Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.
Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):
"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.
Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.
Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.
Vale muito o seu play!
Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.
Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):
"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.
Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.
Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.
Vale muito o seu play!
Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.
O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:
A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.
Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.
Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!
"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!
Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.
O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:
A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.
Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.
Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!
"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!
"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:
Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!
"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!
Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha.
"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!
"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:
Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!
"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!
Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha.
"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.
Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:
Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.
Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.
Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!
Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!
"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.
Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:
Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.
Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.
Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!
Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!
"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.
Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):
Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada.
Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.
Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.
Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!
PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs
"Vórtex" é um espécie de "Ghost" com "Black Mirror" e mais ótimos elementos de "Efeito Borboleta". Embora essa produção francesa de 2022 exija uma boa dose de suspensão da realidade, principalmente no que diz respeito ao viés tecnológico da história, posso te garantir que o entretenimento, de fato, vale muito a pena. A trama dividida em 6 episódios de 60 minutos, constrói sua base em cima de um consistente drama policial, porém sem esquecer da importância das relações humanas, familiar e de casal, para nos proporcionar uma experiência das mais interessantes a partir de um gatilho narrativo que sempre chama atenção da audiência: a viagem no tempo.
Em um futuro próximo, no ano de 2025, a realidade virtual se tornou uma ferramenta comum nas investigações policiais. O procedimento é simples: uma equipe de drones escaneia a cena do crime e os detetives acessam essas informações em um espaço de realidade virtual para tentar encontrar novas pistas. Depois do corpo de uma mulher ser encontrado na praia, a história se concentra em Ludovic Beguin (Tomer Sisley), conhecido como Ludo, um policial da cidade francesa de Brest que, graças a uma falha nessa tecnologia chamada "vórtex", consegue se comunicar sua mulher,Mélanie (Camille Claris), que havia morrido, misteriosamente, em 1998, no mesmo local do crime atual. Confira on trailer (em francês):
Embora "Vórtex" esteja longe de ser um primor estético de ficção cientifica como "Minority Report", um dos aspectos mais notáveis da produção é a forma como diretor Slimane-Baptiste Berhoun é capaz de criar uma atmosfera sombria e envolvente desde as primeiras cenas mesmo com todas as suas limitações técnicas - em um primeiro olhar, ele traz muito do conceito visual (e até narrativo) das séries nórdicas. Sua competente direção explora uma sensação constante de tensão e mistério, fazendo com que a audiência se sinta tão intrigada quanto confusa, principalmente quando o "Efeito Borboleta" entra em cena. Reparem como tudo se encaixa e como os detalhes são pontuados com muita sensibilidade pelo texto, ou seja, ou você presta muita atenção ou sua teoria de "quem matou?" pode ser bastante prejudicada.
Um ponto interessante da minissérie é como o roteiro de Camille Couasse e Sarah Farkas, baseado na história de Franck Thilliez, aborda temas mais profundos e até existenciais, explorando questões sobre destino e livre arbítrio ao mesmo tempo em que o texto trabalha o caso policial como um verdadeiro clássico do gênero. Já o viés tecnológico é fraco, mas importante para a narrativa. Por outro lado, à medida que a trama vai se desenrolando, somos confrontados com questionamentos sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento humano, adicionando ainda mais camadas aos personagens e complexidade para a narrativa - o plot investigativo é muito bem desenhado e vai te surpreender.
Apesar de todas as qualidades, "Vórtex" pode apresentar alguns momentos onde o ritmo mais lento, especialmente nos episódios iniciais, quando a trama está sendo estabelecida, possa incomodar. No entanto, isso é compensado pelo aumento constante da tensão e do mistério, que vai ganhando cada vez mais corpo com as reviravoltas que ocorrem nos episódios subsequentes. Outro incômodo diz respeito ao distanciamento natural da ficção científica - ele vira um drama de relação até chegar em um thriller policial. Tudo isso é bem dinâmico, mas acontece.
Enfim "Vórtex" é divertido e envolvente. Mais uma agradável supresa que certamente vai te conquistar! Pode dar o play sem receio!
PS: as referências à Copa do Mundo de 1998, podem causar algum desconforto para os amantes do futebol...rs
Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!
Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):
Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.
A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.
O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!
Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena!
Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!
Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):
Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.
A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.
O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!
Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:
Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!
Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!
Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!
Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.
Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!
"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:
Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!
Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!
Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!
Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.
Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!
"Zola" é o típico filme que desde a primeira cena já entendemos que "vai dar ruim" - mais ou menos como a sensação de assistir "Victória"! Porém o que envolve sua premissa é o fato de que essa história é inteiramente baseada em uma sequência de 150 tweets, onde A’Ziah King conta uma experiência maluca que de fato aconteceu com ela. O filme estreou no Festival de Sundance em 2020 e recebeu, em sua maioria, críticas muito positivas o credenciando para um contrato de distribuição internacional pela HBO.
