Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!
Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:
Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens - e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.
O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.
"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!
Vale seu play!
Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!
Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:
Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens - e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.
O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.
"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!
Vale seu play!
Na linha do excelente e imperdível "O Relatório", eu te garanto: é impossível você não se sentir impactado pelo que você vai assistir em "O Mauritano"! De fato você está diante de uma história realmente poderosa e inspiradora que ganha outra proporção por ser baseada em fatos reais - embora em muitos momentos temos a nítida sensação de que gostaríamos que aquela jornada fosse apenas uma ficção. Vencedor do Globo de Ouro de 2021 na categoria "Melhor Atriz Coadjuvante" para Jodie Foster e com cinco indicações ao BAFTA Awards do mesmo ano, esse filme é uma experiência transformadora que te fará questionar suas próprias convicções sobre a justiça, sobre a verdade e, essencialmente, sobre a legalidade das investigações pós 11 de setembro feitas pelos EUA.
Aqui, acompanhamos a história de Mohamedou Ould Slahi (Tahar Rahim) que, capturado em 2001 na Mauritânia, é acusado de ter ligações diretas com os ataques terroristas de 11 de Setembro. O problema é que ele nunca foi formalmente indiciado ou julgado pelos seus supostos crimes. Durante anos ele foi torturado física e psicologicamente, mas nunca perdeu a esperança de ser libertado até que sua única chance de justiça vem da advogada Nancy Hollander (Jodie Foster), que se dedica incansavelmente para provar sua inocência. Confira ao trailer:
Dirigido pelo talentoso Kevin Macdonald (de "O Último Rei da Escócia"), o filme tece um retrato visceral e comovente da terrível experiência de Slahi na prisão de Guantánamo, em Cuba - experiência que inclusive, rendeu um livro chamado “O Diário de Guantánamo”, baseado nas cartas que ele mesmo escrevia para sua advogada. O roteiro do Michael Bronner (de "Vôo United 93") com colaboração do Rory Haines e do Sohrab Noshirvani (ambos de "Adão Negro") é muito inteligente em humanizar seu protagonista logo de cara - gerando uma imediata empatia com a audiência, mesmo com alguns planos que ainda coloque em dúvida sua inocência. Porém, com o tempo, vamos entendendo que "O Mauritano" não se trata de um filme investigativo ou de tribunal, mas sim um filme que serve como relato histórico do que Slahi vivenciou quando estava preso e quando precisava lidar com as tão famosas “táticas avançadas” - nome dado para tortura sancionada pelo governo Bush.
A fotografia austera do Alwin H. Küchle (de "Tetris") chega a ser cruel ao retratar com incrível realismo os resultados de espancamentos, privações de sono, afogamentos, humilhação sexual e até as torturas psicológicas que Slahi viveu - a ameaça de que sua mãe seria capturada e estuprada por soldados americanos é de cortar o coração sem a menor dó. E aqui dois pontos merecem destaque: primeiro o trabalho do elenco principal - Tahar Rahim entrega uma performance impecável, transmitindo a força interior e a resiliência de Slahi ao mesmo tempo que Jodie Foster brilha como uma obstinada advogada que luta contra um sistema implacável do seu próprio país. Embora com uma pequena participação, a performance de Benedict Cumberbatch também não passa despercebida. O segundo ponto, sem dúvida, está na qualidade do desenho de som (e da mixagem da trilha sonora) - repare como ele cria uma atmosfera melancólica de tensão e claustrofobia impressionante!
Em suma, "O Mauritano" é mais que um filme importante e necessário, é um lembrete urgente dos perigos do extremismo ideológico e da fragilidade dos direitos humanos. O terceiro ato não só confirma todas essas falhas, como expõe o que há de mais terrível na relação humana com o poder. Mesmo que artisticamente o filme esteja longe de ser diferenciado, sem dúvida que sua veracidade reforça o papel do cinema em criar filmes com o poder de chocar enquanto documenta a história para ser eternizada. Essa história merecia e precisava ser conhecida e eternizada - é mínimo que a humanidade poderia devolver para Mahammedou Slahi.
Vale seu play e não deixem de ver os créditos quando os verdadeiros personagens se encontram.
Na linha do excelente e imperdível "O Relatório", eu te garanto: é impossível você não se sentir impactado pelo que você vai assistir em "O Mauritano"! De fato você está diante de uma história realmente poderosa e inspiradora que ganha outra proporção por ser baseada em fatos reais - embora em muitos momentos temos a nítida sensação de que gostaríamos que aquela jornada fosse apenas uma ficção. Vencedor do Globo de Ouro de 2021 na categoria "Melhor Atriz Coadjuvante" para Jodie Foster e com cinco indicações ao BAFTA Awards do mesmo ano, esse filme é uma experiência transformadora que te fará questionar suas próprias convicções sobre a justiça, sobre a verdade e, essencialmente, sobre a legalidade das investigações pós 11 de setembro feitas pelos EUA.
Aqui, acompanhamos a história de Mohamedou Ould Slahi (Tahar Rahim) que, capturado em 2001 na Mauritânia, é acusado de ter ligações diretas com os ataques terroristas de 11 de Setembro. O problema é que ele nunca foi formalmente indiciado ou julgado pelos seus supostos crimes. Durante anos ele foi torturado física e psicologicamente, mas nunca perdeu a esperança de ser libertado até que sua única chance de justiça vem da advogada Nancy Hollander (Jodie Foster), que se dedica incansavelmente para provar sua inocência. Confira ao trailer:
Dirigido pelo talentoso Kevin Macdonald (de "O Último Rei da Escócia"), o filme tece um retrato visceral e comovente da terrível experiência de Slahi na prisão de Guantánamo, em Cuba - experiência que inclusive, rendeu um livro chamado “O Diário de Guantánamo”, baseado nas cartas que ele mesmo escrevia para sua advogada. O roteiro do Michael Bronner (de "Vôo United 93") com colaboração do Rory Haines e do Sohrab Noshirvani (ambos de "Adão Negro") é muito inteligente em humanizar seu protagonista logo de cara - gerando uma imediata empatia com a audiência, mesmo com alguns planos que ainda coloque em dúvida sua inocência. Porém, com o tempo, vamos entendendo que "O Mauritano" não se trata de um filme investigativo ou de tribunal, mas sim um filme que serve como relato histórico do que Slahi vivenciou quando estava preso e quando precisava lidar com as tão famosas “táticas avançadas” - nome dado para tortura sancionada pelo governo Bush.
A fotografia austera do Alwin H. Küchle (de "Tetris") chega a ser cruel ao retratar com incrível realismo os resultados de espancamentos, privações de sono, afogamentos, humilhação sexual e até as torturas psicológicas que Slahi viveu - a ameaça de que sua mãe seria capturada e estuprada por soldados americanos é de cortar o coração sem a menor dó. E aqui dois pontos merecem destaque: primeiro o trabalho do elenco principal - Tahar Rahim entrega uma performance impecável, transmitindo a força interior e a resiliência de Slahi ao mesmo tempo que Jodie Foster brilha como uma obstinada advogada que luta contra um sistema implacável do seu próprio país. Embora com uma pequena participação, a performance de Benedict Cumberbatch também não passa despercebida. O segundo ponto, sem dúvida, está na qualidade do desenho de som (e da mixagem da trilha sonora) - repare como ele cria uma atmosfera melancólica de tensão e claustrofobia impressionante!
Em suma, "O Mauritano" é mais que um filme importante e necessário, é um lembrete urgente dos perigos do extremismo ideológico e da fragilidade dos direitos humanos. O terceiro ato não só confirma todas essas falhas, como expõe o que há de mais terrível na relação humana com o poder. Mesmo que artisticamente o filme esteja longe de ser diferenciado, sem dúvida que sua veracidade reforça o papel do cinema em criar filmes com o poder de chocar enquanto documenta a história para ser eternizada. Essa história merecia e precisava ser conhecida e eternizada - é mínimo que a humanidade poderia devolver para Mahammedou Slahi.
Vale seu play e não deixem de ver os créditos quando os verdadeiros personagens se encontram.
"O Menino que Descobriu o Vento", produção da BBC e distribuição da Netflix, é um filme que realmente mexe com a gente... Fato! É uma história incrível, com um protagonista muito carismático que abraça sua jornada até seu êxito com muita resiliência, força de vontade e foco - e por ser uma história real, isso ainda ganha o peso da veracidade e nos provoca a experienciar aquele universo como se estivéssemos lá! Sem falar que nos faz enxergar nossa realidade com outros olhos - talvez seja esse o grande mérito do filme! Ele cumpre esse papel muito bem!!! Ponto!
