Uma minissérie à altura de seu protagonista! Assim é a tão esperada produção da Netflix, "Senna" - então amigo, "prepare o seu coração", porque você vai mergulhar em uma jornada de nostalgia, cheia de emoção e com uma qualidade técnica de se aplaudir de pé! Dirigida por Vicente Amorim (de "Santo") e Julia Rezende (de "Todo Dia a Mesma Noite"), "Senna" narra em seis episódios, com uma impressionante precisão, momentos marcantes da vida e da carreira do lendário piloto brasileiro, Ayrton Senna da Silva. Ambiciosa em sua essência, mas muito competente em sua realização, a minissérie busca capturar o espírito vencedor de um ícone que transcendeu o automobilismo e se tornou um símbolo de inspiração global. Escrita por Gustavo Bragança (de "Bom Dia, Verônica"), a produção combina a adrenalina das corridas de Fórmula 1 com um mergulho mais intimista sobre a vida do protagonista, explorando sua complexidade como atleta e como pessoa. Assim como produções biográficas de esportistas, de alto impacto pela sua dinâmica narrativa e visual, como "Rush", por exemplo; "Senna" é o retrato perfeito de um esportista tão admirado com um olhar profundamente humano - uma referência para um Brasil que não cansa de sentir saudades!
"Senna" se concentra nos anos mais marcantes da carreira de Ayrton (Gabriel Leone), desde sua infância, passando pela sua ida para correr na Inglaterra até sua ascensão nos circuitos de Fórmula 1. Com muita inteligência, a minissérie aborda tanto o lado público do piloto - suas rivalidades intensas, como com Alain Prost (Matt Mella), e as conquistas inesquecíveis nas pistas - quanto sua vida pessoal, marcada por dilemas, relações familiares e amorosas, além de sua busca incessante pela perfeição. A construção da narrativa é feita com cuidado para não apenas retratar os eventos históricos que já conhecemos, mas também revelar as motivações, as dúvidas e as crenças que moldaram o caráter desse eterno campeão. Confira o trailer:
A direção de Vicente Amorim e Julia Rezende chega até a ser surpreendente pela eficiência com que captura a grandiosidade das corridas sem perder de vista o valor humano de Ayrton. E aqui eu preciso citar dois pontos que fizeram toda diferença no resultado final: o trabalho de composição em CG, dos carros aos autódromos, feito sob a supervisão do craque Marcelo Siqueira - sério, é coisa de Hollywood! Além disso, a montagem da minissérie, utilizando diversos planos com aquelas câmeras mais dinâmicas, criativas, e closes realmente intensos, olha, coloca a audiência no cockpit junto com o piloto - sem brincadeira, não deixa nada a desejar perante o trabalho do Andrew Buckland e do Michael McCusker que ganharam o Oscar de Montagem por "Ford vs. Ferrari". As sequências das corridas, em Mônaco, no Japão e no Brasil, são visualmente arrebatadoras, transmitindo não só a velocidade, como o perigo e a precisão necessários para competir em um nível tão alto como Senna fazia. Ao mesmo tempo, também é preciso que se diga, a dupla de diretores acerta ao desacelerar a narrativa nos momentos de introspecção do Ayrton, oferecendo um retrato mais palpável como nunca vimos - a ênfase em seus valores, na sua espiritualidade e na relação com a família, é um golaço da minissérie!
O roteiro de Gustavo Bragança é equilibrado, destacando as conquistas de Senna sem cair na armadilha de glorificá-lo a todo custo de maneira unilateral - embora, diga-se de passagem, é muito difícil afastar o rótulo de "herói nacional" (e na boa, dane-se!). "Senna" usa o conceito linear para pontuar, capítulo a capítulos, seu crescimento profissional, mas não hesita em mostrar os aspectos mais controversos da personalidade do piloto, o que adiciona profundidade e autenticidade à narrativa. São seis pilares dessa dinâmica narrativa que ajudam a contar a história: Vocação, Determinação, Ambição, Paixão, Herói e Tempo. Somado a isso, ainda temos as cenas de arquivo e o tema da vitória, cirurgicamente inseridos dentro de um contexto todo especial para criar a sensação nostálgica dos anos 1990. É genial!
Sobre o elenco, o que dizer? Quase todos entregam performances sólidas, além de uma caracterização sensacional - Leone parece ter a voz de Ayrton, dado o seu cuidado com a forma com que o piloto se comunicava, sem falar em seu trabalho corporal. Mella, de perfil, é o Prost. E Pâmela Tomé, essa é a Xuxa mesmo (não é possível parecer tanto). Outra atriz que me chamou atenção foi Kaya Scodelario como a jornalista Laura - ela fala com o olhar, mesmo que para dizer o contrário que suas palavras. Ainda sobre Gabriel Leone - ele incorporou Senna com intensidade e carisma, e soube transmitir com muito respeito não apenas a habilidade técnica guiando um fórmula, mas também o magnetismo que cativou fãs ao redor do mundo quando dava qualquer tipo de declaração.
Alguns fãs (como esse que vos escreve) podem sentir que determinados aspectos da vida do piloto, como sua espiritualidade, algumas rivalidades (com Piquet, por exemplo), algumas corridas épicas (Donington Park de 93 ou Mônaco de 92), poderiam ter sido explorados com mais profundidade, é verdade - acho até que os bastidores após sua morte também merecia mais tempo de tela. Mas, no geral, é compreensível a escolha do time de criação em focar em momentos-chave sem correr o risco de se estender demais e assim perder o ritmo da narrativa - o que funcionou bem! "Senna" é uma minissérie que realmente honra o legado de Ayrton com um recorte emocionante e tecnicamente impecável - para fãs, imperdível. Para quem busca histórias inspiradoras ou que querem revisitar a trajetória de um herói nacional, Senna é uma obra tão essencial quanto deliciosa de assistir! Parabéns para Netflix, não decepcionou!
Vale demais o seu play!
Uma minissérie à altura de seu protagonista! Assim é a tão esperada produção da Netflix, "Senna" - então amigo, "prepare o seu coração", porque você vai mergulhar em uma jornada de nostalgia, cheia de emoção e com uma qualidade técnica de se aplaudir de pé! Dirigida por Vicente Amorim (de "Santo") e Julia Rezende (de "Todo Dia a Mesma Noite"), "Senna" narra em seis episódios, com uma impressionante precisão, momentos marcantes da vida e da carreira do lendário piloto brasileiro, Ayrton Senna da Silva. Ambiciosa em sua essência, mas muito competente em sua realização, a minissérie busca capturar o espírito vencedor de um ícone que transcendeu o automobilismo e se tornou um símbolo de inspiração global. Escrita por Gustavo Bragança (de "Bom Dia, Verônica"), a produção combina a adrenalina das corridas de Fórmula 1 com um mergulho mais intimista sobre a vida do protagonista, explorando sua complexidade como atleta e como pessoa. Assim como produções biográficas de esportistas, de alto impacto pela sua dinâmica narrativa e visual, como "Rush", por exemplo; "Senna" é o retrato perfeito de um esportista tão admirado com um olhar profundamente humano - uma referência para um Brasil que não cansa de sentir saudades!
"Senna" se concentra nos anos mais marcantes da carreira de Ayrton (Gabriel Leone), desde sua infância, passando pela sua ida para correr na Inglaterra até sua ascensão nos circuitos de Fórmula 1. Com muita inteligência, a minissérie aborda tanto o lado público do piloto - suas rivalidades intensas, como com Alain Prost (Matt Mella), e as conquistas inesquecíveis nas pistas - quanto sua vida pessoal, marcada por dilemas, relações familiares e amorosas, além de sua busca incessante pela perfeição. A construção da narrativa é feita com cuidado para não apenas retratar os eventos históricos que já conhecemos, mas também revelar as motivações, as dúvidas e as crenças que moldaram o caráter desse eterno campeão. Confira o trailer:
A direção de Vicente Amorim e Julia Rezende chega até a ser surpreendente pela eficiência com que captura a grandiosidade das corridas sem perder de vista o valor humano de Ayrton. E aqui eu preciso citar dois pontos que fizeram toda diferença no resultado final: o trabalho de composição em CG, dos carros aos autódromos, feito sob a supervisão do craque Marcelo Siqueira - sério, é coisa de Hollywood! Além disso, a montagem da minissérie, utilizando diversos planos com aquelas câmeras mais dinâmicas, criativas, e closes realmente intensos, olha, coloca a audiência no cockpit junto com o piloto - sem brincadeira, não deixa nada a desejar perante o trabalho do Andrew Buckland e do Michael McCusker que ganharam o Oscar de Montagem por "Ford vs. Ferrari". As sequências das corridas, em Mônaco, no Japão e no Brasil, são visualmente arrebatadoras, transmitindo não só a velocidade, como o perigo e a precisão necessários para competir em um nível tão alto como Senna fazia. Ao mesmo tempo, também é preciso que se diga, a dupla de diretores acerta ao desacelerar a narrativa nos momentos de introspecção do Ayrton, oferecendo um retrato mais palpável como nunca vimos - a ênfase em seus valores, na sua espiritualidade e na relação com a família, é um golaço da minissérie!
O roteiro de Gustavo Bragança é equilibrado, destacando as conquistas de Senna sem cair na armadilha de glorificá-lo a todo custo de maneira unilateral - embora, diga-se de passagem, é muito difícil afastar o rótulo de "herói nacional" (e na boa, dane-se!). "Senna" usa o conceito linear para pontuar, capítulo a capítulos, seu crescimento profissional, mas não hesita em mostrar os aspectos mais controversos da personalidade do piloto, o que adiciona profundidade e autenticidade à narrativa. São seis pilares dessa dinâmica narrativa que ajudam a contar a história: Vocação, Determinação, Ambição, Paixão, Herói e Tempo. Somado a isso, ainda temos as cenas de arquivo e o tema da vitória, cirurgicamente inseridos dentro de um contexto todo especial para criar a sensação nostálgica dos anos 1990. É genial!
Sobre o elenco, o que dizer? Quase todos entregam performances sólidas, além de uma caracterização sensacional - Leone parece ter a voz de Ayrton, dado o seu cuidado com a forma com que o piloto se comunicava, sem falar em seu trabalho corporal. Mella, de perfil, é o Prost. E Pâmela Tomé, essa é a Xuxa mesmo (não é possível parecer tanto). Outra atriz que me chamou atenção foi Kaya Scodelario como a jornalista Laura - ela fala com o olhar, mesmo que para dizer o contrário que suas palavras. Ainda sobre Gabriel Leone - ele incorporou Senna com intensidade e carisma, e soube transmitir com muito respeito não apenas a habilidade técnica guiando um fórmula, mas também o magnetismo que cativou fãs ao redor do mundo quando dava qualquer tipo de declaração.
