Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.
"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta.
Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.
Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.
Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!
Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!
Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.
"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta.
Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.
Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.
Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!
Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!
Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.
Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):
Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC, jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.
Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.
Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.
Vale muito o seu play!
PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.
Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.
Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):
Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC, jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.
Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.
Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.
Vale muito o seu play!
PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.
"O código Bill Gates" é realmente muito bom! Desde o lançamento do trailer oficial, minha expectativa era alta e, depois de assistir todos os episódios em uma única sentada (recomendo), não me decepcionei. A minissérie documental que a Netflix produziu acompanha um Bill Gates "aposentado", dedicado a filantropia, tentando encontrar soluções para os problemas do mundo e investindo muito (mas, muito) dinheiro nisso - é essa linha narrativa, inclusive, que permite fazer paralelos com todos os momentos cruciais da sua vida pública como presidente da Microsoft - construindo um novo personagem e desconstruindo aquele outro.
Baseado em três projetos principais: melhorar o saneamento em países onde grande parte da população vive na miséria, erradicar a pólio no mundo (efetivamente na Nigéria) e remodelar a produção de energia nuclear; o diretor Davis Guggenheim foca nesse trabalho filantrópico da Fundação Bill e Melinda Gates para fazer uma espécie de raio-x do personagem que luta dia a dia para transformar o mundo através da tecnologia sendo um homem cheio de manias, com posturas que podem ser interpretadas como arrogantes ou egoístas, mas que parece simples ao ponto de adorar hambúrguer e diet coke! Funciona!
A não-linearidade do roteiro criou uma dinâmica muito interessante para o "O código Bill Gates". Partindo do que vemos de melhor em um personagem que se confunde com a história da tecnologia (e por incrível que pareça criando até uma certa empatia com ele), a minissérie é coerente em exaltar os desafios atuais de Gates, mas também de não aliviar em suas polêmicas do passado. Sem dúvida que Guggenheim sofreu muita pressão para encontrar esse equilíbrio até chegar ao corte final - fico imaginando o processo de aprovação de um projeto como esse, ainda mais com um Bill Gates (e milhões de advogados) assinando embaixo. O fato é que a versão que está na Netflix é um recorte da vida profissional de Gates, que humaniza o "visionário" com muitas qualidades, em troca de poder mostrar alguns (apenas alguns) dos seus defeitos. Bill Gates não tem a capacidade de comunicação de Steve Jobs, não tem carisma e não convence quando tenta ser cool - e isso não é um problema - ele é o que é! Ele é um homem extremamente inteligente, viciado em livros, ávido por informação e conhecimento, competitivo e até meio ingênuo (isso fica perceptível em algumas respostas bastante expontâneas que ele dá durante os episódios). Ele é um cara que, por mais que fizesse, ficava sempre na sombra de Jobs e, para mim, esse é o único ponto fraco do documentário - em nenhum momento é explorada essa disputa pessoal e profissional. Em nenhum momento o diretor trás o assunto "apple" para a história e, me desculpe, não se conta a história de um "protagonista" sem citar o "antagonista" - eles são complementares, por mais que se queira exaltar os feitos de um não é preciso diminuir o sucesso do outro!
De fato "O código Bill Gates" acerta em cheio ao contar parte da jornada de construção de um império e tudo que implica ter (incríveis) 96% de market share em um segmento. De fato Bill Gates é um personagem sensacional, com uma história admirável, uma personalidade ímpar e apaixonado pelo seu trabalho. Essa minissérie retrata um pouco disso tudo e sem dúvida tem uma importância histórica - independente de contar só um dos lados (sua briga com Steve Ballmer é um bom exemplo). Não deve ser fácil ser um cara como Bill Gates e levantar essa discussão ajuda muito na experiência de assistir os três episódios. É claro que alguns vão se identificar ou vão valorizar essa jornada mais que outros, mas isso é normal quando uma figura tão icônica é retratada. O que posso dizer com muita tranquilidade é que o projeto ficou lindo artisticamente e tecnicamente. Tem um fotografia muito bonita, inserções gráficas com mapas sistêmicos que ajudam a entender a complexidade dos projetos que Gates está financiando, algumas animações para dramatizar determinadas passagens da vida dele são inseridas de forma bastante orgânica na narrativa e as intervenções tanto do entrevistador quando dos entrevistados estão perfeitas. Gostei muito e, mesmo parecendo um documentário "chapa branca", acho que vale muito a pena assistir. Me surpreendi pela forma como ele é inspirador e por uma mensagem que vale a reflexão: "Se ainda não está dando certo, trabalhe mais!!!"
"O código Bill Gates" é realmente muito bom! Desde o lançamento do trailer oficial, minha expectativa era alta e, depois de assistir todos os episódios em uma única sentada (recomendo), não me decepcionei. A minissérie documental que a Netflix produziu acompanha um Bill Gates "aposentado", dedicado a filantropia, tentando encontrar soluções para os problemas do mundo e investindo muito (mas, muito) dinheiro nisso - é essa linha narrativa, inclusive, que permite fazer paralelos com todos os momentos cruciais da sua vida pública como presidente da Microsoft - construindo um novo personagem e desconstruindo aquele outro.
Baseado em três projetos principais: melhorar o saneamento em países onde grande parte da população vive na miséria, erradicar a pólio no mundo (efetivamente na Nigéria) e remodelar a produção de energia nuclear; o diretor Davis Guggenheim foca nesse trabalho filantrópico da Fundação Bill e Melinda Gates para fazer uma espécie de raio-x do personagem que luta dia a dia para transformar o mundo através da tecnologia sendo um homem cheio de manias, com posturas que podem ser interpretadas como arrogantes ou egoístas, mas que parece simples ao ponto de adorar hambúrguer e diet coke! Funciona!
