De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
Será preciso ter estômago para assistir esse documentário da Netflix graças, mais uma vez, a ganância humana que em troca de um bônus polpudo é capaz de colocar a vida de centenas (para não dizer milhões) de pessoas em risco. "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" vai além das investigações de dois acidentes aéreos com aviões da empresa, o filme dirigido pela competente Rory Kennedy contextualiza o mercado, faz um recorte corporativo da Boeing e ainda aponta vários pontos sensíveis que transformaram a empresa líder do setor em uma verdadeira bomba relógio no céu de todo o mundo.
O documentário que fez o seu lançamento mundial noSundance Film Festival de 2022, tem pouco mais de 90 minutos e procura explorar como uma instituição que surgiu com o forte propósito de encurtar as distâncias entre diferentes pessoas do mundo inteiro, se transformou em uma potência corporativa e que depois abriu mão da segurança em detrimento do aumento dos valores de suas ações, colocando em xeque sua reputação, além de ter causado a morte de quase 350 pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada um aviso importante: evite assistir esse documentário se você tem algum tipo de receio em voar de avião. É sério!
Se você não se recorda, em outubro de 2018 e em março de 2019, com apenas 5 meses de diferença entre as tragédias (um número altíssimo dentro do universo da aviação), duas aeronaves da Boeing caíram misteriosamente. O primeiro acidente envolveu uma aeronave da Lion Air, uma companhia low-cost da Indonésia, e o segundo, o mesmo modelo 737 MAX, da Ethiopian Airlines; ambos os aviões eram os mais modernos da Boeing e adquiridos a pouquíssimo tempo.
Veja, o roteiro de Mark Bailey e Keven McAlester é muito inteligente ao criar um vinculo imediato entre a audiência e alguns familiares das vítimas, estabelecendo quem são os mocinhos e quem são os bandidos da história. Acontece que para os americanos aqueles que seriam os bandidos sempre foram motivo de orgulho para o país e é aí que somos surpreendidos, pois o que parecia apenas uma investigação de um acidente ao melhor estilo "Mayday - Desastres Aéreos" , na verdade é só a ponta do iceberg. Com uma edição primorosa, o documentário ganha uma dinâmica incrível ao usar vários elementos narrativos e dramáticos como depoimentos de muitos envolvidos em diversos estágios da investigação, imagens de arquivo, documentos confidenciais, reportagens da época, vídeos caseiros dos familiares das vitimas, simulações em CG, enfim, tudo para construir uma linha do tempo que vai muito além da nossa expectativa e do nosso conhecimento.
Para os empreendedores que assistem "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" um ponto deve chamar a atenção: como uma cultura pautada na segurança e na inovação foi completamente implodida depois do M&A (ou da aquisição) por parte da McDonnell Douglas, em 1997. A transformação foi tão grande, tão rápida e tão sem sentido que fica muito fácil desconstruir qualquer relação de empatia ou admiração que pudéssemos ter por algum executivo da Boeing durante o furacão (inclusive por seu CEO). Aos funcionários, alguns fatos apresentados no filme nos dão a exata sensação da pressão que sofriam e do receio que tinham em se posicionar para que tudo isso pudesse ter sido evitado - a ganância e a falta de humanidade da empresa são impressionantes!
Com uma linguagem simples que faz com que termos técnicos como MCAS (ou Maneuvering Characteristics Augmentation System) soem familiar, "Downfall: The Case Against Boeing" (no original) será uma belíssima surpresa para aqueles que gostam de documentários investigativos, bem construídos, com personagens importantes (o piloto de "Milagre do Rio Hudson", Chesley "Sully" Sullenberger também dá seu depoimento) e, principalmente, com provas e fatos muito sólidos!
Vale muito o seu play!
Será preciso ter estômago para assistir esse documentário da Netflix graças, mais uma vez, a ganância humana que em troca de um bônus polpudo é capaz de colocar a vida de centenas (para não dizer milhões) de pessoas em risco. "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" vai além das investigações de dois acidentes aéreos com aviões da empresa, o filme dirigido pela competente Rory Kennedy contextualiza o mercado, faz um recorte corporativo da Boeing e ainda aponta vários pontos sensíveis que transformaram a empresa líder do setor em uma verdadeira bomba relógio no céu de todo o mundo.
O documentário que fez o seu lançamento mundial noSundance Film Festival de 2022, tem pouco mais de 90 minutos e procura explorar como uma instituição que surgiu com o forte propósito de encurtar as distâncias entre diferentes pessoas do mundo inteiro, se transformou em uma potência corporativa e que depois abriu mão da segurança em detrimento do aumento dos valores de suas ações, colocando em xeque sua reputação, além de ter causado a morte de quase 350 pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada um aviso importante: evite assistir esse documentário se você tem algum tipo de receio em voar de avião. É sério!
Se você não se recorda, em outubro de 2018 e em março de 2019, com apenas 5 meses de diferença entre as tragédias (um número altíssimo dentro do universo da aviação), duas aeronaves da Boeing caíram misteriosamente. O primeiro acidente envolveu uma aeronave da Lion Air, uma companhia low-cost da Indonésia, e o segundo, o mesmo modelo 737 MAX, da Ethiopian Airlines; ambos os aviões eram os mais modernos da Boeing e adquiridos a pouquíssimo tempo.
Veja, o roteiro de Mark Bailey e Keven McAlester é muito inteligente ao criar um vinculo imediato entre a audiência e alguns familiares das vítimas, estabelecendo quem são os mocinhos e quem são os bandidos da história. Acontece que para os americanos aqueles que seriam os bandidos sempre foram motivo de orgulho para o país e é aí que somos surpreendidos, pois o que parecia apenas uma investigação de um acidente ao melhor estilo "Mayday - Desastres Aéreos" , na verdade é só a ponta do iceberg. Com uma edição primorosa, o documentário ganha uma dinâmica incrível ao usar vários elementos narrativos e dramáticos como depoimentos de muitos envolvidos em diversos estágios da investigação, imagens de arquivo, documentos confidenciais, reportagens da época, vídeos caseiros dos familiares das vitimas, simulações em CG, enfim, tudo para construir uma linha do tempo que vai muito além da nossa expectativa e do nosso conhecimento.
Para os empreendedores que assistem "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" um ponto deve chamar a atenção: como uma cultura pautada na segurança e na inovação foi completamente implodida depois do M&A (ou da aquisição) por parte da McDonnell Douglas, em 1997. A transformação foi tão grande, tão rápida e tão sem sentido que fica muito fácil desconstruir qualquer relação de empatia ou admiração que pudéssemos ter por algum executivo da Boeing durante o furacão (inclusive por seu CEO). Aos funcionários, alguns fatos apresentados no filme nos dão a exata sensação da pressão que sofriam e do receio que tinham em se posicionar para que tudo isso pudesse ter sido evitado - a ganância e a falta de humanidade da empresa são impressionantes!
Com uma linguagem simples que faz com que termos técnicos como MCAS (ou Maneuvering Characteristics Augmentation System) soem familiar, "Downfall: The Case Against Boeing" (no original) será uma belíssima surpresa para aqueles que gostam de documentários investigativos, bem construídos, com personagens importantes (o piloto de "Milagre do Rio Hudson", Chesley "Sully" Sullenberger também dá seu depoimento) e, principalmente, com provas e fatos muito sólidos!
Vale muito o seu play!
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
O cinema tem uma longa tradição de explorar histórias baseadas em eventos reais, mas poucos filmes conseguem capturar a tensão de uma situação verídica com a precisão e o minimalismo de "Reality"- no entanto, ele vai dividir opiniões, muito mais por sua forma do que pelo seu conteúdo. Eu diria que se você não gostou do conceito narrativo de "A Assistente", possivelmente você também não terá um boa experiência com "Reality", mas saiba que o inverso é proporcionalmente verdadeiro! Dirigido pela Tina Satter e estrelado pela queridinha Sydney Sweeney, o filme adapta para as telas a transcrição exata do interrogatório do FBI com Reality Winner, ex-funcionária da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) que supostamente vazou um documento confidencial sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. Com uma abordagem, não por acaso, quase teatral e uma direção meticulosa, "Reality" se destaca como um thriller psicólogo e político atípico, que transforma diálogos burocráticos em uma experiência claustrofóbica e muito angustiante.
O filme inteiro se desenrola em 3 de junho de 2017, quando Reality Winner (Sweeney) retorna para casa e é imediatamente confrontada por agentes do FBI. Em tempo real, acompanhamos seu interrogatório, conduzido por dois agentes interpretados por Josh Hamilton e Marchánt Davis, enquanto a tensão cresce a cada resposta aparentemente inocente. O roteiro é construído inteiramente com base na transcrição do interrogatório oficial, o que confere ao filme um senso de autenticidade raro, sem concessões dramatúrgicas convencionais. A escolha de manter cada hesitação, pausa e repetição de palavras enfatiza a frieza do processo e a vulnerabilidade da protagonista. Confira o trailer (em inglês):
Tina Satter, que já havia explorado essa história no teatro com "Is This a Room", transporta sua visão para o cinema com uma direção extremamente austera e econômica. Sua câmera permanece próxima dos personagens, capturando os mínimos gestos e expressões, enquanto a montagem sutil reforça a crescente opressão psicológica que a protagonista precisa lidar. A decisão de manter a ação restrita ao ambiente fechado da casa de Reality contribui para todo esse caráter claustrofóbico e angustiante da narrativa, criando um senso de sufocamento que se intensifica conforme o interrogatório avança - é impossível você não se colocar no lugar dela e assim sentir seus medos e receios. Além disso, o uso ocasional de silêncios e sobreposições sonoras (como as falas censuradas da transcrição original) sublinha a natureza fria e meticulosa dessa operação do FBI.
