"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Mesmo depois de obras profundamente impactantes como "O Crime do Século", "Prescrição Fatal" e "Dopesick", a Netflix já tinha mostrado uma certa predisposição em explorar ainda mais o assunto da crise dos opioides nos EUA em "Império da Dor". No entanto, e para surpresa de muitos, o tema ainda soa relevante para a audiência do streaming depois de tantas produções e foi nesse sentido que surgiu "Máfia da Dor" do talentoso diretor David Yates (de vários filmes da franquia "Harry Potter" e dos dois "Animais Fantásticos e Onde Habitam"). Aqui, especificamente, sai OxyContin, da Purdue e dos Sacklers, e entra John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil, o Subsys - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína. Isso mesmo, 50x!
Com uma pegada conceitual meio "O Lobo de Wall Street", "Máfia da Dor" conta a história de "redenção" de Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que ganhava a vida em uma boate como dançarina até encontrar com o representante de vendas de produtos farmacêuticos da Zanna, Pete Brenner (Chris Evans). É Brenner que coloca Drake em uma trajetória ascendente economicamente, mas de ética duvidosa, ao envolve-la em um perigoso esquema de extorsão, onde médicos eram premiados por receitar um opioide para o tratamento de câncer, para quem não tinha a doença, mas sentia algum tipo de dor. Afinal, "dor é dor"! Confira o trailer:
Se você já assistiu "Império da Dor" ou "Dopesick", provavelmente "Máfia da Dor" vai soar "mais do mesmo" - com outros personagens e em outro momento nessa linha temporal tão marcante (mais precisamente alguns anos após a queda da Purdue). Baseado em um artigo investigativo de 2018, escrito por Evan Hughes para o New York Times, o filme empresta vários elementos narrativos de uma história real para construir sua trama em forma de ficção. O excêntrico e germofóbico Jack Neel (um ótimo Andy Garcia) é uma versão mais requintada de John Kapoor, a Zanna representa a Insys, e o Subsys é o Lonafin. A partir daqui, mesmo mergulhando em um assunto dos mais sérios, preocupantes e impactantes da nossa era, o que encontramos na tela é mesmo um puro entretenimento pipoca (no bom sentido da expressão).
Yates escolhe e se apoia na simplicidade da sua narrativa para se fazer entender - algo que "Dopesick", por exemplo, exigia mais. Em "Máfia da Dor", Liza Drake (Emily Blunt) representa múltiplos pontos de vista do artigo original que, inclusive, chega a mencionar em seu texto o fato da Insys contratar uma “ex-dançarina exótica” como representante de vendas. Ela não deixa de ser uma "nova versão" de Britt Hufford de "Império da Dor" no que diz respeito a sua ambição e determinação - talvez só sem tanta ganância. De fato, e aqui é preciso pontuar, Blunt ao lado de Evans e de Garcia, representam de uma maneira bem inteligente o conjunto de banalidades de toda uma indústria farmacêutica que só trouxe sofrimento nesse século com seus opioides. O roteiro do estreante Wells Tower pontua as motivações desses personagens, mas por algum motivo procura eximi-los de suas responsabilidades - essa escolha tira a força do drama, mas também suaviza jornada. O que eu quero dizer é que, diferente de "Dopesick", você não vai se sentir tão impactado pela dor de quem sofreou com o vicio, pelo contrário, você vai até torcer pelo sucesso de Drake.
Depois de assistir tantos filmes, séries, documentários sobre o tema, é um fato que, embora tenha sido lançado só agora, "Máfia da Dor" seria uma ótima porta de entrada para o assunto ou, no mínimo, o que deveria ser assistido logo depois de "Império da Dor". Para deixar claro, as outras obras citadas acima, já entram em um outro nível de profundidade, de impacto visual e narrativo, deixando o entretenimento despretensioso bem distante do seu objetivo principal: um mergulho profundo na natureza humana, explorando temas como ganância, ética e as consequências devastadoras de algumas ações. Já aqui, podem acreditar, o tom é outro - e gostem ou não, entrega um bom programa para um dia chuvoso!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!
"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:
A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!
A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!
"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!
Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!
"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:
A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!
A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!
