"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.
No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:
É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?
É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".
Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.
Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!
Vale muito a pena!
"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.
No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:
É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?
É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".
Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.
Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!
Vale muito a pena!
"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).
Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:
Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.
A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários". Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.
"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?
Vale seu play!
"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).
Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:
Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.
A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários". Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.
"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?
Vale seu play!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
"Prime Time" (que no Brasil ganhou o sugestivo título de "Interrompemos a Programação") chegou na Netflix com a chancela de ter sido indicado ao Grand Jury Prize de Sundance em 2021, porém, essa produção polonesa, certamente veio para entrar naquela prateleira de "ame ou odeie"!
A premissa é simples, mas excelente: Na véspera do Ano Novo de 1999, um homem armado invade um estúdio de uma TV de Varsóvia, fazendo um segurança e uma apresentadora como reféns, tendo apenas uma única exigência: entrar ao vivo em rede nacional para transmitir uma mensagem. Confira o trailer (dublado):
O Filme é dirigido por Jakub Piatek e conta com Bartosz Bielenia - ator que ganhou muita notoriedade por sua participação no ótimo "Corpus Christi" (de 2019), representante da Polônia na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020. Embora estreante na função, Piatek teve muita personalidade ao escolher o caminho mais difícil para contar uma história aparentemente simples, mas cheia de camadas. Veja, a tensão de "Interrompemos a Programação" não se baseia na ação imersiva como no excelente "Utoya 22 de Julho" e sim na expectativa do que pode acontecer a qualquer momento e por motivos que não sabemos. Ao focar na cadência narrativa, o diretor deixa claro preferir o tom mais autoral, independente, e assume a responsabilidade por inúmeras criticas - muitas de quem via sua obra como uma nova visão de "Jogo do Dinheiro" de 2016, longa com George Clooney e Julia Roberts sobre um rapaz que invade um estúdio de TV armado e faz o apresentador refém.
Três cenas definem a força da narrativa apoiada nos detalhes e na sensibilidade do elenco. A primeira, sem dúvida, é o embate entre Sebastian e seu pai - se até ali o garoto parecia sem propósito ou força para assumir suas decisões, claramente após essa discussão, tudo ganha um novo rumo. Detalhe para o ótimo trabalho, tanto de Bielenia quanto Juliusz Chrzastowski. Já na outra cena, vemos Mira (Magdalena Poplawska), visivelmente irritada ao ser contrariada pelos seus superiores, ligando para um contato na emissora concorrente, oferecendo uma transmissão exclusiva do seu sequestrador. Para finalizar, reparem na atitude da produtora executiva e diretora do programa de Mira, Laura (Malgorzata Hajewska), em uma das últimas cenas do filme.
Saiba que "Interrompemos a Programação" não é sobre os motivos que levaram Sebastian até ali - isso pouco importa na verdade. O filme é sobre a solidão do ser humano, sobre a vaidade, sobre a incompreensão e sobre o espetáculo, ainda que grotesco, que a mídia tenta impor com a desculpa de fazer jornalismo. Ah, e a critica politica é fácil de ser percebida em vários momentos - dentro e fora do estúdio onde 90% da narrativa acontece!
Eu entendo que pode ficar uma sensação, de certa forma até frustrante, de que o potencial de "Interrompemos a Programação" foi desperdiçado. Para alguns essa percepção será óbvia e o roteiro, em muitos momentos, colabora para esse mal-humor, mas convido nosso leitor a olhar além e buscar entender como o desespero pode nos levar a atitudes impensáveis - seja por medo ou, simplesmente, por vaidade!
Vale o play, mas com todos esses "poréns" bastante particulares que o filme não se preocupa em esconder. Filme para quem gosta do que não é óbvio!
"Prime Time" (que no Brasil ganhou o sugestivo título de "Interrompemos a Programação") chegou na Netflix com a chancela de ter sido indicado ao Grand Jury Prize de Sundance em 2021, porém, essa produção polonesa, certamente veio para entrar naquela prateleira de "ame ou odeie"!