A não-linearidade do roteiro criou uma dinâmica muito interessante para o "O código Bill Gates". Partindo do que vemos de melhor em um personagem que se confunde com a história da tecnologia (e por incrível que pareça criando até uma certa empatia com ele), a minissérie é coerente em exaltar os desafios atuais de Gates, mas também de não aliviar em suas polêmicas do passado. Sem dúvida que Guggenheim sofreu muita pressão para encontrar esse equilíbrio até chegar ao corte final - fico imaginando o processo de aprovação de um projeto como esse, ainda mais com um Bill Gates (e milhões de advogados) assinando embaixo. O fato é que a versão que está na Netflix é um recorte da vida profissional de Gates, que humaniza o "visionário" com muitas qualidades, em troca de poder mostrar alguns (apenas alguns) dos seus defeitos. Bill Gates não tem a capacidade de comunicação de Steve Jobs, não tem carisma e não convence quando tenta ser cool - e isso não é um problema - ele é o que é! Ele é um homem extremamente inteligente, viciado em livros, ávido por informação e conhecimento, competitivo e até meio ingênuo (isso fica perceptível em algumas respostas bastante expontâneas que ele dá durante os episódios). Ele é um cara que, por mais que fizesse, ficava sempre na sombra de Jobs e, para mim, esse é o único ponto fraco do documentário - em nenhum momento é explorada essa disputa pessoal e profissional. Em nenhum momento o diretor trás o assunto "apple" para a história e, me desculpe, não se conta a história de um "protagonista" sem citar o "antagonista" - eles são complementares, por mais que se queira exaltar os feitos de um não é preciso diminuir o sucesso do outro!
De fato "O código Bill Gates" acerta em cheio ao contar parte da jornada de construção de um império e tudo que implica ter (incríveis) 96% de market share em um segmento. De fato Bill Gates é um personagem sensacional, com uma história admirável, uma personalidade ímpar e apaixonado pelo seu trabalho. Essa minissérie retrata um pouco disso tudo e sem dúvida tem uma importância histórica - independente de contar só um dos lados (sua briga com Steve Ballmer é um bom exemplo). Não deve ser fácil ser um cara como Bill Gates e levantar essa discussão ajuda muito na experiência de assistir os três episódios. É claro que alguns vão se identificar ou vão valorizar essa jornada mais que outros, mas isso é normal quando uma figura tão icônica é retratada. O que posso dizer com muita tranquilidade é que o projeto ficou lindo artisticamente e tecnicamente. Tem um fotografia muito bonita, inserções gráficas com mapas sistêmicos que ajudam a entender a complexidade dos projetos que Gates está financiando, algumas animações para dramatizar determinadas passagens da vida dele são inseridas de forma bastante orgânica na narrativa e as intervenções tanto do entrevistador quando dos entrevistados estão perfeitas. Gostei muito e, mesmo parecendo um documentário "chapa branca", acho que vale muito a pena assistir. Me surpreendi pela forma como ele é inspirador e por uma mensagem que vale a reflexão: "Se ainda não está dando certo, trabalhe mais!!!"
"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!
"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora") de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor".
Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.
Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.
Vale muito o seu play!
"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!
"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora") de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor".
Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.
Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.
Vale muito o seu play!
"Imperdível" do ponto de vista histórico, "Essencial" pelo lado social dos acontecimentos que fizeram (ou deveriam ter feito) de 2020 um divisor de águas no que diz respeito às relações humanas. "O Dia que o Esporte Parou", dirigido pelo Antoine Fuqua (de "Dia de Treinamento") e produzido pela HBO, transcende a esfera esportiva ao mergulhar naquela atmosfera de insegurança que vivemos antes e durante a pandemia e que logo depois foi potencializada com os fatos que levaram ao movimento "Black Lives Matter" na NBA. Com uma abordagem única, o filme não apenas retrata a interrupção abrupta dos jogos, mas também examina a influência dos jogadores, especialmente de Chris Paul, na busca por segurança e justiça social. Reconhecido por sua excelência, o documentário não só cativa os amantes dos esportes, mas também todos que buscam uma compreensão mais profunda dos impactos da pandemia nos negócios e nas relações sociais em uma cultura contemporânea cheia de imperfeições.
"O Dia que o Esporte Parou" então oferece uma visão íntima dos acontecimentos que levaram à interrupção histórica das competições esportivas em 2020. A narrativa se desenrola através de entrevistas exclusivas com atletas, dirigentes e personalidades envolvidas, oferecendo uma perspectiva inédita sobre o momento em que a NBA decidiu parar como resposta à pandemia da COVID-19 e como a entidade lidou com o retorno as quadras durante a crescente necessidade de conscientização sobre a injustiça racial nos Estados Unidos. Com direção magistral de Fuqua, o documentário apresenta imagens de bastidores, testemunhos poderosos e uma análise profunda dos eventos que definiram um capítulo marcante na história do esporte. Confira o trailer (em inglês):
Ao mergulharmos na essência do documentário, nos deparamos com a maestria técnica e artística de Fuqua, cuja direção habilidosa se destaca em uma construção narrativa fluida, direta e muito inteligente. A fusão de imagens de arquivo, entrevistas e cenas inéditas proporciona uma imersão completa no contexto dos acontecimentos que começou com o receio de uma pandemia global e terminou com uma luta pelos direitos sociais dos afro-americanos. A habilidade do diretor em equilibrar a urgência dos eventos com a reflexão profunda sobre tudo que aconteceu em 2020 é notável, criando um retrato vívido e comovente do que foi viver naquele ano que nem deveria ter existido - em todos os pontos que o documentário se aprofunda.
Com uma abordagem que transcende o lado esportivo dos fatos ao destacar o ativismo dos jogadores da NBA, explorando as formas como eles usaram suas vozes para promover a justiça social é muito tocante. A interseção entre o esporte e a realidade social daqueles meses na "Bolha de Orlando" é habilmente explorada por Fuqua, enriquecendo a narrativa com uma profundidade emocional impressionante. A pesquisa minuciosa e a qualidade da produção são evidentes, elevando "O Dia que o Esporte Parou" para um patamar diferenciado - tanto que o projeto chegou a ser indicado para dois prêmios extremamente relevantes: o "Sports Emmy Awards" e o "Critics' Choice Documentary Awards".
