Se você gostou da série sensação de 2022, "O Urso"ou do sempre simpático "Chef", certamente você vai gostar desse drama estrelado pelo Bradley Cooper, chamado "Pegando Fogo". Embora o titulo esteja muito aquém do que a trama nos propõe, o filme talvez seja o exato "meio do caminho" entre as duas referências citadas, ou seja, ele não é nem uma comédia "deliciosa" ao melhor estilo "Sessão da Tarde", nem um drama denso e muito profundo que exija muitas reflexões ou nos impacte emocionalmente - eu diria que "Burnt" (no original) é um excelente entretenimento para quem gosta dos bastidores da gastronomia sem perder o charme de uma boa jornada de redenção!
O chefe de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper) já foi um dos mais respeitados em Paris, mas o envolvimento com álcool, mulheres e drogas fizeram com que sua carreira fosse ladeira abaixo. Após um período de isolamento em Nova Orleans, ele parte para Londres disposto a recomeçar e conquistar a tão sonhada terceira estrela Michelin. Para tanto ele conta com Tony (Daniel Brühl), que gerencia um restaurante na capital britânica, e com uma equipe de velhos conhecidos que podem ajudá-lo a vencer seus fantasmas e a provar que ainda é um grande chef. Confira o trailer:
Dirigido pelo competente John Wells (de "Maid") e com um elenco repleto de estrelas que vai do já citado Brühl, passando por Sienna Miller (como "Helena") e Omar Sy (como "Michel"), além de participações para lá de especiais de Emma Thompson, Uma Thurman e Alicia Vikander; "Pegando Fogo" é aquele tipo de filme que é muito difícil não gostar - todos os elementos dramáticos que o roteiro do Steven Knight (de "Coisas Belas e Sujas"e "Spencer") apresenta, imediatamente nos conectam com os personagens e com suas histórias. Obviamente que essas histórias estão carregadas de clichês, mas é justamente por isso um filme despretensioso se torna tão divertido.
Wells se aproveita de uma montagem extremamente ágil, mérito do Nick Moore (de "Rei dos Ladrões"), para nos transportar até aquela loucura que é uma cozinha de um grande restaurante ao mesmo tempo em que deixa Cooper fazer o que ele faz de melhor: ser um charmoso personagem cheio de marcas do passado que está em busca da felicidade - não por acaso as semelhanças entre o chef Adam Jones e o astro country, Jack, de "Nasce uma Estrela", são imensas. Se o roteiro de "Pegando Fogo" não tem a potência de "Nasce uma Estrela" (e de fato não tem), as sensações que as histórias geram são muito semelhantes, o que praticamente nos impede de não torcer para que tudo dê certo e que todos os personagens sejam felizes para sempre.
"Pegando Fogo" tem sim um arco dramático bastante familiar, embora com algumas boas surpresas no final do segundo ato. As subtramas não decolam como o esperado e por isso soam até dispensáveis. Por outro lado, é importante dizer: quando a trama está focada no seu eixo principal, tudo funciona perfeitamente - "forma" e "conteúdo" estão 100% alinhados à uma trilha sonora suave e sensível (do Rob Simonsen de "O Caminho de Volta") que vale o elogio. Agora, sem a pretensão de ser um filme inesquecível, mas cumprindo o seu papel como entretenimento, "Pegando Fogo" vale o seu play tranquilamente - tenho certeza que você vai gostar!
Se você gostou da série sensação de 2022, "O Urso"ou do sempre simpático "Chef", certamente você vai gostar desse drama estrelado pelo Bradley Cooper, chamado "Pegando Fogo". Embora o titulo esteja muito aquém do que a trama nos propõe, o filme talvez seja o exato "meio do caminho" entre as duas referências citadas, ou seja, ele não é nem uma comédia "deliciosa" ao melhor estilo "Sessão da Tarde", nem um drama denso e muito profundo que exija muitas reflexões ou nos impacte emocionalmente - eu diria que "Burnt" (no original) é um excelente entretenimento para quem gosta dos bastidores da gastronomia sem perder o charme de uma boa jornada de redenção!
O chefe de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper) já foi um dos mais respeitados em Paris, mas o envolvimento com álcool, mulheres e drogas fizeram com que sua carreira fosse ladeira abaixo. Após um período de isolamento em Nova Orleans, ele parte para Londres disposto a recomeçar e conquistar a tão sonhada terceira estrela Michelin. Para tanto ele conta com Tony (Daniel Brühl), que gerencia um restaurante na capital britânica, e com uma equipe de velhos conhecidos que podem ajudá-lo a vencer seus fantasmas e a provar que ainda é um grande chef. Confira o trailer:
Dirigido pelo competente John Wells (de "Maid") e com um elenco repleto de estrelas que vai do já citado Brühl, passando por Sienna Miller (como "Helena") e Omar Sy (como "Michel"), além de participações para lá de especiais de Emma Thompson, Uma Thurman e Alicia Vikander; "Pegando Fogo" é aquele tipo de filme que é muito difícil não gostar - todos os elementos dramáticos que o roteiro do Steven Knight (de "Coisas Belas e Sujas"e "Spencer") apresenta, imediatamente nos conectam com os personagens e com suas histórias. Obviamente que essas histórias estão carregadas de clichês, mas é justamente por isso um filme despretensioso se torna tão divertido.
Wells se aproveita de uma montagem extremamente ágil, mérito do Nick Moore (de "Rei dos Ladrões"), para nos transportar até aquela loucura que é uma cozinha de um grande restaurante ao mesmo tempo em que deixa Cooper fazer o que ele faz de melhor: ser um charmoso personagem cheio de marcas do passado que está em busca da felicidade - não por acaso as semelhanças entre o chef Adam Jones e o astro country, Jack, de "Nasce uma Estrela", são imensas. Se o roteiro de "Pegando Fogo" não tem a potência de "Nasce uma Estrela" (e de fato não tem), as sensações que as histórias geram são muito semelhantes, o que praticamente nos impede de não torcer para que tudo dê certo e que todos os personagens sejam felizes para sempre.
"Pegando Fogo" tem sim um arco dramático bastante familiar, embora com algumas boas surpresas no final do segundo ato. As subtramas não decolam como o esperado e por isso soam até dispensáveis. Por outro lado, é importante dizer: quando a trama está focada no seu eixo principal, tudo funciona perfeitamente - "forma" e "conteúdo" estão 100% alinhados à uma trilha sonora suave e sensível (do Rob Simonsen de "O Caminho de Volta") que vale o elogio. Agora, sem a pretensão de ser um filme inesquecível, mas cumprindo o seu papel como entretenimento, "Pegando Fogo" vale o seu play tranquilamente - tenho certeza que você vai gostar!
Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.
Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente!
"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!
Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.
"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!
Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.
Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente!
"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!
Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.
"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!