A premissa é simples, mas excelente: Na véspera do Ano Novo de 1999, um homem armado invade um estúdio de uma TV de Varsóvia, fazendo um segurança e uma apresentadora como reféns, tendo apenas uma única exigência: entrar ao vivo em rede nacional para transmitir uma mensagem. Confira o trailer (dublado):
O Filme é dirigido por Jakub Piatek e conta com Bartosz Bielenia - ator que ganhou muita notoriedade por sua participação no ótimo "Corpus Christi" (de 2019), representante da Polônia na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020. Embora estreante na função, Piatek teve muita personalidade ao escolher o caminho mais difícil para contar uma história aparentemente simples, mas cheia de camadas. Veja, a tensão de "Interrompemos a Programação" não se baseia na ação imersiva como no excelente "Utoya 22 de Julho" e sim na expectativa do que pode acontecer a qualquer momento e por motivos que não sabemos. Ao focar na cadência narrativa, o diretor deixa claro preferir o tom mais autoral, independente, e assume a responsabilidade por inúmeras criticas - muitas de quem via sua obra como uma nova visão de "Jogo do Dinheiro" de 2016, longa com George Clooney e Julia Roberts sobre um rapaz que invade um estúdio de TV armado e faz o apresentador refém.
Três cenas definem a força da narrativa apoiada nos detalhes e na sensibilidade do elenco. A primeira, sem dúvida, é o embate entre Sebastian e seu pai - se até ali o garoto parecia sem propósito ou força para assumir suas decisões, claramente após essa discussão, tudo ganha um novo rumo. Detalhe para o ótimo trabalho, tanto de Bielenia quanto Juliusz Chrzastowski. Já na outra cena, vemos Mira (Magdalena Poplawska), visivelmente irritada ao ser contrariada pelos seus superiores, ligando para um contato na emissora concorrente, oferecendo uma transmissão exclusiva do seu sequestrador. Para finalizar, reparem na atitude da produtora executiva e diretora do programa de Mira, Laura (Malgorzata Hajewska), em uma das últimas cenas do filme.
Saiba que "Interrompemos a Programação" não é sobre os motivos que levaram Sebastian até ali - isso pouco importa na verdade. O filme é sobre a solidão do ser humano, sobre a vaidade, sobre a incompreensão e sobre o espetáculo, ainda que grotesco, que a mídia tenta impor com a desculpa de fazer jornalismo. Ah, e a critica politica é fácil de ser percebida em vários momentos - dentro e fora do estúdio onde 90% da narrativa acontece!
Eu entendo que pode ficar uma sensação, de certa forma até frustrante, de que o potencial de "Interrompemos a Programação" foi desperdiçado. Para alguns essa percepção será óbvia e o roteiro, em muitos momentos, colabora para esse mal-humor, mas convido nosso leitor a olhar além e buscar entender como o desespero pode nos levar a atitudes impensáveis - seja por medo ou, simplesmente, por vaidade!
Vale o play, mas com todos esses "poréns" bastante particulares que o filme não se preocupa em esconder. Filme para quem gosta do que não é óbvio!
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
O grande segredo para você não se decepcionar ao assistir "Inventando Anna" está no alinhamento de expectativas. Veja, a minissérie da Netflix é muito boa, mas não tem uma narrativa realista, tão comum em projetos que usam os elementos documentais de "true crime" para simular a veracidade na ficção. Não, "Inventando Anna" não se propõe a ser um mergulho profundo na mente da protagonista (mesmo sugerindo), a minissérie é dinâmica, divertida, mas entretenimento puro - bem no estilo da sua criadora, Shonda Rhimes (de "Grey’s Anatomy", "How to Get Away with Murder" e "Scandal").
A minissérie acompanha a jornalista Vivian (Anna Chlumsky) enquanto ela investiga a glamourosa e misteriosa Anna Delvey (Julia Garner), uma jovem socialite que tem uma vida de luxos e festas e que se apresenta como uma herdeira alemã milionária, mas que na verdade utiliza dessa fachada para dar inúmeros golpes em bancos e jovens ricos. Depois que os golpes de Anna são expostos e ela acaba sendo processada e presa, Vivian decide contar a história de como Anna conseguiu se tornar uma das maiores figuras da elite burguesa de Nova Iorque mesmo vindo de origem pobre. Confira o trailer:
Você não vai precisar de mais que dois episódios para perceber que "Inventando Anna" poderia, tranquilamente, ser um spin-off de "Gossip Girl" - e não falo isso com demérito, pois a dinâmica imposta por Rhimes, embora nada original, funciona muito bem e diverte. Existe um mood mais jovem na narrativa, sempre pontuada com uma trilha sonora moderninha e interpretações mais caricatas. Eu sei que pode parecer que estou criticando a minissérie, mas não é o caso, porém o estilo escolhido para contar uma história real como essa, pode não agradar quem procura por algo, digamos, mais sério.
