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Athena

"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.

Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):

É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.

De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.

Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.

Vale seu play!

Assista Agora

"Athena" chama muito mais atenção por sua experiência visual do que propriamente por um roteiro impecável - e isso não é um grande problema se lembrarmos de "1917", que segue justamente esse mesmo conceito (dadas as devidas proporções técnicas e de orçamento). Aqui, é possível perceber que o filme do francês Romain Gavras usa de elementos dramáticos extremamente atuais, muitos deles referenciados no grande sucesso "Os Miseráveis", de 2019, para entregar uma dinâmica focada no caos, muito mais próxima do mexicano "Nuevo Orden", inclusive.

Em um Conjunto Habitacional conhecido como Athena, um crime brutal abala toda a comunidade. A trágica história se passa na vida de três jovens, que têm os seus destinos completamente transformados quando o irmão mais novo é morto sob circunstâncias inexplicáveis. Os irmãos de origem argelina e indignados com o assassinato, dão início a uma cruzada em busca de respostas e de justiça, cada um da sua maneira. Porém os embates violentos em Athena colocam eles no centro de um conflito, obrigando-os a ressignificar o luto e a dor em uma revolta organizada de enormes proporções. Confira o trailer (em inglês):

É de se admirar a escolha de Gavras em acompanhar seus personagens principais a partir de longos e eficientes planos sequência - o do prólogo, por exemplo, é de uma qualidade técnica e artística de fazer inveja a muito diretor experiente. No entanto a pirotecnia visual acaba se sobressaindo perante um roteiro que beira a superficialidade, mesmo quando traz para discussão assuntos relevantes como a realidade multicultural na França e a intolerância que essa condição provoca. Dos três irmãos (e protagonistas), Abdel (Dali Benssalah) e Karim (Sami Slimane) possuem arcos até que interessantes (e corajosos); já o terceiro, que segue Moktar (Ouassini Embarek), eu diria que é completamente dispensável.

De fato, a impressão que dá é que "Athena" poderia ser uma minissérie de 4 episódios tranquilamente - com os três primeiros contando a história do ponto de vista de cada um dos irmãos e o quarto seguindo o policial Jérôme (Anthony Bajon). Dito isso, Gavras se apoia no roteiro (que contou com a ilustre colaboração de Ladj Ly de "Os Miseráveis") para priorizar muito mais o "movimento" do que a "profundidade" - isso impacta na nossa percepção do caos, do barril de pólvora que já explodiu, criando uma sensação de desconforto impressionante, mas acaba prejudicando aqueles que buscam um pouco mais de camadas para nos conectarmos emocionalmente com os personagens. A impressão é que são tantas histórias para contar que o filme acaba não contando nenhuma delas tão bem.

Ainda que "Athena" seja um filme de muita (muita mesmo) qualidade, extremamente bem filmado e com várias sequências inacreditáveis de tão boas; as emoções e a indignação que a morte de um jovem naquelas condições provocaria, não florescem. Isso deixa muito claro que aqui, o drama deu lugar para a ação da mesma forma que a reflexão sucumbiu ao entretenimento. Funciona? Sim, funciona muito bem, mas como recomendação sugiro que antes de "Athena" você assista "Os Miseráveis" para que todo esse contexto social e cultural faça ainda mais sentido na narrativa como um todo.

Vale seu play!

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Atlanta

"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.

A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do  hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:

É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.

Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.

O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos  "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!

Independente disso, experimente o play!

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"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.

A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do  hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:

É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.

Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.

O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos  "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!

Independente disso, experimente o play!

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Atlantique

Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!   

Assista Agora ou

Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!   

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Atypical

"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:

O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!

Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.

 "Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!

Vale muito a pena!

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"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:

O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!

Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.

 "Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!

Vale muito a pena!

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Augustine

Augustine

"Augustine" é um filme denso na sua forma e no seu conteúdo. No seu "conteúdo" por se tratar de um assunto extremamente delicado e que levanta muitas questões, inclusive éticas, até hoje: a histeria. Já olhando pelo prisma da "forma", a então diretora estreante Alice Winocour (que depois veio dirigir o ótimo "A Jornada") impõe um conceito visual cheio de metáforas, usando e abusando das sombras e de um mood completamente opressor, depressivo - o que diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente naquele universo empírico do século XIX.

