"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.
Em "Fresh" conhecemos a jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:
Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.
Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.
É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.
Vale o play!
"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.
Em "Fresh" conhecemos a jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:
Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.
Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.
É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.
Vale o play!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.
Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:
É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.
Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.
Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.
"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!
Vale seu play!
Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.
Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:
É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.
Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.
Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.
"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!
Vale seu play!
Antes de mais nada é preciso avisar: "Invincible" será uma das animações mais violentas que você vai assistir! A surpreendente série da Prime Vídeo pinta, ou melhor, mancha de vermelho duas histórias bastante tradicionais: a "jornada do herói" e o ‘coming of age’.
Nesse universo, vários seres com superpoderes habitam a Terra (e outros planetas). Todos os heróis e vilões que você conhece parecem ter uma ‘versão beta’ em "Invincible". E isso não é ruim. Não mesmo! Os personagens possuem motivações convincentes e até dúbias. Há várias subtramas acontecendo ao mesmo tempo e, felizmente, o roteiro consegue costura-las organicamente.
A série adapta os HQs de Robert Kirkman e narra a vida de um jovem de 17 anos que é filho de um poderoso alienígena com uma humana, Mark Grayson. O adolescente ainda está aprendendo a usar seus poderes quando se vê frente a ameaças como invasões extraterrestres e vilões sádicos. E, enquanto tenta salvar o dia e seguir os passos de seu pai, um famoso super-herói, ele também tenta sobreviver ao seu processo de amadurecimento como um ser "quase" humano. Confira o trailer:
A série não tem uma definição clara de público alvo. A violência explícita e o mistério sombrio contrastam com um drama juvenil e diálogos simplórios (pra não dizer bobos). Em compensação, o humor afiado funciona bem. O espetacular elenco de vozes que vai de J.K. Simmons até Zachary Quinto, passando por Sandra Oh, Steven Yeun, Zazie Beetz, Gillian Jacobs, entre outros; eleva (ainda mais) o nível de carisma dos personagens. Por isso, fica a recomendação: assista no idioma original!
Esteticamente, a animação 2D se aproxima menos de clássicos japoneses (como "Akira") e mais de séries juvenis (como "X-Men: Evolution") - o conceito estético segue com grande fidelidade os traços originais de Ryan Otley e Cory Walker dos HQs, com a atmosfera e o tom bastante semelhantes às histórias publicadas pela Image Comics em 144 edições entre 2003 e 2018. Também por isso, a violência é ainda mais impactante!
A duração dos episódios poderia ser menor? Sim. Apesar disso, a carga dramática é crescente na segunda metade da temporada. Os dois últimos episódios, especialmente, são uma sequência de socos no estômago – em todos os sentidos.
"Invincible" traz um frescor sangrento ao já saturado universo dos super-heróis. Para Mark Grayson, testemunhar verdades inconvenientes e a fragilidade da vida humana são os golpes que mais machucam. Vale a pena!
Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria @dicastreaming
Antes de mais nada é preciso avisar: "Invincible" será uma das animações mais violentas que você vai assistir! A surpreendente série da Prime Vídeo pinta, ou melhor, mancha de vermelho duas histórias bastante tradicionais: a "jornada do herói" e o ‘coming of age’.
Nesse universo, vários seres com superpoderes habitam a Terra (e outros planetas). Todos os heróis e vilões que você conhece parecem ter uma ‘versão beta’ em "Invincible". E isso não é ruim. Não mesmo! Os personagens possuem motivações convincentes e até dúbias. Há várias subtramas acontecendo ao mesmo tempo e, felizmente, o roteiro consegue costura-las organicamente.
A série adapta os HQs de Robert Kirkman e narra a vida de um jovem de 17 anos que é filho de um poderoso alienígena com uma humana, Mark Grayson. O adolescente ainda está aprendendo a usar seus poderes quando se vê frente a ameaças como invasões extraterrestres e vilões sádicos. E, enquanto tenta salvar o dia e seguir os passos de seu pai, um famoso super-herói, ele também tenta sobreviver ao seu processo de amadurecimento como um ser "quase" humano. Confira o trailer:
A série não tem uma definição clara de público alvo. A violência explícita e o mistério sombrio contrastam com um drama juvenil e diálogos simplórios (pra não dizer bobos). Em compensação, o humor afiado funciona bem. O espetacular elenco de vozes que vai de J.K. Simmons até Zachary Quinto, passando por Sandra Oh, Steven Yeun, Zazie Beetz, Gillian Jacobs, entre outros; eleva (ainda mais) o nível de carisma dos personagens. Por isso, fica a recomendação: assista no idioma original!
Esteticamente, a animação 2D se aproxima menos de clássicos japoneses (como "Akira") e mais de séries juvenis (como "X-Men: Evolution") - o conceito estético segue com grande fidelidade os traços originais de Ryan Otley e Cory Walker dos HQs, com a atmosfera e o tom bastante semelhantes às histórias publicadas pela Image Comics em 144 edições entre 2003 e 2018. Também por isso, a violência é ainda mais impactante!
A duração dos episódios poderia ser menor? Sim. Apesar disso, a carga dramática é crescente na segunda metade da temporada. Os dois últimos episódios, especialmente, são uma sequência de socos no estômago – em todos os sentidos.
"Invincible" traz um frescor sangrento ao já saturado universo dos super-heróis. Para Mark Grayson, testemunhar verdades inconvenientes e a fragilidade da vida humana são os golpes que mais machucam. Vale a pena!
Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria @dicastreaming
"Je Suis Karl" é um verdadeiro soco no estômago. Essa produção alemã usa muitos elementos de outros dois grandes sucessos do país: "Em Pedaços"e "Nós somos a Onda" - e aqui não estamos comparando as produções e sim pontuando características que facilmente conseguimos encontrar se olharmos com mais atenção para cada uma delas. Veja, "Je Suis Karl" explora várias camadas de uma complexa discussão sobre a imigração na Europa e seus reflexos em atentados terroristas, seja ele qual for a motivação - é um recorte de quem ataca e de quem é a vítima através de uma visão extremamente delicada sobre o extremismo e a ascensão da ultra direita.
Maxi Baier (Luna Wedler) é uma sobrevivente de um ataque terrorista que matou sua mãe e seus dois irmãos, restando apenas o pai. Em um belo dia, a jovem conhece Karl (Jannis Niewöhner), um sedutor estudante que a convida para um seminário de verão sobre a diversidade. Entretanto, na chamada para o evento destaca-se a frase “assuma o controle”. Juntos, eles se tornam parte de um movimento juvenil europeu que visa tomar, de fato, o poder a partir de ideias extremistas de supremacia branca. Confira o trailer (original):
Chancelado pela seleção no 71ª Festival de Berlin, o filme dirigido magistralmente por Christian Schwochow e escrito por Thomas Wendrich, apresenta uma reflexão sobre uma interpretação deturpada das origens e consequências de uma tragédia pelos olhos (e cliques) irresponsáveis de um grupo supremacista obcecado por suas estratégias de sedução - é impressionante a habilidade com que Schwochow vai quebrando a linha temporal e usando de conceitos estéticos para explorar uma narrativa que sobrepõe a dor com fanatismo, xenofobia e aliciamento, além, claro, da deturpação de valores morais com o único objetivo de mudar a mentalidade de pessoas aparentemente boas, mas facilmente influenciáveis - e aí está o grande problema (da humanidade em tempos de redes sociais).
Além de um roteiro bem redondinho e de uma direção com muita identidade, "Je Suis Karl" tem um conceito estética muito marcante, com uma fotografia deslumbrante que é potencializada por um trabalho de pós-produção das mais interessantes: reparem como as cores e as texturas se encaixam perfeitamente com a ambientação e com o clímax da história, seja em Berlim, Paris ou Praga. Mesmo em alguns momentos acima do tom, Maxi Baier faz um excelente trabalho ao lado de Jannis Niewöhner - mas a performance que mais me chamou a atenção foi a do pai de Maxi, Alex (Milan Peschel). Tem uma dor marcante no seu olhar que corta o coração.
"Je Suis Karl" tem uma levada independente que impacta na história e surpreende pelas escolhas narrativas que Schwochow e Wendrich fizeram. Saiba que o conflito prometido desde o início vai se transformando durante o segundo ato do filme e assim eliminando toda aquela previsibilidade que parecia natural, com isso a progressão das relações entre os personagens vão ganhando força e a interpretação de seus ideais, fatalmente, vai te provocar ótimas de reflexões - e esse é o ponto alto do filme!
Uma boa surpresa que vale cada minuto!
"Je Suis Karl" é um verdadeiro soco no estômago. Essa produção alemã usa muitos elementos de outros dois grandes sucessos do país: "Em Pedaços"e "Nós somos a Onda" - e aqui não estamos comparando as produções e sim pontuando características que facilmente conseguimos encontrar se olharmos com mais atenção para cada uma delas. Veja, "Je Suis Karl" explora várias camadas de uma complexa discussão sobre a imigração na Europa e seus reflexos em atentados terroristas, seja ele qual for a motivação - é um recorte de quem ataca e de quem é a vítima através de uma visão extremamente delicada sobre o extremismo e a ascensão da ultra direita.
Maxi Baier (Luna Wedler) é uma sobrevivente de um ataque terrorista que matou sua mãe e seus dois irmãos, restando apenas o pai. Em um belo dia, a jovem conhece Karl (Jannis Niewöhner), um sedutor estudante que a convida para um seminário de verão sobre a diversidade. Entretanto, na chamada para o evento destaca-se a frase “assuma o controle”. Juntos, eles se tornam parte de um movimento juvenil europeu que visa tomar, de fato, o poder a partir de ideias extremistas de supremacia branca. Confira o trailer (original):
Chancelado pela seleção no 71ª Festival de Berlin, o filme dirigido magistralmente por Christian Schwochow e escrito por Thomas Wendrich, apresenta uma reflexão sobre uma interpretação deturpada das origens e consequências de uma tragédia pelos olhos (e cliques) irresponsáveis de um grupo supremacista obcecado por suas estratégias de sedução - é impressionante a habilidade com que Schwochow vai quebrando a linha temporal e usando de conceitos estéticos para explorar uma narrativa que sobrepõe a dor com fanatismo, xenofobia e aliciamento, além, claro, da deturpação de valores morais com o único objetivo de mudar a mentalidade de pessoas aparentemente boas, mas facilmente influenciáveis - e aí está o grande problema (da humanidade em tempos de redes sociais).
Além de um roteiro bem redondinho e de uma direção com muita identidade, "Je Suis Karl" tem um conceito estética muito marcante, com uma fotografia deslumbrante que é potencializada por um trabalho de pós-produção das mais interessantes: reparem como as cores e as texturas se encaixam perfeitamente com a ambientação e com o clímax da história, seja em Berlim, Paris ou Praga. Mesmo em alguns momentos acima do tom, Maxi Baier faz um excelente trabalho ao lado de Jannis Niewöhner - mas a performance que mais me chamou a atenção foi a do pai de Maxi, Alex (Milan Peschel). Tem uma dor marcante no seu olhar que corta o coração.