Alguns fãs (como esse que vos escreve) podem sentir que determinados aspectos da vida do piloto, como sua espiritualidade, algumas rivalidades (com Piquet, por exemplo), algumas corridas épicas (Donington Park de 93 ou Mônaco de 92), poderiam ter sido explorados com mais profundidade, é verdade - acho até que os bastidores após sua morte também merecia mais tempo de tela. Mas, no geral, é compreensível a escolha do time de criação em focar em momentos-chave sem correr o risco de se estender demais e assim perder o ritmo da narrativa - o que funcionou bem! "Senna" é uma minissérie que realmente honra o legado de Ayrton com um recorte emocionante e tecnicamente impecável - para fãs, imperdível. Para quem busca histórias inspiradoras ou que querem revisitar a trajetória de um herói nacional, Senna é uma obra tão essencial quanto deliciosa de assistir! Parabéns para Netflix, não decepcionou!
Vale demais o seu play!
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Assim como "Rise", filme que conta a história do grego Giannis Antetokounmpo, "Shooting Stars" também tem um história que merecia ser contada - e que também talvez merecesse uma produção com um cuidado técnico e artístico um pouco maior. “Shooting Stars”, produção original do Peacock, é para quem gosta de basquete, pelo simples fato de revisitar um capítulo muitas vezes esquecido da biografia de LeBron James: os anos de sua formação em Akron, Ohio, quando a expressão “King James” ainda era apenas uma remota possibilidade escondida nas quadras do High School. Mas não é só isso, longe de querer se vender como uma jornada esportiva épica, o filme dirigido por Chris Robinson (de "Black·ish") também constrói uma narrativa que valoriza a intimidade e as relações que moldaram a figura pública que o mundo aprendeu a admirar. Em vez de apenas exaltar as conquistas esportivas, o roteiro parte do princípio de que a verdadeira grandeza começa bem antes da fama - e, sim, nesse sentido "Shooting Stars" repete aquela fórmula-base que sempre funcionou, compartilhando o DNA emocional de títulos como "Coach Carter", por exemplo, ainda que aqui com um tom bem mais suave e talvez por isso, mais afetivo.
Baseado no livro escrito pelo jornalista Buzz Bissinger (de "Friday Night Lights") em parceria com o próprio LeBron, o filme acompanha a jornada do jovem astro (Mookie Cook, que inclusive é jogador de basquete na vida real) e de seus melhores amigos: Dru Joyce III (Caleb McLaughlin), Willie McGee (Avery Wills Jr.) e Sian Cotton (Khalil Everage) – enquanto formam o “Fab Four”, uma equipe escolar que não apenas dominou o esporte, mas também reconfigurou o conceito de unidade dentro e fora das quadras. Repare como a sinopse oficial reforça ainda mais esse espírito: “Em uma jornada de superação e companheirismo, quatro amigos enfrentam obstáculos pessoais e esportivos enquanto constroem juntos a história de um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos”. Confira o trailer (em inglês):
Apesar da familiaridade em termos de estrutura, já que temos o treinador durão (interpretado com eficiência por Dermot Mulroney), a rotina de treinos intensos, os altos e baixos nos jogos e o dilema entre fama precoce e amizade verdadeira; "Shooting Stars" funciona (e muito) nos detalhes. A fotografia de Karsten Gopinath (de "A Grande Luta") prioriza os planos abertos das quadras e ginásios escolares, evocando uma estética quase documental, como se estivéssemos revivendo as memórias em VHS, em uma tentativa criativa de fazer uma aproximação emocional mais sutil. Nesse sentido, a montagem também acerta ao não glamourizar os jogos em si, evitando o clichê das grandes viradas milagrosas para dar espaço ao que realmente interessa como premissa dramática: os bastidores da formação emocional de jovens negros em um ambiente social permeado por desigualdades e expectativas sobre-humanas.
Obviamente que há uma tentativa visível de equilibrar o drama com o espetáculo visual. A direção de Robinson busca imprimir um ritmo ágil, sem abrir mão de alguma sensibilidade - é uma tentativa de criar camadas mais profundas para os dramas pessoais que muitas vezes funciona, outras vezes nem tanto. As cenas entre Dru e seu pai (Wood Harris) talvez sejam ótimos exemplos dessa busca mais emocional da história, especialmente por se afastar da caricatura do “coach autoritário” para focar em um homem que é pai antes de ser técnico. Já a relação entre LeBron e seus amigos é costurada com certa doçura e um senso de lealdade raro de se encontrar em produções esportivas - o roteiro sabe que esses laços são o verdadeiro "trunfo" que está em jogo, e nunca se desvia desse ponto. Agora, meu amigo, a trilha sonora assinada por Mark Isham, essa é de primeira prateleira - ela complementa com delicadeza a narrativa, alternando momentos de tensão nas partidas com músicas mais contemplativas, especialmente nas passagens em que o grupo encara as consequências de uma fama emergente.
Em “Shooting Stars” não há grandes viradas ou dramas hollywoodianos; há apenas a vida do jeito que ela é: com escolhas difíceis, amizades testadas e a dolorosa constatação de que crescer também significa perder um pouco do que éramos. Dito isso, pode parecer, à primeira vista, que “Shooting Stars” é apenas mais um filme esportivo juvenil, mas não, no final das contas, ele é mais sobre identidade e pertencimento do que sobre estatísticas ou troféus. O filme se alinha com o momento de uma geração que busca contar histórias além da glória, e nesse contexto é uma obra que humaniza o mito sem diminuir o impacto de sua trajetória. LeBron James, aqui, é apenas um garoto tentando fazer a coisa certa, e isso, por si só, já diz muito sobre seu propósito!
Vale o seu play!
Assim como "Rise", filme que conta a história do grego Giannis Antetokounmpo, "Shooting Stars" também tem um história que merecia ser contada - e que também talvez merecesse uma produção com um cuidado técnico e artístico um pouco maior. “Shooting Stars”, produção original do Peacock, é para quem gosta de basquete, pelo simples fato de revisitar um capítulo muitas vezes esquecido da biografia de LeBron James: os anos de sua formação em Akron, Ohio, quando a expressão “King James” ainda era apenas uma remota possibilidade escondida nas quadras do High School. Mas não é só isso, longe de querer se vender como uma jornada esportiva épica, o filme dirigido por Chris Robinson (de "Black·ish") também constrói uma narrativa que valoriza a intimidade e as relações que moldaram a figura pública que o mundo aprendeu a admirar. Em vez de apenas exaltar as conquistas esportivas, o roteiro parte do princípio de que a verdadeira grandeza começa bem antes da fama - e, sim, nesse sentido "Shooting Stars" repete aquela fórmula-base que sempre funcionou, compartilhando o DNA emocional de títulos como "Coach Carter", por exemplo, ainda que aqui com um tom bem mais suave e talvez por isso, mais afetivo.
Baseado no livro escrito pelo jornalista Buzz Bissinger (de "Friday Night Lights") em parceria com o próprio LeBron, o filme acompanha a jornada do jovem astro (Mookie Cook, que inclusive é jogador de basquete na vida real) e de seus melhores amigos: Dru Joyce III (Caleb McLaughlin), Willie McGee (Avery Wills Jr.) e Sian Cotton (Khalil Everage) – enquanto formam o “Fab Four”, uma equipe escolar que não apenas dominou o esporte, mas também reconfigurou o conceito de unidade dentro e fora das quadras. Repare como a sinopse oficial reforça ainda mais esse espírito: “Em uma jornada de superação e companheirismo, quatro amigos enfrentam obstáculos pessoais e esportivos enquanto constroem juntos a história de um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos”. Confira o trailer (em inglês):
Apesar da familiaridade em termos de estrutura, já que temos o treinador durão (interpretado com eficiência por Dermot Mulroney), a rotina de treinos intensos, os altos e baixos nos jogos e o dilema entre fama precoce e amizade verdadeira; "Shooting Stars" funciona (e muito) nos detalhes. A fotografia de Karsten Gopinath (de "A Grande Luta") prioriza os planos abertos das quadras e ginásios escolares, evocando uma estética quase documental, como se estivéssemos revivendo as memórias em VHS, em uma tentativa criativa de fazer uma aproximação emocional mais sutil. Nesse sentido, a montagem também acerta ao não glamourizar os jogos em si, evitando o clichê das grandes viradas milagrosas para dar espaço ao que realmente interessa como premissa dramática: os bastidores da formação emocional de jovens negros em um ambiente social permeado por desigualdades e expectativas sobre-humanas.
Obviamente que há uma tentativa visível de equilibrar o drama com o espetáculo visual. A direção de Robinson busca imprimir um ritmo ágil, sem abrir mão de alguma sensibilidade - é uma tentativa de criar camadas mais profundas para os dramas pessoais que muitas vezes funciona, outras vezes nem tanto. As cenas entre Dru e seu pai (Wood Harris) talvez sejam ótimos exemplos dessa busca mais emocional da história, especialmente por se afastar da caricatura do “coach autoritário” para focar em um homem que é pai antes de ser técnico. Já a relação entre LeBron e seus amigos é costurada com certa doçura e um senso de lealdade raro de se encontrar em produções esportivas - o roteiro sabe que esses laços são o verdadeiro "trunfo" que está em jogo, e nunca se desvia desse ponto. Agora, meu amigo, a trilha sonora assinada por Mark Isham, essa é de primeira prateleira - ela complementa com delicadeza a narrativa, alternando momentos de tensão nas partidas com músicas mais contemplativas, especialmente nas passagens em que o grupo encara as consequências de uma fama emergente.
Em “Shooting Stars” não há grandes viradas ou dramas hollywoodianos; há apenas a vida do jeito que ela é: com escolhas difíceis, amizades testadas e a dolorosa constatação de que crescer também significa perder um pouco do que éramos. Dito isso, pode parecer, à primeira vista, que “Shooting Stars” é apenas mais um filme esportivo juvenil, mas não, no final das contas, ele é mais sobre identidade e pertencimento do que sobre estatísticas ou troféus. O filme se alinha com o momento de uma geração que busca contar histórias além da glória, e nesse contexto é uma obra que humaniza o mito sem diminuir o impacto de sua trajetória. LeBron James, aqui, é apenas um garoto tentando fazer a coisa certa, e isso, por si só, já diz muito sobre seu propósito!
Vale o seu play!