Inverno de 1885, Paris. O professor e brilhante neurologista francês Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa que passou a ser conhecida como histeria. A jovem Augustine (Soko), de 19 anos, torna-se uma espécie de "material de estudos" e para comprovar suas teses, o professor passa usar a paciente para angariar recursos de pesquisa através de demonstrações por hipnose. Aos poucos, no entanto, Augustine passa de objeto de estudo para objeto do desejo de Charcot. Confira o trailer:

Antes de mais nada, vale ressaltar o contexto em que a trama está inserida: durante o século XIX a palavra “histeria” praticamente definia todas as atitudes (femininas) que, aparentemente, o bom sendo não podia explicar. Carregada de mística (e o sinal da cruz que uma senhora faz quando Augustine tem seu primeiro surto, ainda no prólogo, diz muito sobre o assunto), a complexidade dessa neurose sempre foi um dos maiores mistérios científicos da época e responsável por levar inúmeras mulheres a serem acusadas de bruxaria na Idade Média. Para o médico Jean-Martin Charcot essas atitudes eram um desafio - foi ele que iniciou os estudos sobre a doença, que iriam ser futuramente aprimorados por seu mais famoso aluno: Sigmund Freud, culminando no desenvolvimento da psicanálise - histeria, aliás, vem do grego “histeros”, que significa "útero"

Em "Augustine" temos um recorte real bastante interessante sobre esse processo iniciado por Charcot - embora impactante visualmente, a busca pelo desconhecido fazia parte daquela sociedade. Olhando em retrospectiva, e aí está o grande mérito de Winocour, a história da protagonista não tem nada de romance (distanciando essa produção francesa de outros títulos que seguem a mesma linha como "Um Método Perigoso", dirigido por David Cronenberg e lançado em 2011). Aqui a realidade é mais crua, a relação médico/paciente é mais visceral e a tensão sexual que vai se criando conforme a história vai progredindo está no detalhe, nas pausas, nos olhares e no receio brilhantemente criado pelos atores, deixando uma expectativa que beira a confusão entre convicção e desejo - Lindon e Soko dão uma aula!

Partindo do princípio que a histeria é um distúrbio mental específico que apresenta sintomas físicos reais, que na maioria das vezes parecem exagerados e fingidos, mas que não são; o roteiro da própria Winocour sabe usar dessa dualidade perceptiva para construir um elo entre os protagonistas - a submissão regida pelo conhecimento até uma quase dependência, também potencializa essa aproximação de Charcot e Augustine e ajuda a estabelecer o ápice da narrativa. Dito isso, é de se considerar que o filme sabe onde provocar reflexões e mesmo com uma levada mais cadenciada, nos posiciona perfeitamente perante uma realidade que deixou marcas, tanto para o bem quanto para o mal. Então se você gosta de um estudo menos superficial sobre a condição humana, pode dar o play que a "reflexão" está garantida!

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"Augustine" é um filme denso na sua forma e no seu conteúdo. No seu "conteúdo" por se tratar de um assunto extremamente delicado e que levanta muitas questões, inclusive éticas, até hoje: a histeria. Já olhando pelo prisma da "forma", a então diretora estreante Alice Winocour (que depois veio dirigir o ótimo "A Jornada") impõe um conceito visual cheio de metáforas, usando e abusando das sombras e de um mood completamente opressor, depressivo - o que diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente naquele universo empírico do século XIX.

Inverno de 1885, Paris. O professor e brilhante neurologista francês Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa que passou a ser conhecida como histeria. A jovem Augustine (Soko), de 19 anos, torna-se uma espécie de "material de estudos" e para comprovar suas teses, o professor passa usar a paciente para angariar recursos de pesquisa através de demonstrações por hipnose. Aos poucos, no entanto, Augustine passa de objeto de estudo para objeto do desejo de Charcot. Confira o trailer:

Antes de mais nada, vale ressaltar o contexto em que a trama está inserida: durante o século XIX a palavra “histeria” praticamente definia todas as atitudes (femininas) que, aparentemente, o bom sendo não podia explicar. Carregada de mística (e o sinal da cruz que uma senhora faz quando Augustine tem seu primeiro surto, ainda no prólogo, diz muito sobre o assunto), a complexidade dessa neurose sempre foi um dos maiores mistérios científicos da época e responsável por levar inúmeras mulheres a serem acusadas de bruxaria na Idade Média. Para o médico Jean-Martin Charcot essas atitudes eram um desafio - foi ele que iniciou os estudos sobre a doença, que iriam ser futuramente aprimorados por seu mais famoso aluno: Sigmund Freud, culminando no desenvolvimento da psicanálise - histeria, aliás, vem do grego “histeros”, que significa "útero"