Com uma aplicação gráfica criativa, recebemos um aviso no inicio de cada episódio: “Esta história é completamente verdadeira. Exceto pelas partes que foram totalmente inventadas”. Baseada em uma publicação da jornalistaJessica Pressler da revista "New York", "Inventando Anna" transita muito bem entre o "fato" e o "conto" em um dos temas mais interessantes na construção de uma narrativa envolvente e que fomenta muita curiosidade para audiência: como o anti-herói conseguiu enganar tanta gente e viver de uma forma que "eu" gostaria de viver, mas dificilmente vou conseguir trabalhando honestamente (por favor, entendam a ironia da afirmação). A maneira como essa premissa nos provoca, reflete exatamente nosso sentimento ao assistir a minissérie: nunca sabemos para quem torcer, quem está certo, errado, o que faríamos em determinada situação - e é esse o charme da experiência, basta reparar no sucesso que "O Golpista do Tinder" fez recentemente.
Muito bem produzida e com Julia Garner (de "Ozark") brilhando, "Inventando Anna" é um retrato de uma sociedade instagramável - vimos isso em "Fake Famous" e em "As Faces da Marca". Mas as referências não param por aí: picaretas que lesaram muita gente também são citados durante os episódios dentro de um contexto que deixa claro como Anna tinha o dom do convencimento. Ela era uma mistura de Elizabeth Holmes (do ótimo e imperdível "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício") com Billy McFarland (criador do "Fyre Festival") - esse último, inclusive, era amigo de Anna e é muito citado na história.
O fato é que "Inventando Anna" é fácil de assistir, diverte de verdade e não cansa. Mesmo com uma falta de unidade na estrutura narrativa, você sempre vai encontrar um artificio visual para renovar sua atenção, seja uma tela dividida, um freeze frame,um corte rápido que te leva para um flashback, uma quebra de linha temporal entre passado e presente na mesma cena. São 9 episódios, mas poderiam ser 7. Os dois últimos focam no julgamento, mas poderiam ser resolvidos com algumas legendas na tela preta, mas como isso não seria um "Shonda Rhimes" acabamos embarcando na proposta.
Antes de finalizar, um detalhe importante: boas atrizes são aquelas que aparecem nos mínimos movimentos e na introspecção de uma ação carregada de sentimento - reparem na cena em que Anna, sem dinheiro algum e sozinha, está no metro e encontra um saco com fast food.Veja como Julia Garner se relaciona com aquela situação e com que prazer que ela come a batata frita - tudo isso sem dizer uma só palavra! Lindo!
Se você chegou até aqui, pode dar o play, você vai se divertir!
O grande segredo para você não se decepcionar ao assistir "Inventando Anna" está no alinhamento de expectativas. Veja, a minissérie da Netflix é muito boa, mas não tem uma narrativa realista, tão comum em projetos que usam os elementos documentais de "true crime" para simular a veracidade na ficção. Não, "Inventando Anna" não se propõe a ser um mergulho profundo na mente da protagonista (mesmo sugerindo), a minissérie é dinâmica, divertida, mas entretenimento puro - bem no estilo da sua criadora, Shonda Rhimes (de "Grey’s Anatomy", "How to Get Away with Murder" e "Scandal").
A minissérie acompanha a jornalista Vivian (Anna Chlumsky) enquanto ela investiga a glamourosa e misteriosa Anna Delvey (Julia Garner), uma jovem socialite que tem uma vida de luxos e festas e que se apresenta como uma herdeira alemã milionária, mas que na verdade utiliza dessa fachada para dar inúmeros golpes em bancos e jovens ricos. Depois que os golpes de Anna são expostos e ela acaba sendo processada e presa, Vivian decide contar a história de como Anna conseguiu se tornar uma das maiores figuras da elite burguesa de Nova Iorque mesmo vindo de origem pobre. Confira o trailer:
Você não vai precisar de mais que dois episódios para perceber que "Inventando Anna" poderia, tranquilamente, ser um spin-off de "Gossip Girl" - e não falo isso com demérito, pois a dinâmica imposta por Rhimes, embora nada original, funciona muito bem e diverte. Existe um mood mais jovem na narrativa, sempre pontuada com uma trilha sonora moderninha e interpretações mais caricatas. Eu sei que pode parecer que estou criticando a minissérie, mas não é o caso, porém o estilo escolhido para contar uma história real como essa, pode não agradar quem procura por algo, digamos, mais sério.