"Je Suis Karl" tem uma levada independente que impacta na história e surpreende pelas escolhas narrativas que Schwochow e Wendrich fizeram. Saiba que o conflito prometido desde o início vai se transformando durante o segundo ato do filme e assim eliminando toda aquela previsibilidade que parecia natural, com isso a progressão das relações entre os personagens vão ganhando força e a interpretação de seus ideais, fatalmente, vai te provocar ótimas de reflexões - e esse é o ponto alto do filme!
Uma boa surpresa que vale cada minuto!
"Jóias Brutas" é sobre o caos que pode se tornar a vida de um ser-humano que está sempre preocupado em ganhar mais dinheiro, no sentido ganancioso da palavra! Aliás, é angustiante como a direção, o roteiro e a montagem trabalham alinhados para provocar essa sensação de caos, de desordem, de desespero! Simplesmente incrível!
O filme acompanha a jornada do joalheiro (e judeu) Howard Ratner (Adam Sandler). Viciado em apostas, e não necessariamente apenas com dinheiro, Ratner está sempre colocando sua própria vida jogo. Assim que consegue uma pedra de opala de mineradores da Etiópia, ele inicia uma série de negociações paralelas com o objetivo de valorizar o artefacto que vai entrar em um leilão em breve. Acontece que Ratner acaba se enrolando e agora precisa quitar algumas dívidas anteriores, para isso, sua única saída são as apostas, cada vez mais arriscadas, envolvendo jogos de basquete e um dos seus principais clientes, o astro do Boston Celtics, Kevin Garnett. Confira o trailer:
Esse é o segundo filme que assisto dos irmãos Benny e Josh Safdie - o primeiro, o excelente, Amor, Drogas e Nova York, uma espécie de "Eu, Christiane F." com um olhar extremamente visceral sobre o relacionamento humano e como o ambiente impacta nesse processo de auto-destruição. O interessante é que "Jóias Brutas" segue esse mesmo conceito narrativo e visual, e fortalece a identidade dos irmãos Safdie como poucas vezes vi na história recente do cinema autoral. Eu já adianto: prestem muita atenção no trabalho desses caras!
Se existiu toda a polêmica pela não indicação do Adam Sandler por "Jóias Brutas", já que essa parecia ser a chance da sua vida como comentamos no blog, é preciso dizer que o filme vai muito além do seu incrível trabalho. Da concepção estética ao roteiro redondinho, passando por uma direção de elenco simplesmente fabulosa - esse filme é daqueles que mexem com nossas sensações e que entrega um final impecável!
Existem alguns elementos nesse filme dos irmão Safdie que podem passar despercebidos para os menos atentos, mas que ajudam a construir todas as sensações que temos enquanto acompanhamos a história. Muito do que sentimos é reflexo de como a ambientação de uma ação nos provoca a refletir, veja: existe um conceito visual frenético, mérito de um trabalho sensacional do fotógrafo Darius Khondji - um daqueles profissionais notáveis que ainda não ganhou um Oscar, mas carrega no currículo obras-primas como "Seven", "Evita", "Okja", "Amor", "Meia-noite em Paris" e por aí vai! Pois bem, alinhado a isso temos um desenho de som fantástico - reparem em como a cidade pulsa (NY é aquilo) e em detalhes simples como o som da botão que abre a porta de segurança da loja, nos causam uma enorme sensação de angústia! Tudo isso com personagens falando todos ao mesmo tempo onde, mais importante do que entende-los, é experimentar aquela desorientação momentânea que a cena propõe!
Seguindo essa linha, a trilha sonora mais tecno traz para "Jóias Brutas" um ar hipnótico, moderno, inovador, tão presente na vida do nova-iorquino! Reparem no desenho da luz negra e no brilho das roupas na cena da boate onde, em determinado momento, tudo desaparece para dar protagonismo ao personagem que interessa na construção do próximo caos: no caso, Demany (LaKeith Stanfield), o responsável por levar clientes ilustres para a joalheria de Ratner. Nessa mesma sequência, sentimos na pele a dor de nunca ser o centro das atenções ou de ter o respeito por ser o que é, e sim por já ter tido algo, quando Howard Ratner se depara com sua "amante gostosa" (Julia Fox) ao lado de alguém supostamente mais em evidência naquele momento! É intenso, real e cruel!
O resumo técnico de "Jóias Brutas" comprova uma das maiores injustiças que a Academia cometeu em 2020 (ao lado de "A Despedida"). Como "Closer", onde o subtexto e as sensações são mais profundos do que exatamente o que vemos na tela, talvez esse filme não se estabeleça como uma unanimidade! Para mim, um dos melhores do ano sem a menor sombra de dúvidas e um convite ao "cinema de gênero com alma". Não se trata de um suspense policial como a Netflix erradamente divulgou, "Jóias Brutas" é sim um drama profundo, auto-destrutivo e caótico, capaz de relativizar a importância da família, da vida e do caráter pela busca de um sonho material e ostensivo que só existe onde pouco se constrói com propósito!
Play, para não se arrepender!
"Jóias Brutas" é sobre o caos que pode se tornar a vida de um ser-humano que está sempre preocupado em ganhar mais dinheiro, no sentido ganancioso da palavra! Aliás, é angustiante como a direção, o roteiro e a montagem trabalham alinhados para provocar essa sensação de caos, de desordem, de desespero! Simplesmente incrível!