Em "Augustine" temos um recorte real bastante interessante sobre esse processo iniciado por Charcot - embora impactante visualmente, a busca pelo desconhecido fazia parte daquela sociedade. Olhando em retrospectiva, e aí está o grande mérito de Winocour, a história da protagonista não tem nada de romance (distanciando essa produção francesa de outros títulos que seguem a mesma linha como "Um Método Perigoso", dirigido por David Cronenberg e lançado em 2011). Aqui a realidade é mais crua, a relação médico/paciente é mais visceral e a tensão sexual que vai se criando conforme a história vai progredindo está no detalhe, nas pausas, nos olhares e no receio brilhantemente criado pelos atores, deixando uma expectativa que beira a confusão entre convicção e desejo - Lindon e Soko dão uma aula!

Partindo do princípio que a histeria é um distúrbio mental específico que apresenta sintomas físicos reais, que na maioria das vezes parecem exagerados e fingidos, mas que não são; o roteiro da própria Winocour sabe usar dessa dualidade perceptiva para construir um elo entre os protagonistas - a submissão regida pelo conhecimento até uma quase dependência, também potencializa essa aproximação de Charcot e Augustine e ajuda a estabelecer o ápice da narrativa. Dito isso, é de se considerar que o filme sabe onde provocar reflexões e mesmo com uma levada mais cadenciada, nos posiciona perfeitamente perante uma realidade que deixou marcas, tanto para o bem quanto para o mal. Então se você gosta de um estudo menos superficial sobre a condição humana, pode dar o play que a "reflexão" está garantida!

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Azul é a cor mais quente

"La vie d'Adèle" (que internacionalmente recebeu o terrível título de "Azul é a cor mais quente") é excelente, embora seja, notavelmente, pesado!

Baseado em uma graphic novel francesa da autora Julie Maroh que a escreveu quando tinha 19 anos e levou cinco anos para terminar, o filme é uma bela história de amor, amadurecimento e se concentra nos primeiros anos da relação entre Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma estudante que está descobrindo o sexo, e a pintora Emma (Léa Seydoux), poucos anos mais velha - sim, o filme, como o próprio nome original adianta, é sobre a vida de Adèle e nada mais, mas não se engane: o roteiro é cheio de camadas e tem uma profundidade impressionante! Confira o trailer:

O filme foi o vencedor da "Palme d'Or" em Cannes (2013) na categoria "Melhor Direção" e, pela primeira vez na história do Festival, o prêmio de "Melhor Atriz" foi dividido entre as duas protagonistas. De fato "Azul é a Cor Mais Quente" é muito bem dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche - ele usa e abusa dos planos fechados e foi capaz de tirar uma naturalidade impressionante com esse tipo de lente mais introspectiva, mesmo que as vezes possa nos chocar pela proximidade exagerada.

As duas atrizes também estão simplesmente perfeitas, mas o trabalho de Adèle Exarchopoulos me chamou mais atenção - o papel dela é dificílimo e ela, além de corajosa, foi capaz de construir uma personagem com alma, intensa e delicada ao mesmo tempo. 

Olha, para quem gosta de filmes de relações, intenso, cheio de camadas, esse filme é simplesmente imperdível, mas saiba que não se trata de uma história fácil, seu conceito narrativo é denso e o roteiro não alivia. Vale muito a pena - esse é um dos melhores filmes de 2013 com a mais absoluta certeza e só não foi mais longe em algumas premiações pela ousadia, para muitos exagerada, de algumas cenas.

PS: O filme levou mais de 80 prêmios enquanto fazia carreira por vários festivais do mundo em que foi selecionado!

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"La vie d'Adèle" (que internacionalmente recebeu o terrível título de "Azul é a cor mais quente") é excelente, embora seja, notavelmente, pesado!

Baseado em uma graphic novel francesa da autora Julie Maroh que a escreveu quando tinha 19 anos e levou cinco anos para terminar, o filme é uma bela história de amor, amadurecimento e se concentra nos primeiros anos da relação entre Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma estudante que está descobrindo o sexo, e a pintora Emma (Léa Seydoux), poucos anos mais velha - sim, o filme, como o próprio nome original adianta, é sobre a vida de Adèle e nada mais, mas não se engane: o roteiro é cheio de camadas e tem uma profundidade impressionante! Confira o trailer:

O filme foi o vencedor da "Palme d'Or" em Cannes (2013) na categoria "Melhor Direção" e, pela primeira vez na história do Festival, o prêmio de "Melhor Atriz" foi dividido entre as duas protagonistas. De fato "Azul é a Cor Mais Quente" é muito bem dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche - ele usa e abusa dos planos fechados e foi capaz de tirar uma naturalidade impressionante com esse tipo de lente mais introspectiva, mesmo que as vezes possa nos chocar pela proximidade exagerada.

