Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada.
Para você ter uma idéia, o filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.
"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!
O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.
A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada.
Para você ter uma idéia, o filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.
"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!
O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.
"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.
Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:
Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.
Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.
Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!
"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.
Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:
Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.
Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.
Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!
"Resgate" é um excelente filme de ação - um dos melhores que assisti ultimamente! Dito isso, temos que parabenizar a Netflix por essa produção - é impressionante a grandiosidade e a qualidade técnica do filme! Muito desse mérito é responsabilidade do diretor estreante, Sam Hargrave, pupilo dos diretores de "Vingadores Ultimato", Anthony Russo e Joe Russo que, inclusive, adaptaram (Joe) e produziram esse filme!
Após Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), o filho de um perigoso bandido indiano, ser sequestrado pelo traficante, Arjun (Piyush Khati); Tyler Rake (Chris Hemsworth) é recrutado para salvar o garoto, mas para isso tem que enfrentar todo o exército de Bangladesh no meio da cidade de Dhaka, capital do país. Confira o trailer:
Sim, pela sinopse fica claro se tratar de um filme sem muita história, ou pelo menos sem uma trama tão complexa, porém é preciso dizer que no que diz respeito a "ação" em si, temos um prato cheio. É incrível como os diretores vem trazendo para os filmes do gênero muito do conceito dos video-games e isso se reflete justamente em uma característica bem peculiar: a história serve para motivar o personagem principal a se mover do ponto A até o ponto B sem morrer, com uma missão pré estabelecida, claro, porém sem a necessidade de uma exploração mais profunda da trama, afinal o que interessa mesmo é a ação (no caso, o período onde o jogador interage com a história de forma linear durante a jornada). Além dessa característica narrativa marcante, as referências visuais são absurdas: os movimentos de câmera que pareciam impossíveis serem recriadas em um "live action" há alguns anos atrás, agora fazem parte de uma coreografia impressionante entre fotografia e atuação - e olha que venho citando esse movimento desde "Projeto Gemini" e até em "1917". Em "Resgate" essa gramática cinematográfica é repetida e com muita competência, então se você gosta de filmes de ação não deixe de dar o play!
Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade, assim que embarcamos em um filme de ação estamos pré dispostos a enxergar aquele universo da maneira mais realista possível e aqui encontramos um grande mérito de "Resgate" - ele não se apropria de soluções mirabolantes para criar a dinâmica da ação! O malabarismo dos personagens existe, mas não "ofende" quem assiste! O trabalho do excelente diretor de fotografia Newton Thomas Sigel (de "Superman - o retorno" e de "Bohemian Rhapsody") merece ser destacado. Ao lado de Hargrave (especialista em cenas de ação e luta), Sigel criou um plano sequência sensacional já no segundo ato, onde acompanhamos (como no video game) o protagonista lutando, atirando na policia, pulando de prédios e finalmente fugindo de carro em uma perseguição de tirar o fôlego (tudo "sem" cortes) - é impressionante! E o que dá um ar ainda mais interessante é a forma como Sigel usa Dhaka para contrastar a ação com uma certa poesia que mistura realismo e fantasia perfeitamente - é sensacional!
Baseado na graphic novel "Ciudad", de Ande Parks, escrita pelo próprio Parks em parceria de Joe e Anthony Russo, "Resgate" usa da capacidade do seus produtores que por sinal são, talvez, os maiores responsáveis pelo sucesso do Universo Marvel, como garantia de um filme com muita ação, com lutas extremamente bem coreografadas (nível "Demolidor" nos bons tempos) e uma história que te prende graças ao ótimo trabalho de Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal.
Olha, filme de tiro e pancadaria dos bons! Entretenimento da melhor qualidade! E pode acreditar: teremos uma continuação - me cobrem!
"Resgate" é um excelente filme de ação - um dos melhores que assisti ultimamente! Dito isso, temos que parabenizar a Netflix por essa produção - é impressionante a grandiosidade e a qualidade técnica do filme! Muito desse mérito é responsabilidade do diretor estreante, Sam Hargrave, pupilo dos diretores de "Vingadores Ultimato", Anthony Russo e Joe Russo que, inclusive, adaptaram (Joe) e produziram esse filme!
Após Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), o filho de um perigoso bandido indiano, ser sequestrado pelo traficante, Arjun (Piyush Khati); Tyler Rake (Chris Hemsworth) é recrutado para salvar o garoto, mas para isso tem que enfrentar todo o exército de Bangladesh no meio da cidade de Dhaka, capital do país. Confira o trailer:
Sim, pela sinopse fica claro se tratar de um filme sem muita história, ou pelo menos sem uma trama tão complexa, porém é preciso dizer que no que diz respeito a "ação" em si, temos um prato cheio. É incrível como os diretores vem trazendo para os filmes do gênero muito do conceito dos video-games e isso se reflete justamente em uma característica bem peculiar: a história serve para motivar o personagem principal a se mover do ponto A até o ponto B sem morrer, com uma missão pré estabelecida, claro, porém sem a necessidade de uma exploração mais profunda da trama, afinal o que interessa mesmo é a ação (no caso, o período onde o jogador interage com a história de forma linear durante a jornada). Além dessa característica narrativa marcante, as referências visuais são absurdas: os movimentos de câmera que pareciam impossíveis serem recriadas em um "live action" há alguns anos atrás, agora fazem parte de uma coreografia impressionante entre fotografia e atuação - e olha que venho citando esse movimento desde "Projeto Gemini" e até em "1917". Em "Resgate" essa gramática cinematográfica é repetida e com muita competência, então se você gosta de filmes de ação não deixe de dar o play!
Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade, assim que embarcamos em um filme de ação estamos pré dispostos a enxergar aquele universo da maneira mais realista possível e aqui encontramos um grande mérito de "Resgate" - ele não se apropria de soluções mirabolantes para criar a dinâmica da ação! O malabarismo dos personagens existe, mas não "ofende" quem assiste! O trabalho do excelente diretor de fotografia Newton Thomas Sigel (de "Superman - o retorno" e de "Bohemian Rhapsody") merece ser destacado. Ao lado de Hargrave (especialista em cenas de ação e luta), Sigel criou um plano sequência sensacional já no segundo ato, onde acompanhamos (como no video game) o protagonista lutando, atirando na policia, pulando de prédios e finalmente fugindo de carro em uma perseguição de tirar o fôlego (tudo "sem" cortes) - é impressionante! E o que dá um ar ainda mais interessante é a forma como Sigel usa Dhaka para contrastar a ação com uma certa poesia que mistura realismo e fantasia perfeitamente - é sensacional!