Imagine que um garoto da República do Malawi, cercado de miséria, sem poder frequentar a escola por falta de dinheiro, sem o conhecimento científico e técnico, foi capaz de encontrar uma solução que mudaria a expectativa de vida da sua família e de toda uma comunidade, apoiado "apenas" na sua própria capacidade e na vontade de aprender por conta própria aquilo que se recusavam a ensinar! Sem falar na pressão, no medo de falhar e na responsabilidade de assumir, tão jovem, que essa derradeira tentativa de sobreviver poderia dar errado! É de levantar e aplaudir, pois, por todos os lados, ele só se encontrava dificuldade e isso nunca o abalava!
"O Menino que Descobriu o Vento" é um ótimo filme, com uma fotografia linda do experiente Dick Pope (duas vezes indicado ao Oscar) e o mérito de nos envolver com aquela jornada rapidamente! Chiwetel Ejiofor e Aïssa Maïga (pais do garoto) dão um show! Aïssa Maïga, guardem esse nome, merece um caminhão de prêmios por essa atuação - ela está impecável! É possível sentir sua dor só com seu olhar, com seu silêncio! Um show! O garoto, Maxwell Simba, também merece destaque. É seu primeiro filme e não me surpreenderia se ganhasse alguma indicação importante na próxima temporada de premiações.
Minha única critica é com a direção do, debutante na função, Chiwetel Ejiofor - não prejudica, não compromete, mas é impossível não pensar nessa história sendo contada por um grande diretor e, por incrível que pareça, me vinham dois nomes na cabeça: Steven Spielberg e Steve McQueen - certamente esse filme iria para outro patamar, patamar de Oscar, porque a história é sensacional! O roteiro, adaptado pelo Ejiofor, também não é ruim, mas poderia ser melhor - tem um 3º ato muito curto, ou seja, por mais que a jornada tenha sido longa, parece que a resolução é muito simples e rápida. Mais uma vez: nem a direção, nem o roteiro, prejudicam a experiência, mas a sensação que o filme poderia estar em outro nível, isso não dá para esconder!
Vale o play? Com a mais absoluta certeza! Filme feito para emocionar e para aquela reflexão "pós crédito"!
"O Menino que Descobriu o Vento", produção da BBC e distribuição da Netflix, é um filme que realmente mexe com a gente... Fato! É uma história incrível, com um protagonista muito carismático que abraça sua jornada até seu êxito com muita resiliência, força de vontade e foco - e por ser uma história real, isso ainda ganha o peso da veracidade e nos provoca a experienciar aquele universo como se estivéssemos lá! Sem falar que nos faz enxergar nossa realidade com outros olhos - talvez seja esse o grande mérito do filme! Ele cumpre esse papel muito bem!!! Ponto!
Imagine que um garoto da República do Malawi, cercado de miséria, sem poder frequentar a escola por falta de dinheiro, sem o conhecimento científico e técnico, foi capaz de encontrar uma solução que mudaria a expectativa de vida da sua família e de toda uma comunidade, apoiado "apenas" na sua própria capacidade e na vontade de aprender por conta própria aquilo que se recusavam a ensinar! Sem falar na pressão, no medo de falhar e na responsabilidade de assumir, tão jovem, que essa derradeira tentativa de sobreviver poderia dar errado! É de levantar e aplaudir, pois, por todos os lados, ele só se encontrava dificuldade e isso nunca o abalava!
"O Menino que Descobriu o Vento" é um ótimo filme, com uma fotografia linda do experiente Dick Pope (duas vezes indicado ao Oscar) e o mérito de nos envolver com aquela jornada rapidamente! Chiwetel Ejiofor e Aïssa Maïga (pais do garoto) dão um show! Aïssa Maïga, guardem esse nome, merece um caminhão de prêmios por essa atuação - ela está impecável! É possível sentir sua dor só com seu olhar, com seu silêncio! Um show! O garoto, Maxwell Simba, também merece destaque. É seu primeiro filme e não me surpreenderia se ganhasse alguma indicação importante na próxima temporada de premiações.
Minha única critica é com a direção do, debutante na função, Chiwetel Ejiofor - não prejudica, não compromete, mas é impossível não pensar nessa história sendo contada por um grande diretor e, por incrível que pareça, me vinham dois nomes na cabeça: Steven Spielberg e Steve McQueen - certamente esse filme iria para outro patamar, patamar de Oscar, porque a história é sensacional! O roteiro, adaptado pelo Ejiofor, também não é ruim, mas poderia ser melhor - tem um 3º ato muito curto, ou seja, por mais que a jornada tenha sido longa, parece que a resolução é muito simples e rápida. Mais uma vez: nem a direção, nem o roteiro, prejudicam a experiência, mas a sensação que o filme poderia estar em outro nível, isso não dá para esconder!
Vale o play? Com a mais absoluta certeza! Filme feito para emocionar e para aquela reflexão "pós crédito"!
As vezes eu tenho a nítida impressão que até a Netflix se perde dentro do seu sistema de produção e divulgação de conteúdo, deixando títulos excelentes de lado para priorizar aquilo que é, digamos, bem mais duvidoso. Feita essa observação inicial, é impossível não citar a qualidade narrativa e visual de "O Milagre", adaptação do livro homônimo de Emma Donoghue, brilhantemente dirigido pelo chileno Sebastián Lelio (de "Uma Mulher Fantástica"). Embora cadenciado e sem a menor pressa de conectar as pontas soltas, o filme é um drama denso, envolvente e, principalmente, provocador quando usa da metalinguagem para questionar as histórias e crenças enquanto expõe a miopia parental de lidar com fatos extremos através do fundamentalismo - é de embrulhar o estômago.
Na Irlanda de 1862, uma jovem de 11 anos para de comer por 4 meses, mas permanece milagrosamente viva e razoavelmente bem de saúde, chamando a atenção de toda comunidade e de jornalistas mundo afora. A enfermeira inglesa Lib Wright (Florence Pugh) é então chamada para observar Anna O'Donnell (Kíla Lord Cassidy) e assim tentar entender o que está acontecendo e provar a veracidade dos fatos. Nesse drama psicológico, o grande mistério gira em torno de uma aldeia extremamente religiosa que acredita estar abrigando uma santa - ou mistérios mais sinistros do que parecem. Confira o trailer:
Adaptado pelo próprio Lelio ao lado Alice Birch (do ótimo "Normal People"), o roteiro de "O Milagre" é extremamente feliz ao equilibrar alguns elementos narrativos que pontuam assuntos espinhosos como "fé" e "ceticismo", transportando temas tão atuais para um universo quase figurado do século XIX em um período marcado pela "Grande Fome". Aliás, essa ligação entre a forma e o conteúdo com que observamos determinados temas ao longo do tempo, cria um verdadeiro embate emocional na história do filme, permitindo ao diretor se aproveitar de uma proposta curiosa (que se inicia no prólogo) para nos convidar a embarcar em uma jornada aparentemente real, mas com claros ares de ficção, como se procurasse nos detalhes, o nosso julgamento ideológico que se encerra em um epílogo muito criativo onde uma pergunta parece martelar nossa cabeça: estamos "dentro" (in) ou "fora" (out) daquilo tudo?
O filme é uma pintura, o que naturalmente contrasta com o peso da narrativa e das introspectivas performances de Pugh e Cassidy. A diretora de fotografia Ari Wegner (indicada ao Oscar por "Ataque dos Cães"), se aproveita das belas locações, bem como do desenho de produção digno de prêmios, para construir planos lindos e sensivelmente profundos - sem exagero, lembra muito o elogiado trabalho de Claire Mathon em "Retrato de uma Jovem em Chamas" de 2019. Esse esmero visual funciona tão bem para narrativa que Lelio chega a dar um leve toque de Robert Eggers (de "A Bruxa") para a trama, criando uma a sensação permanente de desconforto apoiado em um quase insuportável grunhido de cordas e de sons da natureza do compositor Matthew Herbert.
Inexplicavelmente esquecido no Oscar 2023, "O Milagre" foi indicado na categoria "Melhor Filme" no BAFTA - chancelando a qualidade técnica e artística da produção da Netflix que, sem a menor sombra de dúvidas, consegue entregar um drama da melhor qualidade e poderoso para aqueles dispostos a refletir sobre temas que vão além do que é mostrado nas telas, mas que de alguma maneira fazem parte de nossa percepção de como enxergamos o mundo - mesmo que em outra realidade.