"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
"Manhunt: Unabomber" passou batido no seu lançamento, mas, se você gosta de investigação, essa série é imperdível! Produzida pelo Discovery e distribuído pela Netflix, a série acompanha Jim 'Fitz' Fitzgerald (Sam Worthington) desde sua chegada ao FBI para ajudar no caso que ficou conhecido como "Unabomber" - sua função (ou especialidade), digamos, era muito inusitada para os anos 90: linguística. A busca pelo terrorista era tão improdutiva até ali que o FBI precisou arriscar e recorrer à Fitz porém seus métodos e conhecimentos eram completamente desacreditados em um momento tão delicado como esse. Confira no trailer:
De fato fica muito fácil torcer para que as análises de Fitz apresentem resultados que façam os que o denegriram se envergonharem - a cada vitória de Fitz só aumenta nossa vontade de continuar assistindo, ainda mais sabendo que seu "adversário" tinha uma forma meticulosa de enviar suas mensagens!
Ted Kaczynski (Paul Bettany), foi um gênio que frequentou Harvard com apenas 16 anos e desenvolveu uma espécie de filosofia de vida que foi "eruditamente redigida e publicada". Na verdade, tudo que saia da boca de Ted precisava ser coerente perante as manipulações idealistas que ele mesmo propagava. As narrações que invocam trechos do manifesto de Ted na série, lembram muito os melhores momentos de "Seven" - sem demonizar essas ideias, apenas aproveitando para estudar o impacto que ela causaram nas pessoas que não estavam dispostas a explodir outras para se posicionar perante um determinado assunto!
Admito que não sou muito fã do protagonista (Sam Worthington), mas sua canastrice (no sentido profissional da palavra) não prejudicou sua performance na série. Aliás, séries de investigação/crime/terrorismo voltaram com tudo no final de 2017/2018, em um movimento, ou tendência, fácil de ser percebida e "Manhunt: Unabomber" é um ótimo exemplo de como o gênero conquista muita audiência se bem desenvolvido!
Pode dar o play tranquilamente que eu garanto!!!
Up-date: a segunda temporada, com outra história sobre o o mesmo assunto, já estreou nos EUA, mas ainda não tem data para chegar no Brasil. Ela pega carona no "O Caso Richard Jewell"que recentemente ganhou as telas pelas mãos do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray. Confira o trailer aqui!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
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"Memórias do 11 de Setembro" talvez tenha sido a série documental que melhor pontuou os ataques ao World Trade Center em Nova York, especificamente. Se a excelente dinâmica narrativa, focada nos olhos das pessoas que testemunharam os ataques com suas câmeras, de "11/9 - A Vida sob Ataque" me impressionou pela humanidade e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" trouxe um apanhado de informações e depoimentos que nos deu uma visão mais ampla sobre tudo que aconteceu naquele dia, posso te garantir que "9/11: One Day in America" (no original) é uma belíssima fusão desses dois conceitos.
Em colaboração com o "9/11 Memorial & Museum", essa série documental em seis episódios da National Geographic nos conduz por momentos angustiantes da manhã histórica de 11 de setembro de 2001 através de histórias, imagens e fotografias de quem esteve lá. São momentos tão emocionantes quanto impressionantes que valem cada segundo como se pode ter uma ideia já pelo trailer (em inglês), confira:
O Diretor Daniel Bogado (o mesmo do excelente "Bandidos na TV") não economiza nas cenas impactantes do terror que muitos personagens viveram e captaram há 20 anos atrás. São tantos ângulos e histórias que parecia até impossível que Bogado seria capaz de colocar tudo em uma linha do tempo e criar uma certa lógica narrativa para unir tantas pontas soltas - e é aqui que "9/11: One Day in America" se diferencia, pois a história é contada em depoimentos, mas a trama é construída com imagens que não só servem como apoio para a narrativa, mas também que se conecta exatamente por aquelas passagens no exato momento em que tudo acontece. Fico imaginando o quão difícil foi o trabalho de pesquisa e decupagem para encontrar os personagens dos depoimentos em tantas gravações, com tantas vítimas e em diversas fontes diferentes.
