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Better Things

Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

Assista Agora

Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

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Big Little Lies

Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

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Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

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Black Mirror

"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

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"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

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Blind

"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

Assista Agora

"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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Blue Valentine

Blue Valentine

Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

Assista Agora

Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Boa Noite, Mamãe

Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!

Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:

Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.

O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).

Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!

‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!

Vale muitíssimo o seu play!

Assista Agora

Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!

Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:

Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.

O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).

Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!

‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!

Vale muitíssimo o seu play!

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Boa Noite, Oppy

É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

Olha, vale muito o seu play!

Assista Agora

É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

Olha, vale muito o seu play!

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Brian Banks: Um Sonho Interrompido

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

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"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

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Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich")"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.

A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.

Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno. 

 A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim  - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!

Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!

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Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich")"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.

A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.

Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno. 

 A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim  - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!

Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!

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Calls

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

Assista Agora

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

Assista Agora

Campeões

Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

Assista Agora

Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Capital Humano

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

Assista Agora

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

Assista Agora

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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Cenas de um Casamento

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

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Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

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Cheaters

"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!

A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:

A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.  

Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.

Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.  

Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês! 

Vale muito o play!

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"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!

A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:

A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.  

Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.

Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.  

Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês! 

Vale muito o play!

Assista Agora

Chef

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

Assista Agora

Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

Assista Agora

Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Cherry

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

Assista Agora

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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