"Sly", documentário da Netflix sobre Sylvester Stallone, é muito mais que uma retrospectiva sobre a vida do ator, diretor, roteirista e produtor; é uma reflexão profunda sobre os impactos do "abandono". Embora o diretor Thom Zimny (do premiado "Springsteen on Broadway") tente construir uma linha temporal organizada e equilibrada que cubra os altos e baixos de sua carreira, especialmente com franquias como "Rocky" e "Rambo", é na humanização do protagonista que o roteiro ganha alma - alguns depoimentos sinceros de "Sly" são de cortar o coração, mas a forma como ele próprio transforma seus fantasmas mais íntimos em resiliência, dedicação, auto-conhecimento, reflexões existenciais; e como tudo isso funciona como gatilho criativo para as histórias de seus filmes e personagens, sem dúvida, é o que vai te fazer olhar por uma outra perspectivas para alguns trabalhos do ator.
A prolífica carreira de quase cinquenta anos de Sylvester Stallone, que já entreteve milhões, é vista em retrospectiva num olhar íntimo do ator, fazendo um paralelo com sua inspiradora história de vida entre sua infância humilde até seu status de estrela de cinema internacional. Confira o trailer (em inglês):
O documentário embora siga uma estrutura narrativa convencional, sem intervenções gráficas ou encenações, se destaca pela sensibilidade pela qual diversos temas são retratados. Com uma montagem primorosa do próprio Zimny, entrevistas exclusivas com o Stallone de hoje são recortadas com uma seleção cuidadosa de depoimentos do ator no passado e de algumas pessoas próximas a ele - o que proporciona uma profundidade emocional impressionante. Aqui cito três figuras que realmente dão a exata dimensão da jornada pessoal e profissional de Sly - seu irmão Frank Stallone Jr, o amigo de longa data, Arnold Schwarzenegger e um estudioso Quentin Tarantino.
Em um primeiro olhar, a maneira como Stallone compartilha suas experiências e reflexões, muitas vezes pessoais e tocantes, revela um lado mais vulnerável do ator, o que é raramente visto na mídia convencional. O drama de sua relação conflituosa com seu pai Frank Stallone Sr. e a passagem sobre a morte de seu filho, Sage, são especialmente dolorosos. E aqui a direção de Thom Zimny se torna ainda mais notável - sua capacidade de mergulhar na jornada de Stallone com um estilo cinematográfico mais sensível ao mesmo tempo que muito respeitoso, é essencial para que certos tabus venham à tona sem uma desnecessária carga dramática sensacionalista. A fotografia deslumbrante e cuidadosamente elaborada pelo Justin Kane (de "Let There Be Drums!") acrescenta camadas à narrativa, criando uma experiência visualmente envolvente e extremamente alinhada com o tom que Zimny escolheu parta retratar um ser humano único, e uma celebridade ainda mais especial.
"Sly", de fato, nos permite conhecer o homem por trás de Rocky Balboa ou de John Rambo - sua disponibilidade, mesmo que deixe um certo ar de melancolia, é reveladora e apaixonante. Sua sinceridade e autenticidade contribuem para uma conexão imediata entre a audiência e a história. Claro que o documentário foge das polêmicas, preferindo uma espécie de celebração da resiliência, da determinação e da paixão de Sylvester Stallone pelo cinema. No entanto, fica o convite para ir além de uma análise superficial sobre um cara que se confunde com seus personagens propositalmente, um cara lutador que sempre consegue aguentar um pouco mais, que prefere falar dos filmes que foram sucesso na sua carreira e não gastar sua energia com seus fracassos, um cara que é unanimidade, mas que sofreu duros golpes até alcançar esse status.
Vale muito o seu play!
"Sly", documentário da Netflix sobre Sylvester Stallone, é muito mais que uma retrospectiva sobre a vida do ator, diretor, roteirista e produtor; é uma reflexão profunda sobre os impactos do "abandono". Embora o diretor Thom Zimny (do premiado "Springsteen on Broadway") tente construir uma linha temporal organizada e equilibrada que cubra os altos e baixos de sua carreira, especialmente com franquias como "Rocky" e "Rambo", é na humanização do protagonista que o roteiro ganha alma - alguns depoimentos sinceros de "Sly" são de cortar o coração, mas a forma como ele próprio transforma seus fantasmas mais íntimos em resiliência, dedicação, auto-conhecimento, reflexões existenciais; e como tudo isso funciona como gatilho criativo para as histórias de seus filmes e personagens, sem dúvida, é o que vai te fazer olhar por uma outra perspectivas para alguns trabalhos do ator.
A prolífica carreira de quase cinquenta anos de Sylvester Stallone, que já entreteve milhões, é vista em retrospectiva num olhar íntimo do ator, fazendo um paralelo com sua inspiradora história de vida entre sua infância humilde até seu status de estrela de cinema internacional. Confira o trailer (em inglês):
O documentário embora siga uma estrutura narrativa convencional, sem intervenções gráficas ou encenações, se destaca pela sensibilidade pela qual diversos temas são retratados. Com uma montagem primorosa do próprio Zimny, entrevistas exclusivas com o Stallone de hoje são recortadas com uma seleção cuidadosa de depoimentos do ator no passado e de algumas pessoas próximas a ele - o que proporciona uma profundidade emocional impressionante. Aqui cito três figuras que realmente dão a exata dimensão da jornada pessoal e profissional de Sly - seu irmão Frank Stallone Jr, o amigo de longa data, Arnold Schwarzenegger e um estudioso Quentin Tarantino.
Em um primeiro olhar, a maneira como Stallone compartilha suas experiências e reflexões, muitas vezes pessoais e tocantes, revela um lado mais vulnerável do ator, o que é raramente visto na mídia convencional. O drama de sua relação conflituosa com seu pai Frank Stallone Sr. e a passagem sobre a morte de seu filho, Sage, são especialmente dolorosos. E aqui a direção de Thom Zimny se torna ainda mais notável - sua capacidade de mergulhar na jornada de Stallone com um estilo cinematográfico mais sensível ao mesmo tempo que muito respeitoso, é essencial para que certos tabus venham à tona sem uma desnecessária carga dramática sensacionalista. A fotografia deslumbrante e cuidadosamente elaborada pelo Justin Kane (de "Let There Be Drums!") acrescenta camadas à narrativa, criando uma experiência visualmente envolvente e extremamente alinhada com o tom que Zimny escolheu parta retratar um ser humano único, e uma celebridade ainda mais especial.
"Sly", de fato, nos permite conhecer o homem por trás de Rocky Balboa ou de John Rambo - sua disponibilidade, mesmo que deixe um certo ar de melancolia, é reveladora e apaixonante. Sua sinceridade e autenticidade contribuem para uma conexão imediata entre a audiência e a história. Claro que o documentário foge das polêmicas, preferindo uma espécie de celebração da resiliência, da determinação e da paixão de Sylvester Stallone pelo cinema. No entanto, fica o convite para ir além de uma análise superficial sobre um cara que se confunde com seus personagens propositalmente, um cara lutador que sempre consegue aguentar um pouco mais, que prefere falar dos filmes que foram sucesso na sua carreira e não gastar sua energia com seus fracassos, um cara que é unanimidade, mas que sofreu duros golpes até alcançar esse status.
Vale muito o seu play!
Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!
Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!
Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor.
Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola.
Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!
Indico, mas por sua conta e risco...
Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!
Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!
Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor.
Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola.
Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!
Indico, mas por sua conta e risco...
A Netflix continua apostando em séries documentais que abordam histórias de crimes reais. Se você gostou de "The Jinx", “The Staircase”, “Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha” e “Amanda Knox”, não deixe de assistir “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”. Em cinco episódios de pouco mais de 30 minutos, o diretor Alain Brunard se aproveita de um ótimo roteiro de Georges Huercano, Yann Le Gal e Pascal Vrebos para mostrar o polêmico caso do político belga Bernard Wesphael, acusado de assassinar a esposa Véronique Pirotton, em 2013.
O crime chamou a atenção da mídia na época pelo fato de que, embora as investigações e todas as evidências o apontassem como culpado, Wesphael sustentou até o fim seu argumento de inocência, apesar de ter sido a única pessoa que esteve com Véronique naquela noite e de haver relatos de testemunhas que afirmaram ter escutado sons suspeitos vindos do quarto deles.
O casal, que estava recém-separado, estaria tentando uma reconciliação num hotel em Ostende, cidade turística belga, quando Véronique foi encontrada morta no banheiro, com um saco plástico na cabeça e vários hematomas pelo corpo. Mesmo que parecendo impossível, a tese sustentada por Wesphael foi a de que ela havia cometido suicídio.
A série, como todos já devem saber, não traz soluções para o crime e isso não é exatamente um problema, já que, como muitas de suas antecessoras, a narrativa acaba focando em um dos personagens, no caso o político, que insiste na versão de um possível comportamento autodestrutivo da ex-mulher, que envolvia desde a infidelidade, tendências suicidas até o consumo excessivo de álcool e medicamentos - os depoimentos Wesphael para o documentário são impressionantes.
Infelizmente Véronique não tem voz, apenas sua irmã, um primo e alguns jornalistas tentam mostrar um outro lado da personalidade da vitima e sua relação conflituosa com o acusado. O fato é que ficamos sem uma conclusão sobre o que de fato aconteceu, porém a produção tem o mérito de prender a atenção da audiência desde o primeiro minuto da narrativa e a todo momento, provocando cada um de nós a tirar nossas próprias conclusões, independente do veredito ou de todas as evidências apresentadas.
Vale muito a pena, mas será preciso ter estômago ou, no mínimo, uma boa dose de isenção para traçar mentalmente todas as possibilidades - e posso garantir, não são muitas!
Escrito por Ana Cristina Paixão com Edição de André Siqueira
A Netflix continua apostando em séries documentais que abordam histórias de crimes reais. Se você gostou de "The Jinx", “The Staircase”, “Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha” e “Amanda Knox”, não deixe de assistir “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”. Em cinco episódios de pouco mais de 30 minutos, o diretor Alain Brunard se aproveita de um ótimo roteiro de Georges Huercano, Yann Le Gal e Pascal Vrebos para mostrar o polêmico caso do político belga Bernard Wesphael, acusado de assassinar a esposa Véronique Pirotton, em 2013.
O crime chamou a atenção da mídia na época pelo fato de que, embora as investigações e todas as evidências o apontassem como culpado, Wesphael sustentou até o fim seu argumento de inocência, apesar de ter sido a única pessoa que esteve com Véronique naquela noite e de haver relatos de testemunhas que afirmaram ter escutado sons suspeitos vindos do quarto deles.
O casal, que estava recém-separado, estaria tentando uma reconciliação num hotel em Ostende, cidade turística belga, quando Véronique foi encontrada morta no banheiro, com um saco plástico na cabeça e vários hematomas pelo corpo. Mesmo que parecendo impossível, a tese sustentada por Wesphael foi a de que ela havia cometido suicídio.