Sydney Sweeney entrega, possivelmente, a melhor performance de sua carreira, afastando-se completamente de seus papéis anteriores em "Euphoria" e "The White Lotus". Aqui, ela encarna uma Reality com um realismo impressionante, equilibrando nervosismo, confusão e resignação diante de uma situação que rapidamente foge do seu controle (mesmo ela tentando manter a calma). Seu trabalho corporal e a maneira como ela reage aos agentes do FBI sem recorrer a exageros dramáticos demonstram uma maturidade impressionante como atriz - não por acaso ela foi indicada ao
. Já Josh Hamilton e Marchánt Davis, como os agentes interrogadores, também brilham ao trazer uma performance contida, no tom exato, que enfatiza a banalidade do mal. Veja, aqui não há vilões caricatos, apenas burocratas fazendo seu trabalho de forma fria e impessoal.A grande verdade é que o que torna "Reality" tão impactante é a sua capacidade de transformar um simples diálogo em um thriller psicológico denso e inquietante. A ausência de trilha sonora, a iluminação naturalista e a montagem linear fazem com que a audiência sinta o peso da manipulação exercida durante o interrogatório - temos impressão que nada acontece, mas na realidade aquilo é nos leva para um caos íntimo e sem fim. Para mim,"Reality" é um estudo muito poderoso e atual sobre poder, vigilância, privacidade e, claro, sobre as consequências de desafiar um sistema que costuma ser implacável.
Vale muito o seu play!
O cinema tem uma longa tradição de explorar histórias baseadas em eventos reais, mas poucos filmes conseguem capturar a tensão de uma situação verídica com a precisão e o minimalismo de "Reality"- no entanto, ele vai dividir opiniões, muito mais por sua forma do que pelo seu conteúdo. Eu diria que se você não gostou do conceito narrativo de "A Assistente", possivelmente você também não terá um boa experiência com "Reality", mas saiba que o inverso é proporcionalmente verdadeiro! Dirigido pela Tina Satter e estrelado pela queridinha Sydney Sweeney, o filme adapta para as telas a transcrição exata do interrogatório do FBI com Reality Winner, ex-funcionária da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) que supostamente vazou um documento confidencial sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. Com uma abordagem, não por acaso, quase teatral e uma direção meticulosa, "Reality" se destaca como um thriller psicólogo e político atípico, que transforma diálogos burocráticos em uma experiência claustrofóbica e muito angustiante.
O filme inteiro se desenrola em 3 de junho de 2017, quando Reality Winner (Sweeney) retorna para casa e é imediatamente confrontada por agentes do FBI. Em tempo real, acompanhamos seu interrogatório, conduzido por dois agentes interpretados por Josh Hamilton e Marchánt Davis, enquanto a tensão cresce a cada resposta aparentemente inocente. O roteiro é construído inteiramente com base na transcrição do interrogatório oficial, o que confere ao filme um senso de autenticidade raro, sem concessões dramatúrgicas convencionais. A escolha de manter cada hesitação, pausa e repetição de palavras enfatiza a frieza do processo e a vulnerabilidade da protagonista. Confira o trailer (em inglês):
Tina Satter, que já havia explorado essa história no teatro com "Is This a Room", transporta sua visão para o cinema com uma direção extremamente austera e econômica. Sua câmera permanece próxima dos personagens, capturando os mínimos gestos e expressões, enquanto a montagem sutil reforça a crescente opressão psicológica que a protagonista precisa lidar. A decisão de manter a ação restrita ao ambiente fechado da casa de Reality contribui para todo esse caráter claustrofóbico e angustiante da narrativa, criando um senso de sufocamento que se intensifica conforme o interrogatório avança - é impossível você não se colocar no lugar dela e assim sentir seus medos e receios. Além disso, o uso ocasional de silêncios e sobreposições sonoras (como as falas censuradas da transcrição original) sublinha a natureza fria e meticulosa dessa operação do FBI.
Sydney Sweeney entrega, possivelmente, a melhor performance de sua carreira, afastando-se completamente de seus papéis anteriores em "Euphoria" e "The White Lotus". Aqui, ela encarna uma Reality com um realismo impressionante, equilibrando nervosismo, confusão e resignação diante de uma situação que rapidamente foge do seu controle (mesmo ela tentando manter a calma). Seu trabalho corporal e a maneira como ela reage aos agentes do FBI sem recorrer a exageros dramáticos demonstram uma maturidade impressionante como atriz - não por acaso ela foi indicada ao
. Já Josh Hamilton e Marchánt Davis, como os agentes interrogadores, também brilham ao trazer uma performance contida, no tom exato, que enfatiza a banalidade do mal. Veja, aqui não há vilões caricatos, apenas burocratas fazendo seu trabalho de forma fria e impessoal.A grande verdade é que o que torna "Reality" tão impactante é a sua capacidade de transformar um simples diálogo em um thriller psicológico denso e inquietante. A ausência de trilha sonora, a iluminação naturalista e a montagem linear fazem com que a audiência sinta o peso da manipulação exercida durante o interrogatório - temos impressão que nada acontece, mas na realidade aquilo é nos leva para um caos íntimo e sem fim. Para mim,"Reality" é um estudo muito poderoso e atual sobre poder, vigilância, privacidade e, claro, sobre as consequências de desafiar um sistema que costuma ser implacável.
Vale muito o seu play!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Antes de contar um pouco mais sobre o filme, eu peço licença para um comentário: a Academia deveria lançar um "Oscar Vitalício" para o Tom Hanks e assim desconsiderar todo trabalho que o ator fizer daqui para frente, pois todo filme que ele protagoniza (e nem todos tem um roteiro à altura dele) temos uma aula de interpretação! Dito isso, "Relatos do Mundo" é um excelente filme - ele tem a "alma" que pode ter faltado para o "O Céu da Meia-Noite" e mesmo sendo uma ação no velho-oeste e o outro uma ficção pós-apocalíptica, ambos tem elementos narrativos muito similares, que nos prendem à trama e nos movem até o final sem que a gente se dê conta de todas as variáveis que acompanhamos durante a jornada: "levar algo (ou alguém) do ponto A até o ponto B"!
Baseado no romance homônimo de Paulette Jiles, Tom Hanks interpreta o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um veterano de guerra que trabalha viajando por diversas cidades pequenas do interior dos Estados Unidos lendo notícias dos principais jornais para uma curiosa população. No caminho entre um vilarejo e outro, Kidd encontra Johanna (Helena Zengel), uma jovem que foi sequestrada pelo povo indígena Kiowa e que não fala nada de inglês. Ele se oferece então, para levar a garota até a casa dos tios, os únicos parentes que sobreviveram ao ataque da tribo vários anos atrás. É nesse contexto, que a dupla inicia uma jornada pelo perigoso deserto texano ainda em ressaca pelo pós-guerra civil, em busca do novo lar para a pequena órfã. Confira o trailer:
Paul Greengrass é um grande diretor, responsável por sucessos como "Capitão Phillips", "Vôo United 93" e "Domingo Sangrento", o que chancela a qualidade em todos os aspectos técnicos e artísticos de "Relatos do Mundo" e, de cara, eu já cito um: a belíssima fotografia (digna de uma indicação ao Oscar) do experiente Dariusz Wolski (de "Perdido em Marte") - é um plano mais bonito que o outro, um equilíbrio entre as lentes abertas para as belas paisagens do deserto e as lentes fechadas para potencializar o trabalho de Tom Hanks e de Helena Zengel (indicada ao Globo de Ouro pela personagem). A trilha sonora do James Newton Howard (também indicado ao Globo de Ouro) cria uma atmosfera de tensão e angustia ao mesmo tempo em que traz a emoção que cenas algumas cenas pedem - é um trabalho belíssimo do compositor que já foi indicado 8 vezes ao Oscar!
Em um filme onde o próprio Tom Hanks compara a trama com a série “The Mandalorian”, onde o protagonista chega em uma região, encontra um desafio, vive uma aventura e parte para o próximo ponto, agora um pouco mais perto do seu objetivo, "Relatos do Mundo" não decepciona! Com um roteiro que aproveita das longas viagens entre as cidades para diminuir o ritmo da ação e estabelecer a relação afetiva entre os personagens, aprofundando suas histórias e criando uma série de camadas bem desenvolvidas, fica muito fácil recomendar o filme, já que agrada os interessados em ação da mesma forma que vai impactar aqueles que buscam um drama nada superficial. O fato é que "Relatos do Mundo" vale o seu play e muita gente vai gostar!
Antes de contar um pouco mais sobre o filme, eu peço licença para um comentário: a Academia deveria lançar um "Oscar Vitalício" para o Tom Hanks e assim desconsiderar todo trabalho que o ator fizer daqui para frente, pois todo filme que ele protagoniza (e nem todos tem um roteiro à altura dele) temos uma aula de interpretação! Dito isso, "Relatos do Mundo" é um excelente filme - ele tem a "alma" que pode ter faltado para o "O Céu da Meia-Noite" e mesmo sendo uma ação no velho-oeste e o outro uma ficção pós-apocalíptica, ambos tem elementos narrativos muito similares, que nos prendem à trama e nos movem até o final sem que a gente se dê conta de todas as variáveis que acompanhamos durante a jornada: "levar algo (ou alguém) do ponto A até o ponto B"!
