçado esse aviso, mas é justamente ele que vai alinhar as expectativas para o que veremos adiante em quase duas horas de filme: uma adaptação inteligente na sua escrita e com um conceito visual extremamente lúdico, porém basicamente teatral - muito usado nas adaptações para a tela de musicais da Broadway.

"The Personal History of David Copperfield" segue fielmente a premissa do romance original. Ambientada no século XIX, essa é a história do jovem David Copperfield (Dev Patel), órfão de pai e vivendo na miséria, que tenta superar todos os obstáculos para conseguir a vida que acredita merecer. Confira o trailer (em inglês):

O impacto visual do filme é imediato, porém o tom escolhido para contar essa história parece tirado de um espetáculo de teatro - das composições cênicas ao estilo mais caricato das interpretações, obviamente passando pelo cenário, pelo figurino e até pela fotografia do premiado diretor Zac Nicholson. E aqui cabe uma curiosidade: Nicholson foi da equipe de fotografia da adaptação para o cinema de Tom Hooper para "Les Miserables" e é muito fácil encontrar inúmeras referências entre as duas obras em todo conceito estético. Com um elenco carregado de pesos-pesados como Tilda Swinton (a Betsey Trotwood) e Hugh Laurie (o impagável Mr Dick) o roteiro se apropria do talento para impor um tom leve e facilmente cativante para assuntos tão complexos - em muitos momentos temos a nítida impressão que estamos assistindo um espetáculo de commedia dell'arte. Dev Patel como protagonista está perfeito - ao lidar com figuras cada vez mais excêntricas, ele transforma a sua inocência em humanidade de um forma impressionante. Digna de prêmios!

Partindo de uma série de piadas inteligentes, cheias de duplo sentido e trocadilhos divertidos, o filme parece até não engatar - já que o peso dramático praticamente se desfaz com a forma escolhida para contar a história. isso não é necessariamente um problema para quem conhece a literatura de Dickens, mas certamente vai afastar um público preocupado com conflitos menos existenciais. O diretor Armando Iannucci, conhecido por sátiras políticas como "A Morte de Stalin" e a premiada série "Veep", da HBO usa e abusa de transições criativas e de uma montagem bastante dinâmica para minimizar o peso literário da obra - as vezes funciona, outras nem tanto!

O fato é que "A História Pessoal de David Copperfield" não vai agradar a todos, mas para os amantes da literatura clássica e do teatro inglês, o filme entrega uma excelente jornada de superação e otimismo sem ser piegas - existe muita honestidade nos personagens, mesmo que esteriotipados pelo conceito narrativo e visual. Continua sendo um drama, mas fantasiado de comédia e para um público bastante específico.

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso alertar os mais desavisados: "A História Pessoal de David Copperfield" não é sobre o mágico e sim sobre o clássico personagem de Charles Dickens! Pode até parecer engraçado esse aviso, mas é justamente ele que vai alinhar as expectativas para o que veremos adiante em quase duas horas de filme: uma adaptação inteligente na sua escrita e com um conceito visual extremamente lúdico, porém basicamente teatral - muito usado nas adaptações para a tela de musicais da Broadway.

"The Personal History of David Copperfield" segue fielmente a premissa do romance original. Ambientada no século XIX, essa é a história do jovem David Copperfield (Dev Patel), órfão de pai e vivendo na miséria, que tenta superar todos os obstáculos para conseguir a vida que acredita merecer. Confira o trailer (em inglês):

O impacto visual do filme é imediato, porém o tom escolhido para contar essa história parece tirado de um espetáculo de teatro - das composições cênicas ao estilo mais caricato das interpretações, obviamente passando pelo cenário, pelo figurino e até pela fotografia do premiado diretor Zac Nicholson. E aqui cabe uma curiosidade: Nicholson foi da equipe de fotografia da adaptação para o cinema de Tom Hooper para "Les Miserables" e é muito fácil encontrar inúmeras referências entre as duas obras em todo conceito estético. Com um elenco carregado de pesos-pesados como Tilda Swinton (a Betsey Trotwood) e Hugh Laurie (o impagável Mr Dick) o roteiro se apropria do talento para impor um tom leve e facilmente cativante para assuntos tão complexos - em muitos momentos temos a nítida impressão que estamos assistindo um espetáculo de commedia dell'arte. Dev Patel como protagonista está perfeito - ao lidar com figuras cada vez mais excêntricas, ele transforma a sua inocência em humanidade de um forma impressionante. Digna de prêmios!