Com uma aplicação gráfica criativa, recebemos um aviso no inicio de cada episódio: “Esta história é completamente verdadeira. Exceto pelas partes que foram totalmente inventadas”. Baseada em uma publicação da jornalistaJessica Pressler da revista "New York", "Inventando Anna" transita muito bem entre o "fato" e o "conto" em um dos temas mais interessantes na construção de uma narrativa envolvente e que fomenta muita curiosidade para audiência: como o anti-herói conseguiu enganar tanta gente e viver de uma forma que "eu" gostaria de viver, mas dificilmente vou conseguir trabalhando honestamente (por favor, entendam a ironia da afirmação). A maneira como essa premissa nos provoca, reflete exatamente nosso sentimento ao assistir a minissérie: nunca sabemos para quem torcer, quem está certo, errado, o que faríamos em determinada situação - e é esse o charme da experiência, basta reparar no sucesso que "O Golpista do Tinder" fez recentemente.
Muito bem produzida e com Julia Garner (de "Ozark") brilhando, "Inventando Anna" é um retrato de uma sociedade instagramável - vimos isso em "Fake Famous" e em "As Faces da Marca". Mas as referências não param por aí: picaretas que lesaram muita gente também são citados durante os episódios dentro de um contexto que deixa claro como Anna tinha o dom do convencimento. Ela era uma mistura de Elizabeth Holmes (do ótimo e imperdível "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício") com Billy McFarland (criador do "Fyre Festival") - esse último, inclusive, era amigo de Anna e é muito citado na história.
O fato é que "Inventando Anna" é fácil de assistir, diverte de verdade e não cansa. Mesmo com uma falta de unidade na estrutura narrativa, você sempre vai encontrar um artificio visual para renovar sua atenção, seja uma tela dividida, um freeze frame,um corte rápido que te leva para um flashback, uma quebra de linha temporal entre passado e presente na mesma cena. São 9 episódios, mas poderiam ser 7. Os dois últimos focam no julgamento, mas poderiam ser resolvidos com algumas legendas na tela preta, mas como isso não seria um "Shonda Rhimes" acabamos embarcando na proposta.
Antes de finalizar, um detalhe importante: boas atrizes são aquelas que aparecem nos mínimos movimentos e na introspecção de uma ação carregada de sentimento - reparem na cena em que Anna, sem dinheiro algum e sozinha, está no metro e encontra um saco com fast food.Veja como Julia Garner se relaciona com aquela situação e com que prazer que ela come a batata frita - tudo isso sem dizer uma só palavra! Lindo!
Se você chegou até aqui, pode dar o play, você vai se divertir!
Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.
Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:
Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.
Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.
Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.
Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.
Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.
Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:
Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.
Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.
Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.
Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.
Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio.
Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):
Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.
A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos - sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.
"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!
Vale muito o seu play!
Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio.
Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):
Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.
A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos - sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.
"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!
Vale muito o seu play!
No cenário dos crimes que chocaram o Brasil, sem a menor dúvida, o caso da morte da menina Isabella Nardoni se destaca como um dos mais intrigantes e emocionalmente carregados da nossa história. O documentário "Isabella: O Caso Nardoni" oferece uma oportunidade única de explorar não apenas os aspectos investigativos do caso, mas também a profundidade das emoções humanas de quem, de fato, sofreu com o crime - e te falo: você não vai precisar mais do que dez minutos para sentir o coração completamente dilacerado! Embora a produção da Netflix não acrescente absolutamente nenhuma informação nova sobre o caso, inclusive, inexplicavelmente, deixe de lado elementos importantes da perícia, posso afirmar que se trata de um ótimo entretenimento para quem gosta do gênero "true crime".
Passados 15 anos, a Netflix retoma o assunto em "Isabella: O Caso Nardoni" - um filme que explora, em detalhes, os eventos em torno do assassinato de 2008, quando o pai Alexandre e a madrasta Anna Carolina Jatobá, asfixiaram a criança e depois a jogaram do sexto andar. Mostrando como foi o trabalho da polícia, da perícia e dos advogados, em meio ao sofrimento da mãe biológica, do circo midiático em torno do caso e das calorosas cobranças da população que, indignada, desejava uma rápida resolução para esse violento homicídio, os diretores Micael Langer e Cláudio Manoel praticamente reconstroem o dia do crime e exploram, passo a passo, os reflexos dessa tragédia. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, um dos pontos fortes do documentário está na discussão sobre os detalhes técnicos da investigação policial e do processo judicial que se seguiram ao crime. Desde a reconstituição dos fatos até a análise forense, a narrativa é muito feliz em explorar os desafios enfrentados pelas autoridades para reconstruir os eventos da noite fatídica, dando voz a quem realmente esteve lá. Mesmo que o filme soe superficial em alguns momentos, a história é recheada de curiosidades e passagens que ao mesmo tempo que indignam, nos envolvem. Misturando depoimentos atuais e um rico material de pesquisa, essencialmente imagens de arquivo, "Isabella: O Caso Nardoni" praticamente nos impede de tirar os olhos da tela até que os créditos subam.
