E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?
Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?
Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!
"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!
O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores; enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!
"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!
Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!
"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:
"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.
A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!
Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!
Vale muito o seu play!
Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!
"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:
"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.
A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!
Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!
Vale muito o seu play!
Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!
"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:
Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.
Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.
É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!
"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!
Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!
"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:
Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.
Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.
É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!
"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!
"Educação Americana - Fraude e Privilégio" é um docudrama da Netflix do mesmo diretor dos excelentes "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e do "O Desaparecimento de Madeleine McCann". Para quem não sabe, docudrama é aquele tipo de documentário que usa de encenações com atores para construir uma narrativa visual que sente a falta de um bom material de arquivo para ilustrar o texto sobre uma determinada passagem da história.
O filme mostra os detalhes de uma investigação do FBI que desvendou um enorme esquema de suborno que simplesmente desqualificava todos os meios legais que um jovem tinha para ingressar em grandes universidades dos EUA. "Operation Varsity Blues: The College Admissions Scandal" (título original) coloca Rick Singer no centro de uma verdadeira conspiração mafiosa que usava da credibilidade de "Life Planner" do seu idealizador, para criar oportunidades para jovens de famílias muito ricas nos programas esportivos de instituições como Georgetown, Yale, Stanford, entre outras. A grande questão, no entanto, era que esses jovens nunca foram esportistas de verdade e muito menos tinham notas que justificassem uma admissão genuína. Confira o trailer:
O grande problema de "Educação Americana" é justamente o conceito narrativo escolhido para contar essa história impressionante - o docudrama, por si só, não possui o orçamento compatível com os recursos que uma obra dessa magnitude merece. O que eu quero dizer é que as encenações soam falsas, já que os atores são fracos, a produção das cenas são medianas e a direção está completamente fora de sua zona de conforto. Porém, quando o diretor Chris Smith consegue montar as cenas fictícias dentro de um contexto histórico real, usando o audio original das conversas telefônicas e depois mesclando com os depoimentos de personagens que, de alguma forma, participaram daquele universo, tudo funciona muito melhor e acaba ganhando um ritmo bem interessante.
O próprio Rick Singer é um personagem dos mais interessantes, já que consegue unir na mesma pessoa, uma capacidade de comunicação absurda, inteligência acima da média e excelente visão de negócios com um caráter dos mais desprezíveis - o cara além de ser um bandido, ainda é um grande traidor! Quanto ao roteiro, senti que ele talvez tenha derrapado um pouco, pois da forma como é contada a história, faltam algumas explicações de como os esquemas eram construídos em detalhes - só as conversas telefônicas criaram a linha narrativa, mas faltaram elementos que pudessem unir os casos particulares de cada uma das "vítimas" com o esquema como um todo. O próprio modus operandi vai se transformando durante a linha temporal e isso acaba sendo pouco explorado: reparem no personagem que fazia os testes para os alunos incapazes de conseguir a nota exigida pela Universidade - ele entra, sai da história e nem nos relacionamos com ele!
"Educação Americana - Fraude e Privilégio" serve muito como critica ao sistema educacional americano, a sociedade e a hipocrisia do ser humano, e nesse ponto alcançou seu objetivo. O documentário também funciona como um excelente entretenimento, cheio de informações pontuais e relevantes para quem quer ampliar sua visão de mundo.
Enfim, vale o play? Claro que sim!
"Educação Americana - Fraude e Privilégio" é um docudrama da Netflix do mesmo diretor dos excelentes "Fyre Festival: Fiasco no Caribe" e do "O Desaparecimento de Madeleine McCann". Para quem não sabe, docudrama é aquele tipo de documentário que usa de encenações com atores para construir uma narrativa visual que sente a falta de um bom material de arquivo para ilustrar o texto sobre uma determinada passagem da história.
O filme mostra os detalhes de uma investigação do FBI que desvendou um enorme esquema de suborno que simplesmente desqualificava todos os meios legais que um jovem tinha para ingressar em grandes universidades dos EUA. "Operation Varsity Blues: The College Admissions Scandal" (título original) coloca Rick Singer no centro de uma verdadeira conspiração mafiosa que usava da credibilidade de "Life Planner" do seu idealizador, para criar oportunidades para jovens de famílias muito ricas nos programas esportivos de instituições como Georgetown, Yale, Stanford, entre outras. A grande questão, no entanto, era que esses jovens nunca foram esportistas de verdade e muito menos tinham notas que justificassem uma admissão genuína. Confira o trailer:
O grande problema de "Educação Americana" é justamente o conceito narrativo escolhido para contar essa história impressionante - o docudrama, por si só, não possui o orçamento compatível com os recursos que uma obra dessa magnitude merece. O que eu quero dizer é que as encenações soam falsas, já que os atores são fracos, a produção das cenas são medianas e a direção está completamente fora de sua zona de conforto. Porém, quando o diretor Chris Smith consegue montar as cenas fictícias dentro de um contexto histórico real, usando o audio original das conversas telefônicas e depois mesclando com os depoimentos de personagens que, de alguma forma, participaram daquele universo, tudo funciona muito melhor e acaba ganhando um ritmo bem interessante.
O próprio Rick Singer é um personagem dos mais interessantes, já que consegue unir na mesma pessoa, uma capacidade de comunicação absurda, inteligência acima da média e excelente visão de negócios com um caráter dos mais desprezíveis - o cara além de ser um bandido, ainda é um grande traidor! Quanto ao roteiro, senti que ele talvez tenha derrapado um pouco, pois da forma como é contada a história, faltam algumas explicações de como os esquemas eram construídos em detalhes - só as conversas telefônicas criaram a linha narrativa, mas faltaram elementos que pudessem unir os casos particulares de cada uma das "vítimas" com o esquema como um todo. O próprio modus operandi vai se transformando durante a linha temporal e isso acaba sendo pouco explorado: reparem no personagem que fazia os testes para os alunos incapazes de conseguir a nota exigida pela Universidade - ele entra, sai da história e nem nos relacionamos com ele!
"Educação Americana - Fraude e Privilégio" serve muito como critica ao sistema educacional americano, a sociedade e a hipocrisia do ser humano, e nesse ponto alcançou seu objetivo. O documentário também funciona como um excelente entretenimento, cheio de informações pontuais e relevantes para quem quer ampliar sua visão de mundo.
Enfim, vale o play? Claro que sim!
"Elas Contra o Serial Killer" é um documentário de "true crime" com um conceito narrativo um pouco diferente do que assistimos ultimamente no gênero, já que a história não pretende te conquistar pelas dificuldades ou pela jornada de investigação até a descoberta do assassino ou o entendimento das suas motivações mais íntimas e, eventualmente, por todo o processo nos tribunais, entre provas e teorias, até o veredito final - obviamente que com aquele plot twistsurpreendente em algum momento da trama que tornaria o filme inesquecível. Não, essa produção francesa da Netflix quer "apenas" contar uma história que marcou uma época - saindo do ponto A, chegando no ponto B, sem surpresas ou enormes indagações.
"Elas Contra o Serial Killer"acompanha, basicamente, a história de várias mulheres envolvidas em uma busca incansável por justiça e para colocar um Serial Killer que assombrou Paris durante anos 1990, na cadeia - a quem diga que esse seria o primeiro caso de Serial Killer da França, inclusive. Entre essas mulheres, conhecemos uma chefe de polícia e a mãe de uma das vítimas do assassino que não descansaram até descobrir quem cometia os crimes e se, de fato, esses crimes tinham alguma conexão entre si.
As diretoras Mona Achache e Patricia Tourancheau claramente se posicionam como porta-vozes do empoderamento feminino no meio de uma narrativa que, sinceramente, já seria impactante por si só sem essa necessidade feminista de se impor perante os fatos. Em nenhum momento temos algum depoimento de homens e isso não faz a menor falta, porém é impensável imaginar que apenas mulheres participaram da caçada. Por outro lado, o título "Elas Contra o Serial Killer" expõe a força de algumas personagens-chave na busca por justiça de uma forma muito natural, afinal as vitimas eram mulheres, foi a mãe de uma delas que iniciou a busca por respostas e a chefe de policia responsável também era uma mulher em uma época onde cartazes indicavam que trabalhar na corporação era "coisa de homem" - isso é até citado no filme!
O problema dessa abordagem não é ideológica (que fique claro) e sim técnica, pois a sensação de que faltaram alguns peças no quebra-cabeça e que mesmo com um roteiro que segue uma linha temporal tradicional, parece que a trama não decola. É um fato que a história é tão impactante quanto "Os Filhos de Sam" ou "Night Stalker", mas sua estrutura como filme se aproxima muito mais de "Lost Girls" - mesmo um sendo drama e o outro um documentário.
Basicamente o que assistimos são depoimentos, divididos em 3 atos, começando com "a caçada", depois com "julgamento" e por fim um "epílogo" - bem interessante por sinal. São as mães das vitimas, uma jornalista, advogadas de acusação e de defesa e a própria chefe de policia da época contando suas versões sobre o assassino e sobre o caso como um todo, enquanto imagens de arquivo, fotos e laudos ilustram cada passagem da história.
Como comentei acima, vale muito pela história, pela representatividade perante as conquistas e discussões que os crimes geraram na mídia e, claro, pela identificação com o tema para quem gosta de true crime - mas, diferente do que estamos acostumados, "The Women and the Murderer" (título internacional) não vai explodir nossa cabeça e muito menos nos provocar entender a razão de tudo aquilo estar acontecendo ou quem poderia ser o verdadeiro assassino.
Vale como gênero!
"Elas Contra o Serial Killer" é um documentário de "true crime" com um conceito narrativo um pouco diferente do que assistimos ultimamente no gênero, já que a história não pretende te conquistar pelas dificuldades ou pela jornada de investigação até a descoberta do assassino ou o entendimento das suas motivações mais íntimas e, eventualmente, por todo o processo nos tribunais, entre provas e teorias, até o veredito final - obviamente que com aquele plot twistsurpreendente em algum momento da trama que tornaria o filme inesquecível. Não, essa produção francesa da Netflix quer "apenas" contar uma história que marcou uma época - saindo do ponto A, chegando no ponto B, sem surpresas ou enormes indagações.