Baseado no romance homônimo de Paulette Jiles, Tom Hanks interpreta o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um veterano de guerra que trabalha viajando por diversas cidades pequenas do interior dos Estados Unidos lendo notícias dos principais jornais para uma curiosa população. No caminho entre um vilarejo e outro, Kidd encontra Johanna (Helena Zengel), uma jovem que foi sequestrada pelo povo indígena Kiowa e que não fala nada de inglês. Ele se oferece então, para levar a garota até a casa dos tios, os únicos parentes que sobreviveram ao ataque da tribo vários anos atrás. É nesse contexto, que a dupla inicia uma jornada pelo perigoso deserto texano ainda em ressaca pelo pós-guerra civil, em busca do novo lar para a pequena órfã. Confira o trailer:
Paul Greengrass é um grande diretor, responsável por sucessos como "Capitão Phillips", "Vôo United 93" e "Domingo Sangrento", o que chancela a qualidade em todos os aspectos técnicos e artísticos de "Relatos do Mundo" e, de cara, eu já cito um: a belíssima fotografia (digna de uma indicação ao Oscar) do experiente Dariusz Wolski (de "Perdido em Marte") - é um plano mais bonito que o outro, um equilíbrio entre as lentes abertas para as belas paisagens do deserto e as lentes fechadas para potencializar o trabalho de Tom Hanks e de Helena Zengel (indicada ao Globo de Ouro pela personagem). A trilha sonora do James Newton Howard (também indicado ao Globo de Ouro) cria uma atmosfera de tensão e angustia ao mesmo tempo em que traz a emoção que cenas algumas cenas pedem - é um trabalho belíssimo do compositor que já foi indicado 8 vezes ao Oscar!
Em um filme onde o próprio Tom Hanks compara a trama com a série “The Mandalorian”, onde o protagonista chega em uma região, encontra um desafio, vive uma aventura e parte para o próximo ponto, agora um pouco mais perto do seu objetivo, "Relatos do Mundo" não decepciona! Com um roteiro que aproveita das longas viagens entre as cidades para diminuir o ritmo da ação e estabelecer a relação afetiva entre os personagens, aprofundando suas histórias e criando uma série de camadas bem desenvolvidas, fica muito fácil recomendar o filme, já que agrada os interessados em ação da mesma forma que vai impactar aqueles que buscam um drama nada superficial. O fato é que "Relatos do Mundo" vale o seu play e muita gente vai gostar!
"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!
Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:
É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos.
O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.
A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.
"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!
"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!
Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:
É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos.
O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.
A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.
"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!
"Resgate" é um excelente filme de ação - um dos melhores que assisti ultimamente! Dito isso, temos que parabenizar a Netflix por essa produção - é impressionante a grandiosidade e a qualidade técnica do filme! Muito desse mérito é responsabilidade do diretor estreante, Sam Hargrave, pupilo dos diretores de "Vingadores Ultimato", Anthony Russo e Joe Russo que, inclusive, adaptaram (Joe) e produziram esse filme!
Após Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), o filho de um perigoso bandido indiano, ser sequestrado pelo traficante, Arjun (Piyush Khati); Tyler Rake (Chris Hemsworth) é recrutado para salvar o garoto, mas para isso tem que enfrentar todo o exército de Bangladesh no meio da cidade de Dhaka, capital do país. Confira o trailer:
Sim, pela sinopse fica claro se tratar de um filme sem muita história, ou pelo menos sem uma trama tão complexa, porém é preciso dizer que no que diz respeito a "ação" em si, temos um prato cheio. É incrível como os diretores vem trazendo para os filmes do gênero muito do conceito dos video-games e isso se reflete justamente em uma característica bem peculiar: a história serve para motivar o personagem principal a se mover do ponto A até o ponto B sem morrer, com uma missão pré estabelecida, claro, porém sem a necessidade de uma exploração mais profunda da trama, afinal o que interessa mesmo é a ação (no caso, o período onde o jogador interage com a história de forma linear durante a jornada). Além dessa característica narrativa marcante, as referências visuais são absurdas: os movimentos de câmera que pareciam impossíveis serem recriadas em um "live action" há alguns anos atrás, agora fazem parte de uma coreografia impressionante entre fotografia e atuação - e olha que venho citando esse movimento desde "Projeto Gemini" e até em "1917". Em "Resgate" essa gramática cinematográfica é repetida e com muita competência, então se você gosta de filmes de ação não deixe de dar o play!
Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade, assim que embarcamos em um filme de ação estamos pré dispostos a enxergar aquele universo da maneira mais realista possível e aqui encontramos um grande mérito de "Resgate" - ele não se apropria de soluções mirabolantes para criar a dinâmica da ação! O malabarismo dos personagens existe, mas não "ofende" quem assiste! O trabalho do excelente diretor de fotografia Newton Thomas Sigel (de "Superman - o retorno" e de "Bohemian Rhapsody") merece ser destacado. Ao lado de Hargrave (especialista em cenas de ação e luta), Sigel criou um plano sequência sensacional já no segundo ato, onde acompanhamos (como no video game) o protagonista lutando, atirando na policia, pulando de prédios e finalmente fugindo de carro em uma perseguição de tirar o fôlego (tudo "sem" cortes) - é impressionante! E o que dá um ar ainda mais interessante é a forma como Sigel usa Dhaka para contrastar a ação com uma certa poesia que mistura realismo e fantasia perfeitamente - é sensacional!
Baseado na graphic novel "Ciudad", de Ande Parks, escrita pelo próprio Parks em parceria de Joe e Anthony Russo, "Resgate" usa da capacidade do seus produtores que por sinal são, talvez, os maiores responsáveis pelo sucesso do Universo Marvel, como garantia de um filme com muita ação, com lutas extremamente bem coreografadas (nível "Demolidor" nos bons tempos) e uma história que te prende graças ao ótimo trabalho de Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal.
Olha, filme de tiro e pancadaria dos bons! Entretenimento da melhor qualidade! E pode acreditar: teremos uma continuação - me cobrem!
"Resgate" é um excelente filme de ação - um dos melhores que assisti ultimamente! Dito isso, temos que parabenizar a Netflix por essa produção - é impressionante a grandiosidade e a qualidade técnica do filme! Muito desse mérito é responsabilidade do diretor estreante, Sam Hargrave, pupilo dos diretores de "Vingadores Ultimato", Anthony Russo e Joe Russo que, inclusive, adaptaram (Joe) e produziram esse filme!
Após Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), o filho de um perigoso bandido indiano, ser sequestrado pelo traficante, Arjun (Piyush Khati); Tyler Rake (Chris Hemsworth) é recrutado para salvar o garoto, mas para isso tem que enfrentar todo o exército de Bangladesh no meio da cidade de Dhaka, capital do país. Confira o trailer:
Sim, pela sinopse fica claro se tratar de um filme sem muita história, ou pelo menos sem uma trama tão complexa, porém é preciso dizer que no que diz respeito a "ação" em si, temos um prato cheio. É incrível como os diretores vem trazendo para os filmes do gênero muito do conceito dos video-games e isso se reflete justamente em uma característica bem peculiar: a história serve para motivar o personagem principal a se mover do ponto A até o ponto B sem morrer, com uma missão pré estabelecida, claro, porém sem a necessidade de uma exploração mais profunda da trama, afinal o que interessa mesmo é a ação (no caso, o período onde o jogador interage com a história de forma linear durante a jornada). Além dessa característica narrativa marcante, as referências visuais são absurdas: os movimentos de câmera que pareciam impossíveis serem recriadas em um "live action" há alguns anos atrás, agora fazem parte de uma coreografia impressionante entre fotografia e atuação - e olha que venho citando esse movimento desde "Projeto Gemini" e até em "1917". Em "Resgate" essa gramática cinematográfica é repetida e com muita competência, então se você gosta de filmes de ação não deixe de dar o play!
Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade, assim que embarcamos em um filme de ação estamos pré dispostos a enxergar aquele universo da maneira mais realista possível e aqui encontramos um grande mérito de "Resgate" - ele não se apropria de soluções mirabolantes para criar a dinâmica da ação! O malabarismo dos personagens existe, mas não "ofende" quem assiste! O trabalho do excelente diretor de fotografia Newton Thomas Sigel (de "Superman - o retorno" e de "Bohemian Rhapsody") merece ser destacado. Ao lado de Hargrave (especialista em cenas de ação e luta), Sigel criou um plano sequência sensacional já no segundo ato, onde acompanhamos (como no video game) o protagonista lutando, atirando na policia, pulando de prédios e finalmente fugindo de carro em uma perseguição de tirar o fôlego (tudo "sem" cortes) - é impressionante! E o que dá um ar ainda mais interessante é a forma como Sigel usa Dhaka para contrastar a ação com uma certa poesia que mistura realismo e fantasia perfeitamente - é sensacional!
Baseado na graphic novel "Ciudad", de Ande Parks, escrita pelo próprio Parks em parceria de Joe e Anthony Russo, "Resgate" usa da capacidade do seus produtores que por sinal são, talvez, os maiores responsáveis pelo sucesso do Universo Marvel, como garantia de um filme com muita ação, com lutas extremamente bem coreografadas (nível "Demolidor" nos bons tempos) e uma história que te prende graças ao ótimo trabalho de Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal.