"Perdi Meu Corpo" (I Lost My Body) é, sem dúvida, a maior surpresa entre os cinco indicados à Melhor Animação do Oscar 2020. A animação francesa, distribuída pela Netflix, desbancou concorrentes de peso como "Frozen 2" e o "Rei Leão", mas chega com um enorme status de azarão na premiação - não pela falta de qualidade técnica ou narrativa, mas pelos próprios caminhos conceituais que o projeto escolheu - e põe conceitual nisso! Repare na premissa: o filme acompanha a jornada de uma "mão" em busca do corpo do qual ela fazia parte! Por mais bizarro que possa parecer, "Perdi Meu Corpo" aproveita essa jornada um tanto quanto peculiar para falar de escolhas, de destino e de auto-conhecimento, já que a história se passa em duas linhas temporais distintas: o presente, onde a protagonista é a "mão"; e o passado, onde o protagonista é Naoufel, um jovem, órfão, que se apaixona por Gabriella, uma garota que ele conheceu através do interfone de um prédio em Paris. É fácil deduzir que a "mão" é de Naoufel e que são as "memórias" que amarram a história, mas não sabemos se ele morreu, como ele perdeu a mão, o que aconteceu com seu pais, por que ele se tornou um garoto introspectivo, etc. "Perdi Meu Corpo" não é uma animação infantil (nem para a família como costumamos encontrar por aí), tem um tom independente bastante presente, quase experimental, e sua história é muito mais contemplativa do que dinâmica - e isso pode causar um certo estranhamento e quebrar um pouco a expectativa de quem assiste. Não é um filme que vai agradar a todos - ele é um drama com elementos bastante enraizados do cinema francês, só que em animação! Eu gostei, mas só assista se você se identificar com os elementos que comentei, se não você vai se decepcionar!
O visual da animação é incrível - parece um jogo de vídeo game, daqueles cults e muito bem desenvolvidos. A técnica da animação trás, ao mesmo tempo, o colorido e o monocromático, assim como o roteiro nos provoca a construir a história seguindo justamente esses signos! Os traços da animação 2D parecem sair das páginas de uma revista em quadrinhos, mesmo sendo um processo digital. A fotografia trabalha a iluminação e os enquadramentos lindamente, encaixando completamente com a sua estética - reparem nas cenas onde as memórias são mais antigas, preto e branco; como a sensação do preenchimento com a cor, dá lugar ao grafitado, quase que perfeitamente borrado, respeitando os limites do traço! Puxa, é lindo! A composição dos personagens tem uma forma mais caricaturada ao mesmo tempo em que nos perdemos no realismo de alguns movimentos - a "mão" é tão viva quanto qualquer outro personagem "desenhado" que está em cena!
É o primeiro longa-metragem do diretor Jérémy Clapin, um cara muito premiado com curtas de animação e é aí que eu acho que o filme dá uma vacilada - tenho a impressão que "Perdi Meu Corpo" poderia ser muito mais dinâmico, sem perder sua profundidade, se fosse um curta-metragem! O roteiro de Guillaume Laurant, um dos roteiristas do incrível "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é bom, trabalha bem os detalhes emocionais dos personagens (inclusive da "mão"), mas parece que não move muito a história para frente. São, basicamente, duas histórias distintas que funcionam muito bem sozinhas, que se unem no final, mas que não entrega algo que justifique a expectativa que o próprio filme vai criando - não sei, me parece que faltou um desfecho que impactasse mais! Pessoalmente, a escolha do final me incomodou um pouco, mas entendo a razão, principalmente por se tratar de uma animação. Não quero me alongar muito para não sugerir algum "spoiler", mas reparem como a dramaticidade poderia ter sido maior tanto para "mão" quanto para Naoufel se a escolha fosse "a" outra - e se encaixaria perfeitamente com as memórias e toda aquela sensação de culpa que o protagonista sempre carregou.
"Perdi Meu Corpo" merece estar na disputa da categoria, mas seu aspecto técnico deve ter pesado bastante. Essa animação é diferente, tem uma identidade forte e uma arco principal bem particular - como foi o "Menino e o Mundo" em 2016, inclusive! Justamente por isso acredito que seu maior prêmio foi a indicação! O filme é bom e tem uma mistura de emoções bem equilibrada: do romance adolescente de Naoufel com Gabrielle, da angustia e tensão da jornada surreal e cheia de aventuras da "mão" até o drama mais sentimental e reflexivo da vida do protagonista! Pode ter certeza que vale o pouco mais de uma hora de filme!
"Perdi Meu Corpo" (I Lost My Body) é, sem dúvida, a maior surpresa entre os cinco indicados à Melhor Animação do Oscar 2020. A animação francesa, distribuída pela Netflix, desbancou concorrentes de peso como "Frozen 2" e o "Rei Leão", mas chega com um enorme status de azarão na premiação - não pela falta de qualidade técnica ou narrativa, mas pelos próprios caminhos conceituais que o projeto escolheu - e põe conceitual nisso! Repare na premissa: o filme acompanha a jornada de uma "mão" em busca do corpo do qual ela fazia parte! Por mais bizarro que possa parecer, "Perdi Meu Corpo" aproveita essa jornada um tanto quanto peculiar para falar de escolhas, de destino e de auto-conhecimento, já que a história se passa em duas linhas temporais distintas: o presente, onde a protagonista é a "mão"; e o passado, onde o protagonista é Naoufel, um jovem, órfão, que se apaixona por Gabriella, uma garota que ele conheceu através do interfone de um prédio em Paris. É fácil deduzir que a "mão" é de Naoufel e que são as "memórias" que amarram a história, mas não sabemos se ele morreu, como ele perdeu a mão, o que aconteceu com seu pais, por que ele se tornou um garoto introspectivo, etc. "Perdi Meu Corpo" não é uma animação infantil (nem para a família como costumamos encontrar por aí), tem um tom independente bastante presente, quase experimental, e sua história é muito mais contemplativa do que dinâmica - e isso pode causar um certo estranhamento e quebrar um pouco a expectativa de quem assiste. Não é um filme que vai agradar a todos - ele é um drama com elementos bastante enraizados do cinema francês, só que em animação! Eu gostei, mas só assista se você se identificar com os elementos que comentei, se não você vai se decepcionar!
O visual da animação é incrível - parece um jogo de vídeo game, daqueles cults e muito bem desenvolvidos. A técnica da animação trás, ao mesmo tempo, o colorido e o monocromático, assim como o roteiro nos provoca a construir a história seguindo justamente esses signos! Os traços da animação 2D parecem sair das páginas de uma revista em quadrinhos, mesmo sendo um processo digital. A fotografia trabalha a iluminação e os enquadramentos lindamente, encaixando completamente com a sua estética - reparem nas cenas onde as memórias são mais antigas, preto e branco; como a sensação do preenchimento com a cor, dá lugar ao grafitado, quase que perfeitamente borrado, respeitando os limites do traço! Puxa, é lindo! A composição dos personagens tem uma forma mais caricaturada ao mesmo tempo em que nos perdemos no realismo de alguns movimentos - a "mão" é tão viva quanto qualquer outro personagem "desenhado" que está em cena!