Detalhes que poderiam passar despercebidos são trazidos à luz nessa produção, proporcionando uma compreensão mais completa dos desafios enfrentados pelos atletas e suas comunidades - a sensibilidade do documentário para capturar o zeitgeist de 2020 é notável. Dito isso fica fácil afirmar que "O Dia que o Esporte Parou" ganhará ainda mais importância com o passar dos anos, e tem tudo para se tornar obra necessária para quem busca uma compreensão mais profunda da relação entre esporte, sociedade e ativismo. Eu diria, inclusive, que a narrativa construída por Fuqua funciona como uma crônica essencial de um período que moldou não apenas o mundo do esporte, mas a sociedade como um todo!
Vale muito o seu play!
"Imperdível" do ponto de vista histórico, "Essencial" pelo lado social dos acontecimentos que fizeram (ou deveriam ter feito) de 2020 um divisor de águas no que diz respeito às relações humanas. "O Dia que o Esporte Parou", dirigido pelo Antoine Fuqua (de "Dia de Treinamento") e produzido pela HBO, transcende a esfera esportiva ao mergulhar naquela atmosfera de insegurança que vivemos antes e durante a pandemia e que logo depois foi potencializada com os fatos que levaram ao movimento "Black Lives Matter" na NBA. Com uma abordagem única, o filme não apenas retrata a interrupção abrupta dos jogos, mas também examina a influência dos jogadores, especialmente de Chris Paul, na busca por segurança e justiça social. Reconhecido por sua excelência, o documentário não só cativa os amantes dos esportes, mas também todos que buscam uma compreensão mais profunda dos impactos da pandemia nos negócios e nas relações sociais em uma cultura contemporânea cheia de imperfeições.
"O Dia que o Esporte Parou" então oferece uma visão íntima dos acontecimentos que levaram à interrupção histórica das competições esportivas em 2020. A narrativa se desenrola através de entrevistas exclusivas com atletas, dirigentes e personalidades envolvidas, oferecendo uma perspectiva inédita sobre o momento em que a NBA decidiu parar como resposta à pandemia da COVID-19 e como a entidade lidou com o retorno as quadras durante a crescente necessidade de conscientização sobre a injustiça racial nos Estados Unidos. Com direção magistral de Fuqua, o documentário apresenta imagens de bastidores, testemunhos poderosos e uma análise profunda dos eventos que definiram um capítulo marcante na história do esporte. Confira o trailer (em inglês):
Ao mergulharmos na essência do documentário, nos deparamos com a maestria técnica e artística de Fuqua, cuja direção habilidosa se destaca em uma construção narrativa fluida, direta e muito inteligente. A fusão de imagens de arquivo, entrevistas e cenas inéditas proporciona uma imersão completa no contexto dos acontecimentos que começou com o receio de uma pandemia global e terminou com uma luta pelos direitos sociais dos afro-americanos. A habilidade do diretor em equilibrar a urgência dos eventos com a reflexão profunda sobre tudo que aconteceu em 2020 é notável, criando um retrato vívido e comovente do que foi viver naquele ano que nem deveria ter existido - em todos os pontos que o documentário se aprofunda.
Com uma abordagem que transcende o lado esportivo dos fatos ao destacar o ativismo dos jogadores da NBA, explorando as formas como eles usaram suas vozes para promover a justiça social é muito tocante. A interseção entre o esporte e a realidade social daqueles meses na "Bolha de Orlando" é habilmente explorada por Fuqua, enriquecendo a narrativa com uma profundidade emocional impressionante. A pesquisa minuciosa e a qualidade da produção são evidentes, elevando "O Dia que o Esporte Parou" para um patamar diferenciado - tanto que o projeto chegou a ser indicado para dois prêmios extremamente relevantes: o "Sports Emmy Awards" e o "Critics' Choice Documentary Awards".
Detalhes que poderiam passar despercebidos são trazidos à luz nessa produção, proporcionando uma compreensão mais completa dos desafios enfrentados pelos atletas e suas comunidades - a sensibilidade do documentário para capturar o zeitgeist de 2020 é notável. Dito isso fica fácil afirmar que "O Dia que o Esporte Parou" ganhará ainda mais importância com o passar dos anos, e tem tudo para se tornar obra necessária para quem busca uma compreensão mais profunda da relação entre esporte, sociedade e ativismo. Eu diria, inclusive, que a narrativa construída por Fuqua funciona como uma crônica essencial de um período que moldou não apenas o mundo do esporte, mas a sociedade como um todo!
Vale muito o seu play!
Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.
"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.
No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.
Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).
Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!
Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.
"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.
No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.
Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).
Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!
Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".
Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.
Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.
McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.
Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.
Vale a pena!
Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".
Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.
Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.
McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.
Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.
Vale a pena!
No universo dos documentários que revelam os bastidores da indústria do entretenimento como "Showbiz Kids" e até o polêmico "Deixando Neverland", "O Escândalo de Randall Emmett" surge como uma peça intrigante que expõe os segredos por trás de um dos mais notórios e recentes escândalos de Hollywood - se nem tanto aqui no Brasil, sem sombra de dúvidas nos EUA, por ter seus dois protagonistas entre as estrelas do famoso reality da Bravo,"Vanderpump Rules". Produzido pela ABC News Studios e pelo LA Times para o Hulu, o filme captura a essência do escândalo a partir de uma construção bastante consistente do perfil de Emmett, um famoso produtor de filmes B, e da forma como ele se relacionava com as pessoas que o rodeavam.