Baseado na graphic novel "Ciudad", de Ande Parks, escrita pelo próprio Parks em parceria de Joe e Anthony Russo, "Resgate" usa da capacidade do seus produtores que por sinal são, talvez, os maiores responsáveis pelo sucesso do Universo Marvel, como garantia de um filme com muita ação, com lutas extremamente bem coreografadas (nível "Demolidor" nos bons tempos) e uma história que te prende graças ao ótimo trabalho de Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal.
Olha, filme de tiro e pancadaria dos bons! Entretenimento da melhor qualidade! E pode acreditar: teremos uma continuação - me cobrem!
Olha, como o primeiro, "Resgate 2" é tão divertido e dinâmico como jogar uma boa partida de videogame - daqueles "fps" ou First Person Shooter - gênero de jogo que coloca o jogador em uma perspectiva de câmera em primeira pessoa, portando armas de fogo em combates alucinantes e cenas de ação de tirar o fôlego; aliás, talvez essa seja a melhor forma de definir o novo filme da franquia, novamente dirigido pelo talentoso Sam Hargrave.
Algum tempo depois dos eventos do primeiro filme, Tyler Rake (Chris Hemsworth) precisa encarar um desafio ainda mais perigoso e insano do que o anterior: resgatar a família de um gângster georgiano, Zurab (Tornike Gogrichiani), de uma prisão e levá-los em segurança até a Áustria. No entanto, isso não será uma tarefa fácil, já que diversos criminosos estão tentando localizá-los. Mais uma vez contando com a ajuda dos irmãos Nik Khan (Golshifteh Farahani) e Yaz Khan (Adam Bessa), Tyler precisa enfrentar os fantasmas de seu passado nessa missão que vai muito além do dinheiro como recompensa. Confira o trailer:
Talvez o mais interessante de "Resgate 2" seja justamente o de se apropriar dos pontos fortes de primeiro filme e potencializa-los com um orçamento ainda mais generoso. Como não poderia deixar de ser, as cenas de ação e as coreografias das lutas são ainda mais impressionantes. As sequências de combate são perfeitamente realizadas pelo diretor de fotografia, Greg Baldi (de "A Origem"), com movimentos de câmera, muitas vezes em longos planos, de tirar o chapéu - esses movimentos de câmera, se olharmos por uma perspectiva mais técnica, já pareciam impossíveis de serem recriadas em um "live action" lá atrás com Newton Thomas Sigel, no entanto Hargrave se aproveita dos malabarismos visuais para nos entregar uma imersão ainda mais absurda para temos a noção exata da tensão e da intensidade dos confrontos que assistimos na tela.
Agora é preciso que se diga, o roteiro dos irmãos Russo (novamente ao lado de Ande Parks) volta a pecar por ser repleto de clichês e não ter profundidade alguma. É até notável o esforço do texto em adicionar camadas emocionais para que Chris Hemsworth possa brilhar também no drama, porém é a ação que faz valer o play. - não adianta, o foco aqui são os tiros e a pancadaria. Convincente, Hemsworth sabe exatamente o caminho para que o filme seja outro sucesso e ao colocar sua performance a serviço desse objetivo, é inegável a qualidade de "Extraction II" (no original) como entretenimento repleto de adrenalina.
Sim, "Resgate 2" é um capítulo que mantém a energia do filme original, apresentando sequências de ação e combate ainda melhores, com o bônus de um protagonista bastante carismático. Embora a história possa parecer familiar em muitos momentos e certos personagens pareçam pouco desenvolvidos, como Nik Khan, por exemplo; o filme ainda entrega uma jornada de herói emocionante e cheia de reviravoltas que certamente vai satisfazer os fãs do gênero.
Se você gostou de "Resgate", pode dar o play sem medo e já te adianto: vem mais por aí!
Olha, como o primeiro, "Resgate 2" é tão divertido e dinâmico como jogar uma boa partida de videogame - daqueles "fps" ou First Person Shooter - gênero de jogo que coloca o jogador em uma perspectiva de câmera em primeira pessoa, portando armas de fogo em combates alucinantes e cenas de ação de tirar o fôlego; aliás, talvez essa seja a melhor forma de definir o novo filme da franquia, novamente dirigido pelo talentoso Sam Hargrave.
Algum tempo depois dos eventos do primeiro filme, Tyler Rake (Chris Hemsworth) precisa encarar um desafio ainda mais perigoso e insano do que o anterior: resgatar a família de um gângster georgiano, Zurab (Tornike Gogrichiani), de uma prisão e levá-los em segurança até a Áustria. No entanto, isso não será uma tarefa fácil, já que diversos criminosos estão tentando localizá-los. Mais uma vez contando com a ajuda dos irmãos Nik Khan (Golshifteh Farahani) e Yaz Khan (Adam Bessa), Tyler precisa enfrentar os fantasmas de seu passado nessa missão que vai muito além do dinheiro como recompensa. Confira o trailer:
Talvez o mais interessante de "Resgate 2" seja justamente o de se apropriar dos pontos fortes de primeiro filme e potencializa-los com um orçamento ainda mais generoso. Como não poderia deixar de ser, as cenas de ação e as coreografias das lutas são ainda mais impressionantes. As sequências de combate são perfeitamente realizadas pelo diretor de fotografia, Greg Baldi (de "A Origem"), com movimentos de câmera, muitas vezes em longos planos, de tirar o chapéu - esses movimentos de câmera, se olharmos por uma perspectiva mais técnica, já pareciam impossíveis de serem recriadas em um "live action" lá atrás com Newton Thomas Sigel, no entanto Hargrave se aproveita dos malabarismos visuais para nos entregar uma imersão ainda mais absurda para temos a noção exata da tensão e da intensidade dos confrontos que assistimos na tela.
Agora é preciso que se diga, o roteiro dos irmãos Russo (novamente ao lado de Ande Parks) volta a pecar por ser repleto de clichês e não ter profundidade alguma. É até notável o esforço do texto em adicionar camadas emocionais para que Chris Hemsworth possa brilhar também no drama, porém é a ação que faz valer o play. - não adianta, o foco aqui são os tiros e a pancadaria. Convincente, Hemsworth sabe exatamente o caminho para que o filme seja outro sucesso e ao colocar sua performance a serviço desse objetivo, é inegável a qualidade de "Extraction II" (no original) como entretenimento repleto de adrenalina.
Sim, "Resgate 2" é um capítulo que mantém a energia do filme original, apresentando sequências de ação e combate ainda melhores, com o bônus de um protagonista bastante carismático. Embora a história possa parecer familiar em muitos momentos e certos personagens pareçam pouco desenvolvidos, como Nik Khan, por exemplo; o filme ainda entrega uma jornada de herói emocionante e cheia de reviravoltas que certamente vai satisfazer os fãs do gênero.