É o primeiro longa-metragem do diretor Jérémy Clapin, um cara muito premiado com curtas de animação e é aí que eu acho que o filme dá uma vacilada - tenho a impressão que "Perdi Meu Corpo" poderia ser muito mais dinâmico, sem perder sua profundidade, se fosse um curta-metragem! O roteiro de Guillaume Laurant, um dos roteiristas do incrível "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é bom, trabalha bem os detalhes emocionais dos personagens (inclusive da "mão"), mas parece que não move muito a história para frente. São, basicamente, duas histórias distintas que funcionam muito bem sozinhas, que se unem no final, mas que não entrega algo que justifique a expectativa que o próprio filme vai criando - não sei, me parece que faltou um desfecho que impactasse mais! Pessoalmente, a escolha do final me incomodou um pouco, mas entendo a razão, principalmente por se tratar de uma animação. Não quero me alongar muito para não sugerir algum "spoiler", mas reparem como a dramaticidade poderia ter sido maior tanto para "mão" quanto para Naoufel se a escolha fosse "a" outra - e se encaixaria perfeitamente com as memórias e toda aquela sensação de culpa que o protagonista sempre carregou.
"Perdi Meu Corpo" merece estar na disputa da categoria, mas seu aspecto técnico deve ter pesado bastante. Essa animação é diferente, tem uma identidade forte e uma arco principal bem particular - como foi o "Menino e o Mundo" em 2016, inclusive! Justamente por isso acredito que seu maior prêmio foi a indicação! O filme é bom e tem uma mistura de emoções bem equilibrada: do romance adolescente de Naoufel com Gabrielle, da angustia e tensão da jornada surreal e cheia de aventuras da "mão" até o drama mais sentimental e reflexivo da vida do protagonista! Pode ter certeza que vale o pouco mais de uma hora de filme!
“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!
O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:
Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, “Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!
A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!
Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!
Observações:
1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!
2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!
“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!
O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:
Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, “Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!
A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!
Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!
Observações:
1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!
2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!
Essa versão de "Pinóquio" feita em animação stop-motion pelo diretor Guillermo del Toro é uma graça! Além de uma estética espetacular (com uma técnica que mistura o artesanal da animação com composições em CGI de cair o queixo), o roteiro ainda explora temas delicados e relevantes sobre relações familiares, politica, bullying, luto e, claro, sobre a importância de aceitar as diferenças. Lindo como uma poesia visual, "Pinocchio" (no original - que ainda leva o nome de Del Toro em seu título para deixar claro sua chancela), na minha opinião, é a melhor animação de 2022 e com potencial de ser bastante celebrada na temporada de premiações.
Situada nos anos 1930, na Itália facista da Segunda Guerra, acompanhamos a jornada de um pai solitário, Geppetto (David Bradley), e seu desejo em dar vida para um boneco de madeira na tentativa de suprir a saudade de seu filho recém falecido. Com a ajuda dos espíritos mágicos, Pinóquio (Gregory Mann) ganha vida, porém sua condição cria uma atmosfera de confusão por ser tão diferente das outras crianças e pelo seu desejo de ser amado pelo pai. Quando Pinóquio foge de casa buscando encontrar seu lugar no mundo, ele se depara com uma série de perigos em uma aventura que vai muito além do clássico de Carlo Collodi. Confira o trailer:
Ao lado de Mark Gustafson (de "The PJs" e "Claymation Easter"), Del Toro busca discutir a relação entre pai e filho deixando de lado aquele tom de "conto de fadas" (eternizada pela versão Disney de 1940) em prol de uma narrativa mais contemporânea no seu contexto, onde mesmo em um universo de fantasia, ainda constrói uma trama com o intuito de gerar identificação de uma forma mais palpável, transportando para Geppetto a responsabilidade de lidar com suas escolhas - seja em uma posição de super proteção afetiva ao tentar impedir que Pinóquio se conecte com o mundo e sofra por ser diferente, seja se resguardar para não perder a própria reputação diante dessa mesma "diferença".
Obviamente que é possível encontrar na adaptação, muito do que já conhecemos da obra clássica de Collodi - principalmente no que diz respeito ao arquétipo da inocência em sua forma mais pura e em que condições o meio é capaz de tornar essa inocência influenciável. É muito interessante como Del Toro e Gustafson vão criando camadas muito mais profundas nos personagens secundários que ajudam a moldar a personalidade do protagonista a partir das lições aprendidas por ele durante a jornada - essa dinâmica cria um caráter menos infantil ao roteiro, promovendo uma experiência única que, eu diria, impacta mais os pais do que os filhos. Não serão raros os momentos em que você vai se pegar refletindo sobre a maneira como você se relaciona com seu filho e como isso poderia impactar em suas escolhas futuras.
Mesmo apresentado como um musical, "Pinóquio" é muito mais Pixar do que Disney, ou seja, o que vale é o que está sendo falado - as (poucas) performances musicais funcionam muito mais como uma ferramenta de gatilho emocional do que propriamente como uma estratégia narrativa que vai conduzir a trama até o seu final. Mesmo sem essa responsabilidade, as músicas são realmente lindas e acredite, a trilha sonora assinada por Alexandre Desplat, é só um dos vários elementos técnicos e artísticos que chegam como forte concorrente ao próximo Oscar - pode anotar!
Vale muito a pena!
Up-date: "Pinóquio" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Animação"!
Essa versão de "Pinóquio" feita em animação stop-motion pelo diretor Guillermo del Toro é uma graça! Além de uma estética espetacular (com uma técnica que mistura o artesanal da animação com composições em CGI de cair o queixo), o roteiro ainda explora temas delicados e relevantes sobre relações familiares, politica, bullying, luto e, claro, sobre a importância de aceitar as diferenças. Lindo como uma poesia visual, "Pinocchio" (no original - que ainda leva o nome de Del Toro em seu título para deixar claro sua chancela), na minha opinião, é a melhor animação de 2022 e com potencial de ser bastante celebrada na temporada de premiações.
Situada nos anos 1930, na Itália facista da Segunda Guerra, acompanhamos a jornada de um pai solitário, Geppetto (David Bradley), e seu desejo em dar vida para um boneco de madeira na tentativa de suprir a saudade de seu filho recém falecido. Com a ajuda dos espíritos mágicos, Pinóquio (Gregory Mann) ganha vida, porém sua condição cria uma atmosfera de confusão por ser tão diferente das outras crianças e pelo seu desejo de ser amado pelo pai. Quando Pinóquio foge de casa buscando encontrar seu lugar no mundo, ele se depara com uma série de perigos em uma aventura que vai muito além do clássico de Carlo Collodi. Confira o trailer:
Ao lado de Mark Gustafson (de "The PJs" e "Claymation Easter"), Del Toro busca discutir a relação entre pai e filho deixando de lado aquele tom de "conto de fadas" (eternizada pela versão Disney de 1940) em prol de uma narrativa mais contemporânea no seu contexto, onde mesmo em um universo de fantasia, ainda constrói uma trama com o intuito de gerar identificação de uma forma mais palpável, transportando para Geppetto a responsabilidade de lidar com suas escolhas - seja em uma posição de super proteção afetiva ao tentar impedir que Pinóquio se conecte com o mundo e sofra por ser diferente, seja se resguardar para não perder a própria reputação diante dessa mesma "diferença".