"Elas Contra o Serial Killer"acompanha, basicamente, a história de várias mulheres envolvidas em uma busca incansável por justiça e para colocar um Serial Killer que assombrou Paris durante anos 1990, na cadeia - a quem diga que esse seria o primeiro caso de Serial Killer da França, inclusive. Entre essas mulheres, conhecemos uma chefe de polícia e a mãe de uma das vítimas do assassino que não descansaram até descobrir quem cometia os crimes e se, de fato, esses crimes tinham alguma conexão entre si.
As diretoras Mona Achache e Patricia Tourancheau claramente se posicionam como porta-vozes do empoderamento feminino no meio de uma narrativa que, sinceramente, já seria impactante por si só sem essa necessidade feminista de se impor perante os fatos. Em nenhum momento temos algum depoimento de homens e isso não faz a menor falta, porém é impensável imaginar que apenas mulheres participaram da caçada. Por outro lado, o título "Elas Contra o Serial Killer" expõe a força de algumas personagens-chave na busca por justiça de uma forma muito natural, afinal as vitimas eram mulheres, foi a mãe de uma delas que iniciou a busca por respostas e a chefe de policia responsável também era uma mulher em uma época onde cartazes indicavam que trabalhar na corporação era "coisa de homem" - isso é até citado no filme!
O problema dessa abordagem não é ideológica (que fique claro) e sim técnica, pois a sensação de que faltaram alguns peças no quebra-cabeça e que mesmo com um roteiro que segue uma linha temporal tradicional, parece que a trama não decola. É um fato que a história é tão impactante quanto "Os Filhos de Sam" ou "Night Stalker", mas sua estrutura como filme se aproxima muito mais de "Lost Girls" - mesmo um sendo drama e o outro um documentário.
Basicamente o que assistimos são depoimentos, divididos em 3 atos, começando com "a caçada", depois com "julgamento" e por fim um "epílogo" - bem interessante por sinal. São as mães das vitimas, uma jornalista, advogadas de acusação e de defesa e a própria chefe de policia da época contando suas versões sobre o assassino e sobre o caso como um todo, enquanto imagens de arquivo, fotos e laudos ilustram cada passagem da história.
Como comentei acima, vale muito pela história, pela representatividade perante as conquistas e discussões que os crimes geraram na mídia e, claro, pela identificação com o tema para quem gosta de true crime - mas, diferente do que estamos acostumados, "The Women and the Murderer" (título internacional) não vai explodir nossa cabeça e muito menos nos provocar entender a razão de tudo aquilo estar acontecendo ou quem poderia ser o verdadeiro assassino.
Vale como gênero!
Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga.
"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.
Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.
A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.
Vale seu play!
Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga.
"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.
Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.
A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.
Vale seu play!
Quando você acha que já viu tudo, chega um documentário e te mostra que o ser humano é capaz de tudo para massagear o seu ego e ainda ganhar algum troco em cima do sonho dos outros - mesmo que essa mesma pessoa ainda tenha conseguido gerar algumas oportunidades que se dessem certo, fariam a história ser completamente diferente do que é contada em "Escola da Fraude: O Escândalo de Bishop Sycamore". Essa produção da HBO é uma mistura de "Fyre Festival"com "Last Chance U" e justamente por isso nos provoca uma série de sentimentos que tendem a embrulhar nosso estômago! Para nós, brasileiros, essa história soa um pouco descolada da realidade, mas acreditem: o caso Bishop Sycamore é um exemplo emblemático das complexidades e desafios que envolvem o esporte no ensino médio nos Estados Unidos - principalmente no que diz respeito a fragilidade da regulamentação que aflige esse cenário e o impacto que uma fraude "bem construída" pode ter na vida de tantos jovens..
Em 2021, um dos maiores canais esportivos do mundo, a ESPN, transmite para todos os Estados Unidos um jogo de futebol americano envolvendo uma desconhecida equipe da escola Bishop Sycamore de Ohio, os Centurions, contra a IMG Academy, uma verdadeira potência do esporte pré-universidade e uma das referências em preparar talentos para NFL. Após uma verdadeira lavada dentro de campo, começa uma investigação fora dele que acaba revelando que essa instituição jamais existiu de verdade! Mas então como a "BS High" chegou até ali, em uma partida desse nível e em rede nacional? Confira o trailer (em inglês) e veja onde esses jovens se enfiaram:
Os diretores Travon Free e Martin Desmond Roe, ambos vencedores do Oscar de "Curta-Metragem em 2021 por "Dois Estranhos", foram muito inteligentes, e corajosos, ao trazer para frente das câmeras a principal peça desse caso maluco: o criador e responsável pela Bishop Sycamore, Roy Johnson. Em um primeiro olhar, ele até parece ser um cara simpático, com a melhor das intenções, mas reparem como essa impressão começa a desabar e como sua verdadeira persona passa a nos gerar certa repulsa. Alternando depoimentos dos ex-jogadores da BS com os do próprio Roy, sempre ilustradas com inúmeras imagens de arquivo da época do escândalo, inclusive com cenas do jogo contra a IMG, o documentário de pouco mais de 90 minutos detalha cada passo da fraude, suas motivações e, principalmente, como ela ganhou enorme repercussão.
Veja, não se trata de um filme sobre futebol americano. Se trata de um filme sobre uma fraude absurda ao melhor estilo Billy McFarland (ele, aliás, é lembrado por um meme assim que descobrem que Bishop Sycamore não era bem aquilo que foi prometido). É interessante como o documentário explora as várias revelações perturbadoras sobre a escola e a equipe que apanhou feito da IMG. Johnson é questionado pelos diretores e não foge das respostas até quando é confrontado sobre seus jogadores serem adultos, alguns com mais de 20 anos de idade e ainda estarem no "ensino médio", ou sobre o histórico de inadimplência e os problemas legais monstruosos que levantaram a dúvidas sobre a própria existência da escola como uma instituição educacional legítima. Com um certo tom de deboche, Johnson deixa claro que as coisas não saíram exatamente como ele queria, mas que nem por isso, voltaria atrás em suas atitudes - ele realmente acredita ter feito tudo pelo bem dos jovens e essa convicção, de fato, nos faz refletir: até onde ele foi mal caráter, ou sonhou mais alto do que podia realizar?
O fato é que o caso Bishop Sycamore expôs lacunas significativas no sistema de regulamentação do futebol americano de ensino médio nos EUA. A falta de fiscalização permitiu que uma equipe fraudulenta ganhasse destaque nacional, enganando não apenas seus atletas e alunos, mas também os organizadores de um evento transmitido para o país inteiro - uma verdadeira vergonha nacional. Além disso, e aqui acho que "Escola da Fraude: O Escândalo de Bishop Sycamore" muda de patamar, o filme trouxe à tona, mais uma vez, questões sobre a pressão para com os jovens atletas que acabaram atraídos para a equipe com a promessa de exposição e futuras bolsas de estudo universitárias, mas que de repente se viram envolvidos em um esquema que não apenas os explorou, mas também os colocou em risco fisicamente e psicologicamente.
Olha, é uma pancada, mas vale muito o seu play!
Quando você acha que já viu tudo, chega um documentário e te mostra que o ser humano é capaz de tudo para massagear o seu ego e ainda ganhar algum troco em cima do sonho dos outros - mesmo que essa mesma pessoa ainda tenha conseguido gerar algumas oportunidades que se dessem certo, fariam a história ser completamente diferente do que é contada em "Escola da Fraude: O Escândalo de Bishop Sycamore". Essa produção da HBO é uma mistura de "Fyre Festival"com "Last Chance U" e justamente por isso nos provoca uma série de sentimentos que tendem a embrulhar nosso estômago! Para nós, brasileiros, essa história soa um pouco descolada da realidade, mas acreditem: o caso Bishop Sycamore é um exemplo emblemático das complexidades e desafios que envolvem o esporte no ensino médio nos Estados Unidos - principalmente no que diz respeito a fragilidade da regulamentação que aflige esse cenário e o impacto que uma fraude "bem construída" pode ter na vida de tantos jovens..
Em 2021, um dos maiores canais esportivos do mundo, a ESPN, transmite para todos os Estados Unidos um jogo de futebol americano envolvendo uma desconhecida equipe da escola Bishop Sycamore de Ohio, os Centurions, contra a IMG Academy, uma verdadeira potência do esporte pré-universidade e uma das referências em preparar talentos para NFL. Após uma verdadeira lavada dentro de campo, começa uma investigação fora dele que acaba revelando que essa instituição jamais existiu de verdade! Mas então como a "BS High" chegou até ali, em uma partida desse nível e em rede nacional? Confira o trailer (em inglês) e veja onde esses jovens se enfiaram:
Os diretores Travon Free e Martin Desmond Roe, ambos vencedores do Oscar de "Curta-Metragem em 2021 por "Dois Estranhos", foram muito inteligentes, e corajosos, ao trazer para frente das câmeras a principal peça desse caso maluco: o criador e responsável pela Bishop Sycamore, Roy Johnson. Em um primeiro olhar, ele até parece ser um cara simpático, com a melhor das intenções, mas reparem como essa impressão começa a desabar e como sua verdadeira persona passa a nos gerar certa repulsa. Alternando depoimentos dos ex-jogadores da BS com os do próprio Roy, sempre ilustradas com inúmeras imagens de arquivo da época do escândalo, inclusive com cenas do jogo contra a IMG, o documentário de pouco mais de 90 minutos detalha cada passo da fraude, suas motivações e, principalmente, como ela ganhou enorme repercussão.
