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A Nova Vida de Toby

"A Nova Vida de Toby" é uma pérola escondida no Star+! Eu diria que a série é uma espécie de "Sex and City" dos divorciados (com mais de 40 anos, claro). Sim, eu sei que pode parecer cômico, talvez irônico (e muitas vezes é assim mesmo que o roteiro encara algumas situações pela qual o protagonista precisa passar), porém é no tom de crônica da narração em off, vejam só, feito por uma mulher, que a história ganha um ar todo especial. Essa incrível adaptação da obra de Taffy Brodesser-Akner retrata, basicamente, o que acontece com um homem recém-divorciado em uma Nova York, dos apps de relacionamento, que "nunca dorme". Em uma mistura muito bem equilibrada (e inteligente) de drama e comédia, facilmente embarcamos na jornada de autodescoberta e de transformação de Toby, nos provocando muitas reflexões sobre os nossos próprios relacionamentos, mas, principalmente, sobre todas aquelas convenções que vão se ruindo com o dia a dia de um casamento. Olha, muito bacana mesmo!

Toby (Jesse Eisenberg) é um médico de quarenta anos em crise que precisa lidar com o divórcio mal resolvido. Em meio ao novo mundo dos encontros casuais por aplicativo e um inesperado sucesso em sua nova vida de solteiro, sua ex-mulher, Rachel (Claire Danes) simplesmente desaparece, deixando-o sozinho com seus dois filhos. Agora, com esse mistério pairando sobre sua cabeça e a responsabilidade de cuidar dos filhos, Toby precisa repensar sobre seu relacionamento e descobrir o que deu errado no casamento para, assim, tentar encontrar a ex-mulher com a ajuda dos amigos Seth (Adam Brody) e Libby (a impagável, Lizzy Caplan). Confira o trailer:

Uma das principais qualidades de "A Nova Vida de Toby" é, sem dúvida, o seu roteiro muito bem escrito - o texto é muito bom, honesto, sarcástico na medida certa e, obviamente, muito realista. Veja, é a partir de uma situação cada vez mais usual como o divórcio, que a série explora alguns aspectos da condição humana muito particulares da situação - em um mesmo episódio tentamos entender a razão da revolta de Toby, da sua tristeza, da sensação de solidão, das suas insatisfações e até da sua libido e fantasias sexuais. A narrativa é construída de forma a manter o nosso interesse, se apoiando em diálogos perspicazes e em situações muito familiares - acho até que a "graça" de tudo está aí.

A direção da Shari Springer Berman e do Robert Pulcini, ambos de "WeCrashed" e "Succession", merece muitos elogios - é sensacional como eles criam uma atmosfera de angustia e liberdade, aproveitando essa dualidade de sentimentos para enriquecer nossa experiência como audiência. Os planos que mostram Nova York de ponta cabeça (afinal é assim que Toby passa a enxergar sua vida), a câmera mais agitada capturando com sensibilidade como os personagens se encontram emocionalmente e os planos completamente estáticos, travados, quando apontam para um momento de introspecção; brincam com a nossa percepção sobre toda essa fase de fragilidade do protagonista de uma maneira única!

"Fleishman is in Trouble" (no original) vai se conectar com uma audiência mais madura, só que de uma maneira diferente de "O Método Kominsky", por exemplo. Aqui os papéis de gênero estão em destaque, são discutidos com mais intensidade, impactam mais nas nossas reflexões e na maneira como olhamos o outro lado da história - no entanto, como na série da Netflix, é possível esperar ótimos momentos de entretenimento, muita emoção, boas risadas e incontáveis reflexões sobre a importância de dividir o trabalho doméstico, de entender os anseios do companheiro, das mentiras (normalmente contadas pelos amigos) sobre o casamento, dos danos causados ​​pelo mito ultrapassado do “felizes para sempre”, sobre a melancolia da meia-idade e sobre as duras verdades sobre a maternidade que ninguém quer discutir.

Dito tudo isso, é impossível deixar de dar um play, não é mesmo?

Assista Agora

"A Nova Vida de Toby" é uma pérola escondida no Star+! Eu diria que a série é uma espécie de "Sex and City" dos divorciados (com mais de 40 anos, claro). Sim, eu sei que pode parecer cômico, talvez irônico (e muitas vezes é assim mesmo que o roteiro encara algumas situações pela qual o protagonista precisa passar), porém é no tom de crônica da narração em off, vejam só, feito por uma mulher, que a história ganha um ar todo especial. Essa incrível adaptação da obra de Taffy Brodesser-Akner retrata, basicamente, o que acontece com um homem recém-divorciado em uma Nova York, dos apps de relacionamento, que "nunca dorme". Em uma mistura muito bem equilibrada (e inteligente) de drama e comédia, facilmente embarcamos na jornada de autodescoberta e de transformação de Toby, nos provocando muitas reflexões sobre os nossos próprios relacionamentos, mas, principalmente, sobre todas aquelas convenções que vão se ruindo com o dia a dia de um casamento. Olha, muito bacana mesmo!

Toby (Jesse Eisenberg) é um médico de quarenta anos em crise que precisa lidar com o divórcio mal resolvido. Em meio ao novo mundo dos encontros casuais por aplicativo e um inesperado sucesso em sua nova vida de solteiro, sua ex-mulher, Rachel (Claire Danes) simplesmente desaparece, deixando-o sozinho com seus dois filhos. Agora, com esse mistério pairando sobre sua cabeça e a responsabilidade de cuidar dos filhos, Toby precisa repensar sobre seu relacionamento e descobrir o que deu errado no casamento para, assim, tentar encontrar a ex-mulher com a ajuda dos amigos Seth (Adam Brody) e Libby (a impagável, Lizzy Caplan). Confira o trailer:

Uma das principais qualidades de "A Nova Vida de Toby" é, sem dúvida, o seu roteiro muito bem escrito - o texto é muito bom, honesto, sarcástico na medida certa e, obviamente, muito realista. Veja, é a partir de uma situação cada vez mais usual como o divórcio, que a série explora alguns aspectos da condição humana muito particulares da situação - em um mesmo episódio tentamos entender a razão da revolta de Toby, da sua tristeza, da sensação de solidão, das suas insatisfações e até da sua libido e fantasias sexuais. A narrativa é construída de forma a manter o nosso interesse, se apoiando em diálogos perspicazes e em situações muito familiares - acho até que a "graça" de tudo está aí.

A direção da Shari Springer Berman e do Robert Pulcini, ambos de "WeCrashed" e "Succession", merece muitos elogios - é sensacional como eles criam uma atmosfera de angustia e liberdade, aproveitando essa dualidade de sentimentos para enriquecer nossa experiência como audiência. Os planos que mostram Nova York de ponta cabeça (afinal é assim que Toby passa a enxergar sua vida), a câmera mais agitada capturando com sensibilidade como os personagens se encontram emocionalmente e os planos completamente estáticos, travados, quando apontam para um momento de introspecção; brincam com a nossa percepção sobre toda essa fase de fragilidade do protagonista de uma maneira única!

"Fleishman is in Trouble" (no original) vai se conectar com uma audiência mais madura, só que de uma maneira diferente de "O Método Kominsky", por exemplo. Aqui os papéis de gênero estão em destaque, são discutidos com mais intensidade, impactam mais nas nossas reflexões e na maneira como olhamos o outro lado da história - no entanto, como na série da Netflix, é possível esperar ótimos momentos de entretenimento, muita emoção, boas risadas e incontáveis reflexões sobre a importância de dividir o trabalho doméstico, de entender os anseios do companheiro, das mentiras (normalmente contadas pelos amigos) sobre o casamento, dos danos causados ​​pelo mito ultrapassado do “felizes para sempre”, sobre a melancolia da meia-idade e sobre as duras verdades sobre a maternidade que ninguém quer discutir.

Dito tudo isso, é impossível deixar de dar um play, não é mesmo?

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A pé ele não vai longe

"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!

Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:

Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.

Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).

Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.

Vale seu play!

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"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!

Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:

Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.

Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).

Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.

Vale seu play!

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A Pior Pessoa do Mundo

“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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A Primeira Profecia

Olha, "A Primeira Profecia" não é uma jornada das mais tranquilas! Visualmente impactante em vários momentos, o filme surpreende pela sua qualidade conceitual e pela forma como o roteiro se conecta com o clássico de 1977 sem se esquecer do novo. Pois bem, para quem não sabe, aqui temos um prequel que se propõe a explorar as origens do filme "A Profecia" (ou "The Omen") - com um enfoque na construção de um suspense mais realista e uma abordagem desenvolvida em cima de elementos psicológicos bastante atuais, a diretora Arkasha Stevenson (de "Legion") nos oferece, de fato, uma história surpreendentemente potente que busca expandir o universo da franquia, mergulhando nas raízes do mal e que posteriormente levaria ao nascimento de Damien. 

