"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.
O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:
Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!
A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".
Para quem gosta da receita, só dar o play!
"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.
O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:
Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!
A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".
Para quem gosta da receita, só dar o play!
"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!
Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.
"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).
"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!
Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!
"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!
Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!
"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!
Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.
"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).
"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!
Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!
"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!
Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!
Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!
"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!
Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!
A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!!
Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!
Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!
"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!
Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!
A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!!
Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!
Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo.
O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:
Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!
Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!
Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo.
O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:
Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!
Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!
Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"! Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe.
"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.
O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:
Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.
Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.
É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.
"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!
Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"! Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe.
"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.
O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:
Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.
Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.
É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.
"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!
"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!
Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:
Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.
A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.
Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!
"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!
Vale muito o seu play!
"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!
Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:
Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.
A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.
Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!
"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!
Vale muito o seu play!
É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:
A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.
A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!
Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.
Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.
Imperdível!
É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:
A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.
A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!
Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.
Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.
Imperdível!
Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.
Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:
A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.
Em segundo lugar, as performances dos premiados Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.
A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição!
Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!
Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.
Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:
A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.
Em segundo lugar, as performances dos premiados Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.
A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição!
Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!
O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade.
Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:
Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.
De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.
"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.
Vale su play!
O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade.
Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:
Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.
De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.
"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.
Vale su play!
Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.
Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:
Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?
“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.
Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.
"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!
Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!
Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.
Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:
Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?
“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.
Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.
"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!
Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!
"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.
Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:
Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.
Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".
"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!
"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.
Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:
Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.
Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".
"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!
Esse é um filme que divide opiniões, especialmente se as expectativas não estiverem muito bem alinhadas. Veja, é preciso olhar para "Um Lugar Silencioso: Dia Um" como uma peça de um jogo mais elaborado - com uma estrutura conceitual muito parecida com "Cloverfield", por exemplo, ou seja, você não vai encontrar todas as respostas aqui, mas vai se divertir com um ótimo entretenimento que mistura ficção científica com algum drama. "A Quiet Place: Day One", no original, dirigido por Michael Sarnoski (de "Pig: A Vingança"), expande o universo tenso e aterrorizante criado por John Krasinski, porém com um olhar para os eventos que precederam o filme original. Este prelúdio aprofunda o impacto inicial da invasão das criaturas sensíveis ao som, proporcionando um mergulho visceral e emocional em um dos dias mais caóticos e desesperadores da humanidade. Assim como em "Bird Box" e até como em "Last of Us", o filme explora a fragilidade humana diante de uma invasão repentina e incompreensível, equilibrando momentos de angustia com uma incansável luta pela sobrevivência.
A história acompanha Samira (Lupita Nyong'o), uma mulher doente e solitária, que precisa lidar com o caos de Nova York enquanto o pânico inicial pela chegada das criaturas alienígenas se desenrola, capturando a devastação do primeiro dia da invasão. Embora se conecte tematicamente aos dois primeiros filmes da franquia, "Dia Um" funciona como uma narrativa independente, explorando o impacto local ao horror avassalador de um mundo subitamente silencioso. O foco está na luta para compreender o novo e assim sobreviver em um ambiente onde o menor ruído pode significar morte certa. Confira o trailer:
Michael Sarnoski traz uma abordagem intimista e emocional para o gênero de ficção científica, enquanto respeita os elementos de suspense que definiram a franquia. Sua direção se concentra em momentos de certa vulnerabilidade e coragem de Samira, utilizando o caos para explorar as escolhas morais e emocionais feitas sob extrema pressão. O resultado é um filme que é ao mesmo tempo um espetáculo visual aterrorizante e uma meditação "silenciosa" sobre a resiliência humana. A estética de "Dia Um" reflete o estilo de seus predecessores, mas com uma escala ampliada para capturar a devastação de Nova York. As cenas de destruição e de ação são realizadas com precisão técnica e visual, equilibrando a gramática do suspense com as explosões de terror e adrenalina. A direção de fotografia de Pat Scola (companheiro de Sarnoski em "Pig" ) transita entre a câmera fixa e uma mais nervosa, para criar uma atmosfera claustrofóbica, muitas vezes próxima aos personagens, amplificando a sensação de perigo iminente.