Baseado no artigo intitulado "The Man Who Played Hollywood: Inside Randall Emmett’s Crumbling Empire" do L.A. Times, o documentário faz um recorte muito interessante da investigação sobre muitas das acusações chocantes contra Randall Emmett, que incluem alegações de discriminação racial, abusos psicológicos e comportamentos questionáveis no set (um deles, inclusive, contra o ator Bruce Willis já doente). Também são apresentadas entrevistas com Lala Kent, celebridade "Vanderpump" e ex-noiva do produtor. Ela fala sobre seu tumultuado relacionamento e como soube das acusações e supostas traições de Emmett ainda com uma filha recém-nascida. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para contextualizar, "Vanderpump Rules" é um famoso spin-off de "The Real Housewives of Beverly Hills", onde uma de suas protagonistas, Lisa Vanderpump, mentora talentos que buscam conquistar e construir suas carreiras no mundo da gastronomia. Bem ao estilo "real-life", o reality-show revela os bastidores do restaurante SUR, em West Hollywood: o dia-a-dia e os dramas dos jovens e belos funcionários de Lisa - entre eles, a bela Lala Kent. No entanto, "O Escândalo de Randall Emmett" vai um pouco além, já que o roteiro pontua a jornada de sucesso de Emmett, um dos produtores de "O Irlandês" da Netflix, em meio a muitas denúncias de abuso moral, até sua derrocada quando seu ego ajudou a destruir uma carreira sólida ao aceitar participar do mesmo reality que sua noiva.
A narrativa do documentário é, de fato, muito bem orquestrada até para quem não está familiarizado com essa doentia indústria das celebridades nos EUA. O que para aquela audiência pode parecer uma extensão curiosa do reality-show, para nós é mais um ótimo raio-x dos bastidores do cinema de Hollywood. A partir dos relatos da Amy Kaufman e da Meg James, autoras do artigo do Times, vamos conhecendo os detalhes da história de Emmett de forma meticulosa - são entrevistas com pessoas-chave do escândalo, entre elas Lisa e Easton Burningham, mãe e irmão de Lala, além de pelo menos três assistentes do produtor que até hoje sofrem de ansiedade crônica graças a forma como eram tratados. Imagens de arquivo e algumas reconstituições, dão o exato tom do terror que era estar próximo de Emmet - reparem como a trama tem um ar de suspense e como a estrutura cronológica contribui muito para mergulharmos nessa obscura atmosfera.
Ao adentrar nos aspectos emocionais da história, o documentário não se limita em relatar os acontecimentos, mas também explora as consequências pessoais e profissionais dos fatos - a empatia gerada por essas histórias, sem dúvida, humaniza a narrativa e a torna parte vital da nossa experiência como audiência. Talvez seja isso, inclusive, que faz com que "O Escândalo de Randall Emmett" transcenda seu propósito de documentar um evento isolado, abrindo espaço para uma discussão mais ampla sobre ética na indústria do entretenimento. Não tenha dúvidas que mais uma vez, você vai questionar o sistema desse mercado tão pautado no ego e no poder, que possibilitam escândalos como esse, e a refletir sobre as implicações sociais e culturais do caso.
Vale muito o seu play!
No universo dos documentários que revelam os bastidores da indústria do entretenimento como "Showbiz Kids" e até o polêmico "Deixando Neverland", "O Escândalo de Randall Emmett" surge como uma peça intrigante que expõe os segredos por trás de um dos mais notórios e recentes escândalos de Hollywood - se nem tanto aqui no Brasil, sem sombra de dúvidas nos EUA, por ter seus dois protagonistas entre as estrelas do famoso reality da Bravo,"Vanderpump Rules". Produzido pela ABC News Studios e pelo LA Times para o Hulu, o filme captura a essência do escândalo a partir de uma construção bastante consistente do perfil de Emmett, um famoso produtor de filmes B, e da forma como ele se relacionava com as pessoas que o rodeavam.
Baseado no artigo intitulado "The Man Who Played Hollywood: Inside Randall Emmett’s Crumbling Empire" do L.A. Times, o documentário faz um recorte muito interessante da investigação sobre muitas das acusações chocantes contra Randall Emmett, que incluem alegações de discriminação racial, abusos psicológicos e comportamentos questionáveis no set (um deles, inclusive, contra o ator Bruce Willis já doente). Também são apresentadas entrevistas com Lala Kent, celebridade "Vanderpump" e ex-noiva do produtor. Ela fala sobre seu tumultuado relacionamento e como soube das acusações e supostas traições de Emmett ainda com uma filha recém-nascida. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para contextualizar, "Vanderpump Rules" é um famoso spin-off de "The Real Housewives of Beverly Hills", onde uma de suas protagonistas, Lisa Vanderpump, mentora talentos que buscam conquistar e construir suas carreiras no mundo da gastronomia. Bem ao estilo "real-life", o reality-show revela os bastidores do restaurante SUR, em West Hollywood: o dia-a-dia e os dramas dos jovens e belos funcionários de Lisa - entre eles, a bela Lala Kent. No entanto, "O Escândalo de Randall Emmett" vai um pouco além, já que o roteiro pontua a jornada de sucesso de Emmett, um dos produtores de "O Irlandês" da Netflix, em meio a muitas denúncias de abuso moral, até sua derrocada quando seu ego ajudou a destruir uma carreira sólida ao aceitar participar do mesmo reality que sua noiva.
A narrativa do documentário é, de fato, muito bem orquestrada até para quem não está familiarizado com essa doentia indústria das celebridades nos EUA. O que para aquela audiência pode parecer uma extensão curiosa do reality-show, para nós é mais um ótimo raio-x dos bastidores do cinema de Hollywood. A partir dos relatos da Amy Kaufman e da Meg James, autoras do artigo do Times, vamos conhecendo os detalhes da história de Emmett de forma meticulosa - são entrevistas com pessoas-chave do escândalo, entre elas Lisa e Easton Burningham, mãe e irmão de Lala, além de pelo menos três assistentes do produtor que até hoje sofrem de ansiedade crônica graças a forma como eram tratados. Imagens de arquivo e algumas reconstituições, dão o exato tom do terror que era estar próximo de Emmet - reparem como a trama tem um ar de suspense e como a estrutura cronológica contribui muito para mergulharmos nessa obscura atmosfera.
