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Boa Noite, Oppy

É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

Olha, vale muito o seu play!

Assista Agora

É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!

"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):

Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.

Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!

O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.

Olha, vale muito o seu play!

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Brian Banks: Um Sonho Interrompido

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

Assista Agora

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

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Calls

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

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"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

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Campeões

Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Candy

Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Capital Humano

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

Cenas de um Casamento

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

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Cheaters

"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!

A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:

A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.  

Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.

Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.  

Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês! 

Vale muito o play!

Assista Agora

"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!

A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:

A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.  

Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.

Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.  

Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês! 

Vale muito o play!

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Chef

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

Assista Agora

Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

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Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Cherry

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

Assista Agora

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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Círculo Fechado

As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

Vale muito o seu play!

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As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

Vale muito o seu play!

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Cirurgião do Mal

Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" -  e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.

Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.

Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:

Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.

A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.

"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!

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Existe uma linha tênue entre a percepção do que é "genial" e do que é "doentio" -  e talvez por isso que nos sentimos tão revoltados quando assistimos uma história como a do ex-famoso cirurgião italiano Paolo Macchiarini.

Se você assistiu "The Con", deve se lembrar da história de uma produtora de TV americana, chamada Benita Alexander, que se apaixona por um grande cirurgião e que depois um breve namoro com ele, já teria, acreditem, seu casamento realizado pelo Papa Francisco (ela acreditou!). Enquanto o primeiro episódio dessa série antológica do Star+ foca nas falcatruas amorosas de Macchiarini pelos olhos de quem sofreu o golpe, ao melhor estilo "O Golpista do Tinder", aqui a coisa é bem mais complexa já que o tom investigativo da narrativa também retrata o profundo impacto de uma farsa médica onde sete de oito pacientes do cirurgião morreram após uma operação de traquéia que, na época, era dada como revolucionária.

Nos três episódios de "Cirurgião do Mal" acompanhamos a ascensão e queda de Paolo Macchiarini, conhecido por supostamente ser o primeiro a criar e implantar órgãos de plástico, por meio de suas revolucionárias cirurgias de traquéia com infusão de células-tronco, realizadas no famoso hospital Karolinska, na Suécia - onde, inclusive, é entregue o prêmio Nobel de Medicina. A história profissional de Macchiarini é considerada uma das maiores fraudes da ciência em todos os tempos. Já uma de suas conquistas amorosas, ficou conhecida como um dos maiores golpes já sofridos por uma mulher nos últimos anos. Confira o trailer:

Muito bem produzida pela Nutopia para a Netflix e dirigida com maestria pelo Ben Steele (do premiado "Hunted: The War Against Gays in Russia"), "Cirurgião do Mal" se destaca não apenas pela qualidade técnica inegável, mas também pela forma como o roteiro equilibra questões pessoais e profissionais que cercaram a vida de Macchiarini - indiretamente é como se Steele construísse um perfil do cirurgião e pouco a pouco validasse seu modo de agir inescrupuloso e cruel independente de quem fosse a vítima - uma mulher ou um paciente. Veja, ao desvendar os aspectos mais complexos sobre as manipulações do protagonista, o diretor é extremamente inteligente ao alternar entrevistas com ex-colegas, familiares das vitimas e jornalistas investigativos com o longo depoimento, mais uma vez, de Benita Alexander.

A pesquisa aprofundada sobre os eventos reais que levaram as desconfianças sobre os métodos usados por Macchiarini provoca algumas reflexões - especialmente se olharmos pela perspectiva da ética, então não se surpreenda se por algum momento você vier a compara-lo com um serial-killer. E aqui vale um comentário: como um bom "true crime"as entrevistas com pessoas-chave cria uma narrativa envolvente e esclarecedora que sabe brincar com nossas emoções do inicio ao fim sem perder nenhum instante de fôlego, ou seja, se prepare para um jornada bastante indigesta. A verdade é que é tudo muito impactante e perturbador, especialmente quando sentimos a esperança de quem via em Macchiarini sua melhor chance de continuar vivendo.

"Bad Surgeon: Love Under the Knife" (no original) é de fato surpreendentemente boa! A profundidade da investigação e a honestidade de todos os depoimentos, aliados à maestria técnica, especialmente da direção e da montagem, faz dessa minissérie uma experiência que merece sua atenção. Para aqueles que buscam não apenas o entretenimento, mas também uma compreensão interessante sobre os desafios éticos enfrentados pela ciência contemporânea, eu atesto que essa jornada será intensa e revoltante na mesma medida. Pode acreditar!

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Cisne Negro

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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Close

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Closer

“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Coerência

Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Concorrência Oficial

Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

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Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

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