Partindo de uma série de piadas inteligentes, cheias de duplo sentido e trocadilhos divertidos, o filme parece até não engatar - já que o peso dramático praticamente se desfaz com a forma escolhida para contar a história. isso não é necessariamente um problema para quem conhece a literatura de Dickens, mas certamente vai afastar um público preocupado com conflitos menos existenciais. O diretor Armando Iannucci, conhecido por sátiras políticas como "A Morte de Stalin" e a premiada série "Veep", da HBO usa e abusa de transições criativas e de uma montagem bastante dinâmica para minimizar o peso literário da obra - as vezes funciona, outras nem tanto!

O fato é que "A História Pessoal de David Copperfield" não vai agradar a todos, mas para os amantes da literatura clássica e do teatro inglês, o filme entrega uma excelente jornada de superação e otimismo sem ser piegas - existe muita honestidade nos personagens, mesmo que esteriotipados pelo conceito narrativo e visual. Continua sendo um drama, mas fantasiado de comédia e para um público bastante específico.

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A Menina Silenciosa

"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:

"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do 

dicotomia sem cair no melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - etrilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.

Com atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.

Vale seu play!

Assista Agora

"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:

"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do 

dicotomia sem cair no melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - etrilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.

Com atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.

Vale seu play!

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A Origem

“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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A Qualquer Custo

"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

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"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

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A Sociedade da Neve

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

Assista Agora

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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A Tragédia de Macbeth

"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!

Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.

O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:

Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.

Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!

"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!

Vale muito a pena!

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"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!

Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.

O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:

Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.

Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!

"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!

Vale muito a pena!

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Adoráveis Mulheres

"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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Alabama Monroe

Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

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Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

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Além da Vida

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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Amor, Sublime Amor

"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!

Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:

Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!

Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!

O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!

Vale muito seu play!

Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!

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"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!

Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:

Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!

Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!

O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!

Vale muito seu play!

Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!

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Amores Brutos

Se você é um leitor que nos acompanha há algum tempo, você sabe quanto apreciamos um cinema que valoriza obras que transcendem a tela, que de fato deixam uma marca e que nos permite horas e horas de conversa assim que os créditos sobem. Pensando nisso, é impossível deixar passar o primeiro filme do vencedor de 4 Oscars, Alejandro G. Iñárritu,  "Amores Brutos"! O filme é simplesmente imperdível, daqueles para ver e rever - e que se por acaso você deixou passar, acredite, deve estar no topo da sua lista de prioridades. Um verdadeiro tour de force cinematográfico, repleto de elementos técnicos e artísticos que o colocam como uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo - para você ter uma ideia, mais de vinte anos do seu lançamento, ele ainda é considerado um dos melhores filmes de todos tempos. "Amores Brutos" não apenas recebeu reconhecimento da crítica e do público, mas também abriu caminho para uma nova era do cinema latino-americano, estabelecendo Iñárritu como um diretor visionário capaz de nos oferecer experiências intensas e inesquecíveis - e aqui não é diferente!