Ao adentrar nos aspectos emocionais da história, o documentário não se limita em relatar os acontecimentos, mas também explora as consequências pessoais e profissionais dos fatos - a empatia gerada por essas histórias, sem dúvida, humaniza a narrativa e a torna parte vital da nossa experiência como audiência. Talvez seja isso, inclusive, que faz com que "O Escândalo de Randall Emmett" transcenda seu propósito de documentar um evento isolado, abrindo espaço para uma discussão mais ampla sobre ética na indústria do entretenimento. Não tenha dúvidas que mais uma vez, você vai questionar o sistema desse mercado tão pautado no ego e no poder, que possibilitam escândalos como esse, e a refletir sobre as implicações sociais e culturais do caso.
Vale muito o seu play!
"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!
Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):
Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.
A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.
Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.
Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!
"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!
Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):
Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.
A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.
Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.
Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!
"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".
O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGol, e deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.
Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.
Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.
Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!
Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”!
Sem comentários!
"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".
O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGol, e deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.
Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.
Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.
Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!
Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”!
Sem comentários!
O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.
Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.
Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.
Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).
"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.
Vale muito a pena!
"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.
Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.
Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.
Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).
"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.
Vale muito a pena!
"O Mistério de Maya" está muito longe de ser uma jornada das mais tranquilas, pois envolve alguns elementos que realmente nos impactam emocionalmente e adianto: impactam de uma forma devastadora (principalmente se você já tem filhos). Essa produção da Netflix é dirigida pelo estreante Henry Roosevelt e em um primeiro olhar pode até soar como mais um daqueles "true crime" que estamos acostumados, mas com o andar da narrativa fica muito claro que não é o caso - eu diria que a obra está mais para um "documentário denúncia' como vimos em boa parte de "Prescrição Fatal", por exemplo.
O documentário conta a história de Maya Kowalski, uma garota de 10 anos diagnosticada com uma rara doença e que acabou sendo tratada de forma alternativa, fora dos EUA, até melhorar. Acontece que um tempo depois ela tem um forte recaída e ao dar entrada às pressas em um hospital, aí sim nos EUA, Maya e seus pais, Jack e Beata, foram pegos de surpresa com uma notícia desoladora: por suspeitas da equipe médica acerca da relação familiar e dos cuidados (na visão deles incorretos) com a garota, Maya foi colocada sob a custódia do Estado, e qualquer tipo de contato com os pais foi proibido. Confira o trailer (em inglês):
O ponto forte de "O Mistério de Maya" está longe de ser seu conceito estético, embora Roosevelt encontre formas muito criativas para cobrir a falta de imagens de determinadas passagens do caso - principalmente com gravações em áudio e de algumas câmeras de segurança. A base narrativa mesmo, é construída a partir de depoimentos dos envolvidos, especialmente com o pai de Maya, Jack; e simulações que criam toda uma atmosfera de suspense e angústia que o filme sugere. Existe sim um tom sensacionalista no roteiro e talvez até na direção, mas nada que prejudique nossa experiência, pois é a história envolvendo Maya que nos provoca, que nos indigna.
O caso em si desperta várias questões e levanta preocupações em relação à justiça e ao sistema penal americano, mas isso não é entregue de cara. A contextualizarão do problema de Maya feita no primeiro ato, serve para nos conectarmos com o drama da família ao mesmo tempo em que também nos deixa uma pulga atrás da orelha - é impossível não nos colocarmos no lugar daquela mãe e daquele pai e até de julga-los, mas olha, é incrível como as peças vão se encaixando e o desenrolar da história vai nos fazendo entender a razão de determinadas atitudes e de determinadas escolhas.
Existe uma falta de dinâmica em "Take Care of Maya" (no original) que nos deixa clara a sensação que o jornalismo se desconectou do entretenimento para não sobrar muito espaço para nossa imaginação - e de fato esse é um ponto a ser observado, que pode incomodar parte da audiência, mas que até acaba fazendo sentido no final das contas. Talvez um aprofundamento maior em algumas passagens tenha deixado algumas dúvidas sobre esse ou aquele assunto (os jurídicos principalmente). Agora é inegável como essa jornada é marcante, como o drama da família Kowalski é potente e como tudo isso mexe com a gente!
Vale muito o seu play!
"O Mistério de Maya" está muito longe de ser uma jornada das mais tranquilas, pois envolve alguns elementos que realmente nos impactam emocionalmente e adianto: impactam de uma forma devastadora (principalmente se você já tem filhos). Essa produção da Netflix é dirigida pelo estreante Henry Roosevelt e em um primeiro olhar pode até soar como mais um daqueles "true crime" que estamos acostumados, mas com o andar da narrativa fica muito claro que não é o caso - eu diria que a obra está mais para um "documentário denúncia' como vimos em boa parte de "Prescrição Fatal", por exemplo.
O documentário conta a história de Maya Kowalski, uma garota de 10 anos diagnosticada com uma rara doença e que acabou sendo tratada de forma alternativa, fora dos EUA, até melhorar. Acontece que um tempo depois ela tem um forte recaída e ao dar entrada às pressas em um hospital, aí sim nos EUA, Maya e seus pais, Jack e Beata, foram pegos de surpresa com uma notícia desoladora: por suspeitas da equipe médica acerca da relação familiar e dos cuidados (na visão deles incorretos) com a garota, Maya foi colocada sob a custódia do Estado, e qualquer tipo de contato com os pais foi proibido. Confira o trailer (em inglês):
O ponto forte de "O Mistério de Maya" está longe de ser seu conceito estético, embora Roosevelt encontre formas muito criativas para cobrir a falta de imagens de determinadas passagens do caso - principalmente com gravações em áudio e de algumas câmeras de segurança. A base narrativa mesmo, é construída a partir de depoimentos dos envolvidos, especialmente com o pai de Maya, Jack; e simulações que criam toda uma atmosfera de suspense e angústia que o filme sugere. Existe sim um tom sensacionalista no roteiro e talvez até na direção, mas nada que prejudique nossa experiência, pois é a história envolvendo Maya que nos provoca, que nos indigna.