O som, como esperado, desempenha um papel crucial na narrativa. A trilha sonora é utilizada com parcimônia, deixando que o silêncio e o som ambiente dominem o espaço. O design de som é meticuloso nesse sentido, já que é ele que pontua e destaca o impacto aterrador de cada ruído - sério, é angustiante, uma tensão constante. Esse domínio técnico permite que "Um Lugar Silencioso: Dia Um"mantenha a audiência à beira da cadeira, transformando a falta de som em uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto as próprias criaturas. Lupita Nyong'o entrega uma interpretação convincente que ancora esse tipo de terror com emoções reais. Nyong'o e Joseph Quinn, como Erick, são humanos, com medos, dúvidas e até momentos de heroísmo, o que permite uma certa conecção com suas lutas e triunfos. Embora menos focado em um núcleo familiar, como os dois primeiros filmes, "Dia Um" expande o universo explorando outras perspectivas e histórias de sobrevivência - se não com tanto brilho, pelo menos como um ótimo entretenimento.
"Um Lugar Silencioso" é uma franquia de regras muito bem estabelecidas, onde, desde a primeira cena do filme original, já sabemos que o menor barulho pode ser fatal para qualquer personagem. Dito isso, a repetição da experiência sensorial proposta por Krasinski em 2018 é mais que suficiente para fazer com que esse prelúdio funcione bem, mesmo que alguns ainda busquem maiores explicações canônicas para a invasão alienígena - o que não é o melhor caminho, já que o que vale aqui é a luta pela sobrevivência e só!
Esse é um filme que divide opiniões, especialmente se as expectativas não estiverem muito bem alinhadas. Veja, é preciso olhar para "Um Lugar Silencioso: Dia Um" como uma peça de um jogo mais elaborado - com uma estrutura conceitual muito parecida com "Cloverfield", por exemplo, ou seja, você não vai encontrar todas as respostas aqui, mas vai se divertir com um ótimo entretenimento que mistura ficção científica com algum drama. "A Quiet Place: Day One", no original, dirigido por Michael Sarnoski (de "Pig: A Vingança"), expande o universo tenso e aterrorizante criado por John Krasinski, porém com um olhar para os eventos que precederam o filme original. Este prelúdio aprofunda o impacto inicial da invasão das criaturas sensíveis ao som, proporcionando um mergulho visceral e emocional em um dos dias mais caóticos e desesperadores da humanidade. Assim como em "Bird Box" e até como em "Last of Us", o filme explora a fragilidade humana diante de uma invasão repentina e incompreensível, equilibrando momentos de angustia com uma incansável luta pela sobrevivência.
A história acompanha Samira (Lupita Nyong'o), uma mulher doente e solitária, que precisa lidar com o caos de Nova York enquanto o pânico inicial pela chegada das criaturas alienígenas se desenrola, capturando a devastação do primeiro dia da invasão. Embora se conecte tematicamente aos dois primeiros filmes da franquia, "Dia Um" funciona como uma narrativa independente, explorando o impacto local ao horror avassalador de um mundo subitamente silencioso. O foco está na luta para compreender o novo e assim sobreviver em um ambiente onde o menor ruído pode significar morte certa. Confira o trailer:
Michael Sarnoski traz uma abordagem intimista e emocional para o gênero de ficção científica, enquanto respeita os elementos de suspense que definiram a franquia. Sua direção se concentra em momentos de certa vulnerabilidade e coragem de Samira, utilizando o caos para explorar as escolhas morais e emocionais feitas sob extrema pressão. O resultado é um filme que é ao mesmo tempo um espetáculo visual aterrorizante e uma meditação "silenciosa" sobre a resiliência humana. A estética de "Dia Um" reflete o estilo de seus predecessores, mas com uma escala ampliada para capturar a devastação de Nova York. As cenas de destruição e de ação são realizadas com precisão técnica e visual, equilibrando a gramática do suspense com as explosões de terror e adrenalina. A direção de fotografia de Pat Scola (companheiro de Sarnoski em "Pig" ) transita entre a câmera fixa e uma mais nervosa, para criar uma atmosfera claustrofóbica, muitas vezes próxima aos personagens, amplificando a sensação de perigo iminente.