Aqui temos uma narrativa poderosa e visceral que entrelaça a vida de três personagens diferentes na Cidade do México. Octavio (Gael García Bernal), é um jovem apaixonado que se envolve em lutas ilegais de cães para ganhar dinheiro e fugir com a mulher que ama, sua cunhada Susana (Vanessa Bauche). Ao mesmo tempo, Daniel, um homem de meia-idade vivido por Álvaro Guerrero, enfrenta uma tragédia familiar que o coloca em rota de colisão com Octavio. Já a terceira história gira em torno de El Chivo, um ex-guerrilheiro interpretado por Emilio Echevarría, que encontra um vínculo inesperado com os outros personagens enquanto tenta voltar para sua família. Confira o trailer (em espanhol):

É inegável a qualidade do roteiro do Guillermo Arriaga (de "Babel") em construir tão bem três histórias entrelaçadas que se desenrolam de forma tão inteligente quanto complexa e emocionante. Ao imprimir um conceito extremamente autoral com aquela atmosfera do cinema independente envolvente que se apoia no talento e na criatividade para criar uma narrativa única, Iñárritu se conecta com Arriaga para nos provocar a todo momento, revelando uma certa beleza crua da vida nas ruas da Cidade do México que se mistura com os dramas mais íntimos de cada um dos personagens - olha, é lindo de ver!

Dito isso, fica fácil afirmar que a fotografia do Rodrigo Prieto (de "O Irlandês") é realmente uma verdadeira poesia visual. A maneira como ele captura a realidade da cidade e a beleza oculta das paisagens urbanas, digamos, mais underground, é impressionante. Esse contexto impacta diretamente na performance do elenco - aliás, é de tirar o fôlego como Gael García Bernal entrega uma atuação carregada de paixão e vulnerabilidade. Emilio Echevarría também brilha - seu personagem é profundamente humano na agonia de sua condição e na "moralidade" de suas decisões. A direção de Iñárritu é virtuosa também nesse sentida, já que ele usa de uma narrativa não linear para costurar as histórias desses personagens de maneira que tudo faça sentido em esferas diferentes, mas complementares.

A trilha sonora é outro elemento essencial na experiência da audiência - as músicas evocam uma sensação de melancolia e esperança que complementa perfeitamente o conceito narrativo que o diretor imprime em todo o filme. A montagem do Luis Carballar com o Fernando Pérez Unda e com o próprio Iñárritu, dá o tom dinâmico para esse quebra-cabeça visual - é ela que mantém o ritmo pulsante da narrativa, nos mantendo imersos nas três  histórias com a mesma competência.

"Amores Perros" (no original) aborda temas profundos, como o destino, a redenção e a violência que permeia a vida urbana no inicio dos anos 2000. A maneira como o filme examina as relações humanas em um ambiente tão brutal e caótico oferece uma perspectiva muito particular sobre a complexidade da vida em diversos níveis sociais. "Amores Brutos" é um filme que transcende as barreiras do tempo e da cultura, mantendo sua relevância e impacto mesmo anos após seu lançamento. É uma obra-prima de verdade - que cativa com sua intensidade emocional. Se você busca um filme que desafia, emociona e deixa uma marca duradoura, não esqueça de dar o play. Eu diria que é uma experiência que vai provocar suas emoções e fazer você refletir sobre a beleza e a brutalidade que pode ser a vida.

PS: Essa versão que está na Netflix foi restaurada a partir das cópias originais em 35 mm e passadas para 4k com ajustes de cor e som - tudo aprovado pelo grande Alejandro G. Iñárritu.

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Se você é um leitor que nos acompanha há algum tempo, você sabe quanto apreciamos um cinema que valoriza obras que transcendem a tela, que de fato deixam uma marca e que nos permite horas e horas de conversa assim que os créditos sobem. Pensando nisso, é impossível deixar passar o primeiro filme do vencedor de 4 Oscars, Alejandro G. Iñárritu,  "Amores Brutos"! O filme é simplesmente imperdível, daqueles para ver e rever - e que se por acaso você deixou passar, acredite, deve estar no topo da sua lista de prioridades. Um verdadeiro tour de force cinematográfico, repleto de elementos técnicos e artísticos que o colocam como uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo - para você ter uma ideia, mais de vinte anos do seu lançamento, ele ainda é considerado um dos melhores filmes de todos tempos. "Amores Brutos" não apenas recebeu reconhecimento da crítica e do público, mas também abriu caminho para uma nova era do cinema latino-americano, estabelecendo Iñárritu como um diretor visionário capaz de nos oferecer experiências intensas e inesquecíveis - e aqui não é diferente!