Olha, filme de tiro e pancadaria dos bons! Entretenimento da melhor qualidade! E pode acreditar: teremos uma continuação - me cobrem!
Olha, como o primeiro, "Resgate 2" é tão divertido e dinâmico como jogar uma boa partida de videogame - daqueles "fps" ou First Person Shooter - gênero de jogo que coloca o jogador em uma perspectiva de câmera em primeira pessoa, portando armas de fogo em combates alucinantes e cenas de ação de tirar o fôlego; aliás, talvez essa seja a melhor forma de definir o novo filme da franquia, novamente dirigido pelo talentoso Sam Hargrave.
Algum tempo depois dos eventos do primeiro filme, Tyler Rake (Chris Hemsworth) precisa encarar um desafio ainda mais perigoso e insano do que o anterior: resgatar a família de um gângster georgiano, Zurab (Tornike Gogrichiani), de uma prisão e levá-los em segurança até a Áustria. No entanto, isso não será uma tarefa fácil, já que diversos criminosos estão tentando localizá-los. Mais uma vez contando com a ajuda dos irmãos Nik Khan (Golshifteh Farahani) e Yaz Khan (Adam Bessa), Tyler precisa enfrentar os fantasmas de seu passado nessa missão que vai muito além do dinheiro como recompensa. Confira o trailer:
Talvez o mais interessante de "Resgate 2" seja justamente o de se apropriar dos pontos fortes de primeiro filme e potencializa-los com um orçamento ainda mais generoso. Como não poderia deixar de ser, as cenas de ação e as coreografias das lutas são ainda mais impressionantes. As sequências de combate são perfeitamente realizadas pelo diretor de fotografia, Greg Baldi (de "A Origem"), com movimentos de câmera, muitas vezes em longos planos, de tirar o chapéu - esses movimentos de câmera, se olharmos por uma perspectiva mais técnica, já pareciam impossíveis de serem recriadas em um "live action" lá atrás com Newton Thomas Sigel, no entanto Hargrave se aproveita dos malabarismos visuais para nos entregar uma imersão ainda mais absurda para temos a noção exata da tensão e da intensidade dos confrontos que assistimos na tela.
Agora é preciso que se diga, o roteiro dos irmãos Russo (novamente ao lado de Ande Parks) volta a pecar por ser repleto de clichês e não ter profundidade alguma. É até notável o esforço do texto em adicionar camadas emocionais para que Chris Hemsworth possa brilhar também no drama, porém é a ação que faz valer o play. - não adianta, o foco aqui são os tiros e a pancadaria. Convincente, Hemsworth sabe exatamente o caminho para que o filme seja outro sucesso e ao colocar sua performance a serviço desse objetivo, é inegável a qualidade de "Extraction II" (no original) como entretenimento repleto de adrenalina.
Sim, "Resgate 2" é um capítulo que mantém a energia do filme original, apresentando sequências de ação e combate ainda melhores, com o bônus de um protagonista bastante carismático. Embora a história possa parecer familiar em muitos momentos e certos personagens pareçam pouco desenvolvidos, como Nik Khan, por exemplo; o filme ainda entrega uma jornada de herói emocionante e cheia de reviravoltas que certamente vai satisfazer os fãs do gênero.
Se você gostou de "Resgate", pode dar o play sem medo e já te adianto: vem mais por aí!
Olha, como o primeiro, "Resgate 2" é tão divertido e dinâmico como jogar uma boa partida de videogame - daqueles "fps" ou First Person Shooter - gênero de jogo que coloca o jogador em uma perspectiva de câmera em primeira pessoa, portando armas de fogo em combates alucinantes e cenas de ação de tirar o fôlego; aliás, talvez essa seja a melhor forma de definir o novo filme da franquia, novamente dirigido pelo talentoso Sam Hargrave.
Algum tempo depois dos eventos do primeiro filme, Tyler Rake (Chris Hemsworth) precisa encarar um desafio ainda mais perigoso e insano do que o anterior: resgatar a família de um gângster georgiano, Zurab (Tornike Gogrichiani), de uma prisão e levá-los em segurança até a Áustria. No entanto, isso não será uma tarefa fácil, já que diversos criminosos estão tentando localizá-los. Mais uma vez contando com a ajuda dos irmãos Nik Khan (Golshifteh Farahani) e Yaz Khan (Adam Bessa), Tyler precisa enfrentar os fantasmas de seu passado nessa missão que vai muito além do dinheiro como recompensa. Confira o trailer:
Talvez o mais interessante de "Resgate 2" seja justamente o de se apropriar dos pontos fortes de primeiro filme e potencializa-los com um orçamento ainda mais generoso. Como não poderia deixar de ser, as cenas de ação e as coreografias das lutas são ainda mais impressionantes. As sequências de combate são perfeitamente realizadas pelo diretor de fotografia, Greg Baldi (de "A Origem"), com movimentos de câmera, muitas vezes em longos planos, de tirar o chapéu - esses movimentos de câmera, se olharmos por uma perspectiva mais técnica, já pareciam impossíveis de serem recriadas em um "live action" lá atrás com Newton Thomas Sigel, no entanto Hargrave se aproveita dos malabarismos visuais para nos entregar uma imersão ainda mais absurda para temos a noção exata da tensão e da intensidade dos confrontos que assistimos na tela.
Agora é preciso que se diga, o roteiro dos irmãos Russo (novamente ao lado de Ande Parks) volta a pecar por ser repleto de clichês e não ter profundidade alguma. É até notável o esforço do texto em adicionar camadas emocionais para que Chris Hemsworth possa brilhar também no drama, porém é a ação que faz valer o play. - não adianta, o foco aqui são os tiros e a pancadaria. Convincente, Hemsworth sabe exatamente o caminho para que o filme seja outro sucesso e ao colocar sua performance a serviço desse objetivo, é inegável a qualidade de "Extraction II" (no original) como entretenimento repleto de adrenalina.
Sim, "Resgate 2" é um capítulo que mantém a energia do filme original, apresentando sequências de ação e combate ainda melhores, com o bônus de um protagonista bastante carismático. Embora a história possa parecer familiar em muitos momentos e certos personagens pareçam pouco desenvolvidos, como Nik Khan, por exemplo; o filme ainda entrega uma jornada de herói emocionante e cheia de reviravoltas que certamente vai satisfazer os fãs do gênero.
Se você gostou de "Resgate", pode dar o play sem medo e já te adianto: vem mais por aí!
"Roma" é sensacional!!!! Talvez o melhor trabalho da carreira do Alfonso Cuarón!!! Dito isso, você precisa saber que se trata de um filme longo, P&B (preto e branco), bem lento e que fala de relações humanas!!! Mas você precisa saber também que esse filme já ganhou 83 prêmios em Festivais pelo mundo - e isso não é nada fácil - inclusive o Leão de Ouro em Veneza!!!
Certamente a pergunta que fica é: como um filme p&b, lento, longo e sem uma história tão marcante ganha tantos prêmios? Simples - "Roma" é uma aula de Cinema. Todos, eu disse todos, os planos são muito bem pensados, coreografadas e cirurgicamente bem realizados com enquadramentos que parecem muito mais uma pintura. Movimentos de câmera inovadores (como ele mesmo fez em Gravidade)? Que nada, cinema raiz (rs) - um ou outro travelling nas externas (muito bem feitos, com uma composição de centenas de figurantes e uma direção de arte que poucas vezes vi de tão orgânica), além de muitas, muitas, panorâmicas!!! Panorâmicas bem feitas, que criam a sensação de amplitude, de um vazio dos personagens dentro daquela casa repleta de histórias que ninguém teria coragem de contar porque são simples histórias do dia a dia, de todos nós, de uma ou outra família, mas que o Cuarón transformou em uma obra prima."Roma" é o retrato de um ano tumultuado na vida de uma família de classe média da Cidade do México no início dos anos 70, como vemos no trailer a seguir:
Os sentimentos estavam lá, no silêncio, no diálogo baixinho, quase inseguro; ou no desenho de som perturbador que transformava o vazio daquele ambiente (como a cena do carro raspando na garagem ou nas crianças brigando na sala). Meu amigo, isso é cinema com alma, maravilhosamente bem captado em aspecto "2.35" (mais largado), com grande angulares, e muito mais espaço para compor aqueles planos... lindo de ver!!! É um filme simples, com uma das cenas mais impactantes que eu já assisti (do parto da protagonista), onde o Cuarón não faz nenhum movimento com a câmera, não inventa, só deixa esse maravilhoso instrumento contar aquela dolorida história - sem cortes!!!! Ou a cena na loja de móveis, com um show de atuação da Yaritza Aparicio e do Jorge Antonio Guerrero - sem nenhuma palavra, só no olhar!!!