As duas atrizes também estão simplesmente perfeitas, mas o trabalho de Adèle Exarchopoulos me chamou mais atenção - o papel dela é dificílimo e ela, além de corajosa, foi capaz de construir uma personagem com alma, intensa e delicada ao mesmo tempo. 

Olha, para quem gosta de filmes de relações, intenso, cheio de camadas, esse filme é simplesmente imperdível, mas saiba que não se trata de uma história fácil, seu conceito narrativo é denso e o roteiro não alivia. Vale muito a pena - esse é um dos melhores filmes de 2013 com a mais absoluta certeza e só não foi mais longe em algumas premiações pela ousadia, para muitos exagerada, de algumas cenas.

PS: O filme levou mais de 80 prêmios enquanto fazia carreira por vários festivais do mundo em que foi selecionado!

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Bacurau

Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!

No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.

Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:

Não é  por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!

Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.

"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.

Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!

No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.

Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:

Não é  por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!

Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.

"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.

Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Bar Doce Lar

"Bar Doce Lar" (ou de "The Tender Bar" no original) é o belíssimo novo filme dirigido por George Clooney que trata, com muita sensibilidade, as marcas que a ausência de um pai pode deixar no seu filho - mesmo que esse espaço seja preenchido com muito amor, atenção e dedicação pela mãe e por outra referência masculina. Para quem gosta de filmes sobre relações familiares, reflexivos e nada superficiais, "Bar Doce Lar" é um convite para quase 120 minutos de uma história interessante, cheia de camadas, mas principalmente, contada com honestidade e sem romantismo.

Baseado no livro de memórias de sucesso deJ. R. Moehringer, "Bar Doce Lar" segue um aspirante a escritor (Tye Sheridan) na busca pelos seus sonhos profissionais enquanto precisa lidar com sua insegurança perante uma vida que insiste em dificultar as coisas para ele. A partir de uma relação carinhosa (e de muito significado) com seu tio Charlie (Ben Affleck), J.R. se conecta com um mundo novo, cheio de possibilidades, de personagens e de histórias, onde ele aprende o real significado do amadurecimento e entende que para crescer será preciso enfrentar as angustias e as decepções sob uma outra perspectiva. Confira o trailer em inglês:

Talvez "Bar Doce Lar" não seja tão impactante quanto "Era uma vez um sonho" ou "O Castelo de Vidro", mas os elementos narrativos que guiam esses dois outros filmes imperdíveis, são basicamente os mesmos aqui. Isso traz uma certa sensação de falta de originalidade, mas ao mesmo tempo nos coloca diante de outra história que tende a nos provocar um olhar para dentro e discutir um assunto tão sensível como as dores que a ausência pode nos causar.

Clooney, em seu oitavo trabalho na direção, foi muito feliz em trabalhar as dualidades da história de uma forma quase imperceptível, mas completamente analítica do ponto de vista psicológico do protagonista. Vamos citar alguns signos para que você se atente e reflita durante o filme: quando criança J.R. se relaciona com o pai ausente apenas pelo rádio, chegando a nomina-lo como "A Voz", ao mesmo tempo, ele tem enorme dificuldade de se expressar pela fala, se apoiando na escrita para construir sua relação com o mundo. Sua mãe (Lily Rabe) sofre por ter que voltar a viver com os pais, mas J.R. não vê a menor dificuldade em chamar aquele ambiente caótico (pelo número de pessoas que moram ali) de lar. A história discute a ausência, enquanto J.R. insiste em dizer que gosta de estar com pessoas. Enquanto estuda em YALE onde adquire conhecimento acadêmico, o protagonista percebe que é no Bar do Tio, o "The Dickens", que ele realmente aprende a enfrentar as dificuldades da vida, e por aí vai...

O roteiro de William Monahan (vencedor do Oscar em 2006 com "Os Infiltrados") teve a difícil tarefa de adaptar uma longa biografia, mas foi cirúrgico em focar no processo de reencontro do protagonista com sua história de vida, mesmo que para isso tivesse que enfrentar seu maior fantasma: a já citada "ausência". Essa escolha conceitual, de fato, deixa o filme lento, bastante cadenciado, pontuando algumas passagens de forma até superficial para priorizar como isso refletiu no desafio interno de J. R. Moehringer e assim entender como essas situações serviram de combustível para ele encontrar seu caminho.