O filme acompanha a jornada do joalheiro (e judeu) Howard Ratner (Adam Sandler). Viciado em apostas, e não necessariamente apenas com dinheiro, Ratner está sempre colocando sua própria vida jogo. Assim que consegue uma pedra de opala de mineradores da Etiópia, ele inicia uma série de negociações paralelas com o objetivo de valorizar o artefacto que vai entrar em um leilão em breve. Acontece que Ratner acaba se enrolando e agora precisa quitar algumas dívidas anteriores, para isso, sua única saída são as apostas, cada vez mais arriscadas, envolvendo jogos de basquete e um dos seus principais clientes, o astro do Boston Celtics, Kevin Garnett. Confira o trailer:
Esse é o segundo filme que assisto dos irmãos Benny e Josh Safdie - o primeiro, o excelente, Amor, Drogas e Nova York, uma espécie de "Eu, Christiane F." com um olhar extremamente visceral sobre o relacionamento humano e como o ambiente impacta nesse processo de auto-destruição. O interessante é que "Jóias Brutas" segue esse mesmo conceito narrativo e visual, e fortalece a identidade dos irmãos Safdie como poucas vezes vi na história recente do cinema autoral. Eu já adianto: prestem muita atenção no trabalho desses caras!
Se existiu toda a polêmica pela não indicação do Adam Sandler por "Jóias Brutas", já que essa parecia ser a chance da sua vida como comentamos no blog, é preciso dizer que o filme vai muito além do seu incrível trabalho. Da concepção estética ao roteiro redondinho, passando por uma direção de elenco simplesmente fabulosa - esse filme é daqueles que mexem com nossas sensações e que entrega um final impecável!
Existem alguns elementos nesse filme dos irmão Safdie que podem passar despercebidos para os menos atentos, mas que ajudam a construir todas as sensações que temos enquanto acompanhamos a história. Muito do que sentimos é reflexo de como a ambientação de uma ação nos provoca a refletir, veja: existe um conceito visual frenético, mérito de um trabalho sensacional do fotógrafo Darius Khondji - um daqueles profissionais notáveis que ainda não ganhou um Oscar, mas carrega no currículo obras-primas como "Seven", "Evita", "Okja", "Amor", "Meia-noite em Paris" e por aí vai! Pois bem, alinhado a isso temos um desenho de som fantástico - reparem em como a cidade pulsa (NY é aquilo) e em detalhes simples como o som da botão que abre a porta de segurança da loja, nos causam uma enorme sensação de angústia! Tudo isso com personagens falando todos ao mesmo tempo onde, mais importante do que entende-los, é experimentar aquela desorientação momentânea que a cena propõe!
Seguindo essa linha, a trilha sonora mais tecno traz para "Jóias Brutas" um ar hipnótico, moderno, inovador, tão presente na vida do nova-iorquino! Reparem no desenho da luz negra e no brilho das roupas na cena da boate onde, em determinado momento, tudo desaparece para dar protagonismo ao personagem que interessa na construção do próximo caos: no caso, Demany (LaKeith Stanfield), o responsável por levar clientes ilustres para a joalheria de Ratner. Nessa mesma sequência, sentimos na pele a dor de nunca ser o centro das atenções ou de ter o respeito por ser o que é, e sim por já ter tido algo, quando Howard Ratner se depara com sua "amante gostosa" (Julia Fox) ao lado de alguém supostamente mais em evidência naquele momento! É intenso, real e cruel!
O resumo técnico de "Jóias Brutas" comprova uma das maiores injustiças que a Academia cometeu em 2020 (ao lado de "A Despedida"). Como "Closer", onde o subtexto e as sensações são mais profundos do que exatamente o que vemos na tela, talvez esse filme não se estabeleça como uma unanimidade! Para mim, um dos melhores do ano sem a menor sombra de dúvidas e um convite ao "cinema de gênero com alma". Não se trata de um suspense policial como a Netflix erradamente divulgou, "Jóias Brutas" é sim um drama profundo, auto-destrutivo e caótico, capaz de relativizar a importância da família, da vida e do caráter pela busca de um sonho material e ostensivo que só existe onde pouco se constrói com propósito!
Play, para não se arrepender!
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.
No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:
Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo").
"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".
É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!
Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".
Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!
Vale muito o play... 3x no mínimo!!!
Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.
No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:
Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo").
"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".
É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!
Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".
Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!
Vale muito o play... 3x no mínimo!!!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!
A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:
Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.
A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.
"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série!
Vale muito o seu play!
"Mayor of Kingstown" é excelente e te falo: ela tem uma vibe meio "Ozark" que é muito envolvente! Criada pelo novato Hugh Dillon e pelo "Rock Star" Taylor Sheridan (de "Yellowstone" e "Tulsa King"), "Mayor of Kingstown" é um drama criminal que mergulha profundamente nas entranhas do sistema penitenciário dos Estados Unidos pelo viés de quem está do lado de fora, mas (in)diretamente envolvido com o sistema. Lançada em 2021 pela Paramount+, a série explora temas como poder, corrupção e traição com o enfoque de quem luta pela sobrevivência em uma cidade onde as prisões são o principal ativo financeiro da região. Com uma narrativa realmente sombria e intensa, performances que vão chamar sua atenção e uma direção muito competente, "Mayor of Kingstown" se destaca como um dos melhores entretenimentos do gênero nos últimos tempos. Com uma mistura equilibrada de "Oz" com "The Wire", aqui temos uma visão igualmente implacável e perturbadora da realidade carcerária que vai fazer valer seu play!