Obviamente que é possível encontrar na adaptação, muito do que já conhecemos da obra clássica de Collodi - principalmente no que diz respeito ao arquétipo da inocência em sua forma mais pura e em que condições o meio é capaz de tornar essa inocência influenciável. É muito interessante como Del Toro e Gustafson vão criando camadas muito mais profundas nos personagens secundários que ajudam a moldar a personalidade do protagonista a partir das lições aprendidas por ele durante a jornada - essa dinâmica cria um caráter menos infantil ao roteiro, promovendo uma experiência única que, eu diria, impacta mais os pais do que os filhos. Não serão raros os momentos em que você vai se pegar refletindo sobre a maneira como você se relaciona com seu filho e como isso poderia impactar em suas escolhas futuras.
Mesmo apresentado como um musical, "Pinóquio" é muito mais Pixar do que Disney, ou seja, o que vale é o que está sendo falado - as (poucas) performances musicais funcionam muito mais como uma ferramenta de gatilho emocional do que propriamente como uma estratégia narrativa que vai conduzir a trama até o seu final. Mesmo sem essa responsabilidade, as músicas são realmente lindas e acredite, a trilha sonora assinada por Alexandre Desplat, é só um dos vários elementos técnicos e artísticos que chegam como forte concorrente ao próximo Oscar - pode anotar!
Vale muito a pena!
Up-date: "Pinóquio" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Animação"!
"Playbook", série documental da Netflix que recebeu o subtítulo de "Estratégias para Vencer" é uma das coisas mais bacanas que assisti em 2020! Para quem gosta de esporte ou empreendedorismo, esse material é quase indispensável - pela sua qualidade didática e, principalmente, pela forma natural como cada um dos personagens contam suas respectivas histórias e codificam os aprendizados mais marcantes da carreira até chegar ao sucesso!
Doc Rivers, técnico do Los Angels Clippers da NBA; Jill Ellis, técnica da seleção americana de futebol feminino; José Mourinho, hoje técnico do Tottenham; Patrick Mouratoglou, técnico da tenista Serena Williams e, finalmente, Dawn Staley, treinadora da seleção feminina de basquete dos EUA; contam em episódios de 30 minutos, quais foram suas principais estratégias que ajudaram colocar os times e atletas que treinaram na elite do esporte. Confira o trailer e veja o que te espera:
Desde que o técnico Bernardinho trouxe para o Brasil (ao lado da editora Sextante) a coleção "Na Vida como no Esporte" em 2009 venho acompanhando os conceitos, princípios e valores que grandes atletas e treinadores pautaram suas trajetórias, talvez por isso que "Palybook" tenha me conquistado com tanta facilidade. A série equilibra depoimentos dos treinadores com imagens de arquivo que ilustram o assunto que está sendo discutido. Como na coleção da Sextante, alguns ensinamentos são destacados e servem de fio condutor para uma narrativa dinâmica, motivadora (sem ser piegas) e, muitas vezes, emocionantes. Tenha certeza que você vai encontrar muito além do que apenas uma personalidade do esporte contando suas façanhas - é o lado humano, palpável, muitas vezes frágil, que transformam essa série em algo imperdível e, claro, irretocável!
"Playbook - Estratégias para Vencer" é mais um grande trabalho do diretor e produtor executivo John Henion - que já esteve envolvido com outro grande sucesso: "Chefs Table". Produzida pela Boardwalk Pictures, Delirio Films e SpringHill Enternaiment, a série contou com um total de 24 produtores, entre eles, LeBron James, o que notadamente imprime um valor histórico, artístico e técnico, impressionantes para a produção. O roteiro equilibra tão bem o didatismo de como cada um deles valoriza o processo de preparação, a importância do espirito de equipe, da determinação permanente, ao mesmo tempo que expõe, sem qualquer receio, as preocupações perante as armadilhas do sucesso e a forma como lidam com as derrotas mais dolorosas.
Alguns episódios traduzem exatamente o perfil midiático do treinador - é o caso do José Mourinho, por exemplo. Porém a quebra de expectativa ao mostrar o lado humano do treinador é tão grande que parece não se tratar da mesma pessoa. Essa estratégia narrativa é tão divertida como emocionante! Outro episódio que te tira o chão é o da Jill Ellis - simplesmente incrível como ela foi capaz de expor suas fragilidades ao mesmo tempo em que contava os detalhes da construção da sua trajetória como treinadora. A verdade é que a série traz a informalidade de um papo de boteco com a seriedade e profundidade de uma palestra caríssima desses mesmos treinadores.
Lições como “Nunca se faça de vítima”, “Seja verdadeiro com você mesmo”, “Algumas regras foram feitas para serem quebradas”, “Nunca tenha medo de ser demitido”, “O que está atrasado não significa que foi negado. Tenha fé”, parecem ter saído de uma obra barata de auto-ajuda, mas te garanto: todos os pontos são tão bem embasados, ilustrados e explicados que fazem todo sentido dentro do contexto que a série se propõe a entregar - e funciona muito bem! Por isso, como já comentei, coloco "Playbook" como mais uma agradável surpresa desse ano e espero, do fundo do coração, que tenhamos muitas outras temporadas! Essa primeira, por exemplo, é para assistir em uma sentada só: são 5 episódios de 30 minutos que você nem vai sentir passar! Não perca tempo!
"Playbook", série documental da Netflix que recebeu o subtítulo de "Estratégias para Vencer" é uma das coisas mais bacanas que assisti em 2020! Para quem gosta de esporte ou empreendedorismo, esse material é quase indispensável - pela sua qualidade didática e, principalmente, pela forma natural como cada um dos personagens contam suas respectivas histórias e codificam os aprendizados mais marcantes da carreira até chegar ao sucesso!