Veja, "Bar Doce Lar" não é um entretenimento usual, mas também não é um filme difícil ou denso demais como o assunto parece sugerir. Existe um tom de leveza, até por uma identificação imediata com o protagonista, nos dois períodos de sua vida (interpretados por Daniel Ranieri e depois por Tye Sheridan), e sua simpática relação com o tio Charlie de Affleck - mostrando mais uma vez que quando está com vontade, ele realmente é um ótimo ator (e que pode surpreender com uma indicação ao Oscar). Essas performances trazem para história uma certa atmosfera de nostalgia e isso nos ajuda a embarcar nas descobertas de J.R., transformando uma história de vida como muitas que conhecemos em uma jornada sensível, emocionante e muito honesta.

Vale seu play!

Assista Agora

"Bar Doce Lar" (ou de "The Tender Bar" no original) é o belíssimo novo filme dirigido por George Clooney que trata, com muita sensibilidade, as marcas que a ausência de um pai pode deixar no seu filho - mesmo que esse espaço seja preenchido com muito amor, atenção e dedicação pela mãe e por outra referência masculina. Para quem gosta de filmes sobre relações familiares, reflexivos e nada superficiais, "Bar Doce Lar" é um convite para quase 120 minutos de uma história interessante, cheia de camadas, mas principalmente, contada com honestidade e sem romantismo.

Baseado no livro de memórias de sucesso deJ. R. Moehringer, "Bar Doce Lar" segue um aspirante a escritor (Tye Sheridan) na busca pelos seus sonhos profissionais enquanto precisa lidar com sua insegurança perante uma vida que insiste em dificultar as coisas para ele. A partir de uma relação carinhosa (e de muito significado) com seu tio Charlie (Ben Affleck), J.R. se conecta com um mundo novo, cheio de possibilidades, de personagens e de histórias, onde ele aprende o real significado do amadurecimento e entende que para crescer será preciso enfrentar as angustias e as decepções sob uma outra perspectiva. Confira o trailer em inglês:

Talvez "Bar Doce Lar" não seja tão impactante quanto "Era uma vez um sonho" ou "O Castelo de Vidro", mas os elementos narrativos que guiam esses dois outros filmes imperdíveis, são basicamente os mesmos aqui. Isso traz uma certa sensação de falta de originalidade, mas ao mesmo tempo nos coloca diante de outra história que tende a nos provocar um olhar para dentro e discutir um assunto tão sensível como as dores que a ausência pode nos causar.

Clooney, em seu oitavo trabalho na direção, foi muito feliz em trabalhar as dualidades da história de uma forma quase imperceptível, mas completamente analítica do ponto de vista psicológico do protagonista. Vamos citar alguns signos para que você se atente e reflita durante o filme: quando criança J.R. se relaciona com o pai ausente apenas pelo rádio, chegando a nomina-lo como "A Voz", ao mesmo tempo, ele tem enorme dificuldade de se expressar pela fala, se apoiando na escrita para construir sua relação com o mundo. Sua mãe (Lily Rabe) sofre por ter que voltar a viver com os pais, mas J.R. não vê a menor dificuldade em chamar aquele ambiente caótico (pelo número de pessoas que moram ali) de lar. A história discute a ausência, enquanto J.R. insiste em dizer que gosta de estar com pessoas. Enquanto estuda em YALE onde adquire conhecimento acadêmico, o protagonista percebe que é no Bar do Tio, o "The Dickens", que ele realmente aprende a enfrentar as dificuldades da vida, e por aí vai...

O roteiro de William Monahan (vencedor do Oscar em 2006 com "Os Infiltrados") teve a difícil tarefa de adaptar uma longa biografia, mas foi cirúrgico em focar no processo de reencontro do protagonista com sua história de vida, mesmo que para isso tivesse que enfrentar seu maior fantasma: a já citada "ausência". Essa escolha conceitual, de fato, deixa o filme lento, bastante cadenciado, pontuando algumas passagens de forma até superficial para priorizar como isso refletiu no desafio interno de J. R. Moehringer e assim entender como essas situações serviram de combustível para ele encontrar seu caminho.