Se você gostou de "Resgate", pode dar o play sem medo e já te adianto: vem mais por aí!
"See" é uma série pós-apocalíptica com toques medievais! Sim, é contraditório mesmo, assim como é a nossa sensação ao assistir os primeiros episódios disponíveis na AppleTV+. Em alguns momentos você vai amar a série, em outros você vai achar uma tremenda perda de tempo! Do criador de "Peaky Blinders", Steve Knight, e com Jason Momoa como protagonista, "See" trazia a responsabilidade de ser uma espécie de "Game of Thrones" da Apple, com uma produção grandiosa e uma direção competente, tinha tudo para alcançar um patamar de respeito no gênero, porém o roteiro derrapa na sua própria proposta e isso prejudica nossa experiência... até que a história vai melhorando e melhorando...
Quando a humanidade é atingida por um vírus mortal, deixando apenas dois milhões de pessoas vivas e sem a capacidade de enxergar, o retrocesso é tão grande que essa nova civilização precisa de séculos para se adaptar a cegueira e recomeçar com pouco conhecimento, nada de tecnologia e muita crença mitológica. Até que uma jovem aldeã dá a luz a um casal de gêmeos que nascem com a visão normal, porém essa condição passa a ser tratada como heresia pela Rainha desse novo Mundo, criando assim uma verdadeira caça as bruxas afim de eliminar todos que possuem o "dom de enxergar" e possam, de alguma forma, ameaçar o seu reinado. Confira o trailer:
O universo de "See" é interessante, pois cria um contraponto muito bacana entre a época e a capacidade cognitiva - é quase uma nova forma de "enxergar" o desenvolvimento da humanidade, que agora convive com uma limitação física importante e em condições precárias. A série é original por trazer elementos medievais para um cenário pós apocalíptico e nisso o roteiro sai ganhando; o que complica é a falta de uma apresentação mais inteligente - até um lettering inicial estabelecendo aquele universo e suas peculiaridades poderia ajudar a resolver esse problema, desde que a mitologia também fosse desenvolvida e explicada pelos personagens durante os episódios, claro! A minha sensação é que se criou uma mitologia tão complexa que nem a história é capaz de absorver! Um exemplo é o surgimento de personagens que caem de para-quedas e que somem com a mesma velocidade, deixando tantas brechas que incomoda - as "sombras" são um bom exemplo dessa falha de construção. Outra coisa que incomoda é a pressa em passar o tempo até as crianças crescerem. Ok, isso faz a história andar, mas é tão atropelado que até a caracterização falha em estabelecer essa cronologia. Eu sei que a comparação é desleal, mas será inevitável: lembro que a geografia de "Game of Thrones" era extremamente difícil, mas já em toda abertura tínhamos informações de como aquele mundo estava disposto e o que estava mudando - isso nos colocava dentro da história de cara; em "See" fiquei perdido, pois nada criativo me guiou!
O fato dos personagens serem cegos cria uma certa angústia nas cenas (lembra de "Bird Box"?) e isso o time de diretores, sob o comando do Francis Lawrence (de "Jogos Vorazes"), aproveita muito bem. Tanto o dia a dia nas aldeias, quanto as batalhas, são impecáveis e trazem uma dinâmica extremamente original para o gênero até quando o roteiro vacila - o "Haka" no episódio 1 é um bom exemplo, emocionante conceitualmente, mas com o passar do tempo, percebemos que não significa muito para aquele universo - é uma solução apenas visual! A produção também tem suas falhas (muito por causa do roteiro novamente), mas não podemos dizer que é ruim. O Desenho de Produção está impecável, com cenários e locações perfeitas (muito bem fotografada pelo Jo Willems), sem falar dos figurinos - digno de prêmios.
"See" é realmente inconstante em um primeiro olhar, mas tem algo que nos faz acompanhar aquela jornada mesmo sabendo que sua complexidade é muito mais por uma falta de ajuste dos roteiristas do que pelo mérito de nos provocar a construir um quebra-cabeça digno de um RPG. Ok, com o passar das temporadas tudo melhora, mas será que todos vão ter essa paciência? O fato é que com o tempo realmente passamos a nos importar mais por alguns personagens e, claro, as ótimas batalhas e as cenas de ação também nos mantem ligados e fazem valer nosso tempo. Em resumo, "See" é um bom exemplo de uma série que começou morna, mas que foi se encontrando até nos entregar um final digno de aplausos.
Vale seu play.
"See" é uma série pós-apocalíptica com toques medievais! Sim, é contraditório mesmo, assim como é a nossa sensação ao assistir os primeiros episódios disponíveis na AppleTV+. Em alguns momentos você vai amar a série, em outros você vai achar uma tremenda perda de tempo! Do criador de "Peaky Blinders", Steve Knight, e com Jason Momoa como protagonista, "See" trazia a responsabilidade de ser uma espécie de "Game of Thrones" da Apple, com uma produção grandiosa e uma direção competente, tinha tudo para alcançar um patamar de respeito no gênero, porém o roteiro derrapa na sua própria proposta e isso prejudica nossa experiência... até que a história vai melhorando e melhorando...
Quando a humanidade é atingida por um vírus mortal, deixando apenas dois milhões de pessoas vivas e sem a capacidade de enxergar, o retrocesso é tão grande que essa nova civilização precisa de séculos para se adaptar a cegueira e recomeçar com pouco conhecimento, nada de tecnologia e muita crença mitológica. Até que uma jovem aldeã dá a luz a um casal de gêmeos que nascem com a visão normal, porém essa condição passa a ser tratada como heresia pela Rainha desse novo Mundo, criando assim uma verdadeira caça as bruxas afim de eliminar todos que possuem o "dom de enxergar" e possam, de alguma forma, ameaçar o seu reinado. Confira o trailer:
O universo de "See" é interessante, pois cria um contraponto muito bacana entre a época e a capacidade cognitiva - é quase uma nova forma de "enxergar" o desenvolvimento da humanidade, que agora convive com uma limitação física importante e em condições precárias. A série é original por trazer elementos medievais para um cenário pós apocalíptico e nisso o roteiro sai ganhando; o que complica é a falta de uma apresentação mais inteligente - até um lettering inicial estabelecendo aquele universo e suas peculiaridades poderia ajudar a resolver esse problema, desde que a mitologia também fosse desenvolvida e explicada pelos personagens durante os episódios, claro! A minha sensação é que se criou uma mitologia tão complexa que nem a história é capaz de absorver! Um exemplo é o surgimento de personagens que caem de para-quedas e que somem com a mesma velocidade, deixando tantas brechas que incomoda - as "sombras" são um bom exemplo dessa falha de construção. Outra coisa que incomoda é a pressa em passar o tempo até as crianças crescerem. Ok, isso faz a história andar, mas é tão atropelado que até a caracterização falha em estabelecer essa cronologia. Eu sei que a comparação é desleal, mas será inevitável: lembro que a geografia de "Game of Thrones" era extremamente difícil, mas já em toda abertura tínhamos informações de como aquele mundo estava disposto e o que estava mudando - isso nos colocava dentro da história de cara; em "See" fiquei perdido, pois nada criativo me guiou!