Doc Rivers, técnico do Los Angels Clippers da NBA; Jill Ellis, técnica da seleção americana de futebol feminino; José Mourinho, hoje técnico do Tottenham; Patrick Mouratoglou, técnico da tenista Serena Williams e, finalmente, Dawn Staley, treinadora da seleção feminina de basquete dos EUA; contam em episódios de 30 minutos, quais foram suas principais estratégias que ajudaram colocar os times e atletas que treinaram na elite do esporte. Confira o trailer e veja o que te espera:
Desde que o técnico Bernardinho trouxe para o Brasil (ao lado da editora Sextante) a coleção "Na Vida como no Esporte" em 2009 venho acompanhando os conceitos, princípios e valores que grandes atletas e treinadores pautaram suas trajetórias, talvez por isso que "Palybook" tenha me conquistado com tanta facilidade. A série equilibra depoimentos dos treinadores com imagens de arquivo que ilustram o assunto que está sendo discutido. Como na coleção da Sextante, alguns ensinamentos são destacados e servem de fio condutor para uma narrativa dinâmica, motivadora (sem ser piegas) e, muitas vezes, emocionantes. Tenha certeza que você vai encontrar muito além do que apenas uma personalidade do esporte contando suas façanhas - é o lado humano, palpável, muitas vezes frágil, que transformam essa série em algo imperdível e, claro, irretocável!
"Playbook - Estratégias para Vencer" é mais um grande trabalho do diretor e produtor executivo John Henion - que já esteve envolvido com outro grande sucesso: "Chefs Table". Produzida pela Boardwalk Pictures, Delirio Films e SpringHill Enternaiment, a série contou com um total de 24 produtores, entre eles, LeBron James, o que notadamente imprime um valor histórico, artístico e técnico, impressionantes para a produção. O roteiro equilibra tão bem o didatismo de como cada um deles valoriza o processo de preparação, a importância do espirito de equipe, da determinação permanente, ao mesmo tempo que expõe, sem qualquer receio, as preocupações perante as armadilhas do sucesso e a forma como lidam com as derrotas mais dolorosas.
Alguns episódios traduzem exatamente o perfil midiático do treinador - é o caso do José Mourinho, por exemplo. Porém a quebra de expectativa ao mostrar o lado humano do treinador é tão grande que parece não se tratar da mesma pessoa. Essa estratégia narrativa é tão divertida como emocionante! Outro episódio que te tira o chão é o da Jill Ellis - simplesmente incrível como ela foi capaz de expor suas fragilidades ao mesmo tempo em que contava os detalhes da construção da sua trajetória como treinadora. A verdade é que a série traz a informalidade de um papo de boteco com a seriedade e profundidade de uma palestra caríssima desses mesmos treinadores.
Lições como “Nunca se faça de vítima”, “Seja verdadeiro com você mesmo”, “Algumas regras foram feitas para serem quebradas”, “Nunca tenha medo de ser demitido”, “O que está atrasado não significa que foi negado. Tenha fé”, parecem ter saído de uma obra barata de auto-ajuda, mas te garanto: todos os pontos são tão bem embasados, ilustrados e explicados que fazem todo sentido dentro do contexto que a série se propõe a entregar - e funciona muito bem! Por isso, como já comentei, coloco "Playbook" como mais uma agradável surpresa desse ano e espero, do fundo do coração, que tenhamos muitas outras temporadas! Essa primeira, por exemplo, é para assistir em uma sentada só: são 5 episódios de 30 minutos que você nem vai sentir passar! Não perca tempo!
"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!
David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):
Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.
Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão.
Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.
Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!
"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!
David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):
Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.
Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão.
Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.
Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!
Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!
Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:
É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!
Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista!
Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).
"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!
Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!
Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:
É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!
Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista!
Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).
"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!
Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!
A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):
Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.
Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.
Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.
Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.
Vale muito o seu play!
"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!
A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):
Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.
Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.
Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.
Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.
Vale muito o seu play!
O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit.
"Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!
Através de um simples questionário de personalidade, a Cambridge Analytica se aproveitou de uma permissão especial do Facebook que dava acesso ao app para coletar não apenas os dados das pessoas que participavam do quiz, mas também os dados de todos os amigos dela - se você nunca respondeu um quiz, mas algum amigo já fez, seus dados também foram roubados sem você saber! Com essa enorme base de dados, a empresa inglesa, através do seu criador e CEO, Alexander Nix, negociava informações e estratégias de campanha com políticos em troca de enormes quantias de dinheiro. Imagina que cada perfil se baseava em 5 mil pontos de análise! Tudo começa a desmoronar quando dois ex-funcionários da Cambridge Analytica vão à público para desmascarar as estratégias de manipulação que eram criadas com essa quantidade absurda de dados. Christopher Wylie e Brittany Kaiser foram fundamentais na investigação feita pela jornalista do The Guardian, e finalista do Pulitzer,Carole Cadwalladr. Cadwalladr, ao lado do professor David Carroll, costuram todas essas informações com ajuda de muitas inserções gráficas e reportagens da época. Com isso, a narrativa fica mais dinâmica, fluida, mas ainda difícil de entender as pequenas nuances apresentadas por eles. Na minha visão, um dos fatores que colaboram com essa confusão é a ambiguidade de Brittany Kaiser - alta executiva da Cambridge Analytica, Kaiser parece viver em uma eterna colônia de férias e mesmo ajudando (e muito) nas investigações, sua postura acaba criando um certo distanciamento do seu propósito perante as autoridades e até perante os jornalistas - e o documentário faz uma força enorme para não acharmos que ela tem alguma culpa em toda história!
"Privacidade Hackeada" é aquele típico documentário que definimos como "mal necessário", pelo seu conteúdo, pela exposição de um assunto tão sério e pela força dos personagens envolvidos; mas peca ao definir quem são os bandidos e que são os mocinhos logo de cara, impedindo assim que a audiência reflita sobre os fatos e tirem suas próprias conclusões. A verdade é que somos levados à acreditar que tudo está perdido, sem ao menos ouvir o outro lado. Quando aos diretores Karim Amer e Jehane Noujaim (indicados ao Oscar de 2013 por "The Square") mostram Carole Cadwalladr citando, em sua apresentação no TED (sim, isso ainda é uma validação de "personalidade"), nomes como Sheryl Sandberg, Larry Page e Sergey Brin (entre outros) quase que intimando cada um deles a mostrar o rosto e discutir sobre o assunto, e depois não publica nenhuma resposta ou ponto de vista deles (o que certamente deve existir em uma fonte confiável), dá-se a impressão que todos são farinha do mesmo saco do Alexander Nix - e isso é muito ruim para uma obra que deveria ser imparcial. Enfim, o documentário é muito bom, super bem produzido, bem amarrado, mas derrapa nesses detalhes. Vale o play e vale a reflexão!
O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit.
"Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!