Veja, não se trata de um filme sobre futebol americano. Se trata de um filme sobre uma fraude absurda ao melhor estilo Billy McFarland (ele, aliás, é lembrado por um meme assim que descobrem que Bishop Sycamore não era bem aquilo que foi prometido). É interessante como o documentário explora as várias revelações perturbadoras sobre a escola e a equipe que apanhou feito da IMG. Johnson é questionado pelos diretores e não foge das respostas até quando é confrontado sobre seus jogadores serem adultos, alguns com mais de 20 anos de idade e ainda estarem no "ensino médio", ou sobre o histórico de inadimplência e os problemas legais monstruosos que levantaram a dúvidas sobre a própria existência da escola como uma instituição educacional legítima. Com um certo tom de deboche, Johnson deixa claro que as coisas não saíram exatamente como ele queria, mas que nem por isso, voltaria atrás em suas atitudes - ele realmente acredita ter feito tudo pelo bem dos jovens e essa convicção, de fato, nos faz refletir: até onde ele foi mal caráter, ou sonhou mais alto do que podia realizar?
O fato é que o caso Bishop Sycamore expôs lacunas significativas no sistema de regulamentação do futebol americano de ensino médio nos EUA. A falta de fiscalização permitiu que uma equipe fraudulenta ganhasse destaque nacional, enganando não apenas seus atletas e alunos, mas também os organizadores de um evento transmitido para o país inteiro - uma verdadeira vergonha nacional. Além disso, e aqui acho que "Escola da Fraude: O Escândalo de Bishop Sycamore" muda de patamar, o filme trouxe à tona, mais uma vez, questões sobre a pressão para com os jovens atletas que acabaram atraídos para a equipe com a promessa de exposição e futuras bolsas de estudo universitárias, mas que de repente se viram envolvidos em um esquema que não apenas os explorou, mas também os colocou em risco fisicamente e psicologicamente.
Olha, é uma pancada, mas vale muito o seu play!
Muito do que você viu satirizado em "El Presidente"e em "Jogo da Corrupção", você vai encontrar documentado na minissérie de 4 episódios da Netflix, "Esquemas da FIFA". Se nos dois primeiros episódios o foco é a transformação de entidade depois da chegada do brasileiro João Havelange ao poder, o que se segue é uma série de fatos que notadamente coloca o esporte e o respeito pela paixão do torcedor em descaso - das escolhas das sedes para as Copas do Mundo (principalmente da Rússia em 2018 e Catar em 2022) às absurdas negociações para conquista de votos na busca pela reeleição (leia-se "pelo poder"), o documentário, infelizmente, vai te provocar uma análise completamente diferente sobre o futebol, pelo viés político e econômico em sua pior versão.
"FIFA Uncovered" (no original) revela a história conturbada da organização ao explorar as investigações dos casos de corrupção que foram descobertos a partir de 2015. A minissérie documental também acompanha os critérios para a escolha das sedes da Copa do Mundo e os bastidores da construção de uma poderosa ferramenta de marketing e influente entidade politica. Confira o trailer (em inglês):
Além de um assunto muito interessante (embora indigesto) para quem gosta e acompanha o futebol além do esporte, o que mais chama a atenção em "Esquemas da FIFA" são os personagens entrevistados pela produção da minissérie. A partir de uma escolha narrativa que equilibra perfeitamente o valor histórico da FIFA e a transformação da entidade máxima do futebol em um verdadeiro (e poderoso) império, com fortes elementos do jornalismo investigativo, o diretor trouxe para os holofotes uma visão imparcial (mas dura) sobre pontos muito sensíveis do desenvolvimento recente do esporte (como negócio) pela voz de muitos de seus protagonistas, entre eles Jérôme Valcke, Ricardo Teixeira e o próprio Joseph Blatter.
Ao nos apresentar uma linha do tempo bastante fluída, fica fácil entender como a disputa pelo poder, a ambição e, principalmente, a corrupção foram se inserindo dentro da organização. Embora o documentário não afirme com todas as letras, o capítulo sobre a escolha do Catar como sede de uma Copa do Mundo, vencendo o favorito EUA de Bill Clinton, parece vital para o que veio a se tornar público na operação do FBI que ficou conhecida como "FIFAGate". O incrível, inclusive, é que até a Phaedra Almajid, responsável pela comunicação da candidatura do Catar, aparece durante o documentário repetindo as mesmas acusações gravíssimas de suborno contra dirigentes africanos que votaram a favor do seu país, enquanto o próprio Hassan Al Thawadi, que liderou a candidatura, tenta (muitas vezes sem muito sucesso) dar a sua versão sobre as polêmicas que envolveram (e envolvem) o evento.
"Esquemas da FIFA", de fato, é um recorte histórico dos mais envolventes, até para quem não gosta do esporte. Agora, é inegável que para quem conhece muitos dos personagens que transitam pelos bastidores da FIFA, essa minissérie além de muito reveladora, é simplesmente imperdível!
Vale muito o seu play!
Muito do que você viu satirizado em "El Presidente"e em "Jogo da Corrupção", você vai encontrar documentado na minissérie de 4 episódios da Netflix, "Esquemas da FIFA". Se nos dois primeiros episódios o foco é a transformação de entidade depois da chegada do brasileiro João Havelange ao poder, o que se segue é uma série de fatos que notadamente coloca o esporte e o respeito pela paixão do torcedor em descaso - das escolhas das sedes para as Copas do Mundo (principalmente da Rússia em 2018 e Catar em 2022) às absurdas negociações para conquista de votos na busca pela reeleição (leia-se "pelo poder"), o documentário, infelizmente, vai te provocar uma análise completamente diferente sobre o futebol, pelo viés político e econômico em sua pior versão.
"FIFA Uncovered" (no original) revela a história conturbada da organização ao explorar as investigações dos casos de corrupção que foram descobertos a partir de 2015. A minissérie documental também acompanha os critérios para a escolha das sedes da Copa do Mundo e os bastidores da construção de uma poderosa ferramenta de marketing e influente entidade politica. Confira o trailer (em inglês):
Além de um assunto muito interessante (embora indigesto) para quem gosta e acompanha o futebol além do esporte, o que mais chama a atenção em "Esquemas da FIFA" são os personagens entrevistados pela produção da minissérie. A partir de uma escolha narrativa que equilibra perfeitamente o valor histórico da FIFA e a transformação da entidade máxima do futebol em um verdadeiro (e poderoso) império, com fortes elementos do jornalismo investigativo, o diretor trouxe para os holofotes uma visão imparcial (mas dura) sobre pontos muito sensíveis do desenvolvimento recente do esporte (como negócio) pela voz de muitos de seus protagonistas, entre eles Jérôme Valcke, Ricardo Teixeira e o próprio Joseph Blatter.
Ao nos apresentar uma linha do tempo bastante fluída, fica fácil entender como a disputa pelo poder, a ambição e, principalmente, a corrupção foram se inserindo dentro da organização. Embora o documentário não afirme com todas as letras, o capítulo sobre a escolha do Catar como sede de uma Copa do Mundo, vencendo o favorito EUA de Bill Clinton, parece vital para o que veio a se tornar público na operação do FBI que ficou conhecida como "FIFAGate". O incrível, inclusive, é que até a Phaedra Almajid, responsável pela comunicação da candidatura do Catar, aparece durante o documentário repetindo as mesmas acusações gravíssimas de suborno contra dirigentes africanos que votaram a favor do seu país, enquanto o próprio Hassan Al Thawadi, que liderou a candidatura, tenta (muitas vezes sem muito sucesso) dar a sua versão sobre as polêmicas que envolveram (e envolvem) o evento.
"Esquemas da FIFA", de fato, é um recorte histórico dos mais envolventes, até para quem não gosta do esporte. Agora, é inegável que para quem conhece muitos dos personagens que transitam pelos bastidores da FIFA, essa minissérie além de muito reveladora, é simplesmente imperdível!
Vale muito o seu play!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
Dividido em 2 partes de 1 hora, em média, essa minissérie documental da HBO mostra o julgamento de Michelle Carter, uma jovem de 17 anos que foi acusada de incentivar o namorado, Conrad Roy, de 18 anos, a se suicidar. O curioso dessa história é que eles sempre estiveram a mais de 60 km de distância um do outro. Todo relacionamento era baseado em mensagens de celular (60.000 pra ser exato)! Por mais maluca que possa parecer essa história, a diretora Erin Lee Carr (Mommy Dead and Dearest) foi muito inteligente em humanizar o caso sem levantar nenhuma bandeira e por mais que sejamos convidados a fazer nossos próprios julgamentos, a cada nova informação nossa cabeça dá um nó!
No dia 14 de julho de 2014, Conrad Roy foi encontrado morto depois de respirar uma enorme quantidade de monóxido de carbono dentro da sua caminhonete, no estacionamento de um supermercado. O que parecia mais um caso de suicídio logo se transformou em uma acusação de homicídio culposo quando, junto ao corpo, foi encontrado um celular sem bateria. Já com o inicio das investigações, foi descoberto uma série de mensagens que, aparentemente, incentivaram Roy a se matar. A responsável por essas mensagens era Michelle Carter, sua namorada. Roy e Michelle namoraram cerca de 2 anos e nesse período se encontraram apenas 5 vezes. A distância e o tempo não afastou o casal, pelo contrário, só fortaleceu a relação: as várias de mensagens que eles trocavam diariamente, só comprovam a enorme sintonia que existia entre os dois - e a minissérie usa muito bem esse material como conceito narrativo, o que dá um tom de proximidade com nossa realidade impressionante. O fato é que eles realmente pareciam se amar e se apoiar em todas as situações, porém Roy sofria de uma depressão severa e Michelle apresentava fortes sinais de sociopatia, ou seja, essa relação era uma bomba prestes a explodir!
É nesse cenário que o documentário ganha força. Com depoimentos da família Roy, dos investigadores, de um jornalista, do advogado de Michelle e de um psiquiatra, "Eu Te Amo, Agora Morra" mostra toda a cronologia do caso: da preparação do suicídio até o veredito do juiz, usando as trocas de mensagens entre o casal como uma espécie de "narrador" (o som das mensagem saindo e chegando são angustiantes) e as cenas do julgamento e das reportagens da época como "fechamentos de bloco", extremamente bem montados, diga-se de passagem. Esse é o tipo de documentário, aliás, que você não consegue tirar o olho da tela - ele é dinâmico, envolvente, interessante e até o último segundo fica impossível cravar qual será o resultado dessa trama tão complexa e mesmo assim a grande discussão moral da história fica martelando na nossa cabeça por algum tempo! Olha, vale o play!!!!