A série, como todos já devem saber, não traz soluções para o crime e isso não é exatamente um problema, já que, como muitas de suas antecessoras, a narrativa acaba focando em um dos personagens, no caso o político, que insiste na versão de um possível comportamento autodestrutivo da ex-mulher, que envolvia desde a infidelidade, tendências suicidas até o consumo excessivo de álcool e medicamentos - os depoimentos Wesphael para o documentário são impressionantes.
Infelizmente Véronique não tem voz, apenas sua irmã, um primo e alguns jornalistas tentam mostrar um outro lado da personalidade da vitima e sua relação conflituosa com o acusado. O fato é que ficamos sem uma conclusão sobre o que de fato aconteceu, porém a produção tem o mérito de prender a atenção da audiência desde o primeiro minuto da narrativa e a todo momento, provocando cada um de nós a tirar nossas próprias conclusões, independente do veredito ou de todas as evidências apresentadas.
Vale muito a pena, mas será preciso ter estômago ou, no mínimo, uma boa dose de isenção para traçar mentalmente todas as possibilidades - e posso garantir, não são muitas!
Escrito por Ana Cristina Paixão com Edição de André Siqueira
Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed", "The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.
A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:
Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.
Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon - Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).
"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.
O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!
Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed", "The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.
A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:
Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.
Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon - Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).
"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.
O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!
"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!
Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!
O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.
Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!
"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!
"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!
Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!
O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.
Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!
"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!
"Somos Todos Iguais" é um filme muito bonito! Daqueles com uma mensagem que mexe com a gente e que, mesmo na dor, nos faz olhar o mundo e a vida de uma forma diferente! Ele é baseado numa história real descrita no livro de Denver Moore, Ron Hall, Lynn Vincent, "Some Kind of Differente as Me", e que toca com muita sensibilidade e delicadeza em assuntos muito sensíveis como a fé, a importância da caridade e ensinamentos cristãos baseados no amor. Não se trata de um filme religioso, mas eu diria sim, que ele é muito espiritualista - principalmente por nos convidar a refletir sobre nossa missão perante os desafios que a vida vai nos impondo, que a sociedade nos apresenta e na maneira como reagimos às adversidades, mas sob o olhar de diferentes personagens e crenças.
Deborah Hall (Renee Zellweger) é uma mulher religiosa que é casada com Ron (Greg Kinnear), um negociante de arte reconhecido internacionalmente. O casamento entre eles não vai bem, até que Ron é obrigado a contar para Debbie sobre uma traição. Arrependido, Ron busca uma nova chance quando sua mulher apresenta para ele um trabalho voluntário em que atua para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. É nesse contexto que ela insiste para que o marido se aproxime de Denver (Djimon Hounsou), um violento mendigo que carrega com ele as marcas de um passado de sofrimento e exploração. Para salvar seu casamento, Ron tenta fazer amizade com Denver, mas os sonhos escondidos de Deborah podem leva-los em uma direção completamente diferente do que Ron imagina. Confira o trailer (em inglês):
"Somos Todos Iguais" não traz nenhum elemento técnico ou artístico que faça o filme se tornar inesquecível, por outro lado ele se apoia em uma história muito bem contada, com boas performances de todo elenco e uma direção muito segura do estreante Michael Carney. Talvez até, o mérito do filme seja justamente esse: não parecer aquilo que ele não teria condições de ser! O roteiro é simples, mas bem escrito. O prólogo e o epílogo são fracos, mas não prejudicam a jornada - e essa sim é muito bacana! Renée Zellweger, mesmo irreconhecível, é uma atriz muito talentosa e entrega verdade como Deborah. Greg Kinnear talvez não tenha o mesmo talento, mas sempre entrega bons personagens. Djimon Hounsou, esse decolou! Seu "Denver" é um ótimo trabalho!
É preciso que se diga que "Somos Todos Iguais" mesmo discutindo assuntos como racismo e desigualdade social não se propõe a levantar alguma bandeira ou se tornar impositivo em suas convicções. Ele é muito honesto em sua proposta, o que o transforma o filme em um ótimo entretenimento, com momentos emocionantes e que vão nos trazer reflexões importantes, mas sem aquela necessidade de uma narrativa pesada. Resumindo, esse filme é para você que gostou de "O Segredo - Ouse Sonhar" ou "Milagre Azul".
Vale o seu play!
"Somos Todos Iguais" é um filme muito bonito! Daqueles com uma mensagem que mexe com a gente e que, mesmo na dor, nos faz olhar o mundo e a vida de uma forma diferente! Ele é baseado numa história real descrita no livro de Denver Moore, Ron Hall, Lynn Vincent, "Some Kind of Differente as Me", e que toca com muita sensibilidade e delicadeza em assuntos muito sensíveis como a fé, a importância da caridade e ensinamentos cristãos baseados no amor. Não se trata de um filme religioso, mas eu diria sim, que ele é muito espiritualista - principalmente por nos convidar a refletir sobre nossa missão perante os desafios que a vida vai nos impondo, que a sociedade nos apresenta e na maneira como reagimos às adversidades, mas sob o olhar de diferentes personagens e crenças.
Deborah Hall (Renee Zellweger) é uma mulher religiosa que é casada com Ron (Greg Kinnear), um negociante de arte reconhecido internacionalmente. O casamento entre eles não vai bem, até que Ron é obrigado a contar para Debbie sobre uma traição. Arrependido, Ron busca uma nova chance quando sua mulher apresenta para ele um trabalho voluntário em que atua para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. É nesse contexto que ela insiste para que o marido se aproxime de Denver (Djimon Hounsou), um violento mendigo que carrega com ele as marcas de um passado de sofrimento e exploração. Para salvar seu casamento, Ron tenta fazer amizade com Denver, mas os sonhos escondidos de Deborah podem leva-los em uma direção completamente diferente do que Ron imagina. Confira o trailer (em inglês):
"Somos Todos Iguais" não traz nenhum elemento técnico ou artístico que faça o filme se tornar inesquecível, por outro lado ele se apoia em uma história muito bem contada, com boas performances de todo elenco e uma direção muito segura do estreante Michael Carney. Talvez até, o mérito do filme seja justamente esse: não parecer aquilo que ele não teria condições de ser! O roteiro é simples, mas bem escrito. O prólogo e o epílogo são fracos, mas não prejudicam a jornada - e essa sim é muito bacana! Renée Zellweger, mesmo irreconhecível, é uma atriz muito talentosa e entrega verdade como Deborah. Greg Kinnear talvez não tenha o mesmo talento, mas sempre entrega bons personagens. Djimon Hounsou, esse decolou! Seu "Denver" é um ótimo trabalho!
É preciso que se diga que "Somos Todos Iguais" mesmo discutindo assuntos como racismo e desigualdade social não se propõe a levantar alguma bandeira ou se tornar impositivo em suas convicções. Ele é muito honesto em sua proposta, o que o transforma o filme em um ótimo entretenimento, com momentos emocionantes e que vão nos trazer reflexões importantes, mas sem aquela necessidade de uma narrativa pesada. Resumindo, esse filme é para você que gostou de "O Segredo - Ouse Sonhar" ou "Milagre Azul".
Vale o seu play!
Se você gostou de “The Keepers” e “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”não pode perder “Sophie: a Murder in West Cork", mais uma minissérie documental de true crime da Netflix. O documentário em três partes segue uma fórmula vencedora que desde “Making a Murderer” (2015): aborda um crime brutal, mostra falhas graves na investigação e um erro judiciário que leva ao reexame do caso, que permanece sem solução.
Nessa minissérie, que foi produzida com o aval da família da vítima (importante citar pelo impacto que tem na narrativa), explora as circunstâncias em torno do misterioso assassinato da produtora de cinema e TV francesa Sophie Toscan du Plantier, esposa do famoso produtor de cinema francês Daniel Toscan du Plantier. O corpo de Sophie foi encontrado dois dias antes do Natal de 1996 em sua casa de férias no condado de Cork na Irlanda. O principal suspeito do assassinato foi o jornalista inglês Ian Bailey, que manteve sua alegação de inocência. Bailey, um jornalista que colaborava com vários jornais ingleses, chegou a ser detido duas vezes, mas não foi indiciado por falta de provas. As suspeitas surgiram por matérias jornalísticas escritas por Bailey que revelavam elementos do crime que apenas os investigadores e o assassino poderiam conhecer. Confira o trailer (em inglês):
Sophie: a Murder in West Cork" foi dirigida e escrita pelo John Dower (“My Scientology Movie”) ecoproduzida pelo vencedor do Oscar Simon Chinn (“Man On Wire” e “Searching For Sugarman”) e é conduzida através dos depoimentos da polícia, residentes de Schull (cidade costeira da Irlanda), amigos e família da vítima, além do próprio suspeito do crime, Ian Bailey, que foi inclusive o primeiro a reportar a morte da produtora. A maioria das três partes do documentário é focada em como a polícia construiu um caso contra Bailey, que incluiu vários depoimentos de testemunhas.
O interessante é que a família de Sophie continua convencida da culpa de Bailey, mas nenhum elemento de informação coletado durante a investigação foi suficiente para elucidar o mistério em torno da morte dela. O único vestígio de DNA encontrado na cena do crime, que não pertencia a Sophie, não foi identificado. As especulações sobre outros assassinos em potencial vão desde a teoria de que um assassino perseguiu e matou Sophie até a improvável (e absurda) suposição de que ela foi atacada por um cavalo perdido.
O fato é que a minissérie vale a pena pela belíssima fotografia, uma excelente direção e pela sensibilidade ao retratar uma história tão absurda. “Sophie: a Murder in West Cork" nos faz pensar que nem em uma cidadezinha remota da Irlanda estamos a salvo da maldade humana. Sophie foi para Schull para ter paz de espírito e acabou encontrando a morte aos 39 anos.
Escrito por Ana Cristina Paixão
Se você gostou de “The Keepers” e “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”não pode perder “Sophie: a Murder in West Cork", mais uma minissérie documental de true crime da Netflix. O documentário em três partes segue uma fórmula vencedora que desde “Making a Murderer” (2015): aborda um crime brutal, mostra falhas graves na investigação e um erro judiciário que leva ao reexame do caso, que permanece sem solução.