A trama acompanha a jovem americana Margaret (Nell Tiger Free), que é enviada a Roma para viver a serviço da igreja. No local, ela se afeiçoa por Carlita (Nicole Sorace), uma jovem quieta e sozinha, que também mora no convento. Ao questionar o passado e a situação da garota para as outras irmãs da igreja, ela é alertada para se manter afastada. No entanto, antes de seguir o conselho, Margaret se depara com práticas obscuras que a faz questionar sua fé. Com a ajuda de um padre exonerado, Brennan (Ralph Ineson), ela acaba descobrindo uma conspiração tenebrosa, que por anos foi ocultada pela igreja local, e que tentava esconder o inevitável: a volta do mal encarnado, o chamado Anticristo. Confira o trailer:

Com o claro objetivo de oferecer para uma nova audiência aquele olhar mais profundo sobre os eventos que antecedem o terror que se desenrola em "A Profecia", "The First Omen" (no original) entrega uma mistura de suspense psicológico com elementos sobrenaturais de encher os olhos. O roteiro, escrito por Stevenson ao lado de Tim Smith e de Keith Thomas, equilibra perfeitamente aquela gramática cinematográfica mais lenta do mistério e do suspense com momentos de terror realmente viscerais. Ao explorar temas como a fé, o destino e o eterno conflito entre o bem e o mal, utilizando a história de Katherine como uma lente para examinar questões mais amplas, "A Primeira Profecia" se escora no original, prestando a reverência necessária, mas sem se tornar obrigatório qualquer conhecimento prévio.

Arkasha Stevenson, em sua estreia como diretora de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de crescente tensão e desconforto. A diretora utiliza uma abordagem visual estilizada, com uma paleta de cores sombria e uma cinematografia que enfatiza a claustrofobia e o isolamento. A direção de fotografia do Aaron Morton (de "A Morte do Demônio") é particularmente eficaz, utilizando luz e sombras para sugerir a presença de forças invisíveis e ameaçadoras. Aqui cabe um comentário: repare como o uso dos cenários e a atenção aos pequenos detalhes ajudam a construir uma sensação constante de inquietação - quando Margaret está trancada no quarto, por exemplo, a porta está cheia de marcas de unhas em um claro sinal de desespero. Nesse sentido,Nell Tiger Free merece elogios - no tom certo, ela é capaz de transmitir de forma eficaz toda a transformação de sua personagem, desde a incredulidade inicial até o reconhecimento inevitável do horror que a cerca. Sua performance é fundamentada em uma autenticidade emocional que ancora o filme, tornando Katherine uma protagonista cheia de camadas.

"A Primeira Profecia" não está isenta de críticas - o ritmo do filme pode soar deliberadamente lento para alguns, no entanto, o que mais incomoda é a previsibilidade do roteiro. Penso que faltou um pouco de sensibilidade ou talvez até um certo grau de experiência para Stevenson controlar melhor nossas expectativas. Mas isso impacta na nossa experiência? Não muito, desde que você embarque na proposta da diretora - especialmente se você conhece o filme original. Em suma, "A Primeira Profecia" é uma adição digna ao universo de "A Profecia", uma exploração rica das origens do mal que assombrou e conduziu a franquia durante anos. Tenho certeza que para os fãs do suspense, aqueles que gostam de tomar alguns sustos mesmo e de se sentir provocados visualmente, "A Primeira Profecia" vai valer muito o play!

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Olha, "A Primeira Profecia" não é uma jornada das mais tranquilas! Visualmente impactante em vários momentos, o filme surpreende pela sua qualidade conceitual e pela forma como o roteiro se conecta com o clássico de 1977 sem se esquecer do novo. Pois bem, para quem não sabe, aqui temos um prequel que se propõe a explorar as origens do filme "A Profecia" (ou "The Omen") - com um enfoque na construção de um suspense mais realista e uma abordagem desenvolvida em cima de elementos psicológicos bastante atuais, a diretora Arkasha Stevenson (de "Legion") nos oferece, de fato, uma história surpreendentemente potente que busca expandir o universo da franquia, mergulhando nas raízes do mal e que posteriormente levaria ao nascimento de Damien. 

A trama acompanha a jovem americana Margaret (Nell Tiger Free), que é enviada a Roma para viver a serviço da igreja. No local, ela se afeiçoa por Carlita (Nicole Sorace), uma jovem quieta e sozinha, que também mora no convento. Ao questionar o passado e a situação da garota para as outras irmãs da igreja, ela é alertada para se manter afastada. No entanto, antes de seguir o conselho, Margaret se depara com práticas obscuras que a faz questionar sua fé. Com a ajuda de um padre exonerado, Brennan (Ralph Ineson), ela acaba descobrindo uma conspiração tenebrosa, que por anos foi ocultada pela igreja local, e que tentava esconder o inevitável: a volta do mal encarnado, o chamado Anticristo. Confira o trailer:

Com o claro objetivo de oferecer para uma nova audiência aquele olhar mais profundo sobre os eventos que antecedem o terror que se desenrola em "A Profecia", "The First Omen" (no original) entrega uma mistura de suspense psicológico com elementos sobrenaturais de encher os olhos. O roteiro, escrito por Stevenson ao lado de Tim Smith e de Keith Thomas, equilibra perfeitamente aquela gramática cinematográfica mais lenta do mistério e do suspense com momentos de terror realmente viscerais. Ao explorar temas como a fé, o destino e o eterno conflito entre o bem e o mal, utilizando a história de Katherine como uma lente para examinar questões mais amplas, "A Primeira Profecia" se escora no original, prestando a reverência necessária, mas sem se tornar obrigatório qualquer conhecimento prévio.

Arkasha Stevenson, em sua estreia como diretora de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de crescente tensão e desconforto. A diretora utiliza uma abordagem visual estilizada, com uma paleta de cores sombria e uma cinematografia que enfatiza a claustrofobia e o isolamento. A direção de fotografia do Aaron Morton (de "A Morte do Demônio") é particularmente eficaz, utilizando luz e sombras para sugerir a presença de forças invisíveis e ameaçadoras. Aqui cabe um comentário: repare como o uso dos cenários e a atenção aos pequenos detalhes ajudam a construir uma sensação constante de inquietação - quando Margaret está trancada no quarto, por exemplo, a porta está cheia de marcas de unhas em um claro sinal de desespero. Nesse sentido,Nell Tiger Free merece elogios - no tom certo, ela é capaz de transmitir de forma eficaz toda a transformação de sua personagem, desde a incredulidade inicial até o reconhecimento inevitável do horror que a cerca. Sua performance é fundamentada em uma autenticidade emocional que ancora o filme, tornando Katherine uma protagonista cheia de camadas.

"A Primeira Profecia" não está isenta de críticas - o ritmo do filme pode soar deliberadamente lento para alguns, no entanto, o que mais incomoda é a previsibilidade do roteiro. Penso que faltou um pouco de sensibilidade ou talvez até um certo grau de experiência para Stevenson controlar melhor nossas expectativas. Mas isso impacta na nossa experiência? Não muito, desde que você embarque na proposta da diretora - especialmente se você conhece o filme original. Em suma, "A Primeira Profecia" é uma adição digna ao universo de "A Profecia", uma exploração rica das origens do mal que assombrou e conduziu a franquia durante anos. Tenho certeza que para os fãs do suspense, aqueles que gostam de tomar alguns sustos mesmo e de se sentir provocados visualmente, "A Primeira Profecia" vai valer muito o play!

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A Qualquer Custo

A Qualquer Custo

"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

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"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

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A Queda

Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

Vale seu play!

Assista Agora

Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

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A Sala dos Professores

"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

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"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

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A Separação

"A Separação" do iraniano Asghar Farhadi é simplesmente fantástico - uma obra que transcende fronteiras culturais e linguísticas capaz de nos oferecer um drama humano e com uma intensidade que raramente encontramos no cinema atual. Com um roteiro impecável, indicado ao Oscar de "Original" e vencedor na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", ambos em 2012, além do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011, esse filme tem uma capacidade acima da média para discutir com muita sensibilidade temas como a moralidade, a responsabilidade e a complexidade das relações humanas por uma ótica bastante provocadora.