O caso em si desperta várias questões e levanta preocupações em relação à justiça e ao sistema penal americano, mas isso não é entregue de cara. A contextualizarão do problema de Maya feita no primeiro ato, serve para nos conectarmos com o drama da família ao mesmo tempo em que também nos deixa uma pulga atrás da orelha - é impossível não nos colocarmos no lugar daquela mãe e daquele pai e até de julga-los, mas olha, é incrível como as peças vão se encaixando e o desenrolar da história vai nos fazendo entender a razão de determinadas atitudes e de determinadas escolhas.
Existe uma falta de dinâmica em "Take Care of Maya" (no original) que nos deixa clara a sensação que o jornalismo se desconectou do entretenimento para não sobrar muito espaço para nossa imaginação - e de fato esse é um ponto a ser observado, que pode incomodar parte da audiência, mas que até acaba fazendo sentido no final das contas. Talvez um aprofundamento maior em algumas passagens tenha deixado algumas dúvidas sobre esse ou aquele assunto (os jurídicos principalmente). Agora é inegável como essa jornada é marcante, como o drama da família Kowalski é potente e como tudo isso mexe com a gente!
Vale muito o seu play!
Olha, "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma pancada tão forte quanto o excelente documentário da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria". Essa produção da Netflix em parceria com o UOL, é um relato visceral e sensível sobre a tragédia que abalou o Flamengo em 2019, quando um incêndio no seu centro de treinamento vitimou 10 jovens jogadores das categorias de base do clube. Mais do que um doloroso registro histórico, a minissérie dirigida pelo Pedro Asbeg (de "Lei da Selva - A história do jogo do bicho") é um mergulho profundo na dor e na luta por justiça das famílias das vítimas, abrindo espaço para reflexões sobre as falhas estruturais e a negligência que culminaram em uma das mais brutais tragédias do nosso país.
"O Ninho: Futebol & Tragédia" acompanha a trajetória profissional de alguns jovens que estavam no centro de treinamento do Flamengo no dia do incêndio em 2019. Reunindo jornalistas, parentes, dirigentes e advogados, a minissérie de três episódios explora e busca as respostas sobre a tragédia ao mesmo tempo em que conta as histórias desses atletas que passavam parte de suas vidas dentro do Ninho, sob os cuidados do clube. "O Ninho" investiga não só o incêndio que marcou o futebol nacional, como também as consequências diretas da inércia da justiça em todos aqueles que foram impactados pela tragédia! Confira o trailer:
O fato do filme não se limitar apenas em apresentar os fatos obscuros que culminaram no dia do incêndio, sem a menor dúvida que humaniza a narrativa - muito ao expor a dor de quem, de fato, sofre até hoje com aquela tragédia. O roteiro é inteligente em se apoiar nas entrevistas com os familiares e com os jogadores sobreviventes para construir uma verdadeira cruzada emocional sobre o drama que todos viveram naquela noite sob diversas perspectivas. Essa estratégia conceitual funciona como uma espécie de quebra-cabeça e conforme as peças vão sendo apresentadas, sua montagem tem um resultado impressionante em quem assiste - eu diria que é um soco no estômago atrás do outro.
A dor dilacerante dos pais que perderam seus filhos é retratada com sensibilidade e respeito, sem cair no sensacionalismo barato, graças a direção precisa e elegante de Asbeg - ele sabe respeitar o espaço do entrevistado, deixando a câmera fazer o seu papel de contar aquilo que não pode ser falado. Asbeg também utiliza de uma série de recursos gráficos e algumas reconstituições muito bem planejadas que não só contextualizam a história e dão voz aos personagens como também nos provoca algumas sensações nada agradáveis. Já com as imagens de arquivo, especialmente dos programas esportivos da época, e mais depoimentos de algumas peças-chave do processo, somos convidados a, mais uma vez, lidar com aquele terrível sentimento de impunidade que assola nosso pais desde sempre. Existe um tom de melancolia, denso e extremamente realista, que contribui demais para a imersão nessa atmosfera de luto e desolação que permeiam todos os episódios.
"O Ninho: Futebol & Tragédia" é um documentário essencial para entender as raízes da tragédia que atingiu o Flamengo e, por extensão, o futebol brasileiro e suas politicagens. Mais do que um filme sobre um incêndio, eu diria que é no grito por justiça e uma reflexão sobre a fragilidade da vida - somos tocados na alma como em "Dossiê Chapecó", por exemplo. Dito isso, fica fácil atestar que é mesmo impossível assistir a essa minissérie e não se emocionar com a dor das famílias, a resiliência dos sobreviventes e ao mesmo tempo não se indignar com a falta de empatia do clube e da justiça na busca pelos responsáveis. "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma obra imperdível, mas de difícil digestão - uma jornada realmente dolorosa e impactante que marca!
Vale seu play!
Olha, "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma pancada tão forte quanto o excelente documentário da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria". Essa produção da Netflix em parceria com o UOL, é um relato visceral e sensível sobre a tragédia que abalou o Flamengo em 2019, quando um incêndio no seu centro de treinamento vitimou 10 jovens jogadores das categorias de base do clube. Mais do que um doloroso registro histórico, a minissérie dirigida pelo Pedro Asbeg (de "Lei da Selva - A história do jogo do bicho") é um mergulho profundo na dor e na luta por justiça das famílias das vítimas, abrindo espaço para reflexões sobre as falhas estruturais e a negligência que culminaram em uma das mais brutais tragédias do nosso país.
