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Treta

Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

Assista Agora

Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

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Um Homem por Inteiro

O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade. 

Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:

Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.

De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.

"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.

Vale su play!

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O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade. 

Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:

Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.

De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.

"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.

Vale su play!

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Um lindo dia na vizinhança

Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.

Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:

Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?

“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.

Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.

"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!

Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!

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Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.

Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:

Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?

“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.

Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.

"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!

Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!

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Um Lugar Qualquer

"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

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"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

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Um Pesadelo Americano

Um Pesadelo Americano

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

Assista Agora

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

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Uma Mulher Fantástica

"A Fantastic Woman" (título original) foi o último filme que esteve na disputa do Oscar de Filme Estrangeiro 2018 que assisti na época. Baseado nisso, foi tranquilo afirmar que nem de longe era o melhor filme da disputa, mas que, por outro lado, era impossível negar sua relevância como tema, bem como a qualidade da sua realização, tanto técnica, quanto artística!

"Uma Mulher Fantástica", escrito e dirigido pelo Sebastián Lelio, conta a história de Marina Vidal (Daniela Vega), uma mulher trans, que se vê diante da raiva e do preconceito da família do seu parceiro quando ele morre. O filme mostra sua luta pelo direito de sofrer, com a mesma energia que ela lutou para viver como uma mulher em um sociedade extremamente machista e preconceituosa! 

Daniela Vega está realmente incrível no papel - dá para sentir suas dores e angústias, e esse é o maior mérito do filme, pela força do texto, ao mesmo tempo pela delicadeza da direção. "Loveless"do Andrey Zvyagintsev (de "Leviatã"), também tinha isso, mas com um roteiro, na minha opinião, ainda mais consistente.

Vale play, claro, mas não espere assistir o filme da sua vida como muita gente falou, embora, para muitos tocará na alma!

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"A Fantastic Woman" (título original) foi o último filme que esteve na disputa do Oscar de Filme Estrangeiro 2018 que assisti na época. Baseado nisso, foi tranquilo afirmar que nem de longe era o melhor filme da disputa, mas que, por outro lado, era impossível negar sua relevância como tema, bem como a qualidade da sua realização, tanto técnica, quanto artística!

"Uma Mulher Fantástica", escrito e dirigido pelo Sebastián Lelio, conta a história de Marina Vidal (Daniela Vega), uma mulher trans, que se vê diante da raiva e do preconceito da família do seu parceiro quando ele morre. O filme mostra sua luta pelo direito de sofrer, com a mesma energia que ela lutou para viver como uma mulher em um sociedade extremamente machista e preconceituosa! 

Daniela Vega está realmente incrível no papel - dá para sentir suas dores e angústias, e esse é o maior mérito do filme, pela força do texto, ao mesmo tempo pela delicadeza da direção. "Loveless"do Andrey Zvyagintsev (de "Leviatã"), também tinha isso, mas com um roteiro, na minha opinião, ainda mais consistente.

Vale play, claro, mas não espere assistir o filme da sua vida como muita gente falou, embora, para muitos tocará na alma!

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Untold: Ascensão e Queda da And1

A nova leva de episódios do selo "Untold" da Netflix chegou ampliando seu universo de temas sempre relacionados ao esporte. Em "Ascensão e Queda da And1" o que vemos é uma estrutura narrativa que sabe equilibrar perfeitamente seu conceito de "histórias de bastidores" (ou "não contadas" como o próprio título sugere) com um viés de empreendedorismo que se apoia na importância (tão valorizada hoje) da construção de comunidades e de uma comunicação assertiva 100% alinhada com seu nicho de mercado.

Para quem não sabe, a AND1 era uma marca de roupas e calçados esportivos que popularizou o Streetball (aquele jogo de basquete que mistura esporte, entretenimento performático e hiphop ao melhor estilo Harlem Globetrotters) mundo afora, inovando na forma como se comunicava com seu publico-alvo - foram eles os precursores de uma estratégia viral de vídeos "insanos" em uma época pré-internet. Confira o trailer (em inglês):

Em mais um estudo de caso digno de um MBA de Gestão e Marketing, “Untold: Ascensão e Queda da AND1” retrata a jornada de três amigos da faculdade Wharton School que sonhavam em ser astros da NBA, mas que resolveram empreender de uma forma onde fosse possível unir um negócio com a arte do streetball. Em uma época onde a NIKE era sinônimo de basquete graças ao seu maior trunfo midiático (e esportivo), Michael Jordan, a AND1 acabou encontrando um nicho específico (e muito rentável) que, de fato, abalou a indústria bilionária de produtos esportivos a partir do inicio dos anos 90.