PS: A abertura da minissérie é de um bom gosto incrível!!!!
Dividido em 2 partes de 1 hora, em média, essa minissérie documental da HBO mostra o julgamento de Michelle Carter, uma jovem de 17 anos que foi acusada de incentivar o namorado, Conrad Roy, de 18 anos, a se suicidar. O curioso dessa história é que eles sempre estiveram a mais de 60 km de distância um do outro. Todo relacionamento era baseado em mensagens de celular (60.000 pra ser exato)! Por mais maluca que possa parecer essa história, a diretora Erin Lee Carr (Mommy Dead and Dearest) foi muito inteligente em humanizar o caso sem levantar nenhuma bandeira e por mais que sejamos convidados a fazer nossos próprios julgamentos, a cada nova informação nossa cabeça dá um nó!
No dia 14 de julho de 2014, Conrad Roy foi encontrado morto depois de respirar uma enorme quantidade de monóxido de carbono dentro da sua caminhonete, no estacionamento de um supermercado. O que parecia mais um caso de suicídio logo se transformou em uma acusação de homicídio culposo quando, junto ao corpo, foi encontrado um celular sem bateria. Já com o inicio das investigações, foi descoberto uma série de mensagens que, aparentemente, incentivaram Roy a se matar. A responsável por essas mensagens era Michelle Carter, sua namorada. Roy e Michelle namoraram cerca de 2 anos e nesse período se encontraram apenas 5 vezes. A distância e o tempo não afastou o casal, pelo contrário, só fortaleceu a relação: as várias de mensagens que eles trocavam diariamente, só comprovam a enorme sintonia que existia entre os dois - e a minissérie usa muito bem esse material como conceito narrativo, o que dá um tom de proximidade com nossa realidade impressionante. O fato é que eles realmente pareciam se amar e se apoiar em todas as situações, porém Roy sofria de uma depressão severa e Michelle apresentava fortes sinais de sociopatia, ou seja, essa relação era uma bomba prestes a explodir!
É nesse cenário que o documentário ganha força. Com depoimentos da família Roy, dos investigadores, de um jornalista, do advogado de Michelle e de um psiquiatra, "Eu Te Amo, Agora Morra" mostra toda a cronologia do caso: da preparação do suicídio até o veredito do juiz, usando as trocas de mensagens entre o casal como uma espécie de "narrador" (o som das mensagem saindo e chegando são angustiantes) e as cenas do julgamento e das reportagens da época como "fechamentos de bloco", extremamente bem montados, diga-se de passagem. Esse é o tipo de documentário, aliás, que você não consegue tirar o olho da tela - ele é dinâmico, envolvente, interessante e até o último segundo fica impossível cravar qual será o resultado dessa trama tão complexa e mesmo assim a grande discussão moral da história fica martelando na nossa cabeça por algum tempo! Olha, vale o play!!!!
PS: A abertura da minissérie é de um bom gosto incrível!!!!
Dos documentários "true crime" que já assisti e analisei até hoje, "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO talvez seja o mais humano de todos. Essa característica não faz dele o melhor ou o pior do gênero, mas certamente nos entrega uma narrativa diferente, nos provocando a embarcar em uma história terrível, mas sob o ponto de vista de uma terceira pessoa, a escritora Michelle McNamara, que é capaz de nos conquistar com suas angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem ao expôr suas fragilidades da mesma forma com que tenta, incansavelmente, desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA.
McNamara é a autora do livro homônimo "I'll Be Gone in the Dark" (título original), onde narra sua jornada como escritora durante a investigação de uma série de casos de estupros e assassinatos em Sacramento durante as décadas de 70 e 80 que posteriormente ficou conhecido como "O caso do assassino de Golden State". Confira o trailer:
A série conta em detalhes todo o trabalho de Michelle McNamara como jornalista investigativa até o momento em que passa a se dedicar integralmente ao caso não resolvido do assassino de Golden State, que estuprou 50 mulheres e matou outras 10 pessoas. O interessante dessa jornada é que pouco a pouco a obstinação de McNamara vai se transformando em uma enorme obsessão, fazendo com que o próprio assassino (ou o que ele representa) domine sua mente e interfira visivelmente na sua vida pessoal - e aqui temos o ponto alto da série: essa linha tênue onde McNamara tenta se equilibrar tem reflexos cruciais e eles são muito mais profundos do que qualquer um que vivia com ela poderia imaginar. Olha, em vários momentos é preciso ter estômago, já que muitas sobreviventes contam sobre os ataques que sofreram com uma riqueza de sensações assustadora e em outros, sofremos na pele as mesmas angústias de uma McNamara inconformada (e pressionada) com o fato do assassino ainda estar solto e isso, de certa forma, vai nos impulsionando a torcer por uma resolução, mesmo sabendo que a protagonista não estará lá para ver!
Escrito por Liz Garbus (que também dirige dois episódios), a série se divide entre a investigação de McNamara e sua biografia recente, até que ambos se misturam quando ela começa a escrever o livro sobre o assassino. Se apoiando muito na semiótica, Garbus (que já foi indicada para dois Oscars: um com "The Farm: Angola, USA" e outro com o excepcional "What Happened, Miss Simone?") soube trabalhar como ninguém o fato de que McNamara nunca esteve presente durante a produção da série - ao usar suas palavras escritas no livro, brilhantemente narradas por Karen Kilgariff, a diretora acabou criando um tom poético para a visão de McNamara ao mesmo tempo que a força emocional de suas palavras contrastam com a brutalidade dos ataques.
Garbus alternou inúmeras entrevistas bem interessantes, com imagens de arquivo e até uma ou outra dramatização. Dar voz ao marido de McNamara, aos amigos, fãs do blog que escrevia, policiais que trabalharam na investigação na época dos crimes e, por fim, para os seus próprios parceiros de trabalho, mostram exatamente a quantidade de informações relevantes que essa história demanda. O bacana é que mesmo com tanto material, em nenhum momento nos sentimos perdidos - o ritmo é intenso, mas muito bem construído, com muitos elementos de ficção, inclusive, só que extremamente pertinentes ao conceito narrativo imposto pela diretora!
""Eu Terei Sumido na Escuridão" vai agradar quem gosta de séries policiais de crimes reais da mesma forma de quem gosta de biografias com pessoas interessantes e inteligentes. Essa mistura de gêneros entrega um resultado impecável e que, certamente, virá muito forte na temporada de premiações do ano que vem. Vale muito o seu play, de verdade!
Dos documentários "true crime" que já assisti e analisei até hoje, "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO talvez seja o mais humano de todos. Essa característica não faz dele o melhor ou o pior do gênero, mas certamente nos entrega uma narrativa diferente, nos provocando a embarcar em uma história terrível, mas sob o ponto de vista de uma terceira pessoa, a escritora Michelle McNamara, que é capaz de nos conquistar com suas angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem ao expôr suas fragilidades da mesma forma com que tenta, incansavelmente, desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA.
McNamara é a autora do livro homônimo "I'll Be Gone in the Dark" (título original), onde narra sua jornada como escritora durante a investigação de uma série de casos de estupros e assassinatos em Sacramento durante as décadas de 70 e 80 que posteriormente ficou conhecido como "O caso do assassino de Golden State". Confira o trailer:
A série conta em detalhes todo o trabalho de Michelle McNamara como jornalista investigativa até o momento em que passa a se dedicar integralmente ao caso não resolvido do assassino de Golden State, que estuprou 50 mulheres e matou outras 10 pessoas. O interessante dessa jornada é que pouco a pouco a obstinação de McNamara vai se transformando em uma enorme obsessão, fazendo com que o próprio assassino (ou o que ele representa) domine sua mente e interfira visivelmente na sua vida pessoal - e aqui temos o ponto alto da série: essa linha tênue onde McNamara tenta se equilibrar tem reflexos cruciais e eles são muito mais profundos do que qualquer um que vivia com ela poderia imaginar. Olha, em vários momentos é preciso ter estômago, já que muitas sobreviventes contam sobre os ataques que sofreram com uma riqueza de sensações assustadora e em outros, sofremos na pele as mesmas angústias de uma McNamara inconformada (e pressionada) com o fato do assassino ainda estar solto e isso, de certa forma, vai nos impulsionando a torcer por uma resolução, mesmo sabendo que a protagonista não estará lá para ver!
Escrito por Liz Garbus (que também dirige dois episódios), a série se divide entre a investigação de McNamara e sua biografia recente, até que ambos se misturam quando ela começa a escrever o livro sobre o assassino. Se apoiando muito na semiótica, Garbus (que já foi indicada para dois Oscars: um com "The Farm: Angola, USA" e outro com o excepcional "What Happened, Miss Simone?") soube trabalhar como ninguém o fato de que McNamara nunca esteve presente durante a produção da série - ao usar suas palavras escritas no livro, brilhantemente narradas por Karen Kilgariff, a diretora acabou criando um tom poético para a visão de McNamara ao mesmo tempo que a força emocional de suas palavras contrastam com a brutalidade dos ataques.
Garbus alternou inúmeras entrevistas bem interessantes, com imagens de arquivo e até uma ou outra dramatização. Dar voz ao marido de McNamara, aos amigos, fãs do blog que escrevia, policiais que trabalharam na investigação na época dos crimes e, por fim, para os seus próprios parceiros de trabalho, mostram exatamente a quantidade de informações relevantes que essa história demanda. O bacana é que mesmo com tanto material, em nenhum momento nos sentimos perdidos - o ritmo é intenso, mas muito bem construído, com muitos elementos de ficção, inclusive, só que extremamente pertinentes ao conceito narrativo imposto pela diretora!
""Eu Terei Sumido na Escuridão" vai agradar quem gosta de séries policiais de crimes reais da mesma forma de quem gosta de biografias com pessoas interessantes e inteligentes. Essa mistura de gêneros entrega um resultado impecável e que, certamente, virá muito forte na temporada de premiações do ano que vem. Vale muito o seu play, de verdade!