Na trama, Nader (Peyman Maadi) e Simin (Leila Hatami) enfrentam uma decisão difícil: melhorar a vida de sua filha, Termeh (Sarina Farhadi), mudando-se para outro país, ou permanecer no Irã para cuidar do pai de Nader, que sofre de Alzheimer. Nesse contexto que a separação do casal desencadeia uma série de eventos que expõem as tensões sociais e morais da sociedade iraniana até que uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), e seu marido, Hodjat (Shahab Hosseini), entram na história, complicando ainda mais a situação. Confira o trailer:

Como não poderia deixar de ser ao se tratar de Farhadi (de "O Apartamento"), o diretor constrói sua narrativa com uma habilidade impressionante, utilizando o posicionamento da câmera para criar uma sensação de proximidade e tensão constantes - existe uma similaridade angustiante que nos lembra toda aquela atmosfera de "A Caça" (mais em sua forma do que em seu conteúdo, antecipo). A fotografia de Mahmoud Kalari (de "O Passado") usa alguns planos mais nervosos e muitos close-ups para nos colocar no centro dos conflitos, tornando essa experiência quase claustrofóbica. A atenção aos detalhes, desde a desordem do apartamento de Nader até os olhares trocados entre os personagens, contribui para uma sensação de realismo que é tão palpável quanto insuportável.

O elenco é um elemento fundamental em "A Separação". Peyman Maadi e Leila Hatami entregam performances complexas e cheia de nuances, capturando a dor, a raiva e a frustração de um casal à beira do colapso - a sensação de caos é crescente entre eles, nos dando a exata sensação de que nada será capaz de mudar o rumo de um destino que poderia ser outro. Sareh Bayat, como Razieh, também merece atenção: sua performance é emocionante, trazendo à tona a luta interna entre a fé e as dificuldades da vida com muita competência. Aqui entra a trilha sonora de Sattar Oraki - em vez de dominar a cena, a música sutilmente complementa o drama, intensificando as emoções sem jamais se sobrepor à narrativa.  

As escolhas de Farhadi em termos de produção, desde a ambientação até o figurino, ajudam a criar um retrato autêntico da vida cotidiana no Irã, ao mesmo tempo em que destacam as questões sociais e políticas subjacentes - isso pode até não ser uma grande novidade nos dias de hoje, mas com o toque visceral da narrativa , olha, o filme muda de patamar! Sim, "A Separação" é uma experiência cinematográfica realmente profunda e comovente e que deixa uma marca dolorida. É um filme que exige certa reflexão sobre os dilemas morais e as diversas camadas das relações que desafiam nossas percepções e proporcionam um olhar íntimo sobre a condição humana.

Para aqueles que buscam um entretenimento mais leve, talvez seja melhor procurar uma outro opção, caso contrário o cinema autoral de Asghar Farhadi em "A Separação" vai realmente te conquistar!

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"A Separação" do iraniano Asghar Farhadi é simplesmente fantástico - uma obra que transcende fronteiras culturais e linguísticas capaz de nos oferecer um drama humano e com uma intensidade que raramente encontramos no cinema atual. Com um roteiro impecável, indicado ao Oscar de "Original" e vencedor na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", ambos em 2012, além do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011, esse filme tem uma capacidade acima da média para discutir com muita sensibilidade temas como a moralidade, a responsabilidade e a complexidade das relações humanas por uma ótica bastante provocadora.

Na trama, Nader (Peyman Maadi) e Simin (Leila Hatami) enfrentam uma decisão difícil: melhorar a vida de sua filha, Termeh (Sarina Farhadi), mudando-se para outro país, ou permanecer no Irã para cuidar do pai de Nader, que sofre de Alzheimer. Nesse contexto que a separação do casal desencadeia uma série de eventos que expõem as tensões sociais e morais da sociedade iraniana até que uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), e seu marido, Hodjat (Shahab Hosseini), entram na história, complicando ainda mais a situação. Confira o trailer:

Como não poderia deixar de ser ao se tratar de Farhadi (de "O Apartamento"), o diretor constrói sua narrativa com uma habilidade impressionante, utilizando o posicionamento da câmera para criar uma sensação de proximidade e tensão constantes - existe uma similaridade angustiante que nos lembra toda aquela atmosfera de "A Caça" (mais em sua forma do que em seu conteúdo, antecipo). A fotografia de Mahmoud Kalari (de "O Passado") usa alguns planos mais nervosos e muitos close-ups para nos colocar no centro dos conflitos, tornando essa experiência quase claustrofóbica. A atenção aos detalhes, desde a desordem do apartamento de Nader até os olhares trocados entre os personagens, contribui para uma sensação de realismo que é tão palpável quanto insuportável.

O elenco é um elemento fundamental em "A Separação". Peyman Maadi e Leila Hatami entregam performances complexas e cheia de nuances, capturando a dor, a raiva e a frustração de um casal à beira do colapso - a sensação de caos é crescente entre eles, nos dando a exata sensação de que nada será capaz de mudar o rumo de um destino que poderia ser outro. Sareh Bayat, como Razieh, também merece atenção: sua performance é emocionante, trazendo à tona a luta interna entre a fé e as dificuldades da vida com muita competência. Aqui entra a trilha sonora de Sattar Oraki - em vez de dominar a cena, a música sutilmente complementa o drama, intensificando as emoções sem jamais se sobrepor à narrativa.  

As escolhas de Farhadi em termos de produção, desde a ambientação até o figurino, ajudam a criar um retrato autêntico da vida cotidiana no Irã, ao mesmo tempo em que destacam as questões sociais e políticas subjacentes - isso pode até não ser uma grande novidade nos dias de hoje, mas com o toque visceral da narrativa , olha, o filme muda de patamar! Sim, "A Separação" é uma experiência cinematográfica realmente profunda e comovente e que deixa uma marca dolorida. É um filme que exige certa reflexão sobre os dilemas morais e as diversas camadas das relações que desafiam nossas percepções e proporcionam um olhar íntimo sobre a condição humana.

Para aqueles que buscam um entretenimento mais leve, talvez seja melhor procurar uma outro opção, caso contrário o cinema autoral de Asghar Farhadi em "A Separação" vai realmente te conquistar!

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À Sombra de Duas Mulheres

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

Vale seu play!

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"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

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A Teacher

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

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Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

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A Verdadeira Dor

Que filme bacana - sensível e complexo ao mesmo tempo! Na verdade, "A Verdadeira Dor" é muito interessante por ter na sua essência uma mistura de referências de obras bem estruturadas narrativamente como "Sideways" e "Era uma vez um sonho". Esse segundo longa-metragem dirigido e roteirizado por Jesse Eisenberg (o primeiro foi "Quando Você Terminar de Salvar o Mundo"), é uma experiência cinematográfica que aposta nas nuances emocionais e nas dificuldades das relações familiares, entregando uma história marcada por sutilezas e desconfortos que realmente vai te provocar - tanto pelo lado da empatia quanto pelo da reflexão.

Com uma narrativa estruturada em torno da viagem dos primos David (Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) à Polônia, para homenagear a avó recém-falecida, o filme gradualmente transforma o que deveria ser um momento solene em uma profunda jornada emocional. A trama revela, aos poucos, questões mal resolvidas e ressentimentos acumulados ao longo dos anos entre os protagonistas, usando o peso histórico do Holocausto como pano de fundo para ampliar ainda mais a carga dramática e simbólica das situações vividas por eles. Confira o trailer:

Para começar é preciso elogiar a direção de Eisenberg - ela é madura e muito segura. Eisenberg conduz a história com paciência e atenção aos detalhes, sempre no tom certo e nunca se apegando em atalhos que possam, de alguma forma, nos manipular emocionalmente - e olha que o pano de fundo é bem trágico. Aqui é importante mencionar que o filme, em muitos aspectos, ecoa uma estrutura semelhante a outras obras sobre viagens familiares mais introspectivas, onde personagens buscam autoconhecimento em terras estrangeiras. Ao optar por um realismo cru, quase documental, Eisenberg elimina qualquer elemento cômico fácil ou carismático em favor de uma exploração inteligente do desconforto emocional e embora essa abordagem corajosa possa afastar parte da audiência que busca um entretenimento mais leve, é justamente ela que oferece uma experiência única, sensorial eu diria, além de sincera e desafiadora para quem deseja mergulhar nas entranhas das relações humanas.