Vale muito o seu play!
As vezes eu tenho a nítida impressão que até a Netflix se perde dentro do seu sistema de produção e divulgação de conteúdo, deixando títulos excelentes de lado para priorizar aquilo que é, digamos, bem mais duvidoso. Feita essa observação inicial, é impossível não citar a qualidade narrativa e visual de "O Milagre", adaptação do livro homônimo de Emma Donoghue, brilhantemente dirigido pelo chileno Sebastián Lelio (de "Uma Mulher Fantástica"). Embora cadenciado e sem a menor pressa de conectar as pontas soltas, o filme é um drama denso, envolvente e, principalmente, provocador quando usa da metalinguagem para questionar as histórias e crenças enquanto expõe a miopia parental de lidar com fatos extremos através do fundamentalismo - é de embrulhar o estômago.
Na Irlanda de 1862, uma jovem de 11 anos para de comer por 4 meses, mas permanece milagrosamente viva e razoavelmente bem de saúde, chamando a atenção de toda comunidade e de jornalistas mundo afora. A enfermeira inglesa Lib Wright (Florence Pugh) é então chamada para observar Anna O'Donnell (Kíla Lord Cassidy) e assim tentar entender o que está acontecendo e provar a veracidade dos fatos. Nesse drama psicológico, o grande mistério gira em torno de uma aldeia extremamente religiosa que acredita estar abrigando uma santa - ou mistérios mais sinistros do que parecem. Confira o trailer:
Adaptado pelo próprio Lelio ao lado Alice Birch (do ótimo "Normal People"), o roteiro de "O Milagre" é extremamente feliz ao equilibrar alguns elementos narrativos que pontuam assuntos espinhosos como "fé" e "ceticismo", transportando temas tão atuais para um universo quase figurado do século XIX em um período marcado pela "Grande Fome". Aliás, essa ligação entre a forma e o conteúdo com que observamos determinados temas ao longo do tempo, cria um verdadeiro embate emocional na história do filme, permitindo ao diretor se aproveitar de uma proposta curiosa (que se inicia no prólogo) para nos convidar a embarcar em uma jornada aparentemente real, mas com claros ares de ficção, como se procurasse nos detalhes, o nosso julgamento ideológico que se encerra em um epílogo muito criativo onde uma pergunta parece martelar nossa cabeça: estamos "dentro" (in) ou "fora" (out) daquilo tudo?
O filme é uma pintura, o que naturalmente contrasta com o peso da narrativa e das introspectivas performances de Pugh e Cassidy. A diretora de fotografia Ari Wegner (indicada ao Oscar por "Ataque dos Cães"), se aproveita das belas locações, bem como do desenho de produção digno de prêmios, para construir planos lindos e sensivelmente profundos - sem exagero, lembra muito o elogiado trabalho de Claire Mathon em "Retrato de uma Jovem em Chamas" de 2019. Esse esmero visual funciona tão bem para narrativa que Lelio chega a dar um leve toque de Robert Eggers (de "A Bruxa") para a trama, criando uma a sensação permanente de desconforto apoiado em um quase insuportável grunhido de cordas e de sons da natureza do compositor Matthew Herbert.
Inexplicavelmente esquecido no Oscar 2023, "O Milagre" foi indicado na categoria "Melhor Filme" no BAFTA - chancelando a qualidade técnica e artística da produção da Netflix que, sem a menor sombra de dúvidas, consegue entregar um drama da melhor qualidade e poderoso para aqueles dispostos a refletir sobre temas que vão além do que é mostrado nas telas, mas que de alguma maneira fazem parte de nossa percepção de como enxergamos o mundo - mesmo que em outra realidade.
Vale muito o seu play!
Talvez o maior mérito de "O Milagre na Cela 7" seja estabelecer um vínculo emocional imediato com quem assiste, usando três elementos narrativos imbatíveis: uma criança, um pai autista e a injustiça! É impossível desvincular o sucesso dessa adaptação turca de um filme coreano de 2013, do poder que uma plataforma de streaming tem de alcançar um público certeiro e depois democratizar várias formas de dramaturgia - explicarei essa afirmação um pouco mais abaixo, já que esse é o tipo de filme que exige uma análise cuidadosa.
"O Milagre na Cela 7" conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai autista que vive em um pequeno vilarejo da Turquia com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Muito ingênuo e amável, Memo sempre foi muito querido por todos, mas sua vida muda completamente quando ele se envolve em um acidente que mata a filha de um importante tenente do exército turco (Yurdaer Okur). Acusado injustamente de assassinato e supostamente sem elementos para provar sua inocência, Memo é encaminhado para uma prisão enquanto aguarda o momento de sua execução de pena de morte. Confira o trailer:
Como é possível perceber pelo trailer, o roteiro constrói uma jornada extremamente sensível do ponto de vista de uma criança que não tem a menor noção da gravidade de uma acusação como a que o pai está sofrendo, ao mesmo tempo que o pai também não consegue entender aquela injusta realidade graças a sua condição - aliás, sua interpretação sobre o que está vivendo na prisão nos faz lembrar muito do conceito narrativo de "A Vida é Bela" (1997). Essa dinâmica, de fato, nos coloca dentro do filme durante duas horas, com muita leveza e pontuando alguns aspectos religiosos que humanizam os personagens e levantam questões tão atuais como culpa, perdão e com que olhos enxergamos isso tudo! Eu diria que o filme vale o play pela história, pela mensagem, mas para uma audiência com um olhar mais técnico, o filme não deve agradar!
Vamos lá, o diretor Mehmet Ada Öztekin entregou um filme, mas parecia que estava dirigindo uma novela. E aqui cabe uma observação importante: não por acaso a Turquia se tornou um grande exportador de novelas desde 2013 (algumas com grande sucesso no Brasil, inclusive) e "O Milagre na Cela 7" segue exatamente aquela linguagem. A Turquia é uma espécie de "México da Europa" no que diz respeito a qualidade de produção e dramaturgia - os atores são exagerados, a fotografia interna é falsa, os movimentos de câmera, na sua grande maioria, sem muito propósito e o desenho de produção é completamente fora da realidade.Isso é um problema? Claro que não, desde que você não se apegue ao trailer e a esse tipo de detalhe mais técnico; e foque no que mais te interessa: a história!
Dito isso, é natural que "O Milagre na Cela 7" agrade muita gente, da mesma forma que "A Cabana"agradou - em vários aspectos os filmes são similares, com uma história muito interessante, emocionante e que te prende do começo ao fim, mas sem um cuidado técnico e artístico que justifique voos mais altos. Eu indico o filme, é uma ótima "Sessão da Tarde", entretenimento despretensioso que vai mexer com suas emoções, mas dê o play sabendo das suas imitações para não se decepcionar!
Talvez o maior mérito de "O Milagre na Cela 7" seja estabelecer um vínculo emocional imediato com quem assiste, usando três elementos narrativos imbatíveis: uma criança, um pai autista e a injustiça! É impossível desvincular o sucesso dessa adaptação turca de um filme coreano de 2013, do poder que uma plataforma de streaming tem de alcançar um público certeiro e depois democratizar várias formas de dramaturgia - explicarei essa afirmação um pouco mais abaixo, já que esse é o tipo de filme que exige uma análise cuidadosa.
"O Milagre na Cela 7" conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai autista que vive em um pequeno vilarejo da Turquia com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Muito ingênuo e amável, Memo sempre foi muito querido por todos, mas sua vida muda completamente quando ele se envolve em um acidente que mata a filha de um importante tenente do exército turco (Yurdaer Okur). Acusado injustamente de assassinato e supostamente sem elementos para provar sua inocência, Memo é encaminhado para uma prisão enquanto aguarda o momento de sua execução de pena de morte. Confira o trailer:
Como é possível perceber pelo trailer, o roteiro constrói uma jornada extremamente sensível do ponto de vista de uma criança que não tem a menor noção da gravidade de uma acusação como a que o pai está sofrendo, ao mesmo tempo que o pai também não consegue entender aquela injusta realidade graças a sua condição - aliás, sua interpretação sobre o que está vivendo na prisão nos faz lembrar muito do conceito narrativo de "A Vida é Bela" (1997). Essa dinâmica, de fato, nos coloca dentro do filme durante duas horas, com muita leveza e pontuando alguns aspectos religiosos que humanizam os personagens e levantam questões tão atuais como culpa, perdão e com que olhos enxergamos isso tudo! Eu diria que o filme vale o play pela história, pela mensagem, mas para uma audiência com um olhar mais técnico, o filme não deve agradar!