Dirigido pelo talentoso Kevin Wilson Jr. (indicado ao Oscar pelo seu curta-metragem "My Nephew Emmett", em 2017), esse episódio de "Untold" chama atenção ao desenvolver uma linha do tempo que deixa muito claro a importância de se comunicar com o público especifico dentro de um contexto que faz todo sentido para ambos. Se a NIKE tinha Jordan e seus produtos na NBA, faria sentido entrar nesse embate com ínfimos recursos em relação ao seu competidor? Para Jay Coen Gilbert, Seth Berger e Tom Austin, sim, mas o destino resolveu ajustar a rota dessa aposta e foi aí que entraram em cena nomes como "The Professor", "Hot Sauce", "Skip 2 My Lou", "The Main Event", Shane "the Dribble Machine", entre outros - todos astros do basquete de rua.

"Ascensão e Queda da And1" foi muito feliz em mostrar o outro lado do esporte, sem perder sua essência de se aprofundar no fator humano - nesse caso, elemento primordial e decisivo para o sucesso da marca como negócio e no "fracasso" dos esportistas que, de uma forma muito importante, fizeram parte dessa disrupção. Partindo do principio de mostrar sempre um lado da história menos, digamos, glamoroso, a série eleva ainda mais o sucesso de critica e público que foi seu volume 1. Então se você já assistiu algum episódio de "Untold" e gostou, pode se preparar porque a Netflix quer elevar sua experiência e pelo que vi até aqui, vai conseguir!

Vale muito seu play!

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A nova leva de episódios do selo "Untold" da Netflix chegou ampliando seu universo de temas sempre relacionados ao esporte. Em "Ascensão e Queda da And1" o que vemos é uma estrutura narrativa que sabe equilibrar perfeitamente seu conceito de "histórias de bastidores" (ou "não contadas" como o próprio título sugere) com um viés de empreendedorismo que se apoia na importância (tão valorizada hoje) da construção de comunidades e de uma comunicação assertiva 100% alinhada com seu nicho de mercado.

Para quem não sabe, a AND1 era uma marca de roupas e calçados esportivos que popularizou o Streetball (aquele jogo de basquete que mistura esporte, entretenimento performático e hiphop ao melhor estilo Harlem Globetrotters) mundo afora, inovando na forma como se comunicava com seu publico-alvo - foram eles os precursores de uma estratégia viral de vídeos "insanos" em uma época pré-internet. Confira o trailer (em inglês):

Em mais um estudo de caso digno de um MBA de Gestão e Marketing, “Untold: Ascensão e Queda da AND1” retrata a jornada de três amigos da faculdade Wharton School que sonhavam em ser astros da NBA, mas que resolveram empreender de uma forma onde fosse possível unir um negócio com a arte do streetball. Em uma época onde a NIKE era sinônimo de basquete graças ao seu maior trunfo midiático (e esportivo), Michael Jordan, a AND1 acabou encontrando um nicho específico (e muito rentável) que, de fato, abalou a indústria bilionária de produtos esportivos a partir do inicio dos anos 90.

Dirigido pelo talentoso Kevin Wilson Jr. (indicado ao Oscar pelo seu curta-metragem "My Nephew Emmett", em 2017), esse episódio de "Untold" chama atenção ao desenvolver uma linha do tempo que deixa muito claro a importância de se comunicar com o público especifico dentro de um contexto que faz todo sentido para ambos. Se a NIKE tinha Jordan e seus produtos na NBA, faria sentido entrar nesse embate com ínfimos recursos em relação ao seu competidor? Para Jay Coen Gilbert, Seth Berger e Tom Austin, sim, mas o destino resolveu ajustar a rota dessa aposta e foi aí que entraram em cena nomes como "The Professor", "Hot Sauce", "Skip 2 My Lou", "The Main Event", Shane "the Dribble Machine", entre outros - todos astros do basquete de rua.

"Ascensão e Queda da And1" foi muito feliz em mostrar o outro lado do esporte, sem perder sua essência de se aprofundar no fator humano - nesse caso, elemento primordial e decisivo para o sucesso da marca como negócio e no "fracasso" dos esportistas que, de uma forma muito importante, fizeram parte dessa disrupção. Partindo do principio de mostrar sempre um lado da história menos, digamos, glamoroso, a série eleva ainda mais o sucesso de critica e público que foi seu volume 1. Então se você já assistiu algum episódio de "Untold" e gostou, pode se preparar porque a Netflix quer elevar sua experiência e pelo que vi até aqui, vai conseguir!

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Untold: Briga na NBA

"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).

Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):

Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte. 

O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência. 

Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!

Vale seu play!

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"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).

Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):

Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte. 

O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência. 

Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!

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Untold: Crime e Infrações

Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

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Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

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Untold: Federer x Fish

Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

Vale seu play!

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Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

Vale seu play!

Assista Agora

Untold: Pacto com o Diabo

Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.  

A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):

O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!

Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.

Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.

Vale seu play! 

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Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.  

A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):

O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!

Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.

Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.

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Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio

Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.

O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:

A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.

Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.

Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!

"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!

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Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.

O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:

A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.

Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.

Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!

"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!

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Viver duas vezes

"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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Você

"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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Voo 370

"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.

Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:

Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.

Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.

Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!

Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!

Assista Agora

"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.

Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:

Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.

Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.

Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!

Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!