Aqui temos uma narrativa poderosa e visceral que entrelaça a vida de três personagens diferentes na Cidade do México. Octavio (Gael García Bernal), é um jovem apaixonado que se envolve em lutas ilegais de cães para ganhar dinheiro e fugir com a mulher que ama, sua cunhada Susana (Vanessa Bauche). Ao mesmo tempo, Daniel, um homem de meia-idade vivido por Álvaro Guerrero, enfrenta uma tragédia familiar que o coloca em rota de colisão com Octavio. Já a terceira história gira em torno de El Chivo, um ex-guerrilheiro interpretado por Emilio Echevarría, que encontra um vínculo inesperado com os outros personagens enquanto tenta voltar para sua família. Confira o trailer (em espanhol):

É inegável a qualidade do roteiro do Guillermo Arriaga (de "Babel") em construir tão bem três histórias entrelaçadas que se desenrolam de forma tão inteligente quanto complexa e emocionante. Ao imprimir um conceito extremamente autoral com aquela atmosfera do cinema independente envolvente que se apoia no talento e na criatividade para criar uma narrativa única, Iñárritu se conecta com Arriaga para nos provocar a todo momento, revelando uma certa beleza crua da vida nas ruas da Cidade do México que se mistura com os dramas mais íntimos de cada um dos personagens - olha, é lindo de ver!

Dito isso, fica fácil afirmar que a fotografia do Rodrigo Prieto (de "O Irlandês") é realmente uma verdadeira poesia visual. A maneira como ele captura a realidade da cidade e a beleza oculta das paisagens urbanas, digamos, mais underground, é impressionante. Esse contexto impacta diretamente na performance do elenco - aliás, é de tirar o fôlego como Gael García Bernal entrega uma atuação carregada de paixão e vulnerabilidade. Emilio Echevarría também brilha - seu personagem é profundamente humano na agonia de sua condição e na "moralidade" de suas decisões. A direção de Iñárritu é virtuosa também nesse sentida, já que ele usa de uma narrativa não linear para costurar as histórias desses personagens de maneira que tudo faça sentido em esferas diferentes, mas complementares.

A trilha sonora é outro elemento essencial na experiência da audiência - as músicas evocam uma sensação de melancolia e esperança que complementa perfeitamente o conceito narrativo que o diretor imprime em todo o filme. A montagem do Luis Carballar com o Fernando Pérez Unda e com o próprio Iñárritu, dá o tom dinâmico para esse quebra-cabeça visual - é ela que mantém o ritmo pulsante da narrativa, nos mantendo imersos nas três  histórias com a mesma competência.

"Amores Perros" (no original) aborda temas profundos, como o destino, a redenção e a violência que permeia a vida urbana no inicio dos anos 2000. A maneira como o filme examina as relações humanas em um ambiente tão brutal e caótico oferece uma perspectiva muito particular sobre a complexidade da vida em diversos níveis sociais. "Amores Brutos" é um filme que transcende as barreiras do tempo e da cultura, mantendo sua relevância e impacto mesmo anos após seu lançamento. É uma obra-prima de verdade - que cativa com sua intensidade emocional. Se você busca um filme que desafia, emociona e deixa uma marca duradoura, não esqueça de dar o play. Eu diria que é uma experiência que vai provocar suas emoções e fazer você refletir sobre a beleza e a brutalidade que pode ser a vida.

PS: Essa versão que está na Netflix foi restaurada a partir das cópias originais em 35 mm e passadas para 4k com ajustes de cor e som - tudo aprovado pelo grande Alejandro G. Iñárritu.