Vamos lá, o diretor Mehmet Ada Öztekin entregou um filme, mas parecia que estava dirigindo uma novela. E aqui cabe uma observação importante: não por acaso a Turquia se tornou um grande exportador de novelas desde 2013 (algumas com grande sucesso no Brasil, inclusive) e "O Milagre na Cela 7" segue exatamente aquela linguagem. A Turquia é uma espécie de "México da Europa" no que diz respeito a qualidade de produção e dramaturgia - os atores são exagerados, a fotografia interna é falsa, os movimentos de câmera, na sua grande maioria, sem muito propósito e o desenho de produção é completamente fora da realidade.Isso é um problema? Claro que não, desde que você não se apegue ao trailer e a esse tipo de detalhe mais técnico; e foque no que mais te interessa: a história!
Dito isso, é natural que "O Milagre na Cela 7" agrade muita gente, da mesma forma que "A Cabana"agradou - em vários aspectos os filmes são similares, com uma história muito interessante, emocionante e que te prende do começo ao fim, mas sem um cuidado técnico e artístico que justifique voos mais altos. Eu indico o filme, é uma ótima "Sessão da Tarde", entretenimento despretensioso que vai mexer com suas emoções, mas dê o play sabendo das suas imitações para não se decepcionar!
"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante, para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80! Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!
O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:
O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis.
Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.
Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido).
Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?
"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante, para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80! Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!
O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:
O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis.
Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.
Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido).
Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?
Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!
"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!
Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.
Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!
Vale muito o seu play! Só vai!
Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!
"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!
Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.
Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!
Vale muito o seu play! Só vai!
"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
Eu sou suspeito para falar sobre o diretor iraniano AsgharFarhadi, mas como eu já havia comentado no review de "O apartamento", ele é daqueles poucos diretores que temos a certeza que sempre entregará um grande filme! Ele tem uma sensibilidade para falar sobre as relações humanas impressionante, especialmente entre casais, e ao mesmo tempo construir uma atmosfera de mistério que não necessariamente existe, mas que ao criarmos a expectativa sobre o "algo mais", ele simplesmente junta as peças e nos entrega o óbvio propositalmente - provando que a vida é cheia de segredos, mas que as respostas são as mais simples possíveis, basta ter coragem para encará-las.
"O Passado" mostra a ruína de uma relação entre um marido iraniano e sua esposa francesa, vivendo na Europa. Após quatro anos de separação, Ahmad (Ali Mosaffa) retorna a Paris, vindo de Teerã, a pedido da ex-mulher, Marie (Bérénice Bejo), para finalizar o processo do divórcio. Durante sua rápida estadia, Ahmad nota a conflituosa relação entre Marie e sua filha Lucie (Pauline Burlet). Os esforços de Ahmad para melhorar esse relacionamento acabam revelando muitos segredos e a cada embate os fantasmas do passado retornam ainda com mais força. Confira o trailer:
Tecnicamente perfeito - da Fotografia à Direção de Arte, o filme inteiro se apoia em um roteiro excelente. É incrível como os diálogos, mesmo longos, são bem construídos. Reparem como eles criam uma atmosfera de constrangimento e desencontros, tão palpável e natural se olharmos pelo ponto de vista das relações - seja elas quais forem! Farhadi mostra perfeitamente como é complicado lidar com relações disfuncionais: o futuro marido que sente inseguro com a presença do ex, a esposa que não consegue lidar com as escolhas de todos os homens que passaram pela sua vida, a filha adolescente que não consegue se comunicar com a mãe e olhem que interessante: como as crianças enxergam todos esses conflitos e sofrem por estar em um ambiente tão caótico emocionalmente. Sério, é um aula de atuação de todo elenco - especialmente de Bérénice Bejo que, inclusive, ganhou na categoria "Melhor Atriz" no Festival de Cannes em 2013.
Se para alguns o filme pode parecer cansativo, afinal muitas cenas parecem durar tempo demais, pode ter a mais absoluta certeza: ela é necessária para a total compreensão da história. Dentro do conceito narrativo de Asghar Farhadi (que mais uma vez também assina o roteiro) nenhum personagem ou situação é desperdiçada, todos e tudo cumprem suas funções com o único objetivo: nos provocar emocionalmente e criar sensações bem desconfortáveis - o próprio cenário, a casa da Marie, em reforma, sempre bagunçada e cheia de problemas, onde 70% do filme acontece, é quase uma metáfora de sua vida e nos dá uma agonia absurda.
De fato a cinematografia de Farhadi não agrada a todos e é compreensível, mas para aqueles dispostos a mergulhar nas camadas mais profundas dos personagens - que parecem simples, mas carregam uma complexidade inerente ao ser humano, olha, "Le passé" (no original) é outro filme imperdível desse talentoso e premiado cineasta!
Vale muito seu play!
Eu sou suspeito para falar sobre o diretor iraniano AsgharFarhadi, mas como eu já havia comentado no review de "O apartamento", ele é daqueles poucos diretores que temos a certeza que sempre entregará um grande filme! Ele tem uma sensibilidade para falar sobre as relações humanas impressionante, especialmente entre casais, e ao mesmo tempo construir uma atmosfera de mistério que não necessariamente existe, mas que ao criarmos a expectativa sobre o "algo mais", ele simplesmente junta as peças e nos entrega o óbvio propositalmente - provando que a vida é cheia de segredos, mas que as respostas são as mais simples possíveis, basta ter coragem para encará-las.
"O Passado" mostra a ruína de uma relação entre um marido iraniano e sua esposa francesa, vivendo na Europa. Após quatro anos de separação, Ahmad (Ali Mosaffa) retorna a Paris, vindo de Teerã, a pedido da ex-mulher, Marie (Bérénice Bejo), para finalizar o processo do divórcio. Durante sua rápida estadia, Ahmad nota a conflituosa relação entre Marie e sua filha Lucie (Pauline Burlet). Os esforços de Ahmad para melhorar esse relacionamento acabam revelando muitos segredos e a cada embate os fantasmas do passado retornam ainda com mais força. Confira o trailer:
Tecnicamente perfeito - da Fotografia à Direção de Arte, o filme inteiro se apoia em um roteiro excelente. É incrível como os diálogos, mesmo longos, são bem construídos. Reparem como eles criam uma atmosfera de constrangimento e desencontros, tão palpável e natural se olharmos pelo ponto de vista das relações - seja elas quais forem! Farhadi mostra perfeitamente como é complicado lidar com relações disfuncionais: o futuro marido que sente inseguro com a presença do ex, a esposa que não consegue lidar com as escolhas de todos os homens que passaram pela sua vida, a filha adolescente que não consegue se comunicar com a mãe e olhem que interessante: como as crianças enxergam todos esses conflitos e sofrem por estar em um ambiente tão caótico emocionalmente. Sério, é um aula de atuação de todo elenco - especialmente de Bérénice Bejo que, inclusive, ganhou na categoria "Melhor Atriz" no Festival de Cannes em 2013.
Se para alguns o filme pode parecer cansativo, afinal muitas cenas parecem durar tempo demais, pode ter a mais absoluta certeza: ela é necessária para a total compreensão da história. Dentro do conceito narrativo de Asghar Farhadi (que mais uma vez também assina o roteiro) nenhum personagem ou situação é desperdiçada, todos e tudo cumprem suas funções com o único objetivo: nos provocar emocionalmente e criar sensações bem desconfortáveis - o próprio cenário, a casa da Marie, em reforma, sempre bagunçada e cheia de problemas, onde 70% do filme acontece, é quase uma metáfora de sua vida e nos dá uma agonia absurda.
De fato a cinematografia de Farhadi não agrada a todos e é compreensível, mas para aqueles dispostos a mergulhar nas camadas mais profundas dos personagens - que parecem simples, mas carregam uma complexidade inerente ao ser humano, olha, "Le passé" (no original) é outro filme imperdível desse talentoso e premiado cineasta!
Vale muito seu play!
"O Pintassilgo" chegou com a pretensão de disputar prêmios importantes em 2019/2020, porém, mesmo sendo um bom entretenimento, sua expectativa não foi nem um pouco alcançada e, para mim, o principal problema está no seu roteiro e na falta de identidade que a história carrega por mais de duas horas. O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por uma autora americana chamada Donna Tartt que, inclusive, lhe rendeu o prêmio Pulitzer de ficção em 2014 e a Medalha Andrew Carnegie de Excelência em Ficção no mesmo ano.