Nessa minissérie, que foi produzida com o aval da família da vítima (importante citar pelo impacto que tem na narrativa), explora as circunstâncias em torno do misterioso assassinato da produtora de cinema e TV francesa Sophie Toscan du Plantier, esposa do famoso produtor de cinema francês Daniel Toscan du Plantier. O corpo de Sophie foi encontrado dois dias antes do Natal de 1996 em sua casa de férias no condado de Cork na Irlanda. O principal suspeito do assassinato foi o jornalista inglês Ian Bailey, que manteve sua alegação de inocência. Bailey, um jornalista que colaborava com vários jornais ingleses, chegou a ser detido duas vezes, mas não foi indiciado por falta de provas. As suspeitas surgiram por matérias jornalísticas escritas por Bailey que revelavam elementos do crime que apenas os investigadores e o assassino poderiam conhecer. Confira o trailer (em inglês):
Sophie: a Murder in West Cork" foi dirigida e escrita pelo John Dower (“My Scientology Movie”) ecoproduzida pelo vencedor do Oscar Simon Chinn (“Man On Wire” e “Searching For Sugarman”) e é conduzida através dos depoimentos da polícia, residentes de Schull (cidade costeira da Irlanda), amigos e família da vítima, além do próprio suspeito do crime, Ian Bailey, que foi inclusive o primeiro a reportar a morte da produtora. A maioria das três partes do documentário é focada em como a polícia construiu um caso contra Bailey, que incluiu vários depoimentos de testemunhas.
O interessante é que a família de Sophie continua convencida da culpa de Bailey, mas nenhum elemento de informação coletado durante a investigação foi suficiente para elucidar o mistério em torno da morte dela. O único vestígio de DNA encontrado na cena do crime, que não pertencia a Sophie, não foi identificado. As especulações sobre outros assassinos em potencial vão desde a teoria de que um assassino perseguiu e matou Sophie até a improvável (e absurda) suposição de que ela foi atacada por um cavalo perdido.
O fato é que a minissérie vale a pena pela belíssima fotografia, uma excelente direção e pela sensibilidade ao retratar uma história tão absurda. “Sophie: a Murder in West Cork" nos faz pensar que nem em uma cidadezinha remota da Irlanda estamos a salvo da maldade humana. Sophie foi para Schull para ter paz de espírito e acabou encontrando a morte aos 39 anos.
Escrito por Ana Cristina Paixão
"Stillwater" poderia, tranquilamente, ser mais uma série de true crime que tanto nos acostumamos assistir. No entanto, o filme dirigido pelo brilhante Tom McCarthy (de "Spotlight: Segredos Revelados"), vai além daquela premissa envolvente onde a busca pela verdade vai ao encontro da inocência depois de um crime cruel - aqui o filme, mesmo que em muitos momentos soe cadenciado demais, é muito mais provocativo e sabe exatamente como nos tocar a alma com uma atmosfera de melancolia como se fosse a fusão perfeita de "Nomadland"com "Making a Murderer". Sim, aquela desconfortante sensação de perda, de deslocamento e de uma eterna finitude que anuncia sua chegada apenas com o vazio, vai te acompanhar por toda jornada.
A história do filme gira em torno de Bill Baker (Matt Damon), um trabalhador da construção civil de Oklahoma que viaja até Marselha, na França, para visitar sua filha Allison (Abigail Breslin), que está cumprindo pena por um crime que ela alega não ter cometido. Quando novas provas parecem surgir e que poderiam inocentar sua filha, Bill inicia uma cruzada pessoal ao lado da francesa Virginie (Camille Cottin) para reabrir o caso e finalmente encontrar o suposto assassino depois de cinco anos. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que o trailer e a sinopse de "Stillwater" deixem a entender que o roteiro está mais preocupado em acompanhar Bill tentando provar a inocência da filha, posso te garantir que existem camadas emocionais ainda mais profundas ao também retratar a jornada de redenção do personagem. A trama, de fato, se aproveita desses dois gatilhos narrativos e é habilmente construída, alternando momentos de drama, tensão, angustia e até de reflexão, para explorar temas que vão ganhando força, como justiça, família e a difícil jornada de um pai em busca de uma reconciliação com seu passado - a relação de Bill com Virginie e com a filha dela, Maya (Lilou Siauvaud), serve justamente como ponto de equilíbrio entre seus fantasmas do passado e a dura realidade que parece não dar um chance de felicidade para ele.
O roteiro de McCarthy, de Marcus Hinchey ("A Caminho da Fé"), de Thomas Bidegain ("Ferrugem e Osso") e de Noé Debré ("Reputação") é genial - se não na sua estrutura, certamente nos detalhes. Reparem na cena em que Virginie ensaia sua peça de teatro sob os olhos atentos de Bill - em um close-up belíssimo ela diz: “Não há verdade. Apenas histórias para contar”. Uma passagem que pode parecer inofensiva, na verdade serve de gatilho para a transformação que vem a seguir em muitas esferas: da relação entre ela e Bill ao entendimento do crime que colocou Allison na cadeia. Aliás, aqui cabe um comentário pertinente: o elenco é outro ponto forte do filme - Matt Damon entrega uma performance excepcional. Sua interpretação transmite a angústia e a determinação do personagem de forma visceral, enquanto Abigail Breslin se destaca pela complexidade entre a sua vulnerabilidade e o contraste da carga cármica que ela carrega com ódio e repulsa, mesmo que em silêncio.
“Stillwater" (que o Brasil ganhou o didático subtítulo de "Em Busca da Verdade”) pode até parecer ter um grave problema de ritmo, dando a impressão de durar bem mais do que as duas horas e vinte que de fato tem, mas eu diria que o resultado final pode, tranquilamente, ser classificado como um ótimo entretenimento - com uma história que transcende os limites do gênero investigativo para oferecer uma experiência emocionalmente muito mais poderosa e reflexiva do que poderíamos imaginar.
Vale muito o seu play!
"Stillwater" poderia, tranquilamente, ser mais uma série de true crime que tanto nos acostumamos assistir. No entanto, o filme dirigido pelo brilhante Tom McCarthy (de "Spotlight: Segredos Revelados"), vai além daquela premissa envolvente onde a busca pela verdade vai ao encontro da inocência depois de um crime cruel - aqui o filme, mesmo que em muitos momentos soe cadenciado demais, é muito mais provocativo e sabe exatamente como nos tocar a alma com uma atmosfera de melancolia como se fosse a fusão perfeita de "Nomadland"com "Making a Murderer". Sim, aquela desconfortante sensação de perda, de deslocamento e de uma eterna finitude que anuncia sua chegada apenas com o vazio, vai te acompanhar por toda jornada.
A história do filme gira em torno de Bill Baker (Matt Damon), um trabalhador da construção civil de Oklahoma que viaja até Marselha, na França, para visitar sua filha Allison (Abigail Breslin), que está cumprindo pena por um crime que ela alega não ter cometido. Quando novas provas parecem surgir e que poderiam inocentar sua filha, Bill inicia uma cruzada pessoal ao lado da francesa Virginie (Camille Cottin) para reabrir o caso e finalmente encontrar o suposto assassino depois de cinco anos. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que o trailer e a sinopse de "Stillwater" deixem a entender que o roteiro está mais preocupado em acompanhar Bill tentando provar a inocência da filha, posso te garantir que existem camadas emocionais ainda mais profundas ao também retratar a jornada de redenção do personagem. A trama, de fato, se aproveita desses dois gatilhos narrativos e é habilmente construída, alternando momentos de drama, tensão, angustia e até de reflexão, para explorar temas que vão ganhando força, como justiça, família e a difícil jornada de um pai em busca de uma reconciliação com seu passado - a relação de Bill com Virginie e com a filha dela, Maya (Lilou Siauvaud), serve justamente como ponto de equilíbrio entre seus fantasmas do passado e a dura realidade que parece não dar um chance de felicidade para ele.
O roteiro de McCarthy, de Marcus Hinchey ("A Caminho da Fé"), de Thomas Bidegain ("Ferrugem e Osso") e de Noé Debré ("Reputação") é genial - se não na sua estrutura, certamente nos detalhes. Reparem na cena em que Virginie ensaia sua peça de teatro sob os olhos atentos de Bill - em um close-up belíssimo ela diz: “Não há verdade. Apenas histórias para contar”. Uma passagem que pode parecer inofensiva, na verdade serve de gatilho para a transformação que vem a seguir em muitas esferas: da relação entre ela e Bill ao entendimento do crime que colocou Allison na cadeia. Aliás, aqui cabe um comentário pertinente: o elenco é outro ponto forte do filme - Matt Damon entrega uma performance excepcional. Sua interpretação transmite a angústia e a determinação do personagem de forma visceral, enquanto Abigail Breslin se destaca pela complexidade entre a sua vulnerabilidade e o contraste da carga cármica que ela carrega com ódio e repulsa, mesmo que em silêncio.
“Stillwater" (que o Brasil ganhou o didático subtítulo de "Em Busca da Verdade”) pode até parecer ter um grave problema de ritmo, dando a impressão de durar bem mais do que as duas horas e vinte que de fato tem, mas eu diria que o resultado final pode, tranquilamente, ser classificado como um ótimo entretenimento - com uma história que transcende os limites do gênero investigativo para oferecer uma experiência emocionalmente muito mais poderosa e reflexiva do que poderíamos imaginar.
Vale muito o seu play!
"Stranger Things", criada pelos Duffer Brothers, é uma série que se tornou um fenômeno cultural desde sua estreia em 2016. Com uma mistura de terror, ficção científica e nostalgia dos anos 80, a série da Netflix conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo, transformando-se em um dos maiores sucessos da plataforma. Ao longo de suas temporadas, "Stranger Things" conseguiu equilibrar suspense, desenvolvimento de personagens e uma ambientação nostálgica que remete às obras de Stephen King e Steven Spielberg.
A trama de "Stranger Things" começa na pequena cidade fictícia de Hawkins, Indiana, onde um garoto chamado Will Byers (Noah Schnapp) desaparece misteriosamente. Seus amigos - Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) - se unem para procurá-lo, apenas para descobrir uma menina com poderes telecinéticos, chamada Eleven (Millie Bobby Brown), que escapou de um laboratório secreto. A partir daí, a série se desenrola em uma complexa teia de eventos que envolve dimensões paralelas, criaturas monstruosas e conspirações governamentais. Confira o trailer:
O maior trunfo de "Stranger Things" está em seu elenco jovem, que entrega performances cativantes e autênticas. Millie Bobby Brown, em particular, se destaca como Eleven, trazendo uma profundidade e vulnerabilidade que tornam sua personagem inesquecível. O núcleo adulto, liderado por Winona Ryder como Joyce Byers e David Harbour como o xerife Jim Hopper, também oferece atuações sólidas, adicionando camadas emocionais e dramáticas à narrativa. Os Duffer Brothers demonstram uma habilidade excepcional em criar uma atmosfera que mistura suspense e nostalgia. A ambientação dos anos 80 é meticulosamente recriada, desde as referências culturais até a trilha sonora, que inclui clássicos da época e uma trilha original sintetizada que evoca o espírito dos filmes de terror e aventura daquela década - essa atenção aos detalhes não só atrai os espectadores mais velhos que viveram naquela época, mas também cativa uma audiência mais jovem que aprecia a autenticidade e o estilo retro.