A história é relativamente simples, pois narra um período de 48 horas em que duas mulheres que se tornam amigas por acaso, Zola (Taylour Paige) e Stefani (Riley Keough), partem para uma viagem para se apresentar em casas noturnas de Tampa, na Flórida, mas acabam envolvidas no perigoso submundo da prostituição. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela A24 e muito fiel a um cenário pesado da noite americana, a diretora Janicza Bravo (de "Lemon") impõe uma identidade muito particular para sua narrativa, trazendo elementos quase experimentais, mas que a ajudam a criar um mood perfeito para essa jornada. Com cortes rapidíssimos, e aqui o filme merece muito destaque já que a montadora Joi McMillon (indicada ao Oscar por "Moonlight") foi muito premiada por esse trabalho; e muitos planos captados pelas câmeras de celular das próprias atrizes, Bravo cria uma dinâmica angustiante nos dando a impressão que a noite nunca vai acabar. Um detalhe interessante merece sua atenção: todos os personagens ao redor de Zola parecem estar sempre alucinados, porém em nenhum momento assistimos algum consumo de drogas durante o filme.
Visualmente o filme usa e abusa do neon e das cores marcantes que encontramos na Flórida, mesmo quando o cenário transita do luxo para o lixo (e vice-versa). O fato de ter sido filmado em 16 mm, também ajuda na percepção granulada e vintage da composição estética. Algumas referências vindas do "estilo Scorsese" de construir sua linha narrativa ficam claras - do ritmo frenético das ações à protagonista narrando sua história com freeze frames e um rock anos 50 de fundo. Mas tudo funciona. Tanto Taylour Paige quanto Riley Keough entregam ótimas (mas propositalmente diferentes) performances, porém é impossível não destacar o trabalho de Nicholas Braun (o eterno Greg de Succession).
"Zola" vai agradar mais aqueles que se conectam com produções independentes e circulam pelos festivais de cinema com muita propriedade. O fato da história ser real ajuda na nossa imersão pela história e nos faz torcer pela protagonista, porém uma coisa é fato: em nada o filme se aproxima da gramática convencional dos roteiros de cinema, ou seja. você vai assistir uma história que parece estar sendo cobrada por alguém ou lida em uma curiosa sequência de tweets.
Vale a pena!
"Zola" é o típico filme que desde a primeira cena já entendemos que "vai dar ruim" - mais ou menos como a sensação de assistir "Victória"! Porém o que envolve sua premissa é o fato de que essa história é inteiramente baseada em uma sequência de 150 tweets, onde A’Ziah King conta uma experiência maluca que de fato aconteceu com ela. O filme estreou no Festival de Sundance em 2020 e recebeu, em sua maioria, críticas muito positivas o credenciando para um contrato de distribuição internacional pela HBO.
A história é relativamente simples, pois narra um período de 48 horas em que duas mulheres que se tornam amigas por acaso, Zola (Taylour Paige) e Stefani (Riley Keough), partem para uma viagem para se apresentar em casas noturnas de Tampa, na Flórida, mas acabam envolvidas no perigoso submundo da prostituição. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela A24 e muito fiel a um cenário pesado da noite americana, a diretora Janicza Bravo (de "Lemon") impõe uma identidade muito particular para sua narrativa, trazendo elementos quase experimentais, mas que a ajudam a criar um mood perfeito para essa jornada. Com cortes rapidíssimos, e aqui o filme merece muito destaque já que a montadora Joi McMillon (indicada ao Oscar por "Moonlight") foi muito premiada por esse trabalho; e muitos planos captados pelas câmeras de celular das próprias atrizes, Bravo cria uma dinâmica angustiante nos dando a impressão que a noite nunca vai acabar. Um detalhe interessante merece sua atenção: todos os personagens ao redor de Zola parecem estar sempre alucinados, porém em nenhum momento assistimos algum consumo de drogas durante o filme.
Visualmente o filme usa e abusa do neon e das cores marcantes que encontramos na Flórida, mesmo quando o cenário transita do luxo para o lixo (e vice-versa). O fato de ter sido filmado em 16 mm, também ajuda na percepção granulada e vintage da composição estética. Algumas referências vindas do "estilo Scorsese" de construir sua linha narrativa ficam claras - do ritmo frenético das ações à protagonista narrando sua história com freeze frames e um rock anos 50 de fundo. Mas tudo funciona. Tanto Taylour Paige quanto Riley Keough entregam ótimas (mas propositalmente diferentes) performances, porém é impossível não destacar o trabalho de Nicholas Braun (o eterno Greg de Succession).
"Zola" vai agradar mais aqueles que se conectam com produções independentes e circulam pelos festivais de cinema com muita propriedade. O fato da história ser real ajuda na nossa imersão pela história e nos faz torcer pela protagonista, porém uma coisa é fato: em nada o filme se aproxima da gramática convencional dos roteiros de cinema, ou seja. você vai assistir uma história que parece estar sendo cobrada por alguém ou lida em uma curiosa sequência de tweets.
Vale a pena!