Em termos de atuação,"A Verdadeira Dor"apresenta performances fortes, especialmente de Kieran Culkin - vencedor do Oscar pelo personagem. Seu Benji é construído como um indivíduo provocativo, sarcástico e emocionalmente instável - um prato cheio para Culkin brilhar como alguém que desafia as convenções sociais sem medo de soar inconveniente. Repare como ele se torna facilmente memorável ao se destacar em meio a personagens secundários deliberadamente discretos e pouco carismáticos, propositalmente apagados pelo diretor. Eisenberg, que por outro lado, adota uma abordagem mais contida e racional para o seu David, cria um contraponto eficiente e necessário à energia explosiva do primo, permitindo que a audiência observe claramente as diferenças monstruosas entre ambos. Um detalhe visual particularmente eficaz para explicar essa relação é a escolha cromática dos figurinos dos protagonistas, que mudam sutilmente ao longo da narrativa, sugerindo uma troca simbólica de perspectivas ou uma influência mútua entre eles. Esse pequeno, porém relevante detalhe de composição visual, é um exemplo de como Eisenberg, como diretor,  trabalha suas cenas com atenção aos menores elementos, enriquecendo a jornada de quem assiste.

A fotografia de Benjamin Loeb (de "Pieces of a Woman") destaca as raras cenas noturnas exibindo um rico jogo de cores saturadas e composições que simbolizam um verdadeiro labirinto psicológico que transita entre a solidão e a inveja - cada personagem, aliás, com seus respectivos gatilhos. É lindo de ver e de sentir, especialmente quando, quebrando nossas expectativas, a narrativa nos traz para as sequências diurnas bruscamente, apostando em uma abordagem naturalista e lindamente emoldurada com as belíssimas locações na Polônia - que enfatiza o vazio e a banalidade dos conflitos cotidianos durante uma viagem escapista. Outro aspecto interessante do filme é a utilização da música de Chopin como elemento dramático para estabelecer um toque de melancolia que dialoga diretamente com o estado emocional dos personagens - é impressionante como a trilha sonora cumpre seu papel de oferecer uma base lírica que amplifica o impacto das cenas.

A recompensa perante um filme basicamente pautado pelo silêncio entre os diálogos, está na imersão proporcionada pelo conceito narrativo de Eisenberg. Como em "Encontros e Desencontros", por exemplo, sua direção nos oferece espaço suficiente para que possamos absorver e refletir sobre temas como luto e pertencimento, e que, o invés de entregar respostas fáceis ou conclusões claras, ainda possamos buscar nas questões abertas e nas provocações emocionais do roteiro, uma reposta íntima sobre como enxergamos a vida e como algumas prioridades banais precisam ser revistas.

"A Verdadeira Dor" vale muito o seu play!

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Que filme bacana - sensível e complexo ao mesmo tempo! Na verdade, "A Verdadeira Dor" é muito interessante por ter na sua essência uma mistura de referências de obras bem estruturadas narrativamente como "Sideways" e "Era uma vez um sonho". Esse segundo longa-metragem dirigido e roteirizado por Jesse Eisenberg (o primeiro foi "Quando Você Terminar de Salvar o Mundo"), é uma experiência cinematográfica que aposta nas nuances emocionais e nas dificuldades das relações familiares, entregando uma história marcada por sutilezas e desconfortos que realmente vai te provocar - tanto pelo lado da empatia quanto pelo da reflexão.

Com uma narrativa estruturada em torno da viagem dos primos David (Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) à Polônia, para homenagear a avó recém-falecida, o filme gradualmente transforma o que deveria ser um momento solene em uma profunda jornada emocional. A trama revela, aos poucos, questões mal resolvidas e ressentimentos acumulados ao longo dos anos entre os protagonistas, usando o peso histórico do Holocausto como pano de fundo para ampliar ainda mais a carga dramática e simbólica das situações vividas por eles. Confira o trailer:

Para começar é preciso elogiar a direção de Eisenberg - ela é madura e muito segura. Eisenberg conduz a história com paciência e atenção aos detalhes, sempre no tom certo e nunca se apegando em atalhos que possam, de alguma forma, nos manipular emocionalmente - e olha que o pano de fundo é bem trágico. Aqui é importante mencionar que o filme, em muitos aspectos, ecoa uma estrutura semelhante a outras obras sobre viagens familiares mais introspectivas, onde personagens buscam autoconhecimento em terras estrangeiras. Ao optar por um realismo cru, quase documental, Eisenberg elimina qualquer elemento cômico fácil ou carismático em favor de uma exploração inteligente do desconforto emocional e embora essa abordagem corajosa possa afastar parte da audiência que busca um entretenimento mais leve, é justamente ela que oferece uma experiência única, sensorial eu diria, além de sincera e desafiadora para quem deseja mergulhar nas entranhas das relações humanas.

Em termos de atuação,"A Verdadeira Dor"apresenta performances fortes, especialmente de Kieran Culkin - vencedor do Oscar pelo personagem. Seu Benji é construído como um indivíduo provocativo, sarcástico e emocionalmente instável - um prato cheio para Culkin brilhar como alguém que desafia as convenções sociais sem medo de soar inconveniente. Repare como ele se torna facilmente memorável ao se destacar em meio a personagens secundários deliberadamente discretos e pouco carismáticos, propositalmente apagados pelo diretor. Eisenberg, que por outro lado, adota uma abordagem mais contida e racional para o seu David, cria um contraponto eficiente e necessário à energia explosiva do primo, permitindo que a audiência observe claramente as diferenças monstruosas entre ambos. Um detalhe visual particularmente eficaz para explicar essa relação é a escolha cromática dos figurinos dos protagonistas, que mudam sutilmente ao longo da narrativa, sugerindo uma troca simbólica de perspectivas ou uma influência mútua entre eles. Esse pequeno, porém relevante detalhe de composição visual, é um exemplo de como Eisenberg, como diretor,  trabalha suas cenas com atenção aos menores elementos, enriquecendo a jornada de quem assiste.

A fotografia de Benjamin Loeb (de "Pieces of a Woman") destaca as raras cenas noturnas exibindo um rico jogo de cores saturadas e composições que simbolizam um verdadeiro labirinto psicológico que transita entre a solidão e a inveja - cada personagem, aliás, com seus respectivos gatilhos. É lindo de ver e de sentir, especialmente quando, quebrando nossas expectativas, a narrativa nos traz para as sequências diurnas bruscamente, apostando em uma abordagem naturalista e lindamente emoldurada com as belíssimas locações na Polônia - que enfatiza o vazio e a banalidade dos conflitos cotidianos durante uma viagem escapista. Outro aspecto interessante do filme é a utilização da música de Chopin como elemento dramático para estabelecer um toque de melancolia que dialoga diretamente com o estado emocional dos personagens - é impressionante como a trilha sonora cumpre seu papel de oferecer uma base lírica que amplifica o impacto das cenas.

A recompensa perante um filme basicamente pautado pelo silêncio entre os diálogos, está na imersão proporcionada pelo conceito narrativo de Eisenberg. Como em "Encontros e Desencontros", por exemplo, sua direção nos oferece espaço suficiente para que possamos absorver e refletir sobre temas como luto e pertencimento, e que, o invés de entregar respostas fáceis ou conclusões claras, ainda possamos buscar nas questões abertas e nas provocações emocionais do roteiro, uma reposta íntima sobre como enxergamos a vida e como algumas prioridades banais precisam ser revistas.

"A Verdadeira Dor" vale muito o seu play!

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A Vida Depois

"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

Vale muito seu play!

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"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

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A Vida em Si

Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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A Visita

Dos cinco melhores filmes do diretor M. Night Shyamalan (de "Sexto Sentido"), esse, sem dúvida, é o menos conhecido e comentado - e justamente por isso merece muito a sua atenção. Shyamalan é um craque, mas perdeu muito a mão - especialmente depois de "A Vila", no entanto, com a "A Visita" ele celebra o seu retorno as raízes mais independentes e de uma gramática cinematográfica que ele conhece como ninguém. Claro, o filme é um suspense psicológico na sua essência, com uma abordagem mais intimista, é verdade, e um tom mais despretensioso. Misturando elementos de horror, mistério e um humor negro bastante peculiar, Shyamalan constrói uma narrativa que entretém, mas também desconstrói convenções do gênero de forma criativa e até subversiva. O filme brinca com o formato de found footage para criar tensão e imersão, mas com a assinatura única de um diretor capaz de combinar reviravoltas com reflexões importantes sobre a dinâmica familiar e o medo do desconhecido.