Até que ponto o "marketing de percepção" pode se tornar relevante em uma rede social? A reposta é simples: se não houver conteúdo que justifique aquela exposição, não vale a pena! Mas, será mesmo?
Esse documentário da HBO, mostra como é possível construir uma influenciadora mesmo que seja completamente falsa a vida que ela leva. Em "Fake Famous" acompanhamos 3 cobaias escolhidas para um experimento onde são usados todos os truques possíveis para torná-las famosas - da compra de seguidores, likes e comentários no Instagram, até a produção de fotos falsas ou a criação de relações com patrocinadores que não existem comercialmente. Confira o trailer:
A ideia nasceu quando o jornalista Nick Bilton, em sua estreia como documentarista, depois de passar pelo The New York Times e depois pela Vanity Fair como repórter especializado em tecnologia, falou para um de seus editores que conseguiria transformar uma pessoa comum em um influenciador em 10 minutos. A resposta foi positiva, dizendo que o conceito poderia gerar um documentário bastante interessante. A partir daí, Bilton começou a colocar seu projeto em prática. Ele realizou um longo processo de pesquisa e escolha de elenco até encontrar seus três objetos de estudo: Dominique, uma carismática funcionária de uma loja de roupas e aspirante a atriz; Chris, um estilista iniciante recém chegado à Los Angeles; e Wylie, um jovem, gay, assistente em uma empresa do mercado imobiliário.
O interessante do documentário é justamente entender até que ponto o volume de seguidores reflete a relevância que um influenciador pode ter. Ao acompanhar os três personagens, temos a imediata percepção que com os números (na maioria falsos e comprados) vem um bônus, mas também o ônus. Criar algo inexistente pode funcionar, mas o teste prova que não é uma matemática exata e expõe diversos fatores - o impacto na vida desses personagens, certamente, é o que mais impressiona ou você conhece alguém que quer ter uma vida de mentira? Ops, não precisa responder!
Em uma sociedade pautada pelo que é visto e não pelo que é falado, "Fake Famous - uma experiência surreal nas redes" é uma provocação inteligente, com uma narrativa fácil, dinâmica e muito interessante, que nos prende e nos provoca a cada fase do processo. São atalhos que brincam com a percepção de quem acompanha a vida de personalidades nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como isso vem se transformando em um problema para toda uma jovem geração - e aqui cabe minha única critica ao documentário: faltou se aprofundar nesse problema com uma proposta mais séria de informação e estatística.
Tirando esse detalhe, é impossível não indicar "Fake Famous" por levantar questões importantes sobre esse recorte social tão atual e, claro, pelo entretenimento bastante curioso e instigante que a experiência proporciona para quem vive e assiste. Vale muito a pena!
Até que ponto o "marketing de percepção" pode se tornar relevante em uma rede social? A reposta é simples: se não houver conteúdo que justifique aquela exposição, não vale a pena! Mas, será mesmo?
Esse documentário da HBO, mostra como é possível construir uma influenciadora mesmo que seja completamente falsa a vida que ela leva. Em "Fake Famous" acompanhamos 3 cobaias escolhidas para um experimento onde são usados todos os truques possíveis para torná-las famosas - da compra de seguidores, likes e comentários no Instagram, até a produção de fotos falsas ou a criação de relações com patrocinadores que não existem comercialmente. Confira o trailer:
A ideia nasceu quando o jornalista Nick Bilton, em sua estreia como documentarista, depois de passar pelo The New York Times e depois pela Vanity Fair como repórter especializado em tecnologia, falou para um de seus editores que conseguiria transformar uma pessoa comum em um influenciador em 10 minutos. A resposta foi positiva, dizendo que o conceito poderia gerar um documentário bastante interessante. A partir daí, Bilton começou a colocar seu projeto em prática. Ele realizou um longo processo de pesquisa e escolha de elenco até encontrar seus três objetos de estudo: Dominique, uma carismática funcionária de uma loja de roupas e aspirante a atriz; Chris, um estilista iniciante recém chegado à Los Angeles; e Wylie, um jovem, gay, assistente em uma empresa do mercado imobiliário.
O interessante do documentário é justamente entender até que ponto o volume de seguidores reflete a relevância que um influenciador pode ter. Ao acompanhar os três personagens, temos a imediata percepção que com os números (na maioria falsos e comprados) vem um bônus, mas também o ônus. Criar algo inexistente pode funcionar, mas o teste prova que não é uma matemática exata e expõe diversos fatores - o impacto na vida desses personagens, certamente, é o que mais impressiona ou você conhece alguém que quer ter uma vida de mentira? Ops, não precisa responder!
Em uma sociedade pautada pelo que é visto e não pelo que é falado, "Fake Famous - uma experiência surreal nas redes" é uma provocação inteligente, com uma narrativa fácil, dinâmica e muito interessante, que nos prende e nos provoca a cada fase do processo. São atalhos que brincam com a percepção de quem acompanha a vida de personalidades nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como isso vem se transformando em um problema para toda uma jovem geração - e aqui cabe minha única critica ao documentário: faltou se aprofundar nesse problema com uma proposta mais séria de informação e estatística.
Tirando esse detalhe, é impossível não indicar "Fake Famous" por levantar questões importantes sobre esse recorte social tão atual e, claro, pelo entretenimento bastante curioso e instigante que a experiência proporciona para quem vive e assiste. Vale muito a pena!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
Quase um ano depois do Brasil ganhar a Copa do Mundo nos EUA em 94, estreiou o filme "Todos os corações do Mundo". Era a primeira vez que víamos um documentário sobre a Copa do Mundo por um outro angulo - não só aquele que as emissoras mostravam durante as transmissões, que, na época, não tinham essa tecnologia toda. Era a primeira vez que víamos um jogo de futebol no Cinema, filmado em película 35 mm, em 24 fps, e embora muita gente não soubesse muito bem explicar o motivo, aquelas imagens tinham uma atmosférica mágica, um história, personagens... A grande verdade é que o diretor Murilo Salles teve a sensibilidade de humanizar o evento esportivo mais amado pelos brasileiros e a sorte de documentar o tetra campeonato depois de 24 anos!!!! Uma cena icônica captada por Salles, foi quando Baggio encara Romário no túnel do estádio, pouco antes de entrar em campo para jogar a final!!! Lindo de ver e de viver!!! Pois bem, por que eu falei de futebol em um review de uma série sobre F1? Porque a sensação que eu tive ao assistir "Formula 1: Dirigir paraViver" foi muito parecida com a que eu tive ao assistir, no cinema, "Todos os corações do Mundo" - a série da Netflix é sensacional!!!! Para quem gosta do/de esporte, é daquelas coisas que você assiste bem devagar pra não acabar e ficar sem, sabe? É um episódio melhor que o outro, confira o trailer:
"Formula 1: Dirigir paraViver" é uma série Original da Netflix com 10 episódios, de 40 minutos cada, que mostra os bastidores da Formula 1 na temporada de 2018. Na verdade, muito mais que os bastidores, a série vai atrás de pequenas e rápidas histórias, mas com personagens grandiosos: sejam eles os próprios pilotos ou alguém da equipe: um mecânico, um projetista, o chefe... até a família dos pilotos o diretor teve o cuidado de retratar! Tudo isso com o pano de fundo dos 21 GPs da Temporada e todo aquele visual maravilhoso dos países onde as corridas acontecem! Sério, é incrível como o diretor foi capaz de construir uma linha narrativa tão dinâmica focando em histórias tão particulares dos personagens e não só nas corridas em si! A edição é espetacular, um show a parte - capaz de criar um clima de tensão, de curiosidade, de tristeza, de ansiedade... Demais! A fotografia é sensacional - um espetáculo: são imagens inéditas, com uma qualidade impressionante. As reações, os bastidores, os comentários e, claro, as corridas estão muito bem captadas!!! São cenas em em close total, outras vezes, super lentas, poéticas - e sem perder nada da qualidade ou da emoção de cada momento!!! É realmente muito bonito - em 4K é imbatível!!! O desenho e a própria captação de som estão sensacionais também - é o mesmo conceito dos filmes que a NFL produz em cada Superbowl!!! A sensação é de estarmos dentro da pista... é sério!!!
O ex "todo poderoso" da Formula 1, Bernie Ecclestone, dizia que não existe espetáculo esportivo mais grandioso que uma temporada de Formula 1. Na sua Biografia "Não sou um anjo" (para quem gosta do assunto, recomento) ele se gaba em dizer que era o único homem capaz que organizar uma Copa do Mundo por final de semana, tamanho era o Circo que precisava ser montado para uma corrida acontecer (em 4 Continentes, em pouquíssimo tempo entre uma e outra)... e é isso que a série mostra, essa grandiosidade: do glamour à pressão por resultados, da alegria de uma vitória ao desespero do abandono por um erro infantil, da frieza do piloto à ansiedade do mecânico que vai trocar um dos pneus, da empolgação por uma nova tecnologia à frustração de um carro mal nascido... enfim, todas as engrenagens estão lá e de uma forma muito particular... e linda!!! Talvez o primeiro episódio seja explicativo (e redundante) demais, mas depois, meu amigo, é só alegria!!!! Tudo muito cinematográfico!!!!!
"Formula 1: Dirigir paraViver" é para ver e rever!!! Série para aproveitar cada minuto!!! Se você é fã do esporte, vai ser difícil parar de assistir; se não é, tenho certeza que a temporada 2019 vai ganhar novo significado, pois não serão apenas carros correndo em uma pista à 300 km por hora... serão as histórias por trás dos personagens que fazem esse espetáculo acontecer!!! Olha, talvez a série se transforme em um grande case de Branded Entertainment, mas e daí???
Vale muito mais que o play!!!!!!!