Em seis episódios, assistimos em detalhes tudo que aconteceu naquele dia de uma forma muito dinâmica graças a um roteiro excelente e uma montagem digna de muitos prêmios! A cada assunto, naturalmente surgem algumas dúvidas na nossa cabeça e é impressionante como a série responde todas elas e de uma forma que eu nunca tinha visto ou escutado falar - ou você sabia que o caças que foram designados para abater o voo 93 da United não estavam carregados com mísseis? Ok, então como eles derrubariam o avião? O documentário responde em depoimentos emocionantes!
São tanto elogios para essa produção que já o coloco entre um dos melhores do ano ao lado de "9/11: Inside the President's War Room" da Apple. Eu diria até que talvez tenhamos aqui o documentário com relatos mais interessantes e melhor ilustrados com imagens amadoras, além de cinematograficamente a série melhor finalizada - tecnicamente impecável! Reparem em dois elementos bem marcantes: na linda fotografia dos depoimentos e como os enquadramentos são cuidadosamente guiados pela emoção das pessoas; e no desenho de som que nos transporta exatamente para o local dos ataques e nos transmitem tanta angústia que chega a impressionar.
Olha, vale muito a pena mesmo! Imperdível!
"Memórias do 11 de Setembro" talvez tenha sido a série documental que melhor pontuou os ataques ao World Trade Center em Nova York, especificamente. Se a excelente dinâmica narrativa, focada nos olhos das pessoas que testemunharam os ataques com suas câmeras, de "11/9 - A Vida sob Ataque" me impressionou pela humanidade e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" trouxe um apanhado de informações e depoimentos que nos deu uma visão mais ampla sobre tudo que aconteceu naquele dia, posso te garantir que "9/11: One Day in America" (no original) é uma belíssima fusão desses dois conceitos.
Em colaboração com o "9/11 Memorial & Museum", essa série documental em seis episódios da National Geographic nos conduz por momentos angustiantes da manhã histórica de 11 de setembro de 2001 através de histórias, imagens e fotografias de quem esteve lá. São momentos tão emocionantes quanto impressionantes que valem cada segundo como se pode ter uma ideia já pelo trailer (em inglês), confira:
O Diretor Daniel Bogado (o mesmo do excelente "Bandidos na TV") não economiza nas cenas impactantes do terror que muitos personagens viveram e captaram há 20 anos atrás. São tantos ângulos e histórias que parecia até impossível que Bogado seria capaz de colocar tudo em uma linha do tempo e criar uma certa lógica narrativa para unir tantas pontas soltas - e é aqui que "9/11: One Day in America" se diferencia, pois a história é contada em depoimentos, mas a trama é construída com imagens que não só servem como apoio para a narrativa, mas também que se conecta exatamente por aquelas passagens no exato momento em que tudo acontece. Fico imaginando o quão difícil foi o trabalho de pesquisa e decupagem para encontrar os personagens dos depoimentos em tantas gravações, com tantas vítimas e em diversas fontes diferentes.
Em seis episódios, assistimos em detalhes tudo que aconteceu naquele dia de uma forma muito dinâmica graças a um roteiro excelente e uma montagem digna de muitos prêmios! A cada assunto, naturalmente surgem algumas dúvidas na nossa cabeça e é impressionante como a série responde todas elas e de uma forma que eu nunca tinha visto ou escutado falar - ou você sabia que o caças que foram designados para abater o voo 93 da United não estavam carregados com mísseis? Ok, então como eles derrubariam o avião? O documentário responde em depoimentos emocionantes!
São tanto elogios para essa produção que já o coloco entre um dos melhores do ano ao lado de "9/11: Inside the President's War Room" da Apple. Eu diria até que talvez tenhamos aqui o documentário com relatos mais interessantes e melhor ilustrados com imagens amadoras, além de cinematograficamente a série melhor finalizada - tecnicamente impecável! Reparem em dois elementos bem marcantes: na linda fotografia dos depoimentos e como os enquadramentos são cuidadosamente guiados pela emoção das pessoas; e no desenho de som que nos transporta exatamente para o local dos ataques e nos transmitem tanta angústia que chega a impressionar.
Olha, vale muito a pena mesmo! Imperdível!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).
Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:
Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.
Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.
Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história.
Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua".
“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.
Vale muito a pena!
“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).
Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:
Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.
Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.
Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história.
Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua".
“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.
Vale muito a pena!
Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!
Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:
Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa, "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).
Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.
"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.
Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais!
Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!
Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:
Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa, "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).
Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.
"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.
Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!