A trama segue os irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), que viajam para visitar os avós maternos, com quem nunca tiveram contato. Becca, uma aspirante a cineasta, decide documentar a viagem, mas a medida que os dias passam, comportamentos estranhos de seus avós (Deanna Dunagan e Peter McRobbie) começam a se intensificar, mergulhando os jovens em um mistério assustador que os força a confrontar seus medos mais profundos. Confira o ótimo trailer:

Sem a pressão de entregar mais um blockbuster de muito sucesso, Shyamalan escreve um roteiro mais enxuto, que mistura habilmente momentos de humor negro com o terror/suspense, se apropriando de diálogos que capturam a autenticidade da interação entre irmãos e as nuances das dinâmicas familiares entre personagens "desconehcidos". O diretor e roteirista, utiliza esses momentos mais leves para contrabalançar a crescente sensação de perigo que ele adora provocar na audiência, criando assim uma experiência que nos mantém constantemente envolvidos. Além disso, "A Visita" usa do subtexto para discutir temas como abandono, reconexão e os medos associados à velhice e à perda de controle.

Partindo dessa premissa, a escolha dofound footage, embora arriscada, é bem executada - o  diretor parece se divertir com as linguagens que ele mesmo propõe e com isso acaba encontrando o equilíbrio perfeito entre o estilo mais documental com uma narrativa mais tradicional. A câmera de Shyamalan muitas vezes funciona como um elemento dramático, destacando a curiosidade infantil e a vulnerabilidade dos protagonistas enquanto os eventos ao redor deles se tornam cada vez mais perturbadores. Veja, Shyamalan domina essa linguagem, ele sabe explorar o ponto de vista dos personagens para criar uma atmosfera de tensão crescente. Com isso, as performances do elenco se toram fundamentais para o impacto emocional do filme. Olivia DeJonge traz inteligência e fragilidade para Becca, enquanto Ed Oxenbould oferece um alívio cômico natural como Tyler, pontuando os momentos de terror autêntico com um tipo de humor mais juvenil. Deanna Dunagan e Peter McRobbie contrabalanceiam esse tom - eles entregam atuações intensas e desconcertantes como os avós, Nana e Pop, alternando entre a afetuosidade e comportamentos profundamente inquietantes. Repare como essa dinâmica imposta por Shyamalan torna difícil a distinção entre a normalidade e a ameaça velada.

Outros dois pontos merecem sua atenção: design de som e trilha sonora. Eles desempenham papéis cruciais na criação dessa atmosfera de mistério do filme. Shyamalan usa o silêncio estratégico e sons ambientes para amplificar o desconforto e a claustrofobia dos protagonistas, enquanto os momentos mais intensos são pontuados por ruídos e sons diegéticos que acentuam a nossa imersão como audiência. O fato é que "A Visita" é amplamente eficaz em seu objetivo de nos tirar a tranquilidade, com uma narrativa habilmente conduzida para gerar o impacto da revelação final e mais uma vez provar que M. Night Shyamalan sabe manipular as expectativas como poucos!

Vale demais!

PS: "A Visita" foi considerado o Melhor Filme do gênero pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films dos EUA, em 2016.

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Dos cinco melhores filmes do diretor M. Night Shyamalan (de "Sexto Sentido"), esse, sem dúvida, é o menos conhecido e comentado - e justamente por isso merece muito a sua atenção. Shyamalan é um craque, mas perdeu muito a mão - especialmente depois de "A Vila", no entanto, com a "A Visita" ele celebra o seu retorno as raízes mais independentes e de uma gramática cinematográfica que ele conhece como ninguém. Claro, o filme é um suspense psicológico na sua essência, com uma abordagem mais intimista, é verdade, e um tom mais despretensioso. Misturando elementos de horror, mistério e um humor negro bastante peculiar, Shyamalan constrói uma narrativa que entretém, mas também desconstrói convenções do gênero de forma criativa e até subversiva. O filme brinca com o formato de found footage para criar tensão e imersão, mas com a assinatura única de um diretor capaz de combinar reviravoltas com reflexões importantes sobre a dinâmica familiar e o medo do desconhecido.

A trama segue os irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), que viajam para visitar os avós maternos, com quem nunca tiveram contato. Becca, uma aspirante a cineasta, decide documentar a viagem, mas a medida que os dias passam, comportamentos estranhos de seus avós (Deanna Dunagan e Peter McRobbie) começam a se intensificar, mergulhando os jovens em um mistério assustador que os força a confrontar seus medos mais profundos. Confira o ótimo trailer:

Sem a pressão de entregar mais um blockbuster de muito sucesso, Shyamalan escreve um roteiro mais enxuto, que mistura habilmente momentos de humor negro com o terror/suspense, se apropriando de diálogos que capturam a autenticidade da interação entre irmãos e as nuances das dinâmicas familiares entre personagens "desconehcidos". O diretor e roteirista, utiliza esses momentos mais leves para contrabalançar a crescente sensação de perigo que ele adora provocar na audiência, criando assim uma experiência que nos mantém constantemente envolvidos. Além disso, "A Visita" usa do subtexto para discutir temas como abandono, reconexão e os medos associados à velhice e à perda de controle.

Partindo dessa premissa, a escolha dofound footage, embora arriscada, é bem executada - o  diretor parece se divertir com as linguagens que ele mesmo propõe e com isso acaba encontrando o equilíbrio perfeito entre o estilo mais documental com uma narrativa mais tradicional. A câmera de Shyamalan muitas vezes funciona como um elemento dramático, destacando a curiosidade infantil e a vulnerabilidade dos protagonistas enquanto os eventos ao redor deles se tornam cada vez mais perturbadores. Veja, Shyamalan domina essa linguagem, ele sabe explorar o ponto de vista dos personagens para criar uma atmosfera de tensão crescente. Com isso, as performances do elenco se toram fundamentais para o impacto emocional do filme. Olivia DeJonge traz inteligência e fragilidade para Becca, enquanto Ed Oxenbould oferece um alívio cômico natural como Tyler, pontuando os momentos de terror autêntico com um tipo de humor mais juvenil. Deanna Dunagan e Peter McRobbie contrabalanceiam esse tom - eles entregam atuações intensas e desconcertantes como os avós, Nana e Pop, alternando entre a afetuosidade e comportamentos profundamente inquietantes. Repare como essa dinâmica imposta por Shyamalan torna difícil a distinção entre a normalidade e a ameaça velada.

Outros dois pontos merecem sua atenção: design de som e trilha sonora. Eles desempenham papéis cruciais na criação dessa atmosfera de mistério do filme. Shyamalan usa o silêncio estratégico e sons ambientes para amplificar o desconforto e a claustrofobia dos protagonistas, enquanto os momentos mais intensos são pontuados por ruídos e sons diegéticos que acentuam a nossa imersão como audiência. O fato é que "A Visita" é amplamente eficaz em seu objetivo de nos tirar a tranquilidade, com uma narrativa habilmente conduzida para gerar o impacto da revelação final e mais uma vez provar que M. Night Shyamalan sabe manipular as expectativas como poucos!

Vale demais!

PS: "A Visita" foi considerado o Melhor Filme do gênero pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films dos EUA, em 2016.

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Acapulco

Divertida e despretensiosa, essa é o tipo da série que você assiste um episódio aqui, outro ali, e sempre vai sair satisfeito - eu diria, inclusive, que essa produção da Apple TV+ transita muito bem entre um "White Lotus" com um "How I Met Your Mother". O fato é que "Acapulco" é uma série encantadora que mergulha em um atmosfera de nostalgia, cheia de humor e emoção (as vezes até melodramática demais), equilibrando uma estética colorida e vibrante com uma narrativa mais acessível e cativante. Inspirada no filme "Como se Tornar um Conquistador", de 2017, a série se apropria de elementos que nos remetem à uma comédia romântica leve com uma trama que traz para discussão temas como amadurecimento, sonhos e identidade, sem nunca esquecer da relação entre passado e presente como forma de potencializar a narrativa. Criada por Eduardo Cisneros (de "La Usurpadora"), Jason Shuman (de "Lakers: Hora de Vencer") e Austin Winsberg (de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist"), "Acapulco" se destaca pelo mix de referências, sempre com muito respeito e bom humor, funcionando como uma certa homenagem à cultura mexicana, oferecendo um olhar distinto sobre o país, mesmo que recorrendo aos estereótipos sociais - e funcional!