Através de um simples questionário de personalidade, a Cambridge Analytica se aproveitou de uma permissão especial do Facebook que dava acesso ao app para coletar não apenas os dados das pessoas que participavam do quiz, mas também os dados de todos os amigos dela - se você nunca respondeu um quiz, mas algum amigo já fez, seus dados também foram roubados sem você saber! Com essa enorme base de dados, a empresa inglesa, através do seu criador e CEO, Alexander Nix, negociava informações e estratégias de campanha com políticos em troca de enormes quantias de dinheiro. Imagina que cada perfil se baseava em 5 mil pontos de análise! Tudo começa a desmoronar quando dois ex-funcionários da Cambridge Analytica vão à público para desmascarar as estratégias de manipulação que eram criadas com essa quantidade absurda de dados. Christopher Wylie e Brittany Kaiser foram fundamentais na investigação feita pela jornalista do The Guardian, e finalista do Pulitzer,Carole Cadwalladr. Cadwalladr, ao lado do professor David Carroll, costuram todas essas informações com ajuda de muitas inserções gráficas e reportagens da época. Com isso, a narrativa fica mais dinâmica, fluida, mas ainda difícil de entender as pequenas nuances apresentadas por eles. Na minha visão, um dos fatores que colaboram com essa confusão é a ambiguidade de Brittany Kaiser - alta executiva da Cambridge Analytica, Kaiser parece viver em uma eterna colônia de férias e mesmo ajudando (e muito) nas investigações, sua postura acaba criando um certo distanciamento do seu propósito perante as autoridades e até perante os jornalistas - e o documentário faz uma força enorme para não acharmos que ela tem alguma culpa em toda história!
"Privacidade Hackeada" é aquele típico documentário que definimos como "mal necessário", pelo seu conteúdo, pela exposição de um assunto tão sério e pela força dos personagens envolvidos; mas peca ao definir quem são os bandidos e que são os mocinhos logo de cara, impedindo assim que a audiência reflita sobre os fatos e tirem suas próprias conclusões. A verdade é que somos levados à acreditar que tudo está perdido, sem ao menos ouvir o outro lado. Quando aos diretores Karim Amer e Jehane Noujaim (indicados ao Oscar de 2013 por "The Square") mostram Carole Cadwalladr citando, em sua apresentação no TED (sim, isso ainda é uma validação de "personalidade"), nomes como Sheryl Sandberg, Larry Page e Sergey Brin (entre outros) quase que intimando cada um deles a mostrar o rosto e discutir sobre o assunto, e depois não publica nenhuma resposta ou ponto de vista deles (o que certamente deve existir em uma fonte confiável), dá-se a impressão que todos são farinha do mesmo saco do Alexander Nix - e isso é muito ruim para uma obra que deveria ser imparcial. Enfim, o documentário é muito bom, super bem produzido, bem amarrado, mas derrapa nesses detalhes. Vale o play e vale a reflexão!
"Professor Polvo" é um filme sobre conexão, sobre a maravilhosa relação com o desconhecido e o entendimento que cada ser vivo desse planeta tem um lugar importante dentro da natureza - sim, pode parecer papo de professor de biologia, mas pare e reflita: o que de tão espectacular pode existir em um documentário sobre um homem que mergulha todo dia para se encontrar com um polvo? Pode ter certeza que essa resposta está no seu "play" - existe verdade, sensações, sentimentos e, claro, a chancela de saber que esse mesmo documentário é um dos favoritos para levar o Oscar 2021 da categoria! Mas o filme é, de fato, incrível!
“Professor Polvo” é dirigido e roteirizado por Pippa Ehrlich (em seu primeiro documentário) e por James Reed (de “Jago: Uma Vida no Mar“) e conta a jornada de Craig Foster, cineasta, amante dos oceanos e conservacionista marinho. Enquanto passava por um período de dificuldades profissionais e de depressão pessoal, Foster começou a mergulhar na costa da Cidade do Cabo, na África do Sul, em busca de isolamento e paz, foi a partir daí que ele passou acompanhar e se relacionar, por quase um ano, com um polvo. Acompanhamos essa história pelo seu próprio ponto de vista e pelas imagens que ele mesmo gravou na época. Do contato inusitado com o molusco ao longo do tempo às reflexões que essa experiência acabou provocando em Foster, percebemos com muita sensibilidade as mudanças na sua vida e como essa conexão transformou a maneira como ele encarava seus problemas. Confira o trailer:
Pelo trailer já fica fácil perceber que o primeiro elemento que salta aos olhos é a qualidade cinematográfica das imagens feitas, tanto por Craig Foster quanto por Ehrlich e Reed - principalmente as subaquáticas. São planos bem trabalhados, uma combinação de cores e texturas que impressionam pela beleza. A fotografia como um todo é de cair o queixo, reparem.
Outro ponto, claro, é o roteiro - ele amarra perfeitamente a história com motivações coerentes com a proposta e consegue criar uma conexão emocional próxima daquela que o protagonista experienciou - é impressionante como passamos a torcer e a nos angustiar com um "polvo" no fundo do mar! Embora a montagem sugira uma certa manipulação emocional, com uma linda trilha sonora de Kevin Smuts, em momento algum nos sentimos enganados por isso - o que vemos e sentimos, está de acordo com o propósito do filme e de quanto isso era importante para Foster.
Eu não sou uma pessoa tão ligado a natureza a ponto de achar “Professor Polvo” um documentário inesquecível, porém não posso deixar de ressaltar o quanto essa história me tocou! Pode acreditar, é um trabalho de uma delicadeza enorme. A força de vontade de Craig em acompanhar o polvo e de nos contar cada detalhe dessa jornada, faz parecer mentira como essa constância foi capaz de construir uma relação que nos toca de verdade - só por isso já vale muito mais do que nossa atenção.
A verdade é que “Professor Polvo” conta uma história completamente inimaginável que prova como a vida pode ser assustadoramente selvagem, profundamente sensível e capaz de impactar tantas pessoas com um sentimento que para muitos soa impossível. Olha, vale muito a pena! Faz bem para alma e para o coração!
"Professor Polvo" é um filme sobre conexão, sobre a maravilhosa relação com o desconhecido e o entendimento que cada ser vivo desse planeta tem um lugar importante dentro da natureza - sim, pode parecer papo de professor de biologia, mas pare e reflita: o que de tão espectacular pode existir em um documentário sobre um homem que mergulha todo dia para se encontrar com um polvo? Pode ter certeza que essa resposta está no seu "play" - existe verdade, sensações, sentimentos e, claro, a chancela de saber que esse mesmo documentário é um dos favoritos para levar o Oscar 2021 da categoria! Mas o filme é, de fato, incrível!
“Professor Polvo” é dirigido e roteirizado por Pippa Ehrlich (em seu primeiro documentário) e por James Reed (de “Jago: Uma Vida no Mar“) e conta a jornada de Craig Foster, cineasta, amante dos oceanos e conservacionista marinho. Enquanto passava por um período de dificuldades profissionais e de depressão pessoal, Foster começou a mergulhar na costa da Cidade do Cabo, na África do Sul, em busca de isolamento e paz, foi a partir daí que ele passou acompanhar e se relacionar, por quase um ano, com um polvo. Acompanhamos essa história pelo seu próprio ponto de vista e pelas imagens que ele mesmo gravou na época. Do contato inusitado com o molusco ao longo do tempo às reflexões que essa experiência acabou provocando em Foster, percebemos com muita sensibilidade as mudanças na sua vida e como essa conexão transformou a maneira como ele encarava seus problemas. Confira o trailer:
Pelo trailer já fica fácil perceber que o primeiro elemento que salta aos olhos é a qualidade cinematográfica das imagens feitas, tanto por Craig Foster quanto por Ehrlich e Reed - principalmente as subaquáticas. São planos bem trabalhados, uma combinação de cores e texturas que impressionam pela beleza. A fotografia como um todo é de cair o queixo, reparem.