A trama acompanha a família McLusky, que há gerações controla a cidade de Kingstown, no Michigan. Liderada por Mike McLusky (Jeremy Renner), a família atua como intermediária entre os presos, as autoridades e as várias facções que operam dentro e fora das prisões. Mike, que assume o papel de "prefeito" informal da cidade após a morte de seu irmão Mitch (Kyle Chandler), tenta manter uma frágil paz em um ambiente onde a violência e a corrupção são onipresentes. Confira o trailer:
Taylor Sheridan e Hugh Dillon (que também estrela na série como Ian), trazem uma abordagem crua e realista à narrativa que faz muita diferença na nossa experiência como audiência. Com um roteiro denso e cheio de camadas interessantes, a série é muito feliz ao explorar as complexas relações de poder e a moralidade, digamos, ambígua dos personagens construindo um entretenimento de altíssima qualidade - mesmo que algumas situações soem absurdas, o contexto mais realista é muito provocador. O time de roteiristas foi capaz de criar uma dinâmica bastante afiada, com diálogos potentes e um enredo que nos mantém engajados através de reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão. Mesmo que inicialmente demore para entendermos a conexão entre histórias e personagens, a série ainda assim se destaca por trazer para os holofotes temas como a injustiça social e a brutalidade policial, além de discutir a natureza cíclica da violência, oferecendo uma crítica incisiva do sistema penitenciário americano.
A direção de um time talentoso de profissionais com passagens por obras relevantes para o gênero como a já citada "The Wire", além de "O Justiceiro", "Mare of Easttown" e "SWAT", é meticulosa, capaz de capturar a brutalidade e a desesperança do sistema prisional com a atmosfera realmente depressiva e caótica das ruas. A série tem uma identidade visual forte, com uma paleta de cores desbotada e uma iluminação que enfatiza a opressão e a deterioração da cidade, criando uma sensação constante de angústia e perigo iminente. Jeremy Renner também entrega uma performance impressionante para compor essa pintura - ele tem uma intensidade e um carisma que sustentam a narrativa. Seu personagem é complexo, um homem endurecido pelas circunstâncias que, apesar de suas ações moralmente questionáveis, luta por um senso de ordem e justiça em um ambiente caótico. Kyle Chandler, embora sua presença na série seja breve, deixa uma marca indelével como Mitch, o irmão mais velho e ex-líder da família. O elenco de apoio, incluindo Dianne Wiest como a matriarca Mariam McLusky e Hugh Dillon como Ian, contribui significativamente para a riqueza da narrativa, oferecendo atuações que são ao mesmo tempo cheia de nuances e impactantes.
"Mayor of Kingstown" segue a abordagem conceitual mais sombria e muitas vezes excessivamente brutal, que para muitos pode soar deprimente ou difícil de assistir, de "Ozark". Além disso, a complexidade da trama e a densidade dos personagens podem ser um desafio para aqueles que preferem narrativas mais diretas e simples, no entanto, para quem está disposto a enfrentar a jornada dos McLusky proposta por Taylor Sheridan e Hugh Dillon, eu garanto: você não vai se arrepender e muito menos conseguir parar de assistir a série!
Vale muito o seu play!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Morbius" cumpre seu papel de apresentar o personagem por ser uma história de origem, mas está muito longe do que poderia ser - e aqui cabe uma observação: nem tudo que funciona na HQ, vai funcionar no cinema se você não tiver o mínimo de bom senso em estruturar a história para que ela que seja coerente com aquele universo na qual ela faz parte. O filme tem sim boas sequências, uma atmosfera um pouco mais densa do que estamos acostumados nos filmes da Marvel e eu diria que até diverte para quem gosta muito do gênero, mas cá entre nós, parece um filme do começo dos anos 2000.
Com uma rara doença no sangue, e determinado a salvar outras pessoas com esse mesmo destino, Dr. Morbius (Jared Leto) tenta uma aposta extrema: misturar o DNA de morcegos vampiros com o humano. O que antes parecia uma grande descoberta científica e de enorme sucesso, se revelou uma solução pior que a própria doença. Confira o trailer:
Eu tenho certeza que o diretor sueco Daniel Espinosa ("Crimes Ocultos") não teve a liberdade para montar o filme da maneira que ele gostaria. A não ser que o roteiro seja muito ruim, dado o potencial do personagem - o que vemos na tela é uma história confusa, cheia de soluções óbvias (razão pela qual criticávamos tanto a DC) e cenas que não levam a absolutamente lugar algum. Veja, se olharmos "Morbius" em camadas, temos momentos interessantes, bem dirigidos e até com efeitos interessantes; o problema é que todos esses pontos oscilam muito durando filme, nada se sustenta de maneira fluida - talvez apenas a fotografia Oliver Wood (da franquia "Bourne") e, acreditem, a performance de Jared Leto, não se encaixem nas inúmeras falhas do filme. Talvez Matt Smith como Milo, possa se salvar também.
As cenas pós-crédito (são duas) que teoricamente conectam o personagem ao universo do Homem-Aranha a partir da relação entre Adrian Toomes (Michael Keaton), o Abutre, e o anti-herói, não tem a menor conexão com a história que acabou de ser contada e até com o personagem que vimos nascer - o diálogo entre Toomes e o Dr. Morbius é constrangedor de ruim. O que provavelmente vai diminuir a decepção pelo filme será a forma como o personagem vai se desenvolver daqui para frente, e digo isso com muita tranquilidade porque já vimos filmes de origem que mesmo aquém do esperado ajudaram a compor o arco maior e passaram a serem vistos como uma peça importante dentro de um quebra-cabeça maior.
Sinceramente esse é o tipo de filme que vai agradar apenas aquele fã de filmes de herói que se obriga a assistir todas as produções para poder se sentir confortável com toda a saga que está sendo criada. Para aqueles que não conhecem o personagem, muito pode ser aproveitado. Para os que já conhecem, uma ou outra cena vai agradar e só!