A trama acompanha Máximo Gallardo (Enrique Arrizon), um jovem sonhador que em 1984, consegue seu emprego dos sonhos no luxuoso resort Las Colinas, na famosa cidade mexicana de Acapulco - retiro dos endinheirados da época. Lá, ele descobre que o glamour esconde desafios inesperados, incluindo clientes excêntricos, dinâmicas de poder e dilemas morais que testam sua ética e ambição. Enquanto isso, a história é contada pelo Máximo do presente (aqui vivido por Eugenio Derbez), um magnata que compartilha suas memórias com seu sobrinho Hugo (Raphael Alejandro), criando uma estrutura narrativa semelhante à outras sitcoms mais clássicas, mas com uma camada adicional de subjetividade, já que o narrador mais velho pode não ser completamente confiável. Confira o trailer original:

Visualmente, "Acapulco" é um espetáculo. A paleta de cores é viva, com destaque para o rosa berrante do hotel, os figurinos são chamativos e a fotografia sempre ensolarada, tudo isso nos transporta diretamente para os anos 80 com muita maestria. A trilha sonora, ponto alto da série, está repleta de clássicos, incluindo versões em espanhol de hits americanos que dificilmente não vai te roubar um sorriso - especialmente se você estiver nas faixa dos 40 anos (ou mais). Veja, todos esses detalhes conferem um tom nostálgico impressionante  e reforçam a identidade única da série, criando uma fácil conexão com aquele cinema "sessão da tarde" que adorávamos assistir.

Além da estética envolvente, a série se destaca pelo tom positivo e otimista. Embora Máximo enfrente desafios e precise tomar decisões difíceis, "Acapulco" mantém um clima acolhedor e divertido, explorando o crescimento do protagonista sem perder a leveza de sua proposta. A narrativa é inteligente ao abordar questões de classe, pela perspectiva dos sonhos e sacrifícios, mas sempre com um olhar esperançoso e uma boa dose de humor. Já em termos de estrutura, "Acapulco" se desenvolve como uma série de episódios independentes, mas com arcos narrativos que evoluem ao longo das temporadas. Isso permite que a história se expanda organicamente, criando um universo rico e envolvente sem a necessidade de grandes reviravoltas dramáticas. O elenco também brilha, com personagens carismáticos que contribuem para a química da série - Enrique Arrizon traz energia e ingenuidade ao jovem Máximo, enquanto Derbez adiciona um toque de maturidade e humor na versão mais velha do personagem. Outros destaques incluem Fernando Carsa, como Memo, o melhor amigo de Máximo, e Damián Alcázar, como Don Pablo, o sábio (e de caráter duvidoso) mentor do protagonista.

Com um conceito acessível e um roteiro bem construído, "Acapulco" mereceria mais atenção - como "Ted Lasso", a série conquista pelo seu humor e pelo retrato afetuoso da cultura mexicana sem nunca pesar na mão - ou melhor, trazendo aquele toque mexicano de dramaturgia, mas sem tanto exagero dramático. No geral, "Acapulco" é um entretenimento leve e envolvente, ideal para quem busca uma jornada reconfortante, repleta de bom humor e de personagens apaixonantes - a capacidade da série em equilibrar essa narrativa, tornando a história de Máximo uma experiência cativante e visualmente encantadora, é de se elogiar.

Para quem gosta de histórias de crescimento pessoal com uma dose generosa de nostalgia, o play é obrigatório - e se dormir, dormiu!

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Divertida e despretensiosa, essa é o tipo da série que você assiste um episódio aqui, outro ali, e sempre vai sair satisfeito - eu diria, inclusive, que essa produção da Apple TV+ transita muito bem entre um "White Lotus" com um "How I Met Your Mother". O fato é que "Acapulco" é uma série encantadora que mergulha em um atmosfera de nostalgia, cheia de humor e emoção (as vezes até melodramática demais), equilibrando uma estética colorida e vibrante com uma narrativa mais acessível e cativante. Inspirada no filme "Como se Tornar um Conquistador", de 2017, a série se apropria de elementos que nos remetem à uma comédia romântica leve com uma trama que traz para discussão temas como amadurecimento, sonhos e identidade, sem nunca esquecer da relação entre passado e presente como forma de potencializar a narrativa. Criada por Eduardo Cisneros (de "La Usurpadora"), Jason Shuman (de "Lakers: Hora de Vencer") e Austin Winsberg (de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist"), "Acapulco" se destaca pelo mix de referências, sempre com muito respeito e bom humor, funcionando como uma certa homenagem à cultura mexicana, oferecendo um olhar distinto sobre o país, mesmo que recorrendo aos estereótipos sociais - e funcional!

A trama acompanha Máximo Gallardo (Enrique Arrizon), um jovem sonhador que em 1984, consegue seu emprego dos sonhos no luxuoso resort Las Colinas, na famosa cidade mexicana de Acapulco - retiro dos endinheirados da época. Lá, ele descobre que o glamour esconde desafios inesperados, incluindo clientes excêntricos, dinâmicas de poder e dilemas morais que testam sua ética e ambição. Enquanto isso, a história é contada pelo Máximo do presente (aqui vivido por Eugenio Derbez), um magnata que compartilha suas memórias com seu sobrinho Hugo (Raphael Alejandro), criando uma estrutura narrativa semelhante à outras sitcoms mais clássicas, mas com uma camada adicional de subjetividade, já que o narrador mais velho pode não ser completamente confiável. Confira o trailer original:

Visualmente, "Acapulco" é um espetáculo. A paleta de cores é viva, com destaque para o rosa berrante do hotel, os figurinos são chamativos e a fotografia sempre ensolarada, tudo isso nos transporta diretamente para os anos 80 com muita maestria. A trilha sonora, ponto alto da série, está repleta de clássicos, incluindo versões em espanhol de hits americanos que dificilmente não vai te roubar um sorriso - especialmente se você estiver nas faixa dos 40 anos (ou mais). Veja, todos esses detalhes conferem um tom nostálgico impressionante  e reforçam a identidade única da série, criando uma fácil conexão com aquele cinema "sessão da tarde" que adorávamos assistir.

Além da estética envolvente, a série se destaca pelo tom positivo e otimista. Embora Máximo enfrente desafios e precise tomar decisões difíceis, "Acapulco" mantém um clima acolhedor e divertido, explorando o crescimento do protagonista sem perder a leveza de sua proposta. A narrativa é inteligente ao abordar questões de classe, pela perspectiva dos sonhos e sacrifícios, mas sempre com um olhar esperançoso e uma boa dose de humor. Já em termos de estrutura, "Acapulco" se desenvolve como uma série de episódios independentes, mas com arcos narrativos que evoluem ao longo das temporadas. Isso permite que a história se expanda organicamente, criando um universo rico e envolvente sem a necessidade de grandes reviravoltas dramáticas. O elenco também brilha, com personagens carismáticos que contribuem para a química da série - Enrique Arrizon traz energia e ingenuidade ao jovem Máximo, enquanto Derbez adiciona um toque de maturidade e humor na versão mais velha do personagem. Outros destaques incluem Fernando Carsa, como Memo, o melhor amigo de Máximo, e Damián Alcázar, como Don Pablo, o sábio (e de caráter duvidoso) mentor do protagonista.

Com um conceito acessível e um roteiro bem construído, "Acapulco" mereceria mais atenção - como "Ted Lasso", a série conquista pelo seu humor e pelo retrato afetuoso da cultura mexicana sem nunca pesar na mão - ou melhor, trazendo aquele toque mexicano de dramaturgia, mas sem tanto exagero dramático. No geral, "Acapulco" é um entretenimento leve e envolvente, ideal para quem busca uma jornada reconfortante, repleta de bom humor e de personagens apaixonantes - a capacidade da série em equilibrar essa narrativa, tornando a história de Máximo uma experiência cativante e visualmente encantadora, é de se elogiar.

Para quem gosta de histórias de crescimento pessoal com uma dose generosa de nostalgia, o play é obrigatório - e se dormir, dormiu!

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Ad Astra

Aqui temos uma ficção científica raiz, ou seja, com muito mais drama do que alienígenas - e obviamente com aquele toque reflexivo sobre a existência humana pela perspectiva das relações familiares. Pois bem, dirigido por James Gray, "Ad Astra"é um filme mais contemplativo (e visualmente impressionante) que usa a vastidão do espaço como pano de fundo para explorar dilemas existenciais profundos - talvez por isso que a obra nos remeta aos grandes clássicos como "2001: Uma Odisseia no Espaço", mas com um certo ar de modernidade técnica e artística que encontramos em filmes mais recentes como "Gravidade" e "Interestelar". A grande verdade é que "Ad Astra" oferece uma jornada introspectiva das mais interessantes se encaramos a proposta de Gray e assim refletirmos sobre solidão e sobre o eterno conflito entre pai e filho. Indicado ao Oscar de Melhor Desenho de Som em 2020, "Ad Astra" se destaca especialmente pelo trabalho meticuloso de sua ambientação sonora, transportando a audiência diretamente para uma imensidão silenciosa e ao mesmo tempo perturbadora, do universo.