Agora, é preciso que se diga, o roteiro explora a tragédia da morte de Isabella evocando uma gama complexa de emoções: tristeza, raiva, empatia e indignação; permitindo que a audiência compreenda não apenas a dor da família, mas também os desafios emocionais enfrentados pelas equipes de investigação e de advogados. As entrevistas com a delegada, com uma especialista criminal, com a responsável pela perícia e com o promotor, são tão reveladoras quanto a dos familiares, no entanto os insights emocionais mais poderosos, que enriquecem a narrativa, são mesmo da mãe, Ana, e da avó, Rosa.
"Isabella: O Caso Nardoni" não se limita aos fatos frios do caso, já que o filme, naturalmente, cria uma conexão emocional com a audiência - principalmente pornos transportar de volta no tempo, proporcionando uma visão mais vívida sobre os eventos. Esse olhar em retrospectiva faz toda a diferença na maneira como interpretamos os detalhes do caso e, essencialmente, cada comportamento dos envolvidos. Sim, existe uma leve sensação de que algo diferente poderia ter sido mostrado, mas essa cereja do bolo nunca chega - então não crie tantas expectativas, apenas mergulhe na proposta dos diretores e revisite a história com um pouco mais de maturidade, mesmo que ainda pareça um certo oportunismo.
No cenário dos crimes que chocaram o Brasil, sem a menor dúvida, o caso da morte da menina Isabella Nardoni se destaca como um dos mais intrigantes e emocionalmente carregados da nossa história. O documentário "Isabella: O Caso Nardoni" oferece uma oportunidade única de explorar não apenas os aspectos investigativos do caso, mas também a profundidade das emoções humanas de quem, de fato, sofreu com o crime - e te falo: você não vai precisar mais do que dez minutos para sentir o coração completamente dilacerado! Embora a produção da Netflix não acrescente absolutamente nenhuma informação nova sobre o caso, inclusive, inexplicavelmente, deixe de lado elementos importantes da perícia, posso afirmar que se trata de um ótimo entretenimento para quem gosta do gênero "true crime".
Passados 15 anos, a Netflix retoma o assunto em "Isabella: O Caso Nardoni" - um filme que explora, em detalhes, os eventos em torno do assassinato de 2008, quando o pai Alexandre e a madrasta Anna Carolina Jatobá, asfixiaram a criança e depois a jogaram do sexto andar. Mostrando como foi o trabalho da polícia, da perícia e dos advogados, em meio ao sofrimento da mãe biológica, do circo midiático em torno do caso e das calorosas cobranças da população que, indignada, desejava uma rápida resolução para esse violento homicídio, os diretores Micael Langer e Cláudio Manoel praticamente reconstroem o dia do crime e exploram, passo a passo, os reflexos dessa tragédia. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, um dos pontos fortes do documentário está na discussão sobre os detalhes técnicos da investigação policial e do processo judicial que se seguiram ao crime. Desde a reconstituição dos fatos até a análise forense, a narrativa é muito feliz em explorar os desafios enfrentados pelas autoridades para reconstruir os eventos da noite fatídica, dando voz a quem realmente esteve lá. Mesmo que o filme soe superficial em alguns momentos, a história é recheada de curiosidades e passagens que ao mesmo tempo que indignam, nos envolvem. Misturando depoimentos atuais e um rico material de pesquisa, essencialmente imagens de arquivo, "Isabella: O Caso Nardoni" praticamente nos impede de tirar os olhos da tela até que os créditos subam.
Agora, é preciso que se diga, o roteiro explora a tragédia da morte de Isabella evocando uma gama complexa de emoções: tristeza, raiva, empatia e indignação; permitindo que a audiência compreenda não apenas a dor da família, mas também os desafios emocionais enfrentados pelas equipes de investigação e de advogados. As entrevistas com a delegada, com uma especialista criminal, com a responsável pela perícia e com o promotor, são tão reveladoras quanto a dos familiares, no entanto os insights emocionais mais poderosos, que enriquecem a narrativa, são mesmo da mãe, Ana, e da avó, Rosa.