Veja, "Bar Doce Lar" não é um entretenimento usual, mas também não é um filme difícil ou denso demais como o assunto parece sugerir. Existe um tom de leveza, até por uma identificação imediata com o protagonista, nos dois períodos de sua vida (interpretados por Daniel Ranieri e depois por Tye Sheridan), e sua simpática relação com o tio Charlie de Affleck - mostrando mais uma vez que quando está com vontade, ele realmente é um ótimo ator (e que pode surpreender com uma indicação ao Oscar). Essas performances trazem para história uma certa atmosfera de nostalgia e isso nos ajuda a embarcar nas descobertas de J.R., transformando uma história de vida como muitas que conhecemos em uma jornada sensível, emocionante e muito honesta.

Vale seu play!

Assista Agora

Barry

"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

Assista Agora

"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

Assista Agora

Batalha Bilionária

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.

Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há 25 anos atrás. Confira o trailer:

Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss. 

Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.

As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!

Assista Agora

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" é um verdadeiro estudo de caso para empreendedores e suas startups - são tantas lições inseridas em um ótimo roteiro que fica até difícil classificar a minissérie de 4 episódios da Netflix em "apenas" um excelente entretenimento - embora o seja! A título de referência, ele segue bem a linha de "A Rede Social", filme de 2010, dirigido por David Fincher.

Baseada em fatos reais, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" conta a história de dois jovens empreendedores, Juri Müller (Marius Ahrendt/Misel Maticevic) e Carsten Schlüter (Leonard Scheicher/Mark Waschke), criadores da startup "ART + COM", com sede em Berlim, que foram buscar na justiça seus direitos para serem reconhecidos como os verdadeiros inventores do algoritmo que deu origem ao Google Earth após uma violação de patente há 25 anos atrás. Confira o trailer:

Criada por Oliver Ziegenbalg e Robert Thalheim, essa produção alemã fez uma escolha muito interessante ao priorizar o lado mais fraco da disputa. Se em "A Rede Social" a trama trouxe a perspectiva do vencedor, no caso Mark Zuckerberg, em "Batalha Bilionária" é como se o foco fosse os irmãos Winklevoss. 

Veja, embora o roteiro tenha sido muito feliz ao trazer para a tela muitos diálogos fiéis aos testemunhos judiciais, os protagonistas em si, Juri Müller e Carsten Schlüter, são apenas personagens fictícios - na verdade eles servem como representação dos quatro desenvolvedores alemães reais que criaram o "TerraVision" (base do Google Earth). Outro personagem importante, Brian Anderson (Lukas Loughran), a pessoa que supostamente copiou o algoritmo dos alemães antes de se tornar funcionário Google, também só existe na ficção, mesmo sendo fielmente baseado em uma pessoa real. O fato é que essas escolhas tinham tudo para desqualificar a sensação de veracidade da minissérie, mas o diretor Robert Thalheim conseguiu justamente o contrário - brilhantemente, ele criou uma dinâmica narrativa que absorve o lado humano da jornada, gerando uma identificação imediata com os protagonistas e uma relação de empatia muito profunda para depois, pouco a pouco, ir inserindo as discussões técnicas em si.

As sacadas do roteiro são ótimas - mas aqueles que estão mais envolvidos com empreendedorismo certamente vão aproveitar melhor dessa particularidade. Da idéia, passando pelo sonho, a luta por investimento, inúmeras apresentações, o medo do fracasso, a busca por mais investimentos, outro sonho - agora da venda da empresa; enfim, tudo está em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" que ainda chega embalada por uma competente reconstrução de época de uma Berlin underground do inicio dos anos 90, do surgimento do Vale do Silício nos EUA e de sua cativante atmosfera empreendedora. Aqui cabe uma observação: apesar da Netflix ter apresentado a minissérie como um drama de tribunal, é apenas no último episódio que esse subgênero ganha força. Ele vai servir como aquele grande final que todos estão esperando: o embate decisivo entre David e Golias - mas a verdade é que toda a jornada vale a pena.

"Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" vai te surpreender!

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Bebê Rena

Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

Assista Agora

Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

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Bela Vingança

Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Belfast

"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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Belle Époque

"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!

Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.

Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.

Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!

E é por isso que vale muito o seu play!

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"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!

Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.

Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.

Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!

E é por isso que vale muito o seu play!

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Better Things

Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

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Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

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Big Little Lies

Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

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Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

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Black Mirror

"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

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"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

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Blind

"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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Blue Valentine

Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Boa Noite, Mamãe

Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!

Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:

Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.

O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).

Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!

‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!

Vale muitíssimo o seu play!

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Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!

Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:

Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.

O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).

Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!

‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!

Vale muitíssimo o seu play!

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