O filme, basicamente, acompanha Roy McBride (Brad Pitt), um astronauta experiente e conhecido pela serenidade quase sobre-humana durante missões mais arriscadas. Quando a Terra começa a sofrer os efeitos devastadores de uma série de pulsos energéticos misteriosos, Roy é convocado para investigar o caso - só que a missão rapidamente ganha contornos pessoais. Ele descobre que seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), lendário astronauta dado como desaparecido há mais de duas décadas em uma missão secreta nas profundezas do sistema solar, pode estar vivo – e diretamente ligado à ameaça que agora coloca em risco toda a humanidade. Ao embarcar nessa missão, Roy precisa confrontar segredos do seu passado com suas próprias escolhas. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que James Gray é um diretor conhecido por explorar com muita habilidade, dramas intensos sobre relações familiares e sobre a busca existencial - e aqui, mesmo se tratando de uma ficção científica, não é diferente. "Ad Astra" é, acima de tudo, uma jornada emocional profunda sobre isolamento e busca por significado. A direção de Gray então, opta por uma narrativa introspectiva, deixando espaço para reflexões mais silenciosas, amplificadas pela atuação sutil e poderosa de Brad Pitt, que carrega o filme com uma performance no tom certo, expressando um turbilhão de emoções através de pequenas gestos e com seu olhar - o Roy McBride de Pitt é uma versão de Ryan Stone (Sandra Bullock) em "Gravidade". É de se aplaudir a forma como o ator consegue transmitir uma fragilidade camuflada pela disciplina militar de seu personagem, especialmente evidente nas cenas mais silenciosas, onde ele trava batalhas internas devastadoras antes do potencial encontro com seu pai.

Do ponto de vista técnico, "Ad Astra" impressiona em diversos aspectos. O desenho de som, obviamente, merece destaque pela forma como captura a sensação de estar perdido no espaço, alternando o silêncio absoluto, inquietante e opressivo, com as explosões de ruído cuidadosamente controladas que marcam os momentos de tensão. A equipe de som liderada por Gary Rydstrom (ganhador de 7 Oscars) construiu uma experiência sensorial absurda em detalhes - cada mínimo ruído assume uma importância crucial na narrativa, desde o leve chiado das comunicações via rádio até o assustador impacto de uma explosão silenciosa em gravidade zero. Outro ponto forte é a direção de fotografia de Hoyte van Hoytema (de "Tenet") - ele cria um espetáculo visual deslumbrante, destacando-se em planos que transmitem a insignificância humana diante do espaço infinito. A iluminação bem pontuada, as sombras pronunciadas e o uso expressivo do contraste, especialmente entre os tons de azul e laranja, reforçam a sensação de introspecção e solidão, além de dar ao filme uma elegância visual ímpar.

Se há algo que pode afastar parte da audiência, no entanto, é o seu ritmo mais cadenciado e naturalmente mais reflexivo. Diferente de filmes mais comerciais, "Ad Astra" é menos focado na ação e mais nas implicações psicológicas e filosóficas de sua trama. é essa abordagem contemplativa, embora desafiadora para a audiência, que torna o filme mais memorável - especialmente ao abandonar a necessidade de explicar todos os elementos científicos para privilegiar as questões humanas fundamentais.

Uma experiência profundamente emocional e existencialista, em resumo, "Ad Astra" é uma obra corajosa e sofisticada por isso, que eleva o gênero da ficção científica ao utilizar o espaço como metáfora para explorar o incômodo do "vazio" em sua essência. Vale muito o seu play!

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Aqui temos uma ficção científica raiz, ou seja, com muito mais drama do que alienígenas - e obviamente com aquele toque reflexivo sobre a existência humana pela perspectiva das relações familiares. Pois bem, dirigido por James Gray, "Ad Astra"é um filme mais contemplativo (e visualmente impressionante) que usa a vastidão do espaço como pano de fundo para explorar dilemas existenciais profundos - talvez por isso que a obra nos remeta aos grandes clássicos como "2001: Uma Odisseia no Espaço", mas com um certo ar de modernidade técnica e artística que encontramos em filmes mais recentes como "Gravidade" e "Interestelar". A grande verdade é que "Ad Astra" oferece uma jornada introspectiva das mais interessantes se encaramos a proposta de Gray e assim refletirmos sobre solidão e sobre o eterno conflito entre pai e filho. Indicado ao Oscar de Melhor Desenho de Som em 2020, "Ad Astra" se destaca especialmente pelo trabalho meticuloso de sua ambientação sonora, transportando a audiência diretamente para uma imensidão silenciosa e ao mesmo tempo perturbadora, do universo.

O filme, basicamente, acompanha Roy McBride (Brad Pitt), um astronauta experiente e conhecido pela serenidade quase sobre-humana durante missões mais arriscadas. Quando a Terra começa a sofrer os efeitos devastadores de uma série de pulsos energéticos misteriosos, Roy é convocado para investigar o caso - só que a missão rapidamente ganha contornos pessoais. Ele descobre que seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), lendário astronauta dado como desaparecido há mais de duas décadas em uma missão secreta nas profundezas do sistema solar, pode estar vivo – e diretamente ligado à ameaça que agora coloca em risco toda a humanidade. Ao embarcar nessa missão, Roy precisa confrontar segredos do seu passado com suas próprias escolhas. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que James Gray é um diretor conhecido por explorar com muita habilidade, dramas intensos sobre relações familiares e sobre a busca existencial - e aqui, mesmo se tratando de uma ficção científica, não é diferente. "Ad Astra" é, acima de tudo, uma jornada emocional profunda sobre isolamento e busca por significado. A direção de Gray então, opta por uma narrativa introspectiva, deixando espaço para reflexões mais silenciosas, amplificadas pela atuação sutil e poderosa de Brad Pitt, que carrega o filme com uma performance no tom certo, expressando um turbilhão de emoções através de pequenas gestos e com seu olhar - o Roy McBride de Pitt é uma versão de Ryan Stone (Sandra Bullock) em "Gravidade". É de se aplaudir a forma como o ator consegue transmitir uma fragilidade camuflada pela disciplina militar de seu personagem, especialmente evidente nas cenas mais silenciosas, onde ele trava batalhas internas devastadoras antes do potencial encontro com seu pai.

Do ponto de vista técnico, "Ad Astra" impressiona em diversos aspectos. O desenho de som, obviamente, merece destaque pela forma como captura a sensação de estar perdido no espaço, alternando o silêncio absoluto, inquietante e opressivo, com as explosões de ruído cuidadosamente controladas que marcam os momentos de tensão. A equipe de som liderada por Gary Rydstrom (ganhador de 7 Oscars) construiu uma experiência sensorial absurda em detalhes - cada mínimo ruído assume uma importância crucial na narrativa, desde o leve chiado das comunicações via rádio até o assustador impacto de uma explosão silenciosa em gravidade zero. Outro ponto forte é a direção de fotografia de Hoyte van Hoytema (de "Tenet") - ele cria um espetáculo visual deslumbrante, destacando-se em planos que transmitem a insignificância humana diante do espaço infinito. A iluminação bem pontuada, as sombras pronunciadas e o uso expressivo do contraste, especialmente entre os tons de azul e laranja, reforçam a sensação de introspecção e solidão, além de dar ao filme uma elegância visual ímpar.

Se há algo que pode afastar parte da audiência, no entanto, é o seu ritmo mais cadenciado e naturalmente mais reflexivo. Diferente de filmes mais comerciais, "Ad Astra" é menos focado na ação e mais nas implicações psicológicas e filosóficas de sua trama. é essa abordagem contemplativa, embora desafiadora para a audiência, que torna o filme mais memorável - especialmente ao abandonar a necessidade de explicar todos os elementos científicos para privilegiar as questões humanas fundamentais.

Uma experiência profundamente emocional e existencialista, em resumo, "Ad Astra" é uma obra corajosa e sofisticada por isso, que eleva o gênero da ficção científica ao utilizar o espaço como metáfora para explorar o incômodo do "vazio" em sua essência. Vale muito o seu play!