"Isabella: O Caso Nardoni" não se limita aos fatos frios do caso, já que o filme, naturalmente, cria uma conexão emocional com a audiência - principalmente pornos transportar de volta no tempo, proporcionando uma visão mais vívida sobre os eventos. Esse olhar em retrospectiva faz toda a diferença na maneira como interpretamos os detalhes do caso e, essencialmente, cada comportamento dos envolvidos. Sim, existe uma leve sensação de que algo diferente poderia ter sido mostrado, mas essa cereja do bolo nunca chega - então não crie tantas expectativas, apenas mergulhe na proposta dos diretores e revisite a história com um pouco mais de maturidade, mesmo que ainda pareça um certo oportunismo.
Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.
Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):
Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.
Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager". A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.
Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.
Olha, imperdível!
Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.
Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):
Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.
Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager". A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.
Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.
Olha, imperdível!
Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!
Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):
Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme.
Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção!
"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.
Vale muito seu play!
Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!
Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):
Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme.
Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção!
"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.
Vale muito seu play!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:
Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy, é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!
Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!
O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:
Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy, é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!
Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!
O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).
Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.
A partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:
Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.
Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).
Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.
Vale seu play!
Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.
A partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:
Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.
Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).
Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.
Vale seu play!
Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União.
"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis), Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.
Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.
A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!
Vale seu play!
Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União.
"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis), Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.
Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.
A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!
Vale seu play!
Você vai se surpreender com a potência de “Jogo Justo” - principalmente por trazer elementos bastante particulares de obras como “A Assistente” e “Industry”. Embora tenha sido vendido como uma espécie de thriller erótico pela Netflix, o filme vai muito além ao equilibrar aquela atmosfera de excessos dos bancos de investimento de Wall Street (daí a referência de “Industry”) com um drama angustiante pela sua psicologia e pela discussão relevante sobre o machismo e as várias formas de abuso (talvez um pouco mais explícito, mas igualmente competente, como vimos em “A Assistente”). Com um excelente roteiro e uma inspirada direção de Chloe Domon (de “Ballers”), o filme se alimenta de uma tensão crescente, quase insuportável, para expor uma triste realidade que realmente mexe com nossa percepção sobre o ser humano.
Basicamente, o filme acompanha o jovem casal Emily (Phoebe Dynevor) e Luke (Alden Ehrenreich), que trabalha em um banco de investimentos e que acabam embarcando em um romance proibido que vai contra as regras da organização. O segredo parece tornar as coisas ainda mais intensas até que Emily é promovida inesperadamente para uma posição que Luke almejava e aí, já viu. Confira o trailer:
Ë impressionante como acompanhar o colapso de um relacionamento diante da ebulição de egos, poder e pressões sociais e profissionais, mexe com a gente. “Jogo Justo” sabe exatamente como construir uma dinâmica envolvente que, pouca a pouco, é tirada de nós em uma desconstrução narrativa digna de aplausos - tirando algumas leves derrapadas no terceiro ato, eu diria que o roteiro merece mais do que elogios!
Domon é inteligente com explorar a sensibilidade do olhar e do silêncio ao mesmo tempo em que seu texto é mais bruto, direto, provocador. Não por acaso você vai escutar que Emily deve ter tido relações sexuais com o chefe para conseguir a promoção ou até que ela nunca será respeitada porque parece um cupcake indo para o trabalho, no entanto é na forma como Dynevor e Ehrenreich se relacionam com essas situações que somos tocados - é quase como se eles não soubessem decodificar suas falhas, dada a naturalidade desse tipo de posicionamento machista (para quem diz e para quem escuta). E o legal é que o roteiro também expõe a insegurança de Emily ao lidar com essa atmosfera, mesmo quando ela vai contra seus princípios para fazer parte de tudo aquilo e assim se sentir “inserida”.
Um ponto muito interessante e que vale citar é o fato de que “Fair Play” (no original) fez um certo barulho no Festival de Sundance em 2023 - gerando, inclusive, comparações com “Psicopata Americano” destaque no mesmo festival em 2000. Tão diferentes quanto semelhantes, ambos os filmes desafiam nossa compreensão sobre o ser humana ao ser provocado intimamente. O fato é que aqui temos mais uma história densa sobre a colisão caótica entre o poder e o ego, em uma era tão socialmente sensível ao lugar de fala sobre disparidade de gêneros. Com uma direção que sabe da capacidade interpretativa de sua audiência, ela deixa espaço para uma discussão coerente sem precisar levantar bandeiras à toa - é por isso que eu diria que esse filme já pode ser considerado um dos melhores dramas psicológicos recentes. Finalmente temos um excepcional filme de gênero que vale cada centavo dos míseros US$20 milhões pagos em direitos pela Netflix.
Imperdível.