Cuarón é um cineasta incrível, versátil, mas é humano, gente como a gente - tive a honra de assistir a palestra que ele fez em 2017 durante o Festival de Cannes e posso afirmar com todas as letras: um ser humano talentoso que aceita suas fraquezas, mas que trabalha muito para transforma-las em sua maior virtude!!! Ele escreveu, dirigiu e fotografou (sim, Alfonso Cuarón dá uma aula de fotografia no primeiro longa que ele fotografa e se ele não for, no mínimo, indicado ao Oscar, será uma das maiores injustiças dos últimos tempos). "Roma" não vai agradar a todos, não está bombando nas redes sociais como "Bohemian Rhapsody" ou "Infiltrado na Klan" (que são ótimos diga-se de passagem), mas posso te garantir que esse filme vai te fazer pensar e trazer sentimentos e sensações como nenhum outro, em muito tempo. Eu diria que é outro patamar de cinematografia!!!
Obrigado Netflix pelo presente de Natal. Obrigado Alfonso Cuarón por nos permitir conhecer sua história. É só dar o play e separar a estatueta!!!!
Up-date: "Roma" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia e Melhor Diretor!
"Roma" é sensacional!!!! Talvez o melhor trabalho da carreira do Alfonso Cuarón!!! Dito isso, você precisa saber que se trata de um filme longo, P&B (preto e branco), bem lento e que fala de relações humanas!!! Mas você precisa saber também que esse filme já ganhou 83 prêmios em Festivais pelo mundo - e isso não é nada fácil - inclusive o Leão de Ouro em Veneza!!!
Certamente a pergunta que fica é: como um filme p&b, lento, longo e sem uma história tão marcante ganha tantos prêmios? Simples - "Roma" é uma aula de Cinema. Todos, eu disse todos, os planos são muito bem pensados, coreografadas e cirurgicamente bem realizados com enquadramentos que parecem muito mais uma pintura. Movimentos de câmera inovadores (como ele mesmo fez em Gravidade)? Que nada, cinema raiz (rs) - um ou outro travelling nas externas (muito bem feitos, com uma composição de centenas de figurantes e uma direção de arte que poucas vezes vi de tão orgânica), além de muitas, muitas, panorâmicas!!! Panorâmicas bem feitas, que criam a sensação de amplitude, de um vazio dos personagens dentro daquela casa repleta de histórias que ninguém teria coragem de contar porque são simples histórias do dia a dia, de todos nós, de uma ou outra família, mas que o Cuarón transformou em uma obra prima."Roma" é o retrato de um ano tumultuado na vida de uma família de classe média da Cidade do México no início dos anos 70, como vemos no trailer a seguir:
Os sentimentos estavam lá, no silêncio, no diálogo baixinho, quase inseguro; ou no desenho de som perturbador que transformava o vazio daquele ambiente (como a cena do carro raspando na garagem ou nas crianças brigando na sala). Meu amigo, isso é cinema com alma, maravilhosamente bem captado em aspecto "2.35" (mais largado), com grande angulares, e muito mais espaço para compor aqueles planos... lindo de ver!!! É um filme simples, com uma das cenas mais impactantes que eu já assisti (do parto da protagonista), onde o Cuarón não faz nenhum movimento com a câmera, não inventa, só deixa esse maravilhoso instrumento contar aquela dolorida história - sem cortes!!!! Ou a cena na loja de móveis, com um show de atuação da Yaritza Aparicio e do Jorge Antonio Guerrero - sem nenhuma palavra, só no olhar!!!
Cuarón é um cineasta incrível, versátil, mas é humano, gente como a gente - tive a honra de assistir a palestra que ele fez em 2017 durante o Festival de Cannes e posso afirmar com todas as letras: um ser humano talentoso que aceita suas fraquezas, mas que trabalha muito para transforma-las em sua maior virtude!!! Ele escreveu, dirigiu e fotografou (sim, Alfonso Cuarón dá uma aula de fotografia no primeiro longa que ele fotografa e se ele não for, no mínimo, indicado ao Oscar, será uma das maiores injustiças dos últimos tempos). "Roma" não vai agradar a todos, não está bombando nas redes sociais como "Bohemian Rhapsody" ou "Infiltrado na Klan" (que são ótimos diga-se de passagem), mas posso te garantir que esse filme vai te fazer pensar e trazer sentimentos e sensações como nenhum outro, em muito tempo. Eu diria que é outro patamar de cinematografia!!!
Obrigado Netflix pelo presente de Natal. Obrigado Alfonso Cuarón por nos permitir conhecer sua história. É só dar o play e separar a estatueta!!!!
Up-date: "Roma" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia e Melhor Diretor!
"Roubo Cibernético", que por aqui ganhou o sugestivo subtítulo "Bilhões em Bitcoins", é um documentário que certamente seria um grande sucesso se fosse uma minissérie de ficção! O que você vai assistir, assim que der o play, é uma das histórias mais bizarras e geniais já retratadas - e quando digo "bizarra" estou sendo literal mesmo, pois são tantos elementos que vão do trash à espionagem, que sem brincadeira, faz nossa cabeça explodir! "Biggest Heist Ever" (no original) chegou sem muito barulho no catálogo da Netflix, mas só pelo fato de ter sido dirigido pelo Chris Smith, o mesmo de "Fyre Festival", "Educação Americana", entre outros sucessos, já merece sua atenção. Smith, mais uma vez, entrega um documentário fascinante e dinâmico que mergulha em um dos casos mais improváveis e surreais do mundo financeiro e tecnológico que vamos ouvir falar - um roubo de cerca de 4.8 bilhões de dólares em bitcoins!
Basicamente, o documentário narra a história de Heather “Razzlekhan” Morgan e seu marido, Lichtenstein, um casal tão excêntrico quanto habilidoso, acusado de roubar cerca de 120.000 Bitcoins da corretora Bitfinex - um crime que abalou o mercado de criptomoedas e resultou em uma lavagem de dinheiro avaliada em impressionantes 1.2 bilhões de dólares. Confira o trailer, em inglês:
É impressionante como Chris Smith sabe explorar histórias complexas com uma abordagem acessível e envolvente para qualquer tipo de audiência - conhecendo ou não o assunto que está sendo apresentado. Aqui, Smith equilibra uma investigação detalhada de um crime cheio de particularidades com uma construção de perfil fascinante de seus protagonistas, transformando "Roubo Cibernético" em praticamente um thriller repleto de absurdos e reviravoltas, mas com implicações reais e realmente preocupantes. A narrativa é construída de forma simples, alternando entre a trajetória de Morgan, uma rapper bizarra e figura "famosa" na internet por sua excentricidade, e Lichtenstein, um empreendedor de sucesso no Vale do Silício e especialista em tecnologia, com inclinações igualmente excêntricas, diga-se de passagem. Ao explorar suas personalidades e sua dinâmica como casal, contrastando o estilo de vida hipster de Nova York com o trabalho minucioso e clandestino de tentar esconder e lavar uma das maiores fortunas já roubadas no mundo digital, o documentário é muito feliz em fazer um recorte histórico que mistura cultura pop, crime cibernético e fraude de uma maneira cativante.
Smith utiliza imagens de arquivo, entrevistas com especialistas em cybersegurança, agentes do FBI e amigos dos protagonistas, com reconstituições muito bem produzidas (ao melhor estilo "filme de ação") para apresentar os eventos desse crime absurdo. As redes sociais de Morgan, repletas de vídeos de extremo mal gosto que vão de raps amadores até discursos grandiosos, são cirurgicamente usadas para criar um retrato irônico e, ao mesmo tempo, perturbador da protagonista, destacando sua busca por atenção e seu desprezo aparente pelo risco de ser descoberta. Ao mesmo tempo, o documentário aborda de forma séria os aspectos técnicos e legais do roubo, explicando de maneira acessível todo o funcionamento da blockchain, das vulnerabilidades do sistema de criptomoedas e dos métodos usados para rastrear o dinheiro roubado - a edição é ágil, mantendo o ritmo da narrativa bastante fluida, enquanto as intervenções gráficas ajudam a contextualizar as complexidades técnicas para a audiência.
Além do caso em si, claro, "Roubo Cibernético" merece destaque por explorar questões mais amplas sobre o mundo das criptomoedas e as implicações éticas e econômicas desse universo tão empolgante. O documentário provoca certa reflexão sobre a falta de regulamentação das moedas digitais, sobre os riscos associados a transações e sobre a crescente ameaça de crimes cibernéticos em um mundo hiperconectado, mas sempre com um tom menos denso do que o assunto sugere. Mesmo que a narrativa às vezes soe indecisa sobre que estilo seguir, oscilando entre a ironia e a seriedade, posso te garantir que o impacto emocional de algumas questões importantes, como as implicações legais e financeiras do roubo, por exemplo, não são nada fáceis de digerir. O fato é que "Biggest Heist Ever" sabe dosar o humor, a tensão e a análise crítica para se tornar uma experiência que é ao mesmo tempo divertida e educativa - um olhar fascinante sobre um dos maiores crimes da história e sobre como figuras improváveis tornaram isso possível!
E pode acreditar: essa não será a última história que você verá sobre crimes de criptoativos.
Imperdível!
"Roubo Cibernético", que por aqui ganhou o sugestivo subtítulo "Bilhões em Bitcoins", é um documentário que certamente seria um grande sucesso se fosse uma minissérie de ficção! O que você vai assistir, assim que der o play, é uma das histórias mais bizarras e geniais já retratadas - e quando digo "bizarra" estou sendo literal mesmo, pois são tantos elementos que vão do trash à espionagem, que sem brincadeira, faz nossa cabeça explodir! "Biggest Heist Ever" (no original) chegou sem muito barulho no catálogo da Netflix, mas só pelo fato de ter sido dirigido pelo Chris Smith, o mesmo de "Fyre Festival", "Educação Americana", entre outros sucessos, já merece sua atenção. Smith, mais uma vez, entrega um documentário fascinante e dinâmico que mergulha em um dos casos mais improváveis e surreais do mundo financeiro e tecnológico que vamos ouvir falar - um roubo de cerca de 4.8 bilhões de dólares em bitcoins!