O som, como esperado, desempenha um papel crucial na narrativa. A trilha sonora é utilizada com parcimônia, deixando que o silêncio e o som ambiente dominem o espaço. O design de som é meticuloso nesse sentido, já que é ele que pontua e destaca o impacto aterrador de cada ruído - sério, é angustiante, uma tensão constante. Esse domínio técnico permite que "Um Lugar Silencioso: Dia Um"mantenha a audiência à beira da cadeira, transformando a falta de som em uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto as próprias criaturas. Lupita Nyong'o entrega uma interpretação convincente que ancora esse tipo de terror com emoções reais. Nyong'o e Joseph Quinn, como Erick, são humanos, com medos, dúvidas e até momentos de heroísmo, o que permite uma certa conecção com suas lutas e triunfos. Embora menos focado em um núcleo familiar, como os dois primeiros filmes, "Dia Um" expande o universo explorando outras perspectivas e histórias de sobrevivência - se não com tanto brilho, pelo menos como um ótimo entretenimento.
"Um Lugar Silencioso" é uma franquia de regras muito bem estabelecidas, onde, desde a primeira cena do filme original, já sabemos que o menor barulho pode ser fatal para qualquer personagem. Dito isso, a repetição da experiência sensorial proposta por Krasinski em 2018 é mais que suficiente para fazer com que esse prelúdio funcione bem, mesmo que alguns ainda busquem maiores explicações canônicas para a invasão alienígena - o que não é o melhor caminho, já que o que vale aqui é a luta pela sobrevivência e só!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.
Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:
“Uma Família Quase Perfeita” tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.
Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.
Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar. Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".
“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!
Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.
Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:
“Uma Família Quase Perfeita” tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.
Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.
Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar. Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".
“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!
A nova leva de episódios do selo "Untold" da Netflix chegou ampliando seu universo de temas sempre relacionados ao esporte. Em "Ascensão e Queda da And1" o que vemos é uma estrutura narrativa que sabe equilibrar perfeitamente seu conceito de "histórias de bastidores" (ou "não contadas" como o próprio título sugere) com um viés de empreendedorismo que se apoia na importância (tão valorizada hoje) da construção de comunidades e de uma comunicação assertiva 100% alinhada com seu nicho de mercado.
Para quem não sabe, a AND1 era uma marca de roupas e calçados esportivos que popularizou o Streetball (aquele jogo de basquete que mistura esporte, entretenimento performático e hiphop ao melhor estilo Harlem Globetrotters) mundo afora, inovando na forma como se comunicava com seu publico-alvo - foram eles os precursores de uma estratégia viral de vídeos "insanos" em uma época pré-internet. Confira o trailer (em inglês):
Em mais um estudo de caso digno de um MBA de Gestão e Marketing, “Untold: Ascensão e Queda da AND1” retrata a jornada de três amigos da faculdade Wharton School que sonhavam em ser astros da NBA, mas que resolveram empreender de uma forma onde fosse possível unir um negócio com a arte do streetball. Em uma época onde a NIKE era sinônimo de basquete graças ao seu maior trunfo midiático (e esportivo), Michael Jordan, a AND1 acabou encontrando um nicho específico (e muito rentável) que, de fato, abalou a indústria bilionária de produtos esportivos a partir do inicio dos anos 90.
Dirigido pelo talentoso Kevin Wilson Jr. (indicado ao Oscar pelo seu curta-metragem "My Nephew Emmett", em 2017), esse episódio de "Untold" chama atenção ao desenvolver uma linha do tempo que deixa muito claro a importância de se comunicar com o público especifico dentro de um contexto que faz todo sentido para ambos. Se a NIKE tinha Jordan e seus produtos na NBA, faria sentido entrar nesse embate com ínfimos recursos em relação ao seu competidor? Para Jay Coen Gilbert, Seth Berger e Tom Austin, sim, mas o destino resolveu ajustar a rota dessa aposta e foi aí que entraram em cena nomes como "The Professor", "Hot Sauce", "Skip 2 My Lou", "The Main Event", Shane "the Dribble Machine", entre outros - todos astros do basquete de rua.