"Morbius" cumpre seu papel de apresentar o personagem por ser uma história de origem, mas está muito longe do que poderia ser - e aqui cabe uma observação: nem tudo que funciona na HQ, vai funcionar no cinema se você não tiver o mínimo de bom senso em estruturar a história para que ela que seja coerente com aquele universo na qual ela faz parte. O filme tem sim boas sequências, uma atmosfera um pouco mais densa do que estamos acostumados nos filmes da Marvel e eu diria que até diverte para quem gosta muito do gênero, mas cá entre nós, parece um filme do começo dos anos 2000.
Com uma rara doença no sangue, e determinado a salvar outras pessoas com esse mesmo destino, Dr. Morbius (Jared Leto) tenta uma aposta extrema: misturar o DNA de morcegos vampiros com o humano. O que antes parecia uma grande descoberta científica e de enorme sucesso, se revelou uma solução pior que a própria doença. Confira o trailer:
Eu tenho certeza que o diretor sueco Daniel Espinosa ("Crimes Ocultos") não teve a liberdade para montar o filme da maneira que ele gostaria. A não ser que o roteiro seja muito ruim, dado o potencial do personagem - o que vemos na tela é uma história confusa, cheia de soluções óbvias (razão pela qual criticávamos tanto a DC) e cenas que não levam a absolutamente lugar algum. Veja, se olharmos "Morbius" em camadas, temos momentos interessantes, bem dirigidos e até com efeitos interessantes; o problema é que todos esses pontos oscilam muito durando filme, nada se sustenta de maneira fluida - talvez apenas a fotografia Oliver Wood (da franquia "Bourne") e, acreditem, a performance de Jared Leto, não se encaixem nas inúmeras falhas do filme. Talvez Matt Smith como Milo, possa se salvar também.
As cenas pós-crédito (são duas) que teoricamente conectam o personagem ao universo do Homem-Aranha a partir da relação entre Adrian Toomes (Michael Keaton), o Abutre, e o anti-herói, não tem a menor conexão com a história que acabou de ser contada e até com o personagem que vimos nascer - o diálogo entre Toomes e o Dr. Morbius é constrangedor de ruim. O que provavelmente vai diminuir a decepção pelo filme será a forma como o personagem vai se desenvolver daqui para frente, e digo isso com muita tranquilidade porque já vimos filmes de origem que mesmo aquém do esperado ajudaram a compor o arco maior e passaram a serem vistos como uma peça importante dentro de um quebra-cabeça maior.
Sinceramente esse é o tipo de filme que vai agradar apenas aquele fã de filmes de herói que se obriga a assistir todas as produções para poder se sentir confortável com toda a saga que está sendo criada. Para aqueles que não conhecem o personagem, muito pode ser aproveitado. Para os que já conhecem, uma ou outra cena vai agradar e só!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.
A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:
É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.
Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história.
Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!
"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.
A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:
É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.
Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história.
Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!
"O Abraço da Serpente" é um filme muito complicado de assistir, que foge dos padrões estéticos e narrativos que estamos acostumados, e mesmo chancelado por mais de 40 prêmios em Festivais Internacionais (que incluem Cannes e Sundance), além de uma indicação de "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2016, eu diria que apenas um público muito pequeno e selecionado vai se conectar com a história e se permitir às profundas reflexões que o diretor colombiano Ciro Guerra propõe.
Com a ajuda do xamã Karamakate (Nilbio Torres), Theodor Koch-Grunberg (Jan Bijvoet), um famoso explorador europeu, percorreu centenas de quilómetros do rio Amazonas quando, gravemente doente, buscava uma flor que poderia ser o objeto de sua cura. Anos depois, Richard Evans Schultes (Brionne Davis), considerado o pai da etnobotânica moderna, que tendo as publicações de Grunberg em mãos, tenta refazer os passos do pesquisador ao lado do mesmo Karamakate (aqui Antonio Bolívar) para encontrar a tal planta lendária. Confira o trailer:
O "preto e branco" da fotografia de David Gallego (de "Sal") é um contraponto potente com a diversidade de cores que representa o cenário por onde a história do filme se desenrola, mas ao mesmo tempo foi a forma como Guerra estabeleceu a frieza daqueles dois recortes temporais - quando acompanhamos Théo, estamos nos primeiros anos da década de 1900; quando somos apresentados para Evans, já estamos no meio do século; porém nada mudou, ou melhor, se transformou em algo muito pior! A missão religiosa (e o que isso se tornou) nos causa um forte (forte mesmo) impacto emocional - é incrível como o filme se apropria de uma linguagem quase documental para explorar de forma antropológica como a cultura indígena foi destruída (ou ceifada) pela catequização. A passagem que mostra o Messias louco no meio do "nada" é tão atual quanto a assustadora relação do um missionário colombiano com crianças indígenas - tudo em nome de Deus.
Grande parte de "O Abraço da Serpente" nos entrega a natureza como parte de uma jornada espiritual. Há muito simbolismo e até metáforas já que a percepção de mundo de um xamã é completamente diferente de um ocidental, no entanto, é muito interessante como o roteiro conecta esses dois mundos e propõe uma discussão inteligente sobre ação e consequência - mesmo que em alguns momentos soe como ato de boa-fé (a passagem da bússola é um bom exemplo, reparem). Tanto Bijvoet quanto Davis estão impecáveis na pele dos exploradores, mas, sem dúvida, é Nilbio Torres que se destaca - é impressionante como é possível sentir sua dor sem ao menos precisar entender uma palavra do seu dialeto.