Basicamente, o documentário narra a história de Heather “Razzlekhan” Morgan e seu marido, Lichtenstein, um casal tão excêntrico quanto habilidoso, acusado de roubar cerca de 120.000 Bitcoins da corretora Bitfinex - um crime que abalou o mercado de criptomoedas e resultou em uma lavagem de dinheiro avaliada em impressionantes 1.2 bilhões de dólares. Confira o trailer, em inglês:
É impressionante como Chris Smith sabe explorar histórias complexas com uma abordagem acessível e envolvente para qualquer tipo de audiência - conhecendo ou não o assunto que está sendo apresentado. Aqui, Smith equilibra uma investigação detalhada de um crime cheio de particularidades com uma construção de perfil fascinante de seus protagonistas, transformando "Roubo Cibernético" em praticamente um thriller repleto de absurdos e reviravoltas, mas com implicações reais e realmente preocupantes. A narrativa é construída de forma simples, alternando entre a trajetória de Morgan, uma rapper bizarra e figura "famosa" na internet por sua excentricidade, e Lichtenstein, um empreendedor de sucesso no Vale do Silício e especialista em tecnologia, com inclinações igualmente excêntricas, diga-se de passagem. Ao explorar suas personalidades e sua dinâmica como casal, contrastando o estilo de vida hipster de Nova York com o trabalho minucioso e clandestino de tentar esconder e lavar uma das maiores fortunas já roubadas no mundo digital, o documentário é muito feliz em fazer um recorte histórico que mistura cultura pop, crime cibernético e fraude de uma maneira cativante.
Smith utiliza imagens de arquivo, entrevistas com especialistas em cybersegurança, agentes do FBI e amigos dos protagonistas, com reconstituições muito bem produzidas (ao melhor estilo "filme de ação") para apresentar os eventos desse crime absurdo. As redes sociais de Morgan, repletas de vídeos de extremo mal gosto que vão de raps amadores até discursos grandiosos, são cirurgicamente usadas para criar um retrato irônico e, ao mesmo tempo, perturbador da protagonista, destacando sua busca por atenção e seu desprezo aparente pelo risco de ser descoberta. Ao mesmo tempo, o documentário aborda de forma séria os aspectos técnicos e legais do roubo, explicando de maneira acessível todo o funcionamento da blockchain, das vulnerabilidades do sistema de criptomoedas e dos métodos usados para rastrear o dinheiro roubado - a edição é ágil, mantendo o ritmo da narrativa bastante fluida, enquanto as intervenções gráficas ajudam a contextualizar as complexidades técnicas para a audiência.
Além do caso em si, claro, "Roubo Cibernético" merece destaque por explorar questões mais amplas sobre o mundo das criptomoedas e as implicações éticas e econômicas desse universo tão empolgante. O documentário provoca certa reflexão sobre a falta de regulamentação das moedas digitais, sobre os riscos associados a transações e sobre a crescente ameaça de crimes cibernéticos em um mundo hiperconectado, mas sempre com um tom menos denso do que o assunto sugere. Mesmo que a narrativa às vezes soe indecisa sobre que estilo seguir, oscilando entre a ironia e a seriedade, posso te garantir que o impacto emocional de algumas questões importantes, como as implicações legais e financeiras do roubo, por exemplo, não são nada fáceis de digerir. O fato é que "Biggest Heist Ever" sabe dosar o humor, a tensão e a análise crítica para se tornar uma experiência que é ao mesmo tempo divertida e educativa - um olhar fascinante sobre um dos maiores crimes da história e sobre como figuras improváveis tornaram isso possível!
E pode acreditar: essa não será a última história que você verá sobre crimes de criptoativos.
Imperdível!
"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
Vale muito a pena! Mesmo!
"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
Vale muito a pena! Mesmo!
Vou começar o review de uma forma diferente. Prestem a atenção na história: Um bem sucedido executivo catalão perde sua família em um acidente de carro. Além da dor, a culpa toma conta dele, afinal sua mulher havia se queixado de um problema no carro um dia antes, mas ele não deu a mínima atenção. Com isso vem a depressão e a vontade de acabar com a própria vida, porém no momento do suicídio surge uma mulher e impede que o ato seja consumado! Essa mulher, uma Mestre em astrofísica americana, sabendo que a vida já não importava mais para ele, convida nosso protagonista para participar de uma experiência única! Ela desenvolveu uma tecnologia capaz de abrir portais para os mais diversos universos, ou seja, seria possível ver (e interferir?!) nos rumos da história para entender o que poderia ser diferente se uma ou outra decisão fosse tomada, por ele e por quem o rodeia. Será que o acidente poderia ter sido evitado se ele não tivesse deixado a mulher sair com o carro dela naquele estado? Acontece que nem tudo sai como ele imaginava (claro!!!) e ao perceber que essas outras decisões também teriam suas consequências, o caos se instala na sua vida em diversas dimensões e suas interferências acabam virando uma bola de neve!!! - Nada muito original, mas interessante, não?
Acontece que "Se eu não tivesse te conhecido", produção catalã Original Netflix (de 10 episódios com 50 minutos cada) reuniu tudo o que existe de mais clichê em uma única série - na verdade, é um novelão! O over acting é tão presente em todos os personagens que qualquer possibilidade de imersão naquele realismo fantástico vai para o ralo. O primeiro episódio, sem brincadeira, são 40 minutos de lamentações para justificar uma coisa que seria tão natural: se sentir arrasado e sem esperanças após perder toda sua família em um acidente trágico! Não precisa alimentar esse sentimento mais do que 5 minutos, porque é óbvio que o personagem se sentiria assim, mas não, existe uma necessidade enorme de atingir a audiência com gatilhos emocionais completamente dispensáveis!!! Por exemplo: o desenho de som é terrível, a cada cena surge um violino depressivo tentando te fazer chorar... Eu não estou brincando, acho que a cada 2 minutos tem uma intervenção como essa, sem o menor sentido narrativo porque a história parece não te levar para frente nunca (ou pelo menos demora muito)! A produção também não ajuda, a qualidade oscila muito: as vezes temos planos lindos, com uma bela fotografia, uma qualidade cinematográfica incrível e logo em seguida uma cena que não consegue esconder que foi rodada em estúdio (ou na garagem de casa) - muito, mas muito, mal iluminada! Maquiagem e efeitos especiais dignos de Chapollin Colorado...
Mas tem gente que gosta de um dramalhão, então vamos dar algum crédito: os ganchos entre um episódio e outro são excelentes (por incrível que pareça). Se você estiver disposto a fechar os olhos para a qualidade estética e narrativa da série, por gostar do tema ou do gênero, é bem capaz que você consiga seguir por mais de um episódio. Sério, os ganchos são tão bons que me fizeram assistir 3 episódios seguidos mesmo com todas essas limitações. O problema é que o gancho não se sustenta quando começa o episódio, dois minutos e tudo vai para o lixo de novo, mas aí você se esforça, se permite, vem outro gancho bom e resolve ir para mais um episódio e assim vai feito um ciclo vicioso até que você diz: "Chega!"
Bom, se você gostou de "O Barco", você talvez se interesse pela série. Se você gostou de "Dark", não dê o play em hipótese alguma!!! Enfim, tudo é uma questão de gosto! Assista por conta e risco!!!
Vou começar o review de uma forma diferente. Prestem a atenção na história: Um bem sucedido executivo catalão perde sua família em um acidente de carro. Além da dor, a culpa toma conta dele, afinal sua mulher havia se queixado de um problema no carro um dia antes, mas ele não deu a mínima atenção. Com isso vem a depressão e a vontade de acabar com a própria vida, porém no momento do suicídio surge uma mulher e impede que o ato seja consumado! Essa mulher, uma Mestre em astrofísica americana, sabendo que a vida já não importava mais para ele, convida nosso protagonista para participar de uma experiência única! Ela desenvolveu uma tecnologia capaz de abrir portais para os mais diversos universos, ou seja, seria possível ver (e interferir?!) nos rumos da história para entender o que poderia ser diferente se uma ou outra decisão fosse tomada, por ele e por quem o rodeia. Será que o acidente poderia ter sido evitado se ele não tivesse deixado a mulher sair com o carro dela naquele estado? Acontece que nem tudo sai como ele imaginava (claro!!!) e ao perceber que essas outras decisões também teriam suas consequências, o caos se instala na sua vida em diversas dimensões e suas interferências acabam virando uma bola de neve!!! - Nada muito original, mas interessante, não?