A história acompanha a jornada do personagem Theodore Decker (Oakes Fegley/Ansel Elgort), um garoto de 13 anos que perde a mãe em um ataque terrorista no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Esse acontecimento impacta para sempre a vida do jovem, porém o elo emocional estabelecido na época do atentado que sobrevive ao tempo (e não sabemos exatamente a razão, mas desconfiamos) é um quadro que estava exposto no museu, “O Pintassilgo“, e que Theodore é incentivado por um desconhecido a levar consigo antes que as autoridades chegassem ao local. Confira o trailer:
Muito mais que um drama profundo, cheio de camadas, que o trailer sugere e que o livro, provavelmente, deve entregar, essa adaptação de "O Pintassilgo" foca no reflexo que o atentado gerou na vida do protagonista e na sua busca pela paz interior através do tempo, mas de uma forma superficial e até atrapalhada. Por se tratar de uma jornada de vida, muitas histórias são desenvolvidas paralelamente, fica impossível conectá-las de uma maneira orgânica e equilibrada, mesmo com o esforço da montadora Kelley Dixon - que notavelmente conhece essa gramática de misturar presente com passado por ter trabalhado em nada mais, nada menos do que "Breaking Bad" e "Better Call Saul".
De fato, o filme não é ruim, eu diria que é até bom, com ótimos momentos - um pouco mais dramáticos no primeiro ato, mais adolescente no segundo e quase um thriller nórdico no terceiro; mas é a falta de unidade entre esses três atos que pode incomodar um pouco se você busca um drama mais existencial e com uma narrativa mais equilibrada como "Em Pedaços", por exemplo. Tecnicamente o filme também é muito bem realizado, tendo o talentoso diretor John Crowley (vencedor do BAFTA em 2016 com "Brooklyn" e em 2007 com "Boy A") no comando e o sensacional diretor de fotografia, multi-premiado (14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" e "1917"), Roger Deakins, ao seu lado - reparem na belíssima cena em que Theodore está no balanço com seu amigo Boris (Finn Wolfhard)! No elenco Nicole Kidman e Jeffrey Wright sempre competentes, mesmo com personagens secundários e, claro, Finn Wolfhard e Oakes Fegley dão um show.
Olha, sinceramente, vale pelo entretenimento, por ótimas atuações e por um história que é boa.
"O Pintassilgo" chegou com a pretensão de disputar prêmios importantes em 2019/2020, porém, mesmo sendo um bom entretenimento, sua expectativa não foi nem um pouco alcançada e, para mim, o principal problema está no seu roteiro e na falta de identidade que a história carrega por mais de duas horas. O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por uma autora americana chamada Donna Tartt que, inclusive, lhe rendeu o prêmio Pulitzer de ficção em 2014 e a Medalha Andrew Carnegie de Excelência em Ficção no mesmo ano.
A história acompanha a jornada do personagem Theodore Decker (Oakes Fegley/Ansel Elgort), um garoto de 13 anos que perde a mãe em um ataque terrorista no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Esse acontecimento impacta para sempre a vida do jovem, porém o elo emocional estabelecido na época do atentado que sobrevive ao tempo (e não sabemos exatamente a razão, mas desconfiamos) é um quadro que estava exposto no museu, “O Pintassilgo“, e que Theodore é incentivado por um desconhecido a levar consigo antes que as autoridades chegassem ao local. Confira o trailer:
Muito mais que um drama profundo, cheio de camadas, que o trailer sugere e que o livro, provavelmente, deve entregar, essa adaptação de "O Pintassilgo" foca no reflexo que o atentado gerou na vida do protagonista e na sua busca pela paz interior através do tempo, mas de uma forma superficial e até atrapalhada. Por se tratar de uma jornada de vida, muitas histórias são desenvolvidas paralelamente, fica impossível conectá-las de uma maneira orgânica e equilibrada, mesmo com o esforço da montadora Kelley Dixon - que notavelmente conhece essa gramática de misturar presente com passado por ter trabalhado em nada mais, nada menos do que "Breaking Bad" e "Better Call Saul".
De fato, o filme não é ruim, eu diria que é até bom, com ótimos momentos - um pouco mais dramáticos no primeiro ato, mais adolescente no segundo e quase um thriller nórdico no terceiro; mas é a falta de unidade entre esses três atos que pode incomodar um pouco se você busca um drama mais existencial e com uma narrativa mais equilibrada como "Em Pedaços", por exemplo. Tecnicamente o filme também é muito bem realizado, tendo o talentoso diretor John Crowley (vencedor do BAFTA em 2016 com "Brooklyn" e em 2007 com "Boy A") no comando e o sensacional diretor de fotografia, multi-premiado (14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" e "1917"), Roger Deakins, ao seu lado - reparem na belíssima cena em que Theodore está no balanço com seu amigo Boris (Finn Wolfhard)! No elenco Nicole Kidman e Jeffrey Wright sempre competentes, mesmo com personagens secundários e, claro, Finn Wolfhard e Oakes Fegley dão um show.
Olha, sinceramente, vale pelo entretenimento, por ótimas atuações e por um história que é boa.
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Há poucas verdades absolutas no cinema, no entanto aqui temos uma delas: "O Poderoso Chefão" é (e será para sempre) o melhor filme de máfia já produzido! "The Godfather" (no original), dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1972, é uma unanimidade ao ser considerado uma verdadeira obra-prima do cinema e um dos filmes mais influentes de todos os tempos. Baseado no livro homônimo de Mario Puzo, "O Poderoso Chefão"combina, de forma brilhante, o drama familiar em um mundo do crime organizado, oferecendo uma narrativa profunda sobre poder, lealdade, moralidade e sobre a plena destruição da alma humana. Com uma direção magistral, performances lendárias e um roteiro impecável, "O Poderoso Chefão" não apenas redefiniu o gênero, como também consolidou o status de Coppola como um dos maiores cineastas da história.
A trama segue a família Corleone, uma das mais poderosas famílias mafiosas de Nova York. O patriarca, Don Vito Corleone (Marlon Brando), é um chefe de respeito e influência, que governa com uma combinação de carisma, honra e violência. Quando um atentado contra sua vida o coloca em uma posição vulnerável, seu filho Michael (Al Pacino) é forçado a entrar no mundo do crime para proteger a família, embora tenha inicialmente rejeitado esse destino. A jornada de Michael, de um herói de guerra distante da vida criminosa a um chefe implacável, é o coração da narrativa, simbolizando a transformação trágica e moralmente complexa de um homem diante das circunstâncias. Confira o trailer:
Mas o que faz de "O Poderoso Chefão" um filme tão aclamado?
Sem a menor dúvida, é a profundidade de seus personagens e a complexidade de suas relações! Vito Corleone, por exemplo, é um personagem ambíguo - ao mesmo tempo um homem de valores fortes, que preza pela família, e um implacável chefe da máfia, que não hesita em usar a violência para manter o poder. E aqui cabe a primeira observação técnica sobre essa obra-prima: a performance de Marlon Brando, com sua voz rouca e gestual controlado, torna Don Vito uma figura icônica, projetando uma presença quase mitológica de uma entidade em seu meio, que praticamente define o filme. Um ainda desconhecido Al Pacino, entrega uma jornada transformadora para seu personagem - ele começa como um homem que quer se distanciar do legado mafioso de sua família, mas, lentamente, vai sendo consumido pelo poder, pela vingança e pela necessidade de proteger seus entes queridos. Essa transição de Michael, de filho inocente a um homem frio e calculista, é uma das narrativas mais cativantes e trágicas da história do cinema. Pacino atua de forma contida, permitindo que o público veja a escuridão crescendo dentro de Michael, mesmo antes dele abraçar plenamente seu destino. É fantástico!
A direção de Coppola é outro elemento essencial: ela é simplesmente impecável. Coppola usa uma estética visual clássica, mas sem deixar de ser inovadora em vários momentos - o filme traz a densidade visual do submundo do crime com a mesma potência com que explora a deterioração moral dos personagens. A narrativa é meticulosamente desenvolvida nesse sentido, alternando momentos de tensão física com longas cenas de diálogos que revelam os conflitos íntimos dos personagens. Coppola também faz um uso impressionante de simbolismos visuais como o icônico "batismo de sangue", em que Michael se torna oficialmente o novo "Don" enquanto manda executar seus inimigos, contrastando a pureza do ritual religioso com a brutalidade do crime. É muito bom!