A narrativa de "Stranger Things" é bem estruturada, com arcos que se desenvolvem e se entrelaçam de maneira eficaz ao longo das temporadas. A série é habilidosa em equilibrar momentos de terror e ação com cenas emocionais e de crescimento dos personagens. A exploração do Mundo Invertido e suas criaturas, especialmente o Demogorgon e o Devorador de Mentes, adiciona uma camada de mistério e perigo constante muito interessante. Os efeitos visuais são outro ponto forte da série, especialmente considerando seu orçamento de TV. As criaturas e ambientes do Mundo Invertido são criados com um nível de detalhe que rivaliza com muitas produções cinematográficas. A direção de fotografia e a utilização de iluminação e cores contribuem para criar uma atmosfera tensa e envolvente.
No entanto, "Stranger Things" não é isenta de críticas. Alguns argumentam que as temporadas posteriores não conseguem capturar completamente a magia e a originalidade da primeira temporada. A série, em alguns momentos, parece repetir certas fórmulas e clichês, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade. Além disso, a expansão do elenco e das subtramas em temporadas posteriores, embora ambiciosa, nem sempre mantém o mesmo nível de coesão e impacto emocional. Ainda assim, "Stranger Things" continua a ser uma série marcante que combina nostalgia, terror e aventura de maneira única. Seu impacto na cultura pop é inegável, com inúmeras referências e homenagens surgindo em outras obras e na própria sociedade. A série é um testemunho da habilidade dos Duffer Brothers em contar histórias envolventes e criar personagens memoráveis.
Em resumo, "Stranger Things" é uma série que vale muito o seu tempo, seja pela sua narrativa cativante, personagens bem desenvolvidos, ou pela viagem nostálgica aos anos 80. É um exemplo de como um projetos pode unir elementos de diferentes gêneros para criar algo verdadeiramente especial e duradouro.
"Stranger Things", criada pelos Duffer Brothers, é uma série que se tornou um fenômeno cultural desde sua estreia em 2016. Com uma mistura de terror, ficção científica e nostalgia dos anos 80, a série da Netflix conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo, transformando-se em um dos maiores sucessos da plataforma. Ao longo de suas temporadas, "Stranger Things" conseguiu equilibrar suspense, desenvolvimento de personagens e uma ambientação nostálgica que remete às obras de Stephen King e Steven Spielberg.
A trama de "Stranger Things" começa na pequena cidade fictícia de Hawkins, Indiana, onde um garoto chamado Will Byers (Noah Schnapp) desaparece misteriosamente. Seus amigos - Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) - se unem para procurá-lo, apenas para descobrir uma menina com poderes telecinéticos, chamada Eleven (Millie Bobby Brown), que escapou de um laboratório secreto. A partir daí, a série se desenrola em uma complexa teia de eventos que envolve dimensões paralelas, criaturas monstruosas e conspirações governamentais. Confira o trailer:
O maior trunfo de "Stranger Things" está em seu elenco jovem, que entrega performances cativantes e autênticas. Millie Bobby Brown, em particular, se destaca como Eleven, trazendo uma profundidade e vulnerabilidade que tornam sua personagem inesquecível. O núcleo adulto, liderado por Winona Ryder como Joyce Byers e David Harbour como o xerife Jim Hopper, também oferece atuações sólidas, adicionando camadas emocionais e dramáticas à narrativa. Os Duffer Brothers demonstram uma habilidade excepcional em criar uma atmosfera que mistura suspense e nostalgia. A ambientação dos anos 80 é meticulosamente recriada, desde as referências culturais até a trilha sonora, que inclui clássicos da época e uma trilha original sintetizada que evoca o espírito dos filmes de terror e aventura daquela década - essa atenção aos detalhes não só atrai os espectadores mais velhos que viveram naquela época, mas também cativa uma audiência mais jovem que aprecia a autenticidade e o estilo retro.
A narrativa de "Stranger Things" é bem estruturada, com arcos que se desenvolvem e se entrelaçam de maneira eficaz ao longo das temporadas. A série é habilidosa em equilibrar momentos de terror e ação com cenas emocionais e de crescimento dos personagens. A exploração do Mundo Invertido e suas criaturas, especialmente o Demogorgon e o Devorador de Mentes, adiciona uma camada de mistério e perigo constante muito interessante. Os efeitos visuais são outro ponto forte da série, especialmente considerando seu orçamento de TV. As criaturas e ambientes do Mundo Invertido são criados com um nível de detalhe que rivaliza com muitas produções cinematográficas. A direção de fotografia e a utilização de iluminação e cores contribuem para criar uma atmosfera tensa e envolvente.
No entanto, "Stranger Things" não é isenta de críticas. Alguns argumentam que as temporadas posteriores não conseguem capturar completamente a magia e a originalidade da primeira temporada. A série, em alguns momentos, parece repetir certas fórmulas e clichês, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade. Além disso, a expansão do elenco e das subtramas em temporadas posteriores, embora ambiciosa, nem sempre mantém o mesmo nível de coesão e impacto emocional. Ainda assim, "Stranger Things" continua a ser uma série marcante que combina nostalgia, terror e aventura de maneira única. Seu impacto na cultura pop é inegável, com inúmeras referências e homenagens surgindo em outras obras e na própria sociedade. A série é um testemunho da habilidade dos Duffer Brothers em contar histórias envolventes e criar personagens memoráveis.
Em resumo, "Stranger Things" é uma série que vale muito o seu tempo, seja pela sua narrativa cativante, personagens bem desenvolvidos, ou pela viagem nostálgica aos anos 80. É um exemplo de como um projetos pode unir elementos de diferentes gêneros para criar algo verdadeiramente especial e duradouro.
"Talk-Show", que no Brasil recebeu o inspirado subtítulo de "Reinventando a Comédia", é uma graça! Embora possa ser definida como uma comédia, eu diria que o filme tem muitos elementos do drama, porém discutidos no roteiro de uma forma muito leve, divertida e até despretensiosa - e muito desse equilíbrio perfeito, sempre no tom certo e com muita inteligência, é mérito do talento da roteirista (e protagonista), Mindy Kaling.
Em "Late Night" (no original), uma lendária apresentadora de um famoso talk-show noturno, Katherine Newbury (Emma Thompson), vive a tensão de ter seu emprego ameaçado graças aos baixos índices de audiência e um natural desgaste do formato, no ar há tantos anos. É justamente nesse momento, que Newbury contrata Molly Patel (Mindy Kaling) uma mulher, de descendência indiana e sem experiência alguma na TV, para sua equipe de roteiristas, formada essencialmente por homens, brancos e heterossexuais, e assim tentar mudar o destino de sua atração. Confira o trailer (em inglês):
Se inicialmente "Talk-Show - Reinventando a Comédia" soa como uma versão menos glamourosa (se é que se pode definir assim) de o "O diabo veste Prada", rapidamente o filme pende para a série da AppleTV+, "Morning Show" - o fato é que a produção da Amazon transita muito bem entre as duas referências citadas respeitando suas diferenças, mas aproveitando muitos elementos narrativos de ambas. Katherine Newbury é a perfeita união de Miranda Priestly de Meryl Streep com Alex Levy de Jennifer Aniston - se a personalidade forte da primeira se sobressai perante a insegurança da segunda, isso é interpretativo, porém fica claro que Emma Thompson foi capaz de definir perfeitamente todas as camadas da personagem de uma forma brilhante. É de se perguntar, inclusive, por que "raios" ela não foi indicada ao Oscar de 2020, mesmo depois de uma forte indicação para o Globo de Ouro - talvez pelo filme ser uma comédia pautada em esteriótipos da indústria? Mas Meryl Streep foi indicada 2007 com sua Miranda - enfim, coisas da Academia!
A diretora Nisha Ganatra que tem séries como "Transparent" no currículo, entrega um filme tecnicamente irretocável, com um excelente trabalho na direção de atores. Se Mindy Kaling ainda não tem o reconhecimento como atriz que tem como roteirista e produtora executiva (são 6 indicações ao Emmy), em "Talk-Show" ela entrega uma personagem perfeita para nos apaixonarmos. Agora, quando nos aprofundamos na história que Kaling criou, aí o nível vai lá em cima: ela pontua tão bem a comédia com o drama sem perder o tom e a delicadeza, mesmo nos assuntos mais, digamos, espinhosos - e aqui estamos falando de discussões sobre "política de cotas" até chegar nas dificuldades das mulheres encontrarem espaço na indústria do entretenimento à medida que envelhecem e também na forma como elas são tratadas em meio a um escândalo, pela mídia e pela opinião pública.
Obviamente que a "forma" de "Talk-Show", suaviza o seu "conteúdo" - propositalmente. Embora irônico e sagaz, nenhum comentário serve de gatilho para discussões mais profundas, mas é impressionante como cada uma das "cutucadas" vem com time ideal para que a história evolua. Saiba que o filme é divertido e muito bem realizado, um entretenimento de excelente qualidade para quem gosta do gênero.
Vale o play!
"Talk-Show", que no Brasil recebeu o inspirado subtítulo de "Reinventando a Comédia", é uma graça! Embora possa ser definida como uma comédia, eu diria que o filme tem muitos elementos do drama, porém discutidos no roteiro de uma forma muito leve, divertida e até despretensiosa - e muito desse equilíbrio perfeito, sempre no tom certo e com muita inteligência, é mérito do talento da roteirista (e protagonista), Mindy Kaling.
Em "Late Night" (no original), uma lendária apresentadora de um famoso talk-show noturno, Katherine Newbury (Emma Thompson), vive a tensão de ter seu emprego ameaçado graças aos baixos índices de audiência e um natural desgaste do formato, no ar há tantos anos. É justamente nesse momento, que Newbury contrata Molly Patel (Mindy Kaling) uma mulher, de descendência indiana e sem experiência alguma na TV, para sua equipe de roteiristas, formada essencialmente por homens, brancos e heterossexuais, e assim tentar mudar o destino de sua atração. Confira o trailer (em inglês):
Se inicialmente "Talk-Show - Reinventando a Comédia" soa como uma versão menos glamourosa (se é que se pode definir assim) de o "O diabo veste Prada", rapidamente o filme pende para a série da AppleTV+, "Morning Show" - o fato é que a produção da Amazon transita muito bem entre as duas referências citadas respeitando suas diferenças, mas aproveitando muitos elementos narrativos de ambas. Katherine Newbury é a perfeita união de Miranda Priestly de Meryl Streep com Alex Levy de Jennifer Aniston - se a personalidade forte da primeira se sobressai perante a insegurança da segunda, isso é interpretativo, porém fica claro que Emma Thompson foi capaz de definir perfeitamente todas as camadas da personagem de uma forma brilhante. É de se perguntar, inclusive, por que "raios" ela não foi indicada ao Oscar de 2020, mesmo depois de uma forte indicação para o Globo de Ouro - talvez pelo filme ser uma comédia pautada em esteriótipos da indústria? Mas Meryl Streep foi indicada 2007 com sua Miranda - enfim, coisas da Academia!