Outro ponto, claro, é o roteiro - ele amarra perfeitamente a história com motivações coerentes com a proposta e consegue criar uma conexão emocional próxima daquela que o protagonista experienciou - é impressionante como passamos a torcer e a nos angustiar com um "polvo" no fundo do mar! Embora a montagem sugira uma certa manipulação emocional, com uma linda trilha sonora de Kevin Smuts, em momento algum nos sentimos enganados por isso - o que vemos e sentimos, está de acordo com o propósito do filme e de quanto isso era importante para Foster.
Eu não sou uma pessoa tão ligado a natureza a ponto de achar “Professor Polvo” um documentário inesquecível, porém não posso deixar de ressaltar o quanto essa história me tocou! Pode acreditar, é um trabalho de uma delicadeza enorme. A força de vontade de Craig em acompanhar o polvo e de nos contar cada detalhe dessa jornada, faz parecer mentira como essa constância foi capaz de construir uma relação que nos toca de verdade - só por isso já vale muito mais do que nossa atenção.
A verdade é que “Professor Polvo” conta uma história completamente inimaginável que prova como a vida pode ser assustadoramente selvagem, profundamente sensível e capaz de impactar tantas pessoas com um sentimento que para muitos soa impossível. Olha, vale muito a pena! Faz bem para alma e para o coração!
Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".
Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:
Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.
Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.
Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.
Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos.
Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".
Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:
Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.
Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.
Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.
Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos.
De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
Será preciso ter estômago para assistir esse documentário da Netflix graças, mais uma vez, a ganância humana que em troca de um bônus polpudo é capaz de colocar a vida de centenas (para não dizer milhões) de pessoas em risco. "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" vai além das investigações de dois acidentes aéreos com aviões da empresa, o filme dirigido pela competente Rory Kennedy contextualiza o mercado, faz um recorte corporativo da Boeing e ainda aponta vários pontos sensíveis que transformaram a empresa líder do setor em uma verdadeira bomba relógio no céu de todo o mundo.
O documentário que fez o seu lançamento mundial noSundance Film Festival de 2022, tem pouco mais de 90 minutos e procura explorar como uma instituição que surgiu com o forte propósito de encurtar as distâncias entre diferentes pessoas do mundo inteiro, se transformou em uma potência corporativa e que depois abriu mão da segurança em detrimento do aumento dos valores de suas ações, colocando em xeque sua reputação, além de ter causado a morte de quase 350 pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada um aviso importante: evite assistir esse documentário se você tem algum tipo de receio em voar de avião. É sério!
Se você não se recorda, em outubro de 2018 e em março de 2019, com apenas 5 meses de diferença entre as tragédias (um número altíssimo dentro do universo da aviação), duas aeronaves da Boeing caíram misteriosamente. O primeiro acidente envolveu uma aeronave da Lion Air, uma companhia low-cost da Indonésia, e o segundo, o mesmo modelo 737 MAX, da Ethiopian Airlines; ambos os aviões eram os mais modernos da Boeing e adquiridos a pouquíssimo tempo.
Veja, o roteiro de Mark Bailey e Keven McAlester é muito inteligente ao criar um vinculo imediato entre a audiência e alguns familiares das vítimas, estabelecendo quem são os mocinhos e quem são os bandidos da história. Acontece que para os americanos aqueles que seriam os bandidos sempre foram motivo de orgulho para o país e é aí que somos surpreendidos, pois o que parecia apenas uma investigação de um acidente ao melhor estilo "Mayday - Desastres Aéreos" , na verdade é só a ponta do iceberg. Com uma edição primorosa, o documentário ganha uma dinâmica incrível ao usar vários elementos narrativos e dramáticos como depoimentos de muitos envolvidos em diversos estágios da investigação, imagens de arquivo, documentos confidenciais, reportagens da época, vídeos caseiros dos familiares das vitimas, simulações em CG, enfim, tudo para construir uma linha do tempo que vai muito além da nossa expectativa e do nosso conhecimento.
Para os empreendedores que assistem "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" um ponto deve chamar a atenção: como uma cultura pautada na segurança e na inovação foi completamente implodida depois do M&A (ou da aquisição) por parte da McDonnell Douglas, em 1997. A transformação foi tão grande, tão rápida e tão sem sentido que fica muito fácil desconstruir qualquer relação de empatia ou admiração que pudéssemos ter por algum executivo da Boeing durante o furacão (inclusive por seu CEO). Aos funcionários, alguns fatos apresentados no filme nos dão a exata sensação da pressão que sofriam e do receio que tinham em se posicionar para que tudo isso pudesse ter sido evitado - a ganância e a falta de humanidade da empresa são impressionantes!
Com uma linguagem simples que faz com que termos técnicos como MCAS (ou Maneuvering Characteristics Augmentation System) soem familiar, "Downfall: The Case Against Boeing" (no original) será uma belíssima surpresa para aqueles que gostam de documentários investigativos, bem construídos, com personagens importantes (o piloto de "Milagre do Rio Hudson", Chesley "Sully" Sullenberger também dá seu depoimento) e, principalmente, com provas e fatos muito sólidos!
Vale muito o seu play!
Será preciso ter estômago para assistir esse documentário da Netflix graças, mais uma vez, a ganância humana que em troca de um bônus polpudo é capaz de colocar a vida de centenas (para não dizer milhões) de pessoas em risco. "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" vai além das investigações de dois acidentes aéreos com aviões da empresa, o filme dirigido pela competente Rory Kennedy contextualiza o mercado, faz um recorte corporativo da Boeing e ainda aponta vários pontos sensíveis que transformaram a empresa líder do setor em uma verdadeira bomba relógio no céu de todo o mundo.
O documentário que fez o seu lançamento mundial noSundance Film Festival de 2022, tem pouco mais de 90 minutos e procura explorar como uma instituição que surgiu com o forte propósito de encurtar as distâncias entre diferentes pessoas do mundo inteiro, se transformou em uma potência corporativa e que depois abriu mão da segurança em detrimento do aumento dos valores de suas ações, colocando em xeque sua reputação, além de ter causado a morte de quase 350 pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Antes de mais nada um aviso importante: evite assistir esse documentário se você tem algum tipo de receio em voar de avião. É sério!
Se você não se recorda, em outubro de 2018 e em março de 2019, com apenas 5 meses de diferença entre as tragédias (um número altíssimo dentro do universo da aviação), duas aeronaves da Boeing caíram misteriosamente. O primeiro acidente envolveu uma aeronave da Lion Air, uma companhia low-cost da Indonésia, e o segundo, o mesmo modelo 737 MAX, da Ethiopian Airlines; ambos os aviões eram os mais modernos da Boeing e adquiridos a pouquíssimo tempo.