Além da direção e da performance do elenco, o roteiro coescrito por Coppola e Puzo, é outro ponto alto desse tripé. Cada diálogo é carregado de significados, e a forma como o filme explora as dinâmicas de poder e lealdade dentro da família Corleone é fascinante. "O Poderoso Chefão", saiba, não é apenas um filme sobre o mundo do crime, é uma reflexão visceral sobre o poder, os sacrifícios feitos em nome da família e as escolhas morais que definem a vida dos personagens. E é aqui que entra a trilha sonora de Nino Rota como a cereja do bolo: seu tema principal, com sua melodia melancólica e dramática, tornou-se instantaneamente reconhecível e é o que complementa o tom épico do filme. O fato é que "O Poderoso Chefão" é daquelas raridades onde as cenas são compostas com tanta precisão, usando todos esses elementos técnicos e artísticos, para criar uma atmosfera de ameaça iminente, que mesmo na tranquilidade das ambientações mais luxuosas sabemos que a brutalidade do mundo do crime respira
Essa é uma história imperdível de uma família mafiosa e sua relação com o poder e a corrupção!
PS: Sugiro fortemente que assim que subirem os créditos, você vá para o Paramount+ e assista "The Offer", minissérie sobre os bastidores e o processo de criação de "O Poderoso Chefão".
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Há poucas verdades absolutas no cinema, no entanto aqui temos uma delas: "O Poderoso Chefão" é (e será para sempre) o melhor filme de máfia já produzido! "The Godfather" (no original), dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1972, é uma unanimidade ao ser considerado uma verdadeira obra-prima do cinema e um dos filmes mais influentes de todos os tempos. Baseado no livro homônimo de Mario Puzo, "O Poderoso Chefão"combina, de forma brilhante, o drama familiar em um mundo do crime organizado, oferecendo uma narrativa profunda sobre poder, lealdade, moralidade e sobre a plena destruição da alma humana. Com uma direção magistral, performances lendárias e um roteiro impecável, "O Poderoso Chefão" não apenas redefiniu o gênero, como também consolidou o status de Coppola como um dos maiores cineastas da história.
A trama segue a família Corleone, uma das mais poderosas famílias mafiosas de Nova York. O patriarca, Don Vito Corleone (Marlon Brando), é um chefe de respeito e influência, que governa com uma combinação de carisma, honra e violência. Quando um atentado contra sua vida o coloca em uma posição vulnerável, seu filho Michael (Al Pacino) é forçado a entrar no mundo do crime para proteger a família, embora tenha inicialmente rejeitado esse destino. A jornada de Michael, de um herói de guerra distante da vida criminosa a um chefe implacável, é o coração da narrativa, simbolizando a transformação trágica e moralmente complexa de um homem diante das circunstâncias. Confira o trailer:
Mas o que faz de "O Poderoso Chefão" um filme tão aclamado?
Sem a menor dúvida, é a profundidade de seus personagens e a complexidade de suas relações! Vito Corleone, por exemplo, é um personagem ambíguo - ao mesmo tempo um homem de valores fortes, que preza pela família, e um implacável chefe da máfia, que não hesita em usar a violência para manter o poder. E aqui cabe a primeira observação técnica sobre essa obra-prima: a performance de Marlon Brando, com sua voz rouca e gestual controlado, torna Don Vito uma figura icônica, projetando uma presença quase mitológica de uma entidade em seu meio, que praticamente define o filme. Um ainda desconhecido Al Pacino, entrega uma jornada transformadora para seu personagem - ele começa como um homem que quer se distanciar do legado mafioso de sua família, mas, lentamente, vai sendo consumido pelo poder, pela vingança e pela necessidade de proteger seus entes queridos. Essa transição de Michael, de filho inocente a um homem frio e calculista, é uma das narrativas mais cativantes e trágicas da história do cinema. Pacino atua de forma contida, permitindo que o público veja a escuridão crescendo dentro de Michael, mesmo antes dele abraçar plenamente seu destino. É fantástico!
A direção de Coppola é outro elemento essencial: ela é simplesmente impecável. Coppola usa uma estética visual clássica, mas sem deixar de ser inovadora em vários momentos - o filme traz a densidade visual do submundo do crime com a mesma potência com que explora a deterioração moral dos personagens. A narrativa é meticulosamente desenvolvida nesse sentido, alternando momentos de tensão física com longas cenas de diálogos que revelam os conflitos íntimos dos personagens. Coppola também faz um uso impressionante de simbolismos visuais como o icônico "batismo de sangue", em que Michael se torna oficialmente o novo "Don" enquanto manda executar seus inimigos, contrastando a pureza do ritual religioso com a brutalidade do crime. É muito bom!
Além da direção e da performance do elenco, o roteiro coescrito por Coppola e Puzo, é outro ponto alto desse tripé. Cada diálogo é carregado de significados, e a forma como o filme explora as dinâmicas de poder e lealdade dentro da família Corleone é fascinante. "O Poderoso Chefão", saiba, não é apenas um filme sobre o mundo do crime, é uma reflexão visceral sobre o poder, os sacrifícios feitos em nome da família e as escolhas morais que definem a vida dos personagens. E é aqui que entra a trilha sonora de Nino Rota como a cereja do bolo: seu tema principal, com sua melodia melancólica e dramática, tornou-se instantaneamente reconhecível e é o que complementa o tom épico do filme. O fato é que "O Poderoso Chefão" é daquelas raridades onde as cenas são compostas com tanta precisão, usando todos esses elementos técnicos e artísticos, para criar uma atmosfera de ameaça iminente, que mesmo na tranquilidade das ambientações mais luxuosas sabemos que a brutalidade do mundo do crime respira
Essa é uma história imperdível de uma família mafiosa e sua relação com o poder e a corrupção!
PS: Sugiro fortemente que assim que subirem os créditos, você vá para o Paramount+ e assista "The Offer", minissérie sobre os bastidores e o processo de criação de "O Poderoso Chefão".
"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!
Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!
"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke. Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".
Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".
"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!
"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!
Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!
"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke. Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".
Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".
"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".
Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!
A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.
"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.
Vale seu play!
O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".
Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!
A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.
"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.
Vale seu play!
"O que os homens falam" é excelente! Esse premiado filme espanhol é simplesmente delicioso de assistir, desde que goste daquelas histórias sobre relações tão particulares do Woody Allen e que praticamente se tornaram um subgênero da dramédia com produções como "Easy" da Netflix ou "Modern Love"da própria Prime Vídeo.
Seguindo a estrutura de "Relatos Selvagens", aqui temos oito homens que enfrentam a crise de meia-idade divididos em cinco episódios independentes. E. (Eduardo Fernandez) é aquele homem que se acha um fracassado, ele acaba de perder tudo (inclusive a mulher) e volta a morar na casa da mãe com seus 45 anos; ele se encontra casualmente com um amigo de longa data, J. (Eduardo Sbaraglia), que venceu profissionalmente na vida, conquistando tudo que sempre desejou, mas que sofre de ansiedade e depressão. Já S. (Javier Camara) tenta retomar o casamento dois anos após o divórcio, enquanto G. (Ricardo Darín) confessa para o conhecido L. (Luis Tosar) que desconfia que sua esposa está traindo ele. P. (Eduardo Noriega) é um jovem que tenta seduzir uma colega durante uma festa de trabalho, mas acaba sendo surpreendido por ela. E para finalizar, conhecemos A. (Alberto San Juan) e M. (Jordi Mollà) dois grandes amigos que têm seus segredos íntimos revelados pelas mulheres quando estão a caminho de uma festa de aniversário. Confira o trailer (em espanhol):
Os dois elementos que mais chamam atenção logo a primeira vista e que merece todos os elogios possíveis são: o roteiro e o trabalho do elenco. Ao partirmos do princípio que o filme se apropria de um estilo de crônicas sobre o universo masculino, formatadas para serem facilmente digeridas pela audiência e equilibrando o drama da situação com a leveza do diálogo, fica muito claro a importância de um texto inteligente e da performance dos atores - é impressionante como as histórias são próximas de uma realidade que "já ouvimos falar". Basicamente, "O que os homens falam" são como esquetes teatrais, elas seguem um ritmo próprio e a composição dos temas discutidos são parecidos, mas são as ironias que dão o toque final - eu diria, aliás, que essas ironias são recheadas de uma honestidade brutal, e isso é incrível.
É preciso dizer que "Una pistola en cada mano" (título original) transita muito bem entre a angústia de uma situação com a necessidade de não expor os sentimentos - tão particular do gênero masculino. Essa sutileza dramática eleva conversas que aparentemente são banais, mas que carregam muitos sentimentos e inseguranças! Não esperem conclusões filosóficas ao final de cada história, não é essa a intenção do roteiro e muito menos do diretor Cesc Gay - o que precisa ser dito, é dito e pronto; o segredo (e a beleza desse tipo de narrativa) é o que fazemos com toda informação que nos é dada e como refletimos ao projetarmos a mesma situação em nossa vida.