A diretora Nisha Ganatra que tem séries como "Transparent" no currículo, entrega um filme tecnicamente irretocável, com um excelente trabalho na direção de atores. Se Mindy Kaling ainda não tem o reconhecimento como atriz que tem como roteirista e produtora executiva (são 6 indicações ao Emmy), em "Talk-Show" ela entrega uma personagem perfeita para nos apaixonarmos. Agora, quando nos aprofundamos na história que Kaling criou, aí o nível vai lá em cima: ela pontua tão bem a comédia com o drama sem perder o tom e a delicadeza, mesmo nos assuntos mais, digamos, espinhosos - e aqui estamos falando de discussões sobre "política de cotas" até chegar nas dificuldades das mulheres encontrarem espaço na indústria do entretenimento à medida que envelhecem e também na forma como elas são tratadas em meio a um escândalo, pela mídia e pela opinião pública.
Obviamente que a "forma" de "Talk-Show", suaviza o seu "conteúdo" - propositalmente. Embora irônico e sagaz, nenhum comentário serve de gatilho para discussões mais profundas, mas é impressionante como cada uma das "cutucadas" vem com time ideal para que a história evolua. Saiba que o filme é divertido e muito bem realizado, um entretenimento de excelente qualidade para quem gosta do gênero.
Vale o play!
"The Final Table" é digno de maratona, mas admito que assisti mais por gostar do tema, do que por alguma grande inovação do Formato!
São 10 episódios de pouco mais de 50 minutos, onde 12 duplas, formadas por Chef's do mundo inteiro, precisam fazer receitas que representam um determinado país: primeiro um prato tradicional é escolhido por três convidados e depois, em uma repescagem, um único ingrediente é indicado por um Chef do país e a critividade dos competidores são colocadas a prova. Advinha qual foi o prato tradicional que representa o Brasil?...rs. A cada episódio uma dupla é eliminada até que no episódio final as duas melhores duplas são desfeitas e a competição passa a ser individual.
Vamos lá, "The Final Table" tem selo de super-produção: é muito (mas muito) bem produzido, o cenário é lindo, a iluminação é impecável (e tem um papel importante na narrativa - isso é um mérito que vemos pouco por aqui) e a trilha sonora (e efeitos) excelente. Tudo funciona muito organicamente! O Formato é muito bem definido, com elementos de fácil assimilação e com uma dinâmica de competição bastante comum - o que ajuda por um lado, porque as regras são claras e fáceis, mas pode ser um pouco enfadonho por outro, afinal parece mais do mesmo! O Formato Original da Netflix é uma espécie de MasterChef de grife com uma dinâmica (narrativa e visual) de America's Got Talent (com Host, jurados, alguma tensão, depoimentos, mais um pouco de tensão, etc), mas o que eleva o nível de elegância do programa são, sem dúvida, as referências de "Chef's Table" - na minha opinião, isso colocou o Formato em outro patamar!
A primeira temporada viaja por 9 países, mostra um pouco da sua cultura gastronômica, da história de alguns ingredientes e de um Chef referência do país por episódio. A competição é aquilo que a gente conhece e não dá muito pra fugir disso, o que é divertido pra quem gosta de gastronomia e pronto. A única coisa que eu não gostei tanto no Formato é o fato de serem duplas: 24 competidores é muita coisa para só 10 episódios. Você não consegue criar vinculo com eles, não se identifica imediatamente com suas histórias e ficamos com a sensação que tudo parece muito corrido. Não mudaria em nada se fossem 12 competidores (1 de cada país) - traria muito mais aquele tom de Copa do Mundo para cada Temporada. A competição ganharia e esse lado mais "The Voice" poderia ser melhor trabalhado nas edições.
Vale o play, é divertido, dinâmico e te prende!
"The Final Table" é digno de maratona, mas admito que assisti mais por gostar do tema, do que por alguma grande inovação do Formato!
São 10 episódios de pouco mais de 50 minutos, onde 12 duplas, formadas por Chef's do mundo inteiro, precisam fazer receitas que representam um determinado país: primeiro um prato tradicional é escolhido por três convidados e depois, em uma repescagem, um único ingrediente é indicado por um Chef do país e a critividade dos competidores são colocadas a prova. Advinha qual foi o prato tradicional que representa o Brasil?...rs. A cada episódio uma dupla é eliminada até que no episódio final as duas melhores duplas são desfeitas e a competição passa a ser individual.
Vamos lá, "The Final Table" tem selo de super-produção: é muito (mas muito) bem produzido, o cenário é lindo, a iluminação é impecável (e tem um papel importante na narrativa - isso é um mérito que vemos pouco por aqui) e a trilha sonora (e efeitos) excelente. Tudo funciona muito organicamente! O Formato é muito bem definido, com elementos de fácil assimilação e com uma dinâmica de competição bastante comum - o que ajuda por um lado, porque as regras são claras e fáceis, mas pode ser um pouco enfadonho por outro, afinal parece mais do mesmo! O Formato Original da Netflix é uma espécie de MasterChef de grife com uma dinâmica (narrativa e visual) de America's Got Talent (com Host, jurados, alguma tensão, depoimentos, mais um pouco de tensão, etc), mas o que eleva o nível de elegância do programa são, sem dúvida, as referências de "Chef's Table" - na minha opinião, isso colocou o Formato em outro patamar!
A primeira temporada viaja por 9 países, mostra um pouco da sua cultura gastronômica, da história de alguns ingredientes e de um Chef referência do país por episódio. A competição é aquilo que a gente conhece e não dá muito pra fugir disso, o que é divertido pra quem gosta de gastronomia e pronto. A única coisa que eu não gostei tanto no Formato é o fato de serem duplas: 24 competidores é muita coisa para só 10 episódios. Você não consegue criar vinculo com eles, não se identifica imediatamente com suas histórias e ficamos com a sensação que tudo parece muito corrido. Não mudaria em nada se fossem 12 competidores (1 de cada país) - traria muito mais aquele tom de Copa do Mundo para cada Temporada. A competição ganharia e esse lado mais "The Voice" poderia ser melhor trabalhado nas edições.
Vale o play, é divertido, dinâmico e te prende!
Se você gosta de "Vikings", essa série produzida pela BBC não deixa absolutamente nada a desejar à produção do History Channel.
Baseada no grande sucesso Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell, "The Last Kingdom" acompanha a jornada do jovem Uhtred (Alexander Dreymon) que foi sequestrado pelos dinamarqueses quando eles invadiram seu reino. Nobre de berço, Uhtred viu toda sua família ser assassinada, mas acabou sendo poupado e criado como um filho nórdico ao lado de Brida (Emily Cox). Porém a desgraça parece acompanhar Uhtred e quando ele perde sua nova família em um ato de vingança, ele acaba sendo considerado o culpado. Sem chance alguma de explicação e jurado de morte, Uhtred e Brida precisam fugir para o único reino saxão ainda não dominado pelos Vikings: Wessex - comandado pelo aparentemente debilitado Rei Alfredo. Lá, apesar do desgosto de Brida, Uhtred passa a usar seus conhecimentos sobre os hábitos e estratégias dinamarquesas para ajudar o rei, tudo com o propósito egoísta de recuperar Bebbanburg, hoje controlada por seu tio traidor. Confira o trailer (em inglês):
"The Last Kingdom" é realmente muito bom e muito bem realizado - mais uma prova que é possível fazer um produto de qualidade desse gênero, com o cuidado que ele merece, com um roteiro bem trabalhado e sem um custo de produção proibitivo. Embora a história aparente ser complicada demais, cheia de nomes, territórios e deuses, o roteiro trabalha para criar uma linha narrativa quase intuitiva onde uma história vai levando a outra e assim por diante. Tenho a impressão que Vikings é mais dinâmica, mas nem por isso "The Last Kingdom" seja parada, muito pelo contrário, as vezes é até corrida demais, porém não é uma série que aposta em cenas grandiosas como Game of Thrones por exemplo. É uma série de história, não necessariamente de muitas batalhas!
A fotografia e a direção de arte são muito competentes e para quem gosta do gênero, vale muito a pena. Uma informação importante é que a Netflix assumiu a co-produtora a partir da segunda temporada, ou seja, houve um injeção de orçamento o que deu fôlego para, pelo menos, mais 3 temporadas!
Vale seu play!
Se você gosta de "Vikings", essa série produzida pela BBC não deixa absolutamente nada a desejar à produção do History Channel.
Baseada no grande sucesso Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell, "The Last Kingdom" acompanha a jornada do jovem Uhtred (Alexander Dreymon) que foi sequestrado pelos dinamarqueses quando eles invadiram seu reino. Nobre de berço, Uhtred viu toda sua família ser assassinada, mas acabou sendo poupado e criado como um filho nórdico ao lado de Brida (Emily Cox). Porém a desgraça parece acompanhar Uhtred e quando ele perde sua nova família em um ato de vingança, ele acaba sendo considerado o culpado. Sem chance alguma de explicação e jurado de morte, Uhtred e Brida precisam fugir para o único reino saxão ainda não dominado pelos Vikings: Wessex - comandado pelo aparentemente debilitado Rei Alfredo. Lá, apesar do desgosto de Brida, Uhtred passa a usar seus conhecimentos sobre os hábitos e estratégias dinamarquesas para ajudar o rei, tudo com o propósito egoísta de recuperar Bebbanburg, hoje controlada por seu tio traidor. Confira o trailer (em inglês):
"The Last Kingdom" é realmente muito bom e muito bem realizado - mais uma prova que é possível fazer um produto de qualidade desse gênero, com o cuidado que ele merece, com um roteiro bem trabalhado e sem um custo de produção proibitivo. Embora a história aparente ser complicada demais, cheia de nomes, territórios e deuses, o roteiro trabalha para criar uma linha narrativa quase intuitiva onde uma história vai levando a outra e assim por diante. Tenho a impressão que Vikings é mais dinâmica, mas nem por isso "The Last Kingdom" seja parada, muito pelo contrário, as vezes é até corrida demais, porém não é uma série que aposta em cenas grandiosas como Game of Thrones por exemplo. É uma série de história, não necessariamente de muitas batalhas!