Quase um ano depois do Brasil ganhar a Copa do Mundo nos EUA em 94, estreiou o filme "Todos os corações do Mundo". Era a primeira vez que víamos um documentário sobre a Copa do Mundo por um outro angulo - não só aquele que as emissoras mostravam durante as transmissões, que, na época, não tinham essa tecnologia toda. Era a primeira vez que víamos um jogo de futebol no Cinema, filmado em película 35 mm, em 24 fps, e embora muita gente não soubesse muito bem explicar o motivo, aquelas imagens tinham uma atmosférica mágica, um história, personagens... A grande verdade é que o diretor Murilo Salles teve a sensibilidade de humanizar o evento esportivo mais amado pelos brasileiros e a sorte de documentar o tetra campeonato depois de 24 anos!!!! Uma cena icônica captada por Salles, foi quando Baggio encara Romário no túnel do estádio, pouco antes de entrar em campo para jogar a final!!! Lindo de ver e de viver!!! Pois bem, por que eu falei de futebol em um review de uma série sobre F1? Porque a sensação que eu tive ao assistir "Formula 1: Dirigir paraViver" foi muito parecida com a que eu tive ao assistir, no cinema, "Todos os corações do Mundo" - a série da Netflix é sensacional!!!! Para quem gosta do/de esporte, é daquelas coisas que você assiste bem devagar pra não acabar e ficar sem, sabe? É um episódio melhor que o outro, confira o trailer:
"Formula 1: Dirigir paraViver" é uma série Original da Netflix com 10 episódios, de 40 minutos cada, que mostra os bastidores da Formula 1 na temporada de 2018. Na verdade, muito mais que os bastidores, a série vai atrás de pequenas e rápidas histórias, mas com personagens grandiosos: sejam eles os próprios pilotos ou alguém da equipe: um mecânico, um projetista, o chefe... até a família dos pilotos o diretor teve o cuidado de retratar! Tudo isso com o pano de fundo dos 21 GPs da Temporada e todo aquele visual maravilhoso dos países onde as corridas acontecem! Sério, é incrível como o diretor foi capaz de construir uma linha narrativa tão dinâmica focando em histórias tão particulares dos personagens e não só nas corridas em si! A edição é espetacular, um show a parte - capaz de criar um clima de tensão, de curiosidade, de tristeza, de ansiedade... Demais! A fotografia é sensacional - um espetáculo: são imagens inéditas, com uma qualidade impressionante. As reações, os bastidores, os comentários e, claro, as corridas estão muito bem captadas!!! São cenas em em close total, outras vezes, super lentas, poéticas - e sem perder nada da qualidade ou da emoção de cada momento!!! É realmente muito bonito - em 4K é imbatível!!! O desenho e a própria captação de som estão sensacionais também - é o mesmo conceito dos filmes que a NFL produz em cada Superbowl!!! A sensação é de estarmos dentro da pista... é sério!!!
O ex "todo poderoso" da Formula 1, Bernie Ecclestone, dizia que não existe espetáculo esportivo mais grandioso que uma temporada de Formula 1. Na sua Biografia "Não sou um anjo" (para quem gosta do assunto, recomento) ele se gaba em dizer que era o único homem capaz que organizar uma Copa do Mundo por final de semana, tamanho era o Circo que precisava ser montado para uma corrida acontecer (em 4 Continentes, em pouquíssimo tempo entre uma e outra)... e é isso que a série mostra, essa grandiosidade: do glamour à pressão por resultados, da alegria de uma vitória ao desespero do abandono por um erro infantil, da frieza do piloto à ansiedade do mecânico que vai trocar um dos pneus, da empolgação por uma nova tecnologia à frustração de um carro mal nascido... enfim, todas as engrenagens estão lá e de uma forma muito particular... e linda!!! Talvez o primeiro episódio seja explicativo (e redundante) demais, mas depois, meu amigo, é só alegria!!!! Tudo muito cinematográfico!!!!!
"Formula 1: Dirigir paraViver" é para ver e rever!!! Série para aproveitar cada minuto!!! Se você é fã do esporte, vai ser difícil parar de assistir; se não é, tenho certeza que a temporada 2019 vai ganhar novo significado, pois não serão apenas carros correndo em uma pista à 300 km por hora... serão as histórias por trás dos personagens que fazem esse espetáculo acontecer!!! Olha, talvez a série se transforme em um grande case de Branded Entertainment, mas e daí???
Vale muito mais que o play!!!!!!!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!
"Fyre Festival" é o Instagram da vida real!!!! Só por essa frase eu te digo: "não deixe de assistir esse documentário da Netflix!!!!"
Agora vamos lá: em meados de 2017, o empresário Billy McFarland teve a brilhante idéia de fazer um Festival de Música em uma ilha particular, que ele supostamente havia comprado nas Bahamas, para promover um app que ele também tinha acabado de lançar. Para isso, Billy se associou ao rapper Ja Rule e começaram, juntos, a organizar o que viria a ser o maior fiasco da história dos Festivais. O projeto era grandioso, caro, difícil de realizar, mas inicialmente pareceu verdadeiro e incrivelmente tentador - alguns investidores e milhares de pessoas que compraram o ingresso caríssimo que o digam!!! Bom, como dizem por aí: o papel aceita tudo!!! Era óbvio que seria impossível transformar aquela idéia megalomaníaca em realidade em tão pouco tempo (e sem uma equipe experiente por trás)! Em todas as reuniões eles estavam sempre com uma cerveja na mão, o clima já era de festa, quase irresponsável... e todo mundo se envolvia com essa atmosfera!!! Surreal demais!!!
Feita essa introdução, já se pode imaginar o que aconteceu, certo? Errado!!! É muito pior... e é justamente por isso que o documentário é imperdível, pois a maneira como o diretor Chris Smith (de “Jim & Andy”) vai desvendando os bastidores do evento faz surgir uma quantidade tão grande de sensações em quem assiste que não tem como você não se envolver com a história ou com aquela situação constrangedora. Chega ser inacreditável! Confira o trailer:
Outro ponto alto é a construção do "personagem McFarland" - ela é tão precisa que em um determinado momento do filme você acaba torcendo para ele!!! Juro!!! Meu amigo, o cara é um poço de carisma, de auto-confiança e é aí que a comparação com o Instagram faz todo sentido, porque vamos descobrindo que aquilo que vemos é tudo fachada!!!!! E pode ficar tranquilo, isso não é spoiler e não vai atrapalhar em nada sua experiência, porque o objetivo do filme é justamente esse: entender em qual momento que as máscaras começam a cair e quando um projeto legítimo se transforma em uma fralde!!! Lembram da história do cara que se passou pelo dono da Gol e que foi até entrevistado pelo Amaury Jr. no camarote do carnaval de salvador alguns anos atrás? Pois é, Billy McFarland coloca esse cara no chinelo em proporções inimagináveis!!!
"Fyre Festival" é um documentário que deveria ser obrigatório para quem trabalha com eventos, mas também um material de reflexão para todos nós, pois o que acontece ali é só o reflexo dessa "sociedade de faz de conta" que vivemos hoje em dia, onde a superficialidade de uma "imagem" (desde que seja bonita ou ostensiva, claro) vale muito mais do que a verdade em si - e olha que essa critica não é minha, é só uma das muitas discussões levantadas por pessoas que estiveram envolvidas de alguma forma nesse evento ou com o próprio Billy.
Pode apertar o play tranquilamente, mas se prepare para o turbilhão de emoções que o documentário vai te propor...
"Fyre Festival" é o Instagram da vida real!!!! Só por essa frase eu te digo: "não deixe de assistir esse documentário da Netflix!!!!"
Agora vamos lá: em meados de 2017, o empresário Billy McFarland teve a brilhante idéia de fazer um Festival de Música em uma ilha particular, que ele supostamente havia comprado nas Bahamas, para promover um app que ele também tinha acabado de lançar. Para isso, Billy se associou ao rapper Ja Rule e começaram, juntos, a organizar o que viria a ser o maior fiasco da história dos Festivais. O projeto era grandioso, caro, difícil de realizar, mas inicialmente pareceu verdadeiro e incrivelmente tentador - alguns investidores e milhares de pessoas que compraram o ingresso caríssimo que o digam!!! Bom, como dizem por aí: o papel aceita tudo!!! Era óbvio que seria impossível transformar aquela idéia megalomaníaca em realidade em tão pouco tempo (e sem uma equipe experiente por trás)! Em todas as reuniões eles estavam sempre com uma cerveja na mão, o clima já era de festa, quase irresponsável... e todo mundo se envolvia com essa atmosfera!!! Surreal demais!!!
Feita essa introdução, já se pode imaginar o que aconteceu, certo? Errado!!! É muito pior... e é justamente por isso que o documentário é imperdível, pois a maneira como o diretor Chris Smith (de “Jim & Andy”) vai desvendando os bastidores do evento faz surgir uma quantidade tão grande de sensações em quem assiste que não tem como você não se envolver com a história ou com aquela situação constrangedora. Chega ser inacreditável! Confira o trailer:
Outro ponto alto é a construção do "personagem McFarland" - ela é tão precisa que em um determinado momento do filme você acaba torcendo para ele!!! Juro!!! Meu amigo, o cara é um poço de carisma, de auto-confiança e é aí que a comparação com o Instagram faz todo sentido, porque vamos descobrindo que aquilo que vemos é tudo fachada!!!!! E pode ficar tranquilo, isso não é spoiler e não vai atrapalhar em nada sua experiência, porque o objetivo do filme é justamente esse: entender em qual momento que as máscaras começam a cair e quando um projeto legítimo se transforma em uma fralde!!! Lembram da história do cara que se passou pelo dono da Gol e que foi até entrevistado pelo Amaury Jr. no camarote do carnaval de salvador alguns anos atrás? Pois é, Billy McFarland coloca esse cara no chinelo em proporções inimagináveis!!!
"Fyre Festival" é um documentário que deveria ser obrigatório para quem trabalha com eventos, mas também um material de reflexão para todos nós, pois o que acontece ali é só o reflexo dessa "sociedade de faz de conta" que vivemos hoje em dia, onde a superficialidade de uma "imagem" (desde que seja bonita ou ostensiva, claro) vale muito mais do que a verdade em si - e olha que essa critica não é minha, é só uma das muitas discussões levantadas por pessoas que estiveram envolvidas de alguma forma nesse evento ou com o próprio Billy.