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Anatomia de uma Queda

Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Aniquilação

É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.

Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:

Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência  que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.

Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica -  com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).

Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.

Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada".  E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!

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É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.

Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:

Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência  que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.

Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica -  com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).

Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.

Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada".  E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!

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Apenas uma Vez

Já vamos partir de um principio básico: "Apenas uma Vez" é imperdível - daqueles filmes gostosos de assistir e que mesmo soando "meio água com açúcar", nos conquista pela sua capacidade de nos emocionar com uma premissa simples, mas muito eficaz: a de que mesmo nas dificuldades, a vida está sempre pronta para nos mostrar que podemos ser felizes! Sim, se você está em busca de um filme descomplicado e ao mesmo tempo muito surpreendente, "Once" (no original) é perfeito - para assistir várias vezes! O filme dirigidopelo John Carney, de fato, oferece uma experiência profundamente cativante e envolvente que combina uma narrativa simples e bem desenvolvida, performances excepcionais de um elenco muito bem escalado (com alma) e uma trilha sonora que olha, é de tirar o fôlego. Não é de surpreender que "Apenas uma Vez" tenha conquistado tantos elogios e prêmios no cenário independente até chegar no Oscar de 2008, para faturar a estatueta de "Melhor Canção Original" - e na minha opinião, foi pouco!

Na trama, somos jogados em meio às ruas movimentadas de Dublin, na Irlanda, onde um músico talentoso de rua e sem nome (Glen Hansard) encontra uma imigrante tcheca (Markéta Irglová) que toca piano. O destino que os uniu através da música faz com que eles compartilhem histórias pessoais, esperanças e sonhos, construindo uma conexão profunda, única e apaixonante. Confira o trailer (em inglês):

"Apenas uma Vez" é uma verdadeira joia do cinema indie que explora a alma humana através de sua sensibilidade e delicadeza. A beleza do filme reside muito na sua autenticidade e na forma como os personagens, interpretados de maneira magnífica por Glen Hansard e Markéta Irglová, transmitem emoções cruas e genuínas - eles são tão reais que parecem ter saído de um documentário. Hansard e Irglová não são apenas atores talentosos, mas também músicos excepcionais que oferecem performances deslumbrantes que evocam sensações que transitam entre a melancolia e a esperança. Hansard é vocalista da banda dublinense The Frames, onde, não por acaso, Carney participou como contrabaixista até 1993. Já  Irglova trabalhou com Hansard no álbum folk, The Swell Season.

A direção talentosa de Carney é evidente na escolha do elenco, mas também na construção do tom da narrativa - reparem nas pausas dramáticas que ele estimula entre um diálogo e outro. As belíssimas locações de Dublin se conectam perfeitamente com a fotografia do grande Tim Fleming (de "Citadel") - a maneira como ele captura a atmosfera da cidade, tornando-a quase um personagem em si mesma, lembra muito o trabalho de Sean Price Williams em "Amor, Drogas e Nova York".A fotografia contrastada e uma montagem extremamente cuidadosa do Paul Mullen aprofundam a imersão na história de um maneira arrebatadora - e é aí que entra a estrela do filme: a trilha sonora! Composta principalmente por canções originais escritas pelos próprios protagonistas, posso te garantir que é uma das mais marcantes da história do cinema independente - daquelas onde as músicas continuam ecoando na sua mente muito tempo após o término do filme e que passam a fazer parte da nossa playlist com muita naturalidade.

"Apenas uma Vez" é uma homenagem à beleza da música como uma forma de comunicação universal que transcende as barreiras linguísticas e culturais. O filme é uma jornada emocional que vai tocar seu coração e que alimentará sua alma pelo que ele é na sua essência - e isso é tão raro. Não hesite em dar o play para um filme que se destacou nos festivais independentes do mundo inteiro e se consolidou como um dos melhores exemplos do poder transformador que cinema pode proporcionar. Seja você um amante da boa música ou simplesmente alguém que busca uma história emocionalmente rica e muito sensível, "Once" é uma escolha inigualável que você não pode perder. É sério!