"O Ninho: Futebol & Tragédia" acompanha a trajetória profissional de alguns jovens que estavam no centro de treinamento do Flamengo no dia do incêndio em 2019. Reunindo jornalistas, parentes, dirigentes e advogados, a minissérie de três episódios explora e busca as respostas sobre a tragédia ao mesmo tempo em que conta as histórias desses atletas que passavam parte de suas vidas dentro do Ninho, sob os cuidados do clube. "O Ninho" investiga não só o incêndio que marcou o futebol nacional, como também as consequências diretas da inércia da justiça em todos aqueles que foram impactados pela tragédia! Confira o trailer:
O fato do filme não se limitar apenas em apresentar os fatos obscuros que culminaram no dia do incêndio, sem a menor dúvida que humaniza a narrativa - muito ao expor a dor de quem, de fato, sofre até hoje com aquela tragédia. O roteiro é inteligente em se apoiar nas entrevistas com os familiares e com os jogadores sobreviventes para construir uma verdadeira cruzada emocional sobre o drama que todos viveram naquela noite sob diversas perspectivas. Essa estratégia conceitual funciona como uma espécie de quebra-cabeça e conforme as peças vão sendo apresentadas, sua montagem tem um resultado impressionante em quem assiste - eu diria que é um soco no estômago atrás do outro.
A dor dilacerante dos pais que perderam seus filhos é retratada com sensibilidade e respeito, sem cair no sensacionalismo barato, graças a direção precisa e elegante de Asbeg - ele sabe respeitar o espaço do entrevistado, deixando a câmera fazer o seu papel de contar aquilo que não pode ser falado. Asbeg também utiliza de uma série de recursos gráficos e algumas reconstituições muito bem planejadas que não só contextualizam a história e dão voz aos personagens como também nos provoca algumas sensações nada agradáveis. Já com as imagens de arquivo, especialmente dos programas esportivos da época, e mais depoimentos de algumas peças-chave do processo, somos convidados a, mais uma vez, lidar com aquele terrível sentimento de impunidade que assola nosso pais desde sempre. Existe um tom de melancolia, denso e extremamente realista, que contribui demais para a imersão nessa atmosfera de luto e desolação que permeiam todos os episódios.
"O Ninho: Futebol & Tragédia" é um documentário essencial para entender as raízes da tragédia que atingiu o Flamengo e, por extensão, o futebol brasileiro e suas politicagens. Mais do que um filme sobre um incêndio, eu diria que é no grito por justiça e uma reflexão sobre a fragilidade da vida - somos tocados na alma como em "Dossiê Chapecó", por exemplo. Dito isso, fica fácil atestar que é mesmo impossível assistir a essa minissérie e não se emocionar com a dor das famílias, a resiliência dos sobreviventes e ao mesmo tempo não se indignar com a falta de empatia do clube e da justiça na busca pelos responsáveis. "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma obra imperdível, mas de difícil digestão - uma jornada realmente dolorosa e impactante que marca!
Vale seu play!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
Um MBA de Liderança!
Sim, o documentário "O Time da Redenção" é uma aula sobre liderança graças a alguns personagens que merecem ser observados muito de perto para que se possa entender o contexto da jornada de reconstrução da Seleção Americana de Basquete Masculino e a importância da diferença entre se ter um "plano" ou um bom "planejamento" para conquistar determinados objetivos. Mike Krzyzewski (o Coach K), Kobe Bryant, LeBron James e Dwyane Wade são protagonistas dessa produção da Uninterrupted (a mesma de "Neymar - O Caos Perfeito" e de "Naomi Osaka: Estrela do Tênis") que vai te provocar excelentes reflexões!
Com imagens e conteúdo de bastidores inéditos, "O Time da Redenção" conta a história da jornada rumo ao ouro do time de basquete masculino dos EUA em Pequim 2008, após repetidos "fiascos" em dois campeonatos mundiais e nas Olimpíadas de Atenas (2004) quando perdeu uma semi-final improvável para a Argentina. Confira o trailer:
Contextualizando, após a derrota nas Olimpíadas de 1988 em Seul a Confederação Americana de Basquete tinha um plano: fazer com que o Comitê Olímpico permitisse que jogadores profissionais da NBA pudessem disputar uma competição "amadora" e assim reconquistar a hegemonia absoluta do esporte quatro anos depois em Barcelona. Até aquele momento o time dos Universitário dos EUA tinham um histórico de 84 vitórias e apenas 1 derrota - a dolorida e controversa medalha de prata em Munique quando a URSS venceu no último segundo após uma readequação no cronometro para que o time soviético tivesse mais uma chance no jogo. Pois bem, como todo plano, a estratégia funcionou em curto prazo, os EUA foram campeões olímpicos em Barcelona, em Atlanta e em Sidney (já com muita dificuldade); mas não se sustentou no longo prazo quando as outras seleções começaram a ser adequar àquele novo cenário, complicando a vida (e o jogo) dos americanos com muito mais eficiência e frequência como nunca. Era preciso urgente de um planejamento!
Depois da derrota na semi-final olímpica de 2004 foi iniciado um programa de reconstrução - se reunir 15 dias antes de uma competição importante para treinar, já não era uma opção. Com a chegada do nosso primeiro personagem, Mike Krzyzewski, se estabeleceu que os astros da NBA passariam a jogar dentro de um sistema que privilegiaria o conjunto, mesmo que incentivados a ser quem eram em seus times - até porquê, tanto LeBron James quanto Dwyane Wade já haviam participado da campanha fracassada de Atenas e sentiram na pele que o individualismo não se sustentaria mais. Explorar essa transição de mentalidade é, sem dúvida, o grande diferencial do documentário dirigido pelo Jon Weinbach (o cara por traz de "Arremesso Final") - com vários depoimentos dos personagens que fizeram parte dessa reconstrução e uma quantidade considerável de imagens inéditas dos bastidores dessa preparação, "O Time da Redenção" é um estudo de caso dos mais completos e complexos sobre liderança, motivação e planejamento que já assisti! Uma verdadeira aula de gestão em todos os níveis de relação!