Acontece que "Se eu não tivesse te conhecido", produção catalã Original Netflix (de 10 episódios com 50 minutos cada) reuniu tudo o que existe de mais clichê em uma única série - na verdade, é um novelão! O over acting é tão presente em todos os personagens que qualquer possibilidade de imersão naquele realismo fantástico vai para o ralo. O primeiro episódio, sem brincadeira, são 40 minutos de lamentações para justificar uma coisa que seria tão natural: se sentir arrasado e sem esperanças após perder toda sua família em um acidente trágico! Não precisa alimentar esse sentimento mais do que 5 minutos, porque é óbvio que o personagem se sentiria assim, mas não, existe uma necessidade enorme de atingir a audiência com gatilhos emocionais completamente dispensáveis!!! Por exemplo: o desenho de som é terrível, a cada cena surge um violino depressivo tentando te fazer chorar... Eu não estou brincando, acho que a cada 2 minutos tem uma intervenção como essa, sem o menor sentido narrativo porque a história parece não te levar para frente nunca (ou pelo menos demora muito)! A produção também não ajuda, a qualidade oscila muito: as vezes temos planos lindos, com uma bela fotografia, uma qualidade cinematográfica incrível e logo em seguida uma cena que não consegue esconder que foi rodada em estúdio (ou na garagem de casa) - muito, mas muito, mal iluminada! Maquiagem e efeitos especiais dignos de Chapollin Colorado...
Mas tem gente que gosta de um dramalhão, então vamos dar algum crédito: os ganchos entre um episódio e outro são excelentes (por incrível que pareça). Se você estiver disposto a fechar os olhos para a qualidade estética e narrativa da série, por gostar do tema ou do gênero, é bem capaz que você consiga seguir por mais de um episódio. Sério, os ganchos são tão bons que me fizeram assistir 3 episódios seguidos mesmo com todas essas limitações. O problema é que o gancho não se sustenta quando começa o episódio, dois minutos e tudo vai para o lixo de novo, mas aí você se esforça, se permite, vem outro gancho bom e resolve ir para mais um episódio e assim vai feito um ciclo vicioso até que você diz: "Chega!"
Bom, se você gostou de "O Barco", você talvez se interesse pela série. Se você gostou de "Dark", não dê o play em hipótese alguma!!! Enfim, tudo é uma questão de gosto! Assista por conta e risco!!!
"Segurança em Jogo" (ou Bodyguard) é daquelas séries que chegam na Netflix e ninguém dá muita bola. Essa produção da BBC (inglesa) foi a mais assistida no Reino Unido nessa década. Seu último episódio teve uma audiência de pelo menos 17 milhões de pessoas e, mesmo assim, não tivemos nenhuma grande campanha de marketing para sua chegada no streaming aqui no Brasil. O cartaz que a Netflix escolheu é muito parecido com o de "Designer Survivor" que, mesmo sendo uma série razoável, não está entre as mais queridas e, certamente, não atrairia um grande público. Até o ator principal, Richard Madden, o finado Robb Stark, está irreconhecível - eu mesmo demorei muito para ligar o nome a pessoa! Ou seja, nada chama pra série - o que é um pecado!!!! Bom, disse tudo isso para afirmar que "Segurança em Jogo" é uma surpresa tão boa quanto "La Casa de Papel" (que também chegou quietinha).
Se você gostou de "Homeland", você já sabe qual série precisa maratonar - e você vai nos agradecer por isso! Veja o trailer:
David Budd (Richard Madden) é um veterano de guerra que agora trabalha para o Serviço de Polícia Metropolitano de Londres. Quando ele é designado para ser o guarda-costas da secretária do Ministério de Administração Interna do Reino Unido, cuja política representa tudo o que despreza, Budd se vê dividido entre seu dever como profissional e suas crenças como pessoa - mais ou menos como colocar o Jack Bauer para proteger o Donald Trump (rs)! Só por esse story line já seria possível imaginar o potencial da história e os conflitos que poderiam gerar, mas depois de você assistir a primeira sequência do piloto, vai ser impossível você não querer ir até o final.
Os primeiros 20 minutos são grandiosos, como poucas vezes eu vi em uma série. O diretor cria um ambiente de tensão digno dos melhores tempos de "24 horas". O interessante é que o ritmo pode até diminuir (o que é natural), mas nunca deixa de ser convidativo para continuar acompanhando a saga do protagonista. Claro que tem alguns elementos de gênero completamente batidos, mas quando você acha que a história entra na zona de conforto, vem uma virada que te tira do eixo - você vai saber do que eu estou falando!
É assim, um drama politico da melhor qualidade, muito bem produzido pela World Productions e, na minha opinião, mesmo com um protagonista parecendo um pouco canastrão em vários momentos, em nada prejudica a ótima experiência que é assistir "Segurança em Jogo". Roteiro bom, excelente direção, super-produção, fotografia linda e um destaque especial para a atuação da Keeley Hawes.
São 6 episódios de 55 minutos em média. Assista, porque é entretenimento de primeira!
"Segurança em Jogo" (ou Bodyguard) é daquelas séries que chegam na Netflix e ninguém dá muita bola. Essa produção da BBC (inglesa) foi a mais assistida no Reino Unido nessa década. Seu último episódio teve uma audiência de pelo menos 17 milhões de pessoas e, mesmo assim, não tivemos nenhuma grande campanha de marketing para sua chegada no streaming aqui no Brasil. O cartaz que a Netflix escolheu é muito parecido com o de "Designer Survivor" que, mesmo sendo uma série razoável, não está entre as mais queridas e, certamente, não atrairia um grande público. Até o ator principal, Richard Madden, o finado Robb Stark, está irreconhecível - eu mesmo demorei muito para ligar o nome a pessoa! Ou seja, nada chama pra série - o que é um pecado!!!! Bom, disse tudo isso para afirmar que "Segurança em Jogo" é uma surpresa tão boa quanto "La Casa de Papel" (que também chegou quietinha).
Se você gostou de "Homeland", você já sabe qual série precisa maratonar - e você vai nos agradecer por isso! Veja o trailer:
David Budd (Richard Madden) é um veterano de guerra que agora trabalha para o Serviço de Polícia Metropolitano de Londres. Quando ele é designado para ser o guarda-costas da secretária do Ministério de Administração Interna do Reino Unido, cuja política representa tudo o que despreza, Budd se vê dividido entre seu dever como profissional e suas crenças como pessoa - mais ou menos como colocar o Jack Bauer para proteger o Donald Trump (rs)! Só por esse story line já seria possível imaginar o potencial da história e os conflitos que poderiam gerar, mas depois de você assistir a primeira sequência do piloto, vai ser impossível você não querer ir até o final.
Os primeiros 20 minutos são grandiosos, como poucas vezes eu vi em uma série. O diretor cria um ambiente de tensão digno dos melhores tempos de "24 horas". O interessante é que o ritmo pode até diminuir (o que é natural), mas nunca deixa de ser convidativo para continuar acompanhando a saga do protagonista. Claro que tem alguns elementos de gênero completamente batidos, mas quando você acha que a história entra na zona de conforto, vem uma virada que te tira do eixo - você vai saber do que eu estou falando!
É assim, um drama politico da melhor qualidade, muito bem produzido pela World Productions e, na minha opinião, mesmo com um protagonista parecendo um pouco canastrão em vários momentos, em nada prejudica a ótima experiência que é assistir "Segurança em Jogo". Roteiro bom, excelente direção, super-produção, fotografia linda e um destaque especial para a atuação da Keeley Hawes.
São 6 episódios de 55 minutos em média. Assista, porque é entretenimento de primeira!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Uma minissérie à altura de seu protagonista! Assim é a tão esperada produção da Netflix, "Senna" - então amigo, "prepare o seu coração", porque você vai mergulhar em uma jornada de nostalgia, cheia de emoção e com uma qualidade técnica de se aplaudir de pé! Dirigida por Vicente Amorim (de "Santo") e Julia Rezende (de "Todo Dia a Mesma Noite"), "Senna" narra em seis episódios, com uma impressionante precisão, momentos marcantes da vida e da carreira do lendário piloto brasileiro, Ayrton Senna da Silva. Ambiciosa em sua essência, mas muito competente em sua realização, a minissérie busca capturar o espírito vencedor de um ícone que transcendeu o automobilismo e se tornou um símbolo de inspiração global. Escrita por Gustavo Bragança (de "Bom Dia, Verônica"), a produção combina a adrenalina das corridas de Fórmula 1 com um mergulho mais intimista sobre a vida do protagonista, explorando sua complexidade como atleta e como pessoa. Assim como produções biográficas de esportistas, de alto impacto pela sua dinâmica narrativa e visual, como "Rush", por exemplo; "Senna" é o retrato perfeito de um esportista tão admirado com um olhar profundamente humano - uma referência para um Brasil que não cansa de sentir saudades!
"Senna" se concentra nos anos mais marcantes da carreira de Ayrton (Gabriel Leone), desde sua infância, passando pela sua ida para correr na Inglaterra até sua ascensão nos circuitos de Fórmula 1. Com muita inteligência, a minissérie aborda tanto o lado público do piloto - suas rivalidades intensas, como com Alain Prost (Matt Mella), e as conquistas inesquecíveis nas pistas - quanto sua vida pessoal, marcada por dilemas, relações familiares e amorosas, além de sua busca incessante pela perfeição. A construção da narrativa é feita com cuidado para não apenas retratar os eventos históricos que já conhecemos, mas também revelar as motivações, as dúvidas e as crenças que moldaram o caráter desse eterno campeão. Confira o trailer:
A direção de Vicente Amorim e Julia Rezende chega até a ser surpreendente pela eficiência com que captura a grandiosidade das corridas sem perder de vista o valor humano de Ayrton. E aqui eu preciso citar dois pontos que fizeram toda diferença no resultado final: o trabalho de composição em CG, dos carros aos autódromos, feito sob a supervisão do craque Marcelo Siqueira - sério, é coisa de Hollywood! Além disso, a montagem da minissérie, utilizando diversos planos com aquelas câmeras mais dinâmicas, criativas, e closes realmente intensos, olha, coloca a audiência no cockpit junto com o piloto - sem brincadeira, não deixa nada a desejar perante o trabalho do Andrew Buckland e do Michael McCusker que ganharam o Oscar de Montagem por "Ford vs. Ferrari". As sequências das corridas, em Mônaco, no Japão e no Brasil, são visualmente arrebatadoras, transmitindo não só a velocidade, como o perigo e a precisão necessários para competir em um nível tão alto como Senna fazia. Ao mesmo tempo, também é preciso que se diga, a dupla de diretores acerta ao desacelerar a narrativa nos momentos de introspecção do Ayrton, oferecendo um retrato mais palpável como nunca vimos - a ênfase em seus valores, na sua espiritualidade e na relação com a família, é um golaço da minissérie!