"O que os homens falam" é um filme que poderia ser uma temporada de "Easy" facilmente (ou de duas séries inglesas com o mesmo tema: "Dates" e "True Love" que infelizmente não chamaram tanta atenção até aqui). Vale muito a pena, é um entretenimento inteligente, com um toque de provocação e curiosidade feminina - prato cheio para o julgamento, mas sensata ao desconstruir o esteriótipo do macho alpha!
Pode dar o play sem receio!
"O que os homens falam" é excelente! Esse premiado filme espanhol é simplesmente delicioso de assistir, desde que goste daquelas histórias sobre relações tão particulares do Woody Allen e que praticamente se tornaram um subgênero da dramédia com produções como "Easy" da Netflix ou "Modern Love"da própria Prime Vídeo.
Seguindo a estrutura de "Relatos Selvagens", aqui temos oito homens que enfrentam a crise de meia-idade divididos em cinco episódios independentes. E. (Eduardo Fernandez) é aquele homem que se acha um fracassado, ele acaba de perder tudo (inclusive a mulher) e volta a morar na casa da mãe com seus 45 anos; ele se encontra casualmente com um amigo de longa data, J. (Eduardo Sbaraglia), que venceu profissionalmente na vida, conquistando tudo que sempre desejou, mas que sofre de ansiedade e depressão. Já S. (Javier Camara) tenta retomar o casamento dois anos após o divórcio, enquanto G. (Ricardo Darín) confessa para o conhecido L. (Luis Tosar) que desconfia que sua esposa está traindo ele. P. (Eduardo Noriega) é um jovem que tenta seduzir uma colega durante uma festa de trabalho, mas acaba sendo surpreendido por ela. E para finalizar, conhecemos A. (Alberto San Juan) e M. (Jordi Mollà) dois grandes amigos que têm seus segredos íntimos revelados pelas mulheres quando estão a caminho de uma festa de aniversário. Confira o trailer (em espanhol):
Os dois elementos que mais chamam atenção logo a primeira vista e que merece todos os elogios possíveis são: o roteiro e o trabalho do elenco. Ao partirmos do princípio que o filme se apropria de um estilo de crônicas sobre o universo masculino, formatadas para serem facilmente digeridas pela audiência e equilibrando o drama da situação com a leveza do diálogo, fica muito claro a importância de um texto inteligente e da performance dos atores - é impressionante como as histórias são próximas de uma realidade que "já ouvimos falar". Basicamente, "O que os homens falam" são como esquetes teatrais, elas seguem um ritmo próprio e a composição dos temas discutidos são parecidos, mas são as ironias que dão o toque final - eu diria, aliás, que essas ironias são recheadas de uma honestidade brutal, e isso é incrível.
É preciso dizer que "Una pistola en cada mano" (título original) transita muito bem entre a angústia de uma situação com a necessidade de não expor os sentimentos - tão particular do gênero masculino. Essa sutileza dramática eleva conversas que aparentemente são banais, mas que carregam muitos sentimentos e inseguranças! Não esperem conclusões filosóficas ao final de cada história, não é essa a intenção do roteiro e muito menos do diretor Cesc Gay - o que precisa ser dito, é dito e pronto; o segredo (e a beleza desse tipo de narrativa) é o que fazemos com toda informação que nos é dada e como refletimos ao projetarmos a mesma situação em nossa vida.
"O que os homens falam" é um filme que poderia ser uma temporada de "Easy" facilmente (ou de duas séries inglesas com o mesmo tema: "Dates" e "True Love" que infelizmente não chamaram tanta atenção até aqui). Vale muito a pena, é um entretenimento inteligente, com um toque de provocação e curiosidade feminina - prato cheio para o julgamento, mas sensata ao desconstruir o esteriótipo do macho alpha!
Pode dar o play sem receio!
"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:
Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão - Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!
É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.
Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!
"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!
"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:
Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão - Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!
É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.
Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!
"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!
"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.
"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".
É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!
Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha". Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.
Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!
Vale muito a pena!
"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.
"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".
É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!
Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha". Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.
Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!
Vale muito a pena!
Talvez o primeiro passo para que uma relação seja bem sucedida, independente do tipo ou do propósito, sem a menor dúvida, diz respeito ao alinhamento de expectativas. Definitivamente, para os personagens de "O Refúgio" isso está longe de acontecer. Eu diria que a história que o ótimo diretor Sean Durkin conta, é tão impactante e visceral quanto a de "História de um Casamento" - embora o objeto do conflito, dessa vez, não seja um filho e sim o dinheiro (e a forma como ele é encarado).
Roy (Jude Law) é um empreendedor carismático e ambicioso que escolhe se mudar para Inglaterra com sua família, para aproveitar as oportunidades da Londres dos anos 80. Alisson (Carrie Coon), esposa de Roy, tem enormes dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida e vê os sonhos e as promessas do marido não se concretizarem, mais uma vez. O filme mostra o cotidiano do casal que precisa enfrentar as duras e indesejáveis verdades da vida, além da tentativa de encontrar uma forma de se conectar novamente - entre eles e com os filhos Bem (Charlie Shotwell) e Sam (Oona Roche). Confira o trailer (em inglês):
Já que o assunto é sobre "alinhar as expectativas", eu já antecipo: esse é mais um drama de relação denso e com uma narrativa bastante cadenciada onde o principal objetivo não é encontrar um fim e sim servir como "meio" para as provocações e reflexões que a história vai nos propondo durante os 100 minutos de filme. Veja, "O Refúgio" não se propõe a mostrar a transformação, mas quais são os gatilhos que podem nos levar até ela - e aqui é preciso deixar claro que esses gatilhos são dos mais dolorosos para quem se identifica com alguma passagem da trama.
Jude Law mais uma vez foi capaz de captar a essência daquela linha tênue entre a simpatia carismática cheia de energia com a insegurança e fragilidade de um homem que esperava mais (e mais) das suas conquistas - Law traz muito de Dan de "Closer" para o personagem. Já Carrie Coon é a personificação da angústia, da decepção, da falta de admiração pelo companheiro - ela é tão intensa que nos colocamos no seu lugar e passamos a enxergar seu marido com outros (não tão bons) olhos. Por se tratar de um "filme de relações", "O Refúgio" se movimenta muito mais pelos sentimentos dos personagens do que pela força da história.
Esse filme é um retrato absurdamente real de como uma vida de altos e baixos pode contaminar até os relacionamentos mais estáveis. Se Roy e Ali já demonstravam sinais de fragilidade antes mesmo da bomba estourar, certamente a relação familiar na presença dos filhos, não. E nesse ponto Durkin, que também assina o roteiro, soube valorizar (mesmo sem tempo de se aprofundar) como um relacionamento pesado pode impactar na vida das crianças - é para refletir!
Se você gosta de discutir as relações humanas, com personagens cheio de camadas, dê o play sem medo! Vale a pena!
Talvez o primeiro passo para que uma relação seja bem sucedida, independente do tipo ou do propósito, sem a menor dúvida, diz respeito ao alinhamento de expectativas. Definitivamente, para os personagens de "O Refúgio" isso está longe de acontecer. Eu diria que a história que o ótimo diretor Sean Durkin conta, é tão impactante e visceral quanto a de "História de um Casamento" - embora o objeto do conflito, dessa vez, não seja um filho e sim o dinheiro (e a forma como ele é encarado).
Roy (Jude Law) é um empreendedor carismático e ambicioso que escolhe se mudar para Inglaterra com sua família, para aproveitar as oportunidades da Londres dos anos 80. Alisson (Carrie Coon), esposa de Roy, tem enormes dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida e vê os sonhos e as promessas do marido não se concretizarem, mais uma vez. O filme mostra o cotidiano do casal que precisa enfrentar as duras e indesejáveis verdades da vida, além da tentativa de encontrar uma forma de se conectar novamente - entre eles e com os filhos Bem (Charlie Shotwell) e Sam (Oona Roche). Confira o trailer (em inglês):
Já que o assunto é sobre "alinhar as expectativas", eu já antecipo: esse é mais um drama de relação denso e com uma narrativa bastante cadenciada onde o principal objetivo não é encontrar um fim e sim servir como "meio" para as provocações e reflexões que a história vai nos propondo durante os 100 minutos de filme. Veja, "O Refúgio" não se propõe a mostrar a transformação, mas quais são os gatilhos que podem nos levar até ela - e aqui é preciso deixar claro que esses gatilhos são dos mais dolorosos para quem se identifica com alguma passagem da trama.