O fato dos personagens serem cegos cria uma certa angústia nas cenas (lembra de "Bird Box"?) e isso o time de diretores, sob o comando do Francis Lawrence (de "Jogos Vorazes"), aproveita muito bem. Tanto o dia a dia nas aldeias, quanto as batalhas, são impecáveis e trazem uma dinâmica extremamente original para o gênero até quando o roteiro vacila - o "Haka" no episódio 1 é um bom exemplo, emocionante conceitualmente, mas com o passar do tempo, percebemos que não significa muito para aquele universo - é uma solução apenas visual! A produção também tem suas falhas (muito por causa do roteiro novamente), mas não podemos dizer que é ruim. O Desenho de Produção está impecável, com cenários e locações perfeitas (muito bem fotografada pelo Jo Willems), sem falar dos figurinos - digno de prêmios.
"See" é realmente inconstante em um primeiro olhar, mas tem algo que nos faz acompanhar aquela jornada mesmo sabendo que sua complexidade é muito mais por uma falta de ajuste dos roteiristas do que pelo mérito de nos provocar a construir um quebra-cabeça digno de um RPG. Ok, com o passar das temporadas tudo melhora, mas será que todos vão ter essa paciência? O fato é que com o tempo realmente passamos a nos importar mais por alguns personagens e, claro, as ótimas batalhas e as cenas de ação também nos mantem ligados e fazem valer nosso tempo. Em resumo, "See" é um bom exemplo de uma série que começou morna, mas que foi se encontrando até nos entregar um final digno de aplausos.
Vale seu play.
"Sicario - Terra de Ninguém" é um filme de ação que não está apenas preocupado com a pancadaria ou com os tiroteios, ele é carregado de drama em um roteiro muito bem amarrado, com personagens extremamente complexos e uma direção, bem, aí é só carimbar o selo "Denis Villeneuve"!
No filme acompanhamos Kate Macer (Emily Blunt), uma agente idealista do FBI que está inscrita em uma força-tarefa de elite do governo para ajudar na crescente guerra contra as drogas na região da fronteira com o México. Essa equipe é liderada por Matt Graver (Josh Brolin), um agente da CIA com um passado questionável. Além disso, para traçar estratégias contra um poderoso cartel mexicano, Matt pede auxílio para outro homem com história dúbia, seu consultor Alejandro (Benício del Toro). Assim, a força-tarefa sai em uma jornada clandestina, forçando Kate a embarcar nessa perigosa missão que vai obriga-la questionar todas as suas crenças e percepções de mundo. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida que um dos destaques do roteiro escrito pelo Taylor Sheridan (isso mesmo, o ator da série "Sons of Anarchy") é que ao apresentar sua visão da guerra contra as drogas, ele nos coloca em em uma situação extremamente desconfortável, pois não temos a menor ideia (como a protagonista, aliás) do que, de fato, vai acontecer. Ao não entregar os objetivos reais da força-tarefa liderada por Matt e muito menos os limites de seus métodos, ficamos em uma zona tão cinzenta que em nenhum momento, nas duas horas de filme, temos a certeza de que os mocinhos são mesmo os mocinhos.
A relação estabelecida entre Matt e Alejandro é de uma subjetividade impressionante - mesmo quando o agente clareia algumas motivações para Kate, já no terceiro ato. Obviamente que nada disso seria possível sem ótimas performances de Blunt, Brolin e Del Toro. Embora seja um filme de ação, os atores imprimem um peso dramático aos seus personagens que mesmo sem um desenvolvimento tão expositivo, nos explica muito de suas escolhas durante a trama - essa dinâmica é raríssima e é essa, sem dúvida, é uma das razões que coloco "Sicario" entre os melhores filmes de ação de todos os tempos!
Bom, falar de Villeneuve é quase que me tornar repetitivo - ele domina a gramática cinematográfica de um filme de ação da mesma forma que mergulha no drama existencial pesado como em "Homem Duplicado" ou até na mitologia de uma ficção científica como em "Duna". Ao seu lado, nada menos que o fotógrafo Roger Deakins (vencedor de 2 Oscars com "Blade Runner 2049" e "1917", e indicado 14 vezes ao prêmio). Soma-se a isso um filme tecnicamente perfeito e de uma beleza visual que é de cair o queixo - a sequência filmada dentro do carro, na primeira fase da missão e que apresenta o real impacto da guerra contra as drogas em Juárez, uma pequena cidade mexicana, com direito a corpos decepados expostos a luz do dia, é primorosa!
"Sicario - Terra de Ninguém" tem uma personagem que transita por um mundo tão opressivo quando agressivo e imoral, sem se dar conta que esse mundo só faz sentido por causa de pessoas como ela. Ao mostrar que os "meios" justificam os "fins", o filme nos provoca a rever nossas "certezas" e sobre nossas possíveis atitudes se estivéssemos na mesma situação - essa dinâmica se reflete em uma experiência incrível e imperdível!
Vale muito, mas muito mesmo, o seu play!
Up-date: "Sicario - Terra de Ninguém" foi indicado em três categorias no Oscar 2016: Melhor Edição de Som, Melhor Música e Melhor Fotografia!
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"Sicario - Terra de Ninguém" é um filme de ação que não está apenas preocupado com a pancadaria ou com os tiroteios, ele é carregado de drama em um roteiro muito bem amarrado, com personagens extremamente complexos e uma direção, bem, aí é só carimbar o selo "Denis Villeneuve"!
No filme acompanhamos Kate Macer (Emily Blunt), uma agente idealista do FBI que está inscrita em uma força-tarefa de elite do governo para ajudar na crescente guerra contra as drogas na região da fronteira com o México. Essa equipe é liderada por Matt Graver (Josh Brolin), um agente da CIA com um passado questionável. Além disso, para traçar estratégias contra um poderoso cartel mexicano, Matt pede auxílio para outro homem com história dúbia, seu consultor Alejandro (Benício del Toro). Assim, a força-tarefa sai em uma jornada clandestina, forçando Kate a embarcar nessa perigosa missão que vai obriga-la questionar todas as suas crenças e percepções de mundo. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida que um dos destaques do roteiro escrito pelo Taylor Sheridan (isso mesmo, o ator da série "Sons of Anarchy") é que ao apresentar sua visão da guerra contra as drogas, ele nos coloca em em uma situação extremamente desconfortável, pois não temos a menor ideia (como a protagonista, aliás) do que, de fato, vai acontecer. Ao não entregar os objetivos reais da força-tarefa liderada por Matt e muito menos os limites de seus métodos, ficamos em uma zona tão cinzenta que em nenhum momento, nas duas horas de filme, temos a certeza de que os mocinhos são mesmo os mocinhos.