"Ascensão e Queda da And1" foi muito feliz em mostrar o outro lado do esporte, sem perder sua essência de se aprofundar no fator humano - nesse caso, elemento primordial e decisivo para o sucesso da marca como negócio e no "fracasso" dos esportistas que, de uma forma muito importante, fizeram parte dessa disrupção. Partindo do principio de mostrar sempre um lado da história menos, digamos, glamoroso, a série eleva ainda mais o sucesso de critica e público que foi seu volume 1. Então se você já assistiu algum episódio de "Untold" e gostou, pode se preparar porque a Netflix quer elevar sua experiência e pelo que vi até aqui, vai conseguir!
Vale muito seu play!
A nova leva de episódios do selo "Untold" da Netflix chegou ampliando seu universo de temas sempre relacionados ao esporte. Em "Ascensão e Queda da And1" o que vemos é uma estrutura narrativa que sabe equilibrar perfeitamente seu conceito de "histórias de bastidores" (ou "não contadas" como o próprio título sugere) com um viés de empreendedorismo que se apoia na importância (tão valorizada hoje) da construção de comunidades e de uma comunicação assertiva 100% alinhada com seu nicho de mercado.
Para quem não sabe, a AND1 era uma marca de roupas e calçados esportivos que popularizou o Streetball (aquele jogo de basquete que mistura esporte, entretenimento performático e hiphop ao melhor estilo Harlem Globetrotters) mundo afora, inovando na forma como se comunicava com seu publico-alvo - foram eles os precursores de uma estratégia viral de vídeos "insanos" em uma época pré-internet. Confira o trailer (em inglês):
Em mais um estudo de caso digno de um MBA de Gestão e Marketing, “Untold: Ascensão e Queda da AND1” retrata a jornada de três amigos da faculdade Wharton School que sonhavam em ser astros da NBA, mas que resolveram empreender de uma forma onde fosse possível unir um negócio com a arte do streetball. Em uma época onde a NIKE era sinônimo de basquete graças ao seu maior trunfo midiático (e esportivo), Michael Jordan, a AND1 acabou encontrando um nicho específico (e muito rentável) que, de fato, abalou a indústria bilionária de produtos esportivos a partir do inicio dos anos 90.
Dirigido pelo talentoso Kevin Wilson Jr. (indicado ao Oscar pelo seu curta-metragem "My Nephew Emmett", em 2017), esse episódio de "Untold" chama atenção ao desenvolver uma linha do tempo que deixa muito claro a importância de se comunicar com o público especifico dentro de um contexto que faz todo sentido para ambos. Se a NIKE tinha Jordan e seus produtos na NBA, faria sentido entrar nesse embate com ínfimos recursos em relação ao seu competidor? Para Jay Coen Gilbert, Seth Berger e Tom Austin, sim, mas o destino resolveu ajustar a rota dessa aposta e foi aí que entraram em cena nomes como "The Professor", "Hot Sauce", "Skip 2 My Lou", "The Main Event", Shane "the Dribble Machine", entre outros - todos astros do basquete de rua.
"Ascensão e Queda da And1" foi muito feliz em mostrar o outro lado do esporte, sem perder sua essência de se aprofundar no fator humano - nesse caso, elemento primordial e decisivo para o sucesso da marca como negócio e no "fracasso" dos esportistas que, de uma forma muito importante, fizeram parte dessa disrupção. Partindo do principio de mostrar sempre um lado da história menos, digamos, glamoroso, a série eleva ainda mais o sucesso de critica e público que foi seu volume 1. Então se você já assistiu algum episódio de "Untold" e gostou, pode se preparar porque a Netflix quer elevar sua experiência e pelo que vi até aqui, vai conseguir!
Vale muito seu play!
"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).
Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):
Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte.
O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência.
Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!
Vale seu play!
"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).
Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):
Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte.
O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência.
Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!
Vale seu play!
Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".
Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):
Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.
Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.
Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!
Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".
Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):
Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.
Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.
Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!
Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"
"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.
Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.
Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.
Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" , "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"
Vale seu play!
Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"
"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.
Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.
Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.
Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" , "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"
Vale seu play!
Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.
A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):
O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!
Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.
Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.
Vale seu play!
Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.
A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):
O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!
Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.
Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.
Vale seu play!