O roteiro de Gustavo Bragança é equilibrado, destacando as conquistas de Senna sem cair na armadilha de glorificá-lo a todo custo de maneira unilateral - embora, diga-se de passagem, é muito difícil afastar o rótulo de "herói nacional" (e na boa, dane-se!). "Senna" usa o conceito linear para pontuar, capítulo a capítulos, seu crescimento profissional, mas não hesita em mostrar os aspectos mais controversos da personalidade do piloto, o que adiciona profundidade e autenticidade à narrativa. São seis pilares dessa dinâmica narrativa que ajudam a contar a história: Vocação, Determinação, Ambição, Paixão, Herói e Tempo. Somado a isso, ainda temos as cenas de arquivo e o tema da vitória, cirurgicamente inseridos dentro de um contexto todo especial para criar a sensação nostálgica dos anos 1990. É genial!
Sobre o elenco, o que dizer? Quase todos entregam performances sólidas, além de uma caracterização sensacional - Leone parece ter a voz de Ayrton, dado o seu cuidado com a forma com que o piloto se comunicava, sem falar em seu trabalho corporal. Mella, de perfil, é o Prost. E Pâmela Tomé, essa é a Xuxa mesmo (não é possível parecer tanto). Outra atriz que me chamou atenção foi Kaya Scodelario como a jornalista Laura - ela fala com o olhar, mesmo que para dizer o contrário que suas palavras. Ainda sobre Gabriel Leone - ele incorporou Senna com intensidade e carisma, e soube transmitir com muito respeito não apenas a habilidade técnica guiando um fórmula, mas também o magnetismo que cativou fãs ao redor do mundo quando dava qualquer tipo de declaração.
Alguns fãs (como esse que vos escreve) podem sentir que determinados aspectos da vida do piloto, como sua espiritualidade, algumas rivalidades (com Piquet, por exemplo), algumas corridas épicas (Donington Park de 93 ou Mônaco de 92), poderiam ter sido explorados com mais profundidade, é verdade - acho até que os bastidores após sua morte também merecia mais tempo de tela. Mas, no geral, é compreensível a escolha do time de criação em focar em momentos-chave sem correr o risco de se estender demais e assim perder o ritmo da narrativa - o que funcionou bem! "Senna" é uma minissérie que realmente honra o legado de Ayrton com um recorte emocionante e tecnicamente impecável - para fãs, imperdível. Para quem busca histórias inspiradoras ou que querem revisitar a trajetória de um herói nacional, Senna é uma obra tão essencial quanto deliciosa de assistir! Parabéns para Netflix, não decepcionou!
Vale demais o seu play!
Uma minissérie à altura de seu protagonista! Assim é a tão esperada produção da Netflix, "Senna" - então amigo, "prepare o seu coração", porque você vai mergulhar em uma jornada de nostalgia, cheia de emoção e com uma qualidade técnica de se aplaudir de pé! Dirigida por Vicente Amorim (de "Santo") e Julia Rezende (de "Todo Dia a Mesma Noite"), "Senna" narra em seis episódios, com uma impressionante precisão, momentos marcantes da vida e da carreira do lendário piloto brasileiro, Ayrton Senna da Silva. Ambiciosa em sua essência, mas muito competente em sua realização, a minissérie busca capturar o espírito vencedor de um ícone que transcendeu o automobilismo e se tornou um símbolo de inspiração global. Escrita por Gustavo Bragança (de "Bom Dia, Verônica"), a produção combina a adrenalina das corridas de Fórmula 1 com um mergulho mais intimista sobre a vida do protagonista, explorando sua complexidade como atleta e como pessoa. Assim como produções biográficas de esportistas, de alto impacto pela sua dinâmica narrativa e visual, como "Rush", por exemplo; "Senna" é o retrato perfeito de um esportista tão admirado com um olhar profundamente humano - uma referência para um Brasil que não cansa de sentir saudades!
"Senna" se concentra nos anos mais marcantes da carreira de Ayrton (Gabriel Leone), desde sua infância, passando pela sua ida para correr na Inglaterra até sua ascensão nos circuitos de Fórmula 1. Com muita inteligência, a minissérie aborda tanto o lado público do piloto - suas rivalidades intensas, como com Alain Prost (Matt Mella), e as conquistas inesquecíveis nas pistas - quanto sua vida pessoal, marcada por dilemas, relações familiares e amorosas, além de sua busca incessante pela perfeição. A construção da narrativa é feita com cuidado para não apenas retratar os eventos históricos que já conhecemos, mas também revelar as motivações, as dúvidas e as crenças que moldaram o caráter desse eterno campeão. Confira o trailer:
A direção de Vicente Amorim e Julia Rezende chega até a ser surpreendente pela eficiência com que captura a grandiosidade das corridas sem perder de vista o valor humano de Ayrton. E aqui eu preciso citar dois pontos que fizeram toda diferença no resultado final: o trabalho de composição em CG, dos carros aos autódromos, feito sob a supervisão do craque Marcelo Siqueira - sério, é coisa de Hollywood! Além disso, a montagem da minissérie, utilizando diversos planos com aquelas câmeras mais dinâmicas, criativas, e closes realmente intensos, olha, coloca a audiência no cockpit junto com o piloto - sem brincadeira, não deixa nada a desejar perante o trabalho do Andrew Buckland e do Michael McCusker que ganharam o Oscar de Montagem por "Ford vs. Ferrari". As sequências das corridas, em Mônaco, no Japão e no Brasil, são visualmente arrebatadoras, transmitindo não só a velocidade, como o perigo e a precisão necessários para competir em um nível tão alto como Senna fazia. Ao mesmo tempo, também é preciso que se diga, a dupla de diretores acerta ao desacelerar a narrativa nos momentos de introspecção do Ayrton, oferecendo um retrato mais palpável como nunca vimos - a ênfase em seus valores, na sua espiritualidade e na relação com a família, é um golaço da minissérie!
O roteiro de Gustavo Bragança é equilibrado, destacando as conquistas de Senna sem cair na armadilha de glorificá-lo a todo custo de maneira unilateral - embora, diga-se de passagem, é muito difícil afastar o rótulo de "herói nacional" (e na boa, dane-se!). "Senna" usa o conceito linear para pontuar, capítulo a capítulos, seu crescimento profissional, mas não hesita em mostrar os aspectos mais controversos da personalidade do piloto, o que adiciona profundidade e autenticidade à narrativa. São seis pilares dessa dinâmica narrativa que ajudam a contar a história: Vocação, Determinação, Ambição, Paixão, Herói e Tempo. Somado a isso, ainda temos as cenas de arquivo e o tema da vitória, cirurgicamente inseridos dentro de um contexto todo especial para criar a sensação nostálgica dos anos 1990. É genial!
Sobre o elenco, o que dizer? Quase todos entregam performances sólidas, além de uma caracterização sensacional - Leone parece ter a voz de Ayrton, dado o seu cuidado com a forma com que o piloto se comunicava, sem falar em seu trabalho corporal. Mella, de perfil, é o Prost. E Pâmela Tomé, essa é a Xuxa mesmo (não é possível parecer tanto). Outra atriz que me chamou atenção foi Kaya Scodelario como a jornalista Laura - ela fala com o olhar, mesmo que para dizer o contrário que suas palavras. Ainda sobre Gabriel Leone - ele incorporou Senna com intensidade e carisma, e soube transmitir com muito respeito não apenas a habilidade técnica guiando um fórmula, mas também o magnetismo que cativou fãs ao redor do mundo quando dava qualquer tipo de declaração.
Alguns fãs (como esse que vos escreve) podem sentir que determinados aspectos da vida do piloto, como sua espiritualidade, algumas rivalidades (com Piquet, por exemplo), algumas corridas épicas (Donington Park de 93 ou Mônaco de 92), poderiam ter sido explorados com mais profundidade, é verdade - acho até que os bastidores após sua morte também merecia mais tempo de tela. Mas, no geral, é compreensível a escolha do time de criação em focar em momentos-chave sem correr o risco de se estender demais e assim perder o ritmo da narrativa - o que funcionou bem! "Senna" é uma minissérie que realmente honra o legado de Ayrton com um recorte emocionante e tecnicamente impecável - para fãs, imperdível. Para quem busca histórias inspiradoras ou que querem revisitar a trajetória de um herói nacional, Senna é uma obra tão essencial quanto deliciosa de assistir! Parabéns para Netflix, não decepcionou!
Vale demais o seu play!