A relação estabelecida entre Matt e Alejandro é de uma subjetividade impressionante - mesmo quando o agente clareia algumas motivações para Kate, já no terceiro ato. Obviamente que nada disso seria possível sem ótimas performances de Blunt, Brolin e Del Toro. Embora seja um filme de ação, os atores imprimem um peso dramático aos seus personagens que mesmo sem um desenvolvimento tão expositivo, nos explica muito de suas escolhas durante a trama - essa dinâmica é raríssima e é essa, sem dúvida, é uma das razões que coloco "Sicario" entre os melhores filmes de ação de todos os tempos!
Bom, falar de Villeneuve é quase que me tornar repetitivo - ele domina a gramática cinematográfica de um filme de ação da mesma forma que mergulha no drama existencial pesado como em "Homem Duplicado" ou até na mitologia de uma ficção científica como em "Duna". Ao seu lado, nada menos que o fotógrafo Roger Deakins (vencedor de 2 Oscars com "Blade Runner 2049" e "1917", e indicado 14 vezes ao prêmio). Soma-se a isso um filme tecnicamente perfeito e de uma beleza visual que é de cair o queixo - a sequência filmada dentro do carro, na primeira fase da missão e que apresenta o real impacto da guerra contra as drogas em Juárez, uma pequena cidade mexicana, com direito a corpos decepados expostos a luz do dia, é primorosa!
"Sicario - Terra de Ninguém" tem uma personagem que transita por um mundo tão opressivo quando agressivo e imoral, sem se dar conta que esse mundo só faz sentido por causa de pessoas como ela. Ao mostrar que os "meios" justificam os "fins", o filme nos provoca a rever nossas "certezas" e sobre nossas possíveis atitudes se estivéssemos na mesma situação - essa dinâmica se reflete em uma experiência incrível e imperdível!
Vale muito, mas muito mesmo, o seu play!
Up-date: "Sicario - Terra de Ninguém" foi indicado em três categorias no Oscar 2016: Melhor Edição de Som, Melhor Música e Melhor Fotografia!
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"Sobreviventes" (que por aqui ainda ganhou o complemento de "Depois do Terremoto"), por incrível que pareça, não é um "filme-catátrofe" - pelo menos não em sua essência. O que quero dizer é que essa produção coreana dirigida pelo talentoso Tae-hwa Eom (de "Desaparecimento: O Garoto que Retornou") está mais para um drama social ao melhor estilo "Parasita" do que para um thriller de ação e efeitos especiais como "Terremoto: A Falha de San Andreas". Aliás, essa confusão conceitual muito se dá pelo fato de não se ter mantido o título original do filme aqui no Brasil, algo como "Concreto Utópico", em tradução livre - que certamente se conecta muito melhor com o que assistimos na tela! Veja, aqui não se trata de "por que" toda a cidade de Seul foi destruída por um terremoto de proporções inimagináveis, mas sim "como" os seres humanos que sobreviveram, diante desse cenário apocalíptico, se comportam intimamente e perante o seu semelhante!
A trama, basicamente, acompanha os moradores de um prédio de apartamentos que, milagrosamente, permaneceu intacto após o cataclisma. Com o passar do tempo, refugiados em busca de abrigo devido ao frio glacial que assola Seul e sem qualquer tipo de alimentação, começam a invadir o local, obrigando os moradores a tomarem medidas drásticas para garantir sua sobrevivência. Essa dinâmica segregadora, gera um conflito crescente, expondo os lados mais sombrios e altruístas da alma humana em uma luta moral que vai além da sobrevivência. Confira o trailer (dublado):
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" de fato se diferencia por sua capacidade imersiva em um ambiente extremamente claustrofóbico e realista, onde cada metro quadrado se torna palco de tensões e conflitos além do óbvio. Se em um primeiro momento nossa preocupação como audiência é entender a razão pela qual apenas um prédio se manteve em pé após a catástrofe, rapidamente percebemos que o evento em si é apenas o pano de fundo para discussões infinitamente mais profundas. É preciso pontuar que o filme ainda sim tem excelentes sequências que mostram o terremoto acontecendo, no entanto é no cenário caótico posterior que o drama realmente ganha força.
O que vale são os conflitos de relacionamento entre os personagens em uma "nova" dinâmica de poder e influência - mais uma vez o cinema coreano mostra, com muita simbologia, como o ser humano pode ser brutal. A direção de Tae-hwa Eom é precisa e visceral nesse sentido já que ele conduz a trama com um ritmo frenético e um suspense constante sem perder aquela atmosfera de tensão permanente. A câmera de Eom explora com maestria os corredores apertados do prédio, os apartamentos precários e os rostos angustiados dos personagens, criando uma sensação sufocante - a montagem equilibra os cortes rápidos com planos bem estruturados dos embates entres os personagens, o que pontua o tom mais melancólico do filme com as complexas emoções daqueles personagens. Olha, é praticamente impossível não se colocar dentro daquela dinâmica social sem refletir sobre qual seria o melhor caminho para sobreviver!
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um filme imperdível que obviamente te fará questionar seus próprios limites e que vai te provocar discussões interessantes como a própria fragilidade da civilização diante de eventos catastróficos. Com atuações realmente impecáveis, especialmente de Min-sung (o Park Seo-joon, de "Parasita:), uma direção precisa de Eom e uma história instigante e inteligente ao mesmo tempo, eu te garanto que, embarcando na proposta crítica do diretor, você estará diante de muito mais que um simples entretenimento.
Prepare-se para uma jornada perturbadora que te mostrará o lado mais sombrio e por consequência, o mais resiliente, da humanidade em situações impensáveis. Vale seu play!
"Sobreviventes" (que por aqui ainda ganhou o complemento de "Depois do Terremoto"), por incrível que pareça, não é um "filme-catátrofe" - pelo menos não em sua essência. O que quero dizer é que essa produção coreana dirigida pelo talentoso Tae-hwa Eom (de "Desaparecimento: O Garoto que Retornou") está mais para um drama social ao melhor estilo "Parasita" do que para um thriller de ação e efeitos especiais como "Terremoto: A Falha de San Andreas". Aliás, essa confusão conceitual muito se dá pelo fato de não se ter mantido o título original do filme aqui no Brasil, algo como "Concreto Utópico", em tradução livre - que certamente se conecta muito melhor com o que assistimos na tela! Veja, aqui não se trata de "por que" toda a cidade de Seul foi destruída por um terremoto de proporções inimagináveis, mas sim "como" os seres humanos que sobreviveram, diante desse cenário apocalíptico, se comportam intimamente e perante o seu semelhante!