"O Abraço da Serpente" retrata tantas nuances da colonização cultural na América que chega a embrulhar o estômago. Poucas vezes vi a ficção ser tão dura (e realista) sem precisar exaltar o indígena como individuo intocável. Esse realismo visceral só nos ajuda a entender como a preservação antropológica de uma cultura é importante e como ela continua praticamente esquecida até hoje. O filme é sim uma forte crítica a todas questões pertinentes que envolveram a colonização, como a extração irregular das riquezas naturais (para produzir borracha), ou o braço pesado do homem branco sobre o povo indígena como elemento de imposição e, claro, o total esgotamento (contínuo) de um povo cheio de sabedoria que já não existe mais.
Não espere uma jornada fácil - o que você vai encontrar é uma jornada cadenciada, profunda e de difícil absorção; mas que vale muito a pena!
"O Abraço da Serpente" é um filme muito complicado de assistir, que foge dos padrões estéticos e narrativos que estamos acostumados, e mesmo chancelado por mais de 40 prêmios em Festivais Internacionais (que incluem Cannes e Sundance), além de uma indicação de "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2016, eu diria que apenas um público muito pequeno e selecionado vai se conectar com a história e se permitir às profundas reflexões que o diretor colombiano Ciro Guerra propõe.
Com a ajuda do xamã Karamakate (Nilbio Torres), Theodor Koch-Grunberg (Jan Bijvoet), um famoso explorador europeu, percorreu centenas de quilómetros do rio Amazonas quando, gravemente doente, buscava uma flor que poderia ser o objeto de sua cura. Anos depois, Richard Evans Schultes (Brionne Davis), considerado o pai da etnobotânica moderna, que tendo as publicações de Grunberg em mãos, tenta refazer os passos do pesquisador ao lado do mesmo Karamakate (aqui Antonio Bolívar) para encontrar a tal planta lendária. Confira o trailer:
O "preto e branco" da fotografia de David Gallego (de "Sal") é um contraponto potente com a diversidade de cores que representa o cenário por onde a história do filme se desenrola, mas ao mesmo tempo foi a forma como Guerra estabeleceu a frieza daqueles dois recortes temporais - quando acompanhamos Théo, estamos nos primeiros anos da década de 1900; quando somos apresentados para Evans, já estamos no meio do século; porém nada mudou, ou melhor, se transformou em algo muito pior! A missão religiosa (e o que isso se tornou) nos causa um forte (forte mesmo) impacto emocional - é incrível como o filme se apropria de uma linguagem quase documental para explorar de forma antropológica como a cultura indígena foi destruída (ou ceifada) pela catequização. A passagem que mostra o Messias louco no meio do "nada" é tão atual quanto a assustadora relação do um missionário colombiano com crianças indígenas - tudo em nome de Deus.
Grande parte de "O Abraço da Serpente" nos entrega a natureza como parte de uma jornada espiritual. Há muito simbolismo e até metáforas já que a percepção de mundo de um xamã é completamente diferente de um ocidental, no entanto, é muito interessante como o roteiro conecta esses dois mundos e propõe uma discussão inteligente sobre ação e consequência - mesmo que em alguns momentos soe como ato de boa-fé (a passagem da bússola é um bom exemplo, reparem). Tanto Bijvoet quanto Davis estão impecáveis na pele dos exploradores, mas, sem dúvida, é Nilbio Torres que se destaca - é impressionante como é possível sentir sua dor sem ao menos precisar entender uma palavra do seu dialeto.
"O Abraço da Serpente" retrata tantas nuances da colonização cultural na América que chega a embrulhar o estômago. Poucas vezes vi a ficção ser tão dura (e realista) sem precisar exaltar o indígena como individuo intocável. Esse realismo visceral só nos ajuda a entender como a preservação antropológica de uma cultura é importante e como ela continua praticamente esquecida até hoje. O filme é sim uma forte crítica a todas questões pertinentes que envolveram a colonização, como a extração irregular das riquezas naturais (para produzir borracha), ou o braço pesado do homem branco sobre o povo indígena como elemento de imposição e, claro, o total esgotamento (contínuo) de um povo cheio de sabedoria que já não existe mais.
Não espere uma jornada fácil - o que você vai encontrar é uma jornada cadenciada, profunda e de difícil absorção; mas que vale muito a pena!
Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto", "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".
Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):
É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.
Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.
"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!
Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!
Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto", "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".
Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):
É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.
Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.
"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!
Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!
"O Clube" mostra o lado mais escuro do ser humano, onde a hipocrisia está enraizada em camadas tão profundas que a "culpa" fica praticamente adormecida e os atos para mante-la assim se justificam por si só, mesmo que para isso seja necessário punir o outro! Esse premiado filme do chileno Pablo Larraín (de "Spencer") expõe o que há de mais sujo na igreja católica, com o cuidado de não ofender (ou julgar) a religião em si. Essa habilidade de Larraín de discutir um assunto tão sensível transforma uma narrativa extremamente autoral, e polêmica, em um filme profundo, reflexivo e muito provocador - que não vai agradar a todos, mas que é muito marcante para quem assiste.