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Já vamos partir de um principio básico: "Apenas uma Vez" é imperdível - daqueles filmes gostosos de assistir e que mesmo soando "meio água com açúcar", nos conquista pela sua capacidade de nos emocionar com uma premissa simples, mas muito eficaz: a de que mesmo nas dificuldades, a vida está sempre pronta para nos mostrar que podemos ser felizes! Sim, se você está em busca de um filme descomplicado e ao mesmo tempo muito surpreendente, "Once" (no original) é perfeito - para assistir várias vezes! O filme dirigidopelo John Carney, de fato, oferece uma experiência profundamente cativante e envolvente que combina uma narrativa simples e bem desenvolvida, performances excepcionais de um elenco muito bem escalado (com alma) e uma trilha sonora que olha, é de tirar o fôlego. Não é de surpreender que "Apenas uma Vez" tenha conquistado tantos elogios e prêmios no cenário independente até chegar no Oscar de 2008, para faturar a estatueta de "Melhor Canção Original" - e na minha opinião, foi pouco!

Na trama, somos jogados em meio às ruas movimentadas de Dublin, na Irlanda, onde um músico talentoso de rua e sem nome (Glen Hansard) encontra uma imigrante tcheca (Markéta Irglová) que toca piano. O destino que os uniu através da música faz com que eles compartilhem histórias pessoais, esperanças e sonhos, construindo uma conexão profunda, única e apaixonante. Confira o trailer (em inglês):

"Apenas uma Vez" é uma verdadeira joia do cinema indie que explora a alma humana através de sua sensibilidade e delicadeza. A beleza do filme reside muito na sua autenticidade e na forma como os personagens, interpretados de maneira magnífica por Glen Hansard e Markéta Irglová, transmitem emoções cruas e genuínas - eles são tão reais que parecem ter saído de um documentário. Hansard e Irglová não são apenas atores talentosos, mas também músicos excepcionais que oferecem performances deslumbrantes que evocam sensações que transitam entre a melancolia e a esperança. Hansard é vocalista da banda dublinense The Frames, onde, não por acaso, Carney participou como contrabaixista até 1993. Já  Irglova trabalhou com Hansard no álbum folk, The Swell Season.

A direção talentosa de Carney é evidente na escolha do elenco, mas também na construção do tom da narrativa - reparem nas pausas dramáticas que ele estimula entre um diálogo e outro. As belíssimas locações de Dublin se conectam perfeitamente com a fotografia do grande Tim Fleming (de "Citadel") - a maneira como ele captura a atmosfera da cidade, tornando-a quase um personagem em si mesma, lembra muito o trabalho de Sean Price Williams em "Amor, Drogas e Nova York".A fotografia contrastada e uma montagem extremamente cuidadosa do Paul Mullen aprofundam a imersão na história de um maneira arrebatadora - e é aí que entra a estrela do filme: a trilha sonora! Composta principalmente por canções originais escritas pelos próprios protagonistas, posso te garantir que é uma das mais marcantes da história do cinema independente - daquelas onde as músicas continuam ecoando na sua mente muito tempo após o término do filme e que passam a fazer parte da nossa playlist com muita naturalidade.

"Apenas uma Vez" é uma homenagem à beleza da música como uma forma de comunicação universal que transcende as barreiras linguísticas e culturais. O filme é uma jornada emocional que vai tocar seu coração e que alimentará sua alma pelo que ele é na sua essência - e isso é tão raro. Não hesite em dar o play para um filme que se destacou nos festivais independentes do mundo inteiro e se consolidou como um dos melhores exemplos do poder transformador que cinema pode proporcionar. Seja você um amante da boa música ou simplesmente alguém que busca uma história emocionalmente rica e muito sensível, "Once" é uma escolha inigualável que você não pode perder. É sério!

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