A trama, basicamente, acompanha os moradores de um prédio de apartamentos que, milagrosamente, permaneceu intacto após o cataclisma. Com o passar do tempo, refugiados em busca de abrigo devido ao frio glacial que assola Seul e sem qualquer tipo de alimentação, começam a invadir o local, obrigando os moradores a tomarem medidas drásticas para garantir sua sobrevivência. Essa dinâmica segregadora, gera um conflito crescente, expondo os lados mais sombrios e altruístas da alma humana em uma luta moral que vai além da sobrevivência. Confira o trailer (dublado):
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" de fato se diferencia por sua capacidade imersiva em um ambiente extremamente claustrofóbico e realista, onde cada metro quadrado se torna palco de tensões e conflitos além do óbvio. Se em um primeiro momento nossa preocupação como audiência é entender a razão pela qual apenas um prédio se manteve em pé após a catástrofe, rapidamente percebemos que o evento em si é apenas o pano de fundo para discussões infinitamente mais profundas. É preciso pontuar que o filme ainda sim tem excelentes sequências que mostram o terremoto acontecendo, no entanto é no cenário caótico posterior que o drama realmente ganha força.
O que vale são os conflitos de relacionamento entre os personagens em uma "nova" dinâmica de poder e influência - mais uma vez o cinema coreano mostra, com muita simbologia, como o ser humano pode ser brutal. A direção de Tae-hwa Eom é precisa e visceral nesse sentido já que ele conduz a trama com um ritmo frenético e um suspense constante sem perder aquela atmosfera de tensão permanente. A câmera de Eom explora com maestria os corredores apertados do prédio, os apartamentos precários e os rostos angustiados dos personagens, criando uma sensação sufocante - a montagem equilibra os cortes rápidos com planos bem estruturados dos embates entres os personagens, o que pontua o tom mais melancólico do filme com as complexas emoções daqueles personagens. Olha, é praticamente impossível não se colocar dentro daquela dinâmica social sem refletir sobre qual seria o melhor caminho para sobreviver!
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um filme imperdível que obviamente te fará questionar seus próprios limites e que vai te provocar discussões interessantes como a própria fragilidade da civilização diante de eventos catastróficos. Com atuações realmente impecáveis, especialmente de Min-sung (o Park Seo-joon, de "Parasita:), uma direção precisa de Eom e uma história instigante e inteligente ao mesmo tempo, eu te garanto que, embarcando na proposta crítica do diretor, você estará diante de muito mais que um simples entretenimento.
Prepare-se para uma jornada perturbadora que te mostrará o lado mais sombrio e por consequência, o mais resiliente, da humanidade em situações impensáveis. Vale seu play!
A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.
Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:
Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra!
Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!
"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.
Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!
A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.
Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:
Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra!
Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!
"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.
Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!
Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.
"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.
Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!
Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!
Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.
"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.
Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!
Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!
"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!
Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:
Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.
Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?
O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.
Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!
E que vale muito o seu play!
"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!
Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:
Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.
Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?
O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.
Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!
E que vale muito o seu play!
Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).
Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:
Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.
Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.
"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!
Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).
Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:
Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.
Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.
"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!
Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.
Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:
A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.
Em segundo lugar, as performances dos premiados Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.
A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição!
Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!
Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.
Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:
A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.
Em segundo lugar, as performances dos premiados Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.
A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição!
Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!
Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.
Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.
Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.
"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):
É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.
O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".
"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.
Vale muito o seu play!
Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.
"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):
É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.
O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".
"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.
Vale muito o seu play!
"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.
Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:
O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!
"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!
PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.
"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.
Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:
O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!
"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!
PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.
"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!
O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:
O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.
Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".
Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!
Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida!
"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!
O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:
O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.
Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".
Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!
Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida!
Antes de ler essa análise, acho que vale a pena uma rápida sugestão: quanto menos você souber sobre "X - A Marca da Morte", melhor!
Pensando nisso, vou tomar o máximo de cuidado para evitar qualquer tipo de spoiler que possa impactar diretamente na sua experiência, mas já te adiando que estamos falando de um filme muito bom (muito mesmo) - um slasherde respeito, com aquela atmosfera setentista na forma (que carrega um conceito visual muito particular, com movimentos de câmera extremamente alinhados à uma época onde o "susto" era até mais importante que uma boa história) e no conteúdo (que respeita uma gramática cinematográfica envolvente e nostálgica, além de contar com uma trama muito bem construída, inteligente e com a clara proposta de se perpetuar)!
Em 1979, Maxine (Mia Goth), uma jovem cheia de sonhos, Wayne (Martin Henderson), seu namorado, e mais um grupo de amigos vão passar um final de semana em uma fazenda em algum lugar do Texas - a ideia é aproveitar o cenário para gravar um filme pornográfico chamado "The Farmer's Daughters". Ao chegar na propriedade, o grupo é recebido pelo casal Howard e Pearl que nem imagina o real motivo da estadia, porém situações estranhas começam acontecer e passam a impactar diretamente na vida de cada uma dessas pessoas. Confira o trailer:
Embora possa ser classificado com um terror "clássico", existe um certo suspense psicológico que envolve a história e que só fortalece a narrativa desde o primeiro plano do filme - é muito interessante como as relações entre os personagens vão sendo construídas e como elas são muito bem estabelecidas no presente, mesmo carregando algumas marcas do passado. Conforme o filme vai se desenrolando, a atmosfera vai ganhando aquele ar denso de mistério e ao adentramos no cenário onde 100% da trama se desenrola (a fazenda de Howard e Pearl) temos a certeza de que não estamos diante um filme onde a violência será gratuita ou que ela será inserida com o simples objetivo de chocar. Eu diria que existe uma certa honestidade narrativa em "X - A Marca da Morte", pois até o momento do clímax, onde o conflito inevitável acontece, tudo é pacientemente desenvolvido.
Obviamente que essa escolha conceitual vai agradar muitas pessoas, mas também irritar muitas outras pela "demora" dos acontecimentos, então esteja preparado para ir se conectando com o mistério sem a pressão de ver a ação explodir logo cedo - faz parte do jogo. Os personagens são cheios de camadas - Maxine, obviamente justifica essa percepção de complexidade íntima, mas Wayne, Bobby-Lynne (Brittany Snow), Lorraine (Jenna Ortega) e Jackson (Kid Cudi) não ficam muito distantes. A montagem também é um show - a forma com que David Kashevaroff e o diretor Ti West (de "Them") conectam situações que estão em foco com elementos narrativos que estariam no segundo plano gratuitamente, é simplesmente genial. E aqui cabe outro comentário: nada é gratuito no filme, então preste bem atenção!