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Adolescência

Um soco no estômago! "Adolescência" é realmente impactante, mas é preciso alinhar as expectativas: essa surpreendente minissérie da Netflix não é sobre um crime brutal e sim sobre os reflexos em quem, de alguma forma, está (ou esteve) envolvido com o caso. O fato é que "Adolescence" (no original) é uma daquelas produções que chegam discretamente e acabam surpreendendo pela profundidade de sua história e pela abordagem conceitual ousada de seu diretor. Criada por Jack Thorne (de "Extraordinário") e Stephen Graham (de "O Chef"), a minissérie de apenas quatro capítulos, aborda, com sensibilidade e um olhar crítico impressionante, temas complexos tão absurdamente comuns na juventude moderna que vão de conflitos familiares até as influências negativas das redes sociais, explorando os desafios da adolescência de forma incisiva e bastante visceral.

A trama acompanha o jovem Jamie Miller (Owen Cooper), um adolescente de 13 anos que se vê no centro de um crime chocante. A minissérie investiga as consequências deste evento, mostrando como diferentes personagens reagem diante das adversidades e pressões sociais. O roteiro evita os clichês típicos desse tipo de narrativa com muita habilidade, dedicando-se, ao invés disso, a um cuidadoso estudo das relações interpessoais e das dificuldades enfrentadas pelos adolescentes na atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Para começar, como não citar um dos grandes destaques de "Adolescência": a direção habilidosa de Philip Barantini. Ele comanda todos os quatro episódios utilizando uma técnica incrível de plano-sequência, exatamente como fez com seu "O Chef"! Repare como essa dinâmica narrativa cria uma sensação constante de tensão e realismo, ampliando a nossa imersão na história ao mesmo tempo que reforça o caráter claustrofóbico e urgente das situações enfrentadas pelos personagens. Mesmo com o desafio de contar cada episódio em tempo real e em ambientes restritos, Barantini consegue manter o ritmo fluido e cativante, deixando a audiência mais do que engajada, eu diria, grudada na tela! Obviamente que o roteiro favorece essa escolha conceitual, já que ele não hesita em tocar em temas difíceis como as particularidades das dinâmicas escolares, abordando questões bem sensíveis como bullying, como a masculinidade tóxica, a misoginia e o perigoso impacto das redes sociais e das subculturas digitais (incels, manosfera e figuras nocivas como Andrew Tate são citadas claramente no roteiro). Veja, se a minissérie propõe reflexões importantes sobre responsabilidade familiar e social, questionando como a sociedade moderna pode estar contribuindo para o aumento da violência juvenil, saiba que no intimo de cada personagem o que encontramos mesmo é só a dor - cada um com a sua e em intensidades diferentes, inclusive.

Outro ponto forte de "Adolescência", sem dúvida, são as atuações. Destaque especial para Stephen Graham, que entrega uma performance intensa e emocionalmente carregada como o pai de Jamie. Owen Cooper também impressiona em sua interpretação complexa e cheia de detalhes, retratando a insegurança e a confusão natural, típicas da adolescência, com muita autenticidade. Erin Doherty, mais uma vez, merece menção pela sutileza e força que traz à sua personagem no terceiro episódio, contribuindo para que a narrativa atinja um nível emocional realmente muito profundo. Aliás, a escolha do roteiro em pontuar a história em quatro tempos distintos, cada qual em seu episódio, focando sempre em um personagem distinto, é genial ao ponto da minissérie fazer difíceis análises sociais sem nunca forçar a barra, ao contrário, tudo é conduzido com uma delicadeza dramática única, reforçando o compromisso da produção em expor temas relevantes sem superficialidade.

Embora alguns momentos possam parecer ligeiramente expositivos demais devido à necessidade de contextualização rápida exigida pelo formato em tempo real, esses pequenos deslizes são facilmente superados pelo impacto emocional e pelo rigor artístico da obra. Cada episódio adiciona uma camada significativa à narrativa mais ampla, culminando em uma experiência que permanece com a gente muito além do fim da história - a decisão de encerrar com uma reflexão familiar profunda em vez de um julgamento dramático, por exemplo, oferece uma conclusão emocionalmente muito mais rica e madura, reafirmando o foco de "Adolescência" nas questões sociais e familiares subjacentes, e não no entretenimento fácil onde o fim nem sempre justificam os meios.

Vale demais o play, especialmente se você já tiver uma criança em casa!

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Um soco no estômago! "Adolescência" é realmente impactante, mas é preciso alinhar as expectativas: essa surpreendente minissérie da Netflix não é sobre um crime brutal e sim sobre os reflexos em quem, de alguma forma, está (ou esteve) envolvido com o caso. O fato é que "Adolescence" (no original) é uma daquelas produções que chegam discretamente e acabam surpreendendo pela profundidade de sua história e pela abordagem conceitual ousada de seu diretor. Criada por Jack Thorne (de "Extraordinário") e Stephen Graham (de "O Chef"), a minissérie de apenas quatro capítulos, aborda, com sensibilidade e um olhar crítico impressionante, temas complexos tão absurdamente comuns na juventude moderna que vão de conflitos familiares até as influências negativas das redes sociais, explorando os desafios da adolescência de forma incisiva e bastante visceral.

A trama acompanha o jovem Jamie Miller (Owen Cooper), um adolescente de 13 anos que se vê no centro de um crime chocante. A minissérie investiga as consequências deste evento, mostrando como diferentes personagens reagem diante das adversidades e pressões sociais. O roteiro evita os clichês típicos desse tipo de narrativa com muita habilidade, dedicando-se, ao invés disso, a um cuidadoso estudo das relações interpessoais e das dificuldades enfrentadas pelos adolescentes na atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Para começar, como não citar um dos grandes destaques de "Adolescência": a direção habilidosa de Philip Barantini. Ele comanda todos os quatro episódios utilizando uma técnica incrível de plano-sequência, exatamente como fez com seu "O Chef"! Repare como essa dinâmica narrativa cria uma sensação constante de tensão e realismo, ampliando a nossa imersão na história ao mesmo tempo que reforça o caráter claustrofóbico e urgente das situações enfrentadas pelos personagens. Mesmo com o desafio de contar cada episódio em tempo real e em ambientes restritos, Barantini consegue manter o ritmo fluido e cativante, deixando a audiência mais do que engajada, eu diria, grudada na tela! Obviamente que o roteiro favorece essa escolha conceitual, já que ele não hesita em tocar em temas difíceis como as particularidades das dinâmicas escolares, abordando questões bem sensíveis como bullying, como a masculinidade tóxica, a misoginia e o perigoso impacto das redes sociais e das subculturas digitais (incels, manosfera e figuras nocivas como Andrew Tate são citadas claramente no roteiro). Veja, se a minissérie propõe reflexões importantes sobre responsabilidade familiar e social, questionando como a sociedade moderna pode estar contribuindo para o aumento da violência juvenil, saiba que no intimo de cada personagem o que encontramos mesmo é só a dor - cada um com a sua e em intensidades diferentes, inclusive.

Outro ponto forte de "Adolescência", sem dúvida, são as atuações. Destaque especial para Stephen Graham, que entrega uma performance intensa e emocionalmente carregada como o pai de Jamie. Owen Cooper também impressiona em sua interpretação complexa e cheia de detalhes, retratando a insegurança e a confusão natural, típicas da adolescência, com muita autenticidade. Erin Doherty, mais uma vez, merece menção pela sutileza e força que traz à sua personagem no terceiro episódio, contribuindo para que a narrativa atinja um nível emocional realmente muito profundo. Aliás, a escolha do roteiro em pontuar a história em quatro tempos distintos, cada qual em seu episódio, focando sempre em um personagem distinto, é genial ao ponto da minissérie fazer difíceis análises sociais sem nunca forçar a barra, ao contrário, tudo é conduzido com uma delicadeza dramática única, reforçando o compromisso da produção em expor temas relevantes sem superficialidade.

Embora alguns momentos possam parecer ligeiramente expositivos demais devido à necessidade de contextualização rápida exigida pelo formato em tempo real, esses pequenos deslizes são facilmente superados pelo impacto emocional e pelo rigor artístico da obra. Cada episódio adiciona uma camada significativa à narrativa mais ampla, culminando em uma experiência que permanece com a gente muito além do fim da história - a decisão de encerrar com uma reflexão familiar profunda em vez de um julgamento dramático, por exemplo, oferece uma conclusão emocionalmente muito mais rica e madura, reafirmando o foco de "Adolescência" nas questões sociais e familiares subjacentes, e não no entretenimento fácil onde o fim nem sempre justificam os meios.

Vale demais o play, especialmente se você já tiver uma criança em casa!

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Adoráveis Mulheres

"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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After Life

Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.

"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:

Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.

A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.

"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.

Olha, vale muito o seu play!

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Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.

"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:

Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.

A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.

"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.

Olha, vale muito o seu play!

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