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Voo Noturno

Existem três tipos de filmes que me cativam, as obras-primas, os ótimos e os despretensiosos - que garantem um bom entretenimento para desligar o cérebro.“Voo Noturno” se enquadra nesse terceiro tipo de filme, que me pega pela mão e me convence aceitar uma jornada cheia de absurdos e clichês. Para que isso aconteça não só comigo, um roteiro precisa estar nas mãos de um diretor competente, que faz um trabalho com tanto entusiasmo que você acaba relevando alguns exageros - ou rindo deles -, sem comprometer a sua experiência.

Na trama, Lisa Reisert (Rachel McAdams) é uma gerente de hotel que detesta voar, mas precisa realizar uma viagem quando sua avó morre. No retorno para casa, ela conhece o charmoso Jackson Rippner (Cillian Murphy) no embarque, e fica feliz quando descobre que ele vai sentar ao seu lado no avião. Tudo se transforma em um pesadelo quando, após a decolagem, Jackson diz a Lisa que precisa de sua ajuda para matar um político que se hospedará no hotel em que ela trabalha, ou então ele manda assassinarem o pai dela com uma simples ligação. Confira o trailer (em inglês):

A direção de Wes Craven é frenética e faz com que uma hora e meia de filme termine num piscar de olhos. Você fica tão conectado nesse suspense que reserva diversos desdobramentos, que você mal tem tempo para se incomodar com as situações inverossímeis. O elenco também é um prato cheio, Rachel McAdams (a eterna Regina George de "Meninas Malvads") convence como a mocinha durona. Assim como o ator Cillian Murphy (o gângster de “Peaky Blinders”). Observem a sequência final, esse teria sido um ator perfeito como o Ghostface em um dos filmes da franquia “Pânico” - as semelhanças com “Scream” (título original) também está presente na trilha sonora que foi composta por Marco Beltrami (de "Loga" e "Amor e Monstros").

O fato é que “Voo Noturno” (ou "Red Eye" no original) é um thriller semelhante ao filme “Por Um Fio” (aquele onde Colin Farrell não pode desligar a ligação ou deixar a cabine telefônica, senão um homem será morto) e te prende da mesma forma numa trama envolvente do inicio ao fim.

Se você gosta de um pouco de tensão e está disposto a encarar alguma suspensão da realidade, vale muito o seu play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Existem três tipos de filmes que me cativam, as obras-primas, os ótimos e os despretensiosos - que garantem um bom entretenimento para desligar o cérebro.“Voo Noturno” se enquadra nesse terceiro tipo de filme, que me pega pela mão e me convence aceitar uma jornada cheia de absurdos e clichês. Para que isso aconteça não só comigo, um roteiro precisa estar nas mãos de um diretor competente, que faz um trabalho com tanto entusiasmo que você acaba relevando alguns exageros - ou rindo deles -, sem comprometer a sua experiência.

Na trama, Lisa Reisert (Rachel McAdams) é uma gerente de hotel que detesta voar, mas precisa realizar uma viagem quando sua avó morre. No retorno para casa, ela conhece o charmoso Jackson Rippner (Cillian Murphy) no embarque, e fica feliz quando descobre que ele vai sentar ao seu lado no avião. Tudo se transforma em um pesadelo quando, após a decolagem, Jackson diz a Lisa que precisa de sua ajuda para matar um político que se hospedará no hotel em que ela trabalha, ou então ele manda assassinarem o pai dela com uma simples ligação. Confira o trailer (em inglês):

A direção de Wes Craven é frenética e faz com que uma hora e meia de filme termine num piscar de olhos. Você fica tão conectado nesse suspense que reserva diversos desdobramentos, que você mal tem tempo para se incomodar com as situações inverossímeis. O elenco também é um prato cheio, Rachel McAdams (a eterna Regina George de "Meninas Malvads") convence como a mocinha durona. Assim como o ator Cillian Murphy (o gângster de “Peaky Blinders”). Observem a sequência final, esse teria sido um ator perfeito como o Ghostface em um dos filmes da franquia “Pânico” - as semelhanças com “Scream” (título original) também está presente na trilha sonora que foi composta por Marco Beltrami (de "Loga" e "Amor e Monstros").

O fato é que “Voo Noturno” (ou "Red Eye" no original) é um thriller semelhante ao filme “Por Um Fio” (aquele onde Colin Farrell não pode desligar a ligação ou deixar a cabine telefônica, senão um homem será morto) e te prende da mesma forma numa trama envolvente do inicio ao fim.

Se você gosta de um pouco de tensão e está disposto a encarar alguma suspensão da realidade, vale muito o seu play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Vórtex

"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.  

Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):

Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas  - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência  se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada. 

Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.

Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.

Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!

PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs

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"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.  

Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):

Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas  - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência  se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada. 

Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.

Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.

Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!

PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs

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Vulcão Whakaari

Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!

Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):

Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.

A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.

O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!

Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena! 

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Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!

Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):

Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.

A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.

O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!

Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena! 

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Wasp Network

A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!

Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:

Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!

Assista Agora ou

A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!

Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:

Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!

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White Lines

"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

Assista Agora

"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

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