O fato é que "X - A Marca da Morte" pode ser considerada uma das melhores surpresas de 2022, com sua releitura clássica de um gênero por muito tempo esquecido (ou menosprezado) e que agora com um toque de modernidade e sem esquecer a força do cinema independente, voltou a brilhar! Ti West, aliás, mais uma vez surpreende e deixa claro sua capacidade de mexer com nossas sensações e emoções sem perder a mão - como muitas vezes vimos diretores mais experientes no gênero, como James Wan, perder. Olho nele!
Vale muito o seu play!
Antes de ler essa análise, acho que vale a pena uma rápida sugestão: quanto menos você souber sobre "X - A Marca da Morte", melhor!
Pensando nisso, vou tomar o máximo de cuidado para evitar qualquer tipo de spoiler que possa impactar diretamente na sua experiência, mas já te adiando que estamos falando de um filme muito bom (muito mesmo) - um slasherde respeito, com aquela atmosfera setentista na forma (que carrega um conceito visual muito particular, com movimentos de câmera extremamente alinhados à uma época onde o "susto" era até mais importante que uma boa história) e no conteúdo (que respeita uma gramática cinematográfica envolvente e nostálgica, além de contar com uma trama muito bem construída, inteligente e com a clara proposta de se perpetuar)!
Em 1979, Maxine (Mia Goth), uma jovem cheia de sonhos, Wayne (Martin Henderson), seu namorado, e mais um grupo de amigos vão passar um final de semana em uma fazenda em algum lugar do Texas - a ideia é aproveitar o cenário para gravar um filme pornográfico chamado "The Farmer's Daughters". Ao chegar na propriedade, o grupo é recebido pelo casal Howard e Pearl que nem imagina o real motivo da estadia, porém situações estranhas começam acontecer e passam a impactar diretamente na vida de cada uma dessas pessoas. Confira o trailer:
Embora possa ser classificado com um terror "clássico", existe um certo suspense psicológico que envolve a história e que só fortalece a narrativa desde o primeiro plano do filme - é muito interessante como as relações entre os personagens vão sendo construídas e como elas são muito bem estabelecidas no presente, mesmo carregando algumas marcas do passado. Conforme o filme vai se desenrolando, a atmosfera vai ganhando aquele ar denso de mistério e ao adentramos no cenário onde 100% da trama se desenrola (a fazenda de Howard e Pearl) temos a certeza de que não estamos diante um filme onde a violência será gratuita ou que ela será inserida com o simples objetivo de chocar. Eu diria que existe uma certa honestidade narrativa em "X - A Marca da Morte", pois até o momento do clímax, onde o conflito inevitável acontece, tudo é pacientemente desenvolvido.
Obviamente que essa escolha conceitual vai agradar muitas pessoas, mas também irritar muitas outras pela "demora" dos acontecimentos, então esteja preparado para ir se conectando com o mistério sem a pressão de ver a ação explodir logo cedo - faz parte do jogo. Os personagens são cheios de camadas - Maxine, obviamente justifica essa percepção de complexidade íntima, mas Wayne, Bobby-Lynne (Brittany Snow), Lorraine (Jenna Ortega) e Jackson (Kid Cudi) não ficam muito distantes. A montagem também é um show - a forma com que David Kashevaroff e o diretor Ti West (de "Them") conectam situações que estão em foco com elementos narrativos que estariam no segundo plano gratuitamente, é simplesmente genial. E aqui cabe outro comentário: nada é gratuito no filme, então preste bem atenção!
O fato é que "X - A Marca da Morte" pode ser considerada uma das melhores surpresas de 2022, com sua releitura clássica de um gênero por muito tempo esquecido (ou menosprezado) e que agora com um toque de modernidade e sem esquecer a força do cinema independente, voltou a brilhar! Ti West, aliás, mais uma vez surpreende e deixa claro sua capacidade de mexer com nossas sensações e emoções sem perder a mão - como muitas vezes vimos diretores mais experientes no gênero, como James Wan, perder. Olho nele!
Vale muito o seu play!
Se esse primeiro paragrafo fizer sentido, você nem vai precisar ler o restante do review para entender que seu entretenimento estará garantido por cinco temporadas até o seu final. Em "Yellowstone" saem os "Roy's" e entram os "Duttom's". Nova York dá seu lugar para Montana. E finalmente, a luta pela sucessão de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo passa ser a de proteger muito mais do que uma propriedade, mas sim um legado!
"Yellowstone", lançada em 2018 e criada por John Linson e Taylor Sheridan, é um drama dos bons. Ambientada nos vastos e belos cenários das montanhas de Montana, combinando o estilo "faroeste moderno" com as mais envolventes intrigas familiares e políticas, a série só melhora, explorando temas como poder, lealdade, sobrevivência e a luta por um controle de terras "sem dono". Ao longo das temporadas, "Yellowstone" se consolidou como um verdadeiro épico, com disputas, conspirações e alguma emoção, sempre tendo sob seus holofotes mais uma família disfuncional liderada por John Dutton (Kevin Costner), patriarca de um dos maiores ranchos dos Estados Unidos.
A trama segue John Dutton, um fazendeiro poderoso e controlador que luta para proteger sua propriedade, o Rancho Yellowstone, contra ameaças externas, como investidores imobiliários, políticos corruptos e tribos nativas americanas que reivindicam as terras de seus antepassados. À medida que os conflitos se desenrolam, o drama familiar se intensifica, com Dutton tentando manter a ordem entre seus filhos, Beth (Kelly Reilly), Kayce (Luke Grimes) e Jamie (Wes Bentley); cada um com suas próprias ambições e problemas pessoais, que frequentemente entram em choque com os interesses do pai e do rancho. Confira o trailer:
Veja, a força de "Yellowstone" está muito mais no seu retrato cheio de camadas do poder e da sobrevivência em um território indomável do que na lógica brutal da luta por terras. Sim, a série até é.construída em torno da brutalidade e da complexidade do mundo rural americano, onde essa luta pelo controle da terra é tratada com seriedade e realismo, mas as tensões entre os diferentes grupos - os Duttons, os nativos americanos, e os empresários gananciosos - que criam um cenário de conflito constante que nos mantém envolvidos, em nada se compara ao poder da construção dos personagens e das relações familiares - é essa camada emocional mais profunda que impede que ela caia em rotinas mais previsíveis.