Você vai se surpreender com a potência de “Jogo Justo” - principalmente por trazer elementos bastante particulares de obras como “A Assistente” e “Industry”. Embora tenha sido vendido como uma espécie de thriller erótico pela Netflix, o filme vai muito além ao equilibrar aquela atmosfera de excessos dos bancos de investimento de Wall Street (daí a referência de “Industry”) com um drama angustiante pela sua psicologia e pela discussão relevante sobre o machismo e as várias formas de abuso (talvez um pouco mais explícito, mas igualmente competente, como vimos em “A Assistente”). Com um excelente roteiro e uma inspirada direção de Chloe Domon (de “Ballers”), o filme se alimenta de uma tensão crescente, quase insuportável, para expor uma triste realidade que realmente mexe com nossa percepção sobre o ser humano.
Basicamente, o filme acompanha o jovem casal Emily (Phoebe Dynevor) e Luke (Alden Ehrenreich), que trabalha em um banco de investimentos e que acabam embarcando em um romance proibido que vai contra as regras da organização. O segredo parece tornar as coisas ainda mais intensas até que Emily é promovida inesperadamente para uma posição que Luke almejava e aí, já viu. Confira o trailer:
Ë impressionante como acompanhar o colapso de um relacionamento diante da ebulição de egos, poder e pressões sociais e profissionais, mexe com a gente. “Jogo Justo” sabe exatamente como construir uma dinâmica envolvente que, pouca a pouco, é tirada de nós em uma desconstrução narrativa digna de aplausos - tirando algumas leves derrapadas no terceiro ato, eu diria que o roteiro merece mais do que elogios!
Domon é inteligente com explorar a sensibilidade do olhar e do silêncio ao mesmo tempo em que seu texto é mais bruto, direto, provocador. Não por acaso você vai escutar que Emily deve ter tido relações sexuais com o chefe para conseguir a promoção ou até que ela nunca será respeitada porque parece um cupcake indo para o trabalho, no entanto é na forma como Dynevor e Ehrenreich se relacionam com essas situações que somos tocados - é quase como se eles não soubessem decodificar suas falhas, dada a naturalidade desse tipo de posicionamento machista (para quem diz e para quem escuta). E o legal é que o roteiro também expõe a insegurança de Emily ao lidar com essa atmosfera, mesmo quando ela vai contra seus princípios para fazer parte de tudo aquilo e assim se sentir “inserida”.
Um ponto muito interessante e que vale citar é o fato de que “Fair Play” (no original) fez um certo barulho no Festival de Sundance em 2023 - gerando, inclusive, comparações com “Psicopata Americano” destaque no mesmo festival em 2000. Tão diferentes quanto semelhantes, ambos os filmes desafiam nossa compreensão sobre o ser humana ao ser provocado intimamente. O fato é que aqui temos mais uma história densa sobre a colisão caótica entre o poder e o ego, em uma era tão socialmente sensível ao lugar de fala sobre disparidade de gêneros. Com uma direção que sabe da capacidade interpretativa de sua audiência, ela deixa espaço para uma discussão coerente sem precisar levantar bandeiras à toa - é por isso que eu diria que esse filme já pode ser considerado um dos melhores dramas psicológicos recentes. Finalmente temos um excepcional filme de gênero que vale cada centavo dos míseros US$20 milhões pagos em direitos pela Netflix.
Imperdível.
Sua definição de "pirado" vai mudar depois que você assistir o documentário da Netflix "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo". É sério, McAfee (aquele mesmo do antivírus que todo mundo usava quando os PCs ainda dominavam o mundo) faz CEOs excêntricos como Adam Neumann da WeWork e Travis Kalanick da UBER parecerem ter saído do jardim da infância!
"Running With The Devil: The Wild World Of John McAfee" (no original) conta em pouco menos de duas horas, toda a jornada do milionário e gênio da tecnologia John McAfee durante os anos em que viveu como foragido da justiça, acusado, inclusive, de assassinato. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Charlie Russell (de "Chris Packham: Asperger's and Me") esse documentário traz cenas e entrevistas inéditas (e surpreendentes) sobre alguns dos momentos mais conturbados da vida deMcAfee. Com uma edição primorosa do Joby Gee, Russell se aproveita de um material riquíssimo produzido pela "Vice" pouco mais de dez anos atrás, que resultou em uma estreita relação de amizade entre o próprio McAfee e um videomaker que anos depois voltou a captar em imagens, a loucura e o comportamento cheio de abusos do protagonista até ele ser preso na Espanha em outubro de 2020.