Após um suicídio, o conselheiro espiritual para crises envolvendo a Igreja Católica, Padre García (Marcelo Alonso), é enviado para uma pequena cidade na costa do Chile onde quatro padres e uma freira, desonrados por "suspeita" de crimes que vão de abuso infantil ao roubo de bebês de mães não casadas, vivem isolados em busca de redenção. Com a chegada de Garcia, padre mais progressista e que deseja melhorar a imagem da igreja, aquela dinâmica do local já estabelecida simplesmente desaba, mostrando que cada um dos personagens possuem marcas muito mais profundas do que um retiro seria capaz de curar. Confira o trailer:
Extremamente alinhado com um visual maravilhoso, mérito do fotógrafo Sergio Armstrong (de "Neruda"), e uma direção cadenciada, mas extremamente competente de Larraín, o roteiro de "O Clube" é, sem dúvida, o ponto alto do filme. Em colaboração comGuilhermo Calderón e Daniel Villalobos, Larraín cria uma dinâmica narrativa extremamente concisa desde o primeiro plano, apresentando uma atmosfera de mistério que prende a atenção da audiência de uma forma avassaladora - e digo isso pois o assunto que guia a história é denso, mas ao mesmo tempo provocador já que o diretor prefere sugerir pelo diálogo todas as atrocidades ao invés impactar pela imagem, passando a responsabilidade dessa construção mental exclusivamente para nós. De fato o roteiro é econômico em cenas pesadas, mas riquíssimo nas descrições, criando assim um desconforto impressionante.
Se para alguns o tema vinculado a religião pode parecer pesado demais, para outros o subtexto discutido vai além - a noção de arrependimento e de redenção, fundamentais no catolicismo, ganha contornos tão problemáticos quanto reais quando o foco passa a ser personagens que escolheram esse caminho por "vocação". A forma como Larraín discute a "culpa", humaniza as fraquezas do ser humano dando a palavra para o outro lado da história antes mesmo que nosso julgamento possa ser finalizado. A maneira como a trama vai se encaixando, onde essas fraquezas vão sendo mostradas e as soluções vão sendo propostas, é de embrulhar o estômago e de perder a fé na humanidade.
Veja, através dos depoimentos dos quatros padres, da freira e da presença misteriosa do forasteiro Sandokan (Roberto Farías - em uma performance digna de muito prêmios), somos jogados sem o menor cuidado para alguns dos fatos mais obscuros da história da nossa sociedade como a própria relação da igreja com a violenta ditadura de Pinochet e as inúmeras acusações de pedofilia tão presentes, em tantos países, e que assombram a instituição desde o Vaticano.
Grande vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim em 2015, "O Clube" tem muito a dizer, a grande questão é se as pessoas que assistem essa obra-prima estarão dispostas a escutar.
Vale muito seu play!
"O Clube" mostra o lado mais escuro do ser humano, onde a hipocrisia está enraizada em camadas tão profundas que a "culpa" fica praticamente adormecida e os atos para mante-la assim se justificam por si só, mesmo que para isso seja necessário punir o outro! Esse premiado filme do chileno Pablo Larraín (de "Spencer") expõe o que há de mais sujo na igreja católica, com o cuidado de não ofender (ou julgar) a religião em si. Essa habilidade de Larraín de discutir um assunto tão sensível transforma uma narrativa extremamente autoral, e polêmica, em um filme profundo, reflexivo e muito provocador - que não vai agradar a todos, mas que é muito marcante para quem assiste.
Após um suicídio, o conselheiro espiritual para crises envolvendo a Igreja Católica, Padre García (Marcelo Alonso), é enviado para uma pequena cidade na costa do Chile onde quatro padres e uma freira, desonrados por "suspeita" de crimes que vão de abuso infantil ao roubo de bebês de mães não casadas, vivem isolados em busca de redenção. Com a chegada de Garcia, padre mais progressista e que deseja melhorar a imagem da igreja, aquela dinâmica do local já estabelecida simplesmente desaba, mostrando que cada um dos personagens possuem marcas muito mais profundas do que um retiro seria capaz de curar. Confira o trailer:
Extremamente alinhado com um visual maravilhoso, mérito do fotógrafo Sergio Armstrong (de "Neruda"), e uma direção cadenciada, mas extremamente competente de Larraín, o roteiro de "O Clube" é, sem dúvida, o ponto alto do filme. Em colaboração comGuilhermo Calderón e Daniel Villalobos, Larraín cria uma dinâmica narrativa extremamente concisa desde o primeiro plano, apresentando uma atmosfera de mistério que prende a atenção da audiência de uma forma avassaladora - e digo isso pois o assunto que guia a história é denso, mas ao mesmo tempo provocador já que o diretor prefere sugerir pelo diálogo todas as atrocidades ao invés impactar pela imagem, passando a responsabilidade dessa construção mental exclusivamente para nós. De fato o roteiro é econômico em cenas pesadas, mas riquíssimo nas descrições, criando assim um desconforto impressionante.
Se para alguns o tema vinculado a religião pode parecer pesado demais, para outros o subtexto discutido vai além - a noção de arrependimento e de redenção, fundamentais no catolicismo, ganha contornos tão problemáticos quanto reais quando o foco passa a ser personagens que escolheram esse caminho por "vocação". A forma como Larraín discute a "culpa", humaniza as fraquezas do ser humano dando a palavra para o outro lado da história antes mesmo que nosso julgamento possa ser finalizado. A maneira como a trama vai se encaixando, onde essas fraquezas vão sendo mostradas e as soluções vão sendo propostas, é de embrulhar o estômago e de perder a fé na humanidade.
Veja, através dos depoimentos dos quatros padres, da freira e da presença misteriosa do forasteiro Sandokan (Roberto Farías - em uma performance digna de muito prêmios), somos jogados sem o menor cuidado para alguns dos fatos mais obscuros da história da nossa sociedade como a própria relação da igreja com a violenta ditadura de Pinochet e as inúmeras acusações de pedofilia tão presentes, em tantos países, e que assombram a instituição desde o Vaticano.
Grande vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim em 2015, "O Clube" tem muito a dizer, a grande questão é se as pessoas que assistem essa obra-prima estarão dispostas a escutar.
Vale muito seu play!