Pode apertar o play tranquilamente, mas se prepare para o turbilhão de emoções que o documentário vai te propor...
A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!
A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:
Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc.
E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!
É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.
O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível!
Golaço da Globoplay!
A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!
A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:
Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc.
E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!
É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.
O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível!
Golaço da Globoplay!
Se "Gaming Wall Street" da HBO usou o caso da GameStop para discutir um fluxo de falhas no sistema financeiro americano, "GameStop contra Wall Street" faz justamente o contrário, ele se apoia em uma estrutura narrativa bastante eficiente e didaticamente das mais competentes para contar a história de uma quase falida loja de games que, graças ao mindset ganancioso e predatório de Wall Street, provocou um embate histórico entre pequenos investidores e grandes corretoras de investimento.
A minissérie em três partes da Netflix mostra justamente como esse grupo de pessoas sem muita experiência no mercado de ações se uniu pela internet para resgatar a GameStop da falência e assim se colocar em direta rota de colisão com grandes investidores de Wall Street que lucrariam muito se esse destino que parecia certo se concretizasse. Confira o trailer:
Vendido como "uma verdadeira saga de Davi contra Golias viralizada e ambientada no século 21", "GameStop contra Wall Street" é extremamente eficaz em posicionar a audiência em uma atmosfera onde seus protagonistas naturalmente entrariam em choque em algum momento. De um lado o cidadão comum, imerso na cultura da internet e que graças as novas tecnologias, como a do app "Robinhood", passou a ser capaz de controlar suas estratégias de investimento em ações sem depender de corretoras e de suas taxas de corretagem. Do outro lado o status-quo, o tradicional, o universo ganancioso (e preparado só para "ganhar dinheiro") de Wall Street. Acontece, e aí está o grande mérito do documentário e do diretor Theo Love (de "A Cobra do Alabama" e produtor de "McMillions"), que esses dois lados se misturam, se embaralham e, principalmente, se confundem sem perceber que o objetivo de ambos é impreterivelmente o mesmo: se dar bem, e rápido. Se atentem na história de Keith Gill, também conhecido no Reddit como DeepFuckingValue, e veja como essa fusão de ideais que a princípio soariam antagônicas, na verdade são mais complementares do que imaginamos.
O roteiro do próprio Love foi muito feliz em estabelecer vários conceitos financeiros como gatilhos para entendermos o que de fato aconteceu - tudo apresentado da forma mais simples possível. Mesmo que algumas dessas explicações possam soar superficiais para alguns, dentro do contexto do documentário, tudo fica muito fluido e se encaixa perfeitamente na linguagem fragmentada e moderninha que o diretor defendeu em toda sua narrativa. Com uma edição que prioriza essa linguagem, sempre com um leve toque de humor e ironia, "Eat the Rich: The GameStop Saga" (no original) se aproveita de muitos depoimentos, de muitos personagens interessantes, de imagens de arquivo da mídia e de ótimas inserções gráficas para detalhar essa história tão absurda quanto surpreendente, com muito mais qualidade e nuances do que encontramos na obra da HBO - aliás, eu diria até que "Gaming Wall Street" serve como uma boa introdução para "GameStop contra Wall Street".
Embora com um certo exagero nas piadinhas "de internet" (mesmo que esse exagero nem seja tão fora da realidade assim), "GameStop contra Wall Street" é mais um exemplo de narrativa capaz de entreter ao mesmo tempo em que cria uma espécie de senso crítico sem soar "burocrática" ou "chapa branca" demais - é perceptível a preocupação de Theo Love em sempre mostrar os dois lados das histórias, para que nós como audiência tenhamos a liberdade de encontrar as respostas que mais se alinhem com o que acreditamos.
Vale muito a pena!
Se "Gaming Wall Street" da HBO usou o caso da GameStop para discutir um fluxo de falhas no sistema financeiro americano, "GameStop contra Wall Street" faz justamente o contrário, ele se apoia em uma estrutura narrativa bastante eficiente e didaticamente das mais competentes para contar a história de uma quase falida loja de games que, graças ao mindset ganancioso e predatório de Wall Street, provocou um embate histórico entre pequenos investidores e grandes corretoras de investimento.
A minissérie em três partes da Netflix mostra justamente como esse grupo de pessoas sem muita experiência no mercado de ações se uniu pela internet para resgatar a GameStop da falência e assim se colocar em direta rota de colisão com grandes investidores de Wall Street que lucrariam muito se esse destino que parecia certo se concretizasse. Confira o trailer:
Vendido como "uma verdadeira saga de Davi contra Golias viralizada e ambientada no século 21", "GameStop contra Wall Street" é extremamente eficaz em posicionar a audiência em uma atmosfera onde seus protagonistas naturalmente entrariam em choque em algum momento. De um lado o cidadão comum, imerso na cultura da internet e que graças as novas tecnologias, como a do app "Robinhood", passou a ser capaz de controlar suas estratégias de investimento em ações sem depender de corretoras e de suas taxas de corretagem. Do outro lado o status-quo, o tradicional, o universo ganancioso (e preparado só para "ganhar dinheiro") de Wall Street. Acontece, e aí está o grande mérito do documentário e do diretor Theo Love (de "A Cobra do Alabama" e produtor de "McMillions"), que esses dois lados se misturam, se embaralham e, principalmente, se confundem sem perceber que o objetivo de ambos é impreterivelmente o mesmo: se dar bem, e rápido. Se atentem na história de Keith Gill, também conhecido no Reddit como DeepFuckingValue, e veja como essa fusão de ideais que a princípio soariam antagônicas, na verdade são mais complementares do que imaginamos.
O roteiro do próprio Love foi muito feliz em estabelecer vários conceitos financeiros como gatilhos para entendermos o que de fato aconteceu - tudo apresentado da forma mais simples possível. Mesmo que algumas dessas explicações possam soar superficiais para alguns, dentro do contexto do documentário, tudo fica muito fluido e se encaixa perfeitamente na linguagem fragmentada e moderninha que o diretor defendeu em toda sua narrativa. Com uma edição que prioriza essa linguagem, sempre com um leve toque de humor e ironia, "Eat the Rich: The GameStop Saga" (no original) se aproveita de muitos depoimentos, de muitos personagens interessantes, de imagens de arquivo da mídia e de ótimas inserções gráficas para detalhar essa história tão absurda quanto surpreendente, com muito mais qualidade e nuances do que encontramos na obra da HBO - aliás, eu diria até que "Gaming Wall Street" serve como uma boa introdução para "GameStop contra Wall Street".
Embora com um certo exagero nas piadinhas "de internet" (mesmo que esse exagero nem seja tão fora da realidade assim), "GameStop contra Wall Street" é mais um exemplo de narrativa capaz de entreter ao mesmo tempo em que cria uma espécie de senso crítico sem soar "burocrática" ou "chapa branca" demais - é perceptível a preocupação de Theo Love em sempre mostrar os dois lados das histórias, para que nós como audiência tenhamos a liberdade de encontrar as respostas que mais se alinhem com o que acreditamos.
Vale muito a pena!
"Gaming Wall Street" chegou ao Brasil pela HBO Max com mais de 6 meses de atraso em relação ao seu lançamento nos EUA. Esse movimento gerou algumas indagações sobre as consequências dos assuntos abordados no documentário e, sinceramente, não me surpreenderia se essa especulação, de fato, fosse a razão de tanta demora. Por se tratar de uma das histórias mais loucas dos últimos anos e pelos nomes envolvidos na produção, toda narrativa dá a exata impressão de que uma nova crise nos moldes daquela de 2008 é só uma questão de tempo - o motivo, lógico, a ganância!
Narrado por Kieran Culkin (com um tom que faz muito lembrar seu personagem Roman Roy de "Succession"), o documentário dividido em duas partes tenta explicar como pequenos investidores que se organizaram a partir de um grupo do Reddit focado em investimentos, o r/Wallstreetbets, quase colapsaram o mercado de ações ao entrarem em um embate direto contra grandes fundos de investimento de Wall Street que apostavam na derrocada de uma (queridinha) rede de varejo especializada em compra e venda de mídias físicas de jogos de video-game chamada GameStop. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo austriaco Tobias Deml, "Gaming Wall Street" tem dois episódios completamente diferentes um do outro. Para alinharmos bem as expectativas, ele não é um documentário sobre o caso da GameStop, mas sim um estudo sobre as falhas no sistema que envolve Wall Street e que, ai sim, a partir desse caso específico, escancara a fragilidade do processo de negociação de ações com a entrada de novos players como o "Robinhood" - uma startup com base na tecnologia que criou um app extremamente intuitivo que entrega facilidade para que qualquer um possa investir na bolsa sem custo de corretagem.
O interessante é que ao longo das histórias que o documentário retrata, entendemos que nem tudo é o que parece. Por trás do "divino" propósito de um app que prometia democratizar uma relação financeira sem intermediários, na verdade existia uma dinâmica escondida (embora legal) de corretagem onde o conflito de interesses (esse sim ilegal) fez com que a startup manipulasse o mercado, evitando que grandes corretoras como a Melvin Capital fossem prejudicadas no caso da GameStop - sim, o app chegou a tirar o botão "comprar" da tela, para evitar maiores problemas (e perdas) para seus aliados (e para si mesmo).
Embora possa parecer bem complicado para um público pouco acostumado com o assunto e com os termos que envolvem essas operações, "Gaming Wall Street" tenta de todas as formas parecer didático ao mesmo tempo que entretém. Em meio aos depoimentos dos vários personagens que transitaram por Wall Street ou pelas telas de computador (e de celular) durante o caso da GameStop, sequências animadas explicam a mecânica de algumas ações como as "vendas a descoberto", por exemplo. Culkin traz leveza para as narrações enquanto gifs e memes estabelecem um conceito onde a cultura da Internet ou a dinâmica dos podcasts se encaixem melhor do que uma narrativa documental dura e enfadonha.
Para quem gosta do estilo "Trabalho Interno" sobre crimes financeiros, você vai se divertir com o play!