Veja, o roteiro de Mark Bailey e Keven McAlester é muito inteligente ao criar um vinculo imediato entre a audiência e alguns familiares das vítimas, estabelecendo quem são os mocinhos e quem são os bandidos da história. Acontece que para os americanos aqueles que seriam os bandidos sempre foram motivo de orgulho para o país e é aí que somos surpreendidos, pois o que parecia apenas uma investigação de um acidente ao melhor estilo "Mayday - Desastres Aéreos" , na verdade é só a ponta do iceberg. Com uma edição primorosa, o documentário ganha uma dinâmica incrível ao usar vários elementos narrativos e dramáticos como depoimentos de muitos envolvidos em diversos estágios da investigação, imagens de arquivo, documentos confidenciais, reportagens da época, vídeos caseiros dos familiares das vitimas, simulações em CG, enfim, tudo para construir uma linha do tempo que vai muito além da nossa expectativa e do nosso conhecimento.
Para os empreendedores que assistem "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing" um ponto deve chamar a atenção: como uma cultura pautada na segurança e na inovação foi completamente implodida depois do M&A (ou da aquisição) por parte da McDonnell Douglas, em 1997. A transformação foi tão grande, tão rápida e tão sem sentido que fica muito fácil desconstruir qualquer relação de empatia ou admiração que pudéssemos ter por algum executivo da Boeing durante o furacão (inclusive por seu CEO). Aos funcionários, alguns fatos apresentados no filme nos dão a exata sensação da pressão que sofriam e do receio que tinham em se posicionar para que tudo isso pudesse ter sido evitado - a ganância e a falta de humanidade da empresa são impressionantes!
Com uma linguagem simples que faz com que termos técnicos como MCAS (ou Maneuvering Characteristics Augmentation System) soem familiar, "Downfall: The Case Against Boeing" (no original) será uma belíssima surpresa para aqueles que gostam de documentários investigativos, bem construídos, com personagens importantes (o piloto de "Milagre do Rio Hudson", Chesley "Sully" Sullenberger também dá seu depoimento) e, principalmente, com provas e fatos muito sólidos!
Vale muito o seu play!
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:
O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não!
O filme tem uma história envolvente, porém o roteiro tem um pequeno deslize no segundo ato, mas que é completamente esquecido quando assistimos o final. Na verdade, o roteiro do novato Juan Galiñanes e do experiente Jorge Guerricaechevarría, dos ótimos "O Bar", "Perfeitos Desconhecidos"e o "O Aviso", tem um primeiro ato excelente, um segundo arrastado e com algumas soluções dramáticas um pouco incoerentes com tudo o que nos foi apresentado até ali, e um terceiro ato surpreendente e muito, mas muito corajoso. O bacana é que mesmo a história apresentando essa "barriga", o diretor Paco Plaza segura nossa atenção da mesma forma e com a mesma habilidade que apresentou em "Verônica". É claro que o trabalho do ator Luis Tosar contribui muito para isso, mas é inegável a qualidade do diretor em nos colocar dentro do drama - e aqui cabe uma observação importante: Tosar recebeu sua oitava indicação ao Goya (ele ganhou três) justamente por esse personagem, o que comprova a força interior que seu ótimo trabalho deu ao filme.
O fato é que "Quem com ferro fere" é mais um suspense psicológico de alto nível que chega da Europa e com ele toda essa tendência de experimentarmos, cada vez mais, escolas diferentes de Cinema que, além de nos proporcionar um ótimo entretenimento, consegue nos deixar muito angustiados - vide o que aconteceu recentemente com "Parasita"!
Olha, vale muito a pena para quem gosta de um suspense psicológico estruturado e muito bem realizado sem parecer piegas! Gostei muito e indico com tranquilidade!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!
"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).
Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):
"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!
O roteiro do jovem polonês Mateusz Pacewicz é uma aula de construção de personagem em apenas duas horas - é de Pacewicz o roteiro de "Corpus Christi", inclusive. Ele vai transformando Tomasz Giemza ao mesmo tempo em que vai se aprofundando em cada uma das camadas do personagem - se no inicio sentimos dó, em um determinado momento sentimos ódio e logo depois entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas atitudes! Sim, é um ciclo de emoções que nos vai provocando até nos perguntarmos até onde Tomasz será capaz de ir para se provar como um homem de sucesso! O interessante na maneira como o diretor Jan Komasa direciona sua câmera é que ele nos coloca ao lado do protagonista durante o filme inteiro, como se quisesse que refletíssemos sobre o que faríamos se estivéssemos naquela mesma posição. Quando a montadora Aleksandra Gowin quebra a linha temporal para explicar como Tomasz está se sentindo, ao lidar com todo aquele menosprezo, temos uma ideia bastante clara de como o sentimento de inferioridade vai construindo um extremista que precisa ser superior em algum momento!
Logo na primeira cena do filme já temos a certeza que Jan Komasa é daqueles diretores geniais que precisamos acompanhar de perto. A sensibilidade com que ele dirigiu o ator Maciej Musialowski é impressionante. Musialowsk não vacila um minuto na construção de um criminoso dos dias de hoje - ele sabe utilizar tão bem o silêncio que antecede cada uma das suas ações que somos capazes de adivinhar exatamente o que ele está pensado (ou pesando) antes de tomar sua próxima atitude. Quando ele se aproxima do candidato Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr) ou da sua chefe Beata Santorska (Agata Kulesza) temos absoluta certeza que se trata de uma mente psicopata em plena evolução! O interessante é que o personagem tem uma dualidade muito particular, perfeitamente alinhada a fotografia do diretor Radek Ladczuk: se nos momentos em que está sozinho, tramando suas ações, a tonalidade é mais fria, azulada, em situações sociais ela é mais quente, amarelada até!
Outro ponto que também merece destaque é o equilíbrio entre a mixagem e o desenho de som: em um determinado momento temos uma cena com uma belíssima música clássica contrastando com a força dramática que vemos na tela, bem ao estilo "Cisne Negro" - reparem! Talvez seja o ponto alto de filme e quando entendemos que tudo está muito bem conectado: direção, fotografia, atuação, trilha e, claro, roteiro!
"Rede de Ódio" parece uma história superficial, bobinha, mas pouco a pouco vamos sendo guiados por caminhos tão obscuros e inesperados, que quando nos damos conta já perdemos a noção do que é certo e do que errado, o que se justifica e o que é uma porta aberta para a loucura! Um filme que expõe os limites de uma indústria do ódio abastecida pela ferramenta das fake news que manipula e transforma qualquer pessoa menos atenta em expectadores de um circo nada amigável e quase sempre cruel! Vale a pena o seu play, já!