Um dos pioneiros da indústria da segurança digital, o criador do antivírus que até hoje ainda leva seu nome, se tornou milionário quando sua empresa foi vendida para a Intel em um negócio de US$ 7,6 bilhões. A partir daí, McAfee passou a viver no limite, com direito a envolvimento com drogas pesadas, álcool e prostituição - sua última esposa, inclusive, era prostituta. Porém a questão mais presente em "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" diz respeito a sua fuga de Belize para Guatemala quando foi acusado de assassinar seu vizinho, Gregory Faull, com um tiro na nuca - o crime, inclusive, que nunca foi solucionado. Essa passagem foi só o gatilho para as inúmeras paranóias (ou não) e teorias da conspiração que fizeram McAfee praticamente viver em águas internacionais com medo de ser morto.
Embora o documentário seja muito competente em explorar esse recorte específico, citando rapidamente outras polêmicas em que McAfee esteve envolvido, temos a sensação que o personagem merecia uma obra mais completa - talvez uma minissérie que se aprofundasse em temas como a derrocada de sua fortuna, os embates com a Intel para que a empresa desvinculasse o seu nome do antivírus, a pretensão de se tornar presidente dos EUA e os outros investimentos que ele fez em startups que foram mal sucedidas - o cara foi de antibióticos naturais à criptomoedas, para você ter uma ideia.
"John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" é um documentário dinâmico, bem construído e muito interessante - um mergulho no intimo de um personagem único e que foi capaz de transitar entre a genialidade e o caos com a mesma competência. Vale muito o seu play!
Sua definição de "pirado" vai mudar depois que você assistir o documentário da Netflix "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo". É sério, McAfee (aquele mesmo do antivírus que todo mundo usava quando os PCs ainda dominavam o mundo) faz CEOs excêntricos como Adam Neumann da WeWork e Travis Kalanick da UBER parecerem ter saído do jardim da infância!
"Running With The Devil: The Wild World Of John McAfee" (no original) conta em pouco menos de duas horas, toda a jornada do milionário e gênio da tecnologia John McAfee durante os anos em que viveu como foragido da justiça, acusado, inclusive, de assassinato. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Charlie Russell (de "Chris Packham: Asperger's and Me") esse documentário traz cenas e entrevistas inéditas (e surpreendentes) sobre alguns dos momentos mais conturbados da vida deMcAfee. Com uma edição primorosa do Joby Gee, Russell se aproveita de um material riquíssimo produzido pela "Vice" pouco mais de dez anos atrás, que resultou em uma estreita relação de amizade entre o próprio McAfee e um videomaker que anos depois voltou a captar em imagens, a loucura e o comportamento cheio de abusos do protagonista até ele ser preso na Espanha em outubro de 2020.
Um dos pioneiros da indústria da segurança digital, o criador do antivírus que até hoje ainda leva seu nome, se tornou milionário quando sua empresa foi vendida para a Intel em um negócio de US$ 7,6 bilhões. A partir daí, McAfee passou a viver no limite, com direito a envolvimento com drogas pesadas, álcool e prostituição - sua última esposa, inclusive, era prostituta. Porém a questão mais presente em "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" diz respeito a sua fuga de Belize para Guatemala quando foi acusado de assassinar seu vizinho, Gregory Faull, com um tiro na nuca - o crime, inclusive, que nunca foi solucionado. Essa passagem foi só o gatilho para as inúmeras paranóias (ou não) e teorias da conspiração que fizeram McAfee praticamente viver em águas internacionais com medo de ser morto.
Embora o documentário seja muito competente em explorar esse recorte específico, citando rapidamente outras polêmicas em que McAfee esteve envolvido, temos a sensação que o personagem merecia uma obra mais completa - talvez uma minissérie que se aprofundasse em temas como a derrocada de sua fortuna, os embates com a Intel para que a empresa desvinculasse o seu nome do antivírus, a pretensão de se tornar presidente dos EUA e os outros investimentos que ele fez em startups que foram mal sucedidas - o cara foi de antibióticos naturais à criptomoedas, para você ter uma ideia.
"John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" é um documentário dinâmico, bem construído e muito interessante - um mergulho no intimo de um personagem único e que foi capaz de transitar entre a genialidade e o caos com a mesma competência. Vale muito o seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.
No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.
Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!
Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.
Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.
Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.
Vale muito o seu play!
"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.
No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.
Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!
Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.
Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.
Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.
Vale muito o seu play!
Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar.
Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:
Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.
Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.
Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.
É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!
Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar.
Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:
Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.
Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.
Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.
É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!