"Gaming Wall Street" chegou ao Brasil pela HBO Max com mais de 6 meses de atraso em relação ao seu lançamento nos EUA. Esse movimento gerou algumas indagações sobre as consequências dos assuntos abordados no documentário e, sinceramente, não me surpreenderia se essa especulação, de fato, fosse a razão de tanta demora. Por se tratar de uma das histórias mais loucas dos últimos anos e pelos nomes envolvidos na produção, toda narrativa dá a exata impressão de que uma nova crise nos moldes daquela de 2008 é só uma questão de tempo - o motivo, lógico, a ganância!
Narrado por Kieran Culkin (com um tom que faz muito lembrar seu personagem Roman Roy de "Succession"), o documentário dividido em duas partes tenta explicar como pequenos investidores que se organizaram a partir de um grupo do Reddit focado em investimentos, o r/Wallstreetbets, quase colapsaram o mercado de ações ao entrarem em um embate direto contra grandes fundos de investimento de Wall Street que apostavam na derrocada de uma (queridinha) rede de varejo especializada em compra e venda de mídias físicas de jogos de video-game chamada GameStop. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo austriaco Tobias Deml, "Gaming Wall Street" tem dois episódios completamente diferentes um do outro. Para alinharmos bem as expectativas, ele não é um documentário sobre o caso da GameStop, mas sim um estudo sobre as falhas no sistema que envolve Wall Street e que, ai sim, a partir desse caso específico, escancara a fragilidade do processo de negociação de ações com a entrada de novos players como o "Robinhood" - uma startup com base na tecnologia que criou um app extremamente intuitivo que entrega facilidade para que qualquer um possa investir na bolsa sem custo de corretagem.
O interessante é que ao longo das histórias que o documentário retrata, entendemos que nem tudo é o que parece. Por trás do "divino" propósito de um app que prometia democratizar uma relação financeira sem intermediários, na verdade existia uma dinâmica escondida (embora legal) de corretagem onde o conflito de interesses (esse sim ilegal) fez com que a startup manipulasse o mercado, evitando que grandes corretoras como a Melvin Capital fossem prejudicadas no caso da GameStop - sim, o app chegou a tirar o botão "comprar" da tela, para evitar maiores problemas (e perdas) para seus aliados (e para si mesmo).
Embora possa parecer bem complicado para um público pouco acostumado com o assunto e com os termos que envolvem essas operações, "Gaming Wall Street" tenta de todas as formas parecer didático ao mesmo tempo que entretém. Em meio aos depoimentos dos vários personagens que transitaram por Wall Street ou pelas telas de computador (e de celular) durante o caso da GameStop, sequências animadas explicam a mecânica de algumas ações como as "vendas a descoberto", por exemplo. Culkin traz leveza para as narrações enquanto gifs e memes estabelecem um conceito onde a cultura da Internet ou a dinâmica dos podcasts se encaixem melhor do que uma narrativa documental dura e enfadonha.
Para quem gosta do estilo "Trabalho Interno" sobre crimes financeiros, você vai se divertir com o play!
Se em "Console Wars", citamos na análise que o filme funcionava "quase" como um estudo de caso (Nintendo X Sega) de uma boa pós-graduação, então posso dizer tranquilamente que "GDLK" é um overview bastante interessante de como o mercado de games foi se transformando, pelo ponto de vista de vários personagens que atuaram ativamente nesse processo. Diferente do documentário da HBO, essa série de seis episódios da Netflix não se preocupa tanto com decisões corporativas, de marketing ou de gestão, mas sim com o fator humano e como o setor foi inovando, respeitando uma cronologia temporal bem pontuada, com ótimas histórias e muitas curiosidades, como essa, por exemplo:
"GDLK" é uma série documental que não se obriga a fazer um mergulho profundo nos temas mais marcantes de uma revolução mercadológica, mas sim em discutir a era dourada dos videogames, em uma época onde surgiram clássicos como Pac-Man ou Doom. Focando no talento (e muita força de vontade), esses pioneiros da computação e artistas visionários de todo o mundo deram vida aos icônicos jogos: Space Invaders, Final Fantasy, Street Fighter II, Mortal Kombat, Sonic the Hedgehog, John Madden Football e muitos outros. Sem regras ou orientações, jogadores e desenvolvedores descobriram novas formas de se entreter e, claro, ganhar muito dinheiro, destruir rivais e conquistar milhões de fãs e é assim, ponto a ponto, que "High Score" (título original) conta a história das mentes por trás dos pixels e de como essas invenções construíram uma indústria multibilionária — quase por acidente.
Não por acaso, "GDLK" é narrada por Charles Martinet – a famosa voz do Mário. A série dedica cada episódio a um gênero, tema ou período da história dos games, focando na experiência dos desenvolvedores e game designers na busca por executarem suas ideias. A partir dessa escolha narrativa, descobrimos como o jogos de esportes foram se transformando ou até como os Adventures surgiram. Também entendemos a força do marketing na criação de uma legião de fãs e como os e-sports se tornaram uma ferramenta de vendas de jogos e consoles.
Com entrevistas bem humoradas, a série nos cativa logo de cara - já que cada personagem dá seu depoimento muito mais com o coração do que com a razão! Com um roteiro muito inteligente e que amarrara várias histórias em um mesmo episódio, o trabalho da edição da série só imprime o ritmo que foi planejado, intercalando verdadeiros testemunhais, com imagens de arquivo e ótimas sequências de animação 8 bits.
Como "Console Wars", o fator nostálgico trás um poder emocional muito bacana para a experiência de assistir a série. Se você tem mais de 40 anos, certamente viveu essa evolução de um ponto de vista diferente, mais inocente, cheio de fantasia e desejo de experimentar essas novidades, e isso é muito interessante, pois não será difícil se colocar (ou lembrar de situações) em cada uma das fases que o documentário retrata - é quase como se nos víssemos ali, fazendo parte daquela história! É claro que "GDLK" vai impactar mais quem gosta de video-game ou quem viveu os anos 80 e 90, mas de qualquer forma a recomendação é válida, pois a série merece ser vista pelo seu recorte histórico e por provocar uma reflexão importante: muito do que assistimos (e encontramos) hoje em dia, nada mais são, do que a confirmação de várias teses levantadas lá atrás, que se confirmaram e provaram ser o caminho natural do entretenimento em vários níveis - mais ou menos como a "guerra do streaming" apresenta na atualidade!
O bacana é que ainda existe muito mais histórias para se contar e a expectativa é que tenhamos uma segunda temporada em breve. Vamos aguardar! Por enquanto te garanto: "GDLK" vale muito o seu play!
Se em "Console Wars", citamos na análise que o filme funcionava "quase" como um estudo de caso (Nintendo X Sega) de uma boa pós-graduação, então posso dizer tranquilamente que "GDLK" é um overview bastante interessante de como o mercado de games foi se transformando, pelo ponto de vista de vários personagens que atuaram ativamente nesse processo. Diferente do documentário da HBO, essa série de seis episódios da Netflix não se preocupa tanto com decisões corporativas, de marketing ou de gestão, mas sim com o fator humano e como o setor foi inovando, respeitando uma cronologia temporal bem pontuada, com ótimas histórias e muitas curiosidades, como essa, por exemplo:
"GDLK" é uma série documental que não se obriga a fazer um mergulho profundo nos temas mais marcantes de uma revolução mercadológica, mas sim em discutir a era dourada dos videogames, em uma época onde surgiram clássicos como Pac-Man ou Doom. Focando no talento (e muita força de vontade), esses pioneiros da computação e artistas visionários de todo o mundo deram vida aos icônicos jogos: Space Invaders, Final Fantasy, Street Fighter II, Mortal Kombat, Sonic the Hedgehog, John Madden Football e muitos outros. Sem regras ou orientações, jogadores e desenvolvedores descobriram novas formas de se entreter e, claro, ganhar muito dinheiro, destruir rivais e conquistar milhões de fãs e é assim, ponto a ponto, que "High Score" (título original) conta a história das mentes por trás dos pixels e de como essas invenções construíram uma indústria multibilionária — quase por acidente.
Não por acaso, "GDLK" é narrada por Charles Martinet – a famosa voz do Mário. A série dedica cada episódio a um gênero, tema ou período da história dos games, focando na experiência dos desenvolvedores e game designers na busca por executarem suas ideias. A partir dessa escolha narrativa, descobrimos como o jogos de esportes foram se transformando ou até como os Adventures surgiram. Também entendemos a força do marketing na criação de uma legião de fãs e como os e-sports se tornaram uma ferramenta de vendas de jogos e consoles.
Com entrevistas bem humoradas, a série nos cativa logo de cara - já que cada personagem dá seu depoimento muito mais com o coração do que com a razão! Com um roteiro muito inteligente e que amarrara várias histórias em um mesmo episódio, o trabalho da edição da série só imprime o ritmo que foi planejado, intercalando verdadeiros testemunhais, com imagens de arquivo e ótimas sequências de animação 8 bits.
Como "Console Wars", o fator nostálgico trás um poder emocional muito bacana para a experiência de assistir a série. Se você tem mais de 40 anos, certamente viveu essa evolução de um ponto de vista diferente, mais inocente, cheio de fantasia e desejo de experimentar essas novidades, e isso é muito interessante, pois não será difícil se colocar (ou lembrar de situações) em cada uma das fases que o documentário retrata - é quase como se nos víssemos ali, fazendo parte daquela história! É claro que "GDLK" vai impactar mais quem gosta de video-game ou quem viveu os anos 80 e 90, mas de qualquer forma a recomendação é válida, pois a série merece ser vista pelo seu recorte histórico e por provocar uma reflexão importante: muito do que assistimos (e encontramos) hoje em dia, nada mais são, do que a confirmação de várias teses levantadas lá atrás, que se confirmaram e provaram ser o caminho natural do entretenimento em vários níveis - mais ou menos como a "guerra do streaming" apresenta na atualidade!
O bacana é que ainda existe muito mais histórias para se contar e a expectativa é que tenhamos uma segunda temporada em breve. Vamos aguardar! Por enquanto te garanto: "GDLK" vale muito o seu play!