"O Time da Redenção" é um presente para quem gosta do esporte e se aproveita dessas histórias (e aqui não estamos falando apenas das histórias de sucesso, mas também das de fracasso) para decodificar tantas lições e aplicar em seu dia a dia profissional. Entender que é preciso liderar pelo exemplo, como Kobe Bryant fez em sua chegada ao time; ou refletir sobre o papel do profissional que está no topo da pirâmide dentro de uma organização, como sempre pregou o Coach K; e até como o fracasso pode servir de combustível para quem não teria mais nada que provar, como aconteceu com James e Wade; enfim, tudo isso e muito mais está nesses 90 minutos de documentário que, no mínimo, vai te deixar muito mais atento a certos detalhes que para muitos nem importantes são, mas fazem muita diferença como prova essa história.
Vale muito o seu play!
E em tempo, se você quiser se aprofundar nos conceitos de liderança de Mike Krzyzewski (o Coach K) indico com muita tranquilidade o livro "Liderar com o Coração" que ele escreveu ao lado de Jamie K. Spatola.
Um MBA de Liderança!
Sim, o documentário "O Time da Redenção" é uma aula sobre liderança graças a alguns personagens que merecem ser observados muito de perto para que se possa entender o contexto da jornada de reconstrução da Seleção Americana de Basquete Masculino e a importância da diferença entre se ter um "plano" ou um bom "planejamento" para conquistar determinados objetivos. Mike Krzyzewski (o Coach K), Kobe Bryant, LeBron James e Dwyane Wade são protagonistas dessa produção da Uninterrupted (a mesma de "Neymar - O Caos Perfeito" e de "Naomi Osaka: Estrela do Tênis") que vai te provocar excelentes reflexões!
Com imagens e conteúdo de bastidores inéditos, "O Time da Redenção" conta a história da jornada rumo ao ouro do time de basquete masculino dos EUA em Pequim 2008, após repetidos "fiascos" em dois campeonatos mundiais e nas Olimpíadas de Atenas (2004) quando perdeu uma semi-final improvável para a Argentina. Confira o trailer:
Contextualizando, após a derrota nas Olimpíadas de 1988 em Seul a Confederação Americana de Basquete tinha um plano: fazer com que o Comitê Olímpico permitisse que jogadores profissionais da NBA pudessem disputar uma competição "amadora" e assim reconquistar a hegemonia absoluta do esporte quatro anos depois em Barcelona. Até aquele momento o time dos Universitário dos EUA tinham um histórico de 84 vitórias e apenas 1 derrota - a dolorida e controversa medalha de prata em Munique quando a URSS venceu no último segundo após uma readequação no cronometro para que o time soviético tivesse mais uma chance no jogo. Pois bem, como todo plano, a estratégia funcionou em curto prazo, os EUA foram campeões olímpicos em Barcelona, em Atlanta e em Sidney (já com muita dificuldade); mas não se sustentou no longo prazo quando as outras seleções começaram a ser adequar àquele novo cenário, complicando a vida (e o jogo) dos americanos com muito mais eficiência e frequência como nunca. Era preciso urgente de um planejamento!
Depois da derrota na semi-final olímpica de 2004 foi iniciado um programa de reconstrução - se reunir 15 dias antes de uma competição importante para treinar, já não era uma opção. Com a chegada do nosso primeiro personagem, Mike Krzyzewski, se estabeleceu que os astros da NBA passariam a jogar dentro de um sistema que privilegiaria o conjunto, mesmo que incentivados a ser quem eram em seus times - até porquê, tanto LeBron James quanto Dwyane Wade já haviam participado da campanha fracassada de Atenas e sentiram na pele que o individualismo não se sustentaria mais. Explorar essa transição de mentalidade é, sem dúvida, o grande diferencial do documentário dirigido pelo Jon Weinbach (o cara por traz de "Arremesso Final") - com vários depoimentos dos personagens que fizeram parte dessa reconstrução e uma quantidade considerável de imagens inéditas dos bastidores dessa preparação, "O Time da Redenção" é um estudo de caso dos mais completos e complexos sobre liderança, motivação e planejamento que já assisti! Uma verdadeira aula de gestão em todos os níveis de relação!
"O Time da Redenção" é um presente para quem gosta do esporte e se aproveita dessas histórias (e aqui não estamos falando apenas das histórias de sucesso, mas também das de fracasso) para decodificar tantas lições e aplicar em seu dia a dia profissional. Entender que é preciso liderar pelo exemplo, como Kobe Bryant fez em sua chegada ao time; ou refletir sobre o papel do profissional que está no topo da pirâmide dentro de uma organização, como sempre pregou o Coach K; e até como o fracasso pode servir de combustível para quem não teria mais nada que provar, como aconteceu com James e Wade; enfim, tudo isso e muito mais está nesses 90 minutos de documentário que, no mínimo, vai te deixar muito mais atento a certos detalhes que para muitos nem importantes são, mas fazem muita diferença como prova essa história.
Vale muito o seu play!
E em tempo, se você quiser se aprofundar nos conceitos de liderança de Mike Krzyzewski (o Coach K) indico com muita tranquilidade o livro "Liderar com o Coração" que ele escreveu ao lado de Jamie K. Spatola.
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".
Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:
Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.
DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".
De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!
Vale seu play!
Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".
Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:
Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.
DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".
De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!
Vale seu play!