Taylor Sheridan (ele de novo), co-criador e roteirista da série, traz sua assinatura de diálogos afiados e uma economia narrativa, cheia de subtextos, que ele já havia demonstrado em trabalhos anteriores, como em "Sicário" (2015) ou em "A Qualquer Custo" (2016). Sheridan é conhecido por sua habilidade em construir dramas que exploram a moralidade ambígua dos personagens que operam, quase sempre, em zonas cinzentas - e isso está claramente presente aqui. John Dutton é retratado como um homem duro e implacável, disposto a tomar decisões moralmente questionáveis para proteger seu legado, no entanto, ele é muito mais complexo que essa unilateralidade - sua motivação vem do desejo de manter sua família unida e preservar o que ele acredita ser a alma da América rural, mas esquece que esse é o seu pensamento, não de seus filhos que buscam apenas sua aprovação.
Kevin Costner oferece uma performance sólida e poderosa, dando vida a um homem que carrega o peso de um império e de uma família em seus ombros. Sua presença faz dele o centro gravitacional da série, e seu retrato como Dutton é ao mesmo tempo implacável e melancólico. Outro destaque do elenco, sem a menor dúvida, é Kelly Reilly - ela brilha como a impetuosa e emocionalmente danificada Beth Dutton. Sua relação conturbada com o pai e com os irmãos adiciona uma força emocional para a narrativa que nem Sarah Snook alcançou em "Succession".
Belíssima visualmente "Yellowstone" captura a vastidão das paisagens de Montana em todo o seu esplendor. As cenas ao ar livre, com montanhas, rios e pastos, transformam o cenário em um personagem por si só, reforçando a importância da terra como fonte de conflito e identidade para os Duttons. A trilha sonora é outro ponto que merece destaque: a mistura de composições originais com canções de artistas da música country e folk, contribui demais para aquela atmosfera. Dito isso, fica fácil afirmar que "Yellowstone" já se posiciona como uma das séries mais influentes da última década quando o assunto é drama familiar - seu retrato do conflito entre o progresso e a preservação, entre a política e a moralidade, torna sua narrativa um espelho interessante da sociedade americana moderna, especialmente em regiões onde a luta pelo controle e poder continua a ser um tema central.
Imperdível!
Se esse primeiro paragrafo fizer sentido, você nem vai precisar ler o restante do review para entender que seu entretenimento estará garantido por cinco temporadas até o seu final. Em "Yellowstone" saem os "Roy's" e entram os "Duttom's". Nova York dá seu lugar para Montana. E finalmente, a luta pela sucessão de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo passa ser a de proteger muito mais do que uma propriedade, mas sim um legado!
"Yellowstone", lançada em 2018 e criada por John Linson e Taylor Sheridan, é um drama dos bons. Ambientada nos vastos e belos cenários das montanhas de Montana, combinando o estilo "faroeste moderno" com as mais envolventes intrigas familiares e políticas, a série só melhora, explorando temas como poder, lealdade, sobrevivência e a luta por um controle de terras "sem dono". Ao longo das temporadas, "Yellowstone" se consolidou como um verdadeiro épico, com disputas, conspirações e alguma emoção, sempre tendo sob seus holofotes mais uma família disfuncional liderada por John Dutton (Kevin Costner), patriarca de um dos maiores ranchos dos Estados Unidos.
A trama segue John Dutton, um fazendeiro poderoso e controlador que luta para proteger sua propriedade, o Rancho Yellowstone, contra ameaças externas, como investidores imobiliários, políticos corruptos e tribos nativas americanas que reivindicam as terras de seus antepassados. À medida que os conflitos se desenrolam, o drama familiar se intensifica, com Dutton tentando manter a ordem entre seus filhos, Beth (Kelly Reilly), Kayce (Luke Grimes) e Jamie (Wes Bentley); cada um com suas próprias ambições e problemas pessoais, que frequentemente entram em choque com os interesses do pai e do rancho. Confira o trailer:
Veja, a força de "Yellowstone" está muito mais no seu retrato cheio de camadas do poder e da sobrevivência em um território indomável do que na lógica brutal da luta por terras. Sim, a série até é.construída em torno da brutalidade e da complexidade do mundo rural americano, onde essa luta pelo controle da terra é tratada com seriedade e realismo, mas as tensões entre os diferentes grupos - os Duttons, os nativos americanos, e os empresários gananciosos - que criam um cenário de conflito constante que nos mantém envolvidos, em nada se compara ao poder da construção dos personagens e das relações familiares - é essa camada emocional mais profunda que impede que ela caia em rotinas mais previsíveis.
Taylor Sheridan (ele de novo), co-criador e roteirista da série, traz sua assinatura de diálogos afiados e uma economia narrativa, cheia de subtextos, que ele já havia demonstrado em trabalhos anteriores, como em "Sicário" (2015) ou em "A Qualquer Custo" (2016). Sheridan é conhecido por sua habilidade em construir dramas que exploram a moralidade ambígua dos personagens que operam, quase sempre, em zonas cinzentas - e isso está claramente presente aqui. John Dutton é retratado como um homem duro e implacável, disposto a tomar decisões moralmente questionáveis para proteger seu legado, no entanto, ele é muito mais complexo que essa unilateralidade - sua motivação vem do desejo de manter sua família unida e preservar o que ele acredita ser a alma da América rural, mas esquece que esse é o seu pensamento, não de seus filhos que buscam apenas sua aprovação.
Kevin Costner oferece uma performance sólida e poderosa, dando vida a um homem que carrega o peso de um império e de uma família em seus ombros. Sua presença faz dele o centro gravitacional da série, e seu retrato como Dutton é ao mesmo tempo implacável e melancólico. Outro destaque do elenco, sem a menor dúvida, é Kelly Reilly - ela brilha como a impetuosa e emocionalmente danificada Beth Dutton. Sua relação conturbada com o pai e com os irmãos adiciona uma força emocional para a narrativa que nem Sarah Snook alcançou em "Succession".
Belíssima visualmente "Yellowstone" captura a vastidão das paisagens de Montana em todo o seu esplendor. As cenas ao ar livre, com montanhas, rios e pastos, transformam o cenário em um personagem por si só, reforçando a importância da terra como fonte de conflito e identidade para os Duttons. A trilha sonora é outro ponto que merece destaque: a mistura de composições originais com canções de artistas da música country e folk, contribui demais para aquela atmosfera. Dito isso, fica fácil afirmar que "Yellowstone" já se posiciona como uma das séries mais influentes da última década quando o assunto é drama familiar - seu retrato do conflito entre o progresso e a preservação, entre a política e a moralidade, torna sua narrativa um espelho interessante da sociedade americana moderna, especialmente em regiões onde a luta pelo controle e poder continua a ser um tema central.
Imperdível!
Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!
Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original) tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.
O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.
Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!
Vale seu play!
Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!
Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original) tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.
O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.
Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!
Vale seu play!