A fotografia e a direção de arte são muito competentes e para quem gosta do gênero, vale muito a pena. Uma informação importante é que a Netflix assumiu a co-produtora a partir da segunda temporada, ou seja, houve um injeção de orçamento o que deu fôlego para, pelo menos, mais 3 temporadas!
Vale seu play!
Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!
Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.
O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.
O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".
Vale o play se você gostar do estilo.
Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!
Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.
O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.
O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".
Vale o play se você gostar do estilo.
"The Old Guard" é claramente a tentativa da Netflix de emplacar uma franquia de herói consistente com seu selo "Originals" e de quebra ainda fidelizar um público que pode migrar de plataforma com a chegada do Disney+. Dito isso, é preciso analisar o filme sob dois aspectos: o primeiro, mercadológico - baseado na HQ daImage Comics, escrita pelo Greg Rucka e desenhada pelo Leandro Fernández, "The Old Guard" caiu como uma luva dentro da estratégia da Netflix desde o momento em que ela trás para o time criativo o próprio Rucka para escrever o roteiro. Outro golaço foi escolher Charlize Theron como protagonista, já acostumada com a dinâmica de heroína em filmes de ação/ficção como em "Prometheus", "Mad Max: Estrada da Fúria" e até mesmo em "Atômica". O segundo aspecto relevante, sem dúvida, diz respeito à história escolhida - ao trazer a memória afetiva de "Highlander – O Guerreiro Imortal", o filme usa e abusa de uma narrativa atual (bem no estilo Marvel) ao mesmo tempo em que tenta construir uma mitologia própria (em flashbacks) que possibilita inúmeras ramificações dramáticas que podem resultar em várias sequências - a "cena pós crédito" (que na verdade nem é pós crédito, mas serve como uma espécie de "gancho") é um exemplo descarado desse planejamento. Bom, vamos ao trailer e depois voltamos para a discussão:
"The Old Guard" acompanha Andrômaca ou Andy (Charlize Theron) uma espécie de guerreira imortal que lidera uma equipe com outros três imortais, Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicki (Luca Marinelli), que se encontraram ao longo dos séculos para lutar, como o próprio Booker diz, "por aquilo que eles acreditam ser o certo". Porém eles passam a ser perseguidos por um bilionário, Merrick (Harry Melling), CEO de uma gigante da industria farmacêutica, que pretende captura-los e assim descobrir os segredos dessa longevidade. É aí que entra Nile Freeman (KiKi Layne), uma soldada americana que depois de muitos séculos surge como uma nova imortal e precisa do auxílio de Andy para entender essa nova condição até se tornar mais um membro da equipe.
De fato, "The Old Guard" tem potencial para ser uma franquia de sucesso. Nesse primeiro filme encontramos a ação que o gênero sugere, a discussão filosófica e íntima que os personagens precisam e ainda uma série elementos fantásticos que nos acompanham e nos instigam até o final. Se tem algo que não funciona, certamente é o vilão de Harry Melling - sua motivação é fraca e a performance completamente estereotipada, mas sobre isso falaremos mais adiante. No geral achei o filme divertido, dinâmico (nem sentimos as duas horas de duração) e interessante por tudo que é contado, mas mais ainda por um background que ainda vai ser explorado. Se você gosta de filme de herói, com uma pegada bem de fantasia, pode dar o play sem medo!
Embora seja um filme de herói, a força de "The Old Guard", definitivamente, não está na luta para vencer um vilão e sim na jornada da protagonista para encontrar a paz, mesmo que para isso ela tenha que vencer seu inimigo que, como já citamos, não tem elementos suficientes para nos causar alguma dúvida de que não será facilmente derrotado - não existe uma forte motivação que mova esse vilão na busca de redenção, por exemplo. O próprio Copley (Chiwetel Ejiofor), ex-agente da CIA que já havia trabalhado em uma missão com a equipe de Andy e que perdeu a esposa recentemente devido a uma doença degenerativa, "ELA", teria um papel muito mais relevante se fosse um vilão de verdade do que o Merrick.
Quando Greg Rucka adapta sua história, ele não só se mantém muito fiel à HQ, como ele acrescenta elementos que tornam a jornada de Andrômacaainda mais complexa e profunda - a sua dor ao encarar o seu dom como uma terrível maldição durante séculos (mais uma vez evocando a música "Who wants to live forever!") e a relação que ela estabelece com seus pares, inclusive com sua parceira Quynh (Van Veronica Ngo), é sensacional! Mas aqui cabe uma pequena crítica: tenho a impressão que a produção das cenas em flashback poderia ter sido melhor trabalhada - achei tudo muito flat, fake até,; sem a menor identidade! A fotografia não ajudou em nada e a forma como a diretora Gina Prince-Bythewood (do aclamado "Além dos Limites") comandou a construção da mitologia não me agradou - faltou uma Patty Jenkins de "Mulher Maravilha". Por outro lado, nas cenas de ação e pancadaria, Prince-Bythewood soube se equilibrar e em nenhum momento usou de piruetas ou explosões para roubar no jogo ou entregar algo que já não tivesse sugerido.
No fima das contas, "The Old Guard" tem qualidade! Nasceu bom: com um roteiro que soube trabalhar o drama e a ação sem cansar quem assiste e ao mesmo tempo apresentar uma história que ainda tem muito para contar. Charlize Theron ajudou a levantar o filme, mas não deve seguir por muito tempo na franquia, sabendo disso, achei muito inteligente a forma como Greg Rucka já nos oferece as opções de continuação - e pode ter certeza: ela virá!
Vale pelo entretenimento, com certeza!
"The Old Guard" é claramente a tentativa da Netflix de emplacar uma franquia de herói consistente com seu selo "Originals" e de quebra ainda fidelizar um público que pode migrar de plataforma com a chegada do Disney+. Dito isso, é preciso analisar o filme sob dois aspectos: o primeiro, mercadológico - baseado na HQ daImage Comics, escrita pelo Greg Rucka e desenhada pelo Leandro Fernández, "The Old Guard" caiu como uma luva dentro da estratégia da Netflix desde o momento em que ela trás para o time criativo o próprio Rucka para escrever o roteiro. Outro golaço foi escolher Charlize Theron como protagonista, já acostumada com a dinâmica de heroína em filmes de ação/ficção como em "Prometheus", "Mad Max: Estrada da Fúria" e até mesmo em "Atômica". O segundo aspecto relevante, sem dúvida, diz respeito à história escolhida - ao trazer a memória afetiva de "Highlander – O Guerreiro Imortal", o filme usa e abusa de uma narrativa atual (bem no estilo Marvel) ao mesmo tempo em que tenta construir uma mitologia própria (em flashbacks) que possibilita inúmeras ramificações dramáticas que podem resultar em várias sequências - a "cena pós crédito" (que na verdade nem é pós crédito, mas serve como uma espécie de "gancho") é um exemplo descarado desse planejamento. Bom, vamos ao trailer e depois voltamos para a discussão:
"The Old Guard" acompanha Andrômaca ou Andy (Charlize Theron) uma espécie de guerreira imortal que lidera uma equipe com outros três imortais, Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicki (Luca Marinelli), que se encontraram ao longo dos séculos para lutar, como o próprio Booker diz, "por aquilo que eles acreditam ser o certo". Porém eles passam a ser perseguidos por um bilionário, Merrick (Harry Melling), CEO de uma gigante da industria farmacêutica, que pretende captura-los e assim descobrir os segredos dessa longevidade. É aí que entra Nile Freeman (KiKi Layne), uma soldada americana que depois de muitos séculos surge como uma nova imortal e precisa do auxílio de Andy para entender essa nova condição até se tornar mais um membro da equipe.
De fato, "The Old Guard" tem potencial para ser uma franquia de sucesso. Nesse primeiro filme encontramos a ação que o gênero sugere, a discussão filosófica e íntima que os personagens precisam e ainda uma série elementos fantásticos que nos acompanham e nos instigam até o final. Se tem algo que não funciona, certamente é o vilão de Harry Melling - sua motivação é fraca e a performance completamente estereotipada, mas sobre isso falaremos mais adiante. No geral achei o filme divertido, dinâmico (nem sentimos as duas horas de duração) e interessante por tudo que é contado, mas mais ainda por um background que ainda vai ser explorado. Se você gosta de filme de herói, com uma pegada bem de fantasia, pode dar o play sem medo!
Embora seja um filme de herói, a força de "The Old Guard", definitivamente, não está na luta para vencer um vilão e sim na jornada da protagonista para encontrar a paz, mesmo que para isso ela tenha que vencer seu inimigo que, como já citamos, não tem elementos suficientes para nos causar alguma dúvida de que não será facilmente derrotado - não existe uma forte motivação que mova esse vilão na busca de redenção, por exemplo. O próprio Copley (Chiwetel Ejiofor), ex-agente da CIA que já havia trabalhado em uma missão com a equipe de Andy e que perdeu a esposa recentemente devido a uma doença degenerativa, "ELA", teria um papel muito mais relevante se fosse um vilão de verdade do que o Merrick.
Quando Greg Rucka adapta sua história, ele não só se mantém muito fiel à HQ, como ele acrescenta elementos que tornam a jornada de Andrômacaainda mais complexa e profunda - a sua dor ao encarar o seu dom como uma terrível maldição durante séculos (mais uma vez evocando a música "Who wants to live forever!") e a relação que ela estabelece com seus pares, inclusive com sua parceira Quynh (Van Veronica Ngo), é sensacional! Mas aqui cabe uma pequena crítica: tenho a impressão que a produção das cenas em flashback poderia ter sido melhor trabalhada - achei tudo muito flat, fake até,; sem a menor identidade! A fotografia não ajudou em nada e a forma como a diretora Gina Prince-Bythewood (do aclamado "Além dos Limites") comandou a construção da mitologia não me agradou - faltou uma Patty Jenkins de "Mulher Maravilha". Por outro lado, nas cenas de ação e pancadaria, Prince-Bythewood soube se equilibrar e em nenhum momento usou de piruetas ou explosões para roubar no jogo ou entregar algo que já não tivesse sugerido.
No fima das contas, "The Old Guard" tem qualidade! Nasceu bom: com um roteiro que soube trabalhar o drama e a ação sem cansar quem assiste e ao mesmo tempo apresentar uma história que ainda tem muito para contar. Charlize Theron ajudou a levantar o filme, mas não deve seguir por muito tempo na franquia, sabendo disso, achei muito inteligente a forma como Greg Rucka já nos oferece as opções de continuação - e pode ter certeza: ela virá!
Vale pelo entretenimento, com certeza!