Jude Law mais uma vez foi capaz de captar a essência daquela linha tênue entre a simpatia carismática cheia de energia com a insegurança e fragilidade de um homem que esperava mais (e mais) das suas conquistas - Law traz muito de Dan de "Closer" para o personagem. Já Carrie Coon é a personificação da angústia, da decepção, da falta de admiração pelo companheiro - ela é tão intensa que nos colocamos no seu lugar e passamos a enxergar seu marido com outros (não tão bons) olhos. Por se tratar de um "filme de relações", "O Refúgio" se movimenta muito mais pelos sentimentos dos personagens do que pela força da história.
Esse filme é um retrato absurdamente real de como uma vida de altos e baixos pode contaminar até os relacionamentos mais estáveis. Se Roy e Ali já demonstravam sinais de fragilidade antes mesmo da bomba estourar, certamente a relação familiar na presença dos filhos, não. E nesse ponto Durkin, que também assina o roteiro, soube valorizar (mesmo sem tempo de se aprofundar) como um relacionamento pesado pode impactar na vida das crianças - é para refletir!
Se você gosta de discutir as relações humanas, com personagens cheio de camadas, dê o play sem medo! Vale a pena!
É preciso ter muito cuidado ao analisar o "O Rei da TV", pois existe uma série de escolhas criativas e artísticas bastante duvidosas e que expõem a fragilidade do roteiro e a limitação da direção - que basicamente segue a cartilha dos anos 90 e reproduz com algum surto de criatividade algumas adaptações estéticas que, aí sim, dão o exato tom do valor histórico do projeto. Por outro lado a história do Silvo Santos é, de fato, sensacional e merecia ser contada - até porquê ela se mistura com a história da televisão brasileira e mostra de uma forma bem humorada algumas curiosidades de bastidores que jamais poderíamos imaginar e que olhando em retrospectiva, faz total sentido. Talvez os mais exigentes não vão se conectar com essa produção nacional do Star+ (e é compreensível), mas eu, na posição de quem gosta do assunto, diria: dê uma chance!
"O Rei da TV" acompanha a vida e a carreira do apresentador e empresário Silvio Santos - um dos maiores ícones da televisão brasileira de todos os tempos. A produção retrata a vida de Sílvio desde sua infância no Rio de Janeiro até sua ascensão e fama como um dos maiores comunicadores do Brasil. Comerciante de rua na juventude, o apresentador sempre demonstrou talento para se comunicar com o público (e vender), engajando e divertindo as pessoas. Ele passou a participar de espetáculos circenses e rapidamente chamou atenção. Logo, Sílvio foi conquistando seu espaço na indústria do entretenimento até que resolve criar o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), sua grande paixão. Confira o trailer:
Embora o roteiro seja o "calcanhar de Aquiles" da série, é inegável que a escolha de cobrir um grande recorte da vida de Silvio Santosse apoiando na construção de duas linhas temporais paralelas, uma no inicio de sua carreira (com Mariano Mattos como protagonista) e outra já reconhecido como o grande comunicador que é (com José Rubens Chachá), foi um grande acerto - o vai e vem da história cria uma dinâmica narrativa das mais interessantes e fica muito fácil para a audiência entender algumas nuances e passagens que fatalmente seriam esquecidas fosse linear a estratégia do criador do projeto, André Barcinski (de "Zé do Caixão").
Como em "Eike", "O Rei da TV" também usa de cenários farsescos ou delírios psicológicos para cortar um caminho narrativo que resulta em um certo constrangimento visual - a bizarra recriação das pragas bíblicas do Egito, olha, é de doer. Menos realista que "Tudo ou Nada" e muito mais caricata do que outros dramas que tinham celebridades da TV como protagonistas, é o caso de "Hebe"(por exemplo), a série ganha uma certa leveza com esse tom menos pretensioso, transformando toda jornada em um grande entretenimento que acaba encontrando um certo equilíbrio com a seriedade imposta por alguns personagens como os ótimos Stanislaw (de Emílio de Mello) e Rossi (de João Campos). A direção de arte também merece elogios, pois recria de forma nostálgica e com muita eficiência estética diferentes décadas, cenários históricos da TV e figuras populares inesquecíveis, em um alinhamento conceitual primoroso de som, de fotografia e de performances (com um ou outro escorregão apenas).
É difícil construir um retrato tão marcante, cativante e divertido da cultura pop nacional sem perder o foco em uma figura por si só estereotipada como Silvio Santos, porém, nesse sentido, "O Rei da TV" não se leva tão a sério e permite que essa viagem no tempo seja marcada por um "conteúdo" rico, mas com uma "forma" que não deve agradar muita gente e que mesmo assim, ainda vai querer acompanhar a trama até o fim - principalmente se essa audiência for maior que 40 anos.
Vale o play com todas essas ressalvas!
É preciso ter muito cuidado ao analisar o "O Rei da TV", pois existe uma série de escolhas criativas e artísticas bastante duvidosas e que expõem a fragilidade do roteiro e a limitação da direção - que basicamente segue a cartilha dos anos 90 e reproduz com algum surto de criatividade algumas adaptações estéticas que, aí sim, dão o exato tom do valor histórico do projeto. Por outro lado a história do Silvo Santos é, de fato, sensacional e merecia ser contada - até porquê ela se mistura com a história da televisão brasileira e mostra de uma forma bem humorada algumas curiosidades de bastidores que jamais poderíamos imaginar e que olhando em retrospectiva, faz total sentido. Talvez os mais exigentes não vão se conectar com essa produção nacional do Star+ (e é compreensível), mas eu, na posição de quem gosta do assunto, diria: dê uma chance!
"O Rei da TV" acompanha a vida e a carreira do apresentador e empresário Silvio Santos - um dos maiores ícones da televisão brasileira de todos os tempos. A produção retrata a vida de Sílvio desde sua infância no Rio de Janeiro até sua ascensão e fama como um dos maiores comunicadores do Brasil. Comerciante de rua na juventude, o apresentador sempre demonstrou talento para se comunicar com o público (e vender), engajando e divertindo as pessoas. Ele passou a participar de espetáculos circenses e rapidamente chamou atenção. Logo, Sílvio foi conquistando seu espaço na indústria do entretenimento até que resolve criar o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), sua grande paixão. Confira o trailer:
Embora o roteiro seja o "calcanhar de Aquiles" da série, é inegável que a escolha de cobrir um grande recorte da vida de Silvio Santosse apoiando na construção de duas linhas temporais paralelas, uma no inicio de sua carreira (com Mariano Mattos como protagonista) e outra já reconhecido como o grande comunicador que é (com José Rubens Chachá), foi um grande acerto - o vai e vem da história cria uma dinâmica narrativa das mais interessantes e fica muito fácil para a audiência entender algumas nuances e passagens que fatalmente seriam esquecidas fosse linear a estratégia do criador do projeto, André Barcinski (de "Zé do Caixão").
Como em "Eike", "O Rei da TV" também usa de cenários farsescos ou delírios psicológicos para cortar um caminho narrativo que resulta em um certo constrangimento visual - a bizarra recriação das pragas bíblicas do Egito, olha, é de doer. Menos realista que "Tudo ou Nada" e muito mais caricata do que outros dramas que tinham celebridades da TV como protagonistas, é o caso de "Hebe"(por exemplo), a série ganha uma certa leveza com esse tom menos pretensioso, transformando toda jornada em um grande entretenimento que acaba encontrando um certo equilíbrio com a seriedade imposta por alguns personagens como os ótimos Stanislaw (de Emílio de Mello) e Rossi (de João Campos). A direção de arte também merece elogios, pois recria de forma nostálgica e com muita eficiência estética diferentes décadas, cenários históricos da TV e figuras populares inesquecíveis, em um alinhamento conceitual primoroso de som, de fotografia e de performances (com um ou outro escorregão apenas).
É difícil construir um retrato tão marcante, cativante e divertido da cultura pop nacional sem perder o foco em uma figura por si só estereotipada como Silvio Santos, porém, nesse sentido, "O Rei da TV" não se leva tão a sério e permite que essa viagem no tempo seja marcada por um "conteúdo" rico, mas com uma "forma" que não deve agradar muita gente e que mesmo assim, ainda vai querer acompanhar a trama até o fim - principalmente se essa audiência for maior que 40 anos.